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FACULDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

RELATÓRIO DE LEITURA DO LIVRO: ANTOLOGIA ILUSTRADA DE FILOSOFIA,


PG 235 - 320

SANDRA REGINA DOS SANTOS

SÃO PAULO
2010
Sumário

Thomas Hobbes (1588 - 1679 d.C.) ....................................................................1


Vida.........................................................................................................................................1
Obras Principais .................................................................................................................2
Tese / Pensamento.............................................................................................................2
Blaise Pascal (1623 – 1662 d.C)...........................................................................3
Vida........................................................................................................................................3
Obras Principais .................................................................................................................4
Tese / Pensamento.............................................................................................................4
Baruch Espinosa (1632 – 1677 d.C)......................................................................7
Vida .......................................................................................................................................7
Obras Principais .................................................................................................................7
Tese/ Pensamentos............................................................................................................7
Principais Idéias: ...............................................................................................................8
Wilhelm Leibniz (1646 – l716 d.C.).....................................................................9
Vida .......................................................................................................................................9
Obras Principais: ..............................................................................................................10
Tese/ Pensamentos..........................................................................................................10
John Locke (1632 – 1704 d.C.)...........................................................................13
Vida .....................................................................................................................................13
Obras Principais: ..............................................................................................................13
Tese/ Pensamentos..........................................................................................................13
George Berkeley (1685 – 1753 d.C.)..................................................................16
Vida......................................................................................................................................16
Obras Principais: ..............................................................................................................16
Tese/ Pensamentos..........................................................................................................17
David Hume (1711 – 1776 d.C.).........................................................................18
Vida......................................................................................................................................18
Obras Principais: ..............................................................................................................19
Tese/ Pensamentos..........................................................................................................19
François-Marie Arouet – Voltaire (1694 – 1778 d.C).........................................21
Vida .....................................................................................................................................21
Obras Principais: .............................................................................................................22
Tese/ Pensamentos..........................................................................................................22
Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778 d. C.).......................................................24
Obras Principais: .............................................................................................................24
Tese/ Pensamentos..........................................................................................................24
Éabade de Condillac ( 1715 – 1780 d.C.)............................................................26
Obras Principais: .............................................................................................................27
Tese/ Pensamentos..........................................................................................................27
No relatorio de leitura anterior vimos de Cusa a Descartes, neste trabalharemos os
iluministas, partindo de Hobbes à Condillac.

Thomas Hobbes (1588 - 1679 d.C.)

Vida

Thomas Hobbes nasceu na Inglaterra, em Westport,


Malmesburry, em 05 de abril de 1588. Teve a oportunidade desde
muito pequeno, aos sete anos de idade, de estudar os clássicos
com Robert Latimer. Interessando-se pelo estudo, aos quatorze
anos, Hobbes ingressou na Universidade de Oxford.
Nesta época, morre Elizabeth I e assume seu primo Jaime I,
iniciando a dinastia dos Stuart.
Depois de formado, com vinte anos, foi indicado para ser preceptor de Carlos Stuart. Viajou
pela França e Itália, onde aperfeiçoou seus idiomas.
Em 1629, Hobbes foi o primeiro a traduzir para o inglês a obra "Guerra do Peloponeso", do
importante historiador grego, indicado como inventor da história racionalista, Tucídides.
Além do acesso aos pensamentos racionalistas de Tucídides, Hobbes foi secretário do
empirista Francis Bacon, e, em suas viagens, leu a obra de Euclides, racionalista; teve
oportunidade de discutir, através do Padre Mersenne, com René Descartes; e depois, na Itália,
esteve com Galileu.
Com este conhecimento eclético, Hobbes formulou sua própria metodologia para a
fonte do conhecimento, o empirismo racionalista.
Esta metodologia original foi aplicada em sua ciência política, ao analisar os fatos sociais,
deduzindo conceitos, nominando-os e, por fim, pondo-os em uma ordem sistematizada. Esta
transformação de conceito para palavra é o chamado nominalismo.
Hobbes fazia construções lógicas, deduzidas dos conceitos formulados da realidade da
natureza humana.
Sempre mostrou grande interesse pelos problemas sociais, sendo fiel defensor do
despotismo político. É o que comprova seus escritos: "Elementos de Lei Natural de
Política"(publicado em 1640, época em que voltou para França em decorrência de atritos
políticos); "O Cidadão"(publicado em 1642. Fala do homem em seu estado natural.);
"Leviatã" (publicado em 1651). Era preceptor do príncipe de Gales, que depois veio a ser Rei
Carlos II da Inglaterra.
Apenas a título de informação, "Leviatã" é um monstro bíblico citado no Livro de Jó,
40-41, muito poderoso, sem medo de nada e com um coração de pedra. Hobbes atribui a uma
de suas obras mais importantes o nome deste monstro bíblico, Leviatã, comparando-o ao
Estado.
Depois de tantas lutas políticas, tendo sido alvo de muitas perseguições, dentre outros, por
acharem suas obras "O Cidadão" e o "Leviatã" ateístas, aos setenta e dois anos, Hobbes volta
aos estudos dos clássicos e suas traduções. Seus últimos anos de vida foram de paz, vindo a
falecer em 04 de dezembro de 1679 com noventa e um anos.
Obras Principais
 Objeções às Meditações Metafisicas de Descartes – 1641;
 Do Cidadão (De Cive) – 1642;
 Leviatã – 1651;
 Do Corpo (De Corpore) – 1655;
 O Tratado do Homem (De Homine) – 1658;
 Diálago entre um Filósofo e um Estudante de Direito Consuetudinário Inglês –
1666.

Tese / Pensamento
Contemporâneos de Thomas Hobbes, Francis Bacon, empirista, e René Descartes,
racionalista, marcaram suas épocas com o antagonismo de suas filosofias. Os empiristas
radicais como Bacon defendiam a idéia de que a única fonte do conhecimento é a experiência,
enquanto que os racionalistas afirmavam que o conhecimento com validade universal só se dá
através da razão. Hobbes revolucionou ao formular suas teorias possibilitando a convivência
destas duas correntes: sua filosofia é formulada através de um raciocínio correto dos
fenômenos.
Hobbes enquadra-se claramente na tradição do empirismo britânico, para ele não há no
espírito do homem concepção que não tenha primeiramente, na totalidade ou em parte, sido
gerada pelos órgãos dos sentidos.

“(...)Em suma, em qualquer campo em que houver lugar para a adição e a


subtração haverá também espaço para a razão; e onde essas coisas não
encontram lugar, a razão não tem o que fazer ali” (Nicona, 2005, p.237).

Há dois tipos de conhecimento: o conhecimento de fato e o conhecimento de


consequência. O conhecimento de fato é fornecido pelos sentidos ou pela memória; é o
conhecimento exigido a uma testemunha. O conhecimento de consequência é o conhecimento
do que se segue do quê; é o conhecimento exigido a um filósofo. Há no nosso espírito uma
sucessão contínua de pensamentos, que constitui o discurso mental.
Hobbes é um nominalista firme. Os nomes universais, como “homem” e “árvore”, não
nomeiam coisas do mundo, nem idéias da mente, mas uma série de indivíduos, nada havendo
no mundo que seja universal além dos nomes; porque todas as coisas nomeadas são
individuais e singulares.
Todas as substâncias são necessariamente corpóreas e, quando a filosofia procura as
causas das mudanças nos corpos, a causa universal que descobre é o movimento. Ao dizer
isto, Hobbes encontrava- se muito próximo de metade da filosofia de Descartes, a sua
filosofia da matéria. Mas, em oposição à outra metade dessa filosofia, Hobbes negava a
existência da mente no sentido em que Descartes a compreendia.
O determinismo de Hobbes permite-lhe alargar a procura de leis causais da filosofia
natural (que procura as causas dos fenômenos dos corpos naturais) para a filosofia civil (que
procura as causas dos fenômenos dos corpos políticos). É este o tema do Leviatã, que
constitui não apenas uma obra-prima de filosofia política que visava descrever a ação
combinada das forças que causam a instituição do Estado ou, nos seus próprios termos, da
Comunidade.
Começa por descrever aquilo que significa, para os homens, viver fora de uma
comunidade, num estado de natureza. Sendo as capacidades naturais dos homens
aproximadamente iguais, e tendo eles interesses pessoais iguais, haverá entre eles conflitos
constantes e uma competição não regulamentada pela posse de bens, de poder e de glória.
Este estado pode ser descrito como um estado natural de guerra.

“GUERRA DE TODOS CONTRA TODOS”, Para Hobbes, essa expressão


refere-se à inevitável condição do homem no estado de natureza, em que cada
indivíduo não submetido à lei e a um poder supremo, torna-se lobo dos outros
homens. Conforme os princípios do absolutismo, pode-se sair de tal situação
– em que a segurança pessoal está eternamente em perigo - somente por
meio de um contrato social entre os súditos que delegue, para sempre e
irrevogavelmente, todo o poder a um soberano. (Nicona, 2005, p.237).

Num estado de natureza, não existem leis, no verdadeiro sentido da palavra. Mas
existem “leis da natureza”, que tomam a forma de princípios de interesse pessoal racional, de
receitas para a maximização das possibilidades de sobrevivência. Estas leis levam os homens,
no seu estado natural, a procurar a paz e a prescindir de alguma da sua liberdade em troca de
iguais concessões por parte dos outros homens.
O soberano é instituído por meio de um contrato de todos com todos, em que cada
homem suspende os seus direitos com a condição de todos os outros fazerem o mesmo. É uma
lei da natureza que os contratos sejam observados; mas um contrato sem a espada não é mais
do que um sopro de voz, e é dever do soberano impor não apenas o contrato original que
constitui o Estado, mas os contratos individuais que os seus súditos fazem entre si.
O momento histórico vivido por Thomas Hobbes era marcado por uma grande
interferência da Igreja no Estado, que o tinha como uma criação da vontade de Deus. Ele
afirmava que o Estado era uma criação do homem, não tinha qualquer relação com a vontade
de Deus, era um ato puramente humano.
A prova de o Estado ser leigo é o contrato social, que demonstra ser a criação do
Estado nada mais do que pura vontade política, criado pelo pacto entre os homens, um ser
artificial, independente da vontade divina.

