Este documento discute as diretrizes para a reanimação neonatal na sala de parto. Ele descreve os procedimentos iniciais como manter a temperatura corporal, posicionar a cabeça e aspirar as vias aéreas se necessário. Também explica como avaliar a respiração e frequência cardíaca do recém-nascido e realizar ventilação com pressão positiva ou massagem cardíaca se necessário. O documento ressalta a importância da experiência dos profissionais de saúde e treinamento contínuo para o cuidado do recém-n
Este documento discute as diretrizes para a reanimação neonatal na sala de parto. Ele descreve os procedimentos iniciais como manter a temperatura corporal, posicionar a cabeça e aspirar as vias aéreas se necessário. Também explica como avaliar a respiração e frequência cardíaca do recém-nascido e realizar ventilação com pressão positiva ou massagem cardíaca se necessário. O documento ressalta a importância da experiência dos profissionais de saúde e treinamento contínuo para o cuidado do recém-n
Este documento discute as diretrizes para a reanimação neonatal na sala de parto. Ele descreve os procedimentos iniciais como manter a temperatura corporal, posicionar a cabeça e aspirar as vias aéreas se necessário. Também explica como avaliar a respiração e frequência cardíaca do recém-nascido e realizar ventilação com pressão positiva ou massagem cardíaca se necessário. O documento ressalta a importância da experiência dos profissionais de saúde e treinamento contínuo para o cuidado do recém-n
A asfixia perinatal um importante problema de sade pblica no Brasil. Dos
cerca de trs milhes de nascimentos ao ano entre 2005 e 2009 no pas, estudo recente indicou a presena de 21.377 bitos sem anomalias congnitas associados asfixia perinatal, correspondendo a 12 mortes evitveis dirias de bebs, cinco delas em nascidos a termo. Estima-se que, no pas, a cada ano, 280.000 crianas necessitem de ajuda para iniciar e manter a respirao ao nascer e cerca de 25.000 prematuros de baixo peso precisem de assistncia ventilatria na sala de parto. As prticas da reanimao em sala de parto baseiam-se nas diretrizes publicadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR). Esse grupo inclui especialistas das Amricas, Europa, sia, frica e Oceania, com representantes brasileiros, responsveis por revisar as melhores evidncias cientficas disponveis no que concerne aos procedimentos recomendados para a reanimao e, a cada cinco anos, elaborar consensos cientficos, com recomendaes teraputicas. Imediatamente aps o nascimento, a necessidade de reanimao depende da avaliao rpida de quatro situaes referentes vitalidade do concepto, sendo feitas as seguintes perguntas: Gestao a termo? Ausncia de mecnio? Respirando ou chorando? Tnus muscular bom? Se a resposta sim a todas as perguntas, considera-se que o RN est com boa vitalidade e no necessita de manobras de reanimao. A reanimao depende da avaliao simultnea da respirao e da frequncia cardaca (FC). A FC o principal determinante da deciso de indicar as diversas manobras de reanimao. Logo aps o nascimento, o RN deve respirar de maneira regular, suficiente para manter a FC acima de 100 bpm. A FC deve ser avaliada por meio da ausculta do precrdio com estetoscpio ou pela monitorao por meio da oximetria de pulso. A avaliao da colorao da pele e mucosas do RN no utilizada para decidir procedimentos na sala de parto. A avaliao da cor das extremidades, tronco e mucosas, rsea ou ciantica, subjetiva e no tem relao com a saturao de oxignio ao nascimento. Alm disso, RN com respirao regular e FC > 100 bpm podem demorar minutos para ficar rosados. Naqueles que no precisam de procedimentos de reanimao ao nascer, a saturao de oxignio com 1 minuto de vida se situa ao redor de 60 a 65%, s atingindo valores entre 87 e 92% no quinto minuto. Assim, o processo de transio normal para alcanar uma saturao de oxignio acima de 90% requer 5 minutos ou mais em RN saudveis que respiram ar ambiente. Quanto ao boletim de Apgar, este no utilizado para determinar o incio da reanimao nem as manobras a serem institudas
no decorrer do procedimento. No entanto, sua aplicao permite avaliar a resposta do
RN s manobras realizadas e a eficcia dessas manobras. Se o escore inferior a 7 no quinto minuto, recomenda-se realiz-lo a cada 5 minutos, at 20 minutos de vida. O primeiro passo consiste em manter a temperatura corporal entre 36,5 e 37 C. A presena de temperatura corporal abaixo de 36,5 C na admisso terapia intensiva neonatal um fator independente de risco para a mortalidade e a morbidade de RN prematuros ou de muito baixo peso12. Para diminuir a perda de calor nesses pacientes, importante pr-aquecer a sala de parto e a sala onde sero realizados os procedimentos de reanimao, mantendo temperatura ambiente mnima de 26 C. Aps o clampeamento do cordo, o RN recepcionado em campos aquecidos e colocado sob calor radiante. Em pacientes com peso ao nascer inferior a 1.500 g, recomenda-se o uso do saco plstico transparente de polietileno de 30 x 50 cm. Assim, logo depois de posicion-lo sob fonte