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Digitalização: Carlos Biagini

A VINHA

Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha. O
meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo. Sachou-a, limpou-a das pedras e a
plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um lagar.
Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. Agora, pois, ó moradores de
Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se
podia fazer ainda à minha vinha, que eu Lhe não tenha feito? E como, esperando eu que
desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? Agora, pois, vos farei saber o que
pretendo fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que a vinha sirva de pasto;
derribarei o seu muro, para que seja pisada; torná-la-ei em deserto. Não será podada,
nem sachada, mas crescerão nela espinheiros e abrolhos; às nuvens darei ordem que não
derramem chuva sobre ela. Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de
Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que
exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor. (Isaías 5:1-7).

Estas palavras, como o próprio profeta nos diz, formam um poema ou cântico sobre o
estado e a condição do povo de Israel, nos dias em que Deus levantou o profeta Isaías para lhes
falar. Os profetas eram homens muito práticos. Não devemos pensar neles como sendo apenas
homens de literatura ou poesia que decidiram entrar para essa carreira pelo fato de a apreciarem.
Não, todos eles nos dizem que foram chamados por Deus para entregar uma mensagem aos seus
compatriotas. Eles não queriam fazer isso. Alguns, na verdade, revelam-nos com honestidade,
que resistiram fortemente ao chamado de Deus. Eles sabiam que a sua mensagem não seria
agradável, e eles não queriam ser impopulares, não desejavam sofrer.

Estavam conscientes, porém, do chamado de Deus, e, além disso, convencidos de que Ele
lhes entregara uma mensagem. Não que houvessem olhado para o mundo e chegado a algumas
conclusões, como hoje acontece quando determinadas pessoas as registram em artigos de jornais
ou livros, ao observarem certas coisas e apresentarem sugestões que julgam ter algum valor.
Esta não era a posição dos profetas. Eles afirmam em seus escritos que tudo lhes foi dado por
Deus. Deus lhes abriu os olhos, deu-lhes entendimento, chamou-os e lhes ordenou que
entregassem a mensagem por Ele destinada ao povo.

E isso foi o que Isaías fez. Ele se dirigiu à sua nação e lhes disse exatamente a razão de as
coisas estarem do jeito que estavam; porque, quando ele escreveu, o povo já enfrentava
problemas. A nação, que fora grande e poderosa, estava entrando em dias maus; tudo ia muito
mal, e é claro que havia todo tipo de pessoas se apressando a dar suas opiniões. Então, mediante
esse homem veio esta mensagem de Deus: "Esta é a causa do seu problema; é exatamente por
esta razão que estas coisas estão acontecendo com vocês." Além disso, ele profetizou sobre o
que iria suceder a eles se continuassem como estavam e se recusassem a se arrepender e a se
voltar para Deus.

Este é o resumo da mensagem do grande profeta Isaías, mas é claro que ela vale também
para os outros profetas. Todos eles tinham a mesma mensagem para dar; todos a receberam de
Deus. Eles a apresentaram de formas diferentes porque Deus não os usou como meras
máquinas; a personalidade do homem transparece. A mensagem, porém, era de Deus e não do
homem.
Este é o ponto que desejo aqui e agora ressaltar: em todas essas grandes mensagens
proféticas, nós temos ao mesmo tempo, um resumo do que Deus está dizendo a todos os homens
e mulheres. A nação de Israel é apenas um exemplar, um tipo estabelecido por Deus para que,
mediante ela, possa falar a toda a humanidade. Parece que nos dias do Velho Testamento apenas
o povo de Israel era o povo de Deus, mas é claro que o mundo inteiro pertencia a Ele naquela
época, como acontece hoje. Eles eram seu povo apenas num sentido especial, como o povo
cristão ou a Igreja são hoje seu povo de uma maneira especial. O mundo todo, porém, pertence a
Deus. Então, quando estudamos o que Deus disse ao profeta desta nação em particular, estamos
vendo ao mesmo tempo o que Ele tem a dizer a todo o mundo.

Uma coisa muito maravilhosa que transparece quando você lê a Bíblia e aprende a
conhecê-la inteiramente, é que você descobre que ela é um livro atualizado e muito
contemporâneo. É um livro que fala a todas as épocas e gerações, porque a humanidade
permanece a mesma em todas as suas qualidades essenciais, e Deus continua o mesmo. Assim, a
mensagem de Deus para o mundo é ainda esta velha mensagem, e eu quero mostrar-lhe quão
relevante ela é para o mundo de hoje.

Veja esse povo de Israel; eles tinham problemas, as coisas estavam indo mal, e agora,
finalmente depois de muito tempo, eles começavam a enxergá-los. Mas, que estava errado?
Como isso acontecera? Que poderia ser feito com relação a isso? Essas eram as questões. E são
as mesmas hoje. O mundo todo está com problemas, precisa de enxergar. É um mundo confuso
e infeliz. Existem problemas em geral e problemas de ordem individual e particular. Ninguém
vive nele sem perceber que há um elemento de luta e dificuldade. Os jornais estão sempre
exibindo isso diante de nós: as tragédias que se sucedem; os desapontamentos.

Homens e mulheres conseguem enxergar isso, mas a dificuldade é que eles estão
confusos e estarrecidos em relação à causa. Não há livro mais prático do que a Bíblia. Ela é o
livro que fala ao mundo como ele se encontra neste exato momento. Por que não estamos
perfeitamente felizes? Por que as nações não se estão unindo e trabalhando juntas pelo bem
comum? Por que tantos problemas, discórdias, infelicidade e a conseqüente dor, tão evidentes
em toda parte?

O mundo ainda está atordoado com relação a isso, e todos os tipos de pessoas dão suas
opiniões. Mas é meu dever e função colocar diante de você esta palavra de Deus: mostrar-lhe o
que Ele está dizendo ao mundo de hoje, exatamente como disse mediante seu servo, o profeta
Isaías, há oito séculos, antes do nascimento de Cristo. O mundo hoje ou não crê de jeito nenhum
em Deus ou está lutando contra Ele, culpando-O por tudo, indagando a razão de Ele permitir
isso e aquilo, sempre cheio de queixas e reclamações. Essa é a atitude do homem e da mulher
modernos, como era a do povo de Israel no tempo do profeta Isaías.

Esta é, do início ao fim, uma grande mensagem da Bíblia: ela dá a resposta de Deus às
perguntas: Que está errado com os homens e as mulheres? Por que se tornaram o que são?
Como isso pode ser consertado? E a Bíblia tem uma variedade de modos de nos apresentar esta
mensagem: mediante o ensino direto, a história e, algumas vezes, como aqui em Isaías 5, uma
ilustração ou poema. Vemos aqui outra vez a grande misericórdia e compaixão de Deus. Todos
somos diferentes; uma apresentação da verdade esclarece determinada pessoa, enquanto um
outro modo de mostrá-la ajuda uma outra. Assim, a mensagem é apresentada a nós de diferentes
maneiras, de forma que todos possamos vir a entender a verdade.

Vamos, então, examiná-la da forma como está sendo apresentada neste poema em
particular. Isaías, em outras partes do seu grande livro, coloca a verdade crua, clara e direta.
Aqui, porém, ele escreve um poema, pinta um quadro, um quadro de um homem que plantou
uma vinha para si. Ele escolheu o melhor lugar que pôde encontrar, em uma colina muito
promissora, com solo muito fértil. Removeu todas as pedras, cercou-o, colocou um muro ao
redor e construiu uma torre. Então, plantou essas mudas escolhidas e aguardou uma grande
colheita.

Mas, coitado, em lugar de colher uma excelente safra das mais doces e suculentas uvas,
encontrou apenas uvas bravas. Isaías então explica a razão de isso haver acontecido, e faz um
pronunciamento sobre o que esse homem fará. Assim, ao pintar o quadro, ao escrever o poema,
o próprio Isaías faz a aplicação, dizendo: "Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de
Israel, e os homens de Judá são sua planta estimada; ele procurou juízo mas eis aí opressão;
justiça, e eis aí clamor" (Isaías 5:7).

Agora, deixe-me mostrar-lhe que esse poema é uma representação perfeita da grande
mensagem da Bíblia sobre toda a raça humana. Essa é a mensagem do Evangelho cristão, da
Salvação de Deus para o mundo atual, e não há nada mais urgente e relevante do que isso. Aqui,
neste poema, o profeta inicialmente construiu uma figura geral – ele vai detalhá-la mais tarde –,
de forma que possamos ver o que são os homens e as mulheres, e por que são assim. Isaías
mostra também as conseqüências, a única esperança de salvação e a saída.

Qual é o problema do mundo? Por que as coisas estão como estão? A Bíblia, do começo
ao fim, sempre dá esta resposta: primeiro, os homens e as mulheres estão definitivamente com
problemas porque não conhecem a verdade sobre si mesmos, nem crêem nela. Isso soa aos
ouvidos modernos, é claro, como algo ridículo, porque nossa maior jactância é a de que temos
maior conhecimento que qualquer criatura que haja existido antes de nós. Os tolos falam sobre o
novo conhecimento que temos da natureza como o resultado do trabalho de Freud etc. : todas
essas teorias que têm caracterizado nosso século XX. Mas o fato é que o problema principal de
homens e mulheres ainda é que eles são tremendamente ignorantes quanto a si mesmos.

Este foi sempre o problema principal com o povo de Israel. Aqui estava uma nação que
Deus fizera para si próprio. Havia outras nações no mundo, mas, em um certo momento, Deus
escolheu um homem chamado Abrão (ou Abraão), que vivia em Ur dos Caldeus, e o chamou.
Deus lhe disse: "Eu quero falar com você. Tenho uma mensagem para você. Quero fazer de
você uma nação, um povo para mim mesmo." E Ele o fez. Deste modo, a nação de Israel era
distinta de todas as outras nações. Seus constantes problemas deviam-se ao fato de que ela
nunca compreendeu aquela verdade; sempre queria pensar sobre si mesma em termos de outras
nações. Ela não gostava dessa singularidade; não apreciava responsabilidade; não gostava de ter
os Dez Mandamentos e uma lei moral. E se perguntavam: "Por que não podemos fazer o que
todos os outros fazem? Os outros povos não têm que guardar o sábado; eles podem comer tudo
de que gostam, podem casar-se com qualquer um. Por que nós sempre temos que ser
diferentes?" Este era seu problema constante. Eles nunca compreenderam quem eles eram, e sua
singularidade como uma nação e um povo. E este permanece sendo o principal problema da
humanidade. Ela é ignorante quanto à verdade sobre si mesma. Qual é a verdade? A resposta é
dada nesse poema. Os homens e as mulheres foram criados por Deus. Assim como este homem
criou esta vinha para si, Deus fez os homens e as mulheres para si próprio.

Agora, você pode ver de imediato que este é um ponto fundamental. Os homens e as
mulheres são apenas animais? São realmente o resultado da operação de alguma força cega que
exerceu seu poder num protoplasma, que ao final produziu seres humanos? Não existe nada
exterior a eles, nada além deles? Ou seriam eles únicos e absolutamente especiais, criados pelo
Todo-Poderoso para si mesmo, para seu prazer e deleite? Seriam os homens e as mulheres
algum tipo de acidente biológico, ou são eles a coroa da Criação de Deus? A totalidade da
argumentação bíblica afirma que a segunda hipótese é verdadeira.

Mas vamos trabalhar os detalhes, retratados tão perfeitamente neste quadro. Você observa
que o que nos é dito sobre a vinha é o seguinte: "Ele a cercou, limpou-a das pedras e plantou
com as melhores vinhas." Que quadro maravilhoso da criação é este, de Deus, ao fazer o mundo
para a humanidade! O homem na ilustração escolheu a mais promissora colina e, colocando-a
perfeitamente em ordem, "plantou-a com as melhores mudas". Isso é justamente uma figura e
uma parábola do que nos é dito no início de Gênesis sobre a criação dos homens e das mulheres.
"E disse Deus: façamos o homem à nossa imagem e semelhança...": "as melhores mudas"! O
homem não é meramente um animal, seja lá o que você diga sobre o desenvolvimento desse
animal. É claro que o homem tem um corpo e há um tipo de relacionamento com o animal, mas
o que faz o homem homem é esta coisa de 'escolha'. "Deus soprou nas suas narinas o sopro da
vida; e o homem se tornou alma vivente." (Gênesis 2:7). Deus colocou na sua própria natureza –
'a muda escolhida' – algo dEle mesmo, dentro do homem. Os homens e as mulheres são feitos 'à
imagem e semelhança' de Deus.

Eu sempre digo que, se não tivesse outra razão para ser cristão e rejeitar todas as teorias
populares sobre a humanidade, para mim isso seria o suficiente. Todas as outras idéias são um
insulto aos homens e às mulheres; fazem deles algo menor. Entretanto olhe para eles: veja sua
grandeza, sua singularidade, feitos à imagem e semelhança de Deus, com um selo divino sobre
eles, a imagem de Deus na alma!

E agora deixe-me enfatizar uma outra coisa. Deus colocou o homem e a mulher no que é
chamado em Isaías de "uma colina muito fértil". Então, "Ele a cercou e limpou-a das pedras".
Bem, isso é um poema, e as pessoas certamente gostam de ilustrações. Elas dizem que não
podem ler muito ou ouvir longos sermões, mas se entretêm com uma boa ilustração... Ah, elas
adoram uma figura! Então, estou aqui segurando uma figura diante de você. Aqui está o homem
colocado: onde? No Paraíso! "Uma colina fertilíssima"! Um ambiente perfeito.

É da própria essência da argumentação bíblica dizer que no começo este mundo, no qual
nos encontramos, não era o que é hoje. Este é um mundo decaído. Deus fez o homem e a mulher
à sua imagem e os colocou no Paraíso. Essa vinha escolhida foi plantada numa "colina
fertilíssima", no melhor solo imaginável, posicionada para o sul, com tudo que fosse favorável e
designado a estimular o crescimento e a produção. O homem e a mulher foram feitos por Deus e
colocados no Paraíso numa posição de perfeição. Agora, estamos para sempre tentando entender
por que o mundo está como está, e a resposta é que ele se tornou assim, não foi feito assim, não
para ser do jeito que é. Isso está errado; é a Queda; é o mal.

Temos aqui de observar um dos detalhes. O quadro nos conta que ele "construiu uma
torre no meio dela", Que isso significa? Bem, o propósito de se construir uma torre naqueles
antigos vinhedos era este: quando o dono da vinha estivesse ansioso para ir até lá, a fim de olhar
as coisas e observar a maravilhosa colheita que estaria amadurecendo, se ele desejasse passar a
noite ali, então teria a torre, e poderia ficar. Teria, então, oportunidade de fazer suas refeições
nela, dormir; enfim, fazer o que quisesse. Ele construiu a torre no meio da vinha para sua
própria conveniência. Ela também era usada com o propósito de proteção, mas basicamente se
destinava a ter ele oportunidade de passar lá um pouco do seu tempo, desfrutando essa bênção.

Que quadro perfeito é esse, onde nos é contada a origem do homem?! Deus fez o homem
à sua imagem e o colocou no Paraíso, e desceu e conversou com ele, e comungou com ele ali: o
homem era o companheiro de Deus! Essa é a figura que nos é dada. O grande Deus fez o
homem e a mulher para si próprio, não apenas para que usufruíssem companheirismo com Ele,
mas para que Ele mesmo desfrutasse a companhia deles. Ele os fez para sua própria glória, e os
colocou lá no meio do Jardim, no Paraíso. E que esperava deles? Bem, está tudo aqui. Nos
termos do quadro de Isaías, ele esperava que "produzisse uvas"; ou, como na aplicação, ele
procurou "Juízo", que quer dizer julgamento, e procurou por "Justiça", que quer dizer verdade e
uma vida santa.

Isso é, obviamente, um assunto muito vital na atualidade. Quase não se pode pegar um
jornal sem que se leia algo sobre o problema da chamada "nova moralidade". Daí o problema
central diante do mundo moderno: Que é moralidade? Como devemos viver? Algumas das
regras fundamentais de vida estão sendo questionadas neste tempo presente. O casamento é
sagrado; algo para sempre, ou não? Existe lealdade ou não? E não se podem levantar tais
questões sem se trazer à tona a questão fundamental sobre o que é o homem e o que é a mulher.
Eles são, afinal de contas, animais? Deve-se esperar que se comportem como os animais numa
fazenda ou na selva? A promiscuidade na natureza é real. Então, seria ela correta entre os seres
humanos? Bem, se eles são apenas animais, por que não?

A resposta para tudo isso é encontrada na resposta bíblica para a pergunta: Que é o
homem, e que é a mulher? E quando você entender o que eles são, você fará a segunda
pergunta: Eles foram criados para fazer o quê? Como devem viver? A resposta é muito simples.
Deus, ao fazê-los à sua própria imagem, obviamente esperava certas coisas deles. Ele os fez
senhores da Criação. Deste modo, Ele esperava que vivessem de forma diferente do resto da
criação. Os animais vivem pelos instintos e obedecem a eles, o que está certo. Eles são animais;
você não pensaria em corrigir ou açoitar um animal só porque ele se comporta de uma maneira
discriminada e promíscua. Não há nada de errado com isso. Mas será que você espera que um
homem ou uma mulher vivam assim? Não! Ele procurou juízo; ele procurou por justiça; por
julgamento.

Esta é a visão bíblica do homem e da mulher, que, por haverem sido feitos à própria
imagem e semelhança de Deus, são responsáveis diante dEle; são feitos para viver de acordo
com certo padrão; para honrarem a lei de Deus; para serem seus companheiros. Era isso que
Deus esperava de nós. Ele esperava que fôssemos justos, disciplinados, controlados e puros; que
refletíssemos algo da sua glória; que fôssemos mestres de nossas faculdades, em lugar de
sermos governados por elas. É isso que Deus procura: 'juízo" e "justiça". Esses são os modos
que o profeta Isaías nos mostra neste quadro, relembrando-nos a verdade essencial que concerne
aos seres humanos, nossa origem, nossa natureza, para o que fomos criados, e como devemos
viver.

O segundo princípio geral que Isaías apresenta é este: A total irracionalidade da conduta e
do comportamento humanos. Aqui está a questão: "Agora, pois, ó habitantes de Jerusalém, e
homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha." Em outras palavras: ele está
fazendo um apelo à razão, ao entendimento e ao senso comum,

"Olhe aqui" diz o dono da vinha – foi assim que plantei a minha vinha escolhida na mais
fértil colina. Eu dei a ela todas as oportunidades. E digo mais: Julguem com toda a justiça entre
mim e a minha vinha. Venham comigo; constituam-se em júri; dêem seu veredicto sobre a
conduta desta vinha."

E isso é precisamente outra grande argumentação da Bíblia: a absoluta irracionalidade


dos homens e das mulheres em sua vida e seu pecado. Considere o modo como têm vivido e se
comportado, e como estão agindo neste tempo presente. Qual é a causa essencial de todos os
seus males? Aqui está definida numa só palavra: Desobediência! Rebelião! E eu quero mostrar-
lhe a completa irracionalidade disso. Aqui estão o homem e a mulher criados à imagem de Deus
e colocados em um ambiente perfeito, tendo uma vida ideal de comunhão com Ele; feitos para
desfrutar uma vida de retidão e santidade. Que, porém, eles fizeram? Deliberadamente
zombaram da lei de Deus rebelaram-se contra Ele; deram-lhe as costas e seguiram em direção
oposta.

Bem, isso é irracional pela seguinte razão: Que há de errado com o modo de Deus? Que
está errado com o que Deus espera dos homens e das mulheres? Por que será que as pessoas
estão vivendo sem Deus? Por que pensam que são mais sabidas quando zombam das leis de
Deus, cospem nas coisas sagradas e ignoram o ensino do Senhor Jesus Cristo? Por que agem
dessa maneira?
Deixe-me explicar da seguinte forma: Como justificar uma vida agnóstica? Ou, de um
modo mais positivo: Que está errado com a demanda de Deus? "Ele procurou por juízo (...) Ele
procurou retidão". Que há de errado com isso? Diga-me, em nome da razão, qual a sua objeção
aos Dez Mandamentos? Pegue os quatro primeiros: "Adora Deus e só a ele; não te curves a
imagens esculpidas." Existe alguma coisa errada nisso? Por que iriam as pessoas querer curvar-
se diante de imagens? "Não tomes o nome do Senhor teu Deus em vão." Qual sua objeção a
isso? "Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo." Que há de errado em guardar o sábado?
Até mesmo os médicos dizem que é bom separar um dia a cada sete para descansar. Por que não
cultivar a mente e o espírito e pensar na eternidade? Qual a objeção?

Vamos, porém, aos outros seis, aos Mandamentos práticos: "Não mates." Qual é sua
objeção a este? É razoável querer matar? "Não roubes." Oh, isto é irracional, não é? O razoável
é roubar, pegar as coisas e propriedades dos outros? "Honra a teu pai e à tua mãe." Você veio ao
mundo por intermédio deles, e eles cuidaram de você; abriram mão de noites de descanso por
você; não há nada que não façam em seu benefício. Será por acaso irracional pedir-lhe que os
honre?

Veja o que este homem diz: "E agora, ó habitantes de Jerusalém, e homens de Judá,
julguem, eu lhes peço, entre mim e a minha vinha." Onde está a irracionalidade da demanda de
Deus nos Dez Mandamentos? "Não cometas adultério." Será porventura irracional pedir às
pessoas que mantenham seus votos matrimoniais? É errado pedir-lhes que exercitem um pouco
de controle? Será errado pedir a um homem que não cobice a mulher do outro, não aborreça sua
família nem traga destruição e ruína sobre ela? Enfrente isso! O mesmo se diz com relação a
cada um dos pedidos que Deus fez. "Ele procurou por juízo, por retidão." Os Dez
Mandamentos, a lei moral, o Sermão do Monte... Que há de errado neles?

Você não vê que, se todas as pessoas do mundo estivessem seguindo os Dez


Mandamentos e o Sermão do Monte, não haveria o perigo constante de guerra, ninguém estaria
construindo armamentos, nem existiria a tremenda tensão internacional que se observa?
Tampouco enfrentaríamos todos os problemas morais que enfrentamos hoje; não
necessitaríamos de tantas comissões especiais, nem haveria tanta destruição na vida matrimonial
e familiar, com suas misérias e angústias conseqüentes.

Oh, a humanidade está louca! O que vivemos é insanidade, o cúmulo da irracionalidade!


A rebelião dos homens e as mulheres contra Deus, e sua afronta à sua santa lei é o clímax da
irracionalidade. Eles não são animais racionais, e, sim, tolos! Estão-se deixando governar por
seus instintos e desejos, não pela mente e pelo cérebro. Aqui está, em Isaías 5, tudo na forma de
um quadro antigo pintado 800 anos antes do nascimento de Cristo.

O terceiro ponto de Isaías é a perversão, tão característica do comportamento humano.


Ele diz duas vezes: "Ele esperou que ela desse uvas, e ela produziu uvas selvagens (...) Por que
razão, quando eu esperei que ela desse uvas, ela produziu uvas selvagens?" E... "Ele procurou
por juízo, mas eis opressão; por justiça, mas eis um lamento." Isso é perversão. Os homens e as
mulheres estavam produzindo exatamente o oposto do que deveriam produzir. Eles deveriam ser
como uma vinha frutífera, produzindo as mais saborosas uvas em sua doçura e suculência, mas
estão, na verdade, produzindo "uvas selvagens"; e uvas selvagens não são nada boas, não têm
valor algum, não dão sustento, são repugnantes e amargas; são inúteis, uma pretensão e uma
fraude. Elas apenas se parecem com a coisa real. Então, você as coloca na boca para descobrir
que não são, e cospe, enojado.

E não é este um perfeito resumo de tudo o que a vida humana é? Você quer que eu creia
que as pessoas foram feitas para produzir os resultados que estão sendo produzidos hoje? Olhe
para o mundo e catalogue o que ele está dando: embriaguez, roubo, adultério, luxúria,
fornicação, violência, ciúme, rancor, malícia, ódio. É inútil e amargo; é para ser cuspido. Se as
pessoas estivessem em seus sentidos perfeitos, iriam reprová-lo e renunciar a ele. Ó mundo não
está produzindo nada que seja de valor decisivo; apenas fraude, aparência de vida que não é
vida, não passa de uma existência má e inútil. Está tudo neste quadro. "Ele esperou que ela
produzisse uvas e ela produziu uvas selvagens", com toda a sua acidez e amargura. Isso é
perversão. Os homens e as mulheres estão distorcidos. Eles nunca deveriam haver-se
transformado dessa maneira. Eles teriam de ser justos, limpos e santos, produzindo frutos de
justiça para a glória de Deus. Em vez disso, porém, temos vergonha, trevas e imundície em
todos os níveis da sociedade.

Há algo, porém, ainda pior do que isso: a absoluta falta de justificativa da humanidade.
Ouça esta observação de um queixoso: "O que mais poderia ter sido feito por minha vinha, que
eu não tenha feito por ela?" Temos aqui o homem que comprou aquele maravilhoso terreno na
colina fértil, retirou as pedras, cercou-o, protegeu-o e plantou nele a vinha escolhida. Pois ele
não conseguiu nada além de uvas selvagens. Então, ele apela para a razão de todos os passantes.
"Digam-me, se com razão vocês podem convencer-me de haver falhado em alguma coisa?
Afinal, não fiz tudo que deveria ter sido feito por sua segurança e bem-estar? Existe algo mais
que poderia ter feito?" E a resposta é: absolutamente nada.

Isso me leva a afirmar que os homens e as mulheres em pecado e em sua presente


vergonha são totalmente inescusáveis. O que mais Deus poderia ter feito por eles que não tenha
feito? A Bíblia é o relato do que Deus fez por nós. Ele fala a cada um mediante este grande
livro, perguntando-nos: Que mais eu poderia ter feito que não fiz? Ele fez os seres humanos
perfeitos; deu-lhes um ambiente perfeito; desceu e comungou com eles; abençoou-os; deu-lhes
tudo de que necessitavam. Que mais poderia ter-lhes dado?

Foi assim não apenas no começo; Ele continua o mesmo. Ainda quando o homem e a
mulher em sua loucura se rebelaram contra Ele, dando ouvidos ao Diabo, e pecaram, e caíram,
trazendo o caos sobre si mesmos, nem assim Ele os esqueceu. Ele não disse: Muito bem: vocês
fizeram isto, e isso, e aquilo; portanto é o fim. Oh, não! Mesmo quando eles se rebelaram, e
como que cuspiram na Sua face, Deus desceu e eles Lhe ouviram a voz no Jardim, ao cair da
noite. Ele os visitou, e, quando falou simplesmente, os repreendeu, fazendo ao homem e à
mulher a mais gloriosa promessa: "Embora vocês tenham feito isso, e apesar de terem trazido
tudo isso sobre vocês mesmos, eu ainda assim lhes prometo que a semente da mulher ferirá a
cabeça da serpente." (Veja Gênesis, 3:15.) Ele prometeu uma forma de libertação e de salvação.

Leia a grande história do Velho Testamento, e em seguida vá ao Novo, e é isso o que


você encontrará. No Velho, você tem a bondade de Deus para conosco em sua providência. "Ele
faz com que o sol se levante sobre bons e maus, e envia a chuva sobre o justo e o injusto"
(Mateus, 5:45). Deus nos tem dado vida, saúde, força, alimento e vestimenta. Se Ele retirasse
sua providência, tudo entrada em colapso; todos morreríamos de fome e frio. Deus nos mantém
apesar de estarmos em rebeldia contra Ele. Sua bondosa providência não falha!

Ele se desviou de sua trajetória para nos instruir mediante sua santa lei. Ele se preocupa
conosco, embora tenhamos caído e sido desobedientes. O mais impressionante de tudo, porém, é
a paciência e a benevolência de Deus. Ele levantou a nação de Israel; por meio dela falou ao
mundo todo. E veja a sua paciência com eles! Eles foram de encontro a Deus e se meteram em
problemas, mas quando retornaram a Ele, Ele os recebeu. Muitos de nós os teríamos
amaldiçoado por muito menos! Deus, porém, contra quem eles se haviam rebelado, disse: Eu
lhes perdôo! E derramou seu amor sobre eles. Depois eles voltaram a fazer as mesmas coisas,
mas humilhados e arrependidos, e Deus, novamente, os aceitou. Ele faz isso constantemente.
Veja sua longanimidade, paciência, misericórdia e compaixão.

Veja o caso da nação como um todo, e também o caso dos grandes líderes da nação que
erraram e voltaram atrás. Que mais Deus poderia ter feito por Israel?
E agora pense nos avisos que nos tem dado. Os homens e as mulheres – em sua sapiência
– são tentados a dizer: Mas eu não sabia... Como poderia saber? Se ao menos eu houvesse
recebido alguma instrução... algum aviso... Não, isso é mentira. A Bíblia está cheia de avisos.
Deus disse ao homem e à mulher, antes que caíssem, que, se eles fizessem o que lhes proibira
fazer, eles iriam sofrer, e muito! Eles foram avisados. E Deus tem avisado desde então a toda
raça humana. Ele tem avisado não apenas com palavras, mas permitindo que certas coisas lhes
aconteçam. Que mais poderia Ele fazer?

"O que mais poderia ser feito?" eis a pergunta de Deus neste quadro. "Deus amou o
mundo de tal maneira, que deu seu Filho único" (João, 3:16). Sua preocupação com o mundo e
seus habitantes é tão grande que, "Quando a plenitude do tempo veio, Deus mandou seu Filho,
nascido de mulher, debaixo da lei (...)" (Gálatas, 4:4) Ele mandou servos, profetas e professores.
Então, disse: Vou, basicamente, fazer a maior coisa que posso. Não posso fazer nada além disso.
Vou enviar-lhes meu próprio Filho. E assim o fez. O Filho de Deus nasceu como o infante de
Belém. Ele se tornou homem e viveu neste mundo, agüentou a contradição dos pecadores contra
Ele, compartilhou a vida com homens e mulheres comuns e, finalmente, tomou a carga de seus
pecados sobre Si. Ele foi ferido pelas transgressões deles e deu a vida por sua libertação.

Deus esvaziou seu próprio coração, enviando seu único e querido Filho, e "ele, que não
conheceu o pecado, tornou-se pecado por nós" (II Co 5:21). Ele deu seu Filho a ponto de
morrer, enfrentar uma morte cruel e vergonhosa na cruz. Ao apontar para aquela cruz, Ele está
dizendo ao mundo todo: "Creia em meu Filho, e vou perdoar-lhe todos os seus pecados. Vou
apagá-los. Vou reconciliá-lo comigo e dar-lhe uma nova natureza, um novo começo, um novo
nascimento, e colocar meu Espírito Santo dentro de você. Então, vou aperfeiçoá-lo e,
eventualmente, recebê-lo na minha presença na glória eterna. E farei tudo isso sem pedir nada
em troca, esperando apenas que creia em meu Filho. Que mais Deus poderia ter feito? Esta é a
sua pergunta. "Que mais poderia ter sido feito por minha vinha, que eu não tenha feito?" Ele fez
tudo.

Assim, os homens e as mulheres são totalmente inescusáveis. Não adianta falar de suas
fraquezas, da profundidade do seu pecado ou do poder do mal no mundo: eu sei tudo sobre isso.
A salvação de Deus, porém, é mais poderosa, e você é o que é, simplesmente porque não crê
nela. Você não tem desculpa.

E assim só resta uma coisa: o julgamento de Deus sobre os rebeldes, pessoas tolas, que
não apenas quebraram sua lei mas rejeitaram sua graça e sua maravilhosa oferta de Salvação
gratuita. Ouça estas palavras terríveis:

Agora, pois, vos farei saber o que farei com a minha vinha: tirarei a sua sebe para
que sirva de pasto; derrubarei o seu muro, para que seja pisada; deixá-la-ei abandonada.
Não será podada nem sachada, mas crescerão nela sarças e espinhos; darei ordens às
nuvens para que não derramem chuva sobre ela.

Permita-me apresentar uma curta interpretação deste texto. Porque o mundo rejeitou a lei
de Deus, seu Filho e sua oferta gratuita de salvação, Deus retém suas bênçãos. Ele impede as
nuvens de chover sobre a Terra. Você espera ser abençoado por Deus quando recusa suas leis e
rejeita sua oferta de amor em Cristo? Se é assim, então você está louco. O mundo hoje está na
situação em que está porque Deus está retendo suas bênçãos. Ele não tem direito a elas.

