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Maria Eulina Pessoa de Carvalho

Escola como extensão da família ou família


como extensão da escola? O dever de casa
e as relações família–escola*

Maria Eulina Pessoa de Carvalho


Universidade Federal da Paraíba, Centro de Educação

Embora pouco estudado, ou problematizado, o sistema de ensino, objetivando ampliar a aprendiza-


dever de casa é uma prática cultural que há muito inte- gem em quantidade e qualidade, para além do tempo–
gra as relações família–escola e a divisão de trabalho espaço escolar, quanto da família, visando estimular o
educacional entre estas instituições. Pode ser visto progresso educacional e social dos descendentes.
como uma necessidade educacional, reconhecida por Tradicionalmente, o dever de casa é considerado
pais e professores, sendo concebido como uma ocupa- uma estratégia de ensino: de fixação, revisão, reforço
ção adequada para os estudantes em casa; pode ser e preparação para aulas e provas, na forma de leituras
considerado um componente importante do processo e exercícios. Seu conteúdo, geralmente, restringe-se
ensino–aprendizagem e do currículo escolar; e pode ao currículo escolar, incluindo às vezes eventos fa-
ser concebido como uma política1 tanto da escola e do miliares e comunitários, ou programas de televisão,
como atividades de enriquecimento curricular ou es-
tratégia de conexão das matérias escolares com a vida
* Este texto retoma um capítulo da minha tese de doutora- cotidiana. Nos aspectos psicológico e moral, tem sido
do, posteriormente publicada em livro (De Carvalho, 2000). As justificado pela construção da independência, auto-
citações da bibliografia em língua inglesa foram por mim traduzi- nomia e responsabilidade do estudante por meio do
das. Apresentado no GT Sociologia da Educação, durante a 26ª desenvolvimento de hábitos de estudo e pontualida-
Reunião Anual da ANPEd, realizada em Poços de Caldas, MG , de. Finalmente, como uma política (mais ou menos
de 5 a 8 de outubro de 2003.
1
Os termos política (politics) e política pública/educacional
(policy) serão usados aqui em sentidos próximos e articulados, concretas e estratégias de obtenção de poder ou controle de gesto-
como política-prática, compreendendo discursos-práticas formais res, pesquisadores, professores, pais e estudantes, cuja combina-
e informais, explícitos e implícitos, envolvendo vários atores so- ção complexa gera uma teia de cursos de ação que não são a rea-
ciais, além das diretrizes governamentais; como as escolhas lização automática da agenda oficial.

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Escola como extensão da família ou família como extensão da escola?

explícita) de formalização da parceria escola–famí- Há que se levar em conta, ainda, a perspectiva


lia, o dever de casa tem sido considerado uma pana- da família, segundo a qual o dever de casa pode ser
céia para melhorar o aproveitamento escolar. visto como uma necessidade legítima e uma prática
Concebido como parte integrante do processo desejável, ou como um fardo e uma imposição, de-
ensino-aprendizagem, o dever de casa não apenas afe- pendendo de condições materiais e simbólicas variá-
ta seu planejamento e implementação, e, portanto, o veis. Certas condições e aspirações familiares podem
trabalho docente, mas afeta também a vida dos estu- ser investidas em políticas-práticas a favor do dever
dantes fora da escola e sua rotina familiar, pois supõe de casa pelos pais como atores individuais, em con-
a conexão entre as atividades de sala de aula e de sonância com as políticas-práticas escolares (isto é,
casa, e uma estrutura doméstica adequada apoiando as solicitações de apoio dos pais), ao passo que senti-
as atividades escolares. Assim, como o principal meio mentos contrários, baseados em dificuldades de ade-
de interação família–escola, o dever de casa passa, de rir ao dever de casa, tendem a permanecer velados no
uma política tácita informal desenvolvida por famí- contexto de relações de poder escola–família (mistu-
lias e escolas (e seus agentes), a uma política formal radas a relações de classe, raça–etnia, gênero e ida-
que articula os esforços educativos destas instituições. de) desfavoráveis aos pais.
Nesse sentido, o foco no dever de casa pode servir Assim, o dever de casa propicia múltiplas abor-
como uma janela para olhar as relações família–es- dagens, necessariamente complexas. Neste texto, apre-
cola e abordá-las de vários ângulos. sento um panorama da política-prática do dever de
Há vários aspectos interessantes da política-práti- casa, nos Estados Unidos e no Brasil, e levanto algu-
ca do dever de casa: relacionados a concepções curri- mas de suas implicações familiares e de gênero.
culares, processos pedagógicos e ao trabalho docente,
vistos como dependentes da contribuição da família; e História da política-prática do dever de casa
relacionados à evolução, especialização funcional e e a parceria família–escola
entrelaçamento das práticas educativas de famílias e
escolas, e ao dever de casa dos pais, mais precisamen- Meu interesse pela questão do dever de casa surgiu
te, das mães. Por um lado, a concepção e prática predo- da minha própria experiência como mãe e professora
minante do dever de casa como trabalho escolar trans- de pedagogia, ao comparar experiências escolares no
ferido para casa pode constituir uma estratégia Brasil e nos Estados Unidos. No contexto brasileiro
defensiva contra a cobrança da responsabilidade esta- da jornada escolar de meio período, percebia a famí-
tal/escolar, de prover (suficiente e adequada) educação lia na base tanto do sucesso quanto do fracasso es-
formal. Por outro lado, constitui uma ilustração perti- colar, ao compensar (ou não) as deficiências escola-
nente de violência simbólica (Bourdieu & Passeron, res e as dificuldades dos estudantes, oferecendo (ou
1975) via extensão da autoridade pedagógica da escola não) alguma forma de reforço escolar, conforme a
(incumbida da função de imposição do arbitrário cul- classe social (capital econômico e cultural) e o tipo e
tural dominante, um determinado currículo) ao lar – qualidade da escola (privada ou pública, mais ou me-
em outras palavras, um caso de regulação da vida pri- nos exigente). No Brasil, meus filhos freqüentaram
vada pela política pública, através da instrução ou dis- inicialmente escolas alternativas que não adotavam
ciplinamento da família pela escola, via prescrição, dever de casa porque atendiam uma clientela de mães
explícita e implícita, de práticas parentais. Isto é clara- profissionais,2 posteriormente, ao mudarem para uma
mente visível quando o dever de casa se torna uma es-
tratégia de inclusão de famílias de minorias e trabalha- 2
O marketing de uma dessas escolas era: “Aqui seu filho ou
dores imigrantes (como nos Estados Unidos) e grupos filha aprende tudo que precisa aprender, por isso não mandamos
de baixa renda (tanto lá como no Brasil). dever de casa”.

