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Nesse trabalho, vamos tentar analisar, a partir da obra de Lévi-Strauss, a concepção do


mito em contos. Primeiramente, é importante conceituar como o conceito de mito foi
historicamente construído. Ele inicia-se na filosofia grega pré-socrática como um
pensamento do passado grego que deveria ser superado pela idéia de razão, ocorrendo,
dessa maneira, na ordem do irracional. A dicotomia entre razão (ordem do inteligível) e
mito (ordem do sensível), na qual o segundo pressupunha uma abstração, que deveria
ser substituída pela filosofia, a qual o projeto estruturalista pretende superar, sendo o
mito da mesma ordem que a razão, apenas operando de formas diferentes. O
conhecimento científico do mundo seria fruto de formas abstratas de conceitos, sendo
autodestrutivo e nunca tornar-se-ia completo, aberto a novas concepções, enquanto o
pensamento mítico, acreditado como fechado e se auto-realiza em si mesmo, entretanto,
Lévi-Strauss mostra que o mito não é fechado, pois está aberto à mudanças, como
mudanças de personagens, cenários e situações. Assim como a ciência, o mito não
possui dono. Ele é algo a priori, já colocado no mundo. Ele não é possuído pelo
narrador, que apenas é um interlocutor para a transmissão daquele. Enquanto o mito está
numa tradição passada oralmente, a ciência está numa tradição escrita, possuindo,
entretanto, uma similaridade, que pode ser percebida que ambos enunciam como as
categorias empíricas podem ser ferramentas conceituais, encaixadas em proposições,
sendo aí que os pensamentos civilizado e primitivo se encontrariam.

O mito, teorizado por Strauss, é uma espécie de ³liquidificador´, misturando apenas


ordens que deveriam estar separadas. Desse modo, tudo pode acontecer e os fatos que
nele acontecem se contrapõe à realidade, como transformações de homens em animais e
coisas, como no mito indígena a ser exemplificado posteriormente. O mito junta
natureza e cultura, mostrando que essas duas dimensões acontecem em um mesmo
contínuo, pensado pelo autor como um pensamento que ocorre em uma cisão entre
natureza e cultura, baseado em livres associações que fazem parte do universo das
regras, como fatos naturais da vida, universais, enquanto fenômenos descontínuos
seriam particulares ou culturais. O mito, assim, não é particular a um grupo, pois existe
apenas um mito, o mito da mitologia, que possui diferentes versões, pertencentes à
mesma estrutura. A preocupação de Strauss e também desse trabalho é mostrar as
relações existentes entre os elementos internos dos contos regionais e também de fadas.

O mito da mitologia, para Lévi-Strauss, deveria ser explicado a partir de outros mitos,
uma vez que eles operam em cadeias de transformações uns dos outros, não importando
a escolha inicial que se faça para começar a análise mitológico-estrutural. Na sua obra, o
autor escolhe o mito Bororo para começar a análise, enquanto nós apenas
compararemos as semelhanças e diferenças entre alguns contos escolhidos. O método
escolhido pelo autor para a análise pode ser descrito no trecho que segue:

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Assim, a análise chega à conclusão de que nenhum mito é uma versão completa das
coisas, mas fragmentos de uma mesma coisa. Como já dito, pode ser necessário
procurar em outros mitos e também outras culturas, pois podem deixar buracos de
explicação. O modo como os mitos são retomados entre si, através da similaridade de
personagens, mostra como sujeitos e predicados se relacionam. O mito é ele próprio em
o objeto de seu pensamento, pois pensa a si mesmo. Ele não é uma realidade
transcendente, mas o espírito humano em estado bruto.

Para poder analisar o mito presente nos contos de fada, é necessário fazer uma
diferenciação entre ele e o mito em si. O conto de fadas resulta em grande parte do
conteúdo consciente e inconsciente, tendo sido moldado pela mente consciente, do
consenso de várias pessoas, estas que também os consideram problemas humanos
universais, e aceitam as soluções desejáveis obtidas. Se todos estes elementos não
fossem constituintes do conto de fadas, ele não seria contado e recontado por inúmeras
gerações. Ou seja, um conto de fadas deve satisfazer as exigências conscientes e
inconscientes de muitos indivíduos. Há uma concordância geral de que mitos e contos
de fadas falam-nos na linguagem de símbolos que representam conteúdos inconscientes.