Blaise Pascal (1623 – 1662 d.C)

Vida

Blaise Pascal Nascido em Clermont-Ferrand, a 19 de junho de 1623,


era filho de Étienne Pascal, o pai encarregou-se de sua instrução,
nunca o enviando a colégios. Mesmo quando, em 1631, a família
Pascal mudou-se para Paris, a educação de Blaise permaneceu ao
encargo do pai. Mostrava-lhe de um modo geral o que eram as
línguas; ensinou-lhe como haviam sido reduzidas as gramáticas sob
certas regras, que tais regras tinham exceções assinaladas com cuidado, e que por esses meios
todas as línguas haviam podido ser comunicadas de um país para outro.”
Aos 19 anos, vivendo com a família em Rouen, inventou a máquina aritmética, uma
calculadora mecânica, que permitia a qualquer um somar, subtrair, dividir e multiplicar sem
saber aritmético. Levou dois anos para produzir a máquina, trabalhando com artesãos. Seu
objetivo era ajudar o pai, que na época trabalhava como coletor de impostos.
Blaise Pascal tinha completado 23 anos quando conheceu dois religiosos ligados ao
jansenismo. Tratava-se de um movimento religioso que tentava restaurar a intensidade da fé
católica e uma disciplina religiosa severa, a "perfeição da moral cristã" dos primeiros séculos
do cristianismo.
É no mosteiro de Port Royal, que Pascal escreve as Cartas Provinciais, que as fez
circular anônimas, nas quais a dialética habilíssima e com uma ironia ora subtil, ora dura,
abordava os aspectos discutíveis da Companhia de Jesus.
A doutrina de Jansênio foi dada como herética pelo Papa Alexandre VI e as cartas de
Pascal censuradas pela Igreja.
Apesar de Blaise Pascal ter apoiado Jansênio, esta época foi de muita valia espiritual
para o Filósofo. Quando o Papa Alexandre VI declarou herética a doutrina de Jansênio, Blaise
Pascal foi obediente ao Papa, e, a partir daí retomou as pesquisas científicas e matemáticas.
De volta a Paris (1647), influenciado pelas experiências de Torricelli, enunciou os
primeiros trabalhos sobre o vácuo e demonstrou as variações da pressão atmosférica.
A partir de então, desenvolveu extensivas pesquisas utilizando sifões, seringas, foles e
tubos de vários tamanhos e formas com líquidos como: água, mercúrio, óleo, vinho, ar, etc,
no vácuo e sob pressão atmosférica.
Aperfeiçoou o barômetro de Torricelli e, na matemática, publicou o célebre Traité du
triangle arithmétique (1654). Juntamente com Pierre de Fermat, estabeleceu as bases da teoria
das probabilidades e da análise combinatória (1654), que o neerlandês Huygens ampliou
posteriormente (1657).
Como teólogo e escritor destacou-se como um dos mestres do racionalismo e
irracionalismo modernos e sua obra influenciou os ingleses Charles e John Wesley,
fundadores da Igreja Metodista. Um dos seus tratados sobre hidrostática, Traité de l'équilibre
des liqueurs, só foi publicado um ano após sua morte (1663). Esclareceu finalmente os
princípios barométricos, da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões.

Obras Principais

 Cartas Provinciais (1656 – 1657);


 Pensamentos – 1670;
 Tratado Sobre o Equilíbrio dos Liquidos – 1654;
 Tratado sobre o Peso da Massa no Ar – 1654
 Tratado do Triângulo Aritmético – 1654

Tese / Pensamento
Blaise Pascal revelou-se gênio desde cedo. Com 12 anos por si só descobriu a
matemática, uma vez que foi impedido por seu pai o contato com livros sobre o assunto. Não
parou por aí. A sua contribuição para a ciência foi significativa e de grande importância.
Atuou na matemática, na física e na geometria, mas são suas reflexões filosóficas e teológicas
que mais surpreende a humanidade.
Ele passou, então, a dedicar-se aos estudos das probabilidades, realizando experiências
com problemas aritméticos. A partir de suas observações dos jogos de dados desenvolveu os
seus cálculos de probabilidades, a famosa fórmula da Geometria do Acaso. O Triângulo de
Pascal foi um dos trabalhos resultantes dessas pesquisas com jogos.
Um dos últimos trabalhos científicos de Pascal nesse período é o Tratado Sobre as
Potências Numéricas, em que aborda a questão dos "infinitamente pequenos". A essa questão
voltará mais uma vez em 1658, num derradeiro estudo científico sobre a área de ciclóide,
curva descrita por um ponto da circunferência que rola sem deslizar sobre uma reta. O método
aplicado por Pascal para estabelecer essa área abriu caminho a descoberta, do cálculo integral,
realizada por Leibniz (1646-1716) e Newton (1642-1727).
Na física, Pascal contribuiu no campo da hidrostática, desenvolvendo importantes
estudos que tiveram como inspiração as descobertas do italiano Evangelista Torricelli sobre a
pressão atmosférica, que reanimou a velhíssima controvérsia sobre o "horror ao vácuo".
Pascal, então, escreve um texto Prefácio ao tratado sobre o vácuo, no qual trata da
questão da Ciência e da Tradição. Neste texto Pascal divide o conhecimento humano em dois
tipos: um baseado na autoridade e na tradição, sendo seu melhor exemplo a teologia; outro, na
experiência e na razão sendo a física um modelo. "Mas o campo em que a autoridade tem a
força principal, é o da teologia, pois ela é inseparável da verdade e somente pela autoridade,
conhecemos a verdade: de modo que para obter certeza plena nas matérias mais
incompreensíveis para a razão, basta mostrar que estão nos livros sagrados, já o mesmo não
ocorre com as matérias que caem no âmbito dos sentidos ou do raciocínio: aí, a autoridade é
inútil e esses conhecimentos dependem só da razão.
Razão e autoridade têm seus direitos delimitados: aqui prevalece uma; lá, reina a
outra. Em crítica a Descartes, sem dirigida especialmente contra o método geométrico
cartesiano e contra a mentalidade geométrica do seu autor, que pretende reduzir tudo a idéias
claras e distintas. Segundo Pascal, o método geométrico é válido para as ciências exatas, não
para as humanas - filosofia, moral, religião - nas quais, em vez de idéias claras e distintas,
prevalecem idéias complexas, mas carregadas de verdades. Pascal não condena totalmente o
método geométrico; rejeita apenas a pretensão de aplicá-lo a qualquer verdade, em especial às
da esfera religiosa. Segundo ele, o método geométrico não tem valor absoluto nem mesmo no
reino da ciência, já que os primeiros princípios dela não são claros e distintos, mas confusos e
obscuros; eles são aprendidos mais pelo coração do que pela razão. O erro de Descartes
consiste em ter exagerado o fator intelectivo (negligenciando completamente o fator afetivo) e
a importância da razão e da especulação (subestimando a contribuição do coração).
Ao método geométrico de Descartes (esprit de géometrie), Pascal opõe o método
afetivo (esprit de finesse); às idéias claras e distintas, as idéias emocionantes; à precisão da
razão, o entusiasmo do coração. Pascal ao falar sobre o coração na sentença: "O coração tem
razões que a própria razão desconhece", não se refere exatamente aos sentimentos, mas sim a
um tipo peculiar de inteligência. O coração está na fonte dos conhecimentos humanos de
maior valor, conhecimentos que a razão não pode compreender nem justificar: as verdades da
moral, da religião e da filosofia. À razão pertencem os conhecimentos científicos.
"A verdade de Deus não pertence a pura ordem geométrica nem a pura ordem física; o
Deus vivo não é uma proposição nem um fenômeno. Deus deve ser sentido, e é o coração
quem sente a Deus, não a razão. Esta é a fé: Deus sensível ao coração, não a razão. Isto é,
Deus não é sensível a razão geométrica dos matemáticos e dos dogmáticos, senão a razão
concreta, ao pensamento que também é coração. Pascal se opõe totalmente a uma
interpretação sentimentalista ou fideista do problema de Deus. Por outro lado, é necessário
não esquecer que Pascal se volta ao ateu e quer persuadi-lo. É possível persuadir o ateu com
os argumentos racionais? Não. É necessário que o ateu esteja disposto a recebê-los, que deseje
a Deus.
Interessou-se pelo desenvolvimento da teoria matemática da probabilidade, no qual
também participou; e pode-se afirmar que foi um dos fundadores da teoria dos jogos, tendo
feito a sua mais famosa aplicação da então nascente disciplina à existência de Deus. Dizemos:
Ou Deus existe, ou não. Que partido devemos tomar? Neste caso, a razão nada pode
determinar. Separa-nos um abismo infinito; e, do outro lado desta distância infinita, joga-se
um jogo, que terá um de dois resultados possíveis. Em qual deles apostas?
Não temos a possibilidade de não apostar; isso não depende da nossa vontade, o jogo
já tinha começado e, tanto quanto a razão nos pode mostrar, as hipóteses são iguais para os
dois lados. Suponhamos que aposte que Deus existe. Se ganhar, Deus existe, se poderá
conquistar a felicidade infinita; se perder, Deus não existe, e aquilo que se perde é nada.
Portanto essa aposta é boa. Mas quanto deve-se apostar? Suponhamos que lhe são oferecidas
três vidas de felicidade em troca da aposta da sua vida atual — supondo, como anteriormente,
que as possibilidades de ganhar e de perder são de metade para cada lado. Não faria sentido
apostar toda a sua vida? Mas a verdade é que aquilo que lhe é oferecido é uma eternidade de
vida feliz, e não apenas três vidas; pelo que a aposta é infinitamente atraente. A proporção da
felicidade infinita, em comparação com aquilo que nos é oferecido na vida atual, é tal que a
aposta na existência de Deus é boa mesmo que a probabilidade de não ganhar seja enorme,
desde que seja apenas um número finito.
A aposta de Pascal assemelha-se à prova Anselmiana da existência de Deus pelo fato
de a maioria das pessoas que ouve falar dela, seja crente ou ateia, pressentir qualquer coisa
estranha, sem ser capaz de dizer exatamente o que é.
No caso da aposta, não é de modo algum claro o que significa apostar na existência de
Deus. Mas se, como Pascal julgava, a razão nada pode dizer-nos por si só, quer acerca da
existência, quer acerca da natureza de Deus, como podemos ter a certeza de qual o tipo de
vida que Ele recompensará com a felicidade eterna?
Nessa terceira fase de sua vida, Pascal volta a dedicar-se à ciência (estudos sobre a
ciclóide e sobre a roleta, seguidos de discussões com vários sábios da época), mas seus
escritos religiosos perdem o tom apologético para tornarem-se trágicos. Os Pensamentos
revelam ser os escritos de um homem a quem "o silêncio eterno dos espaços infinitos
apavora".
... O homem é incapaz de ficar parado sem sentir tédio. Nisso reside a sua
infelicidade (...) A dolorosa reflexão sobre a existência e sobre a morte é
universal. No íntimo, todos os homens tem medo e são infelizes. (..) O
verdadeiro objetivo é o aturdimento, a fuga de si mesmo. (Nicona, 2005,
p.245).