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escola tradicional, tive de recorrer a uma professora (Projeto Nordeste, 1997). As análises dos resultados
particular em casa para acompanhar o dever de casa. do SAEB 2001 também apontam “o hábito de fazer a
Nos Estados Unidos, não esperava que escolas públi- lição de casa no rendimento do aluno” (Brasil, Minis-
cas de jornada integral, superequipadas e contando tério da Educação, INEP, 2003).
com professores bem qualificados, adotassem dever A hipótese de que quanto mais dever de casa,
de casa; portanto, minha surpresa e dificuldades como maiores notas nos testes tem base na experiência so-
chefe de família/mãe de três crianças, sem apoio de cial. Porém, os estudos de correlação entre participa-
família extensa, gerou interesse no seu estudo. ção dos pais na vida escolar dos filhos e aproveita-
O dever de casa não tem sido objeto de pesqui- mento escolar medido por testes padronizados, ao
sa, aparecendo como um tópico periférico em análi- chamarem a atenção para a influência do dever de
ses de fatores do rendimento acadêmico e das intera- casa na aprendizagem e sucesso escolar, não expli-
ções entre a escola e a família. Visto simplesmente cam que a adesão dos pais ao dever de casa represen-
como uma boa idéia que cumpre incentivar (e não ta investimento de capital cultural como estratégia de
questionar), não tem sido problematizado pela pes- reprodução familiar e social (Bourdieu, 1986), sendo
quisa. A pesquisa educacional americana apresenta seu rendimento fruto da vantagem do lar (Lareau,
clara preponderância de avaliações favoráveis à pro- 1993). A questão de política educacional é se é viável
dutividade do dever de casa no aproveitamento esco- incentivar a participação dos pais (cujos filhos vão
lar (Clark, 1993; Henderson & Berla, 1994; ERIC mal na escola) via dever de casa, precisamente da-
Abstracts Data Base, 2000), concentrando-se em queles que não participam por falta de capital econô-
áreas como dificuldades de aprendizagem, programas mico (tempo livre, dinheiro para pagar aulas de refor-
de educação compensatória, motivações e valores das ço) e cultural (cultura acadêmica e conhecimento
famílias e dos estudantes, e relevância conceitual da atualizado dos conteúdos curriculares).
tarefa, no contexto do planejamento e avaliação do Nesse contexto, são raros os estudos que proble-
ensino. matizam o dever de casa, apontando limites e dificul-
O impacto positivo do dever de casa no aprovei- dades (nos Estados Unidos, Corno, 1996; Natriello,
tamento escolar (como variável correlacionada ao de- 1997; Kralovec & Buell, 2000; De Carvalho, 2000;
sempenho em testes padronizados) ainda não foi e di- no Brasil, Paula, 2000). São novidade os estudos qua-
ficilmente pode ser estabelecido empiricamente ou litativos (sociológicos, antropológicos) das relações
experimentalmente, de forma conclusiva, porém pou- família–escola, particularmente das práticas educati-
cos estudos explicitam isto ao fazerem recomendações vas e estratégias de escolarização das famílias, tanto
favoráveis à sua adoção. Não há pesquisa substancial nos Estados Unidos (por exemplo, Lareau, 1993;
para corroborar uma relação entre alto desempenho, McClain, 1997), como no Brasil (por exemplo, No-
tempo dedicado ao dever de casa, tipos de tarefas e gueira, Romanelli & Zago, 2000; Franco, 2002).
estilos de acompanhamento, considerando níveis e sé- A abordagem histórica é interessante para a aná-
ries escolares, objetivos curriculares, matérias, níveis lise do dever de casa como instrumento de interação
de habilidade dos estudantes e características indivi- entre família e escola. Nos primórdios da escolariza-
duais, socioeconômicas e étnicas. Assim, este parece ção compulsória, as escolas que serviam às comuni-
ser um caso de viés cultural direcionando escolhas de dades/famílias rurais e urbano-industriais não envia-
pesquisa e política educacional. vam trabalho escolar para casa, porque então as
Alguns pesquisadores brasileiros (atrelados à for- crianças e jovens participavam do trabalho real por
mulação de políticas financiadas pelo Banco Mundial) razões de sobrevivência. O dever de casa escolar sur-
vêm reproduzindo a lógica da pesquisa e política edu- giu como uma ocupação apropriada para os estudan-
cacional americana sobre as relações família–escola tes das classes médias (cuja reprodução estava asso-