de calor radiante e antes de o secar, introduz-se o corpo, exceto a face, dentro do saco plstico e, a seguir, realizam-se as manobras necessrias. Tal prtica deve ser suplementada pelo emprego de touca para reduzir a perda de calor na regio da fontanela. Nos neonatos com peso > 1.500 g, aps a colocao sob fonte de calor radiante e a realizao das medidas para manter as vias areas permeveis, preciso secar o corpo e a regio da fontanela e desprezar os campos midos. Por outro lado, cuidado especial deve ser dirigido no sentido de evitar a hipertermia, pois pode agravar a leso cerebral em pacientes asfixiados. A fim de manter a permeabilidade das vias areas, posiciona-se a cabea do RN, com uma leve extenso do pescoo. Evitar a hiperextenso ou a flexo exagerada do mesmo. Por vezes, necessrio colocar um coxim sob os ombros do paciente para facilitar o posicionamento adequado da cabea. Na sequncia, se houver excesso de secrees nas vias areas, a boca e depois as narinas so aspiradas delicadamente com sonda traqueal conectada ao aspirador a vcuo, sob presso mxima aproximada de 100 mmHg. A aspirao da hipofaringe tambm deve ser evitada, pois pode causar atelectasia, trauma e prejudicar o estabelecimento de uma respirao efetiva. Uma vez que tenham sido feitos os passos iniciais da reanimao, avaliam-se a respirao e a FC. Se houver vitalidade adequada, com respirao rtmica e regular e FC > 100 bpm, o RN deve receber os cuidados de rotina na sala de parto. Se o paciente, aps os passos iniciais, no apresenta melhora, indica-se a ventilao com presso positiva. A compresso cardaca realizada no tero inferior do esterno, preferencialmente por meio da tcnica dos dois polegares, com os polegares
posicionados logo abaixo da linha intermamilar, poupando-se o apndice xifoide. As
palmas e os outros dedos devem circundar o trax do RN. A profundidade da compresso deve englobar da dimenso anteroposterior do trax, de maneira a produzir um pulso palpvel. importante permitir a expanso plena do trax aps a compresso para permitir o enchimento das cmaras ventriculares e das coronrias; no entanto, os dedos no devem ser retirados do tero inferior do trax. As complicaes da massagem cardaca incluem a fratura de costelas, com pneumotrax e hemotrax, e lacerao de fgado. No RN, a ventilao e a massagem cardaca so realizadas de forma sincrnica, mantendo-se uma relao de 3:1, ou seja, trs movimentos de massagem cardaca para um movimento de ventilao, com uma frequncia de 120 eventos por minuto (90 compresses e 30 ventilaes). A massagem deve continuar enquanto a FC estiver < 60 bpm. Lembrar que a VPP durante a massagem cardaca deve ser ministrada por cnula traqueal. importante manter a qualidade das compresses cardacas (localizao, profundidade e ritmo), interrompendo a massagem apenas para oferecer a ventilao. A VPP, por sua vez, crtica para reverter a bradicardia decorrente da insuflao pulmonar inadequada, caracterstica da asfixia ao nascer. Deve-se aplicar a massagem cardaca coordenada ventilao por 45 a 60 segundos, antes de reavaliar a FC, pois este o tempo mnimo para que a massagem cardaca efetiva possa restabelecer a presso de perfuso coronariana20. A melhora considerada quando, aps a VPP acompanhada de massagem cardaca, o RN apresenta FC > 60 bpm. Nesse momento, interrompe-se apenas a massagem. Caso o paciente apresente respiraes espontneas regulares e a FC atinja valores > 100 bpm, a ventilao tambm suspensa. Em geral, quando o paciente recebeu massagem cardaca na sala de parto, mais prudente transport-lo entubado UTI neonatal em incubadora de transporte, com concentrao de oxignio suficiente para manter a SatO2 nos limites desejveis, sendo a extubao decidida de acordo com a avaliao global do RN na unidade. Considera-se a falha do procedimento se, aps 45 a 60 segundos de massagem cardaca e VPP com cnula traqueal e oxignio suplementar, o RN mantm FC < 60 bpm. Nesse caso, devese verificar a posio da cnula, a permeabilidade das vias areas e a presso de ventilao, alm da tcnica da massagem propriamente dita, corrigindo o que for necessrio. Se, aps a correo da tcnica da VPP e massagem, no houver melhora, indica-se a adrenalina. A reanimao ao nascimento uma das oito intervenes estratgicas para diminuir a mortalidade infantil em nvel mundial. Estima-se que o atendimento ao parto
por profissionais de sade habilitados possa reduzir em 20 a 30% as taxas de
mortalidade neonatal, enquanto o emprego das tcnicas de reanimao resulte em diminuio adicional de 5 a 20% nessas taxas, levando reduo de at 45% das mortes neonatais por asfixia25. As diretrizes apresentadas so apenas uma orientao geral para a conduta neonatal na sala de parto. Cada servio deve adapt-las s suas condies de infraestrutura e de recursos humanos. Mais importante do que um protocolo rgido, a experincia e a prtica com a educao e o treinamento continuado dos profissionais de sade que participam do cuidado com o RN, alm da conscientizao da comunidade para a importncia da assistncia nesse perodo crtico de transio para o ambiente extrauterino.