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Federação Portuguesa de Yoga

Código de Ética e de
Deontologia
(baseado nos Yoga Sutras de Patanjali)

Marcia Matos

Faculdade Motricidade Humana Maio de 2010


Federação Portuguesa de Yoga

Resumo

Após leitura do código de Ética e de Deontologia, decidi


elaborar uma versão do mesmo, baseando-me nos Yamas e Niyamas
dos yoga sutras de Patanjali1.

Código de Ética
1
Viveu entre 200 a.C. a 400 d.C. Existem diversas lendas sobre o mesmo como
sendo ele uma encarnação do deus serpente Ananta, ou meio homem meio
serpente, ou ainda uma serpente que com o desejo de ensinar o yoga ao mundo,
caiu (pat) dos céus nas palmas das mãos abertas (anjali) de uma mulher, que por
sua vez o chamou de Patanjali.
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Na minha opinião, o código de Ética deveria corresponder aos Yamas


e Niyamas que constituem os Yoga Sutras de Patanjali.

Os Yama e Niyama são a estrutura básica da prática do Yoga,


alicerces, sem o domínio dos quais não haverá evolução. A este
conjunto de trabalho sobre o ego e de auto-entrega, mais tarde foi
chamado de “karma yoga”.
Patanjali, fiel à Ética e com a máxima humildade, única forma de
evoluir, dando sinal notório dessa evolução, mostra que nada
produziu, que é apenas um instrumento da Grande Cultura Universal,
iniciando o Yoga Sutra exactamente como começa o Yoga-Shara
Upanishada, sendo os seus dois primeiros versículos coincidentes:
1 – Athah Yogánushásanam - Agora, o ensinamento do Yoga
2 – Yogah chitta vritti nirodhah — Yoga é o controlo da frequência das
ondas mentais.
Patanjali fala sempre de Yoga e não de “qualquer-coisa” Yoga, não de
um sub-yoga, mas de Yoga abrangente, não dividido e não
subestimado.

Concordo com a não divisão do Yoga, sendo o correcto respeitar as


várias linhas de yoga existentes, seguindo ao máximo a tradição do
mestre de Yoga, Patanjali, que no Século IV a.C., escreveu os Yoga
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Sutras.

Yama significa domar, controlar, refrear, e conduz-nos a ideia de que


devemos estar atentos aos nossos instintos naturais. Estes são muito
fortes, e se não nos colocarmos numa atitude de constante vigilância,
poderemos ser levados a praticar diversas atitudes que não são
condizentes com a nossa condição de seres racionais; além de nos
levar a uma destruição física e mental. Yama fala da nossa relação
com a sociedade, ou seja, das regras que o indivíduo deve respeitar
perante a sociedade. São 5 os Yamas:

Ahimsá – não Matar (não Agredir, não odiar);


Satya – Verdade (não Mentir);
Asteya – não Roubar (Honestidade);
Brahmacharya – Continência (ao Serviço de Brahma2) –
Transmutação da Energia Sexual;
Aparigraha – não Cobiçar (não possessividade).

2
Brahma, é o primeiro deus da Trimurti, a trindade do hinduismo, que forma junto
com os deuses Vixnu e Shiva.
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Niyama mostra-nos como podemos trabalhar de forma a reestruturar


toda a nossa vida pessoal. Niyama fala da nossa relação com o nosso
interior, ao contrário de Yama que fala da nossa relação com a
sociedade. Os Niyamas são assim regras individuais e são 5:

Shaucha – Pureza;
Samtosha – Contentamento;
Tapa – Esforço (da Auto-Exigência);
Svadhyáya – Auto Estudo (Introspecção, “Conhece-te a ti Próprio”);
Íshvara Pranidhána – Desapego do Resultado das Acções.

Sabendo que o Código de ética é a recolha sistemática de regras de


conduta, orientadoras de um comportamento ético, é fundamental
aplicá-lo no ramo do Yoga.

Aplicabilidade do Código de Ética

O Código de Ética não é exaustivo. A incapacidade de enfrentar


qualquer comportamento em particular não significa que o
comportamento seja necessariamente ético ou antiético. Professores
e alunos em formação devem respeitar e honrar códigos de conduta
clássica e legal.
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Falta de familiaridade ou má interpretação com o Código de Ética não
pode justificar uma conduta antiética.

