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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE TECNOLOGIA

FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA

Disciplina: Cinética Química Experimental

Profª: Ana Paula Carriço

Daniel Nascimento dos Santos


Gilmar Nascimento Neves
Henrique Fernandes Figueira Brasil
Meyre Lane Pereira da Silva
Raimunda Nonata Consolação e Branco

RELATÓRIO REFERENTE À AULA 3: DETERMINAÇÃO DA ORDEM DE UMA REAÇÃO QUÍMICA PELO


MÉTODO DAS CONCENTRAÇÕES EM EXCESSO.

Belém, 12 de Novembro de 2010


1. INTRODUÇÃO

A velocidade de uma reação é a rapidez com que os reagentes são consumidos ou


rapidez com que os produtos são formados. Ela pode ser definida como sendo a variação da
concentração de um dos componentes que toma parte na reação em função do tempo. Assim,
para uma reação do tipo:

aA + bB + ...  mM + nN + ...

a velocidade da reação é dada por:

d [Y ]
v=− =k .[ A ]α .[ B ]β .. ..
dt

onde Y é A, ou B, e k é a constante de velocidade da reação. O sinal negativo indica que a


concentração do reagente diminui em função do tempo.

Outra determinação importante no estudo da cinética de uma reação química é a da


ordem da reação. Logo convém recordar, nos casos mais simples, o que se entende por ordem
da reação. O termo “ordem” vem da matemática onde é utilizado na classificação das equações
diferenciais. As leis de velocidade são equações diferenciais. Em cinética química, tais equações
são classificadas de acordo com a ordem da reação. A ordem de uma reação é definida como
sendo a soma das potências dos termos de concentração que aparecem na equação de
velocidade da reação química. É normalmente, um número inteiro pequeno, podendo em casos
especiais, ser zero ou fracionário. É importante ressaltar, que a ordem de reação é uma
grandeza que normalmente é obtida a partir de dados experimentais, em grande parte das
vezes sem o conhecimento real do mecanismo da reação.

Assim, de acordo com a equação acima, os expoentes , , ... não podem ser preditos
teoricamente e são estabelecidos pela observação da dependência da velocidade em relação à
concentração. A ordem em relação a A é , com relação a B é , etc. Quando a soma dos
expoentes é 1, a reação é denominada de primeira ordem; quando é 2, de segunda ordem, etc.
Existem vários métodos para determinar a ordem de uma reação química. Sendo assim,
na Universidade Federal do Pará, sob supervisão da professora Ana Paula Carriço Lima, foram
realizados experimentos para se determinar a ordem de uma reação química utilizando o
método das concentrações em excesso. Esse método consiste em utilizar em excesso todos os
reagentes, exceto um. Deste modo, as concentrações dos reagentes em excesso podem ser
consideradas constantes. Por exemplo, a equação cinética de Maucourt-Fissen,

H2O2 + 2I- + 2H+  2H2O + I2

é dada por:

d [ H 2 O2 ]
− =k .[ H 2 O 2 ]α
dt

Utiliza-se esta equação quando a reação é realizada em meio ácido com a concentração
de iodeto muito superior à concentração de peróxido de hidrogênio.

Desse modo se a reação for de ordem zero em relação ao H2O2, existirá uma relação
linear entre [H2O2]0 - [H2O2] e o tempo, se for de primeira ordem existirá uma relação linear
entre ln [H2O2]/ [H2O2]0 e o tempo e, se for de segunda ordem, o tempo será proporcional a
1/[H2O2] - 1/[H2O2]0.

A velocidade desta reação é mensurável à temperatura ambiente e pode ser seguida


pela adição de pequenas quantidades de íons tiossulfato de concentração conhecida. O iodo (I 2)
produzido pela reação é rapidamente reduzido de volta para iodeto (I - ) pelos íons tiossulfato
(S2O3-2 ).

2S2O3-2 + I2  2I- + S4O6-2

Isto continua até que todo o tiossulfato tenha sido convertido em tetrationato (S 4O6-2 ),
depois do que o iodo livre formado fica em solução. A cor do iodo é aumentada pela adição de
solução de amido. Sendo assim, o intervalo de tempo entre o início da reação e a mudança de
cor da solução é uma medida da velocidade da reação.
2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. MATERIAL UTILIZADO

 1 Bureta (250 mL)  1 Proveta (100 mL)


 3 Beckers (250 mL)  Cronômetro
 Suporte Universal  Termômetro (0 a 100oC)
 2 Pipetas (20 mL ; 50 mL)

2.2. REAGENTES UTILIZADOS

 Solução de tiossulfato de Sódio (Na2S2O3); 0,1 M


 Solução de Peróxido de Hidrogênio (H2O2); 3%
 Solução de Amido; 0,5 M
 Água destilada (H2O)
 Ácido Sulfúrico (H2SO4); 3,0 M
 Iodeto de Potássio (KI); 1,0 M

2.3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Primeiramente, ambientou-se a bureta (250ml) a fim de retirar qualquer impureza para


receber a solução de Na2S2O3 (0,1M). Em seguida, juntou-se em um becker: 150 mL de
H2Odestilada, 20 mL de KI (1,0M), 10 mL de H 2SO4 (3,0M), 2 mL de Na2S2O3 (0,1M) e por último 5 mL
da solução de amido. Agitou-se lentamente e, em seguida mediu-se a temperatura.