Por exemplo, psicanalistas freudianos se preocupam em mostrar que tipo de material


reprimido ou de forma inconsciente está subjacente nos mitos, assim como nos contos
de fadas e como estes se relacionam com sonhos.

Não existem apenas semelhanças essenciais entre mitos e os contos de fadas. Há


também diferenças inerentes. Embora as mesmas figuras exemplares e situações se
encontrem em ambos, e as mesmas situações mirabolantes ocorrem nos dois, há algo
que os difere bruscamente. O mito transmite um sentimento único, singular, isto é, não
ocorreria em nenhuma outra hipótese, e nem mesmo com outros indivíduos, sendo seus
acontecimentos grandiosos que inspiram admiração. Mesmo as situações dos contos de
fadas também chegando a ser inusitadas e às vezes improváveis, são descritas como
algo ³comum´, relatado de maneira casual e cotidiana, ou seja, realizável perante
qualquer outro indivíduo. Outra diferença significante são os finais encontrados em cada
tipo, isto é, enquanto os mitos são quase sempre trágicos, os contos de fadas possuem
sempre finais felizes. Por este motivo, histórias tidas como contos, não deveriam
realmente pertencer a esta categoria, por exemplo: a ³Menina dos Fósforos´, que conta
a história de uma menina que possui apenas uma caixa de fósforos para se aquecer
durante uma noite e termina por morrer de frio ao acender todos de uma vez para
conseguir ver o espírito de sua avó, o ³Soldadinho de Chumbo´, que narra a história de
um soldado de brinquedo sem perna que se apaixona por uma bailarina de chumbo e por
fim tem a sua perna, feita de chumbo, fundida à da bailarina e também a ³Rainha de
Neve´.

Os contos dificilmente colocam nomes próprios em seus personagens, e sim lhe


atribuem apelidos de acordo com características, como Chapeuzinho Vermelho, ou
quando o atribuem, utiliza-se de nomes genéricos tais como João e Maria.

Partamos a uma análise mais detalhada de três dos contos de fadas mais conhecidos da
cultura ocidental. No conto da   
, o Rei e a Rainha tinham dificuldades
para terem um filho, então quando a princesa nasceu, deram uma festa para festejar seu
nascimento, convidando muitas pessoas. Em algumas versões, eles esqueceram-se de
uma fada; em outras, a fada não é chamada pelo fato do rei não ter mais um prato de
ouro. Cada fada presenteou a princesa e, um pouco antes da última presentear, a fada ±
bruxa - que não foi convidada apareceu. Ela amaldiçoou a princesa, afirmando que esta
morreria ao furar o dedo num tear quando completasse 16 (ou 15, dependendo da
versão) anos. Para evitar que a menina morresse, a última fada então amenizou a
maldição ao falar que ela cairia num sono profundo, durante 100 anos, até que seu
verdadeiro amor a beijasse e a despertasse.

O rei, em vão, proibiu teares no reino inteiro, assim não teria como a maldição
se concretizar. A princesa crescia e se tornava a mais bela e gentil de todas. No dia de
seu aniversário, passeava pelo castelo e encontrou uma escada circular, que dava numa
portinha com uma chave na fechadura. Curiosa, ela gira a chave e entra na sala pequena
e vê uma senhora, com um tear. Como nunca tinha visto aquele objeto, ela fica
interessada e, ao relar, fura seu dedo (que sangra). A princesa então cai no sono
profundo, como todo o reino. A maldição se torna realidade.

A medida que a história passava de homem para homem, uma floresta cresce em
volta do castelo, dificultando seu acesso. Assim, além da princesa só despertar com o
beijo do verdadeiro amor, teria que ser alguém corajoso e forte. Vários tentaram e
sempre fracassavam.

