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Causas da Segunda Guerra Mundial

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A assinatura do tratado de paz no final da Primeira Guerra Mundial (Tratado de


Versalhes) deixou a Alemanha humilhada e despojada de suas possessões. Perdeu seus
territórios ultramarinos e, na Europa, a Alsácia-Lorena e a Prússia Oriental. Os exércitos
aliados ocuparam a região do Reno, limitaram rigorosamente o tamanho do Exército e
da Marinha alemães, e o seu país foi obrigado a pagar indenizações pela Primeira
Guerra Mundial que logo provocaram o colapso de sua moeda e causaram desemprego
em massa.

[editar] Causas subjacentes


 Nacionalismo: Uma das causas mais fortes teria sido o nacionalismo, fonte das
agressões da Alemanha, Itália e Japão. Os regimes fascistas existentes à época
nestes países, foram sendo construídos com base num sentimento nacionalista.
Adolf Hitler e o Partido Nazista usaram o sentimento nacionalista, na altura
bastante explícito na sociedade alemã ,de maneira eficaz.Na Itália, a ideia da
restauração de um Império Romano era atractivo para muitos habitantes desse
país. No Japão, o nacionalismo, como sentimento de sentido de dever e honra,
dedicado especialmente ao imperador, tinha já séculos de prevalência.

[editar] Causas na Europa


 Tratado de Versalhes: O tratado pode ser visto como a causa mais importante
indiretamente para o início da guerra. Culpando apenas a Alemanha e os seus
Aliados pela Primeira Guerra Mundial, o tratado impôs, além de intensos
pagamentos por parte da Alemanha aos Aliados, aplicando um forte golpe na
economia do país e elevando a inflação a índices astronômicos, um irrecuperável
sentimento de humilhação para os cidadãos alemães.
 Primeira Guerra Mundial: Dito pelo então presidente Norte-Americano
Woodrow Wilson, como a guerra para acabar com todas as guerras, não acabou
sendo bem assim, principalmente para a Alemanha, que buscava meios de se
vingar das humilhações sofridas pela derrota. Como disse Winston Churchill,
Essa guerra é, de fato, uma continuação da anterior.
 Lebensraum: A preocupação primária de Hitler durante esse período foi com a
necessidade alemã de Lebensraum, ou seja, espaço vital. Se o país devia passar
de nação de segunda categoria para primeira potência mundial, necessitava de
espaço para se expandir, e se precisava comportar uma população em rápido
crescimento e exigindo prosperidade, necessitava de terras para cultivo e
matérias-primas para energia e indústria
 Grande Depressão.
 Política de apaziguamento.
 Anti-semitismo.
 Polónia: Principalmente, com relação ao "corredor polonês (ou polaco)".
 Revolução Russa e o Anti-comunismo.
 Itália: Uma aliança entre a Alemanha e a Itália é um dos objetivos essenciais
contidos no Mein Kampf. Os acontecimentos haviam mostrado quão úteis essas
duas potências podiam ser uma à outra. A recusa alemã de participar das sanções
contra a Itália diminuiu grandemente a eficiência dessas sanções. E agora os dois
Estados estavam lutando lado a lado para esmagar o governo republicano da
Espanha. E entre o entendimento a respeito da Espanha e a colaboração num
âmbito europeu, ia apenas um passo.

[editar] Causas na Ásia


As relações entre os Estados Unidos e o Japão andavam tensas há algum tempo, e o
principal ponto de discórdia eram as tentativas japonesas de colocar a China sob o
controle do império do sol nascente, por meios bélicos. A Guerra Sino-Japonesa
começara em 1937, provocando protestos americanos, visto que os Estados Unidos
tinham fortes interesses na China. A recusa do Japão em dar ouvidos a esses protestos
moveu o governo americano a declarar um embargo na exportação de certos produtos
para o Japão, inclusive petróleo, o que gradualmente reforçou a disputa. Privados de
uma importante fonte de combustível, os japoneses tinham duas alternativas: aceitar um
acordo humilhante com uma América pretendendo a inviolabilidade da China; ou
procurar petróleo em outro lugar, se necessário pela força.

Grande Depressão
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A fotografia Migrant Mother, uma das fotos americanas mais famosas da década de
1930, mostrando Florence Owens Thompson, mãe de sete crianças, de 32 anos de idade,
em Nipono, Califórnia, março de 1936, em busca de um emprego ou de ajuda social
para sustentar sua família. Seu marido havia perdido seu emprego em 1931, e morrera
no mesmo ano.

A Grande Depressão, também chamada por vezes de Crise de 1929, foi uma grande
depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de
1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é
considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX. Este
período de depressão econômica causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do
produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção
industrial, preços de ações, e em praticamente todo medidor de atividade econômica, em
diversos países no mundo.

O dia 24 de outubro de 1929 é considerado popularmente o início da Grande Depressão, mas a


produção industrial americana já havia começado a cair a partir de julho do mesmo ano,
causando um período de leve recessão econômica que se estendeu até 24 de outubro, quando
valores de ações na bolsa de valores de Nova Iorque, a New York Stock Exchange, caíram
drasticamente, desencadeando a Quinta-Feira Negra. Assim, milhares de acionistas perderam,
literalmente da noite para o dia, grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que
tinham. Esta quebra na bolsa de valores de Nova Iorque piorou drasticamente os efeitos da
recessão já existente, causando grande inflação e queda nas taxas de venda de produtos, que
por sua vez obrigaram o fechamento de inúmeras empresas comerciais e industriais, elevando
assim drasticamente as taxas de desemprego. O colapso continuou na Segunda-feira negra (o
dia 28 de outubro) e Terça-feira negra (o dia 29).

Principais Causas da Segunda Guerra


Mundial

Após a Primeira Guerra Mundial e a assinatura do Tratado de Versalhes, as potencias


capitalistas foram divididas em dois grandes blocos: o dos vencidos (tendo à frente a
Alemanha e a Áustria) e o dos vencedores (Inglaterra, França, EUA e Itália).

A Itália, embora se encontrasse entre os vencedores, ficou numa posição de


inferioridade em relação aos outros três, pois não conseguiu ampliar seus territórios
coloniais.

Os EUA, por sua vez voltaram à antiga política de isolamento, interessados apenas nas
suas próprias áreas de influência na América Latina e no Pacífico.

Assim, a Inglaterra e a França dominaram a Liga das Nações (organização mundial, que
tinha como principal objetivo garantir a paz) e passaram a ditar as regras da política
européia.

A Alemanha, obrigada a aceitar as humilhantes condições do Tratado de Versalhes, foi


o grande perdedor da Primeira Guerra.

O período que se seguiu à guerra caracterizou-se por uma imensa luta entre as forças da
esquerda (socialistas e comunistas), reforçadas pela Revolução Russa de 1917, e as
forças conservadoras, que tiveram sua expressão máxima no nazismo e no fascismo.

A crise econômica de 1929 contribuiu de modo decisivo para aprofundar esse


confronto, pois tanto o comunismo como o fascismo se apresentavam como alternativas
para solucionar as dificuldades do período

As causas
da Segunda Guerra Mundial:
os indivíduos e as classes sociais
Ernest Mandel
Historiador e economista recém-falecido.
Era professor da Universidade de Bruxelas e foi prisioneiro de um campo de trabalho nazista durante a Guerra.

A primazia das relações e dos conflitos entre as forças sociais na determinação do curso
da história é um dos pressupostos fundamentais do materialismo histórico. Nas
sociedades divididas em classes, tais relações são, necessariamente, relações de classe.
Deste modo, a história é explicada, em última análise, como a história das lutas entre as
diversas classes sociais e suas frações essenciais, extensamente sobredeterminada pela
lógica interna de cada modo de produção específico.

Esta concepção da história não está baseada na negação da individualidade humana nem
no menosprezo pela autonomia individual, estrutura de caráter ou valores. A visão de
que a história é configurada basicamente pelas forças sociais resulta, precisamente, do
completo entendimento do fato de que um número infinito de pressões individuais tende
a criar movimentos aleatórios, que se auto-anulariam amplamente, se fossem
exclusivamente individuais.

Para que a história possua um padrão inteligível e não seja uma mera sucessão de fatos
desconexos, aspectos comuns têm de ser descobertos no comportamento dos indivíduos.
Deste modo, milhões de conflitos individuais, escolhas e direções possíveis parecem ter
uma lógica determinada, que permite serem vistos como um paralelogramo real de
forças, sujeitas a um número finito de resoluções e conseqüências possíveis. É isto o
que acontece na história real.