Na fase final de sua vida e de sua obra, Pascal exprime uma só certeza: a de que a
única verdadeira grandeza do homem reside na consciência de seus limites e de suas
fraquezas. " Pascal descobre a tragédia", escreve Lucien Goldmann, "a incerteza radical e
certa, o paradoxo, a recusa intramundana do mundo e o apelo de Deus. E é estendendo o
paradoxo até o próprio Deus - que para o homem é certo e incerto, presente e ausente,
esperança e risco - que Pascal pôde escrever os Pensamentos e abrir um capítulo novo.
Baruch Espinosa (1632 – 1677 d.C)

Vida

Baruch Espinosa nasceu em 24 de novembro de 1632 em Amsterdã nos


Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o
fundador do criticismo bíblico moderno.
Foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia
Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz.
A sua família fugiu da Inquisição de Portugal. Foi um profundo estudioso da Bíblia,
do Talmude e de obras de judeus como Maimónides, Ben Gherson, Ibn Reza, Hasdai Crescas,
Ibn Gebirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão,
Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e também de Giordano Bruno;
Ganhou fama pelas suas posições de panteísmo e do monismo neutro, e ainda devido
ao fato da sua ética ter sido escrita sob a forma de postulados e definições, como se fosse um
tratado de geometria.
No verão de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã o puniu com expulsão, devido
a seus postulados a respeito de Deus em sua obra, defendendo que o mesmo é o mecanismo
imanente da natureza e do universo, e a Bíblia uma obra metafórico-alegórica que não pede
leitura racional e que não exprime a verdade sobre Deus.
Após ser expulso foi abandonando pelos amigos e por seus parentes, pois a irmã
tentou tira-lhe a herança paterna. Um fanático tentou apunhalá-lo, escapando devida sua
agilidade. Depois da infame expulsão, Espinosa buscou um lugar pra si em uma pequena
aldeia holandesa, onde começou a escrever a sua maravilhosa obra. Posteriormente, andou de
hotel em hotel, ou pequenas hospedarias, tendo, apenas em 1670, encontrado uma
hospedagem mais fixa na casa do seu amigo, o pintor Van der Spyck, em 1670.
Para poder sobreviver, Espinosa aprendeu o ofício de polir e fabricar lentes ópticas.
Espinosa morreu em 1677, aos 44 anos, vítima da tuberculose, mas sempre fiel ao
ideal de vida que sempre.

Obras Principais

 Tratado Breve sobre Deus, o Homem e a sua felicidade – 1661


 Tratado da Emenda do Intelecto – 1661
 Tratado Teologico – Politico – 1676
 Ética demonstrada à maneira dos Geometras – 1677

Tese/ Pensamentos
Sua filosofia funda-se numa concepção panteísta da realidade, na qual se identifica
Deus com a Natureza. Para Espinosa só existe uma única substância ilimitada que se
manifesta numa infinidade de forma e com infinitos atributos. Nega a imortalidade da alma e
a natureza pessoal de Deus. Rejeitou o Livre-arbítrio, afirmando que a autodeterminação, isto
é, agir em função da natureza de cada um, é a única liberdade possível. Esta concepção
panteísta está bem patente nas suas concepções metafísicas, éticas e políticas.

Principais Idéias:
 a realidade é una;
 Deus e a realidade são uma coisa só;
 a mente e a realidade também são unas;
 o propósito da filosofia é perceber a unidade que existe na diversidade e buscar
a síntese dos opostos.
Espinosa é um filósofo racional e imanentista. Para ele é possível compreender a
totalidade do real por meio da razão, ou seja, a compreensão do todo não é um simples
exercício intelectual; é um exercício de liberdade. Seu ponto de partida é ousado: se Deus é
onipresente, não há como imaginá-lo fora do mundo. O divino faz parte de tudo o que existe
no mundo natural. Não é, pois, transcendente, mas sim imanente. Sendo Ele a própria
Natureza, o conjunto de todos os seres, vivos ou não, o que evidentemente inclui os humanos,
suas mentes e seus corpos
NATUREZA NATURANTE / NATUREZA NATURADA Na terminologia
espinosista a Natureza Naturante é Deus ( e os seus atributos), entendido
como causa imanente da própria matéria, ou seja, a atividade interior,
produtiva e criativa que vivifica o mundo, a natureza naturada é a mesma
coisa, mas deve ser observada não do ponto de vista da causa, mas dos
efeitos. Em Síntese: a natureza é a única realidade existente; a natureza
coincide com Deus; a natureza é mãe e filha de se mesma. (Nicona, 2005,
p.256).

Se examinarmos o conjunto da obra espinosista, veremos que a identidade


Deus/Natureza/substância única é particularmente nítida na Ética. Dessa maneira, estão dadas
as condições para que o homem alcance a liberdade por meio do conhecimento. Não é
necessária a existência de uma divindade transcendente como a dos monoteísmos dualistas,
para os quais Deus está fora do mundo que criou, Deus é a causa imanente eficiente, isto é, a
causa que produz seus efeitos, mas não se separa deles.
Se o homem é um modo de expressão divina e se Deus é a Natureza, estamos diante de
uma filosofia que nega a existência de um Deus moral, criador e transcendente. Em
conseqüência, tudo o que existe no mundo natural pode ser compreendido pela razão humana.
Nada é misterioso, hermético ou oculto. Nada é tão incompreensível que precise ser revelado.
Ao contestar a crença num Deus controlador e transcendente, o filósofo descarta
também o tradicional sistema de punições e recompensas a ela associado. Com tais negações,
ficam abaladas as bases da moral tradicional. De acordo com Espinosa, a filosofia é o saber
natural e racional dos homens livres. Já a teologia se baseia em “verdades” acessíveis só a
poucos. Não é difícil, então, compreender por que o filósofo foi tão repudiado em sua época e
até cerca de cem anos depois.
Em seu Tratado teológico-político, Espinosa propõe a separação entre o Estado e a
Igreja, a filosofia e o conhecimento revelado, a política e a religião. Mostra-se contra qualquer
espécie de superstição, seja ela filosófica, política, religiosa e os aspectos místicos da Cabala
judaica não estão excluídos desse rol. Nessa mesma obra, ele afirma que o medo gera e
mantém a supertição, e que não existe nada mais eficaz do que ela para governar as massas.
Espinosa distingue três espécies de conhecimento. A primeira é o conhecimento
sensível, que se caracteriza pela subjetividade e pela imaginação. Não é um conhecimento
adequado, porque vê tudo em termos de absolutos que estão sempre em antagonismo e
produzem idéias imprecisas, opiniões, gera paixões que escravizam as pessoas a tudo o que é
externo.
O conhecimento racional vê as coisas de modo abrangente. Com isso, elas passam a
ser entendidas sem levar em conta as dimensões em que usualmente dividimos o tempo:
passado, presente e futuro. Pois para Espinosa o tempo é irreal: como está logo no início da
Ética, o que se costuma chamar de eternidade não é uma temporalidade interminável, mas sim
a ausência de tempo. Tendo compreendido isso, o homem racional pode ver o mundo como
Deus o vê. Seria o conhecimento proporcionado pela ciência. Por meio dele, o homem se põe
num estado contemplativo da ordem do Universo.
O conhecimento intuitivo, ou intuição intelectual, é o mais importante dos três. Por
meio dele, chegamos às idéias adequadas e alcançamos a condição de indivíduos ativos, que
conhecem as idéias, suas causas, efeitos e ligações (Espinosa sustenta que uma idéia isolada
nada significa: é preciso conhecer também os modos pelos quais ela se liga a outras idéias).
Esse conhecimento permite,que descubramos a origem das essências infinitas, o que se
consegue mediante a compreensão da ordem necessária e imutável da substância única.

Wilhelm Leibniz (1646 – l716 d.C.)

Vida

Nasceu em 29 de agosto de 1632, na Inglaterra, seu pai faleceu


quando tinha seis anos.
Em 1663 ingressa na Universidade de Leipzig, como estudante de
Direito. Em 1666 obtém o grau de doutor em direito, em
Nuremberg, pelo ensaio prenunciando uma das mais importantes
doutrinas da posterior filosofia. Nessa época afilia-se à Sociedade
Rosacruz, da qual seria secretário durante dois anos. Dotado de extraordinária inteligência,
Goufried Wilhelm Leibniz fez sua formação como autodidata, explorando os textos da rica
biblioteca do pai, professor universitário de direito. Além da jurisprudência, em que se
diplomou, realizou estudos de matemática (cálculo infinitesimal) e de filosofia, imaginando
uma reforma geral do saber, a fundação de uma ciência universal enciclopédica a ser
elaborada por meio da colaboração organizada das melhores mentes européias.
Foi o primeiro a perceber que a anatomia da lógica - “as leis do pensamento”- é
assunto de análise combinatória. Em 1666 escreveu De Arte Combinatória, no qual formulou
um modelo que é o precursor teórico de computação moderna: todo raciocínio, toda
descoberta, verbal ou não, é redutível a uma combinação ordenada de elementos tais como
números, palavras, sons ou cores.
Na visão que teve da existência de uma “característica universal”, Leibniz encontrava-
se dois séculos à frente da época, no que concerne à matemática e à lógica.
Aos 22 anos, foi-lhe recusado o grau de doutor, alegando-se juventude. Tinha vinte e
seis anos, quando passou a ter aulas com Christiaan Huygens, cujos melhores trabalhos tratam
da teoria ondulatória da luz. A maior parte dos papéis em que rascunhava suas ideias, nunca
revisando, muito menos publicando, encontra-se na Biblioteca Real de Hanôver aguardando o
paciente trabalho de estudantes. Leibniz criou uma máquina de calcular, superior à que fora
criada por Pascal, fazendo as quatro operações.
Em Londres, compareceu a encontros da Royal Society, em que exibiu a máquina de
calcular, sendo eleito membro estrangeiro da Sociedade antes de sua volta a Paris em março
de 1673. Em 1676, já tinha desenvolvido algumas fórmulas elementares do cálculo e tinha
descoberto o teorema fundamental do cálculo, que só foi publicado em 11 de julho de 1677,
onze anos depois da descoberta não publicada de Newton. No período entre 1677 e 1704, o
cálculo leibniziano foi desenvolvido como instrumento de real força e fácil aplicabilidade no
continente, enquanto na Inglaterra, devido à relutância de Newton em dividir as descobertas
matemáticas, o cálculo continuava uma curiosidade relativamente não procurada.
Durante toda a vida, paralelamente à Matemática, Leibniz trabalhou para aristocratas,
buscando nas genealogias provas legais do direito ao título, tendo passado os últimos quarenta
anos trabalhando exclusivamente para a família Brunswick, chegando a confirmar para os
empregadores o direito a metade de todos os tronos da Europa. As pesquisas levaram-no pela
Alemanha, Áustria e Itália de 1687 a 1690. Em 1700, Leibniz organizou a Academia de
Ciências da Prússia, da qual foi o primeiro presidente. Esta Academia permaneceu como uma
das três ou quatro principais do mundo até que os nazistas a eliminaram.
Morreu solitário e esquecido em 28 de outubro de 1704 com 72 anos.

Obras Principais:
 DA arte Combinatória (De Arte Combinatoria) – 1666;
 Novo sistema da Natureza – 1695;
 Ensaios de Teodicéia – 1710.

