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Resumo
A construção civil está inserida em um pequeno segmento da economia no qual a
elaboração do produto, bem como o recebimento integral pela negociação dele,
demandam um período superior a um exercício social. Este trabalho teve como propósito
buscar conhecimento sobre a Contabilidade nas empresas de construção civil, em seus
aspectos quantitativos e formas de reconhecimento de receitas e despesas. Para tanto,
foram reunidos estudos de conceitos teóricos sobre a Contabilidade de empresas de
construção civil, observados os Princípios Fundamentais da Contabilidade, Normas e
Práticas Contábeis, além da Legislação Tributária Brasileira, em comparação com a prática
realizada por uma empresa desse segmento, atuante na cidade de Montes Claros, estado
de Minas Gerais. A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso, com emprego de
múltiplas técnicas de coleta de dados: observação, análise documental e entrevistas não
estruturadas. Os resultados do estudo apontam para uma importante melhoria no
potencial informativo das demonstrações contábeis da empresa, quando essas foram
reformuladas com a adoção de concepções voltadas a espelhar a essência de sua situação
econômico-financeira.
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Trabalho de conclusão do Curso de Graduação em Ciências Contábeis da Universidade
Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Trabalho aprovado no XII Congresso
Brasileiro de Custos, realizado em Belo Horizonte, em 2006.
2 Bacharel em Ciências Contábeis, ameliarf@yahoo.com.br.
crtheophilo@uol.com.br.
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1 Introdução
O Ministério da Previdência Social considera obra de construção civil a construção,
a demolição, a reforma ou a ampliação de edificação, de instalação ou de qualquer outra
benfeitoria agregada ao solo ou ao subsolo.
A habitação constitui o principal gasto familiar. No Brasil, chega a 37,15% do total,
de acordo com a POF (Pesquisa sobre Orçamento Familiar) de 2002-2003, realizada pelo
IBGE -Instituto Brasileiro de Geografia e de Estatística (2005). Conforme a PNAD
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 1999, 74,4% dos domicílios brasileiros
são próprios.
O setor de construção civil atua como importante instrumento no desenvolvimento
do país no que diz respeito aos enfoques social e econômico, pois possibilita melhorias na
qualidade de vida dos cidadãos, enquanto moradia, ou disponibilizando oportunidades
de trabalho em suas obras.
Não são numerosos os estudos que exploram a contabilização das operações
financeiras desses tipos de entidades. No Brasil, a Contabilidade da atividade imobiliária
tem sido objeto de estudos de alguns autores, tais como: Mosimann (1990), Costa (2000),
Bonízio (2001), Teixeira e Pantaleão (2003), Scherrer (2003) e Nepomuceno (2004).
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1.3 Metodologia
Para se alcançar os resultados propostos neste estudo, a estratégia de pesquisa
utilizada é o Estudo de Caso. Segundo Yin (2001, p. 21), o Estudo de Caso é uma pesquisa
empírica que investiga um fato contemporâneo dentro do seu contexto real; a necessidade
de se utilizar esta estratégia deve nascer do desejo de entender um fenômeno complexo.
Na coleta de dados – como propicia o Estudo de Caso – são utilizadas múltiplas
técnicas, como observação, análise de documentos e entrevistas não-estruturadas, o que
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2 Revisão de bibliografia
A Contabilidade é aplicada universalmente, sendo respeitadas as características
próprias de cada etnia, tipo de negócio e entidade. Assim, a Contabilidade da Atividade
Imobiliária e da Construção Civil é destinada às empresas que têm como atividade fim a
construção, compra, venda e incorporação de imóveis e loteamentos.
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distribuição dos resultados, além da designação da empresa líder, que será formalmente
responsável pela obra.
A seguir são apresentadas duas formas de realização do empreendimento e
contabilização para o contrato de consórcio de sociedades:
• A empresa líder poderá concentrar a administração e a contabilidade do
consórcio enquanto que as demais consorciadas a suprem com recursos
financeiros ou
• São previamente determinados os direitos e obrigações de cada empresa
consorciada e a mesma procede, em separado, à administração, venda e
contabilidade durante toda a vigência do contrato, ocorrendo, quando do
encerramento da obra e contrato, acerto final das despesas do empreendimento.
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correspondente valor ativo, por transferência de sua propriedade para terceiro; 2. Pela
diminuição ou extinção do valor econômico de um ativo; ou 3. Pelo surgimento de um
passivo, sem o correspondente ativo. A expressão ‘receitas realizadas’ é utilizada pelo CFC
com a conotação de ‘receitas ocorridas’. É importante enfatizar este aspecto porque, como
indicam Hendriksen e Breda (1999), a expressão ‘realização de receita’ já foi utilizada com
outros significados: receita recebida ou receita relativa à venda cujos produtos já foram
entregues ao cliente.
Na Resolução CFC 774, de 16.12.94, que é um Apêndice à Resolução CFC 750, antes
citada, faz-se menção ao caso específico em discussão. Na discussão sobre o Princípio da
Competência, é indicado que, nas entidades em que a produção demanda longo espaço de
tempo, o reconhecimento da receita deve ser gradativo e proporcional ao desenvolvimento
da obra, desde que ocorra a satisfação conjunta dos seguintes requisitos: “1. o preço do
produto é estabelecido mediante contrato, inclusive quanto à correção dos preços, quando
houver; 2. não há riscos maiores de descumprimento do contrato, tanto de parte do
vendedor, quanto do comprador; 3. existe estimativa, tecnicamente sustentada, dos custos
a serem incorridos.” (BRASIL, 1993).