Um professor de ioga ou aluno que está incerto de como o Código de


Ética deve ser aplicado em uma determinada situação devem
contactar o conselho de ética da Federação Portuguesa de Yoga
(FPY), uma vez que é a FPY que irá regulamentar o Yoga em Portugal.

A divulgação do Código de Ética destina-se a auxiliar professores e


alunos em formação, e não cria qualquer responsabilidade por parte
da FPY.

Ética Profissional dos Professores de Yoga

Tapas (Esforço - da Auto-Exigência): professores e alunos em


formação que se dedicam-se ao estudo, ensino, divulgação e
promoção da arte, ciência e filosofia do Yoga de acordo com os
ensinamentos e a filosofia de Patanjali, bem como manter o elevado
padrão de competência profissional e de integridade.

Svadhyaya (Auto Estudo – introspecção): “Conhece-te a ti Próprio”),


professores de yoga certificados e alunos em formação devem
estudar e ficar actualizados com o ensino e a prática do yoga,

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mantendo sempre a tradiçao do Yoga pelo Patanjali. Isso pode ser


feito através do estudo com um professor certificado de acordo com
os oito passos de Patanjali: yama, niyama, asana, pranayama,
pratyahara, dharana, dhyana, samadhi.

Satya (a verdade – não mentir): professores de yoga e alunos em


formação devem representar fielmente a sua educação, formação e
experiência.

Saucha: (pureza): na prática do ensino, os professores de yoga e


alunos em formação devem ensinar yoga de acordo com os
conhecimentos adquiridos pelo método tradicional de Yoga, ou seja,
pelo Patanjali, seguindo a linha de yoga no qual se identifica.
Professores e alunos não devem misturar elementos contraditórios ou
incompatíveis de outras disciplinas no ensino. Professores e alunos
devem distinguir claramente o trabalho que seguem de disciplinas
compatíveis/ relacionados/associados que podem recorrer, como
anatomia, fisiologia ou filosofia.

Ahimsa (não-violência - não agredir, não odiar): professores de yoga


e alunos em formação não devem criticar um outro professor de yoga
ou quaisquer outros sistemas de yoga.

Asteya (não roubar - honestidade): professores de Yoga e alunos em


formação não devem usar qualquer figura ou marca de serviço 5
registrada, em nome da FPY, a menos que tenham recebido a
aprovação.

Aparigraha (não cobiçar): professores de Yoga e alunos em


formação devem abster-se de publicidade inadequada ou outra
promoção, que pode, de alguma forma comprometer o seu papel de
ensino ou resultar em conflito de interesses.

Responsabilidade para com os estudantes

Professores de Yoga e alunos em formação devem:

Satya (verdade:) Ser verdadeiro.

Ahimsa (não-violência): dar as boas vindas a todos os alunos com


cordialidade, carinho e compaixão, independentemente da raça, sexo,
religião, nacionalidade, orientação sexual, idade ou deficiência. Tratar
todos os alunos com respeito.

Ahimsa (não-violência) e Brahmacharya (continência): não


molestar alunos (sexualmente ou de outra forma).

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Ahimsa (não-violência) e Aparigraha (não cobiçar): evitar relações


sexuais com seus alunos.

Brahmacharya (continência): reconhecer quando a relação


professor-aluno fica comprometida pela existência de uma relação
íntima e, em tais circunstâncias, ajudar o aluno a encontrar outro
professor de Yoga, se possível.

Ahimsa (não-violência) e Bramacharya (continência): compreender


e aplicar métodos adequados de toque, na ajuda e correcção dos
alunos.

Aparigraha (não cobiçar): manter o papel de guia e inspirar


confiança como exemplo.

Responsabilidade Pessoal

Os Professores de Yoga devem:

Sauca (pureza): manter uma aparência limpa e bem cuidada;

Sauca (pureza): vestir de uma forma modesta, enquanto lecciona


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Yoga.

Sauca (pureza): evitar o uso indevido de substâncias como drogas e


álcool.

Sauca (pureza): esteja atento ao discurso.

Tapa-Svadhyaya (estudo de si mesmo): manter uma prática regular


pessoal.

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