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No entanto, o panteão chinês conta com uma grande variedade de deuses. E até
os fundadores de grandes movimentos religiosos tiveram em conta o ancestral -
rico e variado- de todos os estados feudais assentados em território chinês, para
confeccionar os seus dogmas e assertos. A povoação agradeceu, na prática, este
detalhe dos seus iluminados, pois elevou à categoria de mito tanto o autor como a
sua obra. Deste modo, arraigará entre a população o mítico conceito denominado
"tan", cujo simbolismo é tão rico que ultrapassa a sua origem primigénia; "tan"
significa "caminho", "via". É um princípio guiador de tudo quanto existe e do
universo inteiro. Pelo "tan" há verdade, e sabedoria, e harmonia. ..
Sucede a mesma coisa com a introdução da moral como único aspecto regulador
de qualquer relação social, quer seja pública ou privada, que deveria desembocar,
por obrigação, numa ética do altruísmo, do desprendimento, da solidariedade, do
respeito e da tolerância entre os humanos. Tratar-se-ia de erradicar a beligerância,
o ódio e as guerras e, ao mesmo tempo, substituí-los pelo amor universal e a paz.
O "VENERÁVEL"
Para levar a cabo a ingente tarefa encomendada pelo primeiro dos deuses, o seu
discípulo contava com a ajuda doutras deidades afins. Por exemplo, narra o relato
mítico que o segundo dos deuses, isto é, o "Senhor do céu", delegava
determinadas funções no "Segundo Senhor", um deus muito célebre e popular
porque travava, a quem o invocava, os maus espíritos. Enviava contra estes o
"Cão Celeste", que os perseguia com raiva e não permitia que assustassem os
humanos. Também havia deusas de segunda ordem que tinham como missão
predizer a possibilidade de casamentos estáveis. A elas acudiam muitos jovens
para consultá-las acerca das qualidades do seu futuro marido e também sobre a
conveniência ou não de casar-se.
DISTRIBUIR FELICIDADE
O anterior não faz senão avaliar a teoria defendida por quase todos os
investigadores da mitologia. Estes, com respeito às lendas chinesas, afirmam que
o imanente e o transcendente são uma mesma coisa, dado que, realmente, a
organização entre os deuses é similar à estrutura da sociedade dos humanos.
Aqueles se servem de outros mais inferiores para levar a cabo as suas tarefas
mais custosas; sucede a mesma coisa entre os mortais, pois os governantes se
servem de subordinados -ministros, funcionários, etc.- para levar a cabo as suas
realizações em pró do bem geral do seu povo. Tanto os deuses como os
governantes devem procurar o bem material e moral dos humanos, pois, caso
contrário, o universo e o mundo albergariam unicamente ruindade e desgraça.
Portanto, segundo explicam as narrações dos mitos chineses, a atenção e a
própria existência dos deuses e dos governantes são absolutamente necessárias.
Mas os governantes têm que demonstrar sabedoria em todos os seus atos. E os
deuses devem cumprir com diligência a missão que lhes foi encomendada pelos
seus mestres ou pelos deuses superiores. E, assim, existiam deidades que se
encarregavam de apontar as boas e más ações dos humanos e, ao mesmo
tempo, deviam procurar levar ao mundo dos mortais a maior felicidade possível. A
encomenda de distribuir paz, felicidade e alegria entre os humanos era uma tarefa
invejável que nenhuma deidade eludia.
AGENTE DA TERRA
Outros muitos deuses menores ajudavam a deidade superior "Deus do céu"; era o
seu dever e a sua única função. Deste modo, o paralelismo com a estrutura da
sociedade humana era uma realidade tangível, pois estes deuses inferiores
cumpriam os mandatos da deidade que estava por cima deles e esta, por sua vez,
devia obediência à seguinte de grau superior. Assim até chegar ao mais poderoso
de todos, por cima do qual ainda existia outro deus que tinha delegado nele as
suas funções -a pesada carga de governar- mas que, não obstante, continuava
sendo o mais poderoso de todos os deuses do panteão chinês.
O mundo mitológico, portanto, tinha sido construído de acordo com os mesmos
critérios usados nas próprias sociedades humanas. Aqui, o soberano -que tinha
por cima dele os deuses- organizava o seu território e publicava as suas leis com
a ajuda -com certeza, obrigatória- dos seus súditos, que se encontravam
perfeitamente organizados por categorias e deviam cumprir fielmente os mandatos
dos seus superiores. Portanto, humanos e deuses se organizavam sob uma
estrutura similar; daqui que, segundo a mitologia chinesa, até as mais fúteis
funções se encontravam encomendadas a uma deidade. Por exemplo, quando os
cidadãos tinham cometido faltas graves contra os seus congêneres, ou contra os
deuses da sua tribo, deviam elevar súplicas à deidade que perdoava os pecados e
que conferia, de novo, a paz de espírito aos que já tinham sido purificados. A
população da ancestral China chamava Ti-kuan ao deus que perdoava os pecados
e, segundo a crença popular, era o "Agente da Terra" que formava tríade com
outros dois deuses; o "Agente do céu" e o "Agente da água".
DESENHOS EMBLEMÁTICOS
Se, pelo contrário, o "Rei Yama" sentenciou que se trata de uma alma pecadora
então esta será arrojada para o abismo dos infernos para que lá purgue as suas
culpas. Depois de sofrer dores e castigos sem fim, a alma chegará, por fim, ao
décimo lugar de perdição. Uma vez aqui será obrigada a reencarnar-se e poderá
escolher entre um animal ou um humano. Se se reencarnar num animal, nem por
isso perderá o seu antigo sentir humano e, pelo mesmo motivo, sofrerá quando a
maltratem ou quando a matem. Por exemplo, pôde escolher renascer como porco
e, portanto, não durará muito sem ser sacrificado, em cujo caso a dor do animal é
a mesma que sentiria o humano ao qual pertencia a alma antes de reencarnar-se.
No entanto, ninguém reparará nisso pois o porco não poderá exprimir a sua dor e
o seu sofrimento, de forma humana, dado que a alma reencarnada, antes de sair
do décimo Inferno e dirigir-se para o lugar onde se encontra a "Roda das
Migrações", deve beber o "Caldo do Esquecimento" para, assim, guardar segredo
obrigatório -pois nada do passado poderá já então recordar- de tudo quanto lhe
aconteceu na sua digressão infernal. Esta beberragem, segundo a lenda dos
povos do longínquo oriente, era preparada pela deusa que habitava na misteriosa
casa edificada à saída do Inferno. Todas as almas que abandonassem aquele
lugar de perdição tinham que beber o "Caldo do Esquecimento" pois só então lhes
seria permitido continuar para a frente e chegar à "Roda das Migrações", para
assim consolidar a sua reencarnação.
PONTES DO AVERNO
Algumas versões explicam, não obstante, que as almas dos mortos, antes de
chegarem à presença do deus de "Muros e Fossas", recebiam a ajuda de Abida,
deidade que tinha encomendada a tarefa de aliviar a todos os humanos à hora da
morte, pois acolhia as almas puras e purificava as impuras.
Também se diz que o Tártaro era um lugar de perdição, sim, mas constituído por
cidades cheias de funcionários e também de vários edifícios que eram como
sedes dos diferentes tribunais perante os quais tinham que comparecer as almas
dos mortos para serem julgadas. O próprio palácio do Rei Yama encontrava-se
numa das cidades principais do mundo infernal e, ao lado deste soberbo -e, ao
mesmo tempo, tétrico edifício- se levantavam as diversas edificações que
albergavam no seu interior as terríveis câmaras de tortura e suplício.
O primeiro dos paraísos estava habitado pela "Dama Rainha" (a quem a tradição
mítica fazia esposa do poderoso "Senhor do céu" que, no cimo da montanha mais
alta, tinha construído o seu grandioso palácio; este era um edifício fabuloso
(contava com mais de nove andares), rodeado de jardins com plantas e flores
aromáticas e permanentemente verde. Aqui crescia, oculto num lugar recôndito, a
mítica "Árvore da Imortalidade"; dos seus frutos se alimentavam os bem-
aventurados, isto é, aqueles que tinham levado uma vida reta e justa e que,
portanto, não tinham enganado nem maltratado nenhum dos seus semelhantes.