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Escola como extensão da família ou família como extensão da escola?

ciada ao sucesso acadêmico) e tornou-se parte do Na década de 1960, durante o Movimento pelos
estilo de vida dos grupos sociais escolarizados e da- Direitos Civis, cresceu a crença na importância do
queles que valorizavam a escolarização como estraté- dever de casa, a partir de estudos comparativos do
gia de mobilidade social ascendente. desempenho de estudantes de diferentes grupos étni-
Nos Estados Unidos, de acordo com Gill e cos e condições socioeconômicas. Os com baixo apro-
Schlossman (1995), a história do dever de casa, ao veitamento escolar eram pobres, pertencentes às mi-
longo do século XX, revela uma disputa quanto à sua norias étnicas (negros e hispânicos) e a famílias
importância no discurso e na política educacionais, monoparentais, em desvantagem econômica e cultu-
como resultado não apenas de debates sobre concep- ralmente despreparados para aproveitar os recursos
ções pedagógicas, mas também de pressões das famí- sociais; os com alto aproveitamento escolar vinham
lias. Sua quantidade e formas, por exemplo, têm sido de famílias estáveis, brancas e de classe média, que
reguladas por políticas escolares na medida variável tinham incorporado a educação formal ao seu estilo
que foi visto como uma estratégia de elevação do ní- de vida ou como meio de ascensão social. Assim, os
vel acadêmico ou como uma interferência na vida fa- primeiros tornaram-se alvo de políticas educacionais
miliar e nas atividades sociais dos estudantes.3 compensatórias objetivando melhorar o ambiente de
O Movimento Progressista, que teve Dewey aprendizagem do lar e a cultura familiar, através da
como expoente, não apoiava políticas de dever de casa, combinação de dever de casa e educação parental, sob
associadas aos métodos de ensino tradicionais. An- a bandeira da eqüidade (Scott-Jones, 1984, 1987).
tes da Segunda Guerra, muitos sistemas de ensino lo- Todavia, na década de 1970, o dever de casa foi es-
cais aboliram o dever de casa declaradamente para quecido ou minimizado na política e prática educa-
desencorajar a memorização e propiciar a utilização cionais (Gill & Schlossman, 1995).
mais criativa do tempo fora da escola pelos estudan- Na década de 1980, com a publicação de Uma
tes e suas famílias. A pesquisa da época, expressando nação em risco (National Commission on Excellence
claramente os valores da classe média, objetivava de- in Education, 1983), que creditava o declínio políti-
monstrar que o dever de casa não era apenas inútil co, econômico e moral dos Estados Unidos a uma
para o aproveitamento escolar, mas prejudicial à saú- pedagogia suave (Gill & Schlossman, 1995), as posi-
de das crianças (Gill & Schlossman, 1995). Na déca- ções a favor do dever de casa mais uma vez se torna-
da de 1950, porém, no contexto da Guerra Fria, ven- ram hegemônicas. Os estudos comparativos interna-
ceram as posições conservadoras favoráveis ao dever cionais reforçavam a percepção da importância do
de casa: a política educacional renovou a ênfase na ambiente familiar e das práticas de dever de casa: os
excelência acadêmica, atendendo também às aspira- estudantes japoneses, chineses e taiwaneses tinham
ções das classes médias por qualidade (distinção) edu- melhor desempenho em testes padronizados e faziam
cacional. Há evidência de que o dever de casa já se mais dever de casa do que os estudantes americanos
tinha tornado, então, parte integral do trabalho esco- (Stevenson & Stigler, 1992). Embora a pesquisa, de
lar e uma política escolar formal (ERIC Abstracts Data modo geral, fosse escassa e inconclusiva (Epstein &
Base, 2000). Pinkow, 1988), o senso comum baseado na tradição
do dever de casa e a ideologia dos valores familiares
e trabalho duro convergiam para a ênfase no dever
3
De acordo com a perspectiva liberal; numa perspectiva de casa como estratégia para aumentar a produtivida-
socialdemocrática, Eugene C. Brooks, um professor-pesquisador de escolar diante da urgência de ultrapassar os con-
da Carolina do Norte, havia reconhecido, em 1916, que o dever de correntes econômicos, de acordo com a política de
casa reproduzia a desigualdade social e proposto que os professo- hegemonia internacional. Há evidências da expansão
res assumissem sua supervisão no lugar dos pais (Rothstein, 2001). das políticas formais de dever de casa durante a déca-