Mas Deus não parou por aí. Ele retira sua proteção e suas limitações. "Eu removerei a
cerca, e ela será devorada; e derrubarei o muro, e ela será pisoteada." Neste mundo, estamos
cercados por forças e espíritos malignos, e só Deus é mais poderoso que eles, capaz de fazê-los
recuar e nos proteger. Rejeite Deus e eles atacarão. Pois é o que está acontecendo: eles estão
atacando. Todos os inimigos da humanidade estão atacando com um poder enorme e terrível: as
forças do mal e do pecado, da imundície, da sugestão e da obscenidade. As limitações da
religião se foram, a limitação dada pelo Espírito Santo é retirada, as forças do maligno estão
vindo como uma inundação, e a nossa desordem moral cresce de semana a semana. Deus retirou
sua proteção porque os homens e as mulheres disseram que não precisavam dela.

Mas Deus ainda foi além disso: "Eu vou deixá-la desolada." Ele fará dela um lugar
abandonado. Eu interpreto isso como significando que Deus não permitirá que as pessoas sejam
felizes neste mundo enquanto permanecerem num estado de rebelião. "Não há paz, diz o meu
Deus, para o perverso" (Is 57:21). Assim, o nosso mundo moderno, com sua prosperidade,
sofisticação e conhecimento, é um verdadeiro inferno. Por quê? Deus não permitirá que ele
tenha sucesso; fará dele um lugar abandonado. Ele está fazendo isso diante dos nossos olhos.

A vida não deveria ser assim; ela foi feita para ser como a gloriosa vinha, mas o que
vemos são espinhos e sarças e todo o horror que há neles: o sofrimento, a dor a angústia. Este é
o quadro do mundo moderno. O escritor deste hino colocou tudo aqui:

O orgulho e a glória terrena sua confiança a espada e o templo traíram o que


construiu com cuidado e carinho; torre e templo em poeira tornaram-se. – Joachim
Neander

Assim eu os guiei através deste poema em Isaías, e nós temos visto que é isso o que Deus
está dizendo ao mundo. E como fica o final? Aqui está a mensagem: Só há uma esperança para
o homem e as mulheres individualmente, e só uma esperança coletivamente. É entender a
irracionalidade e a falta de justificativa do pecado, e ir a Deus em penitência e contrição e
confessar-lhe e dizer-lhe: "Eu reconheço que estou totalmente errado. Eu estava enganado sobre
mim mesmo, como também sobre os outros. Entendo que fui criado por Ti, tenho valor para Ti,
não posso viver sem Ti. Reconheço que sou um tolo, agindo como um louco. Senhor, tem
misericórdia de mim !" Arrependa-se! Vá a Ele e confesse tudo!

Então, vá em frente e diga: "Eu ouvi a tua pergunta. Tu disseste: Que mais poderia ter
sido feito além de enviar meu Filho único? E eu respondo: Ó Deus, tu não poderias haver feito
mais nada; fizeste tudo em Cristo. Eu me entrego." E Ele estará esperando, desejoso e pronto
para recebê-lo.
MATERIALISMO

Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais
lugar, e ficam como únicos moradores no meio da terra! A meus ouvidos disse o
SENHOR dos Exércitos: Em verdade, muitas casas ficarão desertas, até as grandes e
belas, sem moradores. E dez jeiras de vinha não darão mais do que um bato, e um ômer
cheio de semente não dará mais do que um efa. (Isaías 5:8-10).

Vimos que Isaías, no seu quinto capítulo, entregou uma mensagem a seus
contemporâneos, os filhos de Israel, na forma de um poema ou quadro. Ele começa
apresentando o caso e depois procede particularizando e ilustrando, de uma forma geral, o que
dissera.

Seu argumento é o de que Israel é um padrão ou exemplar colocado por Deus diante de
toda a raça humana, de forma a transmitir sua grande mensagem de que homens e mulheres, na
sua rebelião contra Deus, são ignorantes quanto à própria natureza, irracionais, perversos e
totalmente inescusáveis. A única esperança para eles é entender tudo isso, antes de que seja
tarde demais; arrepender-se e se voltar para Deus, antes que a sua ira desça sobre eles.

Aqui está o quadro completo, apresentado em poucas palavras. Ao fazer isso, porém, o
profeta continua a nos dar exemplos particulares e ilustrações. Agora, alguém pode muito bem
perguntar: Eles são necessários? Há necessidade de nos importarmos com eles? Por que o
profeta os coloca em termos de seis "ais"? Por que ele se contentou em apenas entregar a
mensagem geral?

Existe muita gente que mantém esse ponto de vista. O mesmo argumento é apresentado
contra um evangelho pessoal. Algumas pessoas não fazem objeção alguma quanto ao evangelho
enquanto estiver no campo geral das idéias, mas, no momento em que se torna pessoal, em que
passa ao campo aplicado, quando começa a fazer pressão sobre elas e a chamá-las a fazer algo,
criam objeção e deixam de gostar dele.

As pessoas, porém, que fazem objeções desse tipo deveriam saber que estão contestando
o método bíblico. A Bíblia nunca se detém em generalidades. Ela sempre vai ao particular, e faz
isso a fim de nos trazer a verdade diretamente, e produzir em nós uma convicção real.

Eu poderia ilustrar isso em muitas diferentes formas. Lembro-me por exemplo, de uma
ocasião em que ouvi um eloqüente homem de Estado fazendo um grande discurso sobre "A
Santidade dos contratos Internacionais". O tema era a importância de uma palavra séria nas
relações. Aqui está um grande princípio. A Grã-Bretanha, naquela época, estava lutando na
Primeira Guerra Mundial, e lutava por este princípio. Ao mesmo tempo, porém, em que aquele
homem era capaz de falar tão eloqüentemente sobre o princípio geral, por outro lado não estava
sendo leal a seu próprio contrato matrimonial. Veja bem: é muito bom ficar entusiasmado com a
santidade de contratos internacionais, e falar em torno de idéias gerais. A questão, porém,
importante é: Você realmente crê na santidade de contratos? A forma mediante a qual se
descobre isso não é pela discussão de princípios e idéias gerais, e, sim, do exame da própria
vida. É muito fácil sentar-se e dizer: "Sim, este é um bom princípio." Mas será que você
realmente concorda com ele? Você mantém os contratos. – no caso presente, o contrato
matrimonial na sua vida e na sua conduta pessoal? Esta é uma das razões para sempre se trazer o
assunto do geral até o particular. O particular nos atinge diretamente. Devemo-nos examinar a
nós mesmos, porque o particular nos leva a fazer isso.

Em segundo lugar, particulares, afinal de contas, são apenas ilustrações do geral. Eles
pertencem ao geral, e são um bom modo de ilustrá-lo. Além disso, nós nem sempre
visualizamos um princípio até que uma ilustração seja dada. "Ah!" – dizemos –, "agora eu
entendi. Eu não conseguia compreender o princípio, mas agora, como você o está colocando
num exemplo concreto como este, posso entender exatamente sobre que você está falando."

Mas há um terceiro valor nesses particulares, para o qual estou especialmente interessado
em atrair a atenção, mediante esta primeira ilustração. É o seguinte: Os particulares, na forma
em que temos aqui, se não fizerem nada mais, pelo menos nos mostram que apesar da passagem
dos séculos os homens e as mulheres continuam essencialmente o que sempre foram. Agora, se
eu construir uma afirmação geral como esta, alguém poderá tomá-la e dizer: "Está muito bem,
mas como você nos prova que as pessoas ainda são o que sempre têm sido?"

Minha resposta é a de que eu descubro que há 2.800 anos o profeta Isaías tomou seis
coisas que estavam palpavelmente erradas na vida de sua nação e na vida de homens e mulheres
em pecado e separados do conhecimento de Deus. Creio que será uma tarefa muito fácil para eu
mostrar que esses são os principais problemas enfrentados por todas as nações do mundo atual.
Os particulares nos ajudam a ver, de uma forma como nada conseguiria mostrar, que o pecado é
ainda pecado, e que os seres humanos ainda são exatamente como sempre foram através de toda
a sua história conhecida e registrada. Em outras palavras: vou mostrar que as características da
vida de então continuam a ser as mesmas da vida atual.

Os particulares são apresentados aqui em forma de 'ais'. "Ai daqueles", diz o profeta. Por
que Deus está preocupado? Por que Deus iria punir a nação de Judá? Se vocês estão em dúvida,
diz o profeta, eu lhes vou contar com mais detalhes. É que vocês são culpados dessas coisas
todas. Esses são os particulares que justificam o veredicto geral de ira e condenação.

Em primeiro lugar, "Ai daqueles que adicionam casa a casa, somam campo a campo, até
que não haja mais lugar, e eles sejam os únicos no meio da Terra! Aos meus ouvidos falou o
Senhor dos Exércitos: na verdade, muitas casas ficarão desertas, mesmo as grandes e belas, sem
habitantes. Sim, dez acres de vinhedos darão um bate" – seus dez acres produzirão apenas a
porção de um dedal. "Um ômer de semente" – em lugar de produzir uma colheita abundante –
"não dará mais do que um efa".

Que é que o profeta está censurando aqui? Referente a que Deus está pronunciando este
"ai"? A resposta é: sobre o materialismo ou mundanismo. Naquela civilização antiga, é claro,
era uma questão de casas e campos. Aquele era o estilo de vida em que eles viviam: Israel era,
acima de tudo, uma comunidade agrícola. Assim são esses pontos apresentados no imaginário
do Velho Testamento, em termos de casas, campos e animais. O princípio, porém, é o que
interessa.

Se não servir para mais nada, serve para mostrar que homens e mulheres continuam a ser
o que sempre foram: o pecado continua sendo pecado; nada mudou. Não há ninguém mais cego
do que a pessoa que diz: Eu não vejo como o Velho Testamento possa estar-se referindo a mim.
Não vê? Eu espero poder mostrar que tem tudo a ver, porque, embora você esteja vivendo nos
dias de hoje, você é exatamente igual ao que eram as pessoas 800 anos antes do nascimento do
Senhor Jesus Cristo. O problema, em primeiro lugar, era materialismo, e nós ainda o
enfrentamos, exatamente como antes.

Evidentemente que nosso estilo de vida mudou. Talvez para a maioria de nós as casas
sejam mais importantes que os campos, mas esta é uma mudança apenas superficial. Agora nós
pensamos mais em termos de dinheiro e daquilo que ele pode comprar: propriedades,
mercadorias enfim, tudo o que se torna nosso como resultado do seu uso. Aqui está a essência
do problema moderno. O Cristianismo é como um artigo barato de liquidação no qual as
pessoas não estão interessadas. Apenas 10% têm algum interesse, e, ainda assim, a metade deles
está em dúvida, para se dizer o mínimo. Qual é o problema com os outros 95%? O problema é
que, exatamente como o povo de Israel deu as costas a Deus, os homens e as mulheres deste
século fizeram o mesmo, mostrando interesse tão-somente em posses materiais.

E, é claro, tudo no mundo promove o materialismo. Ele é encorajado por todos os


partidos políticos. Na verdade, eles fazem isso visando a angariar votos, porque conhecem seus
constituintes muito bem: sabem perfeitamente que o candidato que fizer mais promessas é o que
tem mais possibilidades de se eleger. Não é necessário ser psicólogo para depreender isso. Os
políticos competem uns com os outros, oferecendo mais e mais, e afirmando que a sua oferta é
melhor que a de qualquer outro. E todos dizem a mesma coisa. Eu acuso todos eles de
encorajarem um forte espírito de materialismo, e terem muito pouco interesse em princípios.

Não estou querendo dizer que não deveríamos ter políticos; alguém tem que governar o
país. Que bom seria, porém, se tivéssemos políticos que se preocupassem com a verdade, os
princípios, a moralidade e um viver correto, e não apenas com regras políticas que só induzem à
lascívia e aos desejos materiais ou lúbricos de homens e mulheres! Tudo por nada! Também os
jornais talvez sejam até os maiores culpados de encorajar essa atitude. Por isso mesmo, são uma
das piores influências no mundo, sempre dando a impressão de que a vida gira em torno de
dinheiro e posses: sempre desfilando esse princípio nefasto diante de nossos olhos.

Você encontra exatamente isso em toda a mídia: televisão, rádio e tudo o mais. O mundo
inteiro está pregando o materialismo, porque não está de modo algum interessado no espiritual.
Ele nos diz que temos de nos concentrar nesta vida, no agora e já. O fato é que se julgam muito
inteligentes, ao debocharem de atitudes que parecem "voltadas para o alto", falando sobre coisas
práticas e pessoas que – dizem eles – "têm os pés no chão e a cabeça no lugar". O problema,
porém, não está de fato com os assim acusados de "desligados do mundo". Ele acontece porque
homens e mulheres são fracos, não pensam, não sabem como raciocinar.

Deixe-me provar minha argumentação. Um "ai" foi pronunciado, então vamos examiná-
lo do modo como está revelado. Aqui está a coisa da qual as pessoas se gloriam hoje: a
perspectiva materialista. Quais são as suas características? A primeira que precisamos notar é
sua pequenez. Que vidinha! Imagine identificar a vida com um certo número de casas ou
campos! Mas é isso mesmo o que as pessoas fazem! É dessa forma que elas expressam sua
filosofia de vida, sua visão de si mesmas: ser bem-sucedido é possuir mais e mais!

Há uma ótima ilustração sobre isso na Bíblia; você a encontrará no capítulo 12 do


evangelho de Lucas. Jesus estava pregando um dos seus mais místicos sermões, que jamais
pregara, sobre o relacionamento de homens e mulheres com Deus. Ele estava falando de tempo
e eternidade. Ele os estava prevenindo para que não o negassem, mas, pelo contrário, fossem
verdadeiros com ele. E também os avisava sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo. Aí nós
lemos: "Um do grupo Lhe disse..." – no momento em que Jesus parou como que para tomar ar,
um homem se saiu com esta: "Mestre, fala com meu irmão que divida a herança comigo'. E ele
respondeu: 'Homem, quem me fez juiz ou testamenteiro entre vocês?'" (v.13,14) Então, ele se
voltou para o grupo e disse: "Tomem cuidado com a cobiça; porque a vida de um homem não
consiste da abundância das coisas que ele possui."

Por que o Senhor falou desse modo? A resposta é perfeitamente óbvia. Aqui está Jesus
falando sobre coisas de suma importância, e sobre os grandes mistérios e maravilhas da vida e
da eternidade. E ali está um homem na congregação, cara a cara com o Filho de Deus, sem,
porém, estar realmente ouvindo o que ele diz, por que não? Porque para ele o que importava não
era o relacionamento com Deus e com o céu, a relação da alma com o Espírito Santo, mas uma
herança! Há uma disputa entre ele e seu irmão sobre um terreno ou algumas casas, de forma
que, no momento em que o Senhor faz uma pausa, ele interrompe com seu pedido: "Fala com
meu irmão para que divida a herança comigo."

Então, o Senhor diz: "De fato, você acha que eu vim a este mundo, e estou agüentando
tudo o que estou passando para resolver probleminhas como esta divisão de herança, esta
disputa sobre propriedades e dinheiro? Você acha que eu vim do céu para isso?"

Mas esta é a visão da vida para muitas pessoas. Que determina uma pessoa? O tamanho
da casa, a quantidade de dinheiro no banco, as mercadorias e disponibilidades. Hoje, nós
chamamos isso de "símbolos de status". Isso é o que se supõe que faça uma pessoa parecer
grande.

Que concepção de vida! Que concepção sobre o valor de homens e mulheres! Esta é uma
visão extremamente pequena, abismalmente minúscula! A vida de uma pessoa, o ser e a
existência reduzidos às coisas que podem ser compradas com dinheiro! Mais uma vez, afirmo
que, se eu não tivesse outra razão para ser um cristão, isso já seria o suficiente para mim. A
visão não-cristã da vida faz de nós criaturas minúsculas, porque nos estima e nos julga segundo
aquilo que possuímos, não considerando nada sobre nossa alma, espírito e o que nos liga a Deus
e às possibilidades da eternidade. Ela não sabe nada sobre essas coisas. É um insulto à natureza
humana.

Mas não apenas isso; ela é também totalmente degradante. Nosso Senhor, mais uma vez,
retrata isso perfeitamente. Ele continua dizendo: "Porque onde estiver o teu tesouro, ali estará o
teu coração" (v. 34). Trata-se do mesmo problema: Que vamos comer, que vamos beber, como
nos vamos vestir? Todas essas coisas as nações do mundo - os ímpios – buscam. É claro que
buscam, e sempre buscarão, porque é isso que determina a "vida" deles. De forma que a
competição continua: meu vestido – o vestido da outra mulher; minha casa –, a casa do outro; os
campos, os carros.e todas as outras coisas. E as pessoas não conseguem dormir em razão da
preocupação, da ansiedade, do ciúme, da inveja, da rivalidade e da disputa. Que, na verdade, faz
um homem e uma mulher? Que é a vida? Símbolos de status? O número e o valor das coisas que
possuem?!

Não há nada errado em possuir coisas. A Bíblia não é irracional. Existem coisas que são
necessárias, talvez essenciais, e a Bíblia não as proíbe. Mas, quando você põe seu coração nelas,
quando busca sua identidade mediante elas, e quando não pode viver sem elas, então você se
torna um escravo, é o que diz a Bíblia. As pessoas podem possuir coisas, mas, quando são
possuídas por elas, isso nada mais é do que absoluta escravidão; é totalmente degradante. Nosso
Senhor diz o seguinte sobre isso: "A vida é mais do que comida, e o corpo é mais do que
vestuário" (Lucas, 12:23). A vida é que é, realmente, importante; e a alma. Não a roupa, nem o
alimento, nem a casa, nem os campos, nem as posses.

Mas veja o terrível elemento de cobiça que o profeta enfatiza aqui: "Ai daqueles que
acrescentam casa a casa, campo a campo, até que não haja mais lugar e eles sejam os únicos no
meio da Terra!" Isso é avareza, é claro, nada mais do que cobiça, e, uma vez que você se
envolve com isso, nunca se satisfaz. Este é o sentido da cobiça: uma "afeição desordenada".
Uma afeição, um desejo, está bem, mas, quando se torna desordenado, então está errado;
significa que você é governado e controlado por ele, e nunca se sentirá totalmente satisfeito. A
cobiça caracterizava o povo no tempo de Isaías, e o mundo moderno está hoje cheio dela.

Mas devo enfatizar um aspecto em particular, que é o do egoísmo. "Ai daqueles que
adicionam casa a casa, campo ao campo, até que não haja mais lugar, até que" – note bem –
"eles sejam os únicos no meio da Terra!" Que não haja mais ninguém! "Eu comprei todas as
casas, ou, pelo menos, consegui controlar quase todas, e tenho todos os campos. Sou só eu no
meio de tudo isso; possuo tantas coisas que não vejo mais ninguém; e espero que isso me dê um
pouco de prazer." O cúmulo do egoísmo! Ninguém mais tem valor além de eu mesmo!

Leia outra vez a história da vinha de Nabote (I Reis, 21). O rei Acabe tinha muitos
vinhedos, e havia um homenzinho que só tinha um. Seu nome era Nabote. Sua vinha era uma
propriedade da família. Ele não era um grande proprietário; só tinha essa vinha onde seus pais,
avós e ancestrais haviam trabalhado. O rei queria o lugar porque ficava perto de seu palácio, e
ele planejava transformá-lo num jardim de ervas aromáticas. Mas Nabote, muito justamente,
não estava preparado para vendê-la ou negociá-la, porque a terra fora dada à sua família por
Deus como herança e parte na terra prometida. Vendê-la seria desobedecer à ordem expressa de
Deus. Se assim fizesse, ele estaria quebrando o tratado com Deus (Levítico, 25 :23).

O rei, porém, não conseguia dormir; nem podia comer. Ele estava infeliz, e – como um
bebê – virou a cara para a parede.

Aí veio sua mulher, a sutil Jezabel, e disse: Vamos, aja como um homem. Não é você
quem manda? Eu vou conseguir o terreno para você. Então, ela planejou o assassinato daquele
inocente pobre homem, Nabote. Eles, claro, pensaram que tudo seria maravilhoso. 'Nabote está
morto; vá e aproprie-se da vinha.' E Acabe foi para lá.

Mas quando você lê essa história, veja o veredicto de Deus. O julgamento de Deus se
cumpriu literalmente, com o terrível fim do rei Acabe, e o fim ainda mais terrível de Jezabel,
aquela mulher maquinadora – e maquiavélica, diríamos hoje!

Esta é a história. Mas note o quanto de egoísmo ela envolve. A falha de Acabe de não
considerar ninguém mais além dele. Quem é Nabote? De que valem seus sentimentos pessoais?
De que vale seu orgulho de família? Nada interessa além da minha família, minha
grandeza! Que direito tem Nabote de recusar-se a vender? Eu vou tomá-la!

Este é o problema com o mundo. Este foi exatamente o problema, por exemplo, de Hitler.
Ele o chamou de Lebensraum; esta grande nação alemã precisava de mais espaço para se
expandir, e Hitler não se satisfaria com coisa alguma menos do que o mundo todo. Igualmente,
os assim chamados conquistadores mundiais são motivados pelo mesmo espírito de egoísmo.
Eles não pensam em ninguém mais, a não ser neles mesmos: querem ser os únicos.

Isso não se aplica apenas a tiranos, mas ao indivíduo. Não é esta a maior causa das
disputas trabalhistas? Elas podem ser sempre justificadas? Houve um tempo em que eram mais
do que justas, quando as pessoas ainda não recebiam salários decentes. Eu vivi essa época nos
anos 30. Comecei meu ministério imediatamente depois da greve geral e dos seis meses de
greve dos mineiros em 1926, e vi homens, mulheres e crianças à beira da morte por desnutrição.
Foi um escândalo! Mas não é mais assim. Agora as pessoas, mesmo sendo bem pagas, ainda
fazem greve. Por quê? Mais uma vez, em razão de procura de status. Apesar de ganharem bem,
se alguém ganha mais ainda, então por que não tentar?...

Assim se pode arriscar todo o futuro industrial da nação. Mas que interessa a nação? O
que imporia sou eu, e este é o princípio, o espírito que existe entre os trabalhadores e também
entre os patrões. Vale para ambos os lados. Todos querem o seu. Estamos todos, por natureza,
defendendo interesses pessoais, e tudo não passa de uma manifestação de puro egoísmo. Que
interesse tem o sentimento das outras pessoas? E que importância têm os sentimentos de uma
esposa e dos filhos, se a sensualidade de um homem precisa de ser satisfeita? Daí, as mágoas e
os problemas da vida moderna. O espírito de egoísmo que impera é uma expressão desta
perspectiva ímpio-materialista sobre todos os aspectos da vida.
Mas deixe-me tratar de algo mais importante. Nós vimos a análise do problema pelo
profeta. Qual é, porém, a causa real? Que leva a isso? E a resposta é muito simples: "Aos meus
ouvidos" proclama o profeta – "diz o Senhor dos Exércitos..." (v. 9) O profeta percebe que está
errado; mas como chega a essa conclusão? Ah, Deus sussurrou nos ouvidos dele! Deus falou e o
profeta ouviu ! Ele creu, ele viu o que era o certo, e então passa a mensagem adiante.

Mas o problema com o homem é que ele se esquece de Deus. Deus não está presente em
sua vida mental. Esta é a essência do problema do homem e da mulher modernos, que os leva a
todos os dilemas e infelicidade. Eles se esqueceram de Deus. É aí que está o erro. Muitas
pessoas pensam que estão praticando princípios cristãos. Mas isso não vai adiantar nada se eles
se esquecerem de Deus.

Você pode ver o Sermão da Montanha como um tipo de filosofia e dizer: Temos que
fazer com que patrões e empregados apliquem esses princípios. Não adianta! Se as pessoas não
se lembrarem de Deus, os princípios, por si, não vão funcionar.

Homens e mulheres vêem a si mesmos como seres autônomos. Eles pensam que são o
centro da vida. No momento, porém, em que dão as costas a Deus eles se fazem de deuses:
tornam-se o centro da vida, o centro do universo, os determinantes do próprio destino, seus
donos e senhores. Então, decidem o que é o certo e o errado. E é isso que está acontecendo no
mundo no tempo presente.

Este foi o pecado original do homem. Como já vimos, ele foi colocado neste mundo, no
Paraíso, por Deus. Mas o diabo veio e disse: Deus disse isso?

Sim, disse o homem. Que direito ele tem de dizer alguma coisa? Vamos dar-Lhe as
costas. Nós mesmos decidiremos!

Foi assim que todos os problemas começaram na vida da humanidade. O pecado original
foi o pecado de esquecer Deus. Adão e Eva deram as costas a Ele – daí os problemas. "Aos
meus ouvidos, disse o Senhor dos Exércitos" – e esta é a mensagem da Bíblia e de Deus para o
mundo.

Deus ainda tem o controle. O mundo pertence a Ele e ainda está em suas mãos; nosso
tempo está totalmente em suas mãos. O povo de Israel no livro de Isaías deu as costas a Deus e
passou a viver como se ele não existisse. Mas isso não faz a mínima diferença. Deus é e
permanece o mesmo. Ele está em toda parte e o mundo ainda é seu. Ele se inclina para baixo e
fala. E o que fala é que, visto que o mundo é Seu, a coisa mais importante para nós é saber
alguma coisa sobre Ele. Porque nós nunca conheceremos a nós mesmos até que conheçamos
algo sobre Ele. Só começamos a nos conhecer quando entendemos que somos feitos à imagem
de Deus.

Além disso, Deus revelou seu caráter. Ele é santo, justo e reto. Ele é um Deus de
eqüidade, um Deus justo. "Deus é luz, e nele não há trevas" (I João 1:5). E como Ele é o criador
e controlador do mundo, é também o juiz do mundo. Aqui está uma mensagem para nós. Se
homens e mulheres continuam a viver como se não houvesse Deus, eles se insultam e a própria
natureza; eles se rebaixam, se pervertem, se tornam vis. E o tempo todo Deus os está vendo.
Lembre-se: "Aos meus ouvidos diz o Senhor dos Exércitos" – o Senhor dos exércitos celestiais;
o Senhor e Mestre de todos os seres angelicais, poderes e potestades; o Senhor que é onipotente
e cujo poder não tem limite algum; o Senhor que é absoluto e reina e governa sobre tudo. "O
Senhor reina; tremam os povos" (Salmos 99:1). Esta é a mensagem, seu anúncio. Ele é o Senhor
de poder ilimitado, autoridade e controle. Não há nada que Ele não possa fazer.
Além disto, Ele já declarou a sua vontade. Deus declarou, através dos séculos, que esta
vida de materialismo, de pequenez, egoísmo e cobiça é uma abominação à sua vista. "Não há
paz, disse o meu Deus ao perverso." Você encontrará esta afirmativa duas vezes nesta profecia
de Isaías (em Isaías, 48:22 e 57:21), e eu sinto que esta é uma palavra da qual nossa geração
necessita muitíssimo. Não importa quão inteligente você é, quão capaz ou quão próspero; se
você for mau, você não terá paz. Você pode acrescentar casa a casa, campo a campo, pode
imitar Acabe e Jezabel, mas você não terá paz. O Senhor assim garante.

Agora quero levá-lo um passo adiante. Deus não apenas diz isso, mas atua de acordo com
seu pronunciamento. Assim, o mundo se torna culpado não apenas de esquecimento em relação
a Deus, mas igualmente de esquecimento da história. Quando aprenderemos a partir da história?
Atrás de nós há uma grande história mundial. Então, veja e examine, e tente aprender com ela.
Apesar de Hegel, filósofo alemão, não haver sido cristão, disse: "A História nos ensina que a
História não nos ensina nada." Você pode pensar que as duas grandes guerras mundiais nos
ensinaram alguma coisa, mas elas não nos ensinaram nada.

Os homens e as mulheres são ignorantes da história, porque, se não o fossem, eles se


comportariam de maneira bem diferente. "Ai daqueles" – diz o Senhor dos Exércitos! E é isso
que ele tem dito desde o começo.

A geração anterior ao Dilúvio deu as costas a Deus. "Como era" – diz nosso Senhor – 'nos
dias de Noé..." (Lucas 17:26). "Eles comiam, bebiam, casavam-se, davam-se em casamento, até
o dia em que Noé entrou na arca, e o Dilúvio veio e os destruiu a todos" (Lucas, 17 :27). A raiz
do problema da geração antes do Dilúvio era, na verdade, o materialismo. Deus não importava a
ninguém. Eles Lhe haviam dado as costas; podiam viver melhor sem Ele. E assim, em lugar de
adorarem a Deus, e serem guiados por Ele, estavam comendo e bebendo, casando-se e dando-se
em casamento, exatamente como fazem hoje. Eles não tinham jornais naquele tempo, mas todo
mundo estava falando sobre isso: "casando e dando-se em casamento" : "Esse homem arranjou
outra mulher..." O mundo, antes do Dilúvio, estava cheio desse tipo de coisa. E Deus disse que
isso é abominação: "Toda a imaginação dos pensamentos do coração do homem é
continuamente má" (Gênesis, 6:5). Então, Ele disse: "Eu destruirei o homem" (Gênesis, 6:7) – e
o fez! Isso é História.

Igualmente o mesmo aconteceu em Sodoma e Gomorra. Não preciso de relembrar-lhe: o


próprio nome "Sodoma" fala por si. E Londres é uma Sodoma. Tanto a alta quanto a baixa
sociedades estão vivendo, nos dias de hoje, como em Sodoma. Materialismo! Que vida
maravilhosa! Ló fez essa escolha, achando que estava sendo mais inteligente ao trocar seu tio
Abraão pelas colinas para criar suas ovelhas. Ah, esta vida das cidades nas planícies! Sociedade!
Civilização! Que maravilha! Mas Deus disse o que pensava sobre aquilo e cumpriu o que
dissera. Eu já contei o que aconteceu com Acabe, rei de Israel, e sua mulher Jezabel. Seu crânio
se partiu e o corpo dela foi comido pelos cães. Um final horrível tanto para o marido como para
a mulher!

Esta é a grande história que se desenrola na Bíblia. Grandes nações aparecem – Assíria,
Babilônia – que não criam em Deus mas nelas mesmas e em sua riqueza e poder. Deus viu tudo
isso, e permitiu que elas fossem até um certo ponto, e então "as assoprou", e elas se foram!
Babilônia! Grécia! Onde estão elas? O Egito já foi uma das maiores nações do mundo, com uma
civilização impressionante. Olhe para ela agora, e veja como tem sido através dos séculos.
Roma! Onde está sua grandeza? Grécia! Todos esses grandes impérios! Toda tentativa de
dominação mundial terminou da mesma forma. Tudo está perfeitamente condensado no homem,
que naturalmente falando, foi um grande homem: o imperador Napoleão. Ele saiu a conquistar o
mundo, e onde foi parar? Confinado em uma ilhota no Atlântico Sul! Que resultado diferente
daquele com que sonhara! Que final oposto ao que tanto ambicionara! Não: Deus diz e Deus
faz.
E ele continua a dizer: Deus vai punir esta era materialista. Ele já está fazendo isso;
transforma tudo em desolação.

Homens e mulheres dizem: "Eu vou juntar casa e mais casa, campo e mais campo..."

"Na verdade" – diga isso a eles: diz o Senhor – "muitas casas estarão desertas, até as
grandes e belas, sem habitantes." Suas mansões se tornarão ruínas; não haverá homem ou
mulher lá; os animais e a hera estarão lá; traça e ferrugem estarão lá. Desolação! E Deus fará
isso.

Há uma extraordinária afirmativa sobre tudo isso em Isaías 45:7: "Eu formo, a luz e crio
as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas." Que Ele quer dizer
quando diz que cria o mal? Não é que Ele crie erradamente, mas que permite que venham as
conseqüências más do pecado. Deus diz: Vocês ajuntam campos e casas; eu as tornarei em
desolação.

Quando o homem e a mulher pecaram, Deus amaldiçoou a Terra, e, apesar de todas os


seus frenéticos empreendimentos e organização brilhante, desde então, através de todas as suas
ambiciosas civilizações, eles não podem ver-se livres da maldição os espinhos, a sarça, a traça e
a ferrugem! Então, o Senhor adverte: "Não ajuntem tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem
corrompem, onde os ladrões roubam..." (Mateus 6:19) Isso é a vida neste mundo! Faça o que
você quiser, mas você não poderá impedir que a traça e a ferrugem, sem que se note,
subitamente comecem a fazer seu trabalho insidioso, e o que você construiu seja desolado,
porque Deus amaldiçoou a Terra, e manifesta seu juízo desta forma.