Tese/ Pensamentos
Leibniz era um racionalista, mas teceu duas criticas ao materialismo moderno.
Usando a teoria da causalidade, explica a existência de Deus. Diz que ele não faz nada
ao acaso, é supremamente bom. O universo não foi feito apenas pelo homem, mas o homem
pode conhecer o universo inteiro. Deus é engenhoso, é capaz de formar uma “máquina” com
apenas um simples líquido, sendo necessária apenas a interação com as leis da natureza para
desenvolvê-la.
A vontade do criador está submetida à sua lógica e a de seu entendimento. É uma
visão racionalista do mundo, e a mente divina seria impregnada de racionalidade. Mas o
mundo é mais do que a razão. O valor da razão reside no seu lado prático. Ela pode conhecer
o princípio matemático das coisas, dos conhecimentos específicos, mas ignora as causas
últimas.
[...] Uma perfeita descrição dos efeitos da cicuta, por exemplo,
absolutamente não explica o motivo da morte de Sócrates. Tudo o que existe
tem uma causa final que define o seu propósito e a sua existência, e nada
acontece sem uma profunda razão suficiente - isto é, sem que seja possível
encontrar uma razão que explique por que é assim e não de outro modo.
Retomando o critério da causa final, já identificado por Aristóteles como
verdadeira substância dos fenômenos, Leibniz volta-se para uma reflexão
metafísica que o levará a contestar Espinosa e a elaborar o conceito de
Mônada. (Nicona, 2005, p.258).

Leibniz, apesar de ser influenciado por Descartes, zombou da simplicidade do método.


E refuta o mecanicismo. Diz que a extensão e o movimento, figura e número, não passam das
aparências, não são a essência. Existe algo que está além da física da extensão e movimento, e
é de natureza metafísica, uma força.
Descarte havia dito que a constante nos fenômenos mecânicos é a quantidade –
movimento. Leibniz fala que isso é um erro, para ele a constante é a força viva, a energia
cinética.
[...] Descartes havia explicado o funcionamento do corpo humano recorrendo
ao modelo hidráulico das fontes. Mas, segundo Leibniz, existe uma diferença
substancial entre a tecnologia humana e o mundo biológico, no qual cada
componente, mesmo o menor, é dotado de vida própria. A natureza constrói
máquinas em que cada parte é constituída por outras máquinas, e estas, por
sua vez, por outras ainda menores, porque o processo de divisão da matéria
pode ser levado ao infinito, ao contrário do que afirmavam Descartes e
Demócrito. Chegando ao limite infinitesimal, em um certo sentido, no fundo
da matéria, encontra-se um princípio incorpóreo, a Mônada espiritual.
(Nicona, 2005, p.264).

As leis elaboradas pela mecânica são leis de conveniência, pela qual Deus criou o
melhor dos mundos. Assim como o mecanicismo, Leibniz critica a visão cartesiana de
máquinas. Os seres orgânicos são máquinas divinas. Em cada pequena parte desses seres, há
uma peça dessas máquinas, que são do querer divino. É a maneira pela qual se realiza o
finalismo superior.
Finalismo - Agir para um fim e, em relação a este, avaliar os próprios meios
é típico da atividade humana. Conforme a hipótese finalista, a natureza
também seria movida por análogo critério de intencional idade, obviamente
nem sempre consciente. O que determina o movimento dos astros celestes ou
a evolução biológica das espécies animais não é o acaso e tampouco um
rígido determinismo, mas a realização de um propósito. O finalismo foi
teorizado pela primeira vez por Aristóteles e aceito pelo Cristianismo, que fez
dele sinônimo de Providência divina. Transformado em um dos fundamentos
do pensamento mágico durante o Renascimento, o finalismo entrou em crise
com o advento da revolução científica. (Nicona, 2005, p.264).

O ponto principal do pensamento de Leibniz é a teoria das Mônada. É um conceito


neoplatônico, que foi retomado por Giordano Bruno e Leibniz desenvolveu. As Mônada
(unidade em grego) são pontos últimos se deslocando no vazio. Leibniz chama de enteléquia e
Mônada a substância tomada como coisa em si, tendo em si sua determinação e finalidade.

MÔNADA - O termo Mônada (ou Mônade) literalmente significa unidade,


simplicidade, aquilo que não se pode dividir mais, e era típico da tradição
pitagórica e neoplatônica (de Cusa, Bruno). Leibniz adotou-o para indicar a
unidade de medida da força viva, espiritual e incorpórea, que constitui o
fundamento último da realidade. (Nicona, 2005, p.260).

Para conhecermos a realidade precisamos conhecer os centros de força que a


constituem, as mônadas. São pontos imateriais como átomos. São e formam tudo o que existe.
São unas assim como a mente. A mente apresenta diversidade, bem como várias
representações. A mônada deve ser pensada junto com a mente. As atividades principais das
mônadas são a percepção e a representação.
Leibniz identificou a percepção inconsciente na natureza humana. É aquele estado de
consciência no qual a alma fica sem perceber nada distintamente, nós não nos recordamos do
que vivemos.
Leibniz, na sua teoria das mônadas, fala que cada mônada espelha o universo inteiro.
Tudo está em tudo. Isso se aplica também ao tempo, ele diz: “o presente está grávido do
futuro.” Uma mônada se diferencia da outra, poque as coisas estão presentes em maior ou
menor grau nelas, e sob diferentes ângulos e aspectos.
Não existem duas substâncias exatamente idênticas, pois se houvesse, elas seriam a
mesma. A realidade é composta de mínusculas partículas, que tem uma riqueza infinita. Deus
conhece a tudo perfeitamente.
Deus é a mônada das mônadas. Uma substância incriada, original e simples. Deus
criou e cria, a partir do nada, todas as outras substâncias. Uma substância, por meio natural,
não pode perecer.
Como já disse, a mônada é imaterial. Porém é da relação entre elas que nasce o espaço
e matéria. A mônada é atividade limitada, pois a atividade ilimitada só se encontra em Deus
(um tipo especial). É dessa imperfeição, que torna a essência obscura que nasce a matéria.
Os organismos são um agregado de mônadas unidos por uma enteléquia superior. Nos
animais essa enteléquia é a alma. Nos homens, a alma é entendida como espírito.
Uma coisa já está em potência na semente . Até aí nada de novo. O original em
Leibniz, é que não existe geração nem morte. Só existe desenvolvimento, no sêmem já existe
um animal. Ele só precisa se desenvolver.
Deus governa o mundo com leis materiais e espirituais. Existem vários pequenos
deuses, controlados pelo grande Deus.
Leibniz,para explicar a interação entre a matéria e o espírito, formulou três hipóteses:
Uma ação recíproca;
Intervenção de Deus em todas as ações;
A harmonia pré-estabelecida. Cada substância tira tudo de seu interior, segundo a
vontade divina.
Estamos no melhor dos mundos possíveis, o ser só é, só existe, porque é o melhor
possível. A perfeição de Deus garante essa vantagem, pois ele escolheu dentre os mundos
possíveis, o que melhor espelhava sua perfeição. Ele escolheu esse mundo por uma
necessidade moral. Mas se esse mundo é tão bom porque existe o mal? Na Teódiceia, Leibniz
indentifica três tipos de mal:
O mal metafísico, que deriva da finitude do que não é Deus;
O mal moral, que advém do homem, não de Deus. É o pecado;
O mal físico. Deus o faz para evitar males maiores, para corrigir.
Leibniz coloca que as condições para a liberdade são três: a inteligência, a
espontaneidade e a contingência. A liberdade da alma consiste em nela encerrar um fim em si
mesma, não dependendo de externos.

John Locke (1632 – 1704 d.C.)

Vida

John Locke, nasceu em Wringtown, 29 de agosto de 1632 foi um filósofo


inglês e ideólogo do liberalismo, sendo considerado o principal
representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do
contrato social.
AVida de John Locke está indissoluvelmente ligada à segunda revolução inglesa, que
terminou em 1689 com a subida de Guilherme de Orange ao trono e a instauração de um
regime liberal.
Locke rejeitava a doutrina das ideias inatas e afirmava que todas as nossas ideias
tinham origem no que era percebido pelos sentidos. Escreveu o Ensaio acerca do
Entendimento Humano, onde desenvolve sua teoria sobre a origem e a natureza de nossos
conhecimentos.
Dedicou-se também à filosofia política. No Primeiro tratado sobre o governo civil,
critica a tradição que afirmava o direito divino dos reis, declarando que a vida política é uma
invenção humana, completamente independente das questões divinas. No Segundo tratado
sobre o governo civil, expõe sua teoria do Estado liberal e a propriedade privada.
Locke teve uma vida voltada para o pensamento político e desenvolvimento
intelectual. Estudou Filosofia, Medicina e Ciências Naturais na Universidade de Oxford, uma
das mais conceituadas instituições de ensino superior da Inglaterra. Foi também professor
desta Universidade, onde lecionou grego, filosofia e retórica.
No ano de 1683, após a Revolução Gloriosa na Inglaterra, foi morar na Holanda,
retornando para a Inglaterra somente em 1688, após o restabelecimento do protestantismo.
Com a subida ao poder do rei William III de Orange, Locke foi nomeado ministro do
Comércio, em 1696. Ficou neste cargo até 1700, quando precisou sair por motivo de doença.
Locke faleceu em 28 de outubro de 1704, no condado de Essex - Inglaterra Nunca se
casou ou teve filhos.

Obras Principais:
 Cartas sobre a tolerância (1689)
 Dois Tratados sobre o governo (1689)
 Ensaio a cerca do entendimento humano (1690)
 Pensamentos sobre a educação (1693)

Tese/ Pensamentos
Locke desenvolveu, a partir da obra de Bacon, uma teoria voltada para melhorar o uso
do intelecto, enfatizando o lado gnosiológico da origem das idéias e representações. A idéia
para Locke, é “tudo que o espírito percebe em si mesmo, e que é objeto imediato de percepção
e pensamento.”
Portanto, essa noção de idéia foi feita e corresponde com a idéia cartesiana. Não tem a
ver com a idéia platônica, que, aliás, John Locke rebateu por ser contrário ao inatismo. A
idéia em John Locke deve ser compreendida como o conteúdo da consciência, o material do
conhecimento. Ele foi contra o inatismo presente em Platão e Descartes, e defendeu a teoria
de que o conhecimento deriva da prática. Compara a mente a uma tabula rasa, uma folha de
papel em branco. O intelecto humano não pode formular idéias do nada, nem o espírito traz
em si memórias e conceitos presentes a priori. Para Locke, todos os dados da mente derivam
da experiência. A experiência é a fonte e o limite do intelecto.

[...] Polemizando com Descartes, Locke demonstra com argumentos


extraídos da experiência a inexistência de idéias inatas: as crianças, os loucos,
os selvagens não possuem qualquer idéia de Deus nem dos princípios
fundamentais geométricos. Isso demonstra experimentalmente que no
conhecimento não existe nada de inato e tudo é aprendido com a experiência.
Para ilustrar essa teoria, Locke recorre a uma metáfora que se tornou célebre:
a mente humana é, ao nascer, uma tabula rasa, um papel em branco sobre o
qual a prática do mundo externo e a reflexão do indivíduo sobre si mesmo
imprimirão aqueles sinais que denominamos conhecimento. Portanto, revela-
se falsa a idéia fundamental do Racionalismo cartesiano, segundo o qual
determinadas verdades evidentes e intuitivas (idéias claras e distintas) devem
obrigatoriamente preceder qualquer experiência. (Nicona, 2005, p.269).

