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Frederico Mendes3
Resumo
O objetivo geral deste trabalho é analisar os impactos da inflação sobre os indicadores da
Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Para tal, foi elaborado um exemplo teórico para
se efetuar uma simulação, de uma empresa fictícia, da análise de tais indicadores pela
legislação societária e pela correção integral. A utilização de dados fictícios se deveu à
ausência de informações ou até dificuldade de se encontrar empresas que possam publicar
demonstrações em moeda de poder aquisitivo constante. No exemplo elaborado para fins
deste trabalho foram discutidas as classificações dos componentes de resultado que não são
evidenciados pela legislação societária, tais como: perda no caixa, receitas e despesas
financeiras comerciais. Além disso, foi analisada a possibilidade de tais itens serem de dupla
natureza pela correção integral. Outro aspecto relevante é o valor distribuído ao governo que,
pela correção integral, consideram impostos diferidos em função dos itens monetários
decorrentes de operações prefixadas serem traduzidos a valor presente pela taxa ANBID na
data do balanço. Finalmente, concluiu-se que a inflação afeta significativamente os
indicadores da Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
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Trabalho desenvolvido para obtenção do título de graduação em Ciências Contábeis no 1º sem/2006
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Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Católica de Brasília
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Professor orientador do trabalho de conclusão do curso
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1- Introdução
Segundo Ribeiro e Lisboa (2006), as empresas estão divulgando informações sobre
balanço social para identificar a contribuição da mesma para a sociedade e os setores por ela
priorizados. Este tipo de informação serve para avaliar a performance da empresa no seu
contexto local, sua participação no desenvolvimento regional e estimular ou não a
continuidade de subsídios e incentivos governamentais.
A principal forma de expressar informações estão contidas na Demonstração do Valor
Adicionado (DVA), “que deve ser entendida como a forma mais competente criada pela
Contabilidade para auxiliar na medição e demonstração da capacidade de geração, bem como
de distribuição da riqueza de uma entidade” (SANTOS, 2003, p. 35). Vale destacar que a
DVA permite ao usuário concluir que os indicadores da empresa estão espelhados nas
Demonstrações Contábeis.
No entanto, em 1994, a pressão para acabar com a inflação ficou mais acentuada,
e após a economia estar referenciada em duas moedas, a Lei nº. 9.249/95 vedou a
utilização de qualquer sistema de correção monetária. Isso foi interpretado como um
complemento do processo de desregulamentação da indexação da economia,
consolidando o Plano Real. Uma das conseqüências às empresas foi o pagamento a
maior de imposto de renda do que o efetivamente devido. Não obstante a proibição
legal, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) emitiu, em 2001, a Resolução nº. 900
que limitou a aplicação do princípio da atualização monetária apenas para quando a
inflação acumulada em três anos consecutivos for de 100% ou mais. Em termos
normativos, tudo voltou como em 1964, ou seja, à estaca zero. Uma das principais
implicações, a partir de então, foi a diminuição da importância da inflação no âmbito das
finanças corporativas. Porém, ainda nos dias de hoje pairam dúvidas a respeito dos
efeitos inflacionários no resultado e na estrutura patrimonial das empresas, e diversos
estudos continuam sendo elaborados a fim de demonstrar a importância e utilidade da
correção das demonstrações contábeis. (GABRIEL; ASSAF NETO; CORRAR, 2006, p. 4)
Dessa forma, a questão a ser respondida pela pesquisa consiste em: quais os
impactos da inflação sobre os indicadores da Demonstração do Valor Adicionado?
O objetivo geral do trabalho é analisar os impactos da inflação sobre os indicadores da
Demonstração do Valor Adicionado. Para tal, será necessário estudar as técnicas de
elaboração da DVA, interpretar os indicadores gerados a partir da mesma, explicar o modelo
de transformação de demonstrações contábeis para moeda constante e apurar os impactos
inflacionários sobre tais indicadores.
De acordo com os critérios propostos por Silva e Menezes (2001), a metodologia
utilizada neste trabalho foi uma pesquisa básica, do ponto de vista de sua natureza, em
relação à abordagem do problema, quantitativa, quanto aos objetivos, considera-se
exploratória, pois visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a
construir hipóteses e uma pesquisa bibliográfica por ter sido elaborada a partir de
material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e
materiais disponibilizados na Internet.
O artigo é estruturado nas seguintes seções: conceituação de inflação e descrição da
correção monetária (seção 2), correção monetária de balanço e a importância de se fazer à
correção monetária integral (seção 3), balanço social conceituação de DVA (seção 4), a
elaboração de um estudo de caso com dados hipotéticos, objetivando responder ao problema
levantado (seção 5), e por fim, a última seção que apresenta as conclusões deste trabalho.
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Logo, de acordo com Feitosa (2002), “empresas que não divulgam o efeito
inflacionário em seus demonstrativos contábeis acabam apresentando distorções nos
valores apresentados, não demonstrando, assim, a real situação da empresa, deixando a
informação contábil imprecisa”.
Santos (apud FEITOSA, 2002, p.66) compara, na tabela abaixo, os lucros /
prejuízos, de algumas empresas brasileiras, de acordo com a Lei n. º 9.249/95 com o
resultado ajustado pelo efeito inflacionário do período, nos anos de 1999 e 2000.
1999 2000
Diferença Diferença
Empresas Lucro/Prejuízo Ajustada/ Lucro/Prejuízo Ajustada/
Líquido Legal Líquido Legal
Ajustado Legal (em %) Ajustado Legal (em %)
aliás, já e feito por empresas na Inglaterra, Holanda, Bélgica, Portugal e em outros países
europeus”.
No Brasil, o Balanço Social encontra-se em fase de implantação, sendo adotado por
algumas empresas, conforme modelos propostos por pesquisadores, entidades de classe
contábil e entidades da área privada que se importam com o desenvolvimento da divulgação
da responsabilidade social. (VICENTE, 2003, p. 21)
Dentre as vertentes do Balanço Social, destaca-se a Demonstração do Valor
Adicionado (DVA), que produz informações referentes à riqueza gerada pela empresa e a
forma como foi feita sua distribuição aos agentes econômicos que ajudaram a produzi-la: os
empregados, o governo, e os detentores de capitais, sócios, acionistas e financiadores
externos. (CUNHA; RIBEIRO; SANTOS, 2005, p. 9)
A origem da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é européia, e seu enfoque é
puramente econômico. Ela esclarece como foi criada a riqueza de uma entidade, e como está
(riqueza criada) foi distribuída aos fatores que contribuíram para a sua geração. A DVA
integra o Balanço Social, este constitui-se de um elenco de informações com vínculo ou
caráter mais social que os de ordem econômica-financeira. (VICENTE, 2003, p. 25)
No Brasil, os primeiros estudos dessa nova demonstração foram desenvolvidos no
Departamento de Contabilidade e Atuaria da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA-USP. Mostrando que nos últimos oito
anos, a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) acabou tendo um aumento de vulto e
importância. Sem medo de errar, pode-se afirmar que boa parte do impulso tomado por mais
essa demonstração contábil foi a sua inclusão no cálculo de excelência empresarial utilizado
pela FIPECAFI – Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras – para a
escolha das empresas com os melhores desempenhos nos setores em que a atividade
econômica é divida. (SANTOS, 2005, p. 3-6)
Do ponto de vista macroeconômico, o valor adicionado está intimamente ligado à
apuração do produto nacional. Do ponto de vista microeconômico, o conceito do valor
adicionado de uma empresa é o quanto de riqueza ela pode agregar aos insumos de sua
produção que foram pagos a terceiros, inclusive os valores relativos às despesas de
depreciação.
Denomina-se valor adicionado em determinada etapa de produção a
diferença entre o valor bruto produzido nessa etapa (igual a venda mais
acréscimo de estoques) e os consumos intermediários. Assim, o produto
nacional pode ser concebido como a soma dos valores adicionados, em
determinado período de tempo, em todas as etapas do processo de
produção do país (SIMONSEN, 1995, p. 130).
De acordo com Santos (2003, p 25), a Contabilidade apura o Valor Adicionado
definido segundo o conceito econômico. No entanto, na Contabilidade a medição ou apuração
da riqueza criada é calculada pela diferença aritmética entre o valor das vendas e os insumos
pagos a terceiros mais as depreciações.
Segundo Luca (1992 apud SANTOS, 1999c, p. 39):
O valor adicionado de uma empresa representa o quanto de valor ela
agrega aos insumos que adquire num determinado período e é obtido, de
forma geral, pela diferença entre as vendas e o total dos insumos
adquiridos de terceiros. Este valor será igual à soma e toda a
remuneração dos esforços consumidos nas atividades da empresa.
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FÓRMULA
Quociente entre gastos com impostos e valor adicionado Impostos
Valor Adicionado Total
Quociente entre gastos com acionistas e valor adicionado Acionistas
Valor Adicionado Total
Quociente entre gastos com financiadores e valor adicionado Financiadores
Valor Adicionado Total
Quociente entre gastos com empregados e valor adicionado Empregados
Valor Adicionado Total
Fonte: Santos (2003).