Existem terríveis exemplos disso nos dias de hoje. Um dos maiores medos e ansiedades
de alguns dos cientistas mais proeminentes no mundo de hoje é o medo da fome, o medo de
morrer por desnutrição. Por quê? Existem duas razões principais. Uma é o crescimento
fenomenal da população mundial, o número de bocas a serem alimentadas; a outra é a falta de
alimento – e é aqui que o princípio que estamos considerando se aplica. Uma das grandes causas
deste problema é a erosão do solo, como acontece nas regiões desérticas do continente
americano. As pessoas que foram para lá no passado encontraram um rico solo virgem. Elas
queriam fazer fortuna, então colheram um ano atrás do outro, sem repor nada no solo. Pensavam
que podiam extrair tudo que quisessem, e que isso duraria para o resto da vida! Cortaram, então,
todas as árvores, que eram a proteção natural e fonte de alimento do solo. E acabaram com tudo.
Quanto mais terra melhor! – pensaram. Arranquem os troncos, criemos grandes fazendas e
maravilhosos pastos. Vamos aproveitar tudo que pudermos! E assim fizeram, até que não ficou
mais nada, a não ser poeira: "dustbowls" (regiões desérticas).

E assim, neste maravilhoso século XX, quando homens e mulheres se fizeram, e quando o
conhecimento científico está tão adiantado, nosso maior problema é a fome. Não é irônico? Sim,
mas é apenas o cumprimento da mensagem bíblica. Se você tem terra e começa a juntar mais e
mais sem Deus, verá que seus maravilhosos campos se tornarão assim: "Dez acres de vinhedos
darão um bate" – ridículo! – "e a semente de um ômer" – em lugar de se multiplicar quase que
infinitamente – "dará apenas um efa." Você semeará grandes quantidades, mas o terreno estará
tão desgastado que ficará improdutivo. Essas coisas acontecem! Elas não são como nós
pensávamos que seriam.

Qual é o grande problema nos Estados Unidos hoje? Bem, é o problema racial, Mas como
ele começou? Por que existe um problema racial? Por causa da escravidão! Quiseram fazer
dinheiro rapidamente, e isso se faz quando se tomam outros para serem escravos. Você os
compra por uma miséria e eles fazem o trabalho em troca de nada. Que maravilha! – disseram
aqueles homens há 200 anos, durante a Guerra Civil. Perfeito! Nós vamos ter o trabalho em
troca de nada, e vamos fazer grandes fortunas!
Completou-se o círculo, e a situação do negro é um grande problema hoje. O problema
foi criado pela ambição, pela avareza, pelo materialismo, pelo erro de não se submeterem os
homens total e absolutamente a Deus.

Vemos, assim, um exemplo deste princípio em geral, e, em termos, de países. Mas


também é verdadeiro em termos de indivíduo. "Não há paz, diz meu Deus, para o perverso"
(Isaías 57:21), e se você tentar viver uma vida materialista e banir Deus de seus pensamentos,
você descobrirá que nunca estará satisfeito, nunca. Sempre haverá alguém que tem mais; ou
você sentirá que não está tendo seus direitos respeitados; ou um ladrão assaltará; ou a traça e a
ferrugem corroerão, e você pensará que está perdendo as coisas – e está mesmo –, e aquilo a que
você dá valor não mais conta, sai de moda, e você fica sem 1 centavo. É assim a vida.

Aí, você chega ao fim da vida, e que você tem? Nada! "Nu saí do ventre de minha mãe, e
nu voltarei para lá..." (Jó 1:21). Eu não posso levar essas coisas comigo. Afinal de contas, não
passo de uma alma, mas eu negligenciei a mim mesmo. "Pois que aproveita ao homem ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma?" (Marcos 8:36) Ele não nos permitirá que estejamos
satisfeitos com coisas, porque Ele nos fez para si mesmo, e nós estamos além delas. Deus não
permitirá que assim façamos, porque estaremos nos insultando. Ele assoprará sobre tudo e fará
uma desolação, e no final estaremos sem esperança, e desesperados. "Ai daqueles" – diz Deus, o
Senhor dos Exércitos. É o que ele promete certamente. Ele está fazendo diante de nossos
próprios olhos hoje – nacionalmente, internacionalmente e individualmente.

Existe alguma esperança? Alguma saída? É claro! Foi por isso que Deus mandou o
profeta. Apesar de isso ser verdade sobre nós, de sermos tão tolos a ponto de nos diminuirmos, e
nos insultarmos, e desfigurarmos a imagem de Deus, Ele, em seu grande e glorioso amor, não
nos abandona. Sua mensagem não é apenas uma mensagem de ira; há, também, uma mensagem
de misericórdia. Ele levantou esses profetas para chamar a nação ao arrependimento: para que
repensassem, vissem o que estavam fazendo, e, antes de que fosse tarde demais se voltassem
para Ele e Lhe dessem ouvidos, a fim de que pudessem ser abençoados.

E Ele faz o mesmo conosco hoje. Esta é a sua mensagem para este
mundo moderno, esta era materialista, que já está começando a ver as flores
murchando em suas mãos, e todos os seus refulgentes prêmios se
transformado em objetos baratos. Não gaste seu tempo pensando em coisas;
não insulte a você mesmo dizendo que a vida consiste na abundância de coisas
que possui (Luc. 12:15); não se torne um caçador de símbolos de status. Você
é um homem, uma mulher! Não gaste seu tempo perguntando: "Que vou
comer? Ou: Que vamos beber? Ou: Com que nos vestiremos?" (Mat. 6:31);
nem: "Quantas casas temos conseguido comprar? Quantos terrenos? Qual tipo
de carro podemos ter? De qual loja comprar?..." Não se preocupe com todas
essas coisas que as pessoas vêem como sendo vitais.

Pare! – diz o Filho de Deus. "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça" – busque
isso em primeiro lugar – "e todas as [outras] coisas vos serão acrescentadas" (Mateus
6:33).Você terá suficiente e mais do que suficiente, para satisfazê-lo enquanto estiver neste
mundo; começando por sua alma, estará bem com Deus, e, assim, terá sucesso no seu tempo de
vida, na morre e através das incontáveis eras eternas.

O Filho de Deus veio a este mundo para nos angariar uma grande herança. Quando ele
ressuscitou dos mortos, derrotando todos os nossos inimigos, sabe o que ele fez? De acordo com
o apóstolo Pedro, "Ele nos gerou outra vez para uma viva esperança pela ressurreição de Jesus
Cristo dos mortos (I Pedro 1:3)", "para uma herança incorruptível, pura, e que não se apaga,
reservada nos céus..." por Deus para todos os que crêem em Cristo" (I Pedro 1:4). Se seu
tesouro está neste mundo, quando você morrer você não terá nada. Mas se você "buscar
primeiro o reino de Deus, e sua justiça" receberá a herança, que é incorruptível e indestrutível.
Deixe que o mundo enlouqueça num cataclismo final e se destrua a si mesmo; você sabe que
"Sua vida está escondida com Cristo em Deus" (Colossenses 3:3), e sua herança nunca se
extinguirá.
MANIA DE PRAZER

Ai dos que se levantam pela manhã e seguem a bebedice e continuam até alta
noite, até que o vinho os esquenta! Liras e harpas, tamboris e flautas e vinho há nos seus
banquetes; porém não consideram os feitos do SENHOR, nem olham para as obras das
suas mãos. Portanto, o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento; os seus
nobres terão fome, e a sua multidão se secará de sede. Por isso, a cova aumentou o seu
apetite, abriu a sua boca desmesuradamente; para lá desce a glória de Jerusalém, e o seu
tumulto, e o seu ruído, e quem nesse meio folgava. Então, a gente se abate, e o homem
se avilta; e os olhos dos altivos são humilhados. Mas o SENHOR dos Exércitos é
exaltado em juízo; e Deus, o Santo, é santificado em justiça. Então, os cordeiros
pastarão lá como se no seu pasto; e os nômades se nutrirão dos campos dos ricos lá
abandonados. (Isa. 5:11-17).

Vemos aqui o segundo dos 'ais' pronunciados pelo profeta Isaías sobre seus conterrâneos
e contemporâneos, o que nos leva a considerar a segunda manifestação do problema básico da
raça humana. Por que a ira de Deus permanece sobre o mundo hoje? Por que o mundo está do
jeito que está? Bem, a segunda causa do problema é quase tão grande quanto o materialismo.
São coisas que andam juntas. São diferentes manifestações do mesmo problema fundamental. A
segunda causa é o que descreveremos como 'mania de prazer', imoderação quanto ao prazer! É
isso que vamos considerar nesses versículos.

Aqui, elas são apresentadas particularmente em termos de bebida - "bebida forte" – e


música. Mas é claro que aquilo com que o profeta e toda a mensagem bíblica estão preocupados
não são os prazeres particulares, e, sim, o fato de homens e mulheres serem culpados dessa
mania de prazer. Não é a questão da bebida ou da música, ou seja lá o que for. O importante é
que homens e mulheres estão embriagados pelo prazer, e vivem fanática e exclusivamente para
ele.

É evidente, porém, que até mesmo os detalhes dados pelo profeta sobre o que acontecia
oito séculos antes do nascimento de Cristo ainda são basicamente iguais aos do mundo de hoje.
Não é apenas o beber, mas a bebida – cada vez mais –, e tudo que a acompanha. Qual é um dos
mais populares slogans da era em que vivemos? No que as pessoas que não crêem em Deus, em
Cristo e nas Escrituras, acreditam? Como é essa vida maravilhosa que lhes é oferecida? Não é
essa tão insensata e frivolamente celebrada – "vinho, mulher e música"? Então, a descrição dada
pelo profeta soa curiosamente contemporânea. Ele menciona "banquetes". Isso também é
bastante contemporâneo. Comer! Festejar! Dar festas ! O tipo de vida que está aqui resumida em
pormenores.

Antes que passemos à análise detalhada do profeta sobre essa perspectiva de vida,
podemos notar dois pontos gerais que estão aqui bem na superfície. Você pode ver que Isaías
faz um parêntese para enfatizar que isso é verdadeiro para todas as classes da sociedade. Este é
um ponto muito importante porque é um princípio bíblico o fato de que todos os homens e
mulheres são a mesma coisa para Deus e são culpados dos mesmos pecados. É claro que nós
nos dividimos em grandes e pequenos, ricos e pobres, cultos e ignorantes, marxistas e
capitalistas, e tudo o mais. Isso, porém, é totalmente irrelevante porque você encontra pessoas
em todos esses grupos e partidos fazendo exatamente a mesma coisa.
Veja como o profeta apresenta este ponto. Ele diz: ".,,os seus nobres terão fome e suas
multidões secarão de sede". Você pode dividir a sociedade assim, O mundo faz isso: poucos nos
altos círculos da sociedade e as massas. Veja outra vez no v. 14: "a glória de Jerusalém", quer
dizer: dos grandes homens; os grandes homens da nação são a glória daquela nação – "a sua
glória e sua multidão" outra vez a mesma divisão – "e sua pompa, e aquele que se regozija
descerão para lá [para o inferno]". Da mesma forma no v. 15 ele se mostra preocupado com
isso. "O homem mau será abatido e o poderoso será humilhado." Vale para todos.

A mensagem do Evangelho vale para todos; não reconhece divisões ou distinções. "Não
há grego nem judeu (...) bárbaro, cita, escravo ou homem livre" (Colossenses 3:11),
conservador, liberal, socialista – não importa. Não importa seu país ou a cor da sua pele: "Todos
pecaram"! (Romanos 3:23) Todos são culpados: classes alta, baixa, mau, anônimo ou poderoso.

Este é um ponto tremendo. É por isso que a pessoa que tem uma visão bíblica da vida
julga tudo mais superficial. Algumas pessoas dizem: "É isso o que eu acho; o problema são as
outras pessoas." São sempre os outros! Mas o problema é de todos. Está em todas as classes,
todos os grupos, todos os homens e todas as mulheres. É por isso que tudo o mais se torna
irrelevante: todos os diferentes tipos de divisões. A questão não é totalmente por causa do
trabalhador, nem totalmente por causa dos empregadores. Os dois lados são culpados de,
precisamente, a mesma coisa. Não importa muito se você bebe vodca, uísque, cerveja ou
cachaça; o fato é que você ingere bebida alcoólica. É simplesmente isso.

Em segundo lugar – e isso é estarrecedor, o que mais espantou o profeta –, eles estavam-
se comportando assim num tempo de terríveis problemas. Deus levantou uma sucessão de
profetas para falar a esta nação por causa do seu estado e condição. Eles estavam equivocados
politicamente, militarmente, moralmente, e em muitas outras coisas. Sobre o que lhes acontecia,
estavam vivendo desse modo. Ele apresenta a situação bem claramente:

Ai dos que se levantam cedo de manhã e seguem a bebida forte e continuam até a
madrugada, até que o vinho os inflame! A harpa, a lira, os tamborins e as flautas estão
em seus banquetes; porém, não consideram os feitos do Senhor nem as obras. de suas
mãos.

Para mim, esta é uma das coisas mais espantosas sobre os homens e mulheres em pecado.
Quase todos os dias na primeira página dos jornais populares você encontra exatamente o que o
profeta diz aqui. Você já notou? De um lado você lê sobre uma grande crise – problema em
algum país, talvez uma ameaça de guerra, algo que pode levar a uma calamidade ou alguma
coisa desesperadamente séria –; então, na mesma página, em outra coluna, está impresso algo
totalmente trivial ou fútil, infantil e quase ridículo. Mas está lá na primeira página! Por quê?
Porque, apesar da crise, apesar das circunstâncias, homens e mulheres ainda estão interessados
no prazer.

Você já notou aquela curiosa falta de senso de proporção? Não é novidade, acontecia com
o povo de Israel. Não é apenas Nero que se diverte enquanto Roma pega fogo. Isso sucedeu
durante a Primeira e a Segunda Grandes Guerras. Apesar de que tudo estivesse aparentemente
em perigo, homens e mulheres ainda continuavam a beber, dançar e fazer tudo o mais. Esta é a
coisa mais curiosa sobre as pessoas em pecado: elas são tolas a ponto de pensar que podem
comportar-se deste modo, em tal tempo, sob tais condições e circunstâncias. Não é assombroso
que, com o mundo do jeito que está, com tantos cientistas não-cristãos nos dizendo que ele está
em perigo, tanta proeminência seja dada a coisas que correspondem à descrição apresentada
aqui da vida em Israel, oito séculos antes do nascimento de Cristo?

Esta, então, é a essência do problema, e esta é a coisa que devemos agora confrontar e
juntos analisar. Então, vejamos esta "mania de prazer": não se pode chamá-la de outra coisa.
Quais são as suas características? A primeira que está enfatizada, é claro, é que homens e
mulheres vivem para o prazer – "... se levantam cedo de manhã e seguem a bebida forte e
continuam até a madrugada, até que o vinho os inflame! A característica desta perspectiva é a de
que o prazer se torna a coisa suprema na vida; ele se transforma em um fim e objetivo; é a
própria vida. A busca do prazer! Um tipo de hedonismo, pan-hedonismo, se você preferir; é
mais importante que tudo.

Eu interpreto desta maneira, mas não há nada errado com o prazer. Não pense que o
Cristianismo condena o prazer. Para mim, uma das glórias da mensagem cristã é que ela oferece
alegria, e dá alegria real. O amuado, sorumbático, casmurro, tristonho, desanimado, de cara-
amarrada; o implicante, agressivo, eternamente acusador, sempre mal-humorado não são bons
representantes do verdadeiro cristianismo. Pelo contrário: são péssimos! Os cristãos, de acordo
com o apóstolo Pedro, podem ser descritos em termos de alegria. Seu relacionamento com o
Senhor Jesus Cristo é este: "O qual, apesar de não o termos visto, amamos; no qual, embora
agora não o vejamos, cremos, e nos regozijamos com uma alegria indescritível e cheia de
glória" (I Pedro 1:8). Cristãos, diz o apóstolo Paulo, são pessoas que "se gloriam nas
tribulações" (Romanos 5:3). Quando tudo está indo mal, eles ainda se regozijam. Não há nada
errado com felicidade e prazer. Deus proíbe que alguém confunda moralidade com cristianismo!
Cristianismo não é uma mensagem que nos urge a, nas palavras de Milton, "desprezar prazeres e
viver para o trabalho." Não ! É uma mensagem de liberação, libertação, emancipação, "alegria
indescritível e repleta de glória".

Isso, porém, é algo muito diferente da adoração do prazer, de viver para ele. É diferente
de dizer que o prazer é o supremo final e objetivo da vida e da existência, e que ele vem.
primeiro que qualquer outra coisa. E este era o problema das pessoas no tempo de Isaías; e não é
assim também hoje? .

Este é um problema muito sério. Você sabe o que levou o Império Romano ao "declínio e
queda"? Não foram os exércitos estrangeiros. Eu sei que foram os góticos e os vândalos e outros
que na realidade saquearam Roma e conquistaram o país, mas não foi a sua força e seu heroísmo
que levaram à queda de Roma. Foi a podridão interna que já a havia enfraquecido. E como foi
isso? Simplesmente a mania de prazer. Os cidadãos de Roma passavam o tempo em seus banhos
públicos; eles tinham que ter banheiras douradas, e lá relaxavam tomando sua bebida e ouvindo
música. A cultura do ego! Isso derrubou aquele império poderoso, e tem derrubado muitos
outros impérios desde então. Muitos grandes impérios se desintegraram como resultado da
podridão interna.

Eu me pergunto se não estamos testemunhando um pouco disso nos dias de hoje... A


atitude de muita gente com relação ao trabalho é a de que ele é apenas um meio de fazer
dinheiro para comprar prazer. Onde está o artesão? Onde estão o interesse real e o prazer de
trabalhar? Não, a atitude mudou em todas as classes. Freqüentemente, as pessoas estão na
profissão para fazer dinheiro, e não porque estejam interessadas no seu trabalho ou em descobrir
algo novo, ajudar a humanidade ou ser altruístas. Tudo se torna, como eu disse antes, uma
forma de símbolo de estátuas. E assim o trabalho se transforma em um meio de as pessoas
obterem dinheiro para comprar mais e mais prazer.

Pior ainda: o prazer se tornou um negócio! Esta é uma das grandes tragédias da vida
moderna. As pessoas falam de "esporte", mas não têm nada a ver com o esporte: é negócio.
Homens e mulheres, artistas e atletas, são comprados e vendidos como se fossem escravos. Até
mesmo o prazer se tornou um negócio e um meio de fazer dinheiro. E, se não houver apostas, as
pessoas não apreciam. Elas não parecem apreciar a coisa em si, apenas o que pode "ser feito"
com ela. E, assim, cada vez mais tudo é colocado de lado em prol do prazer; o trabalho é
suspenso no meio da semana para que ao jogo de futebol, possam todos assistirem. Não importa
o país, desde que tenhamos nosso divertimento.
Você pode, assim, ver quão contemporâneas as Escrituras são. E isso é válido não apenas
em relação às nações, mas também a indivíduos. Esta mania de prazer pode tomar conta das
pessoas de tal forma que elas passem a negligenciar seu trabalho, suas profissões, e, até mesmo
sua reputação. O prazer se transforma num poder tão sufocante que elas se deixam controlar por
ele. Já se levantam pela manhã decididas a ir atrás dele, e continuam até à noite. A curtição é o
que interessa, não o trabalho honesto, o trabalho real; não a preocupação com viver uma vida
completa.

Veja, então, a artificialidade desta vida. O profeta expõe isso aqui, assim como a Bíblia o
expõe por todo lado. É preciso que se anuncie, que se escancare esta verdade. A tão falada vida
glamourosa não pode ser mais superficial. Ela é o tipo mais frívolo de existência que pode ser
concebido. Ela não pode ser mantida sem meios artificiais. É produzida artificialmente,
estimulada pela bebida, pela emoção descontrolada, o canto e certos tipos de música. Homens e
mulheres que não se sentem felizes, a não ser que estejam sob a influência da bebida, devem ser
bem tristonhos. Será que não podem ser felizes quando estão em seu estado natural? São
obrigados a ter esses estimulantes para se tornarem sociais, manterem uma conversa animada e
interessante, serem simpáticos e alegres, conseguirem, enfim, divertir-se e divertir e atrair outros
inclusive... Aparentemente: eles não são felizes. Nada pode medir tão bem a tristeza desta era
em que vivemos quanto o modo como a vida é levada adiante à base de estimulantes artificiais.
É uma vida puramente artificial.

Mas deixe-me enfatizar outro elemento: a degradação. Você percebe como a vida é
mantida? Ela depende principalmente de duas coisas. Primeiro, "bebida forte". E qual é a outra
coisa? Bem, é um certo tipo de música, um tipo de ritmo produzido "pela harpa, lira, o
tamborim, e flauta".

Isso também é uma coisa muito séria. Esse tipo de vida só é produzido, e se torna
possível, à custa das mais elevadas faculdades mentais. As pessoas pensam que o álcool é um
estimulante, mas abra qualquer livro de farmacologia e você verá que é um grande depressivo.
O que ele faz é deprimir os centros mais elevados. As pessoas sob sua influência parecem
brilhantes: por quê? Porque estão um pouco menos controladas. É por isso que,
lamentavelmente, elas começam a beber. Elas se sentem um pouco nervosas e apreensivas,
tolhidas e reprimidas. Então, buscam a bebida. Ela elimina aqueles elementos que produzem o
nervosismo, e assim elas se sentem livres. Mas não é um estímulo, e, sim, um bloqueador das
mais elevadas, cuidadosas qualidades e faculdades controladoras do cérebro. Dessa maneira, as
pessoas se tornam mais primitivas. Mas é assim que se vive este tipo de vida que resulta da
mania de prazer. Você alcança isso se drogando mediante drogas ou álcool.

Esse não é, porém, o único modo; a música também faz isso. Um certo tipo de música, é
claro: a música ritmada, que se repete infinitamente até que você começa a se movimentar com
ela. Você já notou como as pessoas fazem isso? A música se inicia e elas começam
movimentando os pés, depois se põem a balançar o corpo. Este é, exatamente, o mesmo tipo de
efeito produzido pelo álcool. Você pode ficar "embriagado" com certos tipos de música quase
que do mesmo modo como pode ficar embriagado pelo álcool: pela repetição rítmica e,
especialmente, pelos movimentos do corpo. Seus centros elevados são bloqueados e você,
gradualmente, entra num tipo de estado de intoxicação. E quando você une os dois – álcool e
música – tem o tipo de vida que está descrito aqui pelo profeta, e que se está tornando cada vez
mais uma característica da vida neste país. É uma vida de gritaria, abandono, loucura, em que
homens e mulheres não mais se controlam nem se comporiam de uma forma decente e humana.
E isso é feito deliberadamente. É brilhantemente organizado. Existem pessoas que apostam
nesse tipo de coisa, que fazem dinheiro com ela, tornando-a popular. E as pessoas, em geral, são
iludidas e se tornam vítimas inocentes.
Finalmente, aparece a palavra "inflamar". "Ai dos que se levantam cedo de manhã e
seguem a bebida forte e continuam até a madrugada, até que o vinho os inflame." Este é um
modo gráfico e poético de se pintar a questão. O que realmente acontece, é claro, é que, em
primeiro lugar os centros elevados do cérebro ficam bloqueados pelo álcool e pela música, e,
então, os instintos e paixões, os desejos e luxúrias tomam o controle, e as pessoas ficam cheias
de fogo. Elas se tornam "inflamadas". E aí acontecem todas as conseqüências inevitáveis.
Homens e mulheres se tornam feras, controlados pelos instintos das partes inferiores de sua
natureza corporal.

Aí está o elemento de degradação. A coisa mais impressionante é que, misturado com


tudo isso, está o que Isaías no v. 15 chama de "os olhos dos altivos". As pessoas que seguem
este tipo de vida pensam que são maravilhosas. Elas se gabam de não ser cristãs. Orgulham-se
de sua forma de viver. Observe na televisão e em outros lugares. Não podem cumprimentar
ninguém sem que estejam segurando um copo! Sempre estão tomando um drinque. Isso é que é
vida: estar "ligada", numa boa! Eles acham maravilhoso. É uma vida de alegria, dizem. Lá vão
eles, ao som da música e demonstrando todos os efeitos da bebida.

Vamos parar por aí. Estas são as horríveis características da vida sem Deus.

Quais são as causas? Elas estão registradas de uma forma bem simples no v. 13: "Assim,
meu povo foi para o cativeiro, porque eles não têm conhecimento." Isaías já havia mencionado
isso no v. 12: "... mas eles não observam a obra do Senhor, nem consideram a operação de suas
mãos". Eles vivem assim porque são ignorantes. "Quê!" – exclama alguém – "Você está dizendo
que as pessoas não são cristãs porque são ignorantes?..."

É precisamente isso que estou dizendo. Não há obra do diabo mais prima do que seu
sucesso em persuadir as pessoas de que é seu conhecimento que as leva a rejeitar o
Cristianismo. Mas exatamente o oposto é que é verdadeiro. O diabo as mantém na ignorância
porque, enquanto permanecerem nela, elas farão o que ele manda. A partir do momento em que
recebem a luz – o Evangelho é chamado de "luz" –, elas passam a enxergar e o abandonam.

Mas elas são ignorantes sobre quê? Deixe-me apresentar algumas das coisas que Isaías
nos diz aqui: "Assim, o meu povo foi para o cativeiro, porque não tem conhecimento." Em
outras palavras: eles não sabem que são o povo de Deus. Este é o eterno problema do povo de
Israel. Eles nunca compreenderam quem são; queriam ser como as outras nações. Eles diziam:
Essas outras nações são nações de muita sorte: seus deuses são muito melhores que o nosso;
eles podem comer o que quiserem; podem casar-se com quem desejarem; podem fazer o que
lhes der na cabeça fazer, durante os sete dias da semana! Nosso Deus nos deu os Dez
Mandamentos, e eles são insuportáveis. Eles queriam ser como os outros; então, deram as costas
a Deus e aceitaram os outros deuses. Nunca entenderam o privilégio de serem o povo de Deus,
um povo único, um povo propriedade especial de Deus, um povo que é como "a menina dos
olhos" para Deus, como ele os chama (Deuteronômio 32:10).

E o verdadeiro problema do mundo hoje ainda se deve a isso: as pessoas não conhecem a
verdade sobre si mesmas; não têm esse conhecimento. Que são os homens e as mulheres? São
apenas máquinas de fazer dinheiro? São animais que devam buscar o prazer? Estão aqui para
ficar bêbados, entregarem-se ao sexo, e endoidecerem com música ritmada? Será que você
percebe? Será que as pessoas foram criadas para se comportarem como se fossem animais numa
fazenda? Seria prazer o "derradeiro fim" para homens e mulheres? Será que eles só estão aqui
para gratificar esse lado? Afinal, é só isso?...

Não, não! O problema com o mundo hoje é que ele não conhece o que é o ser humano.
São ignorantes sobre sua própria origem, sobre sua natureza e seu destino final dentro do
propósito de Deus. "Meu povo!" As pessoas se gloriam hoje no fato de que são animais.
Vangloriam-se da evolução como se fosse um grande elogio. Parecem gostar de pensar que não
são nada além de macacos extremamente desenvolvidos, animais racionais e nada mais. Elas
odeiam a idéia da alma; não crêem em Deus nem na eternidade, Tudo porque são ignorantes
sobre sua própria grandeza.

Que mais elas ignoram? Veja o v, 12: "... mas eles não observam a obra do Senhor, nem
consideram a operação de suas mãos". Que Isaías quer dizer com isto? Ele diz que elas estão
vivendo como se não soubessem nada sobre a obra do Senhor. Também é sobre isso que
homens e mulheres modernos não pensam nunca a respeito, porque nem levam em conta. Eles
não entendem que Deus é o doador de toda coisa boa e todo dom perfeito. Eles parecem pensar
que o Serviço Nacional de Saúde é quem dá a saúde! Mas Deus é quem dá a saúde; Deus é o
doador da vida, da força, do alimento e da vestimenta.As pessoas pensam que fazem tudo, e têm
orgulho de suas invenções, seus instrumentos, suas criações etc. Se Deus, porém, suprimisse o
sol e a chuva, todos morreríamos de inanição.

Os homens e as mulheres não notam a obra de Deus. São ignorantes, só olham para si
mesmos. Não estão cientes da bondade, misericórdia e compaixão de Deus. Não percebem que
Deus "...faz o sol nascer sobre maus e bons e envia a chuva sobre justos e injustos" (Mateus
5:45). Pensam que controlam tudo. Podem até enfrentar a fome, como já vimos; conseguem
enfrentar o desastre, por causa de sua ignorância, porque quebraram as regras de Deus e
violaram as leis da natureza.

Que mais as pessoas não percebem? Elas não percebem que Deus tem operado, não
apenas na providência e na criação, mas na história também. História! Tente explicar a história
deste mundo excluindo Deus! Você não conseguirá. A Bíblia é o melhor livro de história que
existe no mundo. É nas suas páginas que você realmente começa a entender a História. Você vê
que, por trás de todos os homens, reis, príncipes, homens de Estado, e das guerras, há um
propósito de Deus: Deus controla tudo! Mas eles não acreditam nisso. Eles continuam
desafiando. Deus, porém, está aí. Eles se metem em problemas, e por quê? Porque se
esqueceram de Deus, e olvidaram "as obras das suas mãos".

E então, ainda mais: há o fato de que, se você observar o processo da história, chegará à
conclusão de que temos, afinal, um universo moral. Você não pode fazer o que quer neste
mundo. Você não pode ser leviano. Você não pode beber bebida forte indefinidamente sem ter
que pagar o preço por isso. Deus estabeleceu isso como uma lei. "O caminho dos transgressores
é duro" (Provérbios 13:15). O transgressor, porém, não crê nisso. As pessoas que começam a
brincar com o pecado não crêem nisso. Mas este é um fato: se você pecar, você sofrerá.

E o mundo inteiro está sofrendo. O mundo é ignorante: Eles "não observam a obra do
Senhor, nem consideram a operação de suas mãos". Existe uma idéia de que, se há de fato um
Deus, então, no momento em que as pessoas pecarem, Ele irá feri-las. Mas isso não é o que
aprendemos da história de Deus na Bíblia. Nas palavras do poeta Longfellow, o que nós
aprendemos lá é isto: 'Apesar de as pedras do moinho de Deus triturarem devagar, elas, ainda
assim, trituram excessivamente pequeno. O pecado sempre alcança as pessoas. "Tenha certeza
de que o pecado te encontrará" (Números, 32:23). Pode demorar muito, mas chegará ao fim. Por
que você não aprende? Por que não vê? Por que não observa a obra das mãos de Deus e enxerga
o que Ele sempre tem feito?

Isso leva à última coisa – os julgamentos de Deus. A tragédia de Israel era que Deus
estava sempre tendo que trazer um julgamento; estava começando a puni-los, mas eles não
viam. Qual é este julgamento? "O Senhor dos Exércitos será exaltado em juízo, e Deus, o Santo,
será santificado em justiça" (v, 16). A causa do problema é que homens e mulheres não sabem
que estão num universo moral, cujo rei é Deus, e que Deus é o Juiz de todo o mundo, e o julgará
com justiça. Suas características são justiça, santidade, retidão e verdade. Esses são os
parâmetros de Deus, e é assim que Ele queria que homens e mulheres vivessem: não para servir
às suas paixões e aos seus desejos e luxúrias; não para viverem no prazer, mas para buscarem
justiça, santidade, retidão e verdade. Eles foram criados para viverem como seres humanos e
não como animais. Foram criados para serem um reflexo de Deus. É por isso que Deus disse:
"Façamos o homem à nossa imagem" (Gênesis 1:26). Deus o fez senhor sobre a Criação, não
para que ele se comportasse como um animal, mas para que se sobressaísse na glória da
diferença, com uma mente e uma razão, e controle, ordem e dignidade em sua vida. E Deus
julgará homens e mulheres de acordo com isso.

Deus revelou isso através dos séculos. Está tudo revelado aqui na história encontrada na
Bíblia. Está igualmente claro na história subseqüente, e se há uma época em que está claro é
hoje. O julgamento de Deus está sobre este mundo. Eu já disse antes, e repito agora: na minha
opinião, as duas guerras mundiais foram nada mais do que o julgamento de Deus sobre o
mundo.