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da de 1980, em todo o país, no contexto de reformas das tarefas e assinar o trabalho completo); especifi-
visando a excelência acadêmica (Chubb & Moe, 1990; cação de freqüência (três a quatro noites por sema-
ERIC Abstracts Data Base, 2000). na), quantidade de tarefas diárias (com aumento pro-
A retórica educacional da década de 1990, se- gressivo conforme o nível de ensino), e mecanismos
guindo (ou resistindo) a tendência de privatização e de comunicação casa/escola. Eis um exemplo de po-
produtividade educacional, acentuou a responsabili- lítica de dever de casa adotada pelo Distrito Escolar
dade e escolha da família (alternativamente, o dos meus filhos:
empoderamento e participação dos pais na reforma
da escola), propagando a correlação entre aproveita- Definição:
mento escolar (especialmente em matemática e ciên- O dever de casa refere-se a uma tarefa a ser comple-
cias), competitividade individual (melhores empre- tada fora do horário escolar, de preferência em casa. Estas
gos), e competitividade internacional (liderança tarefas mantêm os pais informados e envolvidos na apren-
político-econômica mundial dos Estados Unidos) dizagem de sua criança.
(Arbanas, 1994; Ingham Intermediate School District,
1995). Diretrizes oficiais passaram a prescrever o de- Política:
ver de casa regular como uma estratégia para melho- O dever de casa bem escolhido e claramente comuni-
rar o desempenho acadêmico (Office of Educational cado é uma parte integral do processo de instrução. O de-
Research and Improvement, 1992, 1996), estendendo ver de casa será relevante e desafiante.
o alcance da política educacional ao lar: as sugestões As tarefas de casa deverão revisar, reforçar ou esten-
de limitar o tempo de televisão, estimular a leitura e der a aprendizagem de sala de aula proporcionando práti-
acompanhar o dever de casa, claramente, transferem ca e aplicação do conhecimento obtido; ensinar aos estu-
a responsabilidade pelo aprendizado do currículo es- dantes responsabilidade e habilidades de organização; pro-
colar para a esfera parental. A parceria família–esco- mover uso do tempo inteligente e ordenado; e proporcio-
la tornou-se a oitava meta da educação nacional do nar oportunidades para atividades de enriquecimento.
Governo Clinton, que prescreve a participação dos As/os professoras/es deverão incluir dever de casa
pais no desenvolvimento social, emocional e acadê- apropriado aos estudantes e às suas necessidades educacio-
mico das crianças (National Education Goals Panel, nais. Deverão levar em conta as tarefas passadas por outros
1995). professores, as diferenças individuais dos estudantes, e
As escolas americanas estão adotando políticas outros fatores que possam afetar o lar como uma extensão
de dever de casa explícitas e amplas, definindo con- da sala de aula.
cepção, expectativas da escola e obrigações dos pais. As conseqüências de não completar o dever de casa
Um levantamento nacional de políticas de dever de serão manejadas pelos/as professores/as individualmente.
casa nos distritos escolares, feito por Roderique et al. Os/as professores/as poderão deter um/a aluno/a para com-
(1994), revelou que 35% tinham uma política de de- pletar o dever de casa após as aulas [...] os estudantes de-
ver de casa naquele momento, incluindo: informação vem ser avisados de antemão e, portanto, serão responsá-
aos pais sobre regulamentos do dever de casa; espe- veis por avisar aos pais. 4 (East Lansing Educational
cificação dos tipos de tarefas (preparação para aulas, Foundation, 1996, p. 14, grifos meus)
exercícios, conclusão de tarefas iniciadas em classe e
atividades de extensão); orientações quanto ao
4
feedback dos professores (conceitos, elogios, notas e Nesse caso, as crianças não voltariam para casa no horário
pontos de incentivo); explicitação dos papéis espera- normal no ônibus escolar; às vezes, em alguns dias da semana,
dos dos pais em relação ao processo do dever de casa havia um ônibus tardio, mas, caso não houvesse, os pais teriam de
(proporcionar espaço e tempo, monitorar a conclusão buscar os filhos na escola.

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Escola como extensão da família ou família como extensão da escola?