Em uma proveta, colocou-se 20 mL de solução H 2O2 (3% m/v), que será acrescentada à
solução contida no 1º becker. No instante em que foi colocada, acionou-se o cronômetro
(agitando levemente) e esperou o tempo necessário para que a solução atingisse uma
coloração marrom, nesse exato momento, anotou-se o valor do tempo na tabela.
Enquanto isso, em outros dois beckers foi colocado o Na 2S2O3 (2 mL em cada). No
instante em que ocorre a mudança de cor da solução contida no 1º becker, é imediatamente
adicionado o conteúdo do becker (com a solução de Na 2S2O3) agitando levemente para que
pare a decomposição do peróxido (1) e retornando (2). Repetiu-se este procedimento por 10
vezes, anotando os valores do tempo durante cada mudança de cor.

(1)
- +
H2O2 + 2I + 2H 2H2O + I2
(2)
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A reação do peróxido de hidrogênio e iodeto de potássio em meio ácido acontece segundo a


reação abaixo:

+¿ ↔2 H2 O+ I2 ¿

H 2 O 2 +2 I −¿+2 H ¿

Para determinação da ordem desta reação, utiliza-se a concentração de todos os reagentes em


excesso, exceto a de peróxido. Portanto, a equação cinética para esta reação dependerá somente da
concentração do mesmo.

−d [ H 2 O2 ] a
=k [ H 2 O2 ]
dt

A ordem de reação é determinada quando uma reação linear com o tempo for encontrada.
Assim, pode ser encontrada uma relação linear do tempo com [H 2O2] (ordem 0) ou com ln[H2O2] (1ª
ordem) ou com 1/[H2O2] (2ª ordem).

Para encontrarmos a estequiometria da reação, precisamos entender como ela ocorre:

 Meio Reacional

20 mL de H2O2 30 mL 3% --> 500 mL


20 mL de KI 1M
10 mL de H2SO4 3M
2 mL de Na2S2O3 0,1 M
5 mL de amido
150 mL de H2O
Total 0,207 mL

 Concentração Inicial de Peróxido de Hidrogênio

3g 30 g
Concentração = =
100 mL L

Mas, M = C/MOL’ = 30/34 = 0,8824.


Fazendo-se a diluição para 500 mL temos:

0,8824 . 30 = 500 . M

[ H 2 O 2 ]0=0,0529 M

 Número de mols de H2O2 0,0529M presentes em 20 mL

n = mol.V

n = 1,0588x10-3 mols de H2O2

 Número de mols de Na2S2O3 0,1 M em 2 mL

n = mol.V

n = 2,00x10-4 mols de Na2S2O3

Observemos agora as seguintes reações:

+¿ ↔2 H2 O+ I2 ¿

H 2 O 2 +2 I −¿+2 H ¿

2−¿ ¿
−¿+ S4 O6 ¿

2 S 2 O 32−¿+I 2 ↔2I ¿

 Número de mols de I2 formado com adição de 2 mL de Na2S2O3 0,1M

n(Na 2 S2 O 3) 2 x 10−4 −4
n(I ¿¿ 2)= = =10 mols ¿
2 2

 Quantidade de H2O2 consumida com adição de 2 mL de Na 2S2O3

n(Na2 S2 O3) 2 x 10−4


n ( H 2 O2) =n( I ¿¿ 2)= = =10−4 mols ¿
2 2

Os dados coletados no experimento são apresentados na tabela abaixo. É importante observar


que o volume do meio reacional aumenta e que o número de mols de peróxido diminui.

Tempo (s) V(Na2S2O3) N(H2O2) Vtotal [H2O2] ln[H2O2] 1/[ H2O2]


0 0 1,0588E-03 0,207 5,1151E-03 -5,2756E+00 1,9550E+02
21,37 2 9,5882E-04 0,209 4,5877E-03 -5,3844E+00 2,1798E+02
29,00 8 6,5882E-04 0,215 3,0643E-03 -5,7879E+00 3,2634E+02
34,00 10 5,5882E-04 0,217 2,5752E-03 -5,9618E+00 3,8832E+02
39,27 12 4,5882E-04 0,219 2,0951E-03 -6,1682E+00 4,7731E+02
62,94 14 3,5882E-04 0,221 1,6236E-03 -6,4231E+00 6,1590E+02
79,36 16 2,5882E-04 0,223 1,1606E-03 -6,7588E+00 8,6159E+02
145,09 18 1,5882E-04 0,225 7,0588E-04 -7,2561E+00 1,4167E+03
570,25 20 5,8824E-05 0,227 2,5913E-04 -8,2582E+00 3,8590E+03