Ao redor de 1859 – o ano em que Charles Darwin publicou seu famoso livro A Origem
das Espécies – as pessoas começaram a dizer que finalmente podíamos nos livrar de Deus. "O
homem é tudo", afirmaram. "O homem é o centro; Deus não é necessário. Empurrem-no para
dentro do limbo das coisas esquecidas! O homem pode viver sem Deus e construir um mundo
perfeito!" Eles disseram que o mundo estava evoluindo; os poetas cantaram e falaram sobre "O
Parlamento do Homem, a Federação do Mundo". O Conhecimento cresce a cada era, e o século
XX deveria ser o século de ouro. Os homens e as mulheres, em sua auto-suficiência, não
precisam mais de Deus. Se há um século que haja conhecido a manifestação da ira e do
desprazer de Deus em sua justiça, santidade e retidão sobre o pecado da humanidade, este é o
século XX. Você já observou isso? Você está consciente disso? Você sabia que Deus está
falando mediante tudo isso, e nos está advertindo a parar por aqui, antes de que seja tarde
demais?

E isso me leva ao meu último subtítulo: o fim de tudo isso. Para onde tudo isso leva?
Qual é o fim deste tipo de mania de prazer que venho analisando? Qual o veredicto sobre isso
tudo?

Para começar, é um tipo de vida que nunca satisfaz. Se você buscar a vida de prazeres,
nunca terá o bastante, nunca. Se tentar encontrar seu prazer e satisfação em bebida alcoólica,
sempre terá que tomar mais e mais. Comece a tomar drogas, e logo se tornará um viciado;
busque prazer em qualquer forma que signifique falta de controle, abandono de si em prol de
estimulantes artificiais, e nunca ficará satisfeito; procure satisfação no sexo, na luxúria e na
imoralidade e irá de decadência em decadência, até se prostituir por inteiro; até se tornar imundo
e repelente, a ponto de adoecer. A vida sem Deus nunca satisfez a ninguém. Ela é incapaz disto,
porque homens e mulheres são muito mais que isto; muito maiores que isto. Eles são feitos para
Deus, e essas coisas não podem satisfazer a eles. Nada, além de Deus, consegue trazer
satisfação: "Tu nos fizeste para ti, e nossa alma está inquieta até que encontre descanso em ti",
como já dizia Agostinho. Esta é a primeira coisa.

Além disso, porém, viver para o prazer sempre implica uma degeneração progressiva;
sempre leva a uma perda de poder, perda de refinamento e de consideração pelos outros. A vida
se torna mais e mais egoísta quando as pessoas vivem para si próprias e para a busca do próprio
prazer. Elas descartam pais, mães, filhos, todo mundo; o prazer torna-se supremo, e tudo o mais
é abandonado. Oh, que perda de refinamento! Que perda de castidade e de pureza e nobreza! A
mania de prazer sempre leva à perda de todos os poderes mais elevados e das melhores e mais
nobres qualidades.

Há algo, porém, ainda pior esperando por aqueles que vivem essa vida: a humilhação. "O
homem mau será abatido e o poderoso humilhado, e os olhos dos altivos aviltados" (v. 15). A
Bíblia está cheia disto. A história subseqüente está cheia disto. Aqueles que vivem uma vida de
prazer e dão as costas a Deus serão humilhados. A pompa será ridicularizada e reduzida a nada,
"...e a sua glória, sua multidão e sua pompa, e aquele que se regozija, descerão para lá [inferno]"
(v. 14). Olhe para o mundo de hoje com sua pompa e glória, com todo o seu gargalhar e
regozijo, e toda a sua aparente felicidade, essa felicidade artificial, esse artifício, essa coisa
irreal. Mas ele pensa que é maravilhoso; "vinho, mulheres e música" o brilho da vida noturna, a
excitação da luxúria. As grandes cidades: Londres, Paris e Nova Iorque – maravilha! Aqui está a
vida! Está mesmo? Tudo terminará por ser rebaixado e humilhado; a pompa, o êxtase, a emoção
carnal e a suposta felicidade se tornarão em nada.

Deixe-me usar as próprias palavras do nosso abençoado Senhor, que falou sobre isto.
Veja as palavras registradas em Lucas, 6:24,25: "Ai daqueles que são ricos!, pois já receberam
seu consolo." Você, que vive para as riquezas, já está tendo tudo que pode conseguir, mas você
vai morrer um dia e não poderá levar nada com você; você, então, não terá nada. Você já teve "a
sua consolação". "Ai daqueles que estão cheios!" Vocês, festeiros sensuais, comilões e
beberrões; como o salmista traduz: homens maus, "cujos olhos estão salientados pela gordura"
(Salmos 73:7). "Ai daqueles que estão cheios! porque ficarão famintos. Ai daqueles que riem
agora! Porque eles irão chorar e lamentar" (Lucas 6:25). Já vimos algo assim, não é mesmo?

Eu me lembro – e nunca vou esquecer – da primeira semana da Segunda Guerra Mundial,


e do terror e infelicidade das pessoas inteligentes quando estourou a guerra e a ameaça de
bombardeio. Jamais olvidarei aquele domingo de manhã, o primeiro domingo depois da queda
da França, no dia 17 de junho de 1940. Eu estava dirigindo o culto matutino como de costume,
quando vi dois homens que nunca vira antes na congregação. Eu os conhecia fazia bastante
tempo. Sabia que eram zombadores, homens não religiosos. Perplexos, porém, ante a
possibilidade de um colapso geral, eles se humilharam e vieram ouvir a Palavra de Deus. "Ai
daqueles que riem agora!" Quão tolos são os homens e mulheres em pecado! Eles não
raciocinam, não percebem sua ignorância. Seu riso se tornará em choro! E o fim de tudo isto é o
inferno.

Isto está colocado em Isaías como uma imagem gráfica: "Por isso, o inferno aumentou
seu apetite, e abriu a sua boca desmesuradamente, e para lá descerá a glória de Jerusalém e a sua
multidão, e a sua pompa e quem nesse meio folgava" (v. 14).O final daquele tipo de vida! Não
se trata apenas da morte física: é a morte espiritual, o Hades: o sofrimento que há ali; a miséria;
é a destruição eterna sem fim. O grande e o pequeno, e sua multidão, o alto e o baixo, o exaltado
e todos os outros, para baixo vão todos, com toda a sua pompa, para o nada!

O gabar-se da nobreza, a pompa do poder


e toda a beleza, que toda aquela riqueza poderia oferecer
esperam pela hora inevitável.
Os caminhos da glória levam apenas ao túmulo.

Thomas Gray

Então, que esperança existe para tais pessoas? Está tudo aqui. Temos simplesmente que
fazer o oposto do que elas fizeram. Em outras palavras: temos que começar "a observar'. "Mas
eles não observam as obras do Senhor, nem consideram a operação de suas mãos" (v, 12).

Você percebe a verdade desta mensagem? Como o carcereiro de Filipos, você pode dizer:
"O que devo fazer para ser salvo?" (Atos 16:30) Aqui está a resposta. Pare! Comece a "notar a
obra do Senhor"; comece a "considerar o operar de Suas mãos". Pare por um momento. Pare
essa frívola roda-viva de prazer, essa vida tola na qual você se envolveu. Pare esta existência
que se mantém artificialmente. Pare por um momento e pergunte-se, analise a sua vida, indague-
se para onde ela o está levando. Que aconteceu com aqueles que fizeram isso no passado? Onde
isso tudo termina? Observe!

Comece a ler os sinais dos tempos. Veja o que está acontecendo ao seu mundo; veja quais
são as possibilidades. E ao "notar", comece a "considerar" e a tirar suas conclusões.

Isaías se expressa de um modo maravilhoso no final do texto. Quando todos esses outros
forem lançados no inferno, "então os cordeiros comerão lá como se no seu pasto, e os estranhos
se nutrirão dos campos dos ricos lá abandonados" (v. 17). Que mensagem! Qual é a saída? É
tornar-se como uma ovelha. Não ser arrogante, não ser como o homem do século XX, orgulhoso
de sua ciência e conhecimento, levantando-se eretamente sobre os próprios pés, desafiando
Deus e os homens; mas, pelo contrário, tornar-se como uma "ovelha". Não mais a aparência
arrogante de um intelectual, mas a humildade e a mansidão de uma ovelhinha.

Em outras palavras: o caminho da salvação é o caminho das bem-aventuranças


pronunciadas por nosso Senhor e Salvador: "Bem-aventurados os pobres de espírito porque
deles é o Reino dos Céus (...) Bem-aventurados os humildes (...) Bem-aventurados os
misericordiosos (...) Bem-aventurados os que têm sede e fome", não de comida e bebida forte ou
de poderio mundial, mas de justiça "..,porque serão saciados" (Mateus 5:3-7). Eles terão uma
satisfação permanente e real. "...os cordeiros comerão lá como em seu próprio pasto".

Quando os outros se forem, as ovelhas estarão se alimentando em suas cocheiras até à


satisfação completa. Elas terão a satisfação de conhecer Deus como seu Pai, sabendo que não
têm nada a temer, na morte, no túmulo e no julgamento que se segue, conscientes de que
entrarão na gloriosa herança preparada para elas pelo Senhor Jesus Cristo.
O TIRANTE DE CARROÇA

Ai dos que puxam para si a iniqüidade com cordas de injustiça e o pecado, como
com tirantes de carroça, dos que dizem: Apresse-se Deus, faça logo a sua obra, para que
a vejamos; aproxime-se, manifeste-se o conselho do Santo de Israel, para que o
conheçamos. (Isaías 5:18,19)

Examinamos os primeiros dois "ais" pronunciados por Isaías, e agora vamos examinar o
terceiro. O primeiro foi o materialismo do qual o povo de Israel era culpado, e o segundo foi a
mania de prazer. Agora chegamos ao terceiro, apresentados nestes dois versículos
extraordinários.

Estamos interessados neste tópico, não porque sejamos historiadores , nem


porque tenhamos apenas um interesse por antiguidades, e tempo livre suficiente para ler a
história do povo de Israel como lemos as histórias da Grécia ou de Roma; nem mesmo porque
ler história seja uma coisa fascinante e elucidadora. Esta não é em absoluto a nossa posição.
Estamos interessados porque vivemos num mundo cheio de dificuldades e problemas, um
mundo estranhamente similar ao do povo de Israel, quando o profeta Isaías se dirigiu a eles.

Esta é a minha única motivação para chamar a atenção para este texto. Na verdade, minha
proposta fundamental é a de que, desde quando o homem e a mulher se rebelaram contra Deus e
caíram, o mundo tem estado neste estado, e sempre precisa da mesma mensagem. E aqui temos
a mensagem de Deus para este mundo em que nos encontramos, assim como para cada um de
nós como indivíduos.

Quais são nossos problemas? Por que estamos perpetuamente em estado de crise, semana
após semana? Assim que resolvemos um problema, começa outro: é sempre confusão,
discórdia, infelicidade. Isto não acontece só internacionalmente, mas também dentro de uma
nação, a vida é cheia de problemas e dissabores, cheia de dificuldades. E sabemos disto, em
nossa vida pessoal. Mas será que era para ser assim? Qual a causa de tudo isto? Aonde isso tudo
nos levará? Qual o fim de tudo? Seria a história, como Henry Ford I a descreveu: "absurda"?
Não há sentido ou significado nela? Ou podemos enxergar um propósito? Essas são questões
cruciais.

Ainda mais urgente, porém, é saber se alguma coisa pode ser feita a respeito. Existe
alguma esperança para nós em algum lugar? Ainda estamos colocando nossa fé nos oficiais do
Estado? É isso o que nos pedem quando as eleições chegam. Estão sempre nos pedindo que o
façamos... Eu não quero falar contra os políticos, é preciso haver governo e políticos que
governem. Mas eu não acho que existam muitas pessoas em qualquer país que realmente
coloquem sua fé nas ações de algum homem ou alguma mulher de qualquer partido.

Então, não há esperança? Existe alguma coisa que possamos fazer para que nos
desembaracemos de tudo isto e vivamos uma vida digna de ser chamada vida? Estou chamando
sua atenção para isso porque essas questões só podem ser respondidas pela Bíblia, e, em
particular, por este capítulo.

Ou deixe-me enfocar de uma forma totalmente diferente. Nós, que somos cristãos e
pertencemos a igrejas, participamos de algo chamado Santa Ceia. Comparecemos a uma mesa
sobre a qual estão vinho e um pão dividido em pedaços. Participamos dos dois. Por que fazemos
isto? Dizemos: "Celebramos a morte do Senhor até que Ele venha" (I Coríntios 11:26). O
Senhor Jesus Cristo ordenou que seus seguidores fizessem isto. "Façam isto" – Ele disse – "em
memória de mim." Mas espere aí: quem Ele era? Que significa isto? Por que deveríamos
lembrar-nos dEle? Por que trazer à mente esta morte na cruz?

A resposta é a de que este "Jesus de Nazaré" é o eterno Filho de Deus. A afirmativa


bíblica diz que Deus enviou seu filho único a este mundo; que a pessoa eterna se humilhou e
tomou a natureza humana e viveu a vida como homem e morreu de forma cruel em uma cruz
sobre um monte chamado Calvário. Mas por que devemos lembrar isso? Por que ele veio do céu
para a Terra sofrer esta morte? Seus discípulos tentaram impedi-lo; eles disseram: Não vá para
Jerusalém. Herodes está-se preparando para matá-lo. Mas "Ele tomou resolutamente o caminho
de Jerusalém" (Lucas 9:51). Nada poderia pará-lo; Ele foi deliberadamente. Por quê?

Só existe uma resposta para esta pergunta. Era necessário por causa do pecado, porque o
pecado havia reduzido homens e mulheres a um tal estado e condição que nada poderia libertá-
los, nada, com exceção da vinda do Filho de Deus ao mundo e sua morre na cruz. "Eu não me
envergonho do Evangelho de Cristo" – escreveu o apóstolo Paulo – "...porque é o poder de Deus
para a salvação de todo aquele que crê; primeiramente para o judeu e também para o grego''
(Romanos 1 : 16).

Em outras palavras: você não pode concluir nada além disto, a partir da Santa Ceia. Não
existe outro ponto ou propósito na crença de que Jesus é o Filho de Deus e que Ele tinha que
morrer na cruz, a menos que entendamos a verdade sobre nós mesmos como homens e mulheres
em pecado. Em pecado! E por que esta condição – na qual estamos pela própria natureza, e que
manifestamos constantemente na nossa vida diária – está visualizada tão perfeitamente neste
capítulo em que apresento esta mensagem? Por que a cruz? Por causa disto.

Vimos duas manifestações do pecado. Vimos que é um terrível poder que detém homens
e mulheres e os controla, tornando-os escravos em total dependência. Agora, vejamos nos
versículos 18 e 19 a terceira manifestação.

"Ai dos que puxam para si a iniqüidade, arrastando-a com cordas de mentira, e o
pecado com tirantes de carroças, dos que dizem: Apresse-se Deus, faça logo a sua obra,
para que a vejamos; aproxime-se, manifeste-se o conselho do Santo de Israel, para que o
conheçamos!"

Vamos retirar os princípios que estão ensinados aqui.

Note, inicialmente, o deliberado elemento da vontade no pecado. "Ai dos que puxam para
si a iniqüidade", eles se apegam a ela. Esta é uma afirmativa muito interessante, e quero
demonstrar sua relevância para o presente tempo no qual vivemos. Mostrarei mais tarde que há
um tipo de periodicidade na manifestação do pecado. Mas talvez nada seja mais óbvio sobre ela
do que este elemento da vontade, este elemento deliberado: "...arrastando-a com cordas de
mentira".

Quando diz isto, Isaías não está querendo dizer que se trata de uma simples queda
acidental no pecado. Não significa meramente que, enquanto iam inocentemente, uma súbita
tentação sobreveio e, antes de que soubessem onde estavam, eles haviam caído. Isto acontece, e
é repreensível e será punido, mas é ainda pior. O problema com o povo de Israel nesta
conjuntura particular não foi o de que eles estivessem caindo quase inadvertidamente no pecado
por causa da fraqueza da carne, do poder do pecado e da sutileza da tentação: era algo muito
pior. Eles desviavam-se para o pecado, motivavam-se para ele, preparando-se para pecar e indo,
deliberadamente, em sua busca.
Isto é algo com que a Bíblia lida em vários lugares. O apóstolo Paulo diz: "Não façam
provisão para a carne" (Romanos 13:14). Por quê? Porque a carne já é suficientemente má da
forma que é. A "carne", referindo-se à natureza humana, é tão poderosa que você não precisa de
ajudá-la, diz Paulo. Não a alimente. Não lhe dê nenhum tipo de munição ou qualquer tipo de
alimento.

É claro que todos sabemos quão verdadeiro isto é. Enfrentamos uma luta constante contra
"o mundo, a carne e o diabo". Já nascemos num mundo assim. Não importa o que façamos, o
pecado está ali sempre à espera de oportunidades, sempre pronto para atacar. E ele não só nos
ataca mas nos toma muitas vezes por inteiro e nos atira ao chão. As pessoas, porém no tempo de
Isaías estavam na realidade se apegando ao pecado; elas o queriam; elas se desviavam de seus
caminhos a fim de encontrá-lo e produzi-lo; elas o encorajavam. Esta é a acusação que é feita
contra elas neste ponto em particular: que elas se estavam predispondo deliberadamente para
pecar. Elas estavam fazendo provisão para a carne.

A expressão "puxar para si", que Isaías usa aqui, é muito interessante. Carrega o elemento
de deliberação que estou tentando enfatizar. Ou seja: estavam fazendo isto apesar de certas
coisas. Elas tinham que "puxar"; em outras palavras: tinham que reter e, desta forma, aplicar
uma energia. Elas tinham que sobrepujar certas resistências.

Quais eram essas resistências? Bem, o povo de Israel tinha que sobrepujar o ensino que
haviam recebido como povo de Deus. Este era o povo ao qual Deus dera os Dez Mandamentos
por intermédio de seu servo Moisés. Eles não eram ignorantes; não estavam vivendo nas trevas
do paganismo; não eram néscios. Haviam recebido um ensino incomparável sobre como
homens e mulheres deveriam viver: "Não matarás; não roubarás; não cometerás adultério", e
assim por diante (Êxodo 20). Apesar, porém, de todo esse ensino ético, não obstante o fato de
que Deus mesmo os havia instruído, eles estavam contestando, desviando-se para fazer
exatamente aquilo que haviam sido ensinados a não fazer. Estavam desafiando o grande ensino
moral do qual eram os herdeiros.

Mas Isaías 5 é também uma extraordinária e impressionante descrição da vida no mundo


de hoje. Não vemos exatamente isso acontecendo diante de nossos olhos? Costumava haver um
certo padrão de moralidade, mas isto já está sendo hoje ridicularizado, e, até, desprezado, como
sendo "vitoriano" e outras coisas. A grande herança de retidão moral, o ensino moral que
herdamos como cidadãos britânicos ou de outros países estão sendo postos de lado, e homens e
mulheres estão resistindo a tudo que esteja no centro de suas constituições e vida nacional.
Apesar desta herança, estamos-nos apegando à iniqüidade.

O povo de Israel, porém, estava não apenas indo contra a resistência oferecida por seu
singular ensino moral, como, ao mesmo tempo, desafiando a resistência no campo de sua
própria consciência. Queiram as pessoas ou não, existe em cada homem e em cada mulher este
monitor interior: a consciência. O apóstolo Paulo, mais uma vez, diz que as pessoas que nunca
tiveram a lei, como dada por Moisés ao povo de Israel, "mostram o trabalho da lei escrito em
seu coração" (Rom. 2:15). E é por isto que "acusam ou desculpam-se uns aos outros", e a si
mesmos. Todo o mundo tem um senso de moralidade ou retidão moral, de bem e mal, certo e
errado, e, quando somos tentados, então esse monitor diz: Não! Pare! Mediante seu servo Isaías,
Deus estava acusando o povo de Jerusalém de colocar de lado sua consciência, de
deliberadamente reprimi-la e se apegarem à iniqüidade. Em I Timóteo 4:2, o apóstolo Paulo
escreve sobre pessoas que tiveram a consciência "...como que cauterizada com ferro quente".
Elas resistiram tanto à consciência que a mesma está como morta e não mais fala.

Este é um ponto muito importante. Vivemos em uma era, em uma geração na qual
homens e mulheres estão deliberadamente pecando, deliberadamente debochando de tudo que
seja moral, bom; limpo, puro e edificante; deliberadamente se programando para pecar.
Apegando-se ao pecado, apesar de toda a herança moral que receberam.

O segundo elemento de pecado que aparece aqui é seu engano, ou a falta de valor da vida
de pecado. Isaías usa esta expressão: "Ai daqueles que puxam para si a iniqüidade, arrastando-a
com as cordas da mentira." Cordas que nada valem! Mais uma vez, aqui está uma forma
ilustrativa de se colocar um ponto em que a Bíblia apresenta do início ao fim. Isaías está
expondo e ridicularizando o vazio e o vácuo dos argumentos com os quais as pessoas sempre
tentam justificar o tipo de vida que estão vivendo. De acordo com a Bíblia, o pecado sempre usa
argumentos falsos e mentirosos. O pecado é sutil e inteligente, e consegue sucesso porque as
pessoas são facilmente enganáveis.

Esta é a explicação de toda a história da raça humana. Ou não é? Lá atrás no terceiro


capítulo do livro de Gênesis, lemos um relato da tentação de Eva por Satanás e de como, por sua
vez, ela persuadiu Adão a desobedecer a Deus. E a coisa que se destaca sobre a tentação, como
o apóstolo Paulo relembra aos Coríntios, é a sua sutileza: como o Diabo com sua sutileza
"seduziu" Eva (II Coríntios 11:3). Ele se apresentou com argumentos enganosos, que foram
aceitos. O pecado sempre atrai com cordas que, na verdade, não valem nada.

Mas, como eu disse, este é um grande ponto apresentado pela Bíblia, sempre se referindo
ao pecado. O autor da carta aos Hebreus avisa a seus leitores: "ninguém se endureça pelo
engano do pecado" (Hebreus 3:13). Não há nada no mundo mais enganoso do que o pecado. É
exatamente por isto que o mundo está do jeito que está. É por isto que somos tão tolos. É por
isto que não aprendemos com a história. É por isto que, apesar de lermos biografias, elas não
nos ajudam. Vemos a queda de alguém por causa desta ou daquela ação, e logo estamos
fazemos a mesma coisa. É o engano do pecado! "Cordas de mentira!"

Deixe-me resumir tudo com uma ilustração perfeita, no mais vívido quadro já pintado,
sobre este aspecto particular da questão, ou seja, a parábola de nosso Senhor sobre o Filho
Pródigo: um jovem que "atraiu a iniqüidade para si com as cordas da mentira" (Lucas 15:11-32).
Ali estava ele criado junto com seu irmão na casa de seu pai. Ele não poderia haver tido uma
casa melhor ou um pai melhor; e não poderia haver crescido em circunstâncias e condições
melhores. Além disto, suas perspectivas eram excelentes. Ele tinha tudo que um homem poderia
desejar. Deixou, porém, tudo e partiu para um país distante onde tinha certeza de que poderia
viver uma vida maravilhosa. Eventualmente, ele não apenas se transformou num miserável,
como na verdade já estava passando fome, tendo até mesmo que comer as bolotas com as quais
os porcos eram alimentados. Até isto já estava faltando, e ele estava muito mal. O que
possivelmente poderia tê-lo arrastado de uma situação a outra? Só existe uma resposta: o filho
pródigo buscou a iniqüidade para si mesmo, com as cordas da mentira.

Que isso significa? Bem, observe o raciocínio errôneo. O pecado é muito esperto; ele
sempre apresenta suas razões, seus argumentos. O pecado nos conhece muito bem; ele sabe que
gostamos de pensar em nós mesmos como pessoas altamente inteligentes. Então, ele não apenas
nos diz: faça isso, mas nos dá as razões para que façamos, e elas pareçam maravilhosas. Mas o
ponto crucial é que, na realidade, elas são falsas; são vagas e tolas. O raciocínio é sempre falso.
Os argumentos estão sempre errados.

Veja o caso de Eva, como aparece registrado em Gênesis 3. "Deus não disse...?" –
perguntou o tentador. O próprio tom de voz que ele usou deveria haver posto Eva em guarda.
Quando alguém vem até você dizendo: "Será que Deus disse?...", você deve logo desconfiar.
Ninguém deve falar assim de Deus. O Diabo, porém, veio e falou: "Deus não disse que você não
deveria fazer certas coisas no Jardim?"
Eva respondeu, e o Diabo disse: "É claro que você sabe porque Ele disse isto... Deus sabe
perfeitamente que, no momento em que vocês comerem daquela árvore, vocês se tornarão
deuses. Foi por isto que Ele deu a ordem para que não comessem. Ele não quer que vocês se
tornem como deuses; Ele quer mantê-los como subordinados, como vassalos. Ele disse que não
comam porque ele sabe que, no momento em que vocês fizerem isto seus olhos serão abertos, e
vocês entenderão tudo, da mesma forma que Ele. Vocês serão iguais a Ele, e não mais
subservientes. Vocês reinarão. Serão deuses. Comam a fruta!"

Foi o mesmo argumento no caso do Filho Pródigo. "Esta vida aqui em casa" – ele disse –
não está com nada. É isso que é viver? Eu ouvi falar que naquele país estrangeiro eles vivem de
verdade. Mas aqui, ah! existem perspectivas, é claro, mas de uma vida de sujeição ao meu pai e
ao meu irmão que é mais velho que eu. Eu não tenho oportunidades. Não tenho liberdade. Eu
desejo vida. Quero espaço para viver. Eu quero o que é meu !" Assim o filho pródigo raciocinou
consigo mesmo, instigado pelo Diabo.

Isto é típico da argumentação do pecado. Ele vem até nós e diz: "Se você quiser ser
alguém, pare de ler a Bíblia, pare de ir à igreja, comece a fazer isto e aquilo... : é só assim que
você vai deixar a sua marca. Você não é mais uma criança, um bebê: prove que é um adulto!
Mostre o que há em você. Apareça!" Não são estes os argumentos? "Cordas da mentira"!

Ou pode vira nós como "a coisa a fazer". Que argumento! Temos que fazer o que todo
mundo está fazendo. "Se você quiser progredir" – diz novamente o pecado – "tem que fazer isto
ou aquilo."

E outras vezes ele vem e diz: "Não há nenhum mal nisto... Por que você diz que há? Por
que não fazer? Isto é apenas radicalismo! Você está atrasado no tempo. Seja moderno!"

Estes são os argumentos do pecado, e todos falsos. É assim que as pessoas se apegam ao
pecado. Essas são as razões que elas dão: "Vai ser maravilhoso! Vai ser ótimo! Vai ser o
máximo! É assim que se faz..." O pecado nunca nos diz uma palavra do que vamos perder.

Assim, ele não é apenas falso em seus argumentos e raciocínio, mas também nas suas
promessas. Ele nos oferece tudo, mas que nos dá? Aqui está a promessa diabólica, no Jardim do
Éden: "Vocês serão como deuses" (Gênesis 3:5). Mas foi assim mesmo? Passados alguns
momentos eles estavam tremendo e se escondendo atrás das árvores, aterrorizados e alarmados.
O problema se instalou, o caos começou, e continua desde então. "Com as cordas da mentira",
prometendo o mundo inteiro, mas não dando nada; prometendo felicidade, mas nos levando à
desgraça e à tristeza.

Quão triste é uma vida de pecado! Você já não sabe disto? Leia os jornais e verá. A vida
de pecado e vício é terrível, acima de tudo o que se pode definir. Ela não traz felicidade; antes, é
uma vida arruinada e sórdida. Em vez de nos dar as coisas que promete, o pecado rouba-nos
tudo o que há de melhor em nós – a pureza e a honestidade, e um conceito nobre de
humanidade. Ele nos rouba nosso conhecimento de Deus e a possibilidade de relacionamento
com Ele. O pecado oferece tudo e não dá, absolutamente, nada. Ele nos retira as coisas mais
preciosas e, eventualmente, deixa-nos com os porcos e as bolotas.

Não parece tão mau em termos de aparência externa, mas, por dentro, na alma, no
domínio do espírito, não é nada mais que péssimo. Ele nos subtrai tudo e nos deixa sem nada:
de mãos vazias. Tudo por que vivemos nos é impossível levar conosco na morte. E aí estamos
nós, exaustos, acabados, sem nada. O pecado sempre funciona assim: "puxa para si a iniqüidade
com as cordas da mentira".
A próxima afirmativa é, de certo modo, ainda mais chocante. "Ai daqueles que puxam
para si a iniqüidade com as cordas da mentira, e o pecado com tirantes de carroças." Vemos aqui
um grande contraste. Eu me pergunto quantas pessoas ainda sabem o que é um "tirante" de
carroça. Se você sempre viveu na cidade, provavelmente não sabe, mas eu sou velho o
suficiente para lembrar os dias quando carruagens e carroças eram puxadas por cavalos, antes de
que o motor de combustão interna se tornasse de uso comum. Tirantes de carroças! Compridas e
fortes cordas com as quais se amarrava o cavalo à carroça, ou, até mais de um cavalo. Não havia
nada mais grosso e resistente que uma corda de carroça. Se você quisesse algo muito forte para
puxá-la com sua tremenda carga – de feno ou outra coisa que estivesse ali – usaria um tirante.
De acordo com Isaías, esse era o problema com a nação de Israel: ela pecava com uma corda de
carroça.

Que isso significa? Ele está-se referindo, claro, à força do pecado, ao elemento óbvio do
pecado. Ele está mostrando que eles estavam pecando com toda a sua força, gloriando-se nele,
entregando-se a ele. Não era, repito, o caso de um povo caindo inadvertidamente no pecado,
enredado sem perceber. Não, eles se lançaram, os olhos inflamados, e pecaram com toda a
vontade. Não pouparam nada, "com tirantes de carroças". Este é o modo de Isaías descrever o
pecado sem restrições, pecado sem inibições, aberto e bom som.

Existe, claro, um argumento a esta altura: as pessoas não gostam de hipocrisia. Certo.
Concordo com isto. Condene o hipócrita se quiser. Há, porém, algo a ser dito até para o
hipócrita: ele certamente é melhor do que o tipo de pessoa que peca com tirantes de carroça,
porque isso não é apenas pecar, mas ostentar o pecado, o que é ir além. É pecar de tal modo que,
como Jeremias expressa: "...e nem sabem ficar envergonhados" (Jeremias 6:15). Há uma
completa ausência de vergonha; eles são óbvios, e eles se gabam dele; não conseguem
satisfazer-se, e o fazem com toda a força e vontade.

Não vivemos em uma era que carrega esta culpa? Veja como tudo se organiza hoje. Veja
a falta de decoro em tantas coisas. Olhe para a tela de sua televisão e verá o pecado
desavergonhado. Nada é poupado. Eles expõem tudo e pecam com toda a energia do seu ser e
toda a inteligência de que possam dispor; pecam com tirantes de carroça. Eles até parecem estar
rivalizando e competindo uns com os outros em relação à profundidade a que conseguem
descer. Não há decência, vergonha ou tristeza pelo pecado; tentativa alguma de disfarçá-lo. Está
tudo exposto. O profeta Isaías descreve o século XX tão precisamente quanto descreveu a
condição do povo de Israel.

Mas vamos ao último ponto, o desafio, a arrogância, a blasfêmia, o elemento insano do


pecado. Ouça: "Ai deles (...) que dizem, apresse-se ele." Lembre-se que eles estavam falando
sobre Deus. "...e faça depressa a sua obra." Já vimos, antes, uma referência a esta obra. Diz-se
deste povo: "Eles não vêem a obra do Senhor, nem consideram a operação de suas mãos" (v.
12). Consideramos isto no v. 2, mas aqui eles vão além: não apenas pensam na obra de Deus,
mas a desafiam. Eles se levantam e dizem: "Apresse-se ele e faça depressa a sua obra, para que
a vejamos; aproxime-se, manifeste-se o conselho do Santo de Israel, para que o conheçamos!"

Esta é uma situação terrível. Você percebe a blasfêmia? Eles tomam o nome de Deus em
vão! Com efeito, dizem ao profeta: Você está sempre falando do Santo de Israel. Então, que ele
se aproxime e faça o que tem que fazer: seu Santo de Israel! Eles se referem a Deus com
sarcasmo, com deboche, com amargura e desprezo. É assim que falam do Senhor Deus Todo-
Poderoso! Não apenas tomam seu nome em vão, mas fazem referências debochadas à sua obra.
O profeta os faz relembrar como Deus os ameaçou, o que disse que iria fazer quando homens e
mulheres vivessem aquele tipo de vida. E eles dizem: "Apresse-se ele então...Você está-nos
transmitindo a Palavra de Deus. Então, deixe que ele execute a sua palavra." São referências
desrespeitosas sobre a Palavra de Deus, seu ensino moral, suas ameaças, seus julgamentos, sua
revelação de si mesmo, e seu propósito santo.
Mas a mais terrível de todas as coisas – e é aí que o pecado se revela em pura loucura e
insanidade – é o desafio ao poder de Deus, e a incitação para que Deus faça o pior. "O Santo de
Israel" – dizem eles – "...você está dizendo que Ele é o Juiz do mundo, que vai punir o mundo e
julgá-lo com justiça. Muito bem, por que Ele está hesitando? Por que está esperando? Por que
não faz logo? O seu Santo de Israel, onde está Ele?"