De acordo com Rothstein (2001), o tempo de de- por 90 dias (e multa de quinhentos dólares), no caso
ver de casa para estudantes da escola elementar cres- de a detenção não ser cumprida (Murphy, 1996).
ceu 50% nas últimas décadas nos Estados Unidos. Em 24/11/2000, o jornal The New York Times
Como pude constatar, de 1993 a 1997, algumas esco- trouxe a seguinte reportagem: “Boletins, desta vez
las investiam na política do dever de casa com meca- para os pais e as mães”, enfocando a política de ava-
nismos como: contratos especificando as obrigações liação do envolvimento dos pais adotada pelo sistema
quanto ao dever de casa, assinados pelo estudante e de escolas públicas de Chicago, como reação à pres-
pelos pais; caderneta de registro do acompanhamento são destes sobre as escolas para melhorar o ensino, e
do dever de casa pelos pais (parent homework record); como tentativa de assim responsabilizá-los também.
e homework hotlines – assistência ao dever de casa A idéia declarada é mudar a cultura do lar, de forma
por telefone depois das aulas.5 Aparentemente, não que os pais desejem tirar boas notas para dar bom
havia vozes contrárias, com exceção da proposta de exemplo aos filhos. Algumas escolas adotaram o Bo-
“abolição do dever de casa” de Garrett Redmond, letim de Envolvimento dos Pais com conceitos; ou-
membro do Conselho Escolar em Half Moon Bay, tras, as listas de tarefas diárias (como revisar o dever
Califórnia (Gill & Schlossman, 1995), tratada como de casa, ler para os filhos, levá-los à escola pontual-
uma excentricidade. mente e verificar se carregam os materiais necessá-
Uma conseqüência deste tipo de política é res- rios), que os pais devem completar e devolver assina-
ponsabilizar os pais formalmente pela falta do dever das, diariamente. A medida gerou reações favoráveis
de casa, ensejando disputas judiciais entre famílias e de comunidades cuja cultura reverencia a autoridade
escolas. Em 2/10/1996, o jornal Detroit Free Press, dos professores, e contrárias, tanto de pais quanto de
por exemplo, tinha como manchete: “Distrito escolar professores que acham que dar notas aos pais poderá
torna detenção uma questão familiar” (Murphy, 1996). envenenar suas relações (Schemo, 2000).
O artigo relatava que o distrito policial havia intimado A trajetória da política-prática do dever de casa
os pais a comparecerem à detenção na manhã do sába- nos Estados Unidos tem ressonâncias na política edu-
do para fazer o dever de casa com os filhos insubordi- cacional brasileira recente. A tradição do dever de casa
nados. E antecipava medidas legais de responsabiliza- na nossa cultura escolar, sobretudo nas escolas priva-
ção dos pais “para ajudá-los a identificar nos filhos das, está formalizando-se na política educacional. Ao
padrões de comportamento indesejáveis antes que se estudar a construção histórica do dever de casa no
tornem problemas maiores”, que iam de freqüência a discurso didático-pedagógico, particularmente nos
palestras sobre “como criar melhor os filhos” a prisão manuais didáticos e na Revista Nova Escola, Paula
(2000) constata que sua prescrição tem sido intensifi-
cada, nos últimos anos, com ênfase na responsabili-
5
Na bibliografia americana há poucas referências a políti- dade, autonomia e eficácia.
cas/programas alternativos de acompanhamento do dever de casa, Por exemplo, o auxílio dos pais e da comunidade
indicativos dos limites de algumas famílias para cumprirem tal na instrução, e a adoção de deveres de casa freqüen-
obrigação: programas de extensão da jornada escolar (curiosamente tes, como “fatores determinantes da eficácia escolar”
denominados Dever de casa na escola) e centros de dever de casa (Heneveld, 1994, p. 35-36), são prescrições do Projeto
nas bibliotecas públicas, para estudantes em situação de risco de Educação Básica para o Nordeste, patrocinado pelo
(ERIC Abstracts Data Base, 2000). Recentemente, na tentativa de MEC e pelo BIRD para melhorar a qualidade da edu-
reduzir o impacto da classe social sobre o aprendizado escolar, cação fundamental na região. A aptidão para aprender,
surgiram iniciativas como os Beacons, na cidade de Nova York, e resultante do apoio eficaz dos pais e da comunidade, é
os Twenty-First Century Community Learning Centers, nacional- definida pelos seguintes indicadores: evidência de que
mente, na administração Clinton (Rothstein, 2001). leituras, conversações e brincadeiras dirigidas ocorrem