Locke afirma ser absurdo existir certos princípios inatos, mas não se estar consciente
disso. Se há algo na alma, há a consciência desse algo. Também é assim com os princípios
morais. Locke fala que em certos lugares coisas são repreensíveis, e em outros as mesmas
coisas são motivo de mérito. Locke também destitui de validade o argumento ontológico para
a existência de Deus, da autoria de Santo Anselmo.
Para o argumento de que o intelecto pode criar idéias, John Locke responde que ele
pode apenas combinar as idéias percebidas pelos sentidos. Mas não pode criá-las, nem
tampouco destruí-las. Concluindo, Locke aponta a experiência como a única fonte possível de
idéias. A alma trabalha o material percebido depois.
Locke aponta duas fontes para o conhecimento empírico: ele é derivado da experiência
sensível ou da reflexão. As idéias estão no intelecto, e no mundo objetivo existe algo que tem
o poder de fazer o intelecto entendê-las como tal. Um corpo tem qualidades primárias, como a
extensão, a solidez, a figura. E secundárias como cor, odor e sabor. As secundárias são
variações das primárias, são subjetivas, parecem como são para os sentidos. As idéias simples
forçam uma passividade por parte do sujeito , que pode operar sob diversos modos sob os
dados dos sentidos e sob a reflexão, formando assim as idéias complexas. As idéias se
conservam depois de percebidas. A memória é necessária para a ação intelectual, pois faz
representações.
Para Locke as idéias são as fontes do conhecimento, que nasce da percepção delas, e
faz conexões, concordâncias, contrastes e discordâncias entre as idéias. A correspondência
entre duas idéias é importante para o conhecimento. São de quatro tipos:
 Identidade e diversidade. Uma idéia se diferencia da outra;
 Relação. A ciência nasce da relação entre idéias diferente;.
 Coexistência ou não de um mesmo objeto. Pertence às substâncias;
 Existência real. Independente do eu individual que a percebe.

A percepção da realidade pode ser feita de dois modos: por intuição - é claro e certo,
não necessita de prova. Vem da evidência imediata. E por demonstração - o espírito percebe
as diferenças e semelhanças das idéias, mas não de imediato. Procede e se desenvolve por
concatenações, associação das intuições. A existência de Deus pode ser demonstrada
racionalmente. John Locke usa a prova cosmológica para isso. Sabemos, de forma intuitiva,
que algo existe desde a eternidade, pois se não existisse, o início teria de vir de alguma outra
coisa. Para John Locke, a certeza que Deus existe é mais absoluta que as impressões dos
sentidos. Nesse ponto, ele concorda com Descartes.

EMPIRISMO - Em termos gerais, empirismo é a atitude de quem: 1) vê na


experiência o critério último da verdade (aquilo que a razão sugere só deve
ser considerado verdadeiro se passar por um controle experimental); 2)
assume a percepção (e, portanto a experiência) como base de todo o saber, na
idéia de que a partir da sensação se possa explicar também elevadas funções
da mente (memória, fantasia, inteligência), mas não vice-versa. . (Nicona,
2005, p.274).

O Estado não deve ser baseado na fé, nem na religião. Um governante, um príncipe, é
necessário para assegurar a validade do pacto social, mas o direito dele vem do povo, não da
religião. E ele é submisso às leis. Não pode tudo, como outros teóricos afirmaram.
(Maquiavel, por exemplo) Se falhar, o povo tem direito à revolução.

LIBERALISMO - Teoria política defendida por Locke em oposição ao


absolutismo de Hobbes, e que se tornou o fundamento teórico da democracia
moderna. São estes os seus princípios: 1) o contrato social é estipulado não
somente entre cidadãos, como afirmava Hobbes, mas também entre estes e o
Estado; 2) o escopo do Estado é a salvaguarda dos direitos fundamentais do
indivíduo (liberdade, propriedade privada), cujo exercício já estava presente,
mesmo que imperfeitamente, no estado de natureza pré-social; 3) o Estado
não está acima da lei, sendo obrigado a observá-Ia; 4) o cidadão reserva-se o
direito de rebelião, quando um aparato do Estado tenta lesar os direitos
inalienáveis do indivíduo. (Nicona, 2005, p.274).

John Locke foi o fundador do liberalismo constitucional, que concebe o Estado


submetido à um contrato. O direito natural da propriedade, fruto do trabalho é o fundamento
do valor econômico vital do trabalho. John Locke influenciou o liberalismo de Adam Smith
(1723- 1790) e Ricardo (1772-1883). Ele também dividiu, na teoria, os poderes em dois:
Legislativo e Executivo. Esses poderes são necessários para garantir a validade da lei e a
ausência de tirania.
George Berkeley (1685 – 1753 d.C.)

Vida

Nasceu em Dysert, no condado de Kilkenny, Irlanda, em 12 de março


de 1685. Foi o primogênito de seis filhos. Estudou em Dysert Castle.
Aos onze anos estudou no colégio da cidade natal, onde há poucos anos
fora aluno Jonathan Swift, autor do célebre livro As viagens de
Gulliver. Aos quinze anos entrou no Trinity College de Dublin. Ali
estudou matemática, filosofia e autores clássicos. Tornou-se fellow do trinity College em
1707, e passou a lecionar hebraico, grego e teologia. Nessa época escreveu anotações de
observações que receberam o título de Comentários Filosóficos, uma obra já importante, pois
estava delineado seu estilo. Berkeley é dono de um estilo engenhoso, com grandes
argumentações e coerente.
Em 1709 publicou em Dublin o Ensaio por uma nova teoria da visão, e no ano
seguinte Tratado sobre os princípios do conhecimento. Ele começou a teorizar sua visão
espiritualista do mundo cedo.
Em 1710, virou pastor anglicano. Em 1713 chega o livro Três diálogos entre Hylas e
Philonous. Trata-se de diálogos entre um imaterialista e um materialista.
Conheceu Jonathan Swift em Londres. Em 1714 foi à Paris e depois Itália. Realiza
outras viagens pela Europa. Publica uma obra contra Newton.
Como achava a Europa já um tanto decadente, viajou para a América tentando realizar
um projeto seu: o de criar uma escola para evangelizar os povos selvagens. Fica três anos à
espera de recursos e volta para a Inglaterra.
Sua filosofia pode ser dividida em três partes: a primeira está contida em Um Ensaio
Para uma Nova Teoria da Visão (1709), cuja tese central diz que a apreensão perceptiva dos
objetos se faz pelo sentido do tato e não pela visão. A segunda se caracteriza pela elaboração
da teoria imaterialista, descrita em Tratado Sobre os Princípios do Conhecimento Humano
(1710) e em Três diálogos entre Hylas e Philonous (1713). Em Siris (1744) está contida a
terceira parte, onde ele expõe suas concepções neoplatônicas.
A filosofia de Berkeley não teve muita repercussão em seu tempo, mas muitos de seus
princípios são reencontrados no empirismo de David Hume e no idealismo alemão. Depois de
viver vários anos em Londres, Berkeley tentou, infrutiferamente, fundar um colégio nas
Bermudas para a educação de filhos de colonos e indígenas. Transferiu-se logo para Newport,
nos Estados Unidos, onde pretendia implantar o ensino superior. Depois de um novo período
na Irlanda, morreu em Oxford em 14 de janeiro de 1753.

Obras Principais:

 Ensaio Para uma Nova Teoria da Visão (1709)


 Tratado Sobre Os Princípios Do Conhecimento Humano (1710)
 Três Diálogos Entre Hilas E Philonous (1713)
 Alciphron ou Filósofo das Minuncias (1932)
Tese/ Pensamentos

A doutrina imaterialista, que constitui o núcleo da filosofia de Berkeley, nega


enfaticamente a possibilidade de existirem idéias abstratas. Na verdade, nunca concebemos
um triângulo que não seja isóscele ou eqüilátero, ou seja, correspondente a uma forma
previamente percebida pelos sentidos a partir de um objeto particular. A generalidade que se
pode atribuir às idéias é a de sua significação: a idéia de um triângulo pode servir para
representar qualquer triângulo. Essa generalidade, no entanto, não pode ser tomada como
atributo da própria idéia, mas apenas como um sistema de relações com outras idéias do
mesmo gênero.
Ela consiste na negação da matéria, negação que constitui o que Berkeley denominou
"novo princípio". Berkeley nunca negou a existência dos objetos. De fato, eles existem, mas
somente na condição de objetos percebidos. O que se nega é a substância material, já atingida
por um processo de crítica que prolonga a negação das qualidades secundárias como
qualidades de existência independente do preceptor que as apreende. Também as qualidades
primárias dos objetos não têm existência independente. Assim, a existência das coisas,
conceituadas como objetivação de idéias, supõe a dos espíritos. No entanto, Berkeley não
entende os espíritos que dão garantia a esse processo como espíritos finitos, daí sua concepção
platônica do espírito absoluto.

O Imaterialismo é a doutrina metafísica concebida por Berkeley, representa um


desafio para o pensamento ordinário, ou seja, o bom senso comum exigido pela
pratica do viver. A matéria não existe, existem somente Deus e o Espírito
humano. As qualidades objetivas que parecem tão concretas e que Galileu
julgava inopinável (...) são apenas uma representação da mente [...] Hylas
defende a idéia da realidade da matéria e representa, portanto, o modo ordinário
de enfrentar a questão; Philonous representa, ao contrario, o imaterialista, ou
seja, o próprio filosofo ( Nicona, 2005, p.281).