Deixe-me apresentar tudo isto numa forma mais atual, pois esta – é o que me parece – é a
condição de muitas pessoas. Deus, sua lei e seu Evangelho têm sido ridicularizados. Deus, para
muitos, é nada mais do que um termo com o qual eles amaldiçoam ou expressam algum tipo de
juramento. Eles usam o nome de Deus em suas conversas comuns e o fazem com deboche. Eles
não crêem em seu Livro; não crêem, em hipótese alguma, que ele exista. São pessoas sem Deus,
que já O baniram de seus pensamentos; eles O tratam e a tudo que se refere a Deus com extremo
desprezo e escárnio. Ele é a piada das pessoas inteligentes. Sóbrios ou embriagados, não faz
diferença, eles blasfemam seu nome. Você vê isso mesmo nas conversas. Houve uma época em
que as pessoas não faziam isso. Sabemos que certas pessoas não conseguem falar sem xingar,
blasfemar ou usar juras. Nós as ouvíamos, mas não repetíamos suas palavras. Agora, porém,
esses adjetivos e epítetos são usados publicamente, e a blasfêmia e tudo isto está-se tornando,
cada dia mais, desavergonhado e arrogante entre nós.

Mas não apenas isto. Eles desafiam Deus em conjunto. Eles se levantam diante dEle e
dizem, como aquelas pessoas diziam: "Se existe um Deus, então deixe que Ele faça alguma
coisa. Vocês pregadores dizem que Deus vai julgar o mundo e puni-lo, mas eu tenho vivido uma
vida de desafio a Ele e nada me tem acontecido. Se Ele é Deus, por que não mostra? Se tem
poder, por que não o revela? Quero vê-Lo fazer o pior"...

Era isso que o povo de Israel estava dizendo. É o tipo de conversa que você encontra
registrada na segunda epístola de Pedro. Pedro profetizou que nos últimos tempos eles se
levantariam e diriam a mesma coisa outra vez: "Onde está a promessa da sua volta?" (II Pedro,
3:4) Vocês cristãos, vocês que crêem na Bíblia, vocês dizem que crêem em Deus e que Deus irá
julgar o mundo, mas onde está a promessa da sua volta? Vocês dizem que Ele vai enviar seu
Filho outra vez ao mundo para julgá-lo com retidão e destruir o mal e estabelecer seu glorioso
reino, mas onde está Ele? Os séculos estão passando e não há sinal de sua volta. É bobagem, é
fantasia, conto-de-fadas. Não é verdade. Deus não existe e não vai acontecer nada.Vamos pecar
e viver como quisermos."

Este é o argumento, e é assim que a humanidade se tem comportado em certos períodos


terríveis na história da raça humana. Eles têm-se levantado e desafiado Deus para que faça o
pior.

"Nós não temos medo de Deus! Vocês têm medo. Sua religião é uma questão de medo.
Vocês não são homens de verdade. Vocês não são nada mais do que almas encolhidas de medo.
Por que não tentam ser fortes, se levantam e dizem: 'Não existe Deus; ele não pode fazer nada?'
O mundo todo está nas mãos dos homens e mulheres, e não há nada a temer. Expresse-se, viva
sua própria vida, aproveite e tenha sua porção de prazer."

Este é o argumento muito proeminente nos dias de hoje. Tem sido gritado sobre nós pela
mídia.

Mas existem terríveis avisos contra este tipo de coisa nas Escrituras. Havia certas pessoas,
quando Jesus estava aqui neste mundo, que diziam coisas similares: Pilatos fora avisado pela
esposa que não se envolvesse na condenação do Senhor Jesus Cristo. Ela disse: "Eu tive um
sonho sobre este homem. Não faça nada!" E Pilatos fez o que pôde para libertá-lo. Contudo, os
judeus não permitiram. Eles disseram: "Não! Levem este homem. Crucifiquem-no. Dêem-nos
Barrabás." Então:
Quando Pilatos viu que não conseguia, mas que um tumulto se formava, tomou
água e lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Eu sou inocente do sangue deste
justo: A responsabilidade é vossa. Então, o povo respondeu e disse: O seu sangue seja
sobre nós e nossos filhos" (Mateus 27:24,25).

"Não estamos com medo", foi o que eles disseram. "Vós, Governador romano Pilatos,
pareceis estar com medo; lavais vossas mãos e dizeis: a responsabilidade é vossa. Está bem, nós
certamente estamos prontos a tomar a responsabilidade; não temos medo. Seu sangue seja sobre
nós, e sobre nossos filhos. Que venha o pior."

Eles disseram as mesmas coisas que Isaías acusou seus contemporâneos de dizerem.

Foi o que disseram por volta do ano 33 A.D, e, então, no ano 70 A.D., quando os
exércitos romanos cercaram Jerusalém e a saquearam, mataram esses mesmos judeus que
haviam dito: "Seu sangue seja sobre nós." E veio sobre eles, sua cidade foi arrasada até o chão e
eles foram expulsos da Palestina, espalhados entre as nações, onde a vasta maioria ainda está. O
sangue de Cristo tem vindo sobre os judeus através dos séculos. Eles pediram, e assim sucedeu.

No tempo de Isaías, o povo de Israel também sofreu. Isaías havia avisado, mas eles não
ouviram. E, então, veio o dia em que o exército caldeu cercou a cidade e ela foi destruída. Eles
haviam dito: Se Deus pode fazer alguma coisa, que faça. E Ele fez.

Minha mensagem é a de que Deus é ainda o mesmo. Está tudo no terceiro capítulo da
segunda epístola de Pedro. Os zombadores se levantam e dizem: "Onde está a promessa de sua
volta? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas continuam como eram no começo da
Criação." Aqui está a resposta:

Há, contudo, tina coisa, amados, que não deveis esquecer: é que para o Senhor um
dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não tarda a cumprir a sua
promessa, como pensam alguns, entendendo que há demora; o que ele está é usando de
paciência convosco, porque não quer que ninguém se perca, mas que todos venham a
converter-se. O Dia do Senhor chegará como ladrão, e então os céus se desfarão com
estrondo, os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão e a Terra, juntamente
com suas obras, será consumida. (II Pedro 3:8-10)

Está chegando! Deus agirá!

Mas lembre-se: Ele não age imediatamente; para o Senhor, mil anos são como um dia, e
um dia como mil anos. Sobre esta presente geração, e sobre todas as outras gerações que
blasfemaram e ridicularizaram sua palavra e suas leis, seu poder será manifesto, e eles verão sua
obra e sentirão seu poder: "Os céus se desfarão com estrondo (...) E todo mal e pecado serão
lançados num lago de destruição e perdição." Oh, que blasfêmia! Quanta arrogância e loucura
de homens e mulheres em pecado! É por isso que o mundo está do jeito em que se encontra.

Pode-se fazer alguma coisa por essas pessoas, que aí estão, que se apegam à iniqüidade
com toda a força? Existe esperança? Bem, graças a Deus que existe. Existe apenas uma
esperança, e é que o poder de Deus é maior que o poder do pecado, do Diabo e do inferno. O
pecado e o Diabo nos envolvem e fazem com que nos apeguemos à iniqüidade com tirantes de
carroça. Homens e mulheres não podem livrar-se. O poder de Deus, porém, pode.
Ouça como Deus fala pelo profeta Oséias: "Eu te atraí com cordas humanas, com laços de
amor (...)" (Oséias 11:4) Aqui está a única esperança, o poder de atração de Deus, que é maior
que o poder de atração do pecado. O pecado atrai com cordas de carroça; Deus atrai com laços
de amor e cordas humanas! "Ninguém pode vir a mim, exceto aqueles a quem o Pai me enviar"
(João 6:44). Esta é, na verdade, nossa única esperança.

Qual é a esperança? É a de que Deus é capaz de nos retirar das trevas para sua
maravilhosa luz! Isto é o Evangelho. "O poder de Deus para salvação de todo o que crê"
(Romanos 1:16). Ele pode atrair-nos para Ele próprio. Ele o faz em Cristo, que disse: "Eu,
quando for levantado da Terra, atrairei todos os homens a mim" (João 12:32). Estas são as
abençoadas boas notícias para este mundo mau, onde o pecado nos está atraindo cada vez mais
poderosamente. Mas Deus é ainda mais poderoso: ao morrer na cruz e dar seu corpo para ser
partido e seu sangue para ser derramado, Cristo estava liberando um poder suficientemente
grande para tornar o imundo, limpo. "Cristo crucificado (...) o poder de Deus, e a sabedoria de
Deus" (I Coríntios 1:23,24). Aí está. Ele "atrai". E, se ele não nos atraísse, estaríamos todos
condenados, carregados para o inferno pelo pecado com tirantes de carroças.

E, à luz deste poder de atração da cruz de Cristo, podemos dizer o que diz o profeta Isaías
no capítulo 12: "Deste modo, com alegria retiraremos água dos poços da salvação" (Isaías 12:3).

Você, que está apegado ao pecado, beba dos poços da salvação abertos no monte
Calvário. Se você gastou o tempo da sua vida apegado à iniqüidade com as cordas da mentira e
com tirantes de carroças, eu digo agora: "Chegue-se a Deus e ele se chegará a você" (Tiago 4:8).
PERVERSÃO MORAL

Ai daqueles que ao mal chamam bem e ao bem, mal, dos que transformam as
trevas em luz e a luz em trevas; que mudam o amargo em doce e o doce em amargo!
(Isaías 5:20)

É da essência do entendimento desta mensagem – tanto do capítulo todo quanto do v. 20


em particular – que nós entendemos que era uma mensagem para o período em que foi dada. O
profeta, deixe-me lembrar-lhe, foi levantado por Deus para dirigir-se aos seus contemporâneos,
à nação de Judá, em tempos particularmente sérios. Esta nação existira por muitos anos. Criada
por Abraão, agora, no século VIII antes de Cristo, as coisas estavam começando a ir mal,
perigosamente erradas. A nação estava face a face com a calamidade, e Deus levantara um
profeta para avisar ao povo que, se não se arrependessem, não se voltassem para Deus, não
teriam nada além de ruína.

Mas como já vimos, estamos vivendo em uma era e em uma geração que corresponde
muito exatamente à que está descrita aqui. Além disto, de acordo com o ensino da Bíblia,
homens e mulheres, desde que caíram e desobedeceram a Deus, têm sempre sido pecadores em
todas as eras e em todas as gerações. Mas – este é o princípio – existem épocas e tempos quando
eles se tornam excepcionalmente pecadores, ou quando seu pecado fica particularmente
evidente.

Não se pode ler a Bíblia – um livro de história e ao mesmo tempo de grandes


ensinamentos – sem notar que existe um extraordinário tipo de periodicidade a esse respeito.
Você encontrará eras em que os israelitas estavam certamente vivendo uma vida não perfeita,
mas ainda assim comparativamente bem. Existem, porém, outros pecados relevantes quando,
como já vimos, eles pecaram violentamente, com tirantes de carroças, e a situação se tornou
desesperadora. Em outras palavras: às vezes o pecado parecia levar a um terrível clímax; e
àquele clímax, invariavelmente, seguia-se a calamidade.

Ao dizer isto estou fazendo uma simples observação histórica. Nota-se esse tipo de curva
no gráfico da história da humanidade, quando se lêem o Velho e o Novo Testamentos, e
exatamente o mesmo é encontrado quando se segue a subseqüente história da humanidade.
Tome, por exemplo, o relato que a Bíblia faz da destruição do mundo pelo Dilúvio. Isto é o que
ela nos diz. O filho de Adão e Eva, Caim, começou a pecar; sua descendência continuou do
mesmo modo, e, assim, o pecado foi aumentando. Ele alcançou um ponto tal, tornando-se tão
feio e repulsivo que Deus falou à raça humana: "Meu Espírito não contenderá com o homem"
(Gênesis 6:3). Então, ele levantou um homem, Noé, para avisar à humanidade que, se eles não
se arrependessem, seu mundo seria destruído. Aquela geração era formada pelos que pecavam
com toda a vontade, desafiando Deus com uma arrogância incomparável. A isto se seguiu a
calamidade do Dilúvio.

Outro exemplo tem relação com a Torre de Babel. Ali, outra vez o pecado da humanidade
alcançou tais proporções que Deus desceu e confundiu suas línguas, destruindo a Torre que eles
estavam tentando erigir. Novamente, isto levou a uma situação desastrosa. E aqui, nesta parte do
livro de Isaías que estamos considerando, temos outro exemplo notável da mesma coisa. Aqui,
estava Judá pecando do modo que Isaías descreve, levando a uma orgia final, e, novamente,
seguido de calamidade. Os caldeus e os babilônios se levantaram, reuniram seus exércitos,
vieram e saquearam a cidade de Jerusalém, levando a maioria dos judeus como escravos para a
Babilônia. Esse terrível período de pecado, mais uma vez, levou a uma tremenda calamidade.

Vê-se exatamente a mesma coisa no tempo de Jesus Cristo. Os judeus novamente


começaram a pecar de um modo excepcional. Apesar dos avisos de João Batista, e dos avisos do
próprio Filho de Deus, eles não deram ouvidos. Não obstante a subseqüente pregação dos
apóstolos, continuaram, desesperadamente, em pecado, e, mais uma vez, isso levou exatamente
ao mesmo resultado. No ano 70 A.D. o exército romano cercou a cidade de Jerusalém,
conquistou-a e saqueou-a, arrasando-a até os alicerces, e os judeus, como nação, foram
espalhados entre as outras nações.

Essas são ilustrações deste princípio claramente ensinado na Bíblia, de que, embora
homens e mulheres sejam sempre pecadores, existem tempos em que o pecado excede a si
próprio. A situação enlouquece, e as pessoas pecam de uma forma tão desesperada, desafiando
Deus em uma arrogância tão blasfema, que isto as leva a um período que chega a ser
indescritível em seu horror. A Bíblia nos ensina que, nesses tempos, Deus retira seu poder,
permitindo que os seres humanos se afundem em sua iniqüidade, e então os visita com punição
na forma de um terrível desastre. Ele, porém, nunca faz isto sem, antes, avisar. Ele sempre envia
seus profetas, seus mensageiros para falarem ao povo individual e coletivamente.

Nesses tempos, nada é mais proeminente no comportamento da raça humana do que o


elemento revelado neste versículo que estamos examinando: o elemento da perversão moral:
"Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal; dos que transformam as trevas em luz e a luz
em trevas; dos que mudam o amargo em doce e o doce em amargo!" Em todos esses períodos na
história da humanidade, quando o pecado toma conta, esta é, invariavelmente, a característica
mais pronunciada. E ela se apresenta diante de nós forçosamente aqui, neste versículo. E é
assim, infelizmente, porque este é o elemento mais proeminente na vida do mundo moderno
para o qual estou chamando a sua atenção.

À luz do que é demonstrado tão claramente pela história, existe alguma coisa que requeira
nossa consideração tão urgente? Alguma coisa mais imporia diante disto? Ao lado disto, que
significado tem a maior conferência entre homens de Estado? Se isso é verdadeiro, então
estamos numa posição desesperada. Se a lei da história é verdadeira, a menos que nos
arrependamos e nos voltemos para Deus, só há um final: calamidade. Então, vamos examinar o
ensino das Escrituras com relação a este assunto.

Em primeiro lugar, devemos considerar as características desta situação. O princípio é


sempre o mesmo, mas quero colocá-lo particularmente na sua expressão moderna. Pecado é
sempre pecado, mas existem graus de pecado. Ele pode aparecer em diferentes formas e
aparências. Algumas vezes, homens e mulheres pecam e ficam envergonhados. Esta é uma
situação de pecado. Mas existem outras ocasiões, como já vimos no nosso estudo prévio,
quando as pessoas não mais sentem vergonha; elas pecam abertamente; elas orgulham-se do
pecado e, até mesmo, gabam-se dele. Esta é uma condição diferente.

Existe, porém, algo além disto. Épocas há, nas quais as pessoas não parecem ter
absolutamente nenhum senso de moral. Isto é válido não apenas de uma forma geral mas,
também, individual. Todos conhecemos indivíduos que pecaram e estão envergonhados. Espero
que todos experimentemos essa vergonha. Também conhecemos aqueles que pecaram e não
estão envergonhados. E podemos, até, conhecer indivíduos que perderam por completo seu
senso de moral, que não parecem saber a diferença entre o certo e o errado. Eles são amorais,
imorais.

Mas existe algo ainda pior que isso – e é o que está descrito neste versículo –, a saber: a
condição de perversão. Porque ser pervertido é pior que ser imoral. Ser imoral é, de alguma
forma, ser negativo, mas os pervertidos foram além da imoralidade e estão em uma posição na
qual revertem moralidade e colocam mal por bem, e bem por mal; trevas por luz e luz por
trevas; amargo por doce e doce por amargo. Esta é uma posição na qual eles derrubaram todos
os padrões. É uma reversão positiva, deliberada, do que antes era mais ou menos universalmente
aceito.

Isto é algo que pode ser visto em indivíduos, em nações, em grupos de pessoas e às vezes
na vida de toda a comunidade mundial, como tenho demonstrado pelas Escrituras. Neste estado,
homens e mulheres viram tudo de pernas para o ar, andam de cabeça para baixo e se gloriam no
fato de que estão agindo desta maneira. Aquela era a situação do povo vivendo em Jerusalém
quando Isaías se dirigiu a eles nesta profecia e lhes avisou que, a menos que se arrependessem,
não poderiam esperar nada além de um desastre.

Isto não é igualmente válido para hoje? Esta não é uma das mais óbvias características
destes anos nos quais estamos vivendo? Não é este elemento de perversão a maior e mais
relevante característica do nosso tempo, este virar de cabeça para baixo, a inversão de tudo que
era comumente aceito e reconhecido? Isto pode ser ilustrado em quase todos os campos; é uma
situação muito persuasiva. Você a encontra em todas as artes onde o belo é freqüentemente
desprezado, forma e linha não são reconhecidos e o feio é entronizado.

Mas esta perversão de padrões é muito mais séria, claro, quando se chega ao campo
moral. Hoje, a grande palavra sobre a qual as pessoas se gabam é "a nova moralidade". Esta está
sendo ensinada abertamente. Em dezembro de 1962, o professor Carstairs apresentou suas
famosas palestras: a série Reith, na qual atacou diretamente a moral tradicional e pronunciou o
que foi, então, chamado de "a nova moralidade", advogando experiências sexuais antes do
casamento e também experiências extramaritais. E essa liberdade-libertinagem não se limita ao
professor Carstairs. Existem, também, outros que não hesitam em escrever livros e artigos e
aparecer nos programas de televisão, introduzindo esta nova moralidade que nos diz que o que
até aqui foi visto como pecado não é pecado. Na verdade, eles concordam em que é errado
condenar essas coisas, por serem uma forma de auto-expressão...

Somos, assim, confrontados não apenas por um ataque à religião mas, também, à
moralidade num todo. E o ataque é direto e diário! Na verdade, vai além disto. Existem aqueles
que ainda atacam a mente do homem. Esta é a essência da posição de D. H. Laurence. Ele disse
que todo o problema com a raça humana é que ela pensa muito e o cérebro se desenvolveu
demais. Assim, o segredo do sucesso e da felicidade na vida é deixar que a parte inferior
governe e tome o controle; é o "de volta à natureza". É um ataque à mente e a tudo por cujo
meio exercemos discriminação e controle. Na verdade, para resumir, é em, última análise, a
ridicularização do controle, da disciplina e da decência. É um apelo para que façamos tudo o
que quisermos fazer, e dispensemos qualquer idéia de decência, ordem e respeito.

Deixe-me dar um exemplo. Aconteceu de eu ler a manchete de um jornal que me levou a


ler a crítica de uma peça que estreara em Londres. Isto é o que um crítico muito conhecido
disse: "Há uma década, este tipo de choramingo de espuma de sabão deve haver parecido na
televisão bravo e realista. Suas homilías sobre a infidelidade e a santidade da família têm tons
de moralidade de classe média, e parecem, ao mesmo tempo, antiquadas e puritanas." Veja onde
chegamos! Aparentemente, esta era uma peça que há dez anos teria sido considerada corajosa e
chocante. Hoje, porém, qualquer tentativa, mesmo singela, de defender a moralidade ou fazer
referência aos equívocos da infidelidade, e à santidade da família, como uma unidade da
sociedade, é algo rejeitado com grande desprezo, como "moralidade de classe média, que
parece, ao mesmo tempo antiquada e puritana".

Em um certo sentido, é uma perda de tempo ler essas críticas; em outro sentido, não é. Eu
leio a crítica de filmes e dramas e é isso o que observo. Se houver qualquer elemento de
decência em um filme ou em uma peça, ele é dispensado e ridicularizado. A única coisa louvada
é o pervertido, o que apresenta o anormal e feio, ou que contenha algo mais ou menos repulsivo.
Este parece ser o padrão universal, e, se houver algum elemento de romance ou de beleza, é para
ser ridicularizado.

Esta é a situação que nos está confrontando, e você deve haver notado algo mais. Você já
notou a tendência atual de ser mais simpático em relação ao criminoso do que à pessoa que
sofre em suas mãos? As pessoas fazem abaixo-assinados a seu favor, dizendo que precisam
receber uma segunda oportunidade, e que não deve ser tratado tão duramente.

O mesmo se aplica aos pervertidos. Nós quase chegamos ao estágio em que não ser
pervertido é anormal. O pervertido é glorificado. Não há nada tão maravilhoso como o amor dos
pervertidos!

Tudo pode ser resumido em uma frase que tem sido o slogan desta geração: Mal, seja o
meu bem. "Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal..." Isto é precisamente o que está
acontecendo em tantos países, em círculos culturais e educativos, entre intelectuais e aqueles
que se proclamam líderes da sociedade. Não é uma repetição exata dos dias de Isaías? Ou, quem
sabe? até muito pior.

Qual é o argumento que os devotos dessa perversão apresentam para defendê-la? Eu,
obviamente, não posso lidar com isto adequadamente. Estou tentando dar uma olhadela na
situação. Uma das grandes correntes de justificativa para tudo isto diz que de qualquer forma
isto não é hipocrisia. Hipocrisia é vista como a pior coisa concebível; e esta é a resposta a ela:
perversão!

Ninguém, claramente, quer defender a hipocrisia. Não há nada que possa ser dito, enfim,
em sua defesa; mas o derradeiro provedor de máximas, o francês Conde de la Rochefoucauld,
disse uma verdade sobre ela: "A hipocrisia é a homenagem paga pelo vício à virtude", e esta é
uma afirmativa muito profunda. Em outras palavras: um hipócrita é alguém que sabe que está
errado e tenta esconder seu erro, fingindo que não o praticou. Ele reconhece a moralidade e ele
mesmo, de alguma forma, paga tributo a ela. Ele não é um pervertido. Isto é o que se pode dizer
da hipocrisia. Desta forma, existe sempre esperança para o hipócrita; ele é uma pessoa que
distorce as coisas, mas, pelo menos, sabe que está errado.

O segundo elemento na justificativa da nova moralidade, ou a argumentação apresentada


para defendê-la, é que é certo questionar a existência de qualquer padrão moral externo,
objetivo, universal. Até agora a humanidade em geral tem crido que exista tal padrão. Às vezes,
eles o chamam de "lei natural", e ela tem sido mais ou menos reconhecida em todas as
sociedades, cristãs ou não. Vivemos, porém, numa era em que isto está sendo seriamente
questionado. Ouvimos de alguns filósofos do momento que não existe essa coisa como um
padrão de moral externo: cada homem tem o seu. O que eu acho certo é moral para mim, e, se
faço algo que você julgue errado, isto não imporia: devo agir de acordo com meu próprio padrão
e interior. E assim é. Cada homem se torna lei para si próprio e faz o que bem entende e o que
cisma que vai fazer, e o que acredita ser certo.

Um outro ponto muito grave é que essas pessoas estão questionando toda a categoria do
natural, ou do normal. A Bíblia faz uma grande questão deste ponto. Por exemplo: lê-se em II
Timóteo 3:3: "sem afeição natural". Do mesmo modo, tem-se esta afirmativa crucial no capítulo
1 de Romanos, onde Paulo, em seu grande indiciamento da era em que viveu, e de outras eras,
usa este tipo de linguagem: "De igual modo, também os homens, deixando a relação natural
com a mulher, arderam em seu desejo uns pelos outros, praticando torpezas, homens com
homens, e recebendo em si mesmos a paga da sua aberração" (v. 27), e assim por diante. O
mesmo, diz ele, acontece com as mulheres. Mas o termo que ele usa é "natural".
Hoje, isto está sendo posto em dúvida. Dizem-nos que não devemos usar este termo. Eles
nos perguntam: "Que você quer dizer com 'natural', e 'normal'?" E acrescentam: "Que para você
significa 'natural'?" Mas se outro homem é diferente, então é natural para ele. Em última análise:
não há diferença entre os sexos e não existe essa coisa como "natural". E, assim, este
comportamento é justificado mediante o questionamento das diferenças naturais entre homem e
mulher, e o desejo natural da mulher pelo homem e do homem pela mulher. Na verdade, tudo
está sendo negado, e o que se diz é que pode ser "natural para um homem desejar outro homem,
e uma mulher desejar outra mulher". Todos os padrões se foram porque a categoria do natural
não é mais reconhecida.

E, é claro, acima de tudo as pessoas dizem que não existe essa coisa como pecado, e isto
porque não existe Deus. Se não existe nenhum cânon moral universal, então não há pecado. Na
verdade, não existe crime. Nas cortes, cresce o número de pleitos por "responsabilidade
reduzida" ou "responsabilidade diminuída". Que isso significa? Um médico aparece na corte e
diz: "Este homem fez isto – já admitiu –, mas eu estou aqui para declarar que ele não podia
deixar de havê-lo feito porque ele é do jeito que é; é constituído de uma forma tal – física e
biologicamente – que não pôde evitá-lo." Assim, não há pecado nem crime; tudo passa a ser
uma questão de tratamento médico. Todos os padrões se foram para sempre. Eu entendo, óbvio,
que existem casos registrados nos quais o pleito de "responsabilidade diminuída" seja válido,
mas eu estou protestando contra a tendência de universalizar o excepcional.

Então, positivamente, a justificação do malfeitor toma a forma de culto de auto-


expressão. Dizem-nos o seguinte: "Você tem esses poderes dentro de você, então certamente
você deve usá-los. Eles não devem ser reprimidos e restringidos. Por que você acha que os
recebeu? Por que eles se encontram em você? Libere-se! Expresse-se!"

Então, vem o argumento do amor contra a castidade. O problema no passado, dizem, é


que a castidade é vista como uma coisa maior que o amor. Mas o amor é o que realmente
importa; a castidade vem em segundo lugar. Se houver amor, não faz diferença se um homem
ama um homem ou uma mulher sexualmente. Não temos que nos preocupar com moralidade e
castidade. A única coisa que interessa é o amor. Desta maneira, tem-se toda a confusão, toda a
promiscuidade e as perversões de hoje.

Meu problema é mostrar o equívoco de tudo isto de uma forma breve. O Senhor coloca a
questão da seguinte forma:

Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e com toda a tua alma, de todo o
teu entendimento, e com toda a tua força: este é o primeiro mandamento. E o segundo é
este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Marcos, 12:30,31).

Se você olha por este lado, não vai querer justificar tudo que faz dizendo: "Ah, eu amo''.
Você reconhecerá que pode haver cobiça, e que você não deve magoar a outra pessoa. Você
reconhecerá que a outra pessoa é alguém aos olhos de Deus, que Deus está acima de ambos e
que vocês não são animais mas seres responsáveis diante do Deus Todo-Poderoso, que espera
que vocês vivam uma vida mais elevada e nobre. Você entenderá que sendo assim deve
disciplinar-se e controlar-se, e que você expressa seu amor ao considerar seu vizinho como você
próprio, levando-o em consideração, e nem sempre colocando seu desejo de autogratificação em
primeiro lugar.

Consideramos até aqui os argumentos que se apresentam em favor da nova moralidade, e


vimos que são todos falsos. Desta forma, eles não fornecem a explicação para a conduta
moderna.
Não, a resposta é muito simples para aqueles que conhecem sua Bíblia. A primeira coisa
que a Bíblia tem a dizer é que não há nada novo sobre a "nova moralidade". Ela é tão velha
quanto o período antes do Dilúvio. Tão velha quanto Sodoma e Gomorra – daí alguns termos
usados hoje. Ainda assim o homem do século XX se gaba de seus avanços. Uma nova
moralidade? Ela é tão velha quanto o pecado! A Bíblia conhece tudo sobre ela, e pode ensinar-
lhe mais sobre ela do que a maioria dos livros modernos. Tudo está definido e analisado ali. Não
só isso – e para mim isso é o mais impressionante –, mas a Bíblia na verdade profetiza que este
tipo de coisa vai acontecer, que ocorrerá de tempos em tempos.

Outra vez, para aqueles que conhecem sua Bíblia não há nada extraordinário sobre a
situação presente. Eu não estou nem um pouco surpreso com o fato de os homens e mulheres do
século XX, com toda a sua sofisticação, estarem-se comportando do jeito que estão. A Bíblia
afirma que isto aconteceria. Você já leu, em Lucas 17, a profecia de Jesus Cristo sobre os
últimos dias? "Como foi nos dias de Noé, assim também será (...) Como foi nos dias de Ló (...)
assim também será (...)" (Lucas 17:26-30). Tudo está predito. Seja lá o que você fizer, se você
for um seguidor da assim chamada nova moralidade, você não estará fazendo nada novo; sua
moralidade é muito velha. Na verdade, como alguém já disse: "A nova moralidade não é nada
além da velha moralidade tentando se aperfeiçoar em termos filosóficos".

Mas a Bíblia pode dizer-lhe por que ela ressurge e por que as pessoas se comportam deste
modo. E isso é que é importante. Por que estamos sendo afligidos por tudo isso em nossos dias?
Por que nos defrontamos dia a dia com este horror? Aqui estão as respostas bíblicas. A principal
explicação é que o pecado não pode nunca satisfazer, nunca. Ele finge, apenas. Ele diz: "Só uma
vez..." Mas você nunca pára em uma vez. O pecado nunca satisfaz, e as pessoas ficam assim
cansadas de seus pecados em particular, e querem mais. Quando se cansam do espectro
completo dos pecados conhecidos, inventam outros diferentes, e torcem e pervertem.

A perversão é sempre uma prova da falha do pecado em se satisfazer. É um tipo de


exaustão. Conheci um caso muito trágico de um médico que se tornou viciado em drogas. Eu
me lembro de haver perguntado ao coitado, que foi meu colega de classe: "Como você entrou
nessa?" E ele me disse que seu problema sempre fora o fato de ser um alto consumidor de
álcool, mas chegara a um ponto tal que a bebida não mais fazia efeito. Contudo ele necessitava
experimentar sempre aquela sensação. Então, com a falha da bebida começou com as drogas. É
por essa razão que existem milhares de miseráveis e infelizes viciados neste país. O pecado
sempre pressiona para algo além, e quando os caminhos normais do pecado não mais satisfazem
as pessoas se voltam para o anormal. É apenas a manifestação da falha do pecado em satisfazer
verdadeiramente.

Mas existe uma segunda razão. Você já notou o aspecto contraditório e pouco inteligente
dessas perversões? Aqui temos homens e mulheres, por um lado se gabando de seus grandes
avanços, de seu conhecimento, desprezando seus ancestrais de 100 ou 200 anos passados, e
ainda mais os de mil ou 2 mil anos antes. Aqui está a moderna sociedade do alto de seu
conhecimento, sofisticação e desenvolvimento – quão maravilhosamente deixou todas as
prévias gerações para trás! Dizem que as pessoas são inteligentes demais para serem cristãs!

Mas agora olhe para eles por um outro lado, onde D.H. Lawrence denuncia o super
desenvolvimento de uma parte do cérebro, e diz que eles pensam demais e que o caminho para
ser feliz neste mundo é parar de pensar e ir em frente.