Aqueles que negam a primazia das forças sociais na configuração do destino humano,
de modo paradoxal, também atenuam o papel da maioria dos indivíduos na sociedade.
Só em circunstâncias nas quais a vasta maioria tenha sido excluída do fazer história,
poucos "grandes homens" podem ser dotados do poder de configurar eventos. Quando o
materialismo histórico afirma a primazia das forças sociais sobre as ações individuais,
na determinação do curso da história, não nega que certos indivíduos podem
desempenhar papéis excepcionais. Se homens e mulheres fazem a história, é sempre
com uma certa consciência que pode, é obvio,

ser uma falsa consciência, à medida que interpreta erroneamente seus interesses reais ou
não prevê as conseqüências objetivas de suas ações. Segue-se nesse contexto que certos
indivíduos, na liderança de movimentos sociais, podem ter influência incomum na
história, não como super-homens, mas exatamente como conseqüência de suas relações
sociais.

Personalidades excepcionais não podem mudar a tendência secular dos fatos. O déspota
mais poderoso do mundo não pode escapar às implacáveis demandas da acumulação do
capital, que resulta da estrutura da propriedade privada e da competição no mundo
capitalista. Por exemplo, qualquer tentativa de repor a lógica da produção escravista
(como Hitler tentou fazer) só poderá resultar em dificuldades enquanto persistir a
tecnologia atual e a propriedade privada. Do mesmo modo, nem o talento individual
nem a sede de poder podem alterar os limites da correlação material (sócio-econômica)
de forças. Dessa maneira, dadas as respectivas forças produtivas da Europa capitalista e
dos Estados Unidos em 1941, a Alemanha nazista, mesmo após ter subjugado toda a
Europa, não teria nenhuma chance de vencer uma guerra contra o vasto poder
econômico da América do Norte, a não ser que incorporasse com êxito todos os
recursos naturais e industriais da União Soviética, um processo que levaria anos.

Nos limites globais, materiais e sociais, certas personalidades podem influenciar a


história, seja por possuírem uma percepção mais clara do que os outros das
necessidades históricas de sua classe, seja por retardarem o reconhecimento dessas
necessidades objetivas. Através de sua influência, elas podem impor decisões que, a
curto prazo, favoreçam ou contrariem os interesses das forças sociais que supostamente
representam. Isto ocorre independentemente de sua vontade ou de suas intenções
declaradas.

Hitler e as causas da Guerra

A distinção, entre os grandes movimentos seculares da história e as variações de prazo


mais curto no desenvolvimento histórico, é apenas uma aproximação elementar da
relação entre forças sociais e indivíduos na configuração do curso dos acontecimentos.
Uma categoria adicional, essencial, inclui as necessidades conjunturais dos grupos
sociais.

Hitler não pretendia reduzir o poder da classe dominante alemã à metade do Reich, tal
como ocorreu a partir de 31 de agosto de 1939, mas essa perda de poder e de território
foi precisamente a conseqüência da sucessão de eventos desencadeados pela invasão da
Polônia no dia seguinte. Esses fatos, além disso, incluíram uma série de ações que não
representavam a única escolha possível para o bloco social-nazista, para o qual Hitler,
enquanto indivíduo, possuía uma responsabilidade imediata. A invasão da Polônia, é
verdade indubitável, foi uma decisão, fundamentalmente, de Hitler. Ela expressou, de
maneira surpreendente, as facetas contraditórias de sua personalidade: temeridade,
monomania, oportunismo hábil, bem como uma alternância ciclotímica entre indecisão
paralisante e hipervoluntarismo. Mas também é verdade que, já no ano de 1932, os
círculos principais da classe capitalista alemã tinham decidido — em consideração aos
seus interesses conjunturais — que a única saída para a crise econômica da Alemanha
era estabelecer a hegemonia sobre a Europa ocidental e central.

Disparada a ação dessa estratégia e iniciado o rearmamento maciço, a guerra tornou-se


virtualmente inevitável devido a dois fatores: 1) o rearmamento reativo dos principais
rivais capitalistas da Alemanha — mais imediatamente, a Inglaterra, mas também os
Estados Unidos —, que procuraram bloquear a suserania alemã sobre a Europa e sua
conversão numa potência mundial. Por isso, a tentação, cada vez maior, para toda a
liderança nazista, de desencadear a guerra antes que as enormes forças produtivas do
capitalismo americano tivessem sido mobilizadas e enquanto a Alemanha ainda
desfrutava de certas vantagens em blindados e aeronaves modernas; 2) o ônus do
rearmamento maciço conduziu a uma crise financeira mais profunda no capitalismo
alemão. As reservas em moeda tinham quase desaparecido e o pagamento de juros sobre
a dívida nacional tinha-se tornado um peso insuportável. Era impossível continuar com
a taxa de militarização sem a integração de recursos materiais adicionais aos estoques
quase exauridos, que vinham de fora da Alemanha. Daí a necessidade de pilhar as
economias adjacentes e procurar escalas continentais de organização industrial,
comparáveis àquelas dos Estados Unidos ou da União Soviética.

Portanto, se a decisão final de ocasionar a Wehrmacht em 1o de setembro de 1939 foi


sem dúvida de Hitler, o impulso em direção à guerra nasceu das avaliações, a curto
prazo, da maioria da classe dominante alemã. Essas avaliações, em troca, foram
condicionadas pelas contradições internas do imperialismo alemão, acentuadas pelas
crises sucessivas de 1919/23 e 1929/32. O fato de que a classe dominante esteve mais
ou menos unificada no projeto de modificar agressivamente a divisão mundial do poder
econômico não foi certamente acidental. A Alemanha chegou, tardiamente, à arena das
grandes potências para adquirir um império colonial fora da Europa que correspondesse
a sua importância no mercado mundial. O seu "destino manifesto", portanto, foi
interpretado como a busca da reposição de um império na Europa. A influência política
desproporcional dos junkers — um resultado do fracasso das tentativas do século XIX
de uma revolução democrático-burguesa na Alemanha — acentuou os aspectos ousados
e arrogantes da política externa alemã e ampliou o suporte para a expansão militar.

Por isso, provavelmente não foi acidental o fato de a classe dominante alemã, apesar de
seu orgulho cultural e suas tradições de sustentáculo da "lei e da ordem", colocar o seu
futuro nas mãos de um aventureiro negligente. Naturalmente, sob circunstâncias
normais, a burguesia escolhe suas lideranças políticas dentro de sua própria classe. Em
períodos de crise, entretanto, a burguesia tem tentado repetidamente resolver os
balanços desfavoráveis do poder de classe recorrendo à liderança parlamentar dos
líderes trabalhistas reformistas, desejando preservar as estruturas e os valores básicos do
regime capitalista: uma linhagem colaboracionista que vai de Ebert a McDonald, a Léon
Blum, Clement Attlee e Van Acker, Spaak, Wily Brandt e Helmut Schimidt, terminando
provisoriamente com François Mitterrand.

Para uma classe burguesa poderosa, patrocinar uma autoridade tipo Hitler implica
circunstâncias muito excepcionais: uma profunda crise sócio-econômica que produz
tensões sociais generalizadas de caráter pré-revolucionário. Sob tais condições de crise
excepcional, os estratos declassés de todas as classes sociais, mais especialmente da
pequena burguesia, lançam um grande número de caráteres desesperados com o
propósito de "resolver os problemas da nação" indiferentes ao custo, em termos
humanos ou materiais, e, muito menos, em termos de valores tradicionais. Trotsky
caracterizou de forma competente os aventureiros deste tipo como wildgewordene
kleinbürger (pequeno burguês tornado selvagem).

Hitler, enquanto um tipo de caráter político, é, portanto, o produto de uma concatenação


específica de circunstâncias: a ruína dos pequenos lojistas, o desemprego em massa da
casta dos funcionários públicos, a destruição de pequenas organizações financeiras, os
receios competitivos anti-semitas de médicos e advogados de poucos clientes, a
superprodução de acadêmicos etc. A mentalidade de gângster já era claramente visível
na formação dos Freikorps, em novembro de 1918. Na verdade, havia, literalmente,
centenas de Hitlers e Himmlers em potencial circulando na Alemanha após 1918 —
muitos deles com feições ideológicas e de caráter quase idênticas àquelas do futuro
Führer.