"Ser é perceber ou ser percebido." Essa afirmação sintetiza a filosofia do imaterialismo


de Berkeley, para quem os objetos são feixes de qualidades sensíveis e assim são apreendidos
pelo espírito, num processo que garante sua objetivação. As únicas coisas com existência
efetiva são Deus e os espíritos humanos. Ele dizia que não devemos discutir coisas das quais
não temos idéias. As idéias são palavras com significado. O conhecimento gira em torno das
idéias. “Todas as idéias vem de fora ou de dentro, as de dentro são pensamentos”. A
percepção é uma recepção passiva.
Berkeley nega o significado filosófico de substância, pois diz que ele não existe.
Berkeley associa à substância a solidez e a massa. Portanto a essência não é a substância,
como em outros autores modernos.
A matéria é uma ilusão, como as abstrações. Usamos as idéias, mas elas também não
são a essência. Berkeley fala que percebemos de forma intuitiva. O mundo é uma
representação, conteúdo da nossa consciência subjetiva, as pessoas existem, mas são
imateriais e ativas. Portanto uma forma psíquica pode ser aplicada à substância. Berkeley não
nega a existência do mundo objetivo, diz que as percepções não são produzidas por nós. Ele
questiona o nosso conceito de realidade. Só podemos ter a percepção, como o mundo parece
para nós percebidos pelos sentidos. Portanto a percepção é para si, não em si.
Sua teoria sobre a visão pretende demonstrar a natureza da percepção visual da
distância, da grandeza e da posição dos objetos. Segundo ela, o fato de percebermos
visualmente os objetos deve-se a uma associação entre certas sensações visuais e as idéias de
distância, grandeza e posição proporcionadas pelo tato. À visão corresponderia apenas a
percepção da luz e das cores.
Ao postular a existência de Deus como espírito infinito e garantia derradeira do
processo de conhecimento, Berkeley inverte a fórmula do senso comum. Ordinariamente, se
acredita que todas as coisas são conhecidas ou percebidas por Deus porque se crê em sua
existência. Berkeley, no entanto, concluiu a necessidade da existência do espírito absoluto
pelo fato de que as coisas sensíveis devem ser percebidas por ele, sem o que elas
desapareceriam. O Autor da natureza produziu nelas objetos. O homem pode fazer
representações, ter idéias. O homem nunca pode estar certo de ser seu conhecimento real, pois
como saber que é como ele percebe, fora do espírito?
A percepção é um conjunto de sensações. Como só há idéias simples, devemos nos
concentrar nas sensações. As idéias secundárias só existem na mente, bem como tempo e
extensão. Não tem existência objetiva. Para o homem, não há nada fora da mente. As coisas
são modos de existência das pessoas. O mundo está ligado ao pensamento. Nós temos idéias
dentro das quais vemos as coisas. O homem não percebe a coisa em si, a essência, aquilo que
ele percebe são apenas as idéias.
É tudo uma questão de ponto de vista. Berkeley questiona a visão de distância da ótica
geométrica e recorda que a distância não parece igual para todos. O que torna as coisas
sólidas, fixas, materiais é o hábito, o exercício da percepção no mundo. E a percepção
constrói as coisas, pois associa as sugestões dos dados do mundo.
Berkeley fala que a noção de substância material (tão cara à física newtoniana) é
contraditória, desprovida de sentido. Diz Berkeley que todas as impressões dos sentidos não
podem existir sem uma mente que a perceba. Quando fecho o olho, a coisa desaparece,
quando o reabro ela se constrói de novo. Deus recria o mundo a cada instante, diz Berkeley,
citando uma noção teológica comum à sua época, que Spinoza desenvolvera. E para ter criado
as idéias que existem no mundo, Deus tem de ser benevolente. Pois a coerência do mundo
garante a preservação do mundo, e para isso acontecer, a bondade tem que existir. Nós nos
movemos e existimos em Deus.

David Hume (1711 – 1776 d.C.)

Vida

De família escocesa, David Hume nasceu em 7 de maio de 1711, em


Edimburgo, pertencia a uma família abastada. Fez bons estudos no colégio
de Edimburgo - um dos melhores da Escócia, em seguida transformado em
Universidade , cujo professor de "filosofia", isto é, de física e ciências
naturais, Stewart, era um cientista discípulo de Newton. Em 1734 viajou para a França, depois
de uma experiência sem sucesso no comércio, atividade a que se dedicou com a intenção de
recuperar-se de um intenso esgotamento intelectual. Permaneceu na França até 1737,
completando a redação de seu "Tratado", iniciado com pouco mais de vinte anos de idade.
A sua propensão ao ateísmo e o cetiscismo, bem como os traços irracionais do seu
pensamento, assustaram o mundo acadêmico, no qual Hume nunca conseguiu entrar. De
qualquer forma, alcancou fama e sucesso como escritor de uma monumental Historia da
Inglaterra.
Retornando à Grã-Bretanha, ocupou cargos públicos, incluindo o de secretário de
Estado (1768). Antes, entre 1763 e 1765, serviu na França como secretário da embaixada
inglesa. Morreu na mesma cidade onde nasceu em 25 de agosto de 1776.

Obras Principais:
 Seus Ensaios Morais e Políticos – 1742
 Diálogos sobre a Religião Natural – 1751
 História Natural da Religião – 1754
 Investigação sobre o Entendimento Humano – 1759

Tese/ Pensamentos

A filosofia de Hume tem origem tanto no empirismo de Locke como no idealismo de


Berkeley. Ele Tenta reduzir os princípios racionais, a associações de idéias que o hábito e a
repetição vão fortalecendo. Tal é, por exemplo, o caso do princípio de causalidade. Fazem
dele uma lei sobre as coisas, quando na realidade não expressa mais que uma coisa que nós
esperamos, uma necessidade completamente subjetiva desenvolvida pelo hábito.
A crítica do princípio de causalidade de Hume é famosa. Kant disse que Hume lhe
despertou do seu sono dogmático. Ao ouvirmos uma voz, supomos que ela tem dono. É a
relação causa e efeito. Na primeira vez que isso acontece associamos a voz ao dono.
Posteriormente usamos essa associação em qualquer experiência semelhante. Assim, estão
ligados a causalidade e a indução. Existe uma associação entre o anterior e o posterior. Como
no tempo um fenômeno se sucede a outro, pode se concluir que eles estão ligados. Hume diz
que essa ligação não provém da razão.
O fato de esperarmos certos efeitos de alguns fenômenos, seja por hábito ou por
observação demonstrativa, faz com que vejamos a natureza de determinada maneira. Para
garantir sua sobreviência, o homem coloca ordem nas coisas. Dá preferência ao útil. A base
das ciências naturais para Hume é irracional. A natureza sobrepõe-se à razão. Ser filósofo, na
consequência final, é renunciar ao racionalismo.
O princípo causal tem origem na experiência. Temos a mente formatada pelo costume
e experiência. Aceitamos uma coisa como natural, mas se fosse de outra maneira,
aceitaríamos da mesma forma, como por exemplo controlar a força que dá vida e faz com que
cada ser perceba de um jeito. Se isso fosse natural, todos aceitariam como lei da natureza. As
leis da natureza surgem assim.
Mas Hume admite a existência objetiva dos efeitos da natureza. Mesmo um cético tem
que aceitar a existência de um corpo. Mas as verdades das leis da natureza são apenas as mais
prováveis de acontecer. A causalidade não é objetiva, pois nem sempre as mesmas causas
produzem o mesmos efeitos. A certeza deve ser substituída pela probabilidade. A expectativa
que um evento ocorra é humano, não está na coisa em si.
O Principio basilar de todo pensamento cientifico da causa-efeito: determinados
eventos podem ser previstos como consequências necessarias das causas que os
produziram. E no entanto, afirma Hume, se levar às últimas consequencias o
apelo empirista e confiar somente na experiência concreta e verificavel, será
preciso admitir que não existe nada na natureza semelhante a tal
principio.Observamos o choque entre duas bolas de bilhar: certamente veremos
uma continuidade espacial e temporal porque a bola atingida se move logo
depois da primeira e começa o seu movimento onde a outra se detem. Hume esta
pronto a admitir que é possivel relevar também uma constância dos fenômenos,
porque encontramos regularidade típicas no movimento dos corpos. Mas isso
implica apenas hábito, não necessariamente logica: se nunca tivessimos visto um
choque entre duas bolas de bilhar seriamos incapaz de prever o seu movimento.
[...] ( Nicona, 2005, p.287).

Para Hume a causalidade se dá fundada na crença da repetição do futuro, ela é efeito, e


é garantida, pela estrutura interna do homem, que a repetição desenvolve, e que se chama
crença pelo hábito. Causalidade é a garantia de que sempre que uma causa for posta, o seu
efeito a seguirá necessariamente. E esta causalidade é necessária, pois não está nas coisas,
nem em nenhuma abstração ou transcendência, ela é real, criada pelo homem. Tem-se a idéia
de causalidade pelas sucessivas e repetidas experiências de causa e efeito, possibilitadas pelos
princípios de conexão. A causalidade não é ontológica, abstrata ou transcendente, ela advém
da experiência do homem no mundo.
Para Ele, o homem é extremamente complexo, e possui diversas capacidades e,
também, alguns princípios que o possibilita relacionar idéias. O homem pode captar, perceber,
as impressões internas e as externas, fazendo uso das capacidades, pode ainda guardar estas
impressões, em forma de idéia, pelas faculdades da memória e da imaginação.
Imaginação é o meio de associar idéias sem nenhum critério, sem nenhum rigor, das
maneiras mais incríveis, podendo ser formada qualquer idéia a partir de outras, também,
existe uma outra forma ou faculdade de relacionar idéias, que é o pensamento.
No pensamento, como na imaginação, não há qualquer sujeição das idéias à leis, mas
há aqui um rigor, uma lógica no modo de fazer estas relações. Assim, é possível, sem nunca
ter visto, por exemplo, um determinado tom de cor, formar esta idéia, por um rigor, ao se
lembrar dos outros tons percebidos; ou pela avaliação de experiências passadas, trabalhar com
relações mais prováveis. Mas, tanto na imaginação como no pensamento, as idéias compostas
são sempre originadas a partir de idéias simples, que são representações das impressões do
mundo, oriundas da experiência, da sensibilidade.
O que possibilita o pensamento é o fato de se perceber as coisas de forma repetida,
pois, sem a repetição, o pensamento não teria onde apoiar o seu rigor para agir.
Mas, ainda não ficou esclarecido como é possível a percepção de coisas repetidas. Que
a repetição vem da experiência, isto já foi visto, é certo, pois neste sentido, Hume é empirista
clássico: Tudo é oriundo da experiência. Na construção do seu pensamento descreve três
princípios básico que possibilita ao homem através de suas capacidades de impressão na sua
singularidade , simplicidade e liberdade, construir os objetos, sendo eles:

 Conexão entre as idéias > possibilita o homem sempre interligar e associar


estas idéias de um modo específico, isto é, não totalmente de forma aleatória. Para
Hume, toda conexão de idéias, na imaginação ou no pensamento, segue estes três
princípios, e quaisquer outros princípios serão derivações destes.
 Semelhança > que faz com que se associe idéia de impressões distintas,
diferentes e a princípio não-associáveis, com outras igualmente distintas. E esta
associação é feita por semelhança, que não está na idéia nem na impressão
correspondente, mas sim em quem a experimenta.
 Contigüidade > que se dá no tempo e no espaço, que possibilita a distinção e
associação de idéias, de impressões. Por exemplo: Ao ver um copo com água
em cima de uma mesa, distingue-se o copo, a água e a mesa, e não qualquer
outra combinação de elementos. E também, ao experimentar um fato, associa-
se que este é posterior a um outro e que irá antecipar um outro.
 Causa e efeito > A contigüidade possibilita dizer que um fato antecede ou é
posterior a um outro, mas que isto não está nos fatos, e sim, nos princípios de
conexão de idéias que o homem possui. Assim também, associa-se que o fato
que antecede um outro pode ser a causa deste, que é dito efeito do primeiro,
mas isto devido a um princípio humano, pois em nenhum fato isto pode ser
encontrado.
Hume não acreditava em milagres porque nunca havia visto um. Mas também não
dizia que eles não existiam. A origem da religião é o sentimento, assim como a da moral. É
temperando o lado prático, sentimento, temor e esperança, que criamos a fé e os deuses.
Moralmente aceitos, os princípios céticos são os mais úteis e agradáveis para a maioria. As
verdades morais não são eternas.
A noção de substância – aquilo que, a partir de Aristoteles, a tradição metafísica
indicou como essência ultima (não acidental) das coisas – não significa nada; a
palavra substância não descreve nem indica algo real. Com efeito se ficarmos
no âmbito do pensamento empirico, voltado para a concretude da experiência,
devemos concluir que na realidade existem somente determinadas qualidades
particulares dos objetos que a mente, depois de aprendê-las separadamente
reagrupa e liga a um termo linguistico para facilitar a memoria e a comunicação.
[...] (Nicona, 2005, p.290).