Não apenas isso, mas apesar de todo o orgulho quanto ao seu grande desenvolvimento,
para onde vai a sociedade em termos de música e artes? Está voltando à selva, retornando aos
desenhos nas paredes das cavernas. Isso são fatos. As duas coisas, porém, não podem ser
verdadeiras ao mesmo tempo. Se a melhor música é a música do analfabeto e sem educação,
onde está a sofisticação? Ser sofisticado hoje é voltar ao primitivo, às origens, ao elementar. E o
mesmo é óbvio em todos os outros aspectos. Isto é surpreendente, posto que não é inteligente.
Este é o elemento contraditório que é sempre encontrado no pecado: ao mesmo tempo em que as
pessoas estão-se gloriando de estar à frente de todos os outros, na realidade, estão de volta ao
começo.

Mas há algo ainda mais profundo sobre tudo isso. Olhando do ponto de vista psicológico,
creio que tudo isto é resultado de uma consciência sem paz. É o fato de as pessoas estarem
tentando sufocar a consciência, fazer frente a ela. É medo e infelicidade; é não-paz.

Um outro fator, e para mim o mais importante de todos, é que tudo o que estamos
testemunhando é, em última análise, decorrência de uma falha em entender a verdadeira
natureza do homem e da mulher, a natureza e o sentido da vida, seu fim e propósito.

Não estou dizendo tudo isto por mera crítica. Sou um pregador do Evangelho, e estou
interessado nisso porque desejo que as pessoas sejam salvas e livres de tudo que é mau, e
recebam a verdadeira felicidade em Cristo. Estou apresentando estes argumentos com a
finalidade de ajudar. Creio que a principal causa da tremenda perversão moderna é a frustração
e o vazio. Em um certo sentido, não condeno as pessoas. Vivemos neste século assustador,
depois de havermos passado por duas guerras mundiais, e as nações ainda estão empilhando
armamentos. Então, os jovens são tentados a perguntar: "Que é a vida? Que é viver? Quem sou
eu? Sou eu apenas bucha de canhão? Estou aqui apenas para ser explodido por uma bomba? Eu
quero experimentar; quero descobrir. Talvez eu não esteja aqui por muito tempo. Por isto quero
aproveitar o máximo da vida enquanto estou aqui..."

Os homens e as mulheres modernos estão perdidos; não se conhecem; não sabem que são
seres feitos à imagem de Deus; não sabem como usar a mente e o cérebro; não percebem que
são diferentes dos animais. Ignoram que não foram feitos para serem criaturas cobiçosas, e, sim,
para refletir algo do próprio Deus eterno. Esta é a causa do problema – as pessoas desconhecem
isto, razão por que se comporiam dessa maneira –, o que é um insulto a si mesmas.

Então, acima de tudo isto, eis uma demonstração sensacional do que a Bíblia quer dizer
quando fala sobre o poder do pecado: o fato de que o pecado é algo que prende e escraviza
pessoas, fazendo delas seus servos. Porque o diabo, o inferno e o pecado são muito poderosos.
Que coisa malévola é o pecado! Deixe que ele se desenvolva e você verá até onde o levará, não
meramente ao pecado e à vergonha, mas ao pecado e à ausência de vergonha, à total falta de
conceito moral. Segue-se a perversão: luz, trevas, trevas, luz; amargo, doce, doce, amargo; e
toda a falsidade e as conseqüências que se seguem.

Ao mesmo tempo, o estado do nosso mundo atual mostra que o problema real com o ser
humano está no coração. Nosso Senhor disse tudo: "Esta é a condenação, que a luz veio ao
mundo e os homens amaram as trevas mais do que a luz, porque as suas obras eram más" (João
3:19). Se você é um seguidor da nova moralidade, isso não acontece por causa da sua cabeça, e
sim do seu coração. Eu já mostrei que você não é governado por sua cabeça. Se isso fosse
verdade você não se estaria contradizendo a si mesmo, como faz. Seu problema está no coração
– você gosta do pecado, é cobiçoso, tem um coração mau. Esta é a verdadeira explicação para
tudo isso.

Deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Qual é o fim para o qual tudo isso invariavelmente
leva? Já demos resposta a essa pergunta. Leva ao dilúvio, à destruição de Sodoma e Gomorra,
ao saque de Jerusalém e ao povo de Israel levado como escravos para a Babilônia. Leva ao ano
70 A.C, e à dispersão dos judeus entre as nações. Sempre levou e sempre levará.

Tome a história secular. Vimos que isso mesmo foi a causa do declínio e da queda do
grande Império Romano. Roma caiu porque apodreceu em seu coração. Um abscesso se formou
e os cidadãos de Roma se tornaram imorais e pervertidos. Roma decaiu a partir do centro, e os
góticos e vândalos vieram e a conquistaram como resultado direto. E esta foi a causa do declínio
e queda, desde então, da maioria de outros impérios. As autoridades que escrevem sobre isto
dizem que as sociedades antigas perderam sua força e poder quando os padrões morais
relaxaram. É sempre a mesma coisa. Uma vez que o povo perde sua compreensão moral de si
mesmos e da vida, toda a sua força, politicamente, militarmente e em todos os outros aspectos,
se vai. Eles relaxam em seus banhos, cometem suas fornicações e adultérios e permitem que
seus impérios se arruínem.

Mais uma vez, recordo as palavras solenes do Filho de Deus: "Como foi nos dias de Noé,
assim será (...)" (Lucas 17:26). Antes de que venha o julgamento final, diz ele, é assim que eles
estarão vivendo; estar-se-ão se divertindo e dando-se em casamento, comendo e bebendo,
comprando e vendendo. Eles o fizeram antes do Dilúvio, e antes de Sodoma, e farão uma vez
mais antes do fim. É isto que faz com que nossa situação atual seja tão alarmantemente séria.
Embora o homem moderno não creia em Deus, e não acredite em padrões morais; ainda que ele
não creia em nada, exceto nele mesmo e em seus próprios desejos, isso não afeta a situação em
nada. Deus ainda está no céu ; Ele ainda é Todo-Poderoso e continua a ser o "Juiz Eterno". Deus
ainda trará a história a uma conclusão com um julgamento e a destruição eterna de todo mal e
erro. O diabo e todos que pertencem a ele serão lançados no lago da perdição sem fim.

"Nos últimos dias", diz Paulo, "tempos difíceis virão. Os homens serão egoístas,
gananciosos, jactanciosos, soberbos, blasfemos, desobedientes aos pais (...)." Você vê pelos
jornais isto acontecendo todos os dias; o Novo Testamento está bem atualizado: "...ingratos,
iníquos, sem afeto, implacáveis, mentirosos, incontinentes" – não podendo controlar-se. Eles
afirmam: "Eu não posso evitar, sou um animal..." E diz mais o apóstolo: "...inimigos do bem,
atrevidos, enfatuados". Ou seja: eles debocham da moralidade (II Timóteo 3:1-3).

Sim, ali estava acontecendo no primeiro século A.C. Eles desprezavam essa "moralidade
de classe média": tão puritana, tão certinha e arrumada. Cuspiram nela; riram dela. Homens e
mulheres que são fiéis no casamento, que crêem na família, que se restringem a si próprios:
quão puritanos! Que piada! Que atraso! Que fora de moda! Imagine ainda se crer nisso! Sim,
eles desprezam aqueles que fazem o bem, são "traidores, enfatuados, atrevidos, mais amigos dos
prazeres do que de Deus" (II Timóteo 3:3,4). Estas são as condições que sempre prenunciam
calamidade e desastre, sofrimento e dor. É, pois, no nome de Deus que peço a vocês que
considerem essas coisas à luz deste pronunciamento, e à luz do que Deus fez invariavelmente no
passado.

Então, aqui está o diagnóstico bíblico. Existe alguma esperança para esse povo? Existe
uma mensagem para este mundo do jeito que está? Existe algo a se dizer a esses "novos
moralistas", aqueles que exultam e se gloriam na perversão e ridicularizam a moralidade e a
santidade? Graças a Deus tenho um glorioso Evangelho para eles. Já houve, antes, no mundo
pessoas como essas, como já vimos. O apóstolo Paulo escreve aos cristãos na Galácia: "Não se
deixem enganar, de Deus não se zomba" (Gálatas 6:7). E à igreja em Corinto ele diz que certas
pessoas nunca terão uma herança no reino de Deus. Quem são elas? Ele dá uma lista terrível:
"Não se deixe enganar: nem fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os
efeminados, nem os sodomitas (...) nem os bêbados, nem os mentirosos (...) herdarão o Reino de
Deus" (I Coríntios 6:9,10). Eles estarão de fora. Nada impuro pode entrar no reino de Deus,
porque "Deus é luz, e nele não há trevas algumas" (I João 1:5). Não há impureza no céu. Tudo
ao redor de Deus é gloriosamente puro, limpo, saudável, lindo e verdadeiro. E homens e
mulheres nessa situação de impureza não têm herança no reino de Deus.

O problema, então, está no coração das pessoas. Pode-se fazer algo por elas? Bem, elas
não conseguem fazê-lo por si mesmas, porque não se pode mudar o próprio coração. "Pode o
etíope mudar a sua cor, ou o leopardo suas manchas?" (Jeremias 13:23) Não podem. Você não
pode dar-se um coração limpo; você não pode renovar a sua natureza.

A mensagem da santa Bíblia, porém, é a de que Deus pode. Nosso Senhor disse a
Nicodemos: "Em verdade em verdade te digo, a menos que o homem nasça de novo, ele não
pode ver o reino de Deus" (João 3:3). O que homens e mulheres precisam é de um novo
coração, uma nova natureza que irá amar a luz e odiar as trevas. Eles necessitam de uma nova
natureza que irá apreciar o que é doce e não o que é amargo; uma natureza que tudo o que quer
é amar o bem e odiar o mal.

E não é este o problema de todos nós? É a nossa natureza que está errada. Nós somos
errados dentro de nós. "A boca fala do que o coração está cheio" (Lucas 6:45). Eu sou guiado
por meu coração e levado a pecar; o problema todo está aí. Por causa da minha natureza, preciso
de um coração novo, uma nova aparência, um novo desejo. Como conseguir isso? Bem, eu não
posso produzi-los, mas posso suplicar como Davi no Salmo 51: "Cria em mim um coração puro,
ó Deus, e renova em mim um espírito reto" (v. 10). Davi disse isto depois de haver cometido
adultério e assassínio. Ele se confessou repelente e impuro: "Tu desejas a verdade no íntimo" (v.
6). Pois foi justamente aí que ele errou. Senhor, faze de mim algo que eu não sou. "Purifica-me
com hissope e eu serei limpo; lava-me, e ficarei mais branco que a neve" (v. 7).

Graças a Deus, a mensagem ainda é esta. Eu não me desespero com os homens e


mulheres modernos e sua assim chamada nova moralidade e perversões. O Evangelho é "o
poder de Deus para Salvação" (Romanos 1:16). O apóstolo Paulo pregou na cidade portuária de
Corinto para a ralé, para a sordidez, o centro do mal, que era aquele lugar. Ele pregou ali e o
poder de Deus foi demonstrado na vida de homens e mulheres. "Mas fostes lavados, fostes
santificados, fostes justificados no nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito de nosso Deus" (I
Coríntios 6:11). E graças a Deus isto ainda acontece.

Seu sangue pode tornar o imundo limpo, seu sangue disponível a mim.
Charles Wesley
HUMANISMO

Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e inteligentes na sua própria opinião.'
(Isaías 5:21)

Este é o quinto "ai" pronunciado por Isaías sobre seus contemporâneos, e está relacionado
com algo para o que temos uma nova palavra hoje: Humanismo, o credo de nossos assim
chamados intelectuais.

A relevância deste versículo em geral, e também em alguns aspectos em particular, para a


nossa situação atual, é algo que deveria fazer-nos parar por um momento, porque traz algumas
verdades muito claras. A primeira é que ele nos faz recordar que a Bíblia é um livro
estranhamente contemporâneo. As pessoas pensam que é um livro ultrapassado, e por isto não a
lêem. Elas acham que ela não tem nada para nos dizer sobre a vida atual. A resposta mais direta,
porém, é a de que, se você ler a Bíblia, vai ver que ela fala tudo sobre o mundo moderno. Se
você quiser a melhor descrição da vida como está sendo vivida nos tempos presentes, vá à
Bíblia e a encontrará. Isto nos mostra que não se trata de um livro qualquer.

A Bíblia, porém, também nos dá uma explicação sobre o fato de as coisas serem do jeito
que são. Ela nos diz que o problema humano é sempre basicamente o mesmo. Em outras
palavras: como a Bíblia expõe no livro de Eclesiastes: "Não há nada novo debaixo do sol" (1:9):
nada mesmo! Não há nada tão fútil como a jactância moderna de que 'estão com tudo'; de todas
elas, esta é a mais vazia. Do ponto de vista intelectual, não há nada tão ridículo como o modo de
as pessoas pensarem que a vida moderna é algo inteiramente novo. Elas olham para as pessoas
que viveram no passado antes delas e acreditam que não sabiam nada da vida. Comentam: "Na
verdade, nós temos avançado, temos descoberto um novo modo de pensar e de viver!" Tudo
isso, porém, a que se referem já aconteceu muitas vezes antes, e está inteiro registrado na Bíblia.

Os homens e as mulheres modernos, com toda a sua inteligência, são incapazes de


inventar um novo pecado. As piores formas de vícios e males cometidos hoje são encontrados
em algum lugar na Bíblia. Nada é novidade debaixo do sol! Esta bazófia e reivindicação de
modernidade, e a idéia de que a maioria das pessoas não são cristãs porque são modernas e
pertencem ao século XX, é uma bobagem. Eu consigo entender os que dizem que não são
cristãos e não aceitam a mensagem, mas eles não podem dizer que isto acontece pelo fato de
viverem no século XX. Não há nada novo sobre a rejeição do cristianismo. As pessoas o têm
rejeitado através dos séculos, e exatamente pelas mesmas razões, como iremos demonstrar.

Este impressionante capítulo da profecia de Isaías nos mostra estas coisas claramente,
tanto o caráter contemporâneo da Palavra de Deus, quanto o fato de que não há nada novo
debaixo do sol. A história é algo extremamente importante, e, se você a estudar, verá que ela
aparece em ciclos. Pensamos que estamos avançando, mas isto é uma ilusão; estamos sempre
dando voltas em círculos. Isto se vê claramente na questão da moda e vestuário, como todo o
mundo sabe. Eu estava lendo um jornal no outro dia sobre um homem que guardou um terno
durante alguns anos. Por algum tempo, ele tinha vergonha de usá-lo, mas agora novamente ele
está na última moda!

Isto não é válido apenas em relação a roupas: é igualmente verdadeiro no campo dos
pensamentos, e em todos os outros campos. Os seres humanos nunca são muito originais; eles
meramente se repetem, e a Bíblia apresenta isto de uma maneira extraordinária.
Que significa Humanismo? Eu não poderia dar uma definição melhor do que a que está
expressa nestas palavras de Isaías: "Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e inteligentes na
sua própria opinião!" Humanismo é a crença na humanidade. É o interesse apenas nos homens e
mulheres, sem levar Deus em consideração. Ele exclui Deus porque crê que os seres humanos
são suficientes em si mesmos. Esta é a verdadeira essência do Humanismo. O homem é o centro
do universo, e não há nada maior nem mais grandioso.

Existem dois tipos principais de Humanismo: o que é chamado de "Humanismo clássico",


o que significa que para sua direção na vida e entendimento da mesma você não vai à Bíblia,
mas retorna à literatura, à filosofia, ao drama e à poesia gregos. Os humanistas clássicos são
pessoas que estudam os grandes autores gregos e conduzem sua vida de acordo com seus
ensinos.

Não é função do ensino cristão desacreditar os gregos. Eles foram realmente grandes
homens. O Humanismo clássico, porém, ensina que não há nada além deles, e que se você
desejar sabedoria deve retroceder ao pensamento e à meditação dessas mentes gigantes do
passado. Você os estuda e raciocina com eles, e tenta entender o que pensavam e o que nos
deixaram. Procura, então, pôr aquilo em prática. Este é, no mundo presente, o modo de viver
uma vida boa e harmoniosa.

A outra forma que o Humanismo toma é a conhecida como "Humanismo científico". O


clássico representa o poético, o filosófico, e assim por diante. Por outro lado existe a perspectiva
científica, a abordagem que diz que a resposta para os problemas do mundo não virá da filosofia
grega ou poética mas da percepção científica de todo o universo, incluindo os seres humanos.

Este é o mais moderno dos dois tipos de Humanismo. Ele reivindica ser novo porque as
descobertas são, no mínimo, comparativamente recentes, retrocedendo pouco menos que uns
400 anos, no máximo. Ao investigar os mistérios do universo e sua constituição, você descobre
a verdade científica sobre a vida, e, a partir daí, começa a trabalhar seu próprio esquema de
vida.

Temos que examinar isso porque, aqui em Isaías, está dito que esta confiança na
sabedoria humana leva ao "ai". Mas vamos ser claros sobre isso. Não é parte da
argumentação pró-evangelho pregar a desvalorização do intelecto. Na verdade, isto é o
oposto do ensino do Evangelho. O Evangelho dá muito valor ao intelecto. Que ninguém pense
que o que Isaías quer dizer é que não há nenhum valor em se ter um cérebro, ou na habilidade
em usá-lo, ou no entendimento, no poder da razão, e assim por diante. Não se trata disso. Não
há nada errado com o intelecto ou com o saber em si. Na verdade, a Bíblia diz-nos que o mais
alto dom que Deus deu a homens e mulheres no campo dos talentos – não estou falando da alma
e do espírito, mas de dons, – é o da mente, da razão e do entendimento.

O que é verdadeiramente maravilhoso sobre os seres humanos é que eles podem


contemplar-se a si mesmos, analisar-se, avaliar-se e criticar-se a si próprios. Este é um tremendo
dom, segundo a Bíblia, dado por Deus. Então, não devemos dizer nada que desvalorize o
intelecto, a razão ou a mente. O pregador cristão não é apenas um sentimentalista ou um
obscurantista. Não é apenas um homem que conta histórias e tenta divertir as pessoas. Ele está
aqui para raciocinar com elas, porque Deus lhe deu uma mente para ser usada. Mas, como vou
mostrar, a verdadeira explicação para o problema do mundo é o fato de que as mentes se
corromperam, e o homem não sabe como usá-la adequadamente.

Qual é, então, a atitude da Bíblia com relação ao Humanismo? É que, conquanto esteja
tudo certo com a mente, o entendimento e a razão, o erro das pessoas está em colocarem sua
confiança na mente. Elas têm tanto orgulho dela que começam a adorá-la. Pensam que é
suficiente em si mesma, e nada além é necessário. O problema tem início quando começam a se
gabar da razão e a acreditar que, com sua mente, podem envolver o cosmos inteiro. Esta
afirmativa de Isaías define perfeitamente essa questão – "Ai dos que são sábios aos seus
próprios olhos." Eles se colocaram num pedestal. "Olhe para mim" – dizem –, "não sou mesmo
maravilhoso?" "Sábios a seus próprios olhos, e inteligentes na sua própria opinião." Não há
nada errado em ser sábio, mas, se você for sábio a seus próprios olhos, estará em uma situação
muito perigosa. É excelente ser inteligente, mas, se você for inteligente na sua própria opinião,
estará sob a condenação proferida pelo profeta.

Eu creio que isto ficou claro. Longe de querer dizer que não há valor no intelecto, o que
desejo é usar o pouco que tenho, e vou pedir-lhe que faça o mesmo!

Por que Deus pronuncia um "ai" sobre aqueles que são sábios a seus próprios olhos, e
adoram seu cérebro e entendimento: os humanistas? A primeira resposta é a de que esta é a
própria essência de seus problemas e males; esta é a causa principal de todos os males da raça
humana. Leia a Bíblia e verá que ela diz que este foi seu pecado original, e assim tem sido desde
então. A tentação que primeiro veio ao homem e à mulher, como já vimos, foi: "Será que Deus
disse?" (Gênesis 3:1). Em outras palavras: Será que Deus está tentando reprimi-lo? Estará
tentando colocar-se entre você e o conhecimento do bem e do mal? Será que está buscando
esconder algo de você?

"Está" – disse o diabo –, "porque ele sabe que, se vocês comerem do fruto, vocês serão
deuses, terão entendimento, saberão tudo, serão iguais a ele." Este foi o primeiro pecado do
homem, e tem sido a causa de todos os males subseqüentes.

Mas agora deixe-me mostrar-lhe no Novo Testamento. Tome, por exemplo, o que o
apóstolo Paulo diz na segunda metade de Romanos 1. Ele se expressa muito claramente.
Descrevendo por que a raça humana se tornou o que é, ele diz: "Pois, tendo conhecido a Deus,
não o honraram como Deus, nem Lhe renderam graças; pelo contrário, eles se perderam em
vãos raciocínios, e seu coração insensato ficou nas trevas. Jactando-se de possuir a sabedoria,
tornaram-se tolos e trocaram a glória de Deus incorruptível por imagem do homem corruptível,
de aves, quadrúpedes e répteis. Por isto, Deus os entregou (...)" (Rom. 1:21-24)

No capítulo 12 de Romanos, Paulo coloca o problema na forma de um conselho.


Provavelmente, todos precisamos dele: "Tende a mesma estima uns pelos outros, sem
pretensões de grandeza, mas sentindo-vos solidários com os mais humildes: não vos deis ares de
sábios" (Romanos 12:16). É a mesma coisa: o perigo de confiar na própria sabedoria, o próprio
intelecto; o sentimento de que você é maravilhoso e não precisa de ajuda alguma.

Isto fica ainda mais claro neste grande texto de I Coríntios, do capítulo 1, versículo 17,
até o final do terceiro capítulo. Aqui, Paulo traça um contraste entre o Evangelho e a sabedoria
do sábio. Por confiarem no próprio intelecto, e no próprio entendimento, os filósofos gregos se
referiam ao Evangelho como "bobagem". Este foi sempre o problema.

A Bíblia está cheia deste ensinamento. Ninguém foi mais condenado do que o fariseu. O
problema era a sua presunção. Ele pensava que estava bem, que era muito sábio e fazia tudo
com a maior perfeição. Os fariseus "confiavam em si mesmos como sendo justos" (Lucas 18:9).
É a mesma coisa. Eles não precisavam de nenhuma ajuda e se ofendiam com o ensino desse
arrogante, como consideravam o Senhor. Quem era ele para ensinar-lhes? Orgulho do intelecto:
era o problema central deles, uma manifestação de um tipo curioso de Humanismo. Cristo
também ensinou exatamente o mesmo ponto nesta parábola do rico tolo no capítulo 12 do
evangelho de Lucas.

O argumento apresentado pela Bíblia é o de que o orgulho do intelecto é, em um certo


sentido, o supremo pecado. Este é o problema básico que leva a outros: homens e mulheres que
se gloriam, gloriando-se especialmente em sua intelectualidade, em sua mente. Em I Coríntios,
o apóstolo Paulo explica como isso se torna o pecado supremo. Porque homens e mulheres
fazem mau uso do maior dom de Deus. Deus enobreceu os seres humanos ao criá-los à sua
imagem e dar-lhes este maravilhoso dom, mas isto é justamente o que eles usam contra Deus e
para si próprios, e assim se abatem.

A segunda razão porque um "ai" é pronunciado é a de que as pessoas crêem em uma


mentira. Elas pensam que são sábias e inteligentes, mas não são. Isto, certamente, é um fato
assombroso. Os homens e as mulheres modernos têm orgulho de si próprios, de seu intelecto e
da sua sabedoria; eles se sentem superiores a todos os que viveram antes. Mas como é possível
que se sintam assim sobre si mesmos, com o mundo do jeito que está e como tem sido durante o
século XX, com guerras horríveis, crescentes ondas de crimes, absurda imoralidade e traição, e
a mais completa confusão?

A Bíblia explica isto dizendo que as pessoas se gloriam em sua sabedoria e em sua
inteligência porque são tolas! Quanto mais sábio o homem ou a mulher for, mais humilde será.
Aqueles que têm uma pitada de conhecimento são sempre os mais difíceis. Aqueles que
realmente têm grande conhecimento conhecem o suficiente para saber o quanto ainda não
sabem. "Uma quantidade mínima de conhecimento é uma coisa muito perigosa!" E assim a
Bíblia diz que a principal verdade sobre aqueles que não crêem em Deus, e que não são cristãos,
é que são tolos.

A Bíblia usa muitos termos em suas descrições do pecador, mas "tolo" é o termo mais
freqüente. Jesus o emprega na parábola do "rico tolo". Aqui está um homem jactando-se:
"Alma, tens muitos bens para muitos anos; folga, come, bebe e alegra-te" (Lucas 12:19,20). O
homem que pensou ser tão inteligente, tão sábio, era nada mais do que um tolo.

"Eu estou bem, cara!" – é a forma moderna de se expressar. "Tudo bem; eu tenho
dinheiro para o futuro. Usei a cabeça. Que cara inteligente que sou!" "Tolo!" – diz Deus – "Esta
noite pedirão a tua alma; e as coisas que acumulaste para quem serão?" A Bíblia pronuncia um
"ai" sobre tudo isto, porque tudo isto é uma mentira.

Mas como você prova que é uma mentira? – alguém irá perguntar.

Infelizmente, isto é muito fácil de fazer. Eu digo que aqueles que são sábios e inteligentes
a seus próprios olhos serão condenados porque se condenam a si mesmos; eles vivem uma
mentira. Reivindicam ser sábios, mas como vivem? Como testar sua sabedoria? Como testar
sabedoria e entendimento? Não é uma questão de leitura de livros e capacidade de dar respostas.
Este é o grande erro que as pessoas cometem. Não o modo como são testadas; não é mediante o
quanto saibam, mas se têm de fato o poder de aplicar o que sabem. Você entende o suficiente
para pôr em prática?

Conheço muitas pessoas que eram excelentes nas provas, mas depois não deram para
nada. Ou muitas outras que, quando estudantes de Medicina, tiravam boas notas, podiam
decorar textos e recitar de memória como papagaios. Clinicamente, porém, quando estavam face
a face com um paciente não serviam para nada; eram incapazes de aplicar seus conhecimentos.
Este é o teste da sabedoria.

O homem ou a mulher sábios não têm meramente conhecimento: você pode alimentar um
computador, mas eles têm o poder de se apropriar daquele conhecimento e o assimilar, até que
se transforme em julgamento. O conhecimento se torna parte deles, controlando seus pontos de
vista e determinando suas ações e práticas. Assim, nossa sabedoria é julgada não meramente
pelo número de livros que lemos, ou podemos citar e recitar, mas pelo modo de vida que
vivemos, a maneira como usamos o conhecimento. Cristo apresenta uma famosa questão: O que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro [de conhecimento e riqueza] e perder a sua alma?"
(Marcos 8:36)

Que dizer dos seres humanos individualmente, nos dias de hoje? Como vivem os assim
chamados "sábios"? Olhe para essas pessoas que podem ensinar tudo sobre a vida. Quantas
vezes algumas delas já passaram pelas cortes de divórcio? Pegue muitos dos filósofos famosos.
Leia sua biografia. Nunca tome apenas o livro encontre alguma coisa sobre a pessoa, sua vida.
Escrever um livro pode ser tão fácil! Muito mais fácil que vivê-lo! Sim, é mais fácil pregar que
viver. Mas viver é o supremo teste da sabedoria. Não estou interessado na reivindicação de um
homem ou mulher sobre seu grande conhecimento e perspicácia se estiveram falhando em sua
própria vida; se são alcoólatras ou adúlteros, ou se não se pode confiar neles. Qual é, então, o
valor de seu conhecimento e sua cultura? Eles se dizem sábios mas não são; são tolos,
enganando-se e iludindo-se a si mesmos; e enganando e tentando ludibriar outros.

Mas que dizer das pessoas coletivamente? Quão orgulhoso o mundo é de seu
conhecimento! Olhe, porém, para ele! Ao mesmo tempo que são tão orgulhosos de si mesmos e
do seu intelecto, os homens precisam de ser lembrados desses fatos. Com todo o seu
conhecimento e sabedoria, já tiveram duas guerras mundiais, e têm levado neste século mais
pessoas à destruição do que nunca antes. É isto o que os homens e mulheres modernos fazem na
prática com sua sabedoria e inteligência. E aqui estão eles, ainda discutindo sobre mísseis e os
meios de destruição; ainda preocupados com tensões e insegurança e confusão moral.

Mesmo assim, as pessoas ainda se gabam de sua sabedoria. Elas são sábias a seus
próprios olhos, e inteligentes na sua própria opinião: com seu mundo fora de ordem, com uma
espécie de carnificina bem diante de si! É uma mentira! E é por isto que está condenado na
Bíblia. É apenas ostentação ridícula, nada além de conversa. Tem a grandeza de um balão de ar.
É muito estridente na sua profissão, mas não há prática.

Eu posso, porém, demonstrar isso de outro modo; e aí está a falha das pessoas até mesmo
em entender. Elas gostam de pensar que, embora não sejam santos perfeitos, como parecem, são
cheias de sabedoria. Mas são mesmo? "Sábios a seus olhos." Então, qual é a sua visão de você
mesmo? Que é o homem? Você o compreende? Você se compreende? O homem e a mulher
modernos realmente se compreendem? Eles entendem o sentido da vida? Estão muito
orgulhosos de sua sabedoria e entendimento, mas que realmente sabem sobre a vida? É a vida
grandiosa ou pequena? É algo grande ou ignóbil? Que é a vida, afinal?

Onde está, então, seu conhecimento? Onde se mostram sua inteligência e a sabedoria?
Qual é o sentido total do mundo? Que é a história? Existe algum desígnio nela, ou algum
propósito? Ou seria tudo apenas um saco de bobagens, sem propósito, sem alvo, sendo apenas
levado para qualquer direção, sem que ninguém saiba aonde, ou o que ou como... Onde está a
sabedoria de tudo isso? Que os homens e as mulheres sabem sobre as coisas mais importantes?
Eles sabem muito sobre eletricidade, o átomo, o poder, e todos esses assuntos científicos
incompreensíveis. Eu não os critico, mas quando se fala de sabedoria, o que quero saber é:
Como devo viver? Que tudo isto significa? Como posso encontrar felicidade e paz? Como posso
viver de tal forma que não sinta vergonha de mim mesmo no final da jornada? Isto, sim, é
sabedoria! Isto é de fato inteligência!

Mas além disto, as pessoas não parecem saber nada sobre a causa de seus problemas.
Elas, que têm sido "sábias a seus próprios olhos, e inteligentes na sua própria opinião", têm
profetizado nos últimos cem anos coisas maravilhosas para este século. Vamos resolver todos os
nossos problemas. Os pensadores vitorianos – os filósofos, os poetas, os políticos, os agnósticos
– todos disseram isso. O problema com homens e mulheres, disseram, é que eles eram pobres, e
o crime era inevitável enquanto houvesse pobreza. Mas assim que as pessoas fossem educadas,
assim que tivessem boas casas e melhores salários, tudo entraria nos eixos. Bem, nós já lidamos
com a maioria dessas falhas; ainda assim, o problema está maior que nunca: na verdade agora
dizem que a crescente onda de crimes é devido à influência? Onde está a sabedoria? Onde está a
inteligência? As pessoas, obviamente, não entendem seus problemas, e são ainda menos capazes
de descobrir a cura.

Dizem-me que não critique os modernos escritores e novelistas. Comentam-me que eles
são moralistas, procuram melhorar a situação. Qual, porém, é o seu método? Seu método de
tentar melhorar é descrevendo. Mas com certeza você não resolve um problema simplesmente
descrevendo-o; não se melhora uma situação meramente pintando-a... A questão do moralista é
resolver o problema, livrar as pessoas do apuro. Não necessitamos de mais descrições. Já
sabemos tudo sobre a questão. Não é necessário que alguém escreva um livro para nos dizer
como as pessoas pecam – está tudo na Bíblia. E não apenas está tudo lá, mas qualquer um que
viveu neste mundo sabe tudo sobre isso. Não precisamos de novelas, filmes e dramas para nos
contar como as pessoas se comportam. O que queremos saber é como sair do fracasso e da
confusão morais, como cessar de cometer erros, como ser libertos.

Dizem, porém, que o trabalho dos modernos escritores e dramaturgos é muito realista!
Certo, mas isso não faz diferença. O que você pensaria de um médico que ao ser você levado a
ele desesperadamente doente, chegasse até você e lhe entregasse um relatório de sua
temperatura, seu pulso, ritmo respiratório, a cor da sua pele, o estado das pupilas etc.; enfim,
descrevesse sua condição de um modo vívido, e terminasse dizendo: "Esta é a sua situação -
muito séria, muito má." E então o mandasse de volta a sua casa?