Assim, a maneira pela qual o Terceiro Reich emergiu do colapso da República de


Weimar e pavimentou a estrada para outra guerra mundial foi determinada apenas em
certa medida pelos talentos e debilidades particulares de Hitler como político individual.
Incomparavelmente mais significativa, foi a crise social mais ampla da qual o "tipo
Hitler" foi apenas um epifenômeno. Mesmo a monomania de Hitler sobre os judeus
pode agora ser vista como uma demência difundida entre os estratos reacionários da
sociedade alemã.

A psicologia social e a análise marxista

A mentalidade de bandido tornou-se característica de certas camadas da sociedade


alemã entre 1918 e 1919. Porque ela obteve o endosso das classes dominantes? Primeiro
é necessário entender o papel das estruturas mentais coletivas, as quais medeiam os
interesses. A psicologia social deve ser uma instância necessária na interpretação
marxista do processo histórico e deve elucidar como mentalidades específicas
apoderam-se de um dado grupo social, mesmo quando expressam uma falsa consciência
que distorce ou interpreta incorretamente interesses objetivos.

Os conceitos de mentalités ou estruturas de sentimento, agora tão úteis na história social


ou nos estudos culturais, têm uma genealogia independente no pensamento marxista
clássico. Kautsky, desse modo, insistiu corretamente na importância da solidariedade e
do auto-sacrifício como características componentes de uma clara mentalidade
proletária. Sem essa estrutura mental que tem origem na experiência do trabalho na
fábrica e na exploração em larga escala, as greves e outras ações coletivas do
proletariado seriam quase impossíveis (ao contrário, as greves por parte da pequena
burguesia são extremamente raras). Engels, no mesmo sentido, insistiu sobre o fato de
que os trabalhadores, vivendo nas grandes cidades e labutando nas novas fábricas dos
anos 1880 e 1890, formam a primeira classe na moderna sociedade alemã que escapou à
estreita perspectiva conformista. As atitudes admiravelmente não conformistas e anti-
autoritárias da nova classe trabalhadora alemã para com o regime de Bismarck —
especialmente a que foi revelada pela resistência maciça à lei Anti-Socialista
(Sozialistemgesetz) — confirmaram a emergência de uma nova mentalité.

Não apenas classes mas também grupos étnicos podem manifestar estruturas mentais
coletivas distintas. A maneira pela qual grupos especialmente oprimidos — judeus,
negros, ciganos, palestinos, tribos de todo o mundo etc — apegam-se tenazmente às
tradições lingüísticas, religiosas, étnicas e mesmo gastronômicas, comprova tanto uma
práxis de resistência cultural como a manutenção de mentalités características, as quais
fortalecem a identidade e o respeito próprio contra a extensa violência e indignidade.
Mas esse tipo de estrutura mental geralmente persiste apenas enquanto o meio social
básico é composto pela pequena burguesia pobre. Quando a ampla emergência do
capitalismo irrompe nas antigas estruturas da opressão nacional ou étnica — mesmo se
a discriminação mesquinha e o preconceito sobrevivem —, esse tradicionalismo
defensivo pode ser repentinamente revertido em favor da assimilação quase fanática e
mesmo da superidentificação com a cidadania recentemente adquirida ou do status
nacional. O exemplo clássico dessa transformação ocorreu no século XIX no seio da
burguesia judia assimilacionista da Europa ocidental, porém podem ser notadas
tendências contemporâneas entre os elementos da jovem burguesia negra dos Estados
Unidos ou entre os segmentos anglófilos da classe média indiana expatriada.

A Escola de Frankfurt, dirigida por Horkheimer, nos anos 30, tentou amplamente
desenvolver uma psicologia social através da síntese de idéias de Marx e Freud. O
fracasso fundamental desta ambiciosa reconstrução tem origem menos na interrogação
de Freud do que na sua apropriação mecânica do marxismo. O papel dos impulsos
inconscientes no comportamento social do homem havia, afinal, sido enfatizado por
Engels meio século antes, mesmo não estando ele em condições de investigar sua
precisa natureza. Trotsky, por sua vez, havia sido simpático aos esforços da psicologia
profunda em teorizar a origem e a dinâmica daqueles impulsos.

A real debilidade da Escola de Frankfurt foi sua incapacidade em compreender os elos


de mediação cruciais na dialética da infra-estrutura e superestrutura, as quais, em última
análise, determinam o desenvolvimento histórico. Paixões individuais e impulsos
inconscientes, por mais que determinem a personalidade, não podem diretamente dar
forma às transformações sociais envolvendo milhões de seres humanos. Podem apenas
criar potenciais ou disposições para tais desenvolvimentos. Ao mesmo tempo, porém, é
muito mais provável que tais paixões criem disposições para desenvolvimentos
completamente diferentes, senão opostos. Que linha de desenvolvimento ou ação será
efetivamente empreendida não pode ser prevista pela análise desses próprios impulsos
inconscientes. Mais propriamente, os resultados históricos reais dependem das lutas
sócio-políticas concretas, as quais envolvem não apenas processos inconscientes mas
também conscientes, idéias, estratégias e restrições materiais tanto quanto, ou mais, do
que ideologias espontâneas e disposições inconscientes.

No caso da famosa análise da Escola de Frankfurt sobre o sucesso do hitlerismo, o tema


central é a suposta ambigüidade das estruturas autoritárias na sociedade alemã. Mas
como pode esta análise sócio-psicológica (nós preferiríamos dizer sócio-individual)
fornecer uma explicação para fatos como a habilidade da mesma classe trabalhadora
alemã, que fracassou na greve contra Hitler em 1933, ter tido sucesso, pouco mais que
uma década antes, em 1920, em desencadear a greve geral mais bem sucedida na
história contra o golpe de Von Kapp-Von Luttwitz? Certamente sua formação não tinha
sido menos autoritária, nem suas frustrações sexuais menos marcantes nas décadas que
precederam 1920, do que nos anos anteriores a 1933!

Mais uma vez, paradoxalmente, essas tentativas de reduzir o peso decisivo das forças
sociais na determinação da história realmente suavizam o papel das idéias e das
personalidades muito mais do que faz o materialismo histórico clássico. Os marxistas
entendem que, apesar dos aspectos instintivos ou infantilizados da psique humana, as
pessoas podem compreender as exigências de sua situação histórica e agir de forma
amplamente congruente com seus interesses objetivos. Somente quando esta dimensão
da vontade racional é admitida no complexo paralelogramo de causação histórica, nós
podemos entender como os indivíduos com talentos ou inclinações particulares podem
sobressair-se por si próprios.

Plekhanov e o papel dos "grandes homens" na história

A teoria marxista dos clássicos acerca do papel do indivíduo na história foi esboçada
por Plekhanov em seu famoso ensaio que leva o mesmo título. Embora freqüentemente
associado a um marxismo reducionista, o texto de 1898 de Plekhanov é, de fato, uma
análise notavelmente sutil e atualizada. Ele desenvolve a tese básica de que, embora a
infra-estrutura das relações de produção imponha certos limites materiais sobre a luta de
classes, o caminho através do qual são na verdade expressos tais limites se dá sempre na
forma de uma refração através dos papéis particulares das organizações de massa e de
suas lideranças. Sob tais condições e, especialmente, nos pontos históricos decisivos ou
nos momentos de crise, as peculiaridades pessoais dos indivíduos podem influenciar o
tipo de organização e de liderança de classe que estão disponíveis.

Plekhanov ainda acrescenta dois pontos. Primeiro, como Hegel insinuou, "a sorte das
nações depende freqüentemente dos acidentes de segundo grau"; mas esses "acidentes"
estão entrelaçados com correlações particulares de forças sociais e materiais as quais,
em troca, limitam a esfera autônoma do fator individual. Em segundo lugar, as classes
sociais, em momentos de crise, necessitam de talentos de natureza específica, um tipo
particular de liderança. Geralmente, nesses momentos, alguns ou mais indivíduos que
personificam esses talentos estão disponíveis como candidatos para se tornarem os
novos líderes de seu partido, classe ou nação.