A substância, seja material ou espiritual, não existe. Os corpos não são mais que
grupos de sensações ligadas entre si pela associação de idéias. Também o eu é somente uma
coleção de estados de consciência. Por esta via, Hume chega ao ceticismo e ao fenomenismo
absoluto.

François-Marie Arouet – Voltaire (1694 – 1778 d.C)


Vida

Voltaire era filho de família abastada e estudou em escola jesuíta, onde a


maioria dos alunos pertencia à nobreza. A partir de 1712 Voltaire começou a
ser admirado pela sociedade parisiense por sua inteligência e capacidade de
fazer versos e entreter as pessoas. Em 1717, foi encarcerado na Bastilha (uma fortaleza-prisão
construída por Carlos V, entre 1369 e 1382, que foi o símbolo do despotismo em 1789) por
ter escrito versos que criticavam o governo.
Durante os 11 meses em que permaneceu preso, escreveu a peça Édipo, que obteve
destaque em 1718 e fez dele o maior dramaturgo francês de sua época. Voltaire escreveu mais
de 50 peças, sempre carregadas de crítica moral, sátira social, ataque aos costumes, às leis e às
instituições. De 1726 a 1729, viveu na Inglaterra, onde conheceu os escritores Alexander
Pope e Jonathan Swift e ficou atraído pelas idéias do filósofo John Locke e do cientista Isaac
Newton.
Em 1729, retornou à França e publicou várias obras, sendo as mais importantes a
História de Carlos XII (1731) e Zaíra (1732), sua peça mais famosa. Em 1734 foi lançado na
França seu livro Cartas Filosóficas, de louvor aos costumes, às instituições e ao estilo de
pensamento ingleses. Pelas críticas indiretas aos franceses, as autoridades condenaram o livro
e Voltaire fugiu de Paris. De 1734 a 1749, refugiou-se no castelo da marquesa de Châtelet, na
região de Lorraine, na França. Durante esse período, escreveu várias peças, um ensaio sobre
metafísica, duas obras sobre Isaac Newton e alguns poemas e duas fábulas filosóficas. Em
1749 o filósofo fixou-se em Berlim e três anos depois transferiu-se para as proximidades de
Genebra no castelo Les Délices (As Delícias), que atualmente é o Museu e Instituto Voltaire.
Em 1758, Voltaire mudou-se para a cidade de Ferney, na fronteira entre a França e a Suíça,
onde viveu até pouco antes de sua morte. Ali, elaborou o Dicionário Filosófico (1764) e
terminou a História Universal, também chamada de Ensaio sobre os Costumes e o Espírito
das Nações (1759-1766).
Aos 83 anos, voltou para Paris, onde sua última peça, Irene (1778), obteve grande
sucesso. Em decorrência de alguns problemas de saúde agravados com a viagem, faleceu em
1778.
A Igreja Católica, devido às diversas críticas desferidas à instituição pelo filósofo,
impediu que Voltaire fosse enterrado em qualquer cemitério. Seu corpo foi levado para uma
abadia na região de Champagne. Em 1791, seus restos mortais foram transferidos para o
Panteão, em Paris, onde se encontram enterradas muitas das celebridades da França.

Obras Principais:
 Tragédias : Édipo, 1718 Brutus, 1730 ; A Morte de Cesar,1733
 Contos Filosóficos: O Mundo Como Está, 1746; Zadig,1747 ;
Minemon, 1750; Micrômegas, 1752; Candido ou Otimismo, 1759.
 Ensaios: Cartas Filosoficas ou Cartas sobre os Ingleses, Condenadas
e quimadas em praça pública pelo carrasco de Paris, de 1733; Elementos da Filosofia de
Newton, 1737; Poema sobre Desastre de Lisboa, vitima cinco anos antes, de um terrível
terremoto, 1755; Tratada sobre a Tolerância, 1762; Dicionário Filosófico, 1764;
Questões sobre a Enciclopédia, 1776.

Tese/ Pensamentos

Voltaire foi um importante pensador do iluminismo francês e suas idéias


influenciaram muito nos processos da Revolução Francesa e de Independência dos Estados
Unidos, sendo influenciado, no campo da idéias, pelo cientista Isaac Newton e pelo filósofo
John Locke, defendia as liberdades civis (de expressão, religiosa e de associação). Criticou as
instituições políticas da monarquia, combatendo o absolutismo, também criticou o poder da
Igreja Católica e sua interferência no sistema político, sendo também um defensor do livre
comércio contra o controle do estado na economia.
Voltaire tem um tratamento racional para desvendar os mistérios da consciência
humana. Critica mesmo que indiretamente a Descartes e a teoria do inatismo, e prefere a
teoria de Locke, de que tudo deriva das sensações. A sensação é tão importante quanto o
pensamento, e o mundo é uma sensação contínua. Ele faz paralelos com a cultura grega e
romana, na obra Dicionário Filosófico.
Critica severamente os preconceitos , para Voltaire podem ser maus, medíocres, ou ter
um fim útil, como amar o pai e a mãe. Preconceito é uma opinião desprovida de julgamento.
Podem ser:
 Dos sentidos- como por exemplo: o sol é pequeno, pois o vejo assim.
 Físicos – “a Terra está imóvel”.
 Históricos – por exemplo a lenda da fundação de Roma, por Remo e Rômulo.
 Religiosos – por exemplo: Maomé viajou nos céus.
As crenças têm um lado subjetivo muito forte. Esforçando-nos para ver a crença, ela
acabará por existir, para nós.

[...] Superstição e preconceitos não podem não podem ser desmentidos com
argumentações lógicas, porque não nascem no terreno da razão. Resta a
risada como único remédio nos casos extremos, o gracejo capaz de
demonstrar a agressividade. Mas isso nem sempre é possível e permanece
sem resposta o problema que conclui o trecho: o que fazer quando um
fanático tentar degola-vos porque está convencido de que esta é a vontade de
Deus? (Nicona, 2005, p.298)

Os sonhos são um mistério, portanto fonte de superstições, como os que sonham com
acontecimentos futuros e pensam ser Deus o responsável. O fato de não podermos usar a
razão enquanto vivemos um sonho, e de ele ser um estado alternativo, de percepção etérea, é o
que faz suscitar dúvidas de interpretação. Os sonhos não têm valor objetivo, para Voltaire. A
moral vem de Deus, como a luz. As superstições são trevas.
O ceticismo de Voltaire é uma atitude espiritual, contra a metafísica. Voltaire fala que
o Ser Supremo, cuja crença veio depois do politeísmo, é válido. Disso resulta num paradoxo,
pois Deus existe e não podemos conhecer os mistérios do universo. Voltaire aceita os
argumentos para a existência de Deus de São Tomás de Aquino. É a causa primeira de tudo,
Inteligência suprema.
Contrariamente ao Deus judaico-cristão, O Deus de Voltaire fez o mundo em tempos
remotos e depois o abandonou ao próprio destino. Por isso Voltaire é deísta.

Tolerância – Os pensadores iluministas, como Voltaire, e os teóricos do


liberalismo insistiram longamente no conceito de tolerância. A idéia é que o
Estado mesmo sendo composto por uma massa de fiéis, deve ser laico,
indiferente e desinteressado das questões da consciência que afligem os
cidadãos. Por Outro lado, a Igreja deve renunciar ao exercício da força, seja
no proselitismo, seja na resolução de questões teológicas internas. O
fundamento filosófico dessas doutrinas, em contraste com uma tradição
milenar, está em considerar a fé um puro ato interior de consciência. (Nicona,
2005, p.298)
Para os Iluministas, a ignorância e o medo criaram os Deuses, e a fraqueza os
preserva. É um empecilho para a civilização. O materialismo é preferencial à teologia. Essas
idéias foram defendidas na Enciclopédia, cujo principal autor é Diderot. Os enciclopedistas
chamavam Voltaire de fanático, por esse acreditar em Deus. Lembre-se que Voltaire
participou da Enciclopédia. Voltaire via Deus na harmonia inteligente entre as coisas. Mas
negava o livre arbítrio e a providência.

Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778 d. C.)


Vida

Jean-Jacques Rousseau foi um importante filósofo, teórico político e


scritor suíço. Nasceu em 28 de junho de 1712 na cidade de Genebra (Suíça)
É considerado um dos principais filósofos do iluminismo, sendo que suas
idéias influenciaram a Revolução Francesa (1789).
Rousseau não conheceu a mãe, pois ela morreu no momento do parto. Foi criado pelo
pai, um relojoeiro, até os 10 anos de idade. Em 1722, outra tragédia familiar acontece na vida
de Rousseau, a morte do pai. Na adolescência foi estudar numa rígida escola religiosa. Nesta
época estudou muito e desenvolveu grande interesse pela leitura e música.
No final da adolescência foi morar em Paris e, na fase adulta, começou a ter contatos
com a elite intelectual da cidade. Foi convidado por Diderot para escrever alguns verbetes
para a Enciclopédia.
No ano de 1762, Rousseau começou a ser perseguido na França, pois suas obras foram
consideradas uma afronta aos costumes morais e religiosos. Refugiou-se na cidade suíça de
Neuchâtel. Em 1765, foi morar na Inglaterra a convide do filósofo David Hume.
De volta à França, Rousseau casou-se com Thérèse Levasseur, no ano de 1767, morreu
em 2 de julho de 1778 em Ermenoville (França).

Obras Principais:
 Discurso Sobre as Ciências e as Artes - 1750
 Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens -1755
 A Nova Eloisa - 1761
 Do Contrato Social - 1762
 Emílio, ou da Educação - 1762
 Confissões - 1770

Tese/ Pensamentos
Segundo Nicola (2005, p302) “Para alguns, ele representa o teórico inspirador da
Revolução Francesa; para outros,(...) mas todos concordam que ele deu inicio, com sua obra
Emilio à pedagogia moderna”
Rousseau recusa a teoria de Hobbes com relação a natureza do homem, para ele a
razão só veio com a sociedade e com a linguagem. O estado de natureza não tem existência
histórica. A utilidade dessa hipótese serve para esclarecer a natureza das coisas, serve como
referência. Permite julgar moralmente a degradação do homem social.
Na natureza, existe a igualdade. A desigualdade provém dos homens. Rousseau fala
que se pudesse escolher onde nascer, escolheria um lugar onde o amor entre os cidadãos fosse
maior que o amor à pátria. Rousseau tem Esparta como exemplo. Lá se vivia uma vida dura,
em exposição aos elementos naturais e com vigor físico. A relação entre as pessoas é direta é
igual.
Rousseau critica o absolutismo francês, e prefere a democracia. A lei deve ser igual
para todos, e ninguém deve se por acima dela. Esses tópicos estarão presentes no Do contrato
social.
Em concordância Humes, ele acredita que os costumes, através de gerações levam à
obediência passiva. A liberdade é boa e nutre os fortes, mas abate os fracos. Na pátria que
Rousseau queria ter nascido, os homens, acostumados à independência, são dignos dela. Nela,
o domínio da fronteira não seria motivo de guerra. O direito de legislar seria comum a todos
os cidadãos. No Do contrato social, Rousseau fala da figura do legislador, que deve
representar a vontade geral.
O conhecimento humano mais avançado é o de si mesmo. Rousseau prefere a máxima
“conhece-te a si mesmo” aos imensos tratados dos moralistas. Para conhecer a origem da
desigualdade entre os homens, é preciso conhecer o próprio homem.
Quando a sua preservação está ameaçada, o homem dá preferência a si. Ele deve ter o
direito de não sem maltratado sem motivo. A vontade divina fez o homem bom. A arte
humana o corrompeu. Rousseau identifica dois tipos de desigualdade entre os homens. Uma
natural, como a da idade, e outra social, como a de dinheiro. A última pode se chamada de
moral. Rousseau fala do momento que o direito sucedeu a violência e a natureza se submeteu
a lei humana. Foi quando o mais forte começou a se servir do mais fraco.
A alma humana é moldada nas vivências. Ela está irreconhecível, depois de ter sido
influenciado de todas as formas por conhecimentos , erros e pelo impacto das paixões. Deus
criou a alma com majestosa simplicidade. O desejo de autoconhecimento vem do homem, do
homem civilizado, que acaba por ignorar-se. Rousseau critica a filosofia, que desde a
antigüidade vem se contradizendo e pouco sobre as experiências necessárias para ver o
homem natural e sua aplicação na prática. Os filósofos chegaram a princípios metafísicos
difíceis de compreender.
O homem perdeu a liberdade original. Rousseau procura explicar o que torna essa
mudança legítima. A ordem social é um direito sagrado que não existe na natureza e funda-se
em convenções. A mais antiga das sociedades é a família, diz Rousseau. O pai tem cuidado
com os filhos e por isso sente amor. No Estado, o governante não ama o povo, mas tem prazer
em governar.
Rousseau vê num rei e seu povo, o senhor seu escravo, pois o interesse de um só
homem será sempre o interesse privado.
Os homens para se conservarem, se agregam e formam um conjunto de forças com
único objetivo. No contrato social, os bens são protegidos e a pessoa, unindo-se às outras
obedecem a si mesmo, conservando a liberdade. O pacto social pode ser definido quando
“cada um de nós coloca sua pessoa e sua potência sob a direção suprema da vontade geral”.
As pessoas públicas forma a República, são chamada o Estado, quando passivas, e
soberanos quando ativas. O soberano não pode violar o contrato, alienar qualquer porção de si
mesmo. O corpo político não pode se submeter a outro soberano. Isso seria se auto aniquilar.
Com uma sociedade, quando se ofende um, ofende todo o corpo. O soberano não pode ter
uma opinião contrária a todos, mas o indivíduo pode.
O direito a um terreno se fortalece. Rousseau questiona o direito a uma área do
primeiro ocupante. As leis são úteis àqueles que possuem, e prejudicam os que nada tem. O
Estado existe para o bem comum, e a vontade geral deve dirigi-lo para esse fim. O soberano é
feito um ser fantástico e a soberania é indivisível e inalienável.
Rousseau defende a pena de morte para quem violar o contrato. Mas só pode matar
com que não pode continuar sem perigo. A justiça vem de Deus, mas por não sabermos
recebê-la são necessárias as leis da razão que devem servir a todos.
Os governantes, ou magistrados, não devem ser numerosos, para não se enfraquecer,
pois quanto mais atua sobre si mesmo, menos influência tem sobre o todo. Na pessoa do
magistrado há três vontades diferentes: a do indivíduo, a vontade comum dos magistrados e a
vontade do povo, que é a principal.
Rousseau fala que a verdadeira democracia é impraticável. O interesse privado não
deve se sobrepor ao interesse geral. Existem muitas dificuldades nessa forma de governo, que
Rousseau diz que as ciências e as artes servem para tornar o homem sociável e para
fazê-los amar a escravidão. Mesmo com os esforços para estudar os homens, nos distanciamos
de conhecê-lo. Foi enorme sua influência, como pensador do Iluminismo, na Revolução
Francesa e no romantismo.

Éabade de Condillac ( 1715 – 1780 d.C.)


Vida

CONDILLAC, Etienne Bonnot, Terceiro de uma família pertencente à


nobreza de toga que teve cinco filhos, perdeu a seu pai, um secretário real
recentemente enobrecido, aos treze anos; então foi tomado a cargo de seu tio
em Lyon, quem pô-lo a estudar ali junto a seu irmão Gabriel Bonnot de
Mably com os jesuítas; depois marchou em 1733 a prosseguir seus estudos no seminário de
Saint-Sulpice (Paris) e A Sorbona, e ordenou-se sacerdote sem nenhum entusiasmo em 1740,
já que se sentia mais bem um homem de letras.
Dedicou-se ao estudo da filosofia impulsionado pelo matemático e ilustrado Jean Lhe Rond
d'Alembert, primo seu, e amistou-se com Rousseau, ao que tratou desde 1739, Voltaire e
Fontenelle. Ele mesmo foi um ilustrado que difundiu na França o empirismo liberal de John
Locke e se opôs ao racionalismo. O Sensualismo de Condillac influenciou e conduziu ao
chamado Materialismo francês do século XVIII.
Em 1758 é enviado a Parma por Luis XV, como preceptor de seu sobrinho Fernando de
Borbón, filho dos duques de Parma, e ali permanece até 1764 e escreve seu Cours d'études
pour l'instruction du Prince de Parme ou Curso de estudos para a educação do príncipe,
publicado em treze volumes entre 1768 e 1773. Ali teve de lecionar a María Luisa de Parma,
futura rainha de Espanha por seu casal com Carlos IV. Alguns historiadores consideram que
foi uma influência perniciosa sobre ela, a julgar pelos costumes laxas (ou libertinas) que ela
teve depois.
Em 1767, Condillac recebe a Abadia de Mureau e em 1768 é eleito membro da Academia
Francesa, mas não se faz notar. Em 1776 é eleito membro da Sociedade Real de Agricultura
de Orleans, Vindo a falecer em abadia de Flux, 3 de agosto 1780.
Obras Principais:
 Ensaio sobre a Origem do Conhecimento – 1746
 Tratado das Sensações – 1754
 Tratado dos Animais – 1755

Tese/ Pensamentos
Abade de padre católico, filósofo, psicólogo, economista nascido cm Grenoble, e
divulgador na França das idéias de John Locke . Foi amigo de Jean-Jacques Rousseau, o tutor
dos filhos de seu irmão mais velho Jean Bannot, e amigo também dos demais enciclopedistas,
inclusive o editor Denis Diderot. Foi preceptor do Infante Ferdinando na corte de Parma.
Assim como Locke, Condillac sustentava, a prevalência dos sentidos sobre a razão,
baseado no princípio de que as observações feitas através da percepção dos sentidos são o
fundamento do conhecimento humano (Sensismo).

Sensismo – Doutrina Filosófica que considera todo conteúdo da mente como


produto, mais ou menos refinado, da sensação. Em outras palavras, o
conhecimento limita-se ao sentir e às operações de transformação realizada
pela mente sobre o conteúdo da percepção. (Nicona, 2005, p.320)

A diferença de Locke, negou ao cabo a existência da “reflexão”, segunda fonte de


conhecimentos aparte das sensações, criando sua própria filosofia, conhecida como
Sensualismo; as faculdades e as reflexões viriam a ser nada mais que sensações transformadas
e nada teria no intelecto que não tivesse estado dantes na sensação. Por exemplo, a linguagem
não seria um veículo do pensamento, senão que jogaria um papel essencial em sua elaboração,
e distingue se antecipando a Saussure entre língua coletiva e fala individual.
Condillac imagina o homem como uma estátua, privada de toda sensação (tabula rasa)
e que, em dado momento, começa a ter uma sensação de olfato. A sensação odorosa (de uma
rosa) torna-se memória, quando, afastada a primeira sensação e sobrevindo outra, a primeira
permanece com uma intensidade atenuada. Uma lembrança vivaz torna-se imaginação. Tem-
se, deste modo, uma série de três graus de atenção, de atividade do espírito, constituindo a
sensação o primeiro grau, a memória o segundo, a imaginação o terceiro.
Comparando a sensação atual com a sensação lembrada, nasce a distinção entre
presente e passado; a distinção entre atividade (na memória) e passividade (na sensação); a
consciência, o eu, que é uma coleção de sensações atuais e lembradas; o juízo, que é
comparação entre sensações presentes e passadas; a reflexão, isto é, a direção voluntária de
atenção sobre uma determinada sensação - idéia ou relação, juízo - em uma série de idéias e
juízos; a abstração, isto é, a separação de uma idéia de outra; e a generalização, isto é, a
capacidade de noções gerais. Paralelamente ao desenvolvimento teórico do espírito procede o
desenvolvimento prático.
Da sensação (agradável ou dolorosa) nasce o sentimento (de prazer ou de dor). A
lembrança de sensações agradáveis e a comparação com as presentes, tornam-se desejo; o
desejo preponderante torna-se paixão; o desejo estável torna-se vontade.
O espírito adquire, assim, mediante um só sentido, o olfato, que é o mais pobre dos
sentidos, o exercício de todas as suas faculdades. O espírito, contudo, mediante o tato, adquire
consciência do mundo físico, do próprio corpo e dos demais corpos, pela resistência que o
nosso esforço encontra no mundo externo. Isto não prova, entretanto, a existência, a realidade,
do mundo externo, porquanto se trata sempre de sensações; o mundo externo é afirmado
dogmaticamente, de sorte que, filosoficamente, estamos perante um ceticismo metafísico.
Referências Bibliograficas

Nicola, Ubaldo, Antologia Ilustrada da Filosofia: das Origens à Idade Moderna, Editora
Globo, São Paulo.2005

Falceta, W. Do jogo de dados às invenções de Deus [on line]:


http://www1.estado.com.br/edicao/especial/cientis/cumai88.html 1996. Arquivo capturado em
1º de abril de 2010
Biografia de Pascal http://pt.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal acessado em 21 de maio de
2010
Biografia de Hobbes disponivel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes acessado em
16 de maio de 2010
Biografia de Condillac, disponivel http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/thumb/8/8b/Etienne_Bonnot_de_Condillac.jpg/250px-Etienne_Bonnot _de_
Condillac. Acessado em 16 de maio de 2010.

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