Esta não é uma caricatura dos modernos críticos. Isto é exatamente o que os humanistas
nos estão dizendo hoje. Tenho que admitir: eles são especialistas em descrição. Eles podem
dizer-nos tudo sobre nós mesmos, analisando inteligente e profundamente a nossa situação.
"Aqui está você" – dizem eles. "Esta é a sua situação."

Eles não têm nada para nos dar. Por quê? Porque nada é mais elevado na criação do que
os seres humanos, e foram justamente eles que falharam.

Veja ainda outra razão pela qual a Bíblia pronuncia um "ai" em relação ao humanista.
Esta é ainda mais séria. Ela faz isso não apenas porque o Humanismo é uma mentira, mas em
razão do que ele produz, da direção em que nos leva. Este é um aspecto realmente sério da
questão. Então, de que se trata? Primeiramente, e acima de tudo, o Humanismo é orgulho.
Orgulho é o maior de todos os pecados. Ele é mais prolífico em causar problemas do que
qualquer outra coisa no mundo. É também o mais feio dos pecados. E que estragos tem causado
na longa história da raça humana!

E o que estamos examinando é nada menos do que orgulho do intelecto. Ele se mostra no
desprezo por tudo que veio antes, o que os modernos cientistas humanistas têm muito prazer em
fazer. Ninguém jamais soube de nada, até que eles apareceram em cena. Eles desprezam seus
antepassados. Isto se verifica em todos os campos. Eles rejeitam todos os livros anteriores, todo
o conhecimento prévio. Tudo está ultrapassado; nada tem valor algum. Na verdade, existem
tolos que ocupam púlpitos cristãos e dizem isso mesmo. Com efeito, ninguém pode,
verdadeiramente, entender a Bíblia até que veio esta geração com seu conhecimento moderno.
Eles jogam fora 19 séculos de ensinamentos e exposição bíblica cristãos. Isso já seria o
suficiente para levá-los a um tribunal: seu colossal orgulho e vaidade. É horrível! E Deus odeia
isso. Ele contempla o homem ereto e inflado e pronuncia seu "ai" sobre ele.

Isto por sua vez leva à autoconfiança e à auto-satisfação. Jesus pintou o quadro perfeito
disto na sua parábola do fariseu e do publicano que foram ao templo orar. Veja o fariseu
dirigindo-se direto à frente. Aqui está um homem satisfeito com ele mesmo, um homem que tem
um cérebro e uma mente; e ele agradece a Deus por ser o que é. Ele não precisa de nenhuma
ajuda; não pede nada. Ele tem tudo; pode fazer tudo sozinho! Este é o tipo de homem que Cristo
denunciou mais amargamente: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!" Não há nada mais
terrível na opinião de Deus do que a autoconfiança.

O que faz, porém, com que essa autoconfiança se torne uma coisa tão terrível é que ela
sempre leva à rebelião contra Deus. Já disse aqui antes que esta foi a causa do pecado original.
O diabo veio e disse: "Deus está tentando te controlar..." E Adão e Eva creram nele e
começaram a sentir ódio de Deus. Eles pensaram, que se apenas pudessem alcançar aquele
conhecimento, tudo ficaria bem, e eles poderiam levar uma vida independente. Então, elevaram-
se em sua auto-estima. E, assim, os seres humanos, desde então, têm estado nesse pedestal.

Rebelião contra Deus é a essência do Humanismo. O humanista diz: "Eu não creio em
Deus, e vou dizer porque: Eu não preciso dele. Eu consigo viver perfeitamente sem ele. Não há
Deus."

A resposta de Deus a ele se encontra no Salmo 14: "O tolo disse em seu coração: não há
Deus" (v. 1). Existe, porém, muita gente hoje que pensa que ninguém dissera isto até este
século. Mas Davi disse isto no Salmo 14, há quase 3 mil anos! Essa era uma verdade já naquela
época, mil anos antes do nascimento de Cristo. As pessoas já diziam: "Deus não existe." E Davi
disse: "Sim, eles dizem isso porque são uns tolos."

Então, os humanistas não crêem em Deus, porque afirmam não ter necessidade dEle. Por
que as pessoas que são sábias a seus próprios olhos e prudentes a seu próprio ver necessitariam
de Deus? Se elas entendem de tudo e podem gerenciar toda a sua vida, então não precisam de
Deus. Esta tem sido, cada vez mais, a posição da raça humana nos últimos séculos, com o
crescimento do conhecimento e o avanço e desenvolvimento do conhecimento científico: nós
somos tão avançados!

"É claro que houve um tempo em que as pessoas precisavam de Deus" – dizem eles –,
"mas agora não. Todo o mundo tem agora o suficiente. Temos dinheiro, recebemos melhores
salários, podemos ter o que quisermos! Podemos ler, temos a televisão e somos homens e
mulheres cheios de conhecimento. Então não precisamos de Deus."

Isto é rebelião contra Deus. "A mente carnal é inimizade contra Deus: porque não está
sujeita à lei de Deus, nem pode, em verdade, estar" (Romanos 8:7). Esta é sempre uma
conseqüência imediata da rebelião contra Deus. No momento em que as pessoas pensam que
são sábias, e se rebelam contra Deus, começam a agir em decadência moral. É uma questão
muito sutil. Homens e mulheres não vêem, em sua tolice, que a sua verdadeira objeção contra
Deus é o fato de terem que obedecer a Ele, porque Deus é um Deus de justiça, de retidão e
santidade. E a Bíblia nos diz que Deus fez o homem e a mulher à sua imagem, e Ele queria que
eles vivessem da mesma maneira em que Ele vive.

As pessoas, porém, não aceitam viver desta maneira; elas não querem viver uma vida
reta, pura, disciplinada e santa. Elas querem assumir as rédeas de suas paixões e seus desejos.
Desejos, aí está o problema – o fruto proibido, é claro. O ilícito: "Ah! Isso é que é amor! Isso é
que é bom!"

"Gente tola não entende!" – dizem. "Pensei que estivesse apaixonado


antes, mas agora é pra valer. Pensei que estava, mas não estava: agora é amor
de verdade!" Deixe que façam o que quiserem, que cometam adultério e
cuspam nas coisas santas. "Não me falem de lei !" – dizem eles – "Não me
venham com moralismo. Isso é legalismo. Façam amor!"
A verdade, é claro, é que esse proclamado amor não passa de lascívia, mas, para ceder a
ela silenciando a própria consciência, eles tentam produzir uma filosofia, na qual não há nada
mais elevado do que os seres humanos. Deus já não existe... Desta maneira, eles não têm nada a
temer; tudo fica bem; podem continuar agradando e satisfazendo a si próprios e a seus instintos
carnais.

Nunca houve uma forma de Humanismo sem declínio moral. Os humanistas que conheço
declaram ser pessoas de moral, e na vida pessoal muitos deles o são. O ensinamento bíblico,
porém, diz que, em cada época em que o Humanismo esteve em ascensão, a moralidade,
invariavelmente, decaiu. "...declarando-se a si mesmos como sábios, eles se tornaram tolos" –
diz Paulo, como vimos em Romanos 1:22. Então, o declínio moral entrou.

Por isso Deus entregou tais homens à imundícia, pela lascívia de seu próprio
coração, para desonrarem seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em
mentira, adorando e servindo à criatura em lugar do Criador o qual é bendito
eternamente, amém. Por causa disso Deus os entregou a paixões infames; porque até as
suas mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à
natureza" (Rom. 1:24-26).

É fato reconhecido na História que alguns dos grandes filósofos gregos eram pervertidos
moralmente. Altamente idealistas ao escreverem seus ensaios de Utopia, e ainda assim culpados
dos vícios mais vis! Isso sempre acontece! As conseqüências morais sempre acompanham, e é
por isto que Deus pronuncia seus "ais" sobre elas. Quando as pessoas se colocam como a
autoridade final, elas sempre descem ao abismo. Por quê? Porque não podem desvencilhar-se;
não têm esse poder.

Isto nos leva ao último ponto, que é Deus pronunciando um "ai" sobre o orgulho
intelectual, esta confiança no entendimento humano. Porque é isto que, acima de tudo, mais leva
homens e mulheres a recusarem a salvação de Deus. Esta é a coisa mais calamitosa de todas.
Ali, estão eles em sua terrível condição, e tentando desvencilhar-se a si próprios. Eles
aperfeiçoam seu sistema educacional, multiplicam sua cultura e poder de mídia. Nunca
estiveram tão ocupados tentando acertar-se, como nos últimos séculos. Eles exauriram quase
toda estratégia conceptível e tentaram todos os caminhos, mas, apesar de tudo isto, vemos o que
está acontecendo. E embora nesta terrível situação, quando o Evangelho de Cristo é oferecido ao
homem e à mulher – único meio de libertá-los e salvá-los –, eles o recusam.

Por que isto acontece? Porque eles acreditam que se bastam; porque pensam que são
sábios e prudentes; porque crêem que podem salvar-se a si mesmos. Por que as pessoas não
lêem a História? Por que não lêem seus próprios livros? A História prova que homens e
mulheres não podem libertar-se a si próprios, mesmo que tentem, com toda a sua força e
vontade. Todas as grandes civilizações ruíram, e a presente civilização está decaindo. Mas as
pessoas ainda rejeitam a oferta do Evangelho. Elas ainda riem de Cristo e ridicularizam a cruz.
Elas cospem na face de Deus e dizem que não precisam dEle. Este orgulho intelectual é a
própria maldição, o verdadeiro problema da humanidade. Eles dizem, com a maior altivez: "Eu
não vou crer, a menos que possa entender". Eles querem entender Deus! Acreditam ser muito
grandes, a ponto de poderem medir o próprio Deus: medir o infinito!

Então, homens e mulheres estão debaixo da ira e do "ai" de Deus, em último lugar,
porque recusam a oferta dEle.

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho único para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou seu
Filho ao mundo, não pala que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por
ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque irão
crê no nome do Filho único de Deus. A condenação é esta: a luz veio ao mundo, e os
homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" (João
3:16-19).

Deus pronuncia um "ai" sobre tudo isso; e vejo a calamidade se aproximando. Mais do
nunca, homens e mulheres estão eretos em seu orgulho: orgulhosos de sua sabedoria, sábios a
seus próprios olhos, e prudentes a seu ver, dizendo que não precisam de Deus e que podem lidar
com seus próprios problemas, e resolvê-los. Afirmam que podem aperfeiçoar o mundo; e se
levantam e dizem tudo isto, enquanto recusam o Evangelho, ridicularizando-o e blasfemando
contra ele! Eles são como aquele rico tolo que se voltou para si mesmo congratulando-se ao
dizer: "Alma, tens muitas mercadorias acumuladas para muitos anos; relaxa, come, bebe e
alegra-te" (Lucas 12:19).

"Este mundo é bom" – dizem eles, autocongratulando-se. "Nós estamos nos divertindo!
Nunca foi tão bom!" "Mas Deus disse a ele: Louco, esta noite vou requerer a tua alma" (Lucas
12:20).

E se os cientistas estiverem certos, e este universo não tiver muitos anos mais, que
acontecerá então? Onde estarão sua sabedoria e seu conhecimento? Onde irá ter tudo isso?
Quando Deus diz: "Esta noite você vai sair deste mundo; você vai morrer –; por efeito de uma
virose ou de uma bomba, isto não importa, mas você vai morrer - esta noite sua alma será
requerida." E aí? Você sabe para onde irá? Você sabe que acontecerá com você depois da
morte? Você pode dizer que sucederá naquele "grande desconhecido" do além? Isto é sabedoria:
que eu sou? Como é que tenho vida? Como morro? Que acontece comigo depois? Onde está seu
conhecimento? De que você tanto se orgulha? O humanista não tem nada, nada mesmo, e Deus
pronuncia seu "ai" sobre ele, e aterrorizador.

Deixe-me chamar sua atenção para alguns versículos no livro de Apocalipse, o último da
Bíblia, o livro que nos fala do dia que se aproxima, quando Deus se levantará e dirá a todo o
universo: "É Hoje!" E aos grandes homens da Terra lhes é dito:

E vendo a fumaceira do seu incêndio [da cidade de Babilônia, que significa a


civilização], gritavam: Que cidade se compara à grande cidade? E lançaram pó sobre a
sua cabeça, e chorando e pranteando, gritavam: Ai! Ai! da grande cidade na qual se
enriqueceram todos os que possuíam navios no mar à custa da sua opulência, porque em
apenas uma hora foi devastada. Exaltai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e
profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa. Então um poderoso anjo levantou
uma grande pedra como de moinho e atirou-a parti dentro do mar dizendo: Assim, com
grande violência será atirada Babilônia, a grande cidade, e nunca mais será encontrada
(Apocalipse 18:18-21).

E a civilização babilônica será destruída num instante, quando Deus se levantar. "Ai
daqueles que são sábios aos seus próprios olhos, e prudentes em sua própria opinião!"

Esta é a última palavra? Graças a Deus que não é. É, porém, última palavra no que
concentre ao Humanismo. O Humanismo está essencialmente errado. É uma fraude, um engano,
uma falha. Não pode explicar nada. E atrai a ira sobre si. Não é a última palavra. Apesar da
insanidade de homens e mulheres; apesar do fato de serem são tolos e cegos, Deus tem
misericórdia deles. Existe uma resposta para tudo isso:

"O temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Provérbios 9:10). Esta é a resposta. As


pessoas necessitam de ser despertadas; elas precisam de entender. Elas têm de reconhecer que
são tolas, falhas, e que o resultado da sua vida irá levá-las a um final mortal. E elas precisam de
se submeter. O apóstolo Paulo diz: "Se alguém no meio de vós parece ser sábio neste mundo,
faça-se como tolo, para que seja sábio" (I Cor. 3:18). A sabedoria humana não leva a nada.
Existe, porém, a "sabedoria de Deus".

"Nós pregamos a Cristo crucificado, uma pedra de tropeço para os judeus e


loucura para os gregos; mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos,
Cristo é o poder de Deus e sabedoria de Deus" (I Coríntios 1:23,24).
"Por causa da sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria
sabedoria mas aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação" (I
Coríntios 1:21).

Quando homens e mulheres falharam completamente, "Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, debaixo da lei, para redimir os que estavam debaixo da lei" (Gálatas 4: 4,5).

Então, que é necessário? Aqueles que quiserem ser sábios devem tornar-se como
criancinhas e admitir que não sabem nada. Que cada um diga: "Eu sou apenas uma criança;
pensava que sabia, mas estava apenas enganando a mim mesmo. Estava embriagado com minha
própria intelectualidade. Quando se refere a mim, vejo que não sei nada sobre mim. Eu não
entendo a vida. Não entendo o mundo, e não posso fazer nada a respeito. Sou um tolo, uma
criança, não sei nada!" Abençoados são os que chegam a este ponto. "A menos que vocês
se convertam, e se tornem como criancinhas, vocês não entrarão no reino do
céu" (Mat. 18:3).

E a essas pessoas Deus diz: "Eu enviei meu filho único ao mundo para redimir pessoas
como você. Você se tornou como uma criancinha, então ofereço a você, por meio de Cristo,
meu filho que levou seus pecados no próprio corpo no madeiro, o perdão gratuito. Eu vou
apagar todos os seus pecados, como se nunca os houvesse cometido na sua vida." A sabedoria
de Deus em Cristo! Este é o caminho para a solução do problema. Esta é a sabedoria, celestial,
divina.
PECADO NAS ALTAS ESFERAS SOCIAIS

Ai dos que são poderosos para beber vinho e valentes para misturar bebida forte,
os quais por suborno justificam o perverso e ao justo negam justiça. (Isaías 5:22,23)

Estamos chegando ao sexto e último dos "ais", pronunciados pelo profeta Isaías sobre
seus contemporâneos. O profeta, deixe-me lembrar-lhe, estava entregando uma de suas maiores
mensagens à nação. Não foi sua própria reflexão sobre a situação o que o fez falar. Nenhum
profeta jamais falou como resultado de sua própria cogitação. "Nenhuma profecia da Escritura",
diz Pedro, "é de interpretação particular" (II Pedro 1:20).

Isto quer dizer que não podemos interpretá-la particularmente. Significa que não se trata
de um domínio privado; não é uma questão de "cada um tem a sua interpretação". Não se trata
de um grande filósofo discursando. Não é o caso de um vidente que olha para uma questão,
medita sobre ela, faz conclusões, e então fala. Isto não é profecia. Profecia é uma mensagem
dada por Deus a um de seus servos. Era propósito central de Deus, ao levantar profetas, que o
povo fosse salvo do desastre e das conseqüências de sua cura. Temos, assim, contemplado esta
grande mensagem, não porque estejamos animados por algum interesse meramente histórico ou
voltado para a antigüidade, embora, se você quiser fazer algo realmente interessante e
inteligente, não há nada melhor do que considerar a história do povo de Israel; ela é muito mais
excitante que qualquer ficção.

Mas não estamos considerando este texto por esta razão: não podemos dar-nos a este
luxo, porque estamos com problemas realmente sérios. Nossa intenção é, ouvir a mensagem de
Deus mediante seu profeta, posto que ela é sempre contemporânea, e, ao contemplá-la, temos
visto mais e mais claramente que estamos ouvindo uma palavra que também é dirigida a nós no
presente momento. Chegamos, assim, ao último dos "ais" pronunciado pelo profeta
nestes versículos extraordinários.

Talvez você pense que isto é uma repetição do que Isaías disse previamente no segundo
"ai": "Ai dos que se levantam cedo pela manhã e seguem a bebida forte, e continuam até de
madrugada, até que o vinho os inflame!" Ou você pode pensar que tenha alguma coisa a ver
com o quarto dos "ais": "Ai dos que chamam ao mal bem, e ao bem, mal; fazem da escuridão,
luz e da luz escuridão; põem o amargo por doce e o doce por amargo!" Superficialmente, pode
este sexto "ai" soar apenas como uma repetição e algum tipo de confirmação dos outros "ais".

Quero, porém, demonstrar que não é assim. Existe um elemento, é claro, que é o mesmo,
mas vai muito além. Ele carrega a análise da condição do povo de Israel até o ponto mais
extremo, porque o que temos nesses dois versículos é a manifestação do pecado de Judá em seus
altos líderes, em seus juizes. Eles são culpados, diz Isaías, não apenas de se entregarem à
bebida, mas também de praticarem injustiça e de perderem o senso de moral. Esta é a posição
aqui: licenciosidade e injustiça nas altas esferas sociais. O "ai" se refere a homens que são
culpados de duas coisas, e eu me preocuparei em mostrar que elas andam juntas.

Ao examinar esses "ais" – e precisamos de fazer um resumo deles agora, antes de


prosseguimos para o último –, deveríamos haver sido impactados e impressionados pelo caráter
multiforme do pecado. O pecado é uma terrível doença, e seus sintomas são inúmeros. Esta
mensagem salta das páginas da Bíblia. A Bíblia mostra aquilo de que em uma condição de
pecado os seres humanos são capazes, e a variedade de manifestações pecaminosas: temos uma
coleção delas apenas nesta frase. Todas elas, porém, devem-se à mesma coisa, e provêm da
mesma fonte. Nada é mais extraordinário sobre o pecado do que isto, e é em razão do caráter
variado de suas manifestações que as pessoas, tão freqüentemente, não as reconhecem como
pecado. Nossa tendência natural é a de ver apenas cenas coisas como pecado, e não a de nos
conscientizar de que outras coisas, que parecem ser tão diferentes, são igualmente pecaminosas.

Veja, por exemplo, o modo como isto é encarado nos Evangelhos. Duas classes de
pessoas lidavam com o Senhor: publicanos, pecadores, fariseus e escribas. A princípio, você
pode pensar que elas não têm nada em comum. Mesmo assim, o foco principal do seu ensino era
mostrar que ambas as classes eram igualmente pecaminosas. Isto era o que tanto enraivecia os
fariseus. Eles reconheciam que os publicanos, isto é, os cobradores de impostos e as prostitutas
eram pecadores. É claro! Todo o mundo sabe disto! Mas os fariseus nunca imaginavam que eles
próprios fossem pecadores, que estivessem sofrendo essencialmente da mesma doença. Por que
não? Porque não manifestavam os mesmos sintomas; eles não eram culpados das mesmas ações.
Essa doença, porém, pode produzir uma grande variedade de manifestações.

Em outras palavras: a autojustificação é tanto uma manifestação do pecado quanto uma


vida de corrupção e prostituição. Ambos são manifestações da mesma condição essencial,
porque o pecado, em última análise, é um relacionamento errado com Deus, e não importa a
forma que isso tome. Contanto que seja um relacionar-se incorreto, isso é pecado. Pode ser algo
altamente respeitável; pode ser vergonhoso e obviamente embaraçoso – não faz a menor
diferença. Na verdade, eu poderia fazer uma boa argumentação, considerando que, aos olhos de
Deus, o pecado "respeitável" é muito mais terrível do que o outro. O ponto, porém, que desejo
enfatizar e que nos é demonstrado aqui, é como o pecado pode ser sutil e variado em suas
manifestações, de tal forma que nos iluda e nos faça pensar que nós não somos pecadores de
jeito algum. Então, o profeta, com a sabedoria que lhe é dada por Deus, não apenas diz: "Vocês
são pecadores", e sim: "Vocês estão pecando neste ponto, naquele e naquele outro." Ele mostra
a abrangência do pecado; mostra-o em detalhes aos indivíduos, e evidencia, ao mesmo tempo,
que é algo comum a todos. Isto transparece no estudo deste texto.

Outra coisa que aparece claramente é o terrível poder do pecado. Eu me proponho lidar
com isso agora em particular, porque me parece que é nisto que nossa geração tem falhado
completamente em entender. Este é um ponto desesperadoramente sério, porque o poder do
pecado é a causa principal da maioria de nossos problemas atuais. Isto aparece particularmente
forte neste último dos "ais".

O homem e a mulher modernos não gostam nem um pouco do termo "pecado". Toda e
qualquer noção de pecado tem sido odiada neste século. Fico intrigado ao observar como alguns
homens, que gastaram muito da sua vida nos púlpitos denunciando o ensino bíblico sobre o
pecado, estão agora tão desesperados, quando aparecem muito visíveis as manifestações sociais
e as conseqüências do pecado, cuja existência negaram por tanto tempo. Se não fosse tão
desesperadoramente sério e trágico, seria realmente engraçado. Essas pessoas nunca entenderam
o poder do pecado. Fomos instruídos a não afirmar que o pecado é uma força positiva e
poderosa; mas a dizer: "algumas qualidades estão ausentes". Não devemos dizer que um homem
é mau, mas que ele não é um bom homem.

Pecado, nos é dito, é uma negação; é a ausência de qualidades. Os especialistas, com seu
conhecimento de psicologia, ensinam-nos que homens e mulheres têm sido mal orientados
através dos séculos pelo ensino bíblico relativo ao pecado. A verdade, dizem eles, é que
simplesmente a humanidade ainda não se desenvolveu o suficiente. A raça humana é como uma
criança que não compreende o que mais tarde compreenderá, mas ela crescerá, e então cessará
de fazer certas coisas. O que tem sido chamado de bem ou mal é uma característica da infância
da raça humana. Sendo assim, é algo a cujo respeito temos que ser pacientes. Não devemos
denunciar ou pronunciar "ais" sobre isso, como Isaías fez. Isto é terrível! Aquele era o Deus do
Velho Testamento, quem eles odeiam tremendamente, porque pronuncia "ais" e julgamentos.
"Não, você tem que ser paciente com as pessoas!" – dizem eles "Você tem que lhes
mostrar o belo. Dê a elas quadros do belo e conte-lhes histórias comoventes. Faça isto, talvez
com uma voz afetada pelo sentimento, e use luzes coloridas para produzir um efeito psicológico.
E faça com que elas se sintam bem, confortáveis e felizes. Assim, elas logo estarão vivendo uma
vida melhor..."

Agora, porém, até os mestres desta falsa doutrina estão, eles próprios, começando a se
alarmar, ao verem a crescente evidência da destruição moral. O que eles falharam em entender é
que a força mais poderosa no mundo, depois do poder de Deus, é o poder do mal, o poder do
pecado. As pessoas falam do poder atômico, mas isto não é nada, se comparado ao poder do
pecado. Eu sei que a explosão de uma bomba atômica pode trazer muito caos e calamidade.
Pense, porém, no que o pecado tem feito com a raça humana! Aqui está o grande poderio que
tem trazido continuamente a destruição, e agora nos ameaça engolir, num desastre final.

Não, pecado não é uma negação, não é a mera ausência de certas qualidades. Ele não
pode ser tratado puramente com educação e exortação. O problema do pecado não pode ser
solucionado com o estabelecimento de mais Comissões Reais. Mas é isto o que as autoridades
ainda estão propondo. Tome, por exemplo, um relatório recente da Associação Médica
Britânica. Trata-se de uma comissão que vem trabalhando por dois anos para produzi-lo. O
relatório enfatiza o que oficiais de saúde têm relatado por algum tempo: que as doenças
venéreas estão crescendo com uma rapidez incrível em todos os países. Que eles podem fazer a
respeito?

Ah, eles querem fazer uma conferência! As autoridades em educação e os sociólogos


devem reunir-se com a Igreja: todos os que ensinam sobre moralidade. (Esta é, abrindo um
parêntese, a idéia deles sobre a Igreja: um lugar onde a moral é ensinada.) Eles se reunirão em
conferência e tentarão criar um sistema para lidar com isto.

Toda esta estultícia se deve, apenas, ao fato de que eles nunca entenderam que o pecado é
a maior força no universo, com exceção do poder de Deus. Vivemos em um mundo onde esses
dois grandes poderes estão lutando uma batalha pela alma de homens e mulheres, por você e por
mim. Não estamos diante de algum problema acadêmico. Estas questões não são de mero
interesse teórico. Realmente, todos estamos vital e tragicamente envolvidos nisto. Existem pais
que estão envolvidos porque seus filhos estão com sérios problemas. Esses mesmos filhos
pensam que sua vida está arruinada. Coisas terríveis estão acontecendo, e ainda piores
acontecerão. Todos estamos comprometidos. Então, a essência da sabedoria é dar ouvidos à
mensagem bíblica para que possamos aprender algo do terrível e trágico poder do pecado.

O último dos "ais" de Isaías revela o poder do pecado de um particularmente forte. A


primeira coisa que aprendemos aqui é que o pecado não respeita ninguém. Este é outro grande
engano. As pessoas costumam pensar que só encontrariam o pecado em certos lugares. Mas o
pecado é tão comum em um bairro nobre quanto numa favela. A verdade sobre o pecado é que
ele é comum todos os lugares. Neste "ai" nos é dito que ele afeta as elites locais, os juízes, os
homens de quem você esperaria retidão, eqüidade e uma opinião justa. "Ai daqueles que são
poderosos para beber vinho e valentes para misturar bebida forte, os quais por suborno
justificam o perverso e ao justo negam justiça!"

Isaías faz esta colocação, é claro, em termos de sua civilização. Mas vamos olhar a
questão em sua forma contemporânea. O pecado não respeita ninguém. Deste modo, pensamos
que se pode dividir homens e mulheres entre os que são pecadores e os que não são, e que
aqueles que não são pecadores não o são porque pertencem a uma certa classe, ou por causa de
seu nascimento, habilidade ou educação... Estamos, no entanto, caindo em uma grande falácia.
Por que a mensagem, aqui e em qualquer lugar, é, que ninguém tem imunidade natural ao
pecado. Ele é tão poderoso que pode atacar o mais valente e maior e levá-lo à vergonha e à
derrota.

A Bíblia repete constantemente esta mensagem. Claro que a maioria das autoridades
modernas não gosta do Velho Testamento porque diz que não se trata de um livro decente. Lá,
nós lemos sobre Davi cometendo adultério e assassínio, e coisas como estas não podem ser
ensinadas às crianças! Mas por que a Bíblia nos conta sobre o adultério de Davi? Para nos
mostrar o poder do pecado. Aqui está o rei de Israel, um grande homem e poderoso guerreiro,
um grande salmista e maravilhoso poeta, quem o pecado derrubou. Graças a Deus pela
honestidade deste livro! Aqui está o relatório da AMB - e todos os outros relatórios - datados de
muitos séculos atrás. Não há nada novo em tudo isto. Quando seremos despertados? Quando
começaremos a ler a Bíblia, até mesmo por sua história, e parar de pensar em nós mesmos como
se fôssemos algum povo especial porque vivemos no pós-guerra e na era atômica? Quando
cresceremos e enfrentaremos os fatos da história? Aqui está o grande registro: o pecado ataca
todo mundo; ninguém está imune.

"Você está querendo dizer" – pode alguém argumentar – "que a habilidade e a educação
de uma pessoa não contam, que nascimento e criação não fazem diferença?..."

Minha resposta é a de que tudo que eles fazem é tão-somente modificar um pouco as
manifestações. O problema essencial continua, a doença ainda está lá. Somos bons em medicar
sintomas, mas muito pobres em curar a doença. Ninguém está imune ao pecado. Elites e
humildes, ricos e pobres, cultos e ignorantes: todos são suas vítimas. Aprendizagem,
conhecimento e educação não são nada além de capas. O coração do homem continua a ser o
que era:

O posto (a posição social) é só a cara do guinéu (da moeda);


o homem dá seu ouro por isso!
O homem ainda é um homem, apesar dele.
Robert Burns

Pobre Robert Burns: ele sabia! Ele sabia disto por ele mesmo, e sabia que era válido para
os outros. O posto é apenas um rótulo. Você varia a vestimenta; você peca em vestido de gala
em vez de em roupa esfarrapada. E você pensa que isso o torna diferente... É assim que nos
enganamos! É assim que a humanidade e a civilização continuam-se iludindo. O coração, o ser
interior, é o que conta, e ele é o mesmo em todos os tipos de pessoas. Isaías afirma que os juízes
de Israel erram: os homens cultos, os homens de quem se esperaria algo melhor. Mas o pecado
não respeita ninguém.

Eu nunca me esquecerei do choque que experimentei há muitos anos, quando eu era um


jovem profissional e tive o privilégio de ir a um jantar de homens cultos ligados a uma certa
profissão. Para minha surpresa, encontrei esses homens esclarecidos, que ocupavam posições
proeminentes, gastando seu tempo repetindo algumas assim chamadas piadas. Eu não esperava
encontrar aquilo naqueles círculos. Tolamente não havia entendido a mensagem de Isaías. Eu
imaginava que apenas uma cena classe de pessoas faria aquele tipo de coisa. Acreditava que
aquilo só acontecia em bares da vida; que estivesse confinado ao inculto e mal-educado. Mas
aqui estava eu, subitamente ouvindo homens de altos círculos gastando seu tempo repetindo
coisas que o quinto capítulo da Epístola aos Efésios nos ensina que "não deve sequer ser
mencionado..."

Também me lembro de uma outra ocasião, anos mais tarde, quando me encontrei no
Hotel Claridges, em outro jantar. Fora convidado porque havia trabalhado com o convidado de
honra daquela noite. Era uma reunião para apenas trinta homens, cuidadosamente escolhidos.
Inicialmente foi servido o jantar, e então vieram os discursos. Novamente, fiquei chocado. O
homem sentado à minha direita – um profissional altamente qualificado – literalmente vomitou
no chão durante a refeição, aparentemente em face do fato de que consumira muitos coquetéis
com o estômago vazio. Menciono estas coisas apenas como ilustração.

Você pode observar na vida contemporânea, nos altos círculos profissionais, industriais,
políticos etc., nas mais prestigiadas universidades, muitas das quais originalmente fundadas
como instituições cristãs, e certamente irá encontrar o pecado solto, não apenas entre os alunos
mas também entre os professores. Nada que a civilização haja produzido foi bem-sucedido, ao
lidar com o problema do pecado. Digo isto deliberadamente, porque a civilização tem sido a
tentativa de sobrepujar este problema. A humanidade não coloca as coisas assim, é claro, porque
não acredita em pecado. É isso, porém, que ela tenta fazer.

A civilização tem-se esforçado em produzir ordem a partir do caos; tem buscado diminuir
e abafar certos erros, injustiças e sofrimentos, mas tudo o que ela tem tentado até agora tem
falhado completamente em relação a este terrível poder. Nada é mais urgente, mais vital, do que
entendermos que o pecado é poderoso, e devemos tentar livrar-nos de uma vez por todas, da
noção de que haja algo que os seres humanos possam fazer para lidar radicalmente com ele. Não
conseguem. Este, como já mostrei, foi o problema essencial do farisaísmo.