A história da Segunda Guerra Mundial fornece amplas ilustrações da perspicácia das


teses de Plekhanov. No caso da queda da III República, as personalidades políticas que
conduziram a França à capitulação em 1940 haviam sido todas elas amplamente eleitas
em 1936; quer dizer, com exceção de alguns deputados comunistas que haviam sido
privados de seus direitos civis pela sua oposição à "falsa Guerra", foi um parlamento
supostamente de "ala esquerda" que decidiu, por esmagadora maioria, substituir a
República pelo État français de Pétain. Como isso pode ser explicado? A ascensão de
Pétain não foi de maneira alguma a conseqüência inevitável da vitória dos tanques
alemães.

Depois da derrota do corpo principal das forças francesas em maio-junho de 1940,


outras linhas de ação eram facilmente concebíveis, mas somente a usurpação da
democracia francesa por Pétain correspondeu aos instintos majoritários da classe
dominante francesa, que estava determinada a usar a derrota para reparar os reveses e as
humilhações da vitória da Frente Popular e da revolta trabalhista de 1936. Pétain foi o
mecanismo que permitiu a ela alcançar o que seu mais talentoso e reacionário ideólogo,
Charles Maurras, chamou une divine surprise. Isso também permitiu uma sublimação
ideológica da derrota, na atávica restauração cultural de Vichy, com seu slogan
"Trabalho, Família, Pátria".

Sob circunstâncias normais, tal reversão radical do balanço de forças sociais e políticas
entre trabalho e capital teria sido impossível na França. Para ocorrer a transição de uma
democracia parlamentar decadente para uma ditadura militar bonapartista aberta, três
condições políticas foram absolutamente essenciais. Primeiro, o último gabinete
parlamentar dirigido por Paul Reynaud teve de renunciar sem resistência. Em segundo
lugar, o Presidente da República teve de recorrer a um defensor aberto do regime
autoritário — neste caso, o Marechal Pétain — para formar um novo governo. Em
terceiro lugar, a maioria do Parlamento, senadores e deputados juntos, tinha de estar
disposta a enterrar a constituição da III República. Como realmente aconteceu, todas
essas condições foram cumpridas sem hesitação quando surgiu uma necessidade social,
e a tendência geral se tornou hegemônica dentro da classe dominante.

Até o fim de maio de 1940, Paul Reynaud havia sido considerado um político obstinado
e violento, hábil em manipular gabinetes e deputados. No entanto, ele se permitiu ser
manobrado numa ambígua votação de gabinete em que pedia não um armistício, mas
apenas condições para um armistício com a Alemanha, atitude que o colocou em
minoria e o conduziu — contrariando completamente sua natureza — a renunciar.
Paralelamente, até então o presidente Lebrun era de modo geral visto como uma pessoa
completamente sem importância, inábil, sem vontade própria, que tinha sido escolhido
apenas por sua posição honorária e porque sua personalidade correspondia ao famoso
dito de Clemenceau: "se você quer um Presidente, escolha o mais estúpido". Contudo,
esta insignificância decidiu a crucial reviravolta dos eventos de 26 de junho de 1940.
Tivesse ele chamado Reynaud de volta, em vez de convocar Pétain, a III República teria
sobrevivido por mais tempo. Mas, com uma vontade e obstinação totalmente contrárias
à sua natureza e possivelmente com a cumplicidade de Reynaud, ele impôs a ditadura de
Pétain.

"Nós precisamos é de Pétain" foi o grito de guerra da extrema-direita desde 1936. No


entanto, mesmo que o velho Marechal fosse bastante popular — especialmente entre as
celebridades burguesas — sua atuação parlamentar foi limitada antes de maio de 1940,
ainda que sua repentina candidatura como Primeiro-ministro fosse apoiada por uma
maioria esmagadora de deputados e senadores (incluindo, como já observamos, muitos
dos parlamentares de "esquerda" de 1936), orquestrados por aquele mestre de intrigas e
chantagem, Pierre Laval. Na verdade, Laval estava disponível para essa operação desde,
pelo menos, 1937 e vinha fazendo intrigas contra a República, freneticamente. Também
é verdade que a completa desmoralização de muitos parlamentares em junho de 1940,
como resultado da derrota atordoante e inesperada das tropas aliadas, tornou mais fácil o
êxito de tal manobra.

Entretanto, é difícil negar que essa reversão radical das normas e hábitos
comportamentais de centenas de políticos — seis ou sete dos quais desempenharam
papéis decisivos na tragicomédia — pôde somente ocorrer porque estava de acordo com
as necessidades coletivas e desejos conscientes da maioria da burguesia francesa. Para
aquela classe, era imperativo não apenas trocar de lado no meio da Guerra, mas derrotar
as conquistas reformistas do movimento trabalhista francês.

Uma conjuntura simétrica, mas oposta, surgiu quando a classe dominante francesa
defrontou-se com a iminência de um desembarque dos Aliados. Aí, o problema para a
maioria dos capitalistas franceses, profundamente desacreditados aos olhos das massas
por sua colaboração com os nazistas, era salvar tanto o capitalismo francês como um
Estado burguês independente (e o Império) diante de um balanço de forças muito
desfavorável vis-à-vis tanto à classe trabalhadora francesa (armada, como resultado do
avanço da Resistência) como às autoridades anglo-saxônicas. Uma mudança radical do
pessoal político e das alianças estava novamente na ordem do dia.

Novos "homens predestinados", Charles De Gaulle e seus colaboradores mais próximos,


estavam providencialmente disponíveis para empreender esta operação de salvamento,
aparentemente miraculosa. Que ela tenha tido êxito foi uma surpresa para muitos
contemporâneos acostumados aos líderes franceses pusilânimes. O arrogante e inepto
Marechal-de-campo Keitel, quando chegou para assinar a rendição incondicional da
Wehrmacht em 1945, não teve outro comentário a fazer ao Comando Aliado reunido do
que a exclamação: "Mas como, antes dos franceses também?"

Certamente De Gaulle era uma personalidade excepcional, com uma mente brilhante e
uma vontade de ferro superior à maioria de sua classe, não apenas na França, mas no
resto da Europa. No entanto, enquanto suas virtudes não corresponderam às
necessidades autodefinidas da burguesia francesa, ele permaneceu marginalizado,
considerado meio louco e um aventureiro perigoso. Alguns o consideraram pró-fascista,
outros mais tarde o condenaram como um simpatizante comunista. Mesmo um político
e juiz de renome, normalmente astuto, como Franklin D. Roosevelt — o consumado
corretor de ações na história americana moderna — ridicularizava com freqüência De
Gaulle e suas pretensões de vanglória.

Em junho de 1944, os Aliados ainda estavam prontos para impor uma ocupação militar
à França, que a teria conduzido provavelmente a uma guerra civil ao estilo grego ou
pior. De Gaulle, tendo a sua disposição forças desprezíveis, julgou corretamente as
necessidades do capitalismo francês (e, naturalmente, internacional) e obteve êxito ao
estabelecer, através de um diplomático coup de main, um regime parlamentar renascido,
incorporando a Resistência Comunista.

O caso de Churchill fornece outro tipo de corroboração para a visão de Plekhanov da


relação entre personalidades decisivas e as exigências do domínio de classe. A
historiografia tradicional, se admiradora ou crítica dos prévios papéis históricos de
Churchill, tem sido quase unânime em elogiar sua mudança para Downing Street, 10,
como chefe de um governo de coalizão incluindo o Partido Trabalhista, como principal
ponto decisivo na Guerra.

Churchill indubitavelmente incorporou a decisão inabalável da classe dominante


britânica e da larga maioria do povo inglês em não capitular à Alemanha sob quaisquer
circunstâncias. Mas, ao romantizar seus atributos pessoais, em vez de partir de uma
análise das atividades das forças sociais mais amplas, a maioria dos historiadores
burgueses fracassou no teste do exemplo comparativo. A questão central não é quais
acidentes de biografia fizeram de Churchill um indivíduo mais decisivo do que
Chamberlain (ou, de forma similar, distinguiram De Gaulle de Pétain), mas por que
Churchill foi capaz de reunir a maioria de sua classe e o povo em torno de si enquanto
De Gaulle permaneceu uma figura isolada na França, em junho de 1940.