Após os 100 anos, um príncipe ouviu a história e decidiu tentar. Conseguiu


passar pela floresta densa e pelos espinhos, entrando no castelo e encontrando tudo
abandonado. Achou o cômodo que a bela princesa se encontrava, ficando deslumbrado
com tanta beleza. Deu-lhe um beijo, acordando a princesa. Após ela despertar, todos os
outros também despertaram. O príncipe, apaixonado, pede a mão da princesa em
casamento. Os pais dela, profundamente agradecidos permitem e eles se casam. E
vivem felizes para sempre.

Na história da 7, o rei e a rainha também tinham problemas para


terem um filho. Um dia a rainha bordava na janela cor de ébano do castelo, enquanto se
distraiu com a beleza da neve. Furou o dedo com a agulha, caindo três gotas de sangue
na neve. Ao olhar a neve, a rainha desejou que tivesse uma filha branca como a neve,
corada como o sangue e com cabelos negros como o ébano.
Alguns meses depois, seu desejo foi atendido, dando nome a sua filha de Branca
de Neve. Pouco tempo depois, a rainha faleceu. O rei então se casa novamente, com
uma mulher extremamente vaidosa e invejosa. Ela tinha um espelho mágico e
diariamente perguntava a ele quem era a mais bela. A resposta sempre era ela, até
Branca de Neve crescer e superar a madrasta em beleza.

Por ser vaidosa e invejosa, a madrasta manda um guarda matar Branca de Neve e
arrancar seu coração, assim ela voltaria a ser a mais bela de todas. O guarda vê Branca
de Neve e não consegue matá-la, entregando a rainha o coração de algum animal. Ele
ainda avisa o plano da madrasta à Branca, para que ela consiga escapar. A madrasta
então manda prepararem o coração e o come (remetendo a idéia de que ao comer
órgãos, você adquire as características da coisa). Mais tarde pergunta ao espelho quem é
a mais bela, e este fala que Branca de Neve ainda é. Ela então percebe que foi enganada
pelo guarda.

Branca de Neve então encontra uma casinha pequena. Como estava cansada,
decide entrar e descansar um pouco. Antes de descansar, ela limpa e arruma a casa. Os
anões retornam a casa e encontram Branca de Neve dormindo em uma das camas. Eles
permitem que ela fique desde que arrume a casa.

A madrasta logo descobre onde Branca de Neve está e tenta, por duas vezes,
produtos que matem Branca, mas os anões sempre conseguiam salvá-la. Na primeira
vez foi uma fita, que ela apertou tanto na cintura de Branca de Neve que a deixou
desacordada. Na segunda vez, foi uma escova de cabelo envenenada. Os anões sempre
alertavam Branca de Neve em relação as armadilhas que poderia cair.

Na terceira vez, a madrasta decide usar uma maçã. Ela envenena metade da
maçã e consome a outra metade, para fazer Branca de Neve acreditar que não tinha
algo. O pedaço que Branca de Neve comeu inchou em sua garganta, a sufocando. Os
anões ao chegarem em casa, vêem Branca de Neve desmaiada no chão, mas não
conseguem achar a causa disso, então supõe que ela morreu mesmo. Com dó de enterrá-
la por causa de sua beleza, a colocam num caixão de vidro.

Um dia, um príncipe passava pela mata e viu a bela princesa no caixão. Pede aos
anões para levá-la ao seu castelo, já que estava apaixonado por ela. Uma versão diz que,
no caminho, a carruagem tropeça numa pedra, fazendo com que o caixão pulasse e o
pedaço de maçã saísse da garganta de Branca, despertando-a. Já a outra diz que o
pedaço de maçã sai com o beijo apaixonado do príncipe. Eles então se casam e vivem
felizes para sempre.

Em „', um casal desejava muito ter um filho. Quando finalmente a


mulher fica grávida, no final da gravidez, ela tem um desejo enorme pelas frutas e
legumes cultivados no jardim de sua vizinha, chegando a ficar doente por isso. O
marido, receoso pela sua mulher, decide pular o muro e roubar alguns itens. Na terceira
noite que fazia isso, a vizinha, uma bruxa má, a pega no ato e faz um trato: ele poderia
pegar qualquer coisa, desde que entregasse a criança quando nascesse.