Conforme os Princípios Contábeis, definidos nas citadas Resoluções, as receitas e
despesas decorrentes de contratos de longo prazo devem ser incluídas no exercício em que
ocorrerem, independentemente do recebimento do valor contratado ou da transferência do
bem. Indicam especificamente que, nos casos das obras de engenharia, em que estão
presentes os requisitos antes mencionados, o reconhecimento da receita não deve ser
postergado até o momento da conclusão da obra. Aponta que o procedimento correto é
reconhecer a receita proporcionalmente aos esforços despendidos, expressos por custos
(reais ou estimados) ou etapas concluídas.
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O artigo 516 do RIR/99 dispõe que a receita bruta será considerada segundo o
regime de competência ou o regime de caixa, observado o critério adotado pela pessoa
jurídica, caso tenha, naquele ano, optado pela tributação com base no lucro presumido.
A Instrução Normativa nº 84/1979, de 20/12/1979, da Secretaria da Receita Federal,
que estabelece normas para a apuração e tributação do lucro nas atividades de compra e
venda, loteamento, incorporação e construção de imóveis, dispõe que, na venda a prazo
ou em prestações, com pagamento após o período-base da venda, o lucro poderá ser
reconhecido proporcionalmente à receita recebida, desde que controlado no grupo de
exercícios futuros. (BRASIL, 1979).
Com referência ao reconhecimento do lucro bruto, determina que poderá ser feito
proporcionalmente à receita recebida em cada exercício social, mediante a utilização de
conta ou contas, do grupo de resultado de exercícios futuros, em que se registrarão a
receita bruta da venda e o custo da unidade, inclusive o orçado; as transferências parciais
do lucro bruto, do grupo de resultados de exercícios futuros para o resultado de cada
exercício, serão feitas sempre com base na relação atualizada entre o lucro bruto e a receita
bruta da venda.
Como se verifica, a Legislação Tributária não prevê o reconhecimento de receitas
da geração de ativos em decorrência da evolução da obra.
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de mais de 200%. Essa é uma diferença que não deveria ser desconsiderada nos relatórios
contábeis.
Comparando os resultados obtidos com a teoria estudada é possível identificar que
a contabilidade de Alfa, além de se basear nas determinações do contrato de consórcio,
segue uma linha mais conservadora, como exemplificado por Martins (2005), ao fazer
referência aos contadores da Alemanha como conservadores, pois esses só efetivam o
reconhecimento de receitas após o recebimento ou pagamento, bem como transferência do
bem; não reconhecem, portanto, receitas considerando o valor de mercado das unidades
em acabamento.
Verifica-se ainda que, na Empresa Alfa, não há uma uniformidade de
procedimentos, pois não registrando o valor agregado decorrente do grau de formação
dos ativos referentes às unidades em construção, a postura da empresa é mais
conservadora; porém não é empregada a mesma postura ao desconsiderar os custos
decorrentes das unidades vendidas e registrar apenas a receita.
A Contabilidade possui um grande relacionamento com os aspectos jurídicos que
cercam o patrimônio, mas não raro a forma jurídica pode deixar de relatar a essência
econômica. Nessas situações, deve a Contabilidade guiar-se pelos seus objetivos de bem
informar, seguindo, se for necessário para tanto, a essência em vez da forma (FIPECAFI,
2003, p. 44).
4 Conclusões
É indiscutível o papel da construção civil na economia brasileira. Um dos fatores
que podem contribuir para que haja prosseguimento dessa atividade é uma contabilidade
que supra a gerência com informações eficientes e dinâmicas, sendo elemento útil às
tomadas de decisões.
Foram identificados, dentre outros aspectos, que a contabilidade de Alfa, objeto
deste Estudo de Caso, não atende aos fins gerenciais, pois os gestores utilizam outras
fontes de informações como subsídio à tomada de decisão.
Para que se pudesse demonstrar, seguindo a essência da operação, a posição
patrimonial da empresa, visto que o principal objetivo deste estudo foi o de demonstrar a
capacidade informativa da contabilidade da construção civil, foram adaptadas a
Demonstração de Resultado do Exercício e o Balanço Patrimonial de 2004 da Empresa
Alfa, sendo efetuadas a apropriação dos custos em confrontação com as receitas de vendas
já reconhecidas; e reconhecimento dos custos e receitas decorrentes do percentual
concluído dos imóveis em construção. Os resultados apontaram para apreciável ganho de
informação. Os dados discutidos neste estudo são originários de uma empresa familiar e
de capital fechado. Isso faz com que haja uma menor preocupação com a evidenciação
mais rigorosa dos resultados, seja para usuários internos seja para externos. A
oportunidade de contar com dados reais de uma empresa de construção civil permite,
contudo, que as discussões sejam ampliadas, considerando que poderia tratar-se de uma
entidade não organizada como empresa familiar e, até mesmo, de capital aberto.
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Referências
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Amélia Rodrigues Ferreira, é Bacharel em Ciências Carlos Renato Theóphilo, é Professor Doutor, Titular do
Contábeis. Departamento de Ciências Contábeis do Programa de
ameliarf@yahoo.com.br Pós-Graduação em Desenvolvimento Social – PPGDS, da
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes (MG) e
Endereço: Pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis,
Rua Olaria, 384 - Maracanã Atuariais e Financeiras – FIPECAFI.
39403-078 - Montes Claros – MG – Brasil. crtheophilo@uol.com.br
Endereço:
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro – Vila Mauricéia
39401-089 - Montes Claros – MG – Brasil.
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