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no lar, pressupondo a conexão entre práticas educati- sempenho independente do estudante, como é suge-
vas familiares e currículo escolar. Auxiliar na instru- rido pela prescrição (baseada em pesquisa) do órgão
ção significa apoiar e monitorar os deveres de casa, federal encarregado da educação americana:
servir como tutor, fonte de informações e audiência em
relação ao trabalho escolar dos estudantes. Deveres de Tarefas de casa efetivas não apenas suplementam as
casa freqüentes são prescritos a partir da quarta série, lições de classe; elas também ensinam os estudantes a se-
com conteúdo adequado à idade dos alunos e ao am- rem aprendizes independentes. O dever de casa proporci-
biente familiar (Heneveld, 1994). ona aos estudantes experiência em seguir instruções, fa-
O MEC instituiu o Dia Nacional da Família na zer julgamentos e comparações, levantar novas questões
Escola e publicou, em 2002, a cartilha Educar é uma para estudo, e desenvolver responsabilidade e
tarefa de todos nós. Um guia para a família partici- autodisciplina. (U.S. Department of Education, 1987,
par, no dia-a-dia, da educação de nossas crianças p. 53, grifos meus)
(Brasil, Ministério da Educação, 2002), seguindo uma
tendência global de política educacional neoliberal de Quem ensina em casa? De acordo com a retóri-
formalização da participação dos pais na escola. No ca anterior, é o dever de casa que ensina. Omite-se,
nível local, esta orientação começa a se formalizar assim, que a experiência propiciada pelas sessões de
nas escolas públicas, pois expressa uma concepção dever de casa no ambiente doméstico é assistida pe-
cultural do dever de casa como uma prática desejá- los pais e familiares e requer considerável dispêndio
vel, há muito adotada pelas escolas particulares. A de tempo e emprego de habilidades pedagógicas, cons-
Escola Municipal Professor Agostinho Fonseca Neto, tituindo uma segunda jornada de trabalho deles
de João Pessoa, por exemplo, elaborou a Cartilha (Rothstein, 2001).
Aprendendo com Carinho “com a finalidade de mos- De acordo com Bowditch (1993), o atual movi-
trar às pessoas que formam a comunidade escolar – mento a favor do dever de casa determina uma curio-
professores, funcionários, estudantes e, especialmen- sa divisão de trabalho entre professores e famílias:
te, pais e mães de alunos – como o envolvimento dos
pais na aprendizagem dos filhos, em casa e na escola, Basicamente, as tarefas cobradas dos/as professores/
pode melhorar o seu desempenho na escola e na vida” as, implícita ou explicitamente, são limitadas a apresentar
(João Pessoa, Secretaria de Educação e Cultura – informação e cobrir a matéria; às famílias, o que significa na
SEDEC, 2002, p. 3). maior parte das vezes as mães, são atribuídas as tarefas de
motivar os estudantes e proporcionar o tempo, o espaço e a
Implicações familiares e de gênero atenção ou assistência extracurricular de modo a assegurar
que a aprendizagem aconteça. (p. 178, grifos do original)
Nos Estados Unidos, como sugerem Hoover-
Dempsey e Sandler (1997), o dever de casa faz parte Minhas alunas de pedagogia da Universidade Fe-
da própria definição cultural do papel parental. As- deral da Paraíba, professoras do ensino fundamental,
sim, a retórica do envolvimento dos pais na educação definem assim os alunos que fazem os deveres de casa:
dos filhos não apenas coloca o dever de casa como participantes, atentos, têm ajuda, têm pais presentes,
obrigação moral, mas até mesmo anula a distinção interessados, com boas condições financeiras e
entre dever de casa e lazer familiar. Contraditoriamen- escolarizados. Das 23 alunas que responderam um
te, ao mesmo tempo em que se espera que a educação questionário sobre visões e práticas acerca do dever
doméstica apóie o currículo escolar, pouco se reco- de casa em fevereiro de 2003, 17 adotam dever de
nhece o dever de casa dos pais. Até parece que os casa e apenas uma afirmou: “Não costumo passar
benefícios do dever de casa derivam apenas do de- deveres de casa, pois trabalho em um bairro carente e

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Escola como extensão da família ou família como extensão da escola?