Por tudo isso lhes era permitido conviver com as deidades denominadas
"Imortais".
Era muito comum, entre as altas esferas da sociedade chinesa, tais como os seus
monarcas e classes poderosas, dar culto nos inícios da primavera e da estação
outonal- ao Céu, à Terra, ao Deus da Guerra e ao grande mestre Confúcio.
Eram ofereciam sacrifícios aos citados astros coincidindo com ano par ou ímpar.
Outros mitos dos povos orientais especialmente entre a população que seguia os
ensinos de Buda, o "Iluminado" explicavam que o Tártaro se encontrava num lugar
escuro e subterrâneo e, segundo a crença popular, tinha umas características
bastante contraditórias. Havia oito infernos de fogo e outros oito de gelo. E ambos
produziam nos condenados torturas pelo calor ou torturas pelo frio.
FENÔMENOS NATURAIS
Também o ruído ensurdecedor do trovão era produzido por uma deidade menor;
recebia o nome de "Senhor do trovão" e, por isso, estava considerado como o
amo e dono do ruído.
RITUAL DO INCENSO
Outro aspecto muito importante, que também estava regulado e protegido por uma
deidade, era o estamento familiar com todas as suas implicações. A intimidade da
família, e as relações pessoais entre todos os seus membros, ficavam a salvo de
críticas adversas, proferidas por pessoas não integrantes do grupo familiar. De
tudo isto se encarregava o deus T'sao-Wang e, em troca, recebia todos os dias o
reconhecimento dos seus protegidos. Era freqüente, entre as famílias da
população do extremo oriente, honrar o deus que se erigia em seu protetor, por
meio de um ritual que consistia em queimar varetas de incenso, ao mesmo tempo
que se invocava o nome do deus T'sao-Wang, duas vezes; uma quando
começava o dia e outra ao anoitecer.
PERSONIFICAÇÃO DA LITERATURA
Cada profissão, ofício e trabalho, tinham a sua deidade protetora. Entre todos
estes deuses, a tradição popular destacava o deus das letras e da literatura, ao
qual se atribuía uma obra de conteúdo simbólico e emblemático. Era conhecido
pelo nome de Wen-t'chang e, segundo a lenda, antes de chegar a obter a
distinção de protetor das letras e da literatura já tinha passado por dezessete
existências; o dezessete estava concebido, entre os orientais, como um número
repleto de significação mágica e esotérica.
O livro que tinha escrito o próprio deus era, por assim dizer, uma espécie de
biografia e nele se indicava o dado das dezessete reencarnações, ou novos
nascimentos. Também se davam pautas a seguir para agir com moralidade e
retidão e, geralmente, se louvava o saber e a inteligência sobre quaisquer outros
aspectos. Segundo a mitologia dos povos do extremo Oriente, a interpretação dos
caracteres ideográficos do livro escrito pelo deus Wen't-chang leva a considerar à
sabedoria por cima de quaisquer outros aspectos. Mediante o saber e a
inteligência se pode superar qualquer obstáculo e, ao mesmo tempo, equilibrar
qualquer sofrimento. A sabedoria, segundo explica na sua obra o deus das letras e
da literatura, é como uma espécie de "Candeeiro da câmara escura", o que
significa que até nos momentos mais difíceis da vida, quando vemos tudo negro,
quando nos achamos encerrados na "Câmara escura" deste mundo dos mortais,
sempre existirá a luz do "Candeeiro" que proporciona o saber e a inteligência para,
assim, tornar possível uma nova procura, uma solução inédita.
Outro dos deuses principais que a população oriental venerava recebia o nome de
Fo. Este era um deus superior aos anteriores, pois ocupava o primeiro lugar entre
as outras deidades que compunham a tríade da Felicidade.