Com certeza, o fato de que as Forças Armadas francesas tivessem acabado de sofrer
uma derrota humilhante, enquanto os britânicos foram capazes de evacuar a maior parte
de seu exército derrotado para sua fortaleza insular, fez diferença. Mas, novamente, os
mais informados observadores — incluindo o Embaixador americano Joseph Kennedy
— consideraram a posição britânica como basicamente desesperançada. Entretanto, a
França, mesmo que por um lado destruída nas Ardenas, ainda possuía uma frota não
derrotada (a segunda maior da Europa), uma ampla esquadra na África do Norte —
mais forte do que a que os ingleses tinham à sua disposição —, uma significativa
reserva aérea e um Império Colonial intacto.

De fato, a diferença real entre a situação britânica e a francesa era menos suas condições
militares do que as predisposições de suas classes dominantes. A burguesia francesa
tinha-se tornado derrotista de modo crescente, por sólidas razões materiais. Ela havia-se
mostrado econômica e militarmente incompetente para garantir o sistema de Versalhes
na presença do rearmamento e da expansão agressiva da Alemanha. Prosseguindo sob
este aspecto, ela estava obcecada principalmente em conter sua própria classe
trabalhadora, a qual se tinha tornado uma prioridade política mais elevada que a
tentativa de derrotar a competição alemã.

Por outro lado, a burguesia inglesa não estava nem desmoralizada, nem derrotada. Ela já
havia reprimido seu próprio movimento trabalhista, economicamente em 1926, e
politicamente em 1931/35. Ao mesmo tempo, sua posição mundial (mesmo se
rapidamente sendo ultrapassada pelos Estados Unidos) era ainda mais forte do que a da
Alemanha, embora a hegemonia de Hitler sobre a Europa tenha comprometido
claramente o Império Britânico. Além disso, a elite britânica estava convencida de que a
ajuda eventual dos Estados Unidos, junto com a matéria-prima e a mão-de-obra do
Império, fazia da guerra contínua contra a Alemanha uma estratégia realista.

O momento era dramático e cheio de perigos, mas o futuro pareceu amplamente


garantido, desde que a Inglaterra pudesse vencer a crise imediata. "Se nós resistirmos
por três meses, enfrentaremos a vitória em três anos", profetizou Churchill
corretamente num discurso secreto na Câmara dos Comuns. E Churchill foi a escolha
quase ideal para fortalecer a decisão inglesa até que os americanos entraram na Guerra.
Aí está por que, após ter sido considerado durante anos uma figura independente e
ultrapassada, uma voz clamando no deserto, ele pôde ser repentinamente ressuscitado
como o deus ex-machina de sua classe. Através de uma abrupta virada de eventos e de
necessidades sociais, o deserto havia sido preenchido com milhões de pessoas.

A seleção social das lideranças

Para se entender esses vários exemplos de seleção de liderança em crise — Pétain, De


Gaulle, Churchill —, é necessário ampliar o conceito de Plekhanov de "disponibilidade
socialmente determinada", com uma análise mais precisa dos vários mecanismos de
escolha e promoção de pessoal político dentro de diferentes classes sociais. Embora
esses mecanismos de seleção sejam nacionalmente específicos, certos aspectos comuns
podem ser notados entre a burguesia moderna. O ponto inicial, naturalmente, é a divisão
funcional do trabalho dentro da classe capitalista. Comparada com a vida da classes
desocupada — a aristocracia —, o negócio do lucro é uma profissão
extraordinariamente absorvente. Por esta razão, em geral, apenas aquela parte da
burguesia que não atua diretamente como empresária será capaz, ou desejará, optar por
carreiras políticas.

Em condições extraordinárias ou de extrema riqueza, pode ocorrer uma união pessoal


entre os altos capitalistas financeiros e o topo do aparelho de Estado. Mas isto é uma
exceção à regra. Mais tipicamente, empresários e políticos profissionais surgem lado a
lado como fluxos separados de carreira dentro do estrato burguês.

O que atrai uma classe média ou um indivíduo abastado a seguir uma carreira política
em vez de profissões liberais ou de negócios? A ambição pessoal, a convicção
ideológica, o fracasso em outros campos, a tradição de família, ou fatos exteriores
podem todos desempenhar papéis na orientação da escolha pessoal, porém, mais
freqüentemente do que se supõe, as pressões e circunstâncias sociais pesam
decisivamente sobre as disposições individuais.

Habitualmente, os indivíduos são recrutados por grupos iguais ou nomeados pelos


superiores para iniciar carreiras políticas ou para ser responsáveis por cargos públicos.
Do mesmo modo, o que freqüentemente aparece como força da convicção ideológica é
ainda mais o peso da circunstância social e da pressão dos pares. Além disso, através
dessas redes de seleção social (como o famoso "gabinete não-oficial" de patrocinadores
ricos de Ronald Reagan), as fileiras políticas são selecionadas para que apenas poucos
milhares de candidatos seletos sejam enfeitados e promovidos para os níveis de
autoridade e poder nacionais. Afora isso, dessa elite, entre um terço e a metade
encontrará algum sucesso nos cargos públicos, e de suas fileiras reduzidas alguns
continuarão a sobreviver aos testes finais de seleção política, como ministros, primeiros-
ministros, presidentes ou ditadores. Mesmo os ditadores militares devem passar pelo
crivo do processo de seleção de sua própria classe, embora pela via do círculo dos
militares ligados ao ambiente burguês ou aristocrático.

Nos níveis mais elevados do poder político, o processo de seleção envolve testes de vida
e morte de força de vontade, de precaução e astúcia. As classes dominantes raramente
permitirão que pessoas ascendam a posições do poder central sem que elas tenham dado
garantia prévia de que defenderão, de forma responsável, as estruturas existentes de
propriedade e de acumulação. A função da hierarquia de poder é precisamente sua
habilidade de eliminar candidatos erráticos ou indignos de confiança. Por essa razão,
muitos luminares locais ou demagogos (pense em Enoch Powell na Inglaterra) jamais
chegarão ao topo da estrutura de poder racional.

Mas o processo de seleção não é de forma alguma puramente negativo. Qualidades


positivas têm de ser selecionadas e testadas antes que a classe, ou os seus principais
representantes, aceite uma pessoa como candidato à liderança nacional. A habilidade
para entender e articular as necessidades coletivas de classe é vital, assim como a
correspondente capacidade para julgar as relações de força e para formular táticas de
acordo com algum plano estratégico. Naturalmente, as qualidades necessárias em
tempos de prosperidade e em tempos de crise, na paz e na guerra, são diferentes.
Combinações particulares de habilidades, as quais qualificam candidatos para a
liderança em uma conjuntura, podem na verdade desqualificá-los para o comando em
uma outra situação transformada. Sob essas circunstâncias, a forma real na qual o
processo de seleção ocorreu torna quase inevitável que, em cada país dado, haja sempre
no mínimo quatro ou cinco líderes centrais disponíveis para implantar soluções
completamente diferentes. Geralmente a burguesia escolherá aquele que melhor
preencha o que ela considera ser as necessidades prioritárias do momento.

A burguesia, normalmente, pode cometer erros na escolha dos "homens predestinados".


Nenhuma lei automática assegura que uma classe social escolha a liderança que ela
precisa. Além disso, há sempre certa discrepância entre os interesses de classe a curto e
longo prazos, o que torna inevitável uma margem de erro no processo de liderança.
Nenhuma coletividade pode sempre ser totalmente consciente da totalidade dos seus
interesses de forma completamente objetiva, se devido à sua própria práxis política
sempre altera a situação em certa medida, impossibilitando um cálculo exato das
conseqüências da ação. Além disso, na sociedade burguesa, o peso tremendo dos
interesses privados remove qualquer congruência automática ou completa entre os
motivos privados e os interesses de classe.

Contudo, após todas essas qualificações e esclarecimentos serem admitidos, persiste o


caso de que o processo de seleção da liderança é irresistivelmente social e específico de
classe. Nenhuma teoria de conspiração é necessária para entender como isso funciona; o
papel dos grupos informais, salons, agrupamentos, "rede de panelinhas" e similares é
completamente suficiente. Não é uma questão de altos monopolistas escolherem X, Y
ou Z para posições elevadas, ao invés de A, B ou C. Mais propriamente, os altos
monopolistas — ou alguma rede mais ampla de poder de intermediários dentro da classe
dominante — estabelecem barreiras suficientes e testes preliminares para assegurar que
os defensores dos interesses da classe dominante que sejam "fracos de caráter" ou
"indignos de confiança" não passarão o limiar do poder de Estado. Deste modo, em
última análise, o homem certo (ou, ocasionalmente, a mulher) geralmente será
encontrado no lugar certo, no tempo certo.

O problema do papel do indivíduo na história tem sido freqüentemente formulado de


uma maneira que contrapõe o indivíduo ao grupo social. Mais recentemente, isto tem
sido traduzido numa contraposição entre fatores biológicos e sociais. A Escola de
Sociobiologia e a Escola de Psico-história têm desafiado a capacidade do materialismo
histórico em explicar a mudança histórica de uma maneira compreensiva. Mas ambas as
aproximações são insatisfatórias, à medida que ignoram o fato de que indivíduos
importantes, socialmente relevantes, que influenciam a história através de sua práxis
individual, apenas o fazem em virtude de características as quais são primariamente
formadas pela sociedade.

Os substratos biológicos ou instintivos das personalidades apenas criam potenciais os


quais estão abertos a uma variedade de desenvolvimentos que depende de contextos
sociais mais amplos. A verdadeira plasticidade das disposições biológicas ou
psicológicas significa que uma personalidade individual formada definitivamente
apenas emerge após muitas forças ambientais terem operado para preencher certos
potenciais enquanto anulam outros. E essas forças ambientais são, em grande parte,
nada além de instituições sociais, as quais moldam o indivíduo politicamente relevante
através de sucessivos estágios de sua biografia.
Na sociedade burguesa, essas instituições incluem a família nuclear patriarcal, o sistema
de educação (incluindo a instituição religiosa e outros aparelhos ideológicos), as várias
instituições estatais através das quais o indivíduo busca o poder e, finalmente, a matriz
particular das organizações partisans, as quais seletivamente promovem candidatos
promissores (partidos, corporações, redes de poder, associações de empregados, etc). É
um truísmo que nenhum indivíduo pode escapar à influência destas instituições
poderosas, e é contenda específica do materialismo histórico que elas exercem a
influência decisiva na formação da liderança social, moldando talentos e disposições em
certas direções e não em outras. Elas são, em outras palavras, as poderosas fontes do
conformismo social, produzindo personalidades que correspondem às necessidades das
classes sociais ou de suas frações principais. Elas geram personalidades que asseguram
a defesa e a reprodução de uma ordem social dada, à medida que elas "internalizam" os
valores básicos que correspondem à estrutura e aos interesses daquela ordem.

Além disso, na sociedade burguesa, todas essas instituições tendem a canalizar o


impulso humano básico para a auto-afirmação (Lustprinzip) no sentido da competição
individual para a riqueza privada e o poder. Mas em estruturas sociais
fundamentalmente diferentes — comunalismo tribal, feudalismo ou socialismo — este
impulso primordial pode formar personalidades completamente diferentes com
valorizações de auto-estima radicalmente diferentes. Numa sociedade baseada numa
produção socializada e democratizada, por exemplo, o impulso para a riqueza e o poder
se tornariam socialmente irracionais, e mesmo contrários à natureza humana. Isto não é
porque a necessidade de auto-afirmação teria sido suprimida; antes, ela se expressaria
através de um sistema inteiramente diferente de comportamento social: competição pela
excelência em habilidade artística ou atlética, competição pelo reconhecimento social,
competição por servir à comunidade sem expectativa de recompensas materiais ou de
poder, e assim por diante.

Reconhecer esta especificidade histórica da individualidade formada socialmente é


apenas admitir um fato empiricamente demonstrável e cientificamente visível e que não
necessariamente requer um julgamento de valor. Mas os marxistas certamente formulam
julgamentos e têm tradicionalmente afirmado que uma sociedade na qual o domínio do
homo homini lupus prevalece, produzirá personalidades mais alienadas, agressivas e
destrutivas, do que uma sociedade na qual as relações básicas de produção estabelecem
a cooperação voluntária e a solidariedade consciente como valores sociais centrais.

Os cavaleiros brancos do apocalipse

Impressiona o fato de que os historiadores têm-se inclinado a desvalorizar ou ignorar o


processo de seleção institucional na ascensão de Hitler ao poder. Muito antes de seu
sucesso eleitoral em 1930, Hitler teve de sofrer críticas severas do seu próprio e
relativamente pequeno partido, a fim de estabelecer sua inquestionável autoridade no
microcosmo do futuro Terceiro Reich. Estes anos iniciais foram, sem dúvida, o período
mais difícil de sua carreira política, e em vários pontos ele esteve à beira de perder o
controle sobre o seu próprio partido para personalidades como Röhm.

Para o nacionalista alemão, a direita era uma verdadeira floresta de führers imaginários,
entre os quais Hitler era inicialmente apenas primus inter pares. As lições que ele
aprendeu durante sua luta implacável pela liderança determinaram seu modus operandi,
uma vez que atingiu o poder instalando padrões de crueldade, oportunismo e falsidade.
Procurar a origem desses traços na primeira biografia de Hitler, ao invés de procurá-la
no ambiente social da direita alemã pós-Versalhes, distorce a verdadeira seqüência de
eventos.

Longe de ser um gângster de nascença, Hitler estava inclinado a uma carreira medíocre
em arquitetura ou arte. Se ele se tornou o gângster-mestre do século XX, foi porque
lutou pela conquista da liderança durante uma década numa organização quase clássica
de gângsters — o Partido Nazista —, que não era diferente de organizações como a
Máfia da Sicília e dos Estados Unidos.

A derrota de Mussolini, em 1943, é outro exemplo impressionante de como forças


sociais mais amplas são capazes, sob circunstâncias imprevisíveis, de capturar os
indivíduos, não como as aranhas capturam as moscas em sua teia, mas como um
escultor que martela continuamente os blocos de mármore. Mussolini, um mestre da
intriga e do frio exercício do poder, foi facilmente manobrado por seus auxiliares: o
Monarca fantoche Vitório Emanuel III e o Marechal Badoclio. O Rei e o Marechal,
durante vinte anos, foram cúmplices servis do Duce, totalmente ofuscados por sua
inteligência e força de vontade. Não foi nenhum reservatório insuspeito de gênio ou de
resolução que lhes permitiu depor Mussolini, mas a reversão dramática das fortunas da
classe dominante italiana, colocada em pânico pela Invasão Aliada, que despojou o líder
fascista do seu poder e suporte social.

As necessidades coletivas da burguesia italiana permitiram que a instituição da


monarquia (bem como a repentinamente revivida liderança coletiva do Partido Fascista)
se reativasse virtualmente de um dia para outro, promovendo o Rei de fantoche supino a
conspirador principal. Frente à unanimidade da classe dominante italiana, o outrora
"Todo-poderoso Duce" foi preso por um punhado de carabineiros, incapaz de mobilizar
mesmo algumas centenas de seguidores para defender uma ditadura que havia durado
vinte anos!

Assim também, o Imperador Hiroito havia sido um símbolo passivo para o grupo militar
que governou o Japão desde meados dos anos 30. Por tradição, ele foi uma figura
decorativa, que nunca se intrometeu nos negócios de Estado ou impôs seus pontos de
vista. Mas, quando se evidenciou que a Força Aérea americana poderia destruir as bases
urbano-industriais do capitalismo japonês e que não mais havia qualquer possibilidade
séria para uma paz negociada, o Imperador — aconselhado por Tsugeru Yoshida e seu
círculo de políticos burgueses — habilmente manobrou os teimosos militares para uma
capitulação incondicional. Repentinamente, foi transformado de mera figura decorativa
no líder político da classe dominante. Ele, literalmente, impôs a paz sobre os líderes
militares intransigentes, aumentando sua voz através do rádio, apanhando-os numa
contradição político-ideológica inextricável. Tendo legitimado o militarismo japonês
através do culto à divindade do Imperador, eles não foram capazes de agir contra o seu
apelo "divino".

Nos dois casos, o italiano e o japonês, a transformação de figuras decorativas em


detentores do poder foi somente temporária. Vitório Emanuel e sua dinastia inteira
foram rapidamente banidos de cena, enquanto Hiroito, sob a clemência de McArthur,
refugiou-se em seu tradicional papel cerimonial. Suas funções de curta duração como
figuras nacionais decisivas foram o resultado de circunstâncias excepcionais que
temporariamente dotaram instituições decorativas com poderes de emergência, a fim de
salvar os aparelhos de Estado da destruição iminente. Além disso, em nenhum dos casos
foi necessário iniciativa ou habilidade pessoal extraordinária: preferivelmente, as redes
de poder tradicional — ao redor do Conde Acquarone em Roma, e ao redor do Príncipe
Kanoye e do Marquês Kido em Tóquio — foram mobilizadas para juntas tecer intrigas
sob a vigilância cuidadosa da classe dominante.

Na Alemanha, uma operação de salvamento ainda mais ambiciosa foi tentada após o
Desembarque dos Aliados na Normandia. Por volta de 1944, tornou-se claro para a
maioria dos líderes financeiros e industriais alemães — sobretudo para as dinastias
junkers prussianas — que a guerra estava perdida e o Reich seria desmantelado a menos
que o avanço do Exército Vermelho fosse detido por uma paz separada com os
americanos. Ainda mais que nos casos japonês, italiano ou francês, a sobrevivência
absoluta de amplas seções da classe dominante alemã — sobretudo a elite prussiana —
estava em risco. Quando, de fato, os conspiradores militares se lançaram contra Hitler
em 20 de julho de 1944, os soviéticos estavam ainda além do Vístula e é impossível
dizer que seqüência de eventos poderia ter seguido o sucesso do seu golpe — se teriam
ou não tido êxito em apelar para o anticomunismo para dividir o Bloco Aliado.

Mas, no caso, sua ação foi um fracasso. Por quê? Deveria alguém aceitar explicações
convencionais de que a conspiração sofreu um colapso devido a uma contingência
técnica — a colocação errada da bomba de Stauffenberg — ou, alternativamente, a
opinião de que Beck, o verdadeiro líder dos conspiradores, era uma personalidade
"hamletiana" que, vacilando no momento crucial, foi logrado e manobrado pelo
diabólico Goebbels (auxiliado pela admiração pessoal do major Remer pelo Führer)? É
evidente que não.

O General Ludwig Beck foi, por muitos anos, o Chefe do Estado-Maior, responsável
não apenas pelo rearmamento eficaz do Reich, mas também pela idealização de muitas
das primeiras vitórias militares. Ele foi um planejador soberbo que, comparado com
Vitório Emanuel, Hiroito ou Goebbels, sem falar no major Remer, aparece como
Gulliver entre os liliputianos. Mesmo este planejador hábil e experiente fracassou
miseravelmente até em assegurar regras elementares do coup d’état tais como ocupar as
estações de rádio, apoderar-se do controle do sistema de telecomunicações de Berlim,
ou cortar as linhas telefônicas entre o ministério de Goebbels e a casamata de Hitler em
Rastenburg. Por quê? Teria ele repentinamente perdido sua ousadia?

É difícil crer numa análise do fracasso do golpe que recai sobre as fraquezas pessoais do
General Beck ou de seu parceiro político, Carl Goerdeler, o major de Leipzig.
Incomparavelmente mais importante é a diferença na situação objetiva que os
conspiradores alemães enfrentaram, comparada com a posição dos conspiradores
italianos de 1943 ou com o círculo social do Imperador do Japão durante o verão de
1945.

Na Itália e no Japão, o exército tinha sido derrotado e os centros urbanos, sem auxílio,
foram expostos à Força Aérea Aliada. Havia apenas um caminho aberto para a classe
dominante: terminar a Guerra imediata e incondicionalmente. Havia, deste modo, um
desejo unânime da burguesia de seguir uma trajetória de ação clara. Na Alemanha, ao
contrário, enquanto a Guerra estava obviamente perdida, o exército ainda não havia sido
vencido. Ele ainda possuía vastos recursos materiais e humanos para sustentar sua
capacidade de luta por muitos meses. Além disso, ao contrário dos casos italiano e
japonês (ou dos primeiros exemplos da França e da Inglaterra), a classe dominante
alemã enfrentava um perigo particularmente ameaçador: não apenas a perda de parte de
seu poder e de sua riqueza, mas a expropriação e a destruição de sua posição de classe
pelo Exército Vermelho.

Nessas condições específicas, a classe capitalista alemã, em contraste com a italiana ou


a japonesa, estava profundamente dividida quanto aos rumos a serem tomados. Embora
estivesse unida contra qualquer capitulação aos soviéticos e completamente convencida
de que algum tipo de capitulação aos aliados anglo-saxões era a alternativa preferida,
estava dividida quanto à avaliação se os americanos e os ingleses aceitariam um acordo
separado. Havia uma profunda diferença de opinião sobre esta questão nos círculos
burgueses alemães. Enquanto alguns clamavam a imediata destituição de Hitler e a
capitulação aos americanos, outros duvidavam se valia a pena correr o risco do colapso
da linha de frente sem garantias prévias dos Aliados. Este último bloco era a maioria.

Como resultado dessas diferenças estratégicas, o Exército e o aparelho de Estado


ficaram totalmente divididos. Foi esta divisão — resultante do dilema objetivo do
imperialismo alemão no verão de 1944 — que explica a vacilação fatal que levou ao
fracasso do golpe. Se o anteriormente resoluto Beck vacilou no momento decisivo, foi
porque compreendeu que, por mais que fizesse, teria dividido o seu Exército e
assegurado a guerra civil ou um colapso da linha de frente, ou ambos. Se o Estado-
Maior alemão tivesse apoiado Beck, como os italianos fizeram com o Rei e Badoglio, o
golpe teria tido êxito em horas. A hierarquia do Partido Nazista tinha-se tornado
profundamente desacreditada e poucas pessoas se teriam levantado para defendê-lo
contra o Exército, o qual ainda desfrutava de imenso prestígio entre as classes médias.

Dessa forma, não foi o caráter "hamletiano" do General Beck que sentenciou o golpe,
mas as hesitações da totalidade da classe dominante alemã, que era, por sua vez, um
reflexo das contradições objetivas e confusões reais. Não foi o indivíduo que causou o
desastre da classe, mas, antes, a classe que impediu o indivíduo de agir com êxito.

Mas há um epílogo para esse incidente que coloca o destino dos conspiradores do 20 de
julho dentro de uma perspectiva irônica. Enquanto Beck, Goerdeler, Stauffenberg e seus
associados estavam preparando o seu golpe, altos funcionários do Ministério Nazista de
Negócios Econômicos (sob a proteção de um dos líderes da SS) estavam pacientemente
preparando um plano para uma Alemanha pós-guerra integrada a uma economia
internacionalmente aberta, baseada em livres movimentos do capital e em um marco
conversível — isto é, uma ruptura completa com todas as práticas autárquicas
comerciais e financeiras do Terceiro Reich. Os arquitetos desta visão — compreendida
posteriormente como o "milagre da República Federal"— não foram outros a não ser
Ludwig Erhard, o futuro Chanceler, e Ludwing Emminger, futuro Presidente do
Bundesbank. Enquanto eles haviam colaborado com os nazistas durante uma década,
quando se tornou necessário para a sobrevivência de sua classe, mudaram sua trajetória
em 180 graus. Suas maquinações hábeis contrastaram com o fracasso da Conspiração de
Julho, a qual assegurou a liquidação dos junkers e a perda de quase a metade do Reich
alemão.

Deve-se ainda observar que o terror nazista, desencadeado por Himmler após o fracasso
do golpe, além dos efeitos do arrasador bombardeio dos Aliados, destruiu o potencial
que ainda restava aos setores da classe trabalhadora alemã para intervir como força
autônoma para terminar a Guerra. O maciço afluxo de mais de 10 milhões de refugiados
da Prússia oriental e outros territórios alemães perdidos criou um imenso exército
industrial de reserva que manteve os salários baixos durante 15 anos e preservou as altas
taxas de lucros originariamente geradas pela redistribuição da renda entre as classes, na
ditadura nazista.

O rumo preparado por Erhard e Emminger, patrocinado pelo imperialismo americano e


tolerado inicialmente por Stalin, permitiu à classe dominante alemã emergir 20 anos
depois com maior poder industrial e financeiro do que antes, embora dentro de um
Estado de território menor. Não poderia haver ilustração mais convincente de como a
astúcia da história funciona através da apropriação dos talentos individuais pelas
necessidades de classe, dentro dos limites de um dado modo de produção.

Segunda Guerra Mundial

O PERÍODO ENTRE GUERRAS

Como consequência da 1ª Guerra Mundial, as frágeis democracias de alguns países europeus foram
substituídas por regimes políticos de extrema-direita, como o fascismo e o nazismo.