vejo que os pais trabalham o dia todo e não têm tem- uma oportunidade de convivência positiva entre pais e
po ou não sabem ajudar os filhos”. filhos e de coesão familiar, na retórica americana. A
Todavia, embora as condições para implemen- segunda refere-se à tentativa curricular de conectar o
tar e atingir os objetivos do dever de casa dependam conhecimento escolar à vida cotidiana, a exemplo, nos
das condições domésticas e familiares, a concordân- Estados Unidos, dos programas “Matemática em Fa-
cia dos pais sobre o valor do dever de casa tem sido mília” e “Ciências em Família” (Programs for Educa-
tomada como um dado, como é atestado pela exis- tional Opportunity, 1995), com oficinas destinadas a
tência de poucos estudos sobre a questão (ERIC “ajudar os pais/mães e as crianças a aprenderem mate-
Abstracts Data Base, 2000). Há três condições ne- mática e ciências juntos” e de forma divertida, utili-
cessárias aos pais para realmente acompanharem o zando “situações e materiais comumente encontrados
dever de casa: tempo livre, conhecimento sobre as em casa”. Por meio dessa estratégia, os lares tornam-
matérias escolares e pedagogia, e vontade e gosto. se salas de aula, os pais tornam-se simultaneamente
Assim, a política-prática do dever de casa baseia-se professores e estudantes, e a educação infantil se com-
nos seguintes pressupostos: bina com a educação de adultos. É esse exatamente o
espírito da cartilha do MEC Educar é uma tarefa de
• pais têm tempo para criar oportunidades de todos nós. Um guia para a família participar, no dia-
aprendizagem em casa, organizando e adaptan- a-dia, da educação de nossas crianças (Brasil, Minis-
do continuamente o ambiente doméstico para tério da Educação, 2002).7
atender demandas escolares (providenciar ma- Os discursos a favor do dever de casa englobam
teriais, assistir trabalhos de grupo nos fins de duas concepções e possibilidades: atividades de apren-
semana etc.), tempo que sobra do atendimento dizagem em casa, intencionalmente envolvendo os
de suas próprias necessidades, obrigações e pais e atividades que os estudantes podem desempe-
opções quanto à divisão do trabalho doméstico, nhar independentemente. Porém, as mães sabem que
horários de descanso, programas de lazer, com a construção da independência é um processo gradu-
os quais o dever de casa não interfere; al e que a maioria dos estudantes não consegue dar
• pais gostariam de se atualizar em relação ao cur- conta do dever de casa sem ajuda. Enfim, as condi-
rículo escolar ou voltar à escola, a fim de partici- ções mencionadas apontam para um modelo de famí-
par do projeto da educação pública ou do desen- lia particular, que conta com um adulto (geralmente a
volvimento dos seus filhos, e portanto a escola mãe) com tempo livre, conhecimento e uma disposi-
deveria investir em orientação/treinamento de ção especial para educar. Há uma continuidade entre
pais para acompanhar os deveres de casa.6 a feminização do magistério e a educação doméstica,
e o dever de casa tem dependido da doação do tempo
A falta dessas condições é enfrentada por duas (trabalho gratuito) das mães, sobrecarregando aque-
estratégias retóricas. A primeira é o apelo moral do las que exercem trabalho remunerado fora de casa.
discurso do sucesso versus fracasso escolar relaciona- Como argumenta Bowditch (1993), “a retórica do
dos ao apoio ou negligência dos pais. Nessa perspecti- envolvimento dos pais […] assume, legitima e tenta
va, o dever de casa é até mesmo apresentado como impor um modelo normativo particular de família [...]
que tem se tornado cada vez menos representativo das
famílias americanas [e brasileiras] em todas as classes
6
Não estou criticando iniciativas de educação/alfabetização
de adultos combinadas à educação infantil, mas duvidando de uma
política que condicione o sucesso escolar dos estudantes à reedu- 7
É uma cartilha bem elaborada, porém nem todos os pais
cação dos pais. têm condições de utilizá-la.