Em segundo lugar, a coisa mais terrível sobre o poder do pecado também é demonstrada
deste modo: ele leva homens e mulheres a insultarem sua própria natureza, seu eu, sua
verdadeira grandeza e glória. Onde Isaías diz isto? Isto transparece de forma definitiva nestes
dois versículos. Veja, por exemplo, de que o povo se gabava. O v. 22 tem uma notável
afirmativa. Em uma outra tradução, diz: "Ai daqueles que são os heróis da bebida e os feras da
mistura de vinhos!" Este é um tremendo indício dos que são culpados de pecado. O que seria
para eles um sinal de força, algo com que pudessem gabar-se? Assim como acontecia no tempo
do profeta Isaías, sucedeu hoje. Os homens e as mulheres têm faculdades e forças, cérebro e
habilidade, bem como força física, mas de que se orgulham? Uma das coisas, é seu
conhecimento sobre bebida.

Isto não é um exagero. Um dos homens mais populares na televisão nunca deixa de se
gabar sobre seu hábito de beber. Ele não crê em Deus; ele ridiculariza o Cristianismo. De que se
gaba esse homem sofisticado? Que para ele é saber viver? Ele não se cansa de repetir: "boa
comida", e, com um sorriso insinuantemente malévolo: "boa bebida e uma boa conversa..." Seu
conhecimento sobre bebidas é a marca registrada de seu status como ser civilizado. Se você não
souber qual vinho deve tomar-se a cada prato da refeição, então você é um tolo, um simplório,
"não sabe de nada", "está por fora". "Estranho que você não saiba o que se toma com o peixe ou
a carne! Quem é você? Onde você vive, afinal? Onde foi educado?" Este é o modo pelo qual se
avalia hoje uma pessoa!...

Há, porém, ainda o elemento da ordem – e quero mostrar o quanto Isaías está atualizado:
"...poderosos para misturar bebida forte!" Eu não estou falando, deixe-me repetir, do homem das
ruas, mas daqueles que olhamos como líderes. De que eles se gabam? Eles se gabam do fato de
saberem misturar um coquetel! "misturar bebida forte". "Misturar": o mesmo termo. Nem todo
mundo sabe como prepará-lo, razão por que isto é uma coisa da qual há motivos para se gabar,
pois é marca da sofisticação.

Que mais? Ah, sim, eles são "homens fortes para misturar bebida, poderosos para beber
vinho". Como você avalia a força, não de um animal, mas de um homem? O modo moderno é
perguntando: "Ele sabe beber?"

Outra vez eu afirmo que não estou exagerando: esses são os fatos. Tenho ouvido homens
distintos se gabarem da quantidade que podem beber; de que foram os últimos a se agüentarem
de pé, enquanto todos os outros caíam ao chão. Existem coisas que deveriam fazer-nos rir, mas
esta não é uma delas! Nunca ria da bebedeira, ou de um homem bêbado. Muita destruição e
miséria neste mundo são causadas por ela. Mas eles se vangloriam disto.... e faziam o mesmo
nos dias de Isaías! Um "ai" é pronunciado sobre este tipo de coisa.

Que mais? Note que o pecado deste tipo faz com que as pessoas insultem a própria
natureza, à medida que obviamente falham em encontrar prazer sem lançarem mão desses
recursos estimulantes artificiais. Por que as pessoas fazem esse tipo de coisa? Porque se sentem
murchas e miseráveis sem ela. Elas falharam em encontrar felicidade, paz e, mesmo, prazer.
Este é, para mim, o mais impressionante aspecto do pecado, e o mais insultante à natureza
humana. Dizem-nos que não podemos ser simpáticos e sociais sem a bebida; que temos que
estar "relaxados".

Será que homens e mulheres não podem ser sociais, agradáveis, atenciosos, alegres ou
felizes, a não ser que estejam debaixo da influência do álcool ou das drogas? Mas esta é a
posição hoje. Isto mostra a extrema derrota e o avassalador vazio da vida sem Deus e sem
Cristo. Eles não podem viver sem estimulantes. Por isto existem à disposição os coquetéis, as
pílulas, o álcool e as drogas, que as pessoas tomam para dar "uma levantada". Por quê? Porque
estão muito infelizes, e complexados, e derrotados, emocional e espiritualmente falando.

Em nome da natureza humana eu protesto! Homens e mulheres não precisam afundar-se


tanto, a ponto de não conseguirem encontrar prazer no seu dia-a-dia, a não ser que se droguem e
bombardeiem o corpo e o cérebro, e se insultem. O resultado de tudo isso, como já vimos, é o
entorpecimento dos altos centros cerebrais, permitindo que o que é mais instintivo tome o
controle, dê a volta na chave da ignição...

Mas note que está implícito nesta afirmação que o pecado abusa não apenas da mente e
do espírito, mas também do corpo e de suas capacidades. "Ai daqueles que são fortes para beber
vinho e homens poderosos para misturar bebida forte." As pessoas põem sua energia, sua força e
vitalidade nisto. Existe um elemento de sarcasmo neste "ai". Já não existem poderosos pelo país,
nem "homens fortes" por alguma causa nobre. Tudo vai para este tipo de coisa, para o prazer,
para a vida nas drogas e na bebida. O corpo, a mente, toda a força, enfim, é direcionada a vários
tipos de dissolução. Que terrível abuso do corpo, e que insulto à natureza humana!

A tragédia está no fato de que, enquanto as pessoas estão entregando sua força à bebida,
ao prazer e a coisas desse tipo, não têm uma concepção sobre como os seres humanos deveriam
funcionar, como homens e mulheres feitos por Deus, espírito, alma e corpo, em uma
maravilhosa triunidade, um equilíbrio perfeito. Eles foram criados para viver em todos esses
níveis ao mesmo tempo. Como deveriam usar sua energia? Jesus resumiu tudo desta maneira:
"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua
mente e com toda a tua força. Este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é:
"Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Marcos 12:30,31). Porque, porém, as pessoas são
vítimas do pecado e estão debaixo do poder do pecado elas não têm esta concepção. Elas ferem
mente, alma e corpo. Elas abusam do corpo pela superestimulação, e fazem dieta desde muito
jovens, ou têm os nervos em frangalhos, ou se tornam vítimas de doenças psicossomáticas,
simplesmente porque não sabem como viver.

Eu poderia ilustrar isto extensivamente. Uma vez, tive o privilégio de olhar o fichário de
um grande médico, e vi que muito freqüentemente o diagnóstico do paciente era: "Come
demais"; "Bebe demais"; "Dança demais"; "Não dorme o suficiente". O paciente trabalhava
duramente em seu escritório durante o dia, para se esbaldar à noite, insultando seu corpo,
gastando sua energia, sem entender como viver e como usar os dons que Deus lhe deu. Em lugar
de usar a mente, a alma e a força – até sua capacidade física com propriedade, ele as estava
atacando com a superestimulação, e o resultado era exaustão e preocupação.
Isto leva-nos ao terceiro e último princípio ensinado nestes dois versículos: o mais sério
de todos. O pecado afeta todos os tipos; ninguém está imune a ele. Ele leva homens e mulheres
a insultarem a própria natureza. Em terceiro lugar, porém, ele os degrada, e destrói o melhor e
mais elevado neles. Estas coisas andam juntas. "Ai daqueles que são fortes para beber vinho, e
poderosos para misturar bebida forte: os quais por suborno justificam o perverso e ao justo
negam justiça!" Eles são culpados desta última coisa, por causa da anterior. Embora tenham
habilidade e entendimento; embora estejam em posições elevadas, por causa do efeito
degradante do pecado em sua vida pessoal, eles perdem o poder de julgar corretamente. O
pecado sempre leva à degradação, e em todas as formas. Assim como acontece em relação ao
corpo, sucede ainda mais em relação aos aspectos mais elevados do ego.

O apóstolo Paulo resumiu tudo em suas famosas palavras: "As más conversações
corrompem as boas maneiras" (I Coríntios 15:33). E corrompem mesmo! Idéias erradas sempre
levam a práticas erradas. Pode até levar muito tempo, mas sempre acontece. Eu creio que a
grande falácia no pensamento deste século XX é a que diz que você pode ter justiça sem
santidade. A idéia é que, embora você desista de Deus e da crença nEle e no Evangelho, ainda
pode manter a ética depois de haver abandonado a doutrina. Esta tem sido a grande falácia. Ela
começou a circular na metade da era vitoriana, e se tornou quase universal neste século
presente. Agora, estamos testemunhando seus efeitos totais. Mas você não pode ter justiça sem
santidade. Esta é a grande mensagem da Bíblia. O apóstolo Paulo traduz isto claramente, como
já vimos em Romanos 1:18: "Pois a ira de Deus se revela dos céus contra toda impiedade e
perversão dos homens que detêm a verdade em injustiça." O profeta Isaías a expõe diante de nós
de uma forma impressionante. Os mesmos homens para os quais eles se voltaram à procura de
justiça e liderança estavam começando a obstruir a justiça. E o faziam por causa de seu próprio
pecado e falhas. O pecado sempre ofusca o senso de moral, o senso de certo e de errado, e
sempre escurece o senso de justiça.

Você não pode continuar pecando sem que sua consciência seja afetada. Que diferença há
entre cometer um pecado pela primeira vez e pela centésima vez? Oh, a excitação da primeira
vez! Por quê? Porque a consciência fala poderosamente, restringe e avisa: "Não faça! Olhe o
que vai acontecer! Pense nas conseqüências!" Se você, porém, comete o ato, será mais fácil
repeti-lo da próxima vez, e mais fácil depois, e depois, até que, por fim, sua consciência não
acusa mais nada. Chega-se a um estágio, de acordo com o apóstolo Paulo, quando a consciência
se torna "cauterizada como com ferro quente" (I Timóteo 4:2), e você fica como se fosse uma
pessoa sem consciência. O pecado corrói a consciência, e sempre a amortece. Você não pode
continuar pensando erradamente e pecando de alguma forma sem destruir todos os seus valores
morais, seu senso de certo e de errado e seu senso de justiça.

É exatamente isto que estamos vendo acontecer diante de nossos olhos, no mundo atual.
Eu profetizo, por exemplo, que não está muito longe o dia em que as cortes judiciais vão ter que
se livrar do sistema de júri. Por quê? Porque não se poderá mais depender dos homens e das
mulheres do júri para trazerem veredictos justos. As pessoas, hoje, não olham para os fatos e os
casos em termos do que seja certo ou errado; elas avaliam em termos de si mesmas. Um amigo
fez parte de um grande júri há uns três ou quatro anos, e me contou o que acontece. Um homem
estava sendo julgado por uma série de ofensas de trânsito. Os fatos foram trazidos ao júri, que se
retirou para ponderar.

O presidente do júri perguntou: "Bem, e então que faremos?"

Para meu amigo, a maioria das acusações era tão evidente como a luz do dia: o homem
em julgamento era obviamente culpado. As acusações não eram difíceis, e não deveria haver
nenhuma hesitação. Assim, quando ouviu a pergunta, meu amigo respondeu: "Certamente, é um
caso bem evidente: o homem é obviamente culpado." Ele pensou que todos concordariam, e que
logo poderiam ir para casa. A atitude de seus colegas de júri foi-lhe dizerem: "Da próxima vez,
pode ser você... Você gostaria de receber um veredicto de culpado, se fosse a pessoa em
julgamento?"

Em outras palavras: eles não mais pensavam em termos de certo ou de errado; já não se
tratava de uma questão de justiça, mas de: "E se fosse com você, ou comigo?..." Como posso
proteger a mim mesmo? Como Isaías traduz: eles queriam "justificar o perverso por suborno
(recompensa)". Ou seja: "recompensa" era o que viam; eles se livrariam, quando chegasse a vez
deles... Eles não mais viam o crime sem parcialidade, objetiva e honestamente, mas se tornaram
partidos interessados, com motivos ulteriores, cuja inteira noção de justiça se corrompera. Por
quê? Porque eles eram pecadores; porque sabiam que fariam as mesmas coisas do homem em
julgamento. Ele tentou ultrapassar outro carro quando não deveria haver feito isso, ou havia
bebido e fora pego. E se for você da próxima vez? E se acontecer com você?...

Isso, porém, não é algo que acontece apenas com a pessoa comum. Isso é algo que temos
visto acontecer nos níveis mais altos. Quão freqüentemente lemos uma opinião sobre uma
questão moral dada por um professor titular ou alguém da universidade, e sua atitude não é a de
definir o certo ou o errado. Em lugar disto, dizem: "Eu não fico procurando nas gavetas; o que
não vejo eu não comento." Esta é a atitude. Mas, freqüentemente é ainda pior que isso. O
pecado é desculpado ou explicado; a noção de pecado tem sido ridicularizada. Como temos
visto, instalamos "uma nova moralidade", digna dos novos tempos em que vivemos: "Você não
deve continuar com velhas idéias: conforme a humanidade evolui, suas idéias devem mudar. O
que pode haver parecido ser errado em uma certa época não é mais errado. Não existem mais
modelos objetivos. Tudo está num estado de fluxo; não existe uma verdade eterna..."

Não é esta a posição? Onde estão os guardiões da moralidade? Onde está o povo que
deveria estar falando? Que dizer das autoridades do governo? Dos líderes da Igreja? Dos líderes
em cada departamento da vida? Você descobrirá que eles advogam "casamentos experimentais"
e argumentam que a licenciosidade e, até, a perversão em assuntos de sexo não estão erradas,
que existem horas em que elas podem estar certas. O amor é mais importante que a castidade; na
verdade, amor e castidade tendem a ser vistos como opostos. Aqui, está exatamente sobre o que
o profeta Isaías escreveu e sobre o que pronuncia seus "ais".

Tudo leva a isto: o senso de obrigação e responsabilidade está rapidamente


desaparecendo, e a idéia do serviço já se eclipsou. Que posso lucrar com isto? Que me vai
render mais com o menor esforço? Idéias de altruísmo e sacrifício próprio são sempre
desprezadas. Tudo se aceita, tudo está certo. Estamos num estado de mudanças: a piedade é
desprezada, a integridade sofre deboche e a castidade e a pureza são vistas como fora de moda e
ultrapassadas. Se você tentar viver uma vida de piedade e retidão, será perseguido, debochado e
tratado com desdém. Porque "Justificam o perverso por suborno e ao justo negam justiça!"

Tudo isso, como já disse, deve-se ao fato de que os líderes estão vivendo uma vida de
pecado. Por que eles atacam o ensino da Bíblia sobre o pecado? Porque este é um dos efeitos
gerais do pecado sobre homens e mulheres: ele os envenena e os torna cínicos.

"Que diferença faz?" – retrucam eles. "Deixe-me em paz; dou qualquer coisa para ficar
em paz."

Não apenas isto, mas eles estão encobrindo deles mesmos e tentando silenciar a
consciência. Se a sua consciência o estiver atacando em termos de moralidade, você pode pensar
que o melhor modo de lidar com ela é produzir uma "nova moralidade", e provar com seu
intelecto que o que o está ferindo é simplesmente um tipo de defeito herdado de uma condição
menos desenvolvida da raça humana. Então, você inventa uma "nova moralidade" para tentar
silenciar sua própria consciência. Assim, você toma suas drogas, e se lança mais profundamente
no prazer. Você desculpa os outros, de forma que você mesmo possa ser desculpado. E ao
continuar, seus centros elevados são retirados de ação e você vai regredindo até uma vida
animal.

Às vezes, é até pior que isto, porque uma fera não se droga ela mesma. O animal não
desativa deliberadamente seus elevados centros de entendimento e controle a fim de realizar
uma ação de natureza inferior. Ele pode comer amoras venenosas sem saber o que está fazendo,
mas homens e mulheres o fazem deliberadamente. Desta forma, homens e mulheres se
sobressaem na imensidão do universo de Deus como os maiores tolos, insultando sua natureza
interior, que foi feita à imagem e semelhança de Deus, e se gabando e se gloriando em sua
vergonha, "cujo deus é seu ventre, e cuja glória está em sua vergonha" (Filipenses 3:19). Eles
não apenas praticam o mal, mas se alegram com aqueles que o fazem, encorajando-se uns aos
outros na performance.

A Bíblia não tem nada a dizer a essas pessoas, a não ser que a ira de Deus está sobre elas.
"Ai daqueles" que pensam e vivem assim! Você não pode insultar Deus e se sair bem... Se você
pudesse, Deus não seria Deus. Deus precisa de recompensar isto; Ele tem que punir. E Ele nos
tem dito que fará isto. Ele nos tem avisado. Ele tem pronunciado seus "ais", e exposto o pecado
diante de nós. Ele nos tem pedido que pensemos e reflitamos sobre estas coisas, para que as
entendamos e nos arrependamos.

O trabalho da pregação do Evangelho é entregar esta palavra de convite da parte de Deus.


Os "ais" não são sua última palavra. Ele diz: "Reconheça a sua posição e pare!" "Desperta, tu
que dormes, sai dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá" (Efésios 5:14). Que você quer é vida,
não é? Felicidade e alegria é o que procura. É claro que é! Está certo que tenha esses desejos. Só
existe, porém, um caminho para se conseguir. Qualquer outro caminho zomba de você e o ilude;
ele o conduz durante um certo tempo, até que termina por abandoná-lo eventualmente na
miséria e no desespero, na infelicidade e na desesperança extrema.

Só existe uma saída de tudo isto. Não é mais educação, nem mais Comissões Reais;
tampouco um novo Departamento de Estado ou um novo ministro de gabinete especialmente
encarregado de lidar com o problema da imoralidade. Isto não vai servir para nada, nada
mesmo. O pecado é poderoso demais para esses expedientes. Ele afeta o maior cérebro, o maior
entendimento, a pessoa mais durona, e os derruba. Ele pode derrotar as pessoas física, mental e
moralmente. Ele tem feito assim através dos séculos e continua a fazer. Só existe um poder que
pode lidar com o pecado. Charles Wesley explica assim:

Ele quebra o poder do pecado;


ele deixa o prisioneiro livre;
seu sangue pode tornar o imundo limpo,
seu sangue disponível a mim.

Este é o poder de Cristo, o Filho de Deus! É o poder de sua vida santa e sem pecado; o
poder de seu sangue para cancelar todo pecado e toda iniqüidade; o poder de sua ressurreição. O
poder de Cristo mediante seu Espírito Santo lhe dará um novo nascimento, uma nova natureza,
uma nova aparência e um novo entendimento: um novo tudo. E quando você o tiver, você terá
paz, alegria e felicidade. Você não mais precisará de drogas. Não precisará de preparar seus
coquetéis. Não necessitará dar uma "levantada" com estimulantes artificiais. Você encontrará
tudo em Cristo, muito mais do que pode conceber. Creia nEle, e ao receber sua vida você
revitalizará todo o seu corpo. Isto fará de você uma nova pessoa e uma personalidade total.

Ele fará isto por você imediatamente. Ele o capacitará a viver plenamente enquanto
estiver neste mundo, e a morrer triunfante e vitorioso. Finalmente, Ele o acompanhará ao céu e à
glória de Deus, e às "alegrias que não têm fim, e ao amor que não pode cessar". Reconheça que,
da forma como você é por natureza, você é uma vítima, um escravo do pecado, de Satanás e do
mal. Entenda também que nada e ninguém, além do Filho de Deus, pode libertá-lo. Ele é capaz
disto! "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8:36).
CONTRA A LEI E CONTRA DEUS

Pelo que, como o fogo devora o restolho, e a chama consome o mato seco, assim
suas raízes serão como podridão e seu broto se dissipará como poeira: porque rejeitaram
a lei do Senhor dos Exércitos, e desprezaram a palavra do Santo de Israel (Isaías 5:24).

Temos visto como a exposição detalhada de Isaías sobre a condição de seus


contemporâneos, registrada no capítulo 5, é uma mensagem de julgamento de Deus. Mas Deus
nunca julga, nunca pune, sem dar suas razões. Ele não é um Deus de caprichos. Ele disse aos
homens e às mulheres como viver; apresentou as condições, e lhes disse muito diretamente o
que aconteceria se não preenchessem estas condições. Na sua tolice, porém, eles o ignoraram e
viveram uma vida pecaminosa. Então, Deus pronuncia seu julgamento sobre eles. Mas deixe-me
enfatizar, uma vez mais, que o objetivo disto é chamar os homens a mulheres ao
arrependimento. Isaías coloca diante de nós a oferta do Evangelho, e só depois de a havermos
rejeitado é que a punição de Deus desce sobre nós. É isto que encontramos neste capítulo em
particular. Como já vimos, o profeta nos primeiros sete versículos apresenta um resumo geral de
toda a acusação. Depois, ele a ilustra em seis diferentes aspectos, e pronuncia seis "ais" sobre o
povo de Israel.

Havendo feito isto, o profeta neste versículo resume outra vez a mensagem inteira. Por
que a ira de Deus está sobre este povo? Por que Deus vai puni-los? Como Isaías diz no próximo
versículo: "Por isso está a ira de Deus acesa contra seu povo e contra ele estende a sua mão, e o
fere". Por quê? A resposta é dada neste versículo, em particular. Aqui está, finalmente, a causa
real do problema. Aqui está a explicação dos motivos pelos quais o povo de Israel estava-se
comportando do modo pervertido e tolo que temos visto, conforme passamos pelos seis "ais".
Esta é a causa de estar sobre eles a ira de Deus.

Chamo a atenção sobre tudo isto porque esta é a causa essencial de todas as mazelas e de
todos os problemas humanos. Detalhes são importantes, e nós temos observado alguns e visto
quão contemporâneos são. Todas as acusações que o profeta Isaías trouxe contra seus
contemporâneos ainda são muito óbvias no mundo atual. Os detalhes são importantes, e
devemos entendê-los, mas parar nos detalhes é um grande erro. O objetivo dos pormenores é
dirigir nossa atenção ao principal, ao problema em si, e a falha ao entender isto é fatal.

É, porém, isso exatamente o que está acontecendo nos dias de hoje. As autoridades estão
interessadas nos detalhes. Elas observam a delinqüência juvenil, o aumento das doenças
venéreas, o aumento do crime e da violência. Então, como já dissemos, criam comissões
especiais para questionar cada um e tentar descobrir alguma solução. Elas estão lidando com o
problema por partes. Isto, porém, não funciona, e nunca funcionará. Por que é assim? Porque
eles estão medicando os sintomas e não tratando da doença.

Assim, a pergunta que fazemos, mais uma vez, é esta: Por que as pessoas são capazes de
uma loucura tão grande? Por que conseguem viver tão tolamente? Por que o mundo está como
está? Esta é a pergunta. Temos que continuar a voltar a ela, e devemos fazê-lo porque estamos
todos no meio do problema. Vemos o mundo inteiro afundado em tremendos e contínuos
distúrbios, e a grande questão é: Qual é o problema?

Por que homens e mulheres são capazes de algumas dessas barbaridades que temos
observado? Por que tanto materialismo? Por que as pessoas vivem para ter casas e dinheiro? Por
que será que acordam cedo, e algumas delas já se programam para tomar bebida forte e viver
apenas para o prazer? Por que homens e mulheres "puxam para si a iniqüidade com cordas de
vaidade e o pecado com tirantes de carroças"? Por que elas são loucas pelo pecado? Por que
essa perversão moderna de chamar "mal ao bem e bem ao mal", e fazer da "escuridão luz e da
luz escuridão?" E do "amargo doce e do doce amargo"? Por que será que o homem e a mulher
modernos, vendo seu mundo em chamas, ainda assim estão orgulhosos de si mesmos: "sábios
aos seus olhos, e prudentes na sua opinião"? Por que em lugar de competirem pela grandeza e
pelo bem de si mesmos, de seu país e da glória de Deus, são "fortes para beber vinho e
poderosos para misturar bebida forte"?

Tudo isto é muito contemporâneo. É um grande erro pensar que a Bíblia é um livro
antiquado e fora de moda, que não diz nada ao mundo moderno. Aqui, você tem uma descrição
da vida moderna e a única solução para sua condição. Qual é a explicação de viverem as pessoas
desta maneira extraordinária e surpreendente? Só há uma resposta: "...Porque eles rejeitaram a
Lei do Senhor dos Exércitos e desprezaram a palavra do Santo de Israel." Você pode gostar de
uma tradução alternativa: "Eles jogaram fora a lei do Senhor e mostraram desprezo pelas
palavras do Santo de Israel."

Aqui está a essência do problema. O problema com homens e mulheres não é meramente
que eles hajam feito coisas erradas em particular. O problema com todos nós, por nossa
natureza, não é simplesmente havermos quebrado algumas leis de Deus. O verdadeiro problema
é que, na verdade, rejeitamos a lei de Deus como um todo. Nós a dispensamos, a desdenhamos e
a tratamos com imencionável desprezo.

Esta é a posição nos dias atuais, assim como foi naqueles dias em Israel. Não é
simplesmente que as pessoas são culpadas deste ou daquele pecado em particular; é que elas, de
modo algum, reconhecem o pecado. Não é que estejam quebrando algumas leis em particular, e,
sim, que não reconhecem a lei de Deus, nem o próprio Deus. Deus e suas leis é dispensado e
tratado com total desprezo: este é o problema de hoje, como foi nos dias de Isaías. Era isto, de
acordo com o profeta, que estava atraindo a ira de Deus sobre Israel. E ela, realmente, desceu. O
povo de Israel foi atacado por um grande exército caldeu. Seu exército foi destruído, suas
cidades destruídas e o povo orgulhoso foi levado cativo como escravos para a terra da
Babilônia. Foi isto o que aconteceu, e foi por isto que aconteceu.

O verdadeiro problema hoje é a impiedade, o desprezo pela totalidade da lei de Deus e a


recusa em reconhecer essa categoria.

Tudo isto é tão velho quanto a humanidade, tão velho quanto sua história. Há apenas um
elemento novo na sua manifestação presente, e é que os homens e mulheres modernos estão
buscando justificar tudo isto, tentando explicar sua atitude em termos intelectuais. Eles estão
escrevendo livros sobre isto, alguns deles chamados de religiosos e outros de filosóficos. Falam
sobre ele na televisão e na rádio. Desta forma, estão confirmando sua liberdade. Estão tentando
mostrar que sacudiram as correntes da religião e se livraram do "ópio do povo", e agora
encontraram algo maior, superior, que realmente os faz crescer.

Esta é uma nova característica sobre este tipo atual de rejeição de Deus e de suas leis, e
ela se apresenta a nós como um grande avanço, como alguma coisa nobre e maravilhosa. Ela
proclama oferecer-nos emancipação e libertação. É isto que a faz tão séria. Há sempre esperança
para pecadores que sabem que são pecadores. Se você sabe que é um pecador, a porta do céu
está aberta para você. Não importa quão profundamente homens e mulheres hajam pecado;
contanto que saibam, que o sintam e se arrependam, sempre existirá uma esperança eterna para
eles, e o Evangelho cristão terá uma mensagem gloriosa para eles. Se nem mesmo, porém,
reconhecem o fato do pecado; se estão orgulhosos da vida que estão vivendo, e tentam justificá-
la intelectualmente, então, enquanto se mantiverem nesta condição, não há nenhuma esperança
para eles. Permanecer assim é a desesperança final, e eles estão completamente perdidos até que
sejam convencidos e reconheçam sua transgressão.

Esta é a posição em que nos encontramos hoje, e é sobre ela que Deus pronuncia seus
"ais". Isto acontece porque "eles dispensaram a lei do Senhor dos Exércitos e desprezaram –
trataram com desprezo – "a palavra do Santo de Israel."

Isto é, obviamente, uma questão muito séria, o tipo de coisa que atrai a ira de Deus sobre
indivíduos, comunidades e países. Temos, assim, que examiná-la, e, ao fazermos isto deixe-me
expor uma coisa muito claramente, para que não haja mal-entendidos. O que estou falando se
refere ao tipo de pessoa que rejeita a lei de Deus e as palavras do Santo de Israel. Não me estou
referindo a pessoas que estão meramente reagindo contra os códigos da sociedade. Não estou
lidando com pessoas que estão simplesmente reagindo contra, e contestando uma moralidade
superficial; tampouco lidando com pessoas que fazem objeção à mera respeitabilidade.

Quero deixar isto bem claro. Existe uma reação na presente geração contra o que
podemos chamar de vitorianismo, e eu seria a última pessoa no mundo a defendê-lo. Na
verdade, poderia dizer que sou um dos seus mais constantes críticos. Não tenho lugar para o
vitorianismo, aquela era na qual a coisa a se fazer era ir a um lugar de adoração porque a pessoa,
provavelmente, conseguiria um emprego melhor se tomasse essa iniciativa, e isso era uma
atitude aceitável. Não estou aqui para defender isto. Não estou interessado em "religião", nem é
meu papel pregar a moralidade como tal. Eu não sou um pregador cristão destinado a ajudar o
governo a manter a ordem, ou, simplesmente, interessado no bem-estar político deste país. Este
não é o meu objetivo. Então, se você está tão-somente fazendo objeção a um código social, ou a
uma moral superficial e fácil, ou a uma respeitabilidade que se autojustifica, estou com você. Eu
sou contra ela tanto quanto você. Não defendo fraude, falsidade, pretensão e mera hipocrisia.

Sei que os homens e as mulheres modernos têm reagido violentamente contra tudo isto.
Fui criado neste tipo de atmosfera; havia mais disto no início do século do que existe hoje. Eu
me lembro do começo de reação contra a antiga religião de respeitabilidade da era vitoriana e
eduardiana, e fui uma das pessoas que fizeram objeções a isto, e ainda faço. Estou 40 anos mais
velho, mas ainda repito o que disse então. A religião é, freqüentemente, o grande inimigo do
Cristianismo. Respeitabilidade é a antítese da vida cristã verdadeira. Você pode dizer o que
quiser contra fraude, falsidade, pretensão e hipocrisia. Eu direi amém, aplaudirei, direi muito
bem! Mas o problema é que os homens e as mulheres modernos, ao reagirem contra tudo aquilo,
foram muito longe, a ponto de rejeitarem "a lei de Deus e as palavras do Altíssimo".

Sejamos justos. Sinto grande simpatia por aqueles que reagem. Deixe-me dar-lhe uma
ilustração simples do que quero dizer. Pense no povo na Rússia que crê no comunismo ateísta.
Por que eles estão nesta posição? Não há dificuldade para se responder a esta pergunta. Sua
única concepção de Cristianismo é a de que eles viam na Igreja Ortodoxa Russa, e
especialmente na vida de um homem como Rasputin, que tinha um poder muito grande sobre o
Czar, e particularmente sobre sua esposa. Aquela era a concepção do Cristianismo. Eles
disseram que não a queriam, porque era horrível. Então, afastaram-se inteiramente dela e se
tornaram ateístas.

E esta é a tragédia. Eles estavam certos em fazer objeções ao horror de Rasputin, mas não
perceberam que aquilo era uma perversão do Cristianismo, e em sua cegueira e ignorância
rejeitaram todo o Cristianismo e toda crença em Deus.

Então, vamos ser bem claros sobre o que estamos examinando. Estamos enfocando os
homens e mulheres que rejeitam a lei de Deus, e o próprio Deus, e cada palavra que vem do
Altíssimo. E esta é a posição da vasta maioria das pessoas. Elas odeiam Deus e suas leis e o
Cristianismo verdadeiro. São violentas em relação a ele e amargamente opostas a ele. Isto é
quase incrível, mas é um fato. Ao mesmo tempo, justificam sua "nova moralidade" como sendo
sua concepção de moralidade sem Deus. Como, então, tomaram tal posição?

Vamos analisar em termos do que nos é contado aqui em Isaías. A primeira explicação é a
de que eles são culpados de uma completa má compreensão da lei. "Eles jogaram fora a lei do
Senhor dos Exércitos" porque têm uma incompreensão fundamental sobre ela. Eles têm o
sentimento de que a lei não é para nosso bem-estar, mas que é algo contra nós. Querem livrar-se
da lei do Senhor porque sentem que ela tem sido um inimigo.

Eles se rebelam contra a lei de Deus por três razões principais. Em primeiro lugar,
odeiam-na porque sentem que ela se opõe à sua felicidade. Eles querem felicidade, e dizem que
nada se pode interpor entre as pessoas e a felicidade como esta lei o faz. Dizem que ela leva as
pessoas a sentir que são miseráveis pecadoras; e também diz "não" a tudo que queiram fazer.
Faz com que crucifiquem seus poderes naturais, e vivam uma vida não natural; e, finalmente
levam-nas a encarar como errado tudo aquilo que é essencialmente certