Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Natalidade e Amor Mundi Sobre A Relação Entre Educação e Política em Hannah Arendt PDF
Natalidade e Amor Mundi Sobre A Relação Entre Educação e Política em Hannah Arendt PDF
Resumo
Correspondncia:
Adriano Correia
Rua J74, Qd. 157A, Lt. 32, Setor Ja
CEP 74674-410 Goinia-GO
E-mail: correiaadriano@yahoo.com.br
811
Abstract
Contact:
Alonso Bezerra de Carvalho
Av. Dom Antnio, 2100
19806-900 Assis SP
E-mail: alonsoprofessor@yahoo.com.br
812
[...] o incio que foi criado com o homem impediu o tempo e o universo criado como um
todo de girar eternamente em ciclos sobre si
mesmo de um modo despropositado e sem
que algo novo jamais acontecesse. Portanto,
foi por causa da novitas, em certo sentido,
que o homem foi criado. Uma vez que o homem pode saber, ser consciente de e lembrar
seu incio ou sua origem, ele capaz de
agir como um iniciador e encenar a estria
[story] da humanidade. (p. 55. Cf., Correia,
2008, passim)
813
segundo nascimento, por meio do qual confirmamos e assumimos nosso aparecimento fsico
original e ao mesmo tempo fazemos do mundo
a nossa casa, ou sentimo-nos em casa no mundo engajar-se politicamente por meio da ao
e do discurso significa nascer para o mundo.
Chegamos como estrangeiros e somos constitutivamente estrangeiros no mundo enquanto
no nos decidimos a agir, pois chegamos de
alguma parte a um mundo que nos precede
e que possivelmente nos suceder quando o
deixarmos. No apenas os filsofos, como queria Aristteles, mas todos vivemos em alguma
medida um bios xenikos, o modo de vida do
estrangeiro. Aquele que no se decide a agir, a
nascer de novo para o mundo, depois de haver
nascido para a Terra, porta consigo, por seu
nascimento, uma pergunta sem resposta sobre
seu quem, sua identidade, sobre se tem apreo
pela promessa de novidade, que gmea de
todo indivduo (sem exceo de Hobbes, que
dizia ser gmeo do medo). Com efeito,
[...] nascemos nesse mundo de pluralidade no
qual pai e me esto nossa espera, prontos
para nos receber, dar-nos boas vindas, guiarnos e comprovar que no somos estrangeiros.
Crescemos para nos tornarmos como qualquer
outro, mas quanto mais crescemos, mais nos
tornamos iguais no sentido de uma absoluta
e insuportvel unicidade. Depois ns amamos
e o mundo entre ns, o mundo de pluralidade
e familiaridade [homeliness], pe-se em chamas, at que ns prprios estamos prontos
para receber os novos que chegam, os recmchegados a quem comprovamos aquilo em
que no mais acreditamos inteiramente, que
eles no so estrangeiros. Morremos em absoluta singularidade, estrangeiros que afinal
dizem adeus a um lugar estranho aps uma
curta estada. O que continua o mundo da
pluralidade. (p. 508-509 [Fev. de 1954])
814
815
816
Quando concebeu um dos primeiros esboos do que seria a obra A condio humana,
Hannah Arendt (2005) definiu que esse livro
teria como introduo um exame do fio rompido da tradio e consistiria em uma srie
de tratados em torno de uma nica questo,
formulada de vrios modos:
O que h na condio humana que torna a
poltica possvel e necessria? Ou: por que h
algum e no ningum? (a dupla ameaa da
nadidade [nothingness] e da ningum-dade
[nobody-ness].) Ou: por que somos no plural e
no no singular? (p. 716 [abril de 1955])
817
818
819
820
engajamento e um domnio genrico das tcnicas de ensino. Arendt (2007) identifica em tal
pressuposto a fonte da negligncia na formao
dos professores em suas prprias matrias, notadamente nos colgios pblicos. Efetivamente, diz
ela, no se pode educar sem ao mesmo tempo
ensinar; uma educao sem aprendizagem vazia e, portanto, degenera, com muita facilidade,
em retrica moral e emocional (p. 247).
Por fim, o terceiro pressuposto, ainda sob a
influncia do pragmatismo, concerne concepo
[...] de que s possvel conhecer e compreender
aquilo que ns mesmos fizemos, e sua aplicao educao to primria quanto bvia:
consiste em substituir, na medida do possvel,
o aprendizado pelo fazer []. A inteno consciente no era a de ensinar conhecimentos, mas
sim de inculcar uma habilidade, e o resultado foi
uma espcie de transformao de instituies de
ensino em instituies vocacionais que tiveram
tanto xito em ensinar a dirigir um automvel
ou a utilizar uma mquina de escrever, ou, o que
mais importante para a arte de viver, como
ter xito com outras pessoas e ser popular, quanto foram incapazes de fazer com que a criana
adquirisse os pr-requisitos normais de um currculo padro. (Arendt, 2007, p. 232)
821
Referncias bibliogrficas
ARENDT, H. The origins of totalitarianism. 2. ed. (Enlarged). Cleveland, USA: Meridian, 1967.
_______. A vida do esprito. Traduo Abranches, Almeida e Martins. 3. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumar, 1995.
_______. Love and Saint Augustine. Chicago: The University of Chicago Press, 1996.
_______. O conceito de amor em Santo Agostinho. Traduo Alberto P. Dinis. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. Verso original em
alemo de 1929.
_______. Sobre a humanidade em tempos sombrios: reflexes sobre Lessing. In: _______. Homens em tempos sombrios. Traduo
Denise Bottmann. So Paulo: Companhia das Letras, 2003
_______. Journal de pense 1950-1973. Traduo Sylvie Coutrine-Denamy. Paris: Seuil, 2v., 2005.
_______. The promise of politics. Nova York: Schocken Books, 2005b.
_______. Entre o passado e o futuro. 6. ed. Traduo Mauro W. Barbosa. So Paulo: Perspectiva, 2007.
_______. A condio humana. 11. ed. Traduo Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2010.
CORREIA, A. O significado poltico da natalidade. In: _______; NASCIMENTO, M. (orgs.). Hannah Arendt: entre o passado e o futuro.
Juiz de Fora, MG: UFJF, 2008. p. 15-34.
COURTINE-DENAMY, S. O cuidado com o mundo. Traduo Maria J. G. Teixeira. Belo Horizonte: UFMG, 2004.
GIACIOIA Jr., O. Sonhos e os pesadelos da razo esclarecida. OLHAR, ano 5, n. 8, p. 10-36, jan./jun. 2003.
HABERMAS, J. O futuro da natureza humana. Traduo Karina Janini. So Paulo: Martins Fontes, 2004.
NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano: um livro para espritos livres. Traduo Paulo Csar de Souza. So Paulo: Companhia
das Letras, 2005.
Recebido em 02.02.10
Aprovado em 04.05.10
Adriano Correia doutor em filosofia pela Unicamp (2002), professor na Universidade Federal de Gois, de cujo programa
de mestrado em Filosofia coordenador. Autor de livros, captulos, artigos e tradues, tem se ocupado da obra de autores
como Hannah Arendt e Michel Foucault. pesquisador do CNPq, nvel 2.
822