5- Coleta de Dados
Tendo em vista a importância da correção monetária integral nas demonstrações
contábeis, como forma de tornar a informação gerada pela contabilidade mais fidedigna
possível e que expresse o real poder aquisitivo da moeda, e também a relevância da DVA
como forma de demonstrar o valor adicionado pela empresa aos vários agentes da economia,
este artigo apresenta nesta seção, até como uma forma de responder ao problema levantado,
uma simulação, com dados hipotéticos, de uma empresa que elabora suas demonstrações
contábeis, em especial a DVA, em dois momentos diferentes: primeiramente, sem a correção
monetária integral, e posteriormente, com a aplicação de todos os conceitos deste tipo de
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correção. Para isso serão apresentados o BP, a DRE e o modelo da DVA proposto pela equipe
da FIPECAFI/USP, que servirá de base para a nossa análise.
Fonte: A autora.
Fonte: A autora.
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b) correção dos saldos dos itens não monetários pela inflação do período,
multiplicando-se os valores pelo indexador de 31/12/X1 e dividindo-se pelo
indexador de 31/12/X0;
c) colocação das receitas de serviços e despesas administrativas na moeda de
31/12/X1 e dividindo-se pelo indexador das datas dos respectivos recebimentos
e pagamentos.
2º Passo: a transformação da demonstração de resultados:
a) calcular das perdas sobre os ativos monetários e os ganhos sobre os passivos
monetários e alocá-los às respectivas contas de receitas e despesas financeiras,
quando existentes;
b) colocar as receitas de serviços e despesas administrativas na moeda de
31/1/X1, multiplicando-se os valores pelo indexador de 31/1/X1 e dividindo-se
pelo indexador das datas dos respectivos recebimentos e pagamentos.
4) Elaboração da DVA com base nas demonstrações BP e DRE do item anterior;
5) Cálculos dos indicadores das DVA dos itens 2 e 4 anteriores;
6) Apuração, demonstração e análise das diferenças dos impactos inflacionários sobre
os indicadores da DVA.
Societário CMI
Quociente entre gastos com impostos e valor adicionado 6,8% 9,7%
Fonte: A autora.
O valor adicionado distribuído aos empregados foi alterado de 58,9%, pela legislação
societária, para 115,8% do valor adicionado total pela correção integral. Este índice decorre
do fato da empresa ter tido prejuízo, isto é, o valor adicionado distribuído aos acionistas foi
alterado de 27,1%, pela legislação societária, para -29,5% do valor adicionado total pela
correção integral, conforme tabela 5. Além disso, os valores de despesas de salários pela
correção integral foram corrigidos pela inflação até a data do balanço.
O valor adicionado distribuído aos financiadores teve redução em relação ao
societário, uma vez que a correção integral considera juros reais, ou seja, somente a parcela
que supera a inflação. Quanto ao valor adicionado distribuído ao governo, devem-se
considerar os impostos pagos antecipadamente e impostos diferidos em função do registro dos
itens monetários decorrentes de operações prefixadas, tais como clientes e fornecedores, ser
traduzidos a valor presente na data do balanço. Além disso, houve redução no valor
adicionado total em função da correção integral considerar componentes de resultado que não
são evidenciados pela legislação societária, tais como perdas no caixa, receitas financeiras
comerciais e despesas financeiras.
6- Considerações Finais
Deve-se considerar que o objetivo geral do trabalho foi alcançado, uma vez que foram
analisados impactos da inflação sobre os indicadores da Demonstração do Valor Adicionado.
Destaca-se o efeito da perda no caixa na geração de valor adicionado, a dupla natureza das
contas de despesas e receitas financeiras e despesas e receitas comerciais.
A existência de lucro societário e prejuízo pela correção integral refletem
significativamente na participação dos grupos de agentes econômicos, como empregados,
financiadores, governo e acionistas, na distribuição de valor adicionado pela empresa.
Como sugestão para trabalhos futuros, pode ser objeto de pesquisa a influência da taxa
de juros e da inflação em tais indicadores utilizando técnicas estatísticas, tais como correlação
e regressão.
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7- Referências:
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2006.
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Brasil, Brasília, DF, 26 mai. 1987. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/>.
Acesso em: 28 abr. 2006.
______. Instrução 191, de 15 de julho de 1992. Dispõe sobre os procedimentos para
elaboração e divulgação das demonstrações contábeis em moeda de capacidade aquisitiva
constante, para o pleno atendimento aos Princípios Fundamentais de Contabilidade, e dá
outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
15 jul.1992. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 28 abr. 2006.
______. Lei n° 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Altera a legislação do imposto de
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