O documento resume um livro que analisa os projetos históricos de línguas universais e perfeitas na Europa ao longo de dois mil anos, desde a antiguidade greco-romana até projetos modernos. O autor explica que a diversidade linguística foi vista ora como maldição devido à Torre de Babel, ora como bênção valorizando a multiplicidade cultural.
Descrição original:
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Título original
ECO, Umberto. a Busca Da Língua Perfeita (RESENHA)
O documento resume um livro que analisa os projetos históricos de línguas universais e perfeitas na Europa ao longo de dois mil anos, desde a antiguidade greco-romana até projetos modernos. O autor explica que a diversidade linguística foi vista ora como maldição devido à Torre de Babel, ora como bênção valorizando a multiplicidade cultural.
O documento resume um livro que analisa os projetos históricos de línguas universais e perfeitas na Europa ao longo de dois mil anos, desde a antiguidade greco-romana até projetos modernos. O autor explica que a diversidade linguística foi vista ora como maldição devido à Torre de Babel, ora como bênção valorizando a multiplicidade cultural.
perfeita. Traduo de Antonio Angonese. Bauru: Edusc, 2001, 458 pp.
A diversidade de lnguas uma
maldio ou uma bno? Essa reflexo norteia as mais de 450 pginas de A busca da Lngua Perfeita. Nesse projeto, Umberto Eco tentou reunir um pouco de todas as utopias europias a respeito da busca de uma lngua perfeita ou da lngua original, aquela falada por Ado, assim como projetos de lnguas universais. A tarefa foi extensa, pois passeia por dois mil anos de histria, sendo que apenas o sculo 19 teve 173 projetos de lnguas internacionais. Ao contrrio do que poderia-se esperar, Eco no situa a investigao no campo da lingstica ou da semitica, mas no da histria das idias. Embora o tema da confuso de lnguas (assim como o desejo de remedi-la criando uma lngua universal) esteja presente em diversas culturas, o autor optou por restringir o estudo Civilizao Europia. A obra faz parte do projeto The making of Europe, coordenado pelo
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historiador francs Jacques Le Goff.
Lanado na Europa em 1993, o livro se insere no projeto de consolidao da Unio Europia e, por isso, foi editado simultaneamente por cinco editoras do Velho Continente. A Bblia afirma que no princpio era o verbo. No entanto, o livro sagrado abriga vises contraditrias sobre a origem da diversidade lingstica. No Velho Testamento, o captulo 11 do Gnesis justifica a existncia de tantas lnguas como uma punio divina pela soberba humana. Porm, no captulo 10, h uma contradio que abre a possibilidade de essa diversidade no ser entendida como uma desgraa. Falando sobre a difuso dos filhos de No, depois do dilvio, a Bblia diz que desses derivaram as naes disseminadas pelos litorais (...) cada um com a prpria lngua (...). Ou seja, antes do desmoronamento da Torre de Babel, a diversidade de lnguas j estaria presente na Terra. Desgraa ou bno, a curiosidade ou a nostalgia pela poca que precedeu Babel e sua confusio linguaru moveu numerosos estudiosos em diversas pocas. Com sua pesquisa, Eco nos d elementos para entender essa obsesso. Explica que os gregos do
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perodo clssico j conheciam povos
que falavam outras lnguas, mas os chamavam de brbaroi, ou seja, seres que balbuciavam falando de forma incompreensvel. Os filsofos gregos acreditavam que sua lngua era o idioma da razo: Logos era o pensamento e Logos o discurso. Com a expanso dessa civilizao, uma lngua grega unificada e uniforme (chamado koin) foi ensinada nas escolas de gramtica e tornou-se a lngua oficial de toda a rea dominada por Alexandre Magno. Sobreviveu durante a dominao romana como lngua cultural e foi a lngua na qual foram transmitidos os primeiros textos do cristianismo. A preocupao com a natureza e a origem da linguagem est presente desde ento: o dilogo Crtilo, de Plato, indaga se o nomteta escolhera palavras que nomeiam as coisas conforme a natureza de cada uma (tese de Plato) ou se determinou tais palavras por lei ou conveno humana (tese de Hermgenes). Na poca em que o grego (koin) ainda reinava na Bacia Mediterrnea, o latim comeou a impor-se e espalhou-se por toda a Europa dominada pelos romanos para tornar-se a lngua da cultura crist no Ocidente. Entre a queda do
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Imprio Romano e a Alta Idade
Mdia, a Europa no existia ainda como unidade geogrfica. Novas lnguas formaram-se lentamente. Calcula-se que, no fim do sculo V, o povo j no falava mais o latim. Surgiram dialetos locais que misturavam o latim, linguagens anteriores civilizao romana e razes lingsticas introduzidas pelos brbaros. Aps a queda do Imprio Romano, houve o nascimento dos reinos romano-barbricos. A Europa apresentava-se ento como uma Babel de lnguas novas e, somente depois, como um mosaico de naes. Cito o autor: A Europa inicia-se com o nascimento das linguagens vernculas (...), a sua irrupo inicia a cultura crtica da Europa que enfrenta o drama da fragmentao das lnguas e comea a refletir em torno da prpria civilizao multilnge. Para Eco, a cultura europia tentou sanar este problema de duas formas: olhando para trs, em busca da lngua de Ado, ou para frente, tentando construir uma lngua da razo. Explicadas as motivaes profundas desta obsesso, podemos falar do vasto contedo de A Procura da Lngua Perfeita. Eco dividiu a pesquisa em quatro grupos de interesse. O primeiro grupo engloba as lnguas histricas, consideradas
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perfeitas em algum momento por
serem dadas como originrias ou misticamente perfeitas (sagradas). Entre as lnguas sagradas estariam o hebraico, o egpcio e o chins. No grupo das lnguas especiais por sua relao com a razo estariam o grego, o latim e, a partir do sculo 16, vrias lnguas nacionais. Eco detm-se em anlises da Cabala (a idia da criao do mundo como fenmeno lingstico), dos trabalhos de Dante Alighieri (que na Idade Mdia reconheceu a linguagem como uma faculdade universal) e Ramon Llull (com o projeto da Ars Magna, lngua filosfica perfeita mediante a qual seria possvel converter os infiis). O segundo grupo de projetos abarca os estudos para a reconstruo da lngua originria, a lngua-me. Aqui, Franz Bopp, Friedrich e Wilhelm von Schlegel procuraram encontrar relaes entre o snscrito, o grego, o latim, o persa e o alemo. Esses projetos iniciam-se no sculo 18 e avanam no sculo 19. Chegou-se hiptese de que o snscrito no foi a lngua originria, mas sim toda uma famlia de lnguas (incluindo o snscrito) teria se derivado de uma protolngua (lngua ancestral) no mais existente, que poderia ser o indoeuropeu. O terceiro grupo de projetos o de lnguas construdas
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artificialmente e, por ltimo, as
lnguas mais ou menos mgicas, que aspiram perfeio pela expressividade mstico-simblica. H uma grande diferena entre a procura da lngua perfeita, movida talvez pela crena de que como a estrutura da linguagem representaria a estrutura da realidade, a lngua perfeita engendraria o mundo perfeito, e a busca da lngua universal, que seria falada em todo o planeta. De volta ao incio, nos perguntamos: afinal, a multiplicidade de lnguas positiva ou negativa? Nas pginas finais, Eco advoga a favor da diversidade e sugere que propsitos diversos esto por trs dos atuais projetos de LIAs (Lnguas Internacionais Auxiliares). Uns nobres, outros nem tanto, pois esses projetos servem ao o sonho da integrao, mas tambm trazem a ameaa de dominao cultural e econmica. Nesse sentido, o poeta francs Michel Deguy, em entrevista Revista Cult (novembro de 2001), alertou para o fato de que a diferena de lnguas o ltimo freio instantaneidade das trocas econmicas. Babel breca o mercado, mas o mercado infelizmente mais forte do que tudo, afirma Deguy. Ele acredita que caminhamos para algum tipo de Esperanto. Preciso de trs segundos
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para transmitir uma ordem bancria,
mas de 30 anos para traduzir Borges e esse retarda-mento, que permite captar o tempo longo da tradio, um grande obstculo ao grande mercado mundial e por isso h uma guerra, diz Deguy. Ou seja: ao mercado global no interessa a diferena. Sobre a importncia da diversidade lingstica, Eco d seu alerta no captulo final, ao citar V.V.
Bussolotti, Maria Apparecida
Faria Marcondes (org.). Joo Guimares Rosa Correspondncia com seu tradutor alemo Curt Meyer-Clason (1958-1967), Rio de Janeiro: Nova Fronteira/ Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003, 447pp.
rara a documentao da cooperao de autor e tradutor. Este livro
a exceo e prova que vale a pena documentar as reflexes dos dois protagonistas no caminho do original traduo. Se trata de uma dissertao de mestrado que merece, sem dvida, esta transformao para uma excelente publicao. O livro
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Ivanov, para quem cada lngua
constitui um determinado modelo de Universo, um sistema semitico de compreenso do mundo, e se temos 4 mil modos diferentes de descrever o mundo, isto nos torna mais ricos. Deveramos preocuparnos pela preservao das lnguas tal como nos preocupamos com a ecologia. Marlova Aseff UFSC
destaca a relao muito especial entre Guimares Rosa e Meyer-Clason
que era de admirao mtua e de dedicao comum perfeio de uma traduo. Bussolotti editou a correspondncia frutfera desde o incio (primeira carta de MeyerClason em 1958, ou seja, dois anos depois da primeira edio de Grande Serto: Veredas) at o final (ltima carta de Guimares Rosa de 27 de agosto de 1967, trs meses antes da sua morte). So aproximadamente 80 cartas as onze primeiras tratam da difcil escolha de uma editora adequada na Alemanha, com depoimentos interessantssimos sobre o mercado editorial da poca. As cartas seguintes entram em detalhes sobre a traduo e refletem o processo contnuo de Guimares