Revista Brasileira de Educação 101


Maria Eulina Pessoa de Carvalho

socioeconômicas” (p. 179), diante do aumento do nú- A divisão de gênero atravessa as classes sociais.
mero de famílias monoparentais e de mães trabalhado- Lareau (1993) demonstrou como as mães de classe
ras. Através da política do dever de casa “as escolas média e trabalhadora assumem os encargos educacio-
fazem pesadas exigências quanto à organização da nais cotidianos, enquanto os pais exercem apenas um
vida familiar e às práticas das mães, o que não é mais papel simbólico no trato com as autoridades escolares.
razoável, considerando-se as recentes mudanças na es- Franco (2002), ao pesquisar famílias de classe média
trutura familiar” (p. 178). Subordinando os pais às exi- com filhos em escolas particulares de Belo Horizonte,
gências escolares e impondo-lhes um custo em traba- constatou a predominância do envolvimento materno
lho, a política do dever de casa tem efeitos perversos: no acompanhamento cotidiano ao dever de casa.
ao “ensinar as famílias suas ‘obrigações básicas’ de
proverem o ambiente doméstico apropriado à aprendi- Conclusão: implicações para a eqüidade
zagem”, cria as condições para “culpar as famílias por
suas inadequações e então abandonar a responsabilida- Por que não conceber a educação escolar inde-
de de ensinar as crianças dessas famílias” (p. 179). pendentemente da contribuição da família na forma
Ameaça exatamente as crianças de famílias pobres, de do dever de casa? Por que não seguir a lógica de quan-
mães trabalhadoras e chefiadas por mulheres. to melhor a qualidade da escola, menos dever de casa?
A divisão de gênero está presente na separação Por que aceitar as sanções implícitas e explícitas do
público/escola–privado/casa no caso da educação, im- dever de casa sobre a família? Ao conectar escola e
pondo enormes responsabilidades e carga de trabalho família, a política-prática do dever de casa revela con-
às mães. Veja-se este exemplo: As técnicas encarrega- tradições, potenciais conflitos e implicações impor-
das do Plano de Desenvolvimento Escolar (PDE) de tantes para um projeto de eqüidade e pluralidade cul-
uma escola pública municipal de João Pessoa tiveram tural via escola, que necessitam ser pesquisadas.
a idéia de elaborar uma cartilha para mostrar à comuni- Quando propôs a “abolição do dever de casa”,
dade escolar como o envolvimento dos pais na apren- Garrett Redmond apresentou dois argumentos: o de-
dizagem dos filhos, em casa e na escola, pode melho- ver de casa “ameaçava a vida familiar, privando as
rar o seu desempenho na escola e na vida. Criaram uma crianças de tempo de qualidade com seus pais/mães”,
história em quadrinhos com três episódios. O primeiro e “era injusto porque muitas crianças careciam de
traz uma conversa entre duas vizinhas sobre os cuida- computadores, enciclopédias e locais sossegados, de
dos com os filhos. Maria diz a Luíza que, mesmo tra- que dispunham aquelas mais afortunadas” (Gill &
balhando o dia inteiro e mesmo sem saber ler, ela pode Schlossman, 1995, p. B7). Em contraposição, Gill e
arranjar um tempinho e sentar com o filho para ver o Schlossman (1995) lembram que “o dever de casa é
dever de casa. No segundo episódio, Luíza vai à escola os olhos e ouvidos dos pais […] o primeiro e talvez
perguntar à professora por que não está enviando dever único elo de comunicação que informa aos pais acer-
de casa para o filho. A professora explica que é porque ca da missão acadêmica da escola [...] [obrigando] os
ele não vinha fazendo e aproveita para ensinar a Luíza professores a deixar os pais verem o que estão fazen-
o seu papel de mãe: ajudar o filho “a gostar mais de do na sala de aula e quão bem estão desempenhando
estudar e de fazer as tarefas”. O terceiro episódio mos- seu trabalho” (p. B7).
tra uma reunião de “pais” na escola. Há pais e mães, O reconhecimento das implicações do dever de
mas os pais estão em primeiro plano e quem fala é um casa no alargamento da defasagem do rendimento es-
pai que pede esclarecimentos à professora sobre obstá- colar e na aprendizagem entre estudantes de classe mé-
culos à aprendizagem. Esta explica, então, como “os dia e baixa ainda não é voz corrente, mas pode aumen-
pais” devem colaborar para superar os obstáculos tar na medida que as famílias, sobretudo aquelas em
(João Pessoa, SEDEC, 2002). situação de desvantagem social, percebam-no como

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Escola como extensão da família ou família como extensão da escola?

uma carga de trabalho imposta pela escola (Rothstein, BOURDIEU, P., PASSERON, J.-C., (1975). A reprodução: ele-
2001). Além disso, é importante ressaltar que a prática mentos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro:
do dever de casa não repercute diferencialmente no Francisco Alves.
rendimento escolar apenas indiretamente, ao ampliar o BOURDIEU, P., (1986). The forms of capital. In: RICHARDSON,
tempo de estudo: em muitas escolas e disciplinas (nos J. G. (ed.). Handbook of theory and research for the sociology
Estados Unidos e no Brasil) o dever de casa vale nota of education. New York: Greenwood Press, p. 241-258.
ou conta para a nota final (De Carvalho, 2000). BOWDITCH, C., (1993). Response to Michelle Fine’s [ap]parent
Como nó da parceria família–escola, o dever de involvement: reflections on parents, power, and urban public
casa, portanto, é fundamentalmente uma questão polí- schools. Teachers College Record, nº 95, p. 177-181.
tica. Se fosse valorizado ou tivesse condições de ser BRASIL, Ministério da Educação, INEP, (2003). Brasília: Sala de
implementado igualmente por todas as famílias, não Imprensa – Notícias do SAEB. Disponível em: <http://
necessitaria de regulação formal. Por isso, a política de www.inep.gov.br>.
intensificação do dever de casa pode ser interpretada BRASIL, Ministério da Educação, SEF, (2002). Educar é uma
como um caso de educação da família (de determina- tarefa de todos nós. Um guia para a família participar, no dia-
das famílias) e de política cultural, ao submeter os va- a-dia, da educação de nossas crianças. Brasília: Secretaria de
lores educacionais da família à meta de eficácia esco- Ensino Fundamental, Assessoria Nacional do Programa Parâ-
lar e aos conceitos prevalentes de sucesso individual. metros em Ação.
Se, por um lado, o dever de casa poderia ser visto como CHUBB, J. E., MOE, T. M., (1990). Politics, markets, and america’s
um incentivo à construção do habitus requerido pelo schools. Washington, DC: The Brookings Institution.
sucesso escolar e pela empregabilidade, por outro lado, CLARK, R. M., (1993). Homework-focused parenting practices
como afirmam Kralovec & Buell (2000), é uma ma- that positively affect student achievement. In: CHAVKIN, N.
neira de remodelar vidas para se adequarem aos requi- F. (ed.). Families and schools in a pluralistic society. Albany:
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104 Jan /Fev /Mar /Abr 2004 No 25

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