Na segunda década do século XX, implantou-se na Rússia um regime totalitário de esquerda, que durante o
governo do ditador Stalin atingiu um grau de repressão e violência jamais visto na história da Europa.

Do ponto de vista econômico, a guerra provocou a maior crise que o sistema capitalista conhecera até então: a
crise de 1929.

De maneira geral, a guerra arruinou até os países vitoriosos, com exceção dos Estados Unidos, o único que
enriqueceu, principalmente devido ao crescimento extraordinário de sua produção industrial, notadamente a
bélica, que transformou os norte-americanos nos principais fornecedores de armas e munições para os países
da Tríplice Entente e seus aliados.

A crise mundial de 1929, iniciada com a quebra da Bolsa de Nova York, foi causada por uma crise de
superprodução e pela falta de interesse dos grandes capitalistas em avaliar os efeitos da crescente produção
agroindustrial norte-americana.

A recuperação dos Estados Unidos se deu com a adoção do New Deal, a nova política econômica do presidente
Roosevelt, caracterizada pelo intervencionismo estatal.

A situação social de fome, miséria e desemprego, bem como as constantes crises econômicas e políticas do
pós-guerra, criou em algumas nações européias as condições necessárias para a implantação das ditaduras de
direita e de esquerda, que transformaram profundamente a história da Europa.

O fascismo, criado por Mussolini, agrupava elementos de várias tendências políticas. Caracterizou-se pela
exaltação da força, da violência, da guerra e do nacionalismo; rejeitava a democracia, o liberalismo, o
socialismo e o marxismo, e negava o racionalismo.

Com suas pregações totalitárias, Mussolini conseguiu convencer os grandes capitalistas, homens de negócios e
industriais italianos, de que o fascismo seria a melhor solução para o crescimento nacional e para a
neutralização dos movimentos operários.

Na Alemanha de pós-guerra, a inflação e o desemprego reduziam à miséria camponeses, operários e a classe


média.

Essa situação, somada ao fato de o governo se mostrar incapaz de solucionar os problemas nacionais, facilitou
a ascensão de Hitler, que prometia ao povo desesperado salvar o país dos efeitos da guerra.
O nazismo, implantado por Hitler, além das mesmas características gerais do fascismo, apresentou a
singularidade da crença de que os alemães pertenciam a uma raça superior e do particular racismo contra os
judeus.

A ascensão do franquismo na Espanha se deu depois de uma sangrenta guerra civil entre as forças populares e
as conservadoras da Falange, que temiam as reformas sociais e políticas do governo republicano.

Em síntese, a violência, o assassinato, a tortura e a repressão física e psicológica foram métodos aplicados
tanto por regimes totalitários de direita quanto de esquerda, em qualquer lugar do mundo onde foram
instalados.

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A paz humilhante e revanchista imposta no Congresso de Versalhes aos derrotados na 1ª Guerra Mundial foi,
sem dúvida, uma das causas da 2ª Guerra Mundial, iniciada 20 anos depois.

Podemos citar ainda, causas determinantes do segundo conflito mundial, a crise de 1929, a implantação dos
regimes totalitários de direita e de esquerda e os interesses imperialistas e expansionistas de algumas das
grandes potências mundiais, como a Alemanha, a União Soviética, o Japão, a Itália e outras.

No período entre guerras, as nações européias reiniciam suas políticas de alianças político-militares, a corrida
armamentista e acordos de não-agressão, que não foram respeitados, principalmente pelos alemães e italianos.

As anexações da Áustria e da Tchecoslováquia pela Alemanha prenunciavam a eclosão da guerra, que


finalmente teve início quando os exércitos de Hitler invadiram a Polônia.

Em 1941, os Estados Unidos entraram na guerra ao lado dos seus aliados tradicionais, França e Inglaterra, e a
Alemanha invadiu a União Soviética, quebrando o acordo de não-agressão e neutralidade assinado por Hitler e
Stalin em 1939.

As vitórias alemães nos primeiros anos de guerra e a ocupação nazista de países como França, Noruega,
Dinamarca, Bélgica, Holanda, Grécia, Iugoslávia e outros geravam a crença de que Hitler poderia dominar o
mundo.

A entrada dos Estados Unidos na guerra e o fim da neutralidade soviética começaram a inverter tal situação.

A partir de 1943, depois da vitória da União Soviética na Batalha de Stalingrado, começou a supremacia dos
exércitos soviéticos sobre as tropas alemães.

A partir do famoso Dia D, quando os aliados iniciaram a grande ofensiva para libertar a França, os exércitos
nazistas, que já sofriam sucessivas derrotas na frente oriental para os soviéticos, foram recuando para suas
fronteiras até a rendição final, em Maio de 1945.

O Japão, que insistiu em continuar a guerra, foi bombardeado pelos norte-americanos, que lançaram bombas
atômicas sobre Hiroxima e Nagasáqui. O Japão finalmente assinou sua rendição em Setembro de 1945.

PANORAMA DO MUNDO PÓS-GUERRA

Após a 2ª Guerra Mundial o mundo foi dividido em dois grandes blocos: o capitalista e o socialista.

No mundo capitalista a propriedade privada é intocável, existe a possibilidade de mobilidade social, a burguesia
capitalista é dona dos meios de produção, o operariado para sobreviver vende a sua força de trabalho e a
produção é organizada pelo capitalista, que visa à obtenção de lucro.

No mundo socialista a economia é planificada e controlada pelo Estado, que dirige a administra todos os meios
de produção.

A desejada paz mundial não foi alcançada após 1945. Pelo contrário, o mundo pós-guerra é cheio de conflitos e
divergências entre os povos.
As disputas pela liderança mundial entre as duas superpotências – União Soviética e Estados Unidos – geraram
a Guerra Fria, uma guerra ideológica na qual cada uma delas procura ampliar sua área de influência.

A Guerra Fria foi causada pelo expansionismo soviético do Leste europeu, pela Doutrina Truman e pelo Plano
Marshall.

Depois de um período de declínio no final dos anos 50, as tensões mundiais aumentaram no início dos anos 60
com a construção do muro de Berlim e a crise dos mísseis, esta última motivada pela pretensão soviética de
instalar bases de lançamento de mísseis em Cuba.

A reação norte-americana, com o bloqueio naval da ilha, fez os soviéticos recuarem.

A 2ª Guerra Mundial trouxe também como consequência a descolonização da África e da Ásia, devido ao fim do
mito racista de superioridade do homem branco, à crescente consciência nacionalista dos povos daqueles
continentes e à luta pelo direito de autogoverno e autodeterminação defendidos pela ONU.

Na Conferência de Bandung, em 1955, os países participantes não aceitaram a divisão do mundo em dois
blocos , nascendo daí o chamado Terceiro Mundo.

No contexto pobre e miserável da quase-totalidade dos países africanos, a África do Sul é uma exceção. É o
país mais industrializado de todo o continente africano e o mais rico pelas suas minas de diamante, ouro,
urânio e carvão.

Porém, a minoria branca dirigente da África do Sul impôs um regime segregacionista, conhecido como
apartheid, com base no falso mito da inferioridade biológica do negro.

A frágil estabilidade da paz mundial é constantemente ameaçada por conflitos armados e divergências entre
vários povos, cujo exemplo maior são as rivalidades entre árabes e judeus, no Oriente Médio.

Nos países da América Latina predominam a dependência econômica em relação às grandes potências
capitalistas e uma estrutura produtiva basicamente agrária, em que as oligarquias latifundiárias dominam a
política e o latifúndio é responsável por profundas desigualdades sociais.

A concentração da riqueza nas mãos de poucos e a miséria das massas camponesas e urbanas geram
constantes crises políticas e tornam a América Latina receptiva às ideologias estrangeiras.

Em vários países da América Latina predominam as multinacionais e as economias desnacionalizadas.

O expansionismo soviético no pós-guerra resultou na sovietização dos países do Leste europeu, onde os
governos se submeteram à orientação da União Soviética, a economia é controlada pelo Estado, os meios de
produção foram estatizados e a direção política acabou nas mãos dos partidos comunistas.

A estrutura política do Leste europeu foi profundamente afetada com a ascensão de Gorbatchev ao poder na
União Soviética e com o conjunto de suas reformas econômicas e políticas, conhecidas respectivamente por
perestroika e glasnost.

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