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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS

ESTUDO DIRIGIDO

PROFESSOR: VICTOR PELAEZ

ESTUDANTE: ROGER DE OLIVEIRA FRANCO

Concorrência e Inovação – Silvia Possas

A autora introduz a sua exposição com a utilização do conceito mais


simplificado de concorrência apresentados nos livros-texto de Microeconomia: ela
seria uma forma de mercado caracterizada por grande número de concorrentes e
livre entrada de novos produtores. No entanto, como bem asseverado, essa
concepção não dá conta de explicar o funcionamento da economia capitalista. A
apresentada no presente capítulo é a ligada na economia shumpeteriana. Nessa
perspectiva, é necessário se entender a concorrência enquanto processo seletivo.

Antes, porém, apresenta-se uma mudança histórica do entendimento de


livre concorrência. Primeiramente, ela era ligada aos fisiocratas e liberais, e
compreendida como ausência de privilégios. Posteriormente, na obra de Ricardo,
apresentou-se a livre concorrência como um mercado em que o monopólio está
inteiramente ausente. Não haveria poder de mercado, concorreriam muitos
produtores, com a livre entrada de novos e o produto seria homogêneo.

No entanto, essa última perspectiva de livre concorrência não subsiste.


Não há homogeneidade absoluta. Não há um mundo de sósias. Um processo de
disputa só pode ocorrer com diferenças, vantagens e concorrentes em posições
diferentes. Essa visão possui algumas semelhanças com a seleção natural, não sendo
sua irmã gêmea, para não se estravar o biologismo para a Ciência Econômica.
O mercado é o ambiente no qual se dá o processo de concorrência, é o seu
locus, tendo um importante papel na seleção econômica. Neste campo, estão
vencedores e perdedores, que se constituem em momentos, e que podem passar a
mudar a sua qualidade, não possuindo posição definitiva.

Para a definição de mercado e a sua delimitação é possível buscar-se a


percepção dos seus concorrentes, que constantemente analisam seus concorrentes,
examinando suas diferenças e procurando estabelecer vantagens sobre eles. “O
conjunto de vendedores e compradores junto aos quais a inovação repercute constitui
o mercado”. O que caracteriza o mercado está diretamente relacionada à capacidade
de obtenção de vantagens econômicas e competitivas, e o grau criado por cada
competidor.

A apropriabilidade de uma inovação relaciona-se com a capacidade de


refletir a introdução de avanços na obtenção de ganhos extraordinários. Assim,
correto entender o surgimento de um monopólio temporário. Ao passo que, a
oportunidade corresponde ao conjunto de possibilidade que uma inovação permite
para se incorporar avanços a um ritmo intenso.

A autora conclui que o mercado é conformado pelo próprio processo


competitivo, “que cria e destrói assimetrias entre seus participantes, e também gera
novos produtos e processos, tornando obsoletos conhecimentos, redes de
fornecedores e clientes”.

Os conceitos de mercado relevante e de poder de mercado no âmbito da


defesa da concorrência – Mário Luiz Possas

O autor demonstra a importância em se conceber mercado relevante: é a


partir daí que se torna possível analisar os efeitos anticompetitivos potenciais das
operações de concentração de mercado das empresas que de alguma forma possuem
poder de mercado.
O mercado relevante é marcado como um espaço econômico no qual é
exercido um poder de mercado. Este conceito é apresentado principalmente nos art.
20 e 54 da Lei n. 8884/94. No entanto, já se incorporou na experiência e
jurisprudência brasileira a definição empregada nas Merger Guidelines do
Departamento de Justiça dos EUA:

“Um mercado é definido como um produto ou um grupo de


produtos e uma área geográfica na qual ele é produzido ou
vendido tal que uma hipotética firma maximizadora de lucros,
não sujeita a regulação de preços, que seja o único produtor ou
vendedor, presente ou futuro, daqueles produtos naquela área,
poderia provavelmente impor pelo menos um pequeno mas
significativo e não transitório aumento no preço, supondo que as
condições de venda de todos os outros produtos se mantêm
constantes. Um mercado relevante é um grupo de produtos e
uma área geográfica que não excedem o necessário para
satisfazer tal teste”

Tal definição releva que o mercado relevante é definido numa perspectiva


em que o exercício abusivo do poder de mercado seja teoricamente possível –
possibilidade essa que se busca reprimir ou prevenir.

O mercado é definido na dupla dimensão produto e geográfica. O primeiro


guarda uma definição genérica e deve possuir para a existência de um mercado certo
grau de substituibilidade. Nessa toada, o mercado relevante é conceituado como o
menor mercado possível, no agregado de produtos substituíveis, com a menor área.

Relacionada a essa substituibilidade tem se a elasticidade da demanda.


Quanto maior essa elasticidade, maior a possibilidade de substituição do produto em
questão por parte dos consumidores.

O autor trata ainda de outro conceito importante: poder de mercado.


Relacionada a ela esta o “poder econômico”, conceito também vago de sentido e de
precisão. No entanto, é possível conceber que ambos os conceitos traduzem a ideia
de que as relações econômicas se apresentam como relações de poder entre agentes.
Relações de poder essas que pressupõem assimetrias de poder econômico frequentes
e “naturais” tão presentes no mundo fora dos manuais e na realidade dos mercados
capitalistas. Daí a importância da legislação e atuação das agencias reguladoras, a
fim de disciplinar essas relações.

Esses dois conceitos, poder de mercado e mercado relevante, revelam-se


como conceitos essenciais para a análise concorrencial. No entanto, é necessário
antes dimensionar e considerar a complexidade e dificuldade para a sua utilização.

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