Traçando o gráfico para ordem zero ([H2O2] x t):

6.00E-03

5.00E-03

4.00E-03

3.00E-03
Teste de ordem zero
2.00E-03

1.00E-03

0.00E+00
0 100 200 300 400 500 600

Traçando o gráfico para 1ª ordem (ln[H2O2] x t):

-5.00
0 100 200 300 400 500 600
-5.50

-6.00

-6.50
Teste de 1a ordem
-7.00

-7.50

-8.00

-8.50

Traçando o gráfico para 2ª ordem (1/[H2O2] x t):


4,000.00
3,500.00
3,000.00
2,500.00
2,000.00
Teste de 2a ordem
1,500.00
1,000.00
500.00
0.00
0 100 200 300 400 500 600

Neste momento, pode-se descartar a hipótese que a reação é de ordem zero. No entanto é
difícil visualizar qual dos gráficos restantes possui maior linearização. Recorreu-se então aos métodos
dos mínimos quadrados para análise do coeficiente de correlação.

Deste método sabe-se:

A=∑ x 2−¿ ¿

B2

a=
B
A
; b= ý−a x́ ; R=
B2
AC ( )
Aplicando o método para a 1ª ordem:
1
2
; ds =
√ C−( )
A
n−2

Nº X Y X2 X.Y Y2
1 0,00 -5,28E+00 0,00E+00 0,00E+00 2,78E+01
2 21,37 -5,38E+00 4,57E+02 -1,15E+02 2,90E+01
3 29,00 -5,79E+00 8,41E+02 -1,68E+02 3,35E+01
4 34,00 -5,96E+00 1,16E+03 -2,03E+02 3,55E+01
5 39,27 -6,17E+00 1,54E+03 -2,42E+02 3,80E+01
6 62,94 -6,42E+00 3,96E+03 -4,04E+02 4,13E+01
7 79,36 -6,76E+00 6,30E+03 -5,36E+02 4,57E+01
8 145,09 -7,26E+00 2,11E+04 -1,05E+03 5,27E+01
9 570,25 -8,26E+00 3,25E+05 -4,71E+03 6,82E+01
TOTAL 9,81E+02 -5,73E+01 3,60E+05 -7,43E+03 3,72E+02
MÉDIA 1,09E+02 -6,36E+00
a=−0,0047 ; b=−5,8537 ; R2=0,7684 ; ds=0,9144

-5.00
0 100 200 300 400 500 600
-5.50

-6.00 f(x) = − 0 x − 5.85


R² = 0.77
-6.50 Teste de 1a ordem
Linear (Teste de 1a
-7.00 ordem)

-7.50

-8.00

-8.50

Aplicando o método para a 2ª ordem:

Nº X Y X2 X.Y Y2
1 0,00 1,96E+02 0,00E+00 0,00E+00 3,82E+04
2 21,37 2,18E+02 4,57E+02 4,66E+03 4,75E+04
3 29,00 3,26E+02 8,41E+02 9,46E+03 1,06E+05
4 34,00 3,88E+02 1,16E+03 1,32E+04 1,51E+05
5 39,27 4,77E+02 1,54E+03 1,87E+04 2,28E+05
6 62,94 6,16E+02 3,96E+03 3,88E+04 3,79E+05
7 79,36 8,62E+02 6,30E+03 6,84E+04 7,42E+05
8 145,09 1,42E+03 2,11E+04 2,06E+05 2,01E+06
9 570,25 3,86E+03 3,25E+05 2,20E+06 1,49E+07
TOTAL 9,81E+02 8,36E+03 3,60E+05 2,56E+06 1,86E+07
MÉDIA 1,09E+02 9,29E+02

4,000.00
f(x) = 6.5 x + 219.93
3,500.00 R² = 0.99
3,000.00
2,500.00
Teste de 2a ordem
2,000.00
Linear (Teste de 2a
1,500.00 ordem)
1,000.00
500.00
0.00
0 100 200 300 400 500 600
Por apresentar um melhor coeficiente de correlação para a tendência linear dos pontos, conclui-
se que a reação estudada é de 2ª ordem com k =6 , 501 s−1 mol−1 L .

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 P. W. Atkins e J. de Paula, Atkins, Físico-Química, 8a ed., trad. E. C. da Silva, M. J. E. de


M. Cardoso, M. A. F. Faria e O. E. Barcia, LTC, Rio de Janeiro, 2008, vol. 2.
 CASTELLAN, G.W., Fundamentos de Físico-Química, Livros Técnicos e Científicos Editora,
1986.
 http://dicasdequimica.vilabol.uol.com.br/cinetica.html, acessado em 11 de novembro de
2010.
 http://www.colegioweb.com.br/quimica/determinacao-experimental-da-equacao-da-
velocidade-da-reacao.html, acessado em 11 de novembro de 2010.
 http://www.ebah.com.br/pratica-de-cinetica-quimica-doc-a72428.html, acessado em 11
de novembro de 2010.

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