A criança nasce, os pais cuidavam bem dela, até a bruxa malvada ir cobrar a
dívida. A bruxa então pega a criança e dá o nome de Rapunzel, nome da fruta que a
grávida tanto desejava. Rapunzel cresce e vai ficando cada vez mais bela. A bruxa, com
medo que alguém tirasse Rapunzel dela, a tranca numa alta torre, sem portas. Único
modo de entrar seria ela jogando suas tranças pela janela, como se fosse uma corda.

Todo dia a bruxa chegava e gritava para Rapunzel jogar suas tranças. Ela subia e
dava comida para Rapunzel. Um dia, um príncipe estava passeando e ouve Rapunzel
cantar. Apaixona-se pela sua voz, mas não achou uma entrada para a torre. Observou
então a bruxa gritando para que Rapunzel jogasse as tranças e outro dia voltou para
fazer isso. Rapunzel jogou suas tranças para o príncipe, achando que era a bruxa e se
assustou ao vê-lo. Conversaram e ele explicou como estava apaixonado. Ela então diz
que poderiam se encontrar, as escondidas, já que a bruxa era bem ciumenta.

Uma vez, conversando com a bruxa, Rapunzel, distraída, reclama que a bruxa é
mais pesada que o príncipe. Furiosa, a bruxa corta os cabelos de Rapunzel e a leva ao
deserto. Fica na torre esperando pelo príncipe, e solta as tranças, fazendo com que o
príncipe caia. Com a queda, ele machuca seus olhos nos espinhos e fica cego,
caminhando sem rumo, procurando a sua paixão. Anda até chegar ao deserto,
encontrando Rapunzel, que chora. Ao chorar, duas lágrimas caem nos olhos do príncipe,
fazendo com que sua visão retorne. Eles então se casam e voltam ao castelo do príncipe,
sendo felizes para sempre.

Analisando esses contos, nota-se que muitos elementos são comuns, repetindo-se
em várias histórias: o fato das personagens serem mais conhecidas pela sua função, em
vez do nome (rainha, rei, princesa, fada, bruxa, etc.); suas qualidades serem comuns em
todos os contos (as heroínas sempre belas e gentis, os príncipes valentes e fortes, o vilão
sempre malvado) e a repetição das personagens. Essas personagens são construídas de
modo que a criança consiga se projetar em vários, não apenas em um.

Os contos servem para mostrar as crianças os pecados (inveja, preguiça, ira,


avareza, gula, luxúria e preguiça), além da questão de formar valores e conflitos de
poder. Cada conto pode ter um ou mais pecados demonstrados, mas comumente trata-se
apenas um. Os pais cometem erros (pecados), levando a punição, que é o tema central
de cada história: em Branca de Neve, o desejo da mãe de ter uma filha bela; em Bela
Adormecida, esquecer uma pessoa e em Rapunzel, menosprezar, desejar o que pertence
ao outro. Os pecados também aparecem como tentações às heroínas, por exemplo, a
tentação de ficar mais bela com as fitas e escovas de cabelo que a madrasta oferece à
Branca de Neve. Eles preparam as crianças para eventos posteriores: por exemplo, o
sangramento quando Branca de Neve é concebida, indica o sangramento da
menstruação e da relação sexual, onde o hímen é rompido. Assim a criança assimila que
para ela nascer, é necessária uma pequena quantia de sangue.

Essas histórias previamente citadas, sempre mostram a dificuldade dos pais em


terem filhos, demonstrando que podemos ter que esperar um bom período para
encontrarmos realização sexual, sugerindo que não devemos nos apressar para o sexo.

