Olho pr lado da barra, olho pr Indefinido, Olho e contenta-me ver, Pequeno, negro e claro, um paquete entrando. Vem muito longe, ntido, clssico sua maneira. Deixa no ar distante atrs de si a orla v do seu fumo. Vem entrando, e a manh entra com ele, e no rio, Aqui, acol, acorda a vida martima, Erguem-se velas, avanam rebocadores, Surgem barcos pequenos detrs dos navios que esto no porto. H uma vaga brisa. Mas a minhalma est com o que vejo menos. Com o paquete que entra, Porque ele est com a Distncia, com a Manh, Com o sentido martimo desta Hora, Com a doura dolorosa que sobe em mim como uma nusea, Como um comear a enjoar, mas no esprito. Olho de longe o paquete, com uma grande independncia de alma, E dentro de mim um volante comea a girar, lentamente. Os paquetes que entram de manh na barra Trazem aos meus olhos consigo O mistrio alegre e triste de quem chega e parte. Trazem memrias de cais afastados e doutros momentos Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos. Todo o atracar, todo o largar de navio, sinto-o em mim como o meu sangue Inconscientemente simblico, terrivelmente Ameaador de significaes metafsicas Que perturbam em mim quem eu fui Ah, todo o cais uma saudade de pedra! E quando o navio larga do cais E se repara de repente que se abriu um espao Entre o cais e o navio, Vem-me, no sei porqu, uma angstia recente, Uma nvoa de sentimentos de tristeza Que brilha ao sol das minhas angstias relvadas Como a primeira janela onde a madrugada bate, E me envolve com uma recordao duma outra pessoa Que fosse misteriosamente minha.