Em todas as histórias comparadas, os pais tentam retardar o crescimento e


desenvolvimento da heroína ao máximo. Em Branca de Neve, a madrasta não
necessariamente a queria morta, posto que poderia tê-la matado da primeira vez, mas
sim impedi-la de superá-la, mostrando a mãe que mantém por algum tempo o domínio
sobre desenvolvimento da filha. Em Bela Adormecida, o sangramento dela no tear
significa a menstruação, que o rei tanto tenta evitar, já que é um valor socialmente e
biologicamente aceito que uma vez que a mulher menstrua, ela já está pronta para ter
relações sexuais, o que, aos olhos da figura de um pai, protetor, é algo não-aceitável tão
facilmente. Em Rapunzel, a bruxa a tranca na torre, para que ninguém perceba seu
desenvolvimento. Alcançar a maturidade física, relacionada nas histórias com à
menstruação, não é sinal de amadurecimento se você não crescer psicologicamente,
emocionalmente e intelectualmente. É fundamental tempo e crescimento para que os
conflitos sejam superados e então estamos prontos para nosso parceiro do outro sexo e a
relação íntima com ele. Em uma outra visão, Mircea Eliade afirma que o conhecimento
de uma coisa confere uma espécie de domínio mágico sobre ela, de saber onde
encontrá-la e como fazer para reaparecer no futuro.

Todo conto retrata um renascimento, um despertar, que demonstra a conquista


de um estado mais amadurecido, estimulando a criança a desejar um sentido mais
elevado, uma maturidade e um maior autoconhecimento. Esse renascimento geralmente
vem depois de um período de inatividade, onde o descanso e concentração sobre seu eu
são essenciais. Essa mudança é melhorar, é a necessidade de abandonar algo que
gostamos para evoluirmos e ficarmos mais felizes. Uma mostra de superação, coragem
e força para ser feliz possuem um exemplo que pode ser visto nas figuras dos príncipes.
Por isso, todo conto de fadas termina com um ³feliz para sempre´. Uma das exceções é
a história d¶ ³  8   9!  ´, de Hans-Christian Andersen, mas que de certa
forma ainda termina de uma forma branda, ao falar ³mas nunca ninguém soube quantas
coisas lindas a menina viu à luz dos fósforos, nem o brilho com que entrou, na
companhia da avó, no Ano Novo´.

É interessante ver como a figura do conto popular, ou ³de fadas´ possui em outras
culturas, se possui diferença entre os temas existentes em sua ³moral´ ou se são
semelhantes. Utilizando-se de lendas de diversos continentes, faremos uma comparação
entre a origem do Sol para diversos povos. Primeiramente, uma lenda senegalesa, onde
um mito cósmico pretende estabelecer as diferenças de ambos os corpos astrais e se
propõe a explicar de uma maneira muito simples, embora carregada de conotações
míticas e emblemáticas as grandes diferenças entre a Lua e o Sol. O brilho, o calor e a
luz que se desprendem do astro-sol impedem que sejamos capazes do olhar fixamente.
Em compensação, podemos contemplar a Lua com insistência sem que os nossos olhos
sofram mal algum. A lenda senegalesa nos explica que isso ocorre, pois, em certa
ocasião, estavam banhando-se nuas as mães de ambas as luminárias (sol e Lua).
Enquanto o Sol manteve uma atitude carregada de pudor, e não dirigiu o seu olhar nem
um instante para a nudez da sua progenitora, a Lua, em compensação, não teve reparos
em observar a nudez da sua antecessora.

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Um mito indígena a respeito da origem do Sol refere-se a um moço forte e bonito que
vivia entre os Tucuna, (e que se chamava Sol), que um dia

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A questão da metamorfose constitui um aspecto de forte ligação entre diversos mitos, já


que em sua grande maioria, a transformação ocorre, seja entre homem/animal/coisa ou
vice e versa, garantindo aspectos humanos aos demais seres.

Um mito japonês muito famoso é o de ³Amaterasu´, a Deusa do Sol. Esta divindade


japonesa que vela sobre os homens e os enche de benefícios, nasceu do olho esquerdo
de Izanagi e domina o panteão xintoísta, em que figura certo número de personificações
das forças naturais.

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Neste mito, temos o surgimento da deusa do Sol, assim como a imagem de


personificações presente nos demais. Aspectos fundamentais que fazem ligação ao
próximo texto é a questão da morte presente no mito, assim como a idéia de que algum
dia, os deuses do Sol podem decidir não saírem em sua carruagem para levar luz, assim
como na mitologia grega onde um dia, o deus Apolo, por conseqüência da morte de seu
filho, deixa de abrir o dia carregando o Sol. O Deus grego do Sol é Apolo, filho de Zeus
e Leto, e irmão gêmeo de Artemis deusa da Lua, identificado em outras tradições como
Hélio (romana), e Aplu (etrusca), representando sempre um deus radiante e da luz
benéfica. Apolo é sempre representado jovem, porque o sol não envelhece. Algumas das
suas estátuas o mostram até com os caracteres da adolescência, por exemplo, o Apollino
de Florença, assim como no mito indígena onde Sol é também um jovem vigoroso e
bonito.

Há três mil anos, não existiam explicações científicas para grande parte dos fenômenos
da natureza ou para os acontecimentos históricos. Portanto, para buscar um significado
para os fatos políticos, econômicos e sociais, os gregos criaram uma série de histórias,
de origem imaginativa, que eram transmitidas, principalmente, através da literatura oral.
Todos os mitos relatados referem-se à mesma ênfase (se interligam pelo tema) em
explicar o inexplicável, isto é, ou seja, tentar compreender algo de acordo com as suas
próprias condições culturais, sem embasamento na questão cientifica, e sim no
tradicional, o senso-comum.

Os seres mitológicos gregos (Hercules e Aquiles, quimeras e minotauros, etc.) que se


equivalem, isto é, ocupam a mesma função de sujeito tais como em demais mitos, ou
seja, sempre a mesma estrutura prevalece, um herói, um antagonista, e a função de
explicação de algo desconhecido.

Para concluir nosso trabalho, uma última análise sobre um conto de Uganda para
explicar sobre como os mitos se espalharam sobre o mundo, a partir de uma explicação
também mítica. Havia dois animais, um rato e um gato, que eram amigos e trabalhavam
juntos e guardavam os produtos frutos de seu trabalho. Mas o gato mudou o esquema e
o rato sugeriu que colocassem o leite em uma igreja, após observar um processo de cura
do leite pelas mulheres da tribo. A partir desse momento, eles começaram a guardar o
leite em uma sacola de couro para fermentar, precisando de um local de
armazenamento. Como não confiavam um no outro, esconderam a sacola em uma igreja
construída pelos europeus. O rato comeu o queijo produzido por eles durante várias
noites e inventava nomes de parentes de sua família que seriam batizados na igreja,
como c@) $c8 $ou c' $

Quando o gato viu que não havia mais queijo, o rato já tinha desaparecido, fugindo para
cabanas, entrando em santuários, indo com caravanas nômades até as pirâmides,
passando pelas cidades, andando pelas mesquitas e passeando por mercados árabes. No
porto, dentro de navios, começa a tecer cordões para não se esquecer das suas viagens e
dos mitos de cada lugar. Em uma tempestade, que carrega seus cordões e histórias
mundo afora, que conhece finalmente os mitos do mundo inteiro. Assim, podemos
entender que os mitos espalharam-se pelo mundo através de pessoas, que, viajando pelo
mundo, levaram as histórias ouvidas, mostrando a pessoalidade da visão de mundo e
dos significados sociais existentes e inculcados em cada uma delas.

Bibliografia

BETTELHEIM, Bruno. "   ! Rio de Janeiro, Paz e Terra,


1980.
___________________ . 7   ! A "    + !
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CARVALHO, Bárbara Vasconcelos.  =   ! :    9  ( ca.
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ELIADE, Mirceli. 8 „ Perspectiva, 2006.

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(Ed.),     +  . Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro

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Trans. 1ª ed. Vol. 1). São Paulo: Editora Brasiliense.

PARAFITA, Alexandre.   +)    1. Plátano Editora, 2001.

PESSOA, Fernando. )   


 Ulisses
Universidade Federal de São Carlos

Departamento de Ciências Sociais

Trabalho
Análise Estrutural
Antropologia Contemporânea 1, ministrada pelo
prof. Dr. Piero de Camargo Leirner

Andressa Gusmon da Silva RA: 346195

Cíntia de Melo Dias RA: 346179

Matheus Lucas Hebling RA: 346128

São Carlos, 28 de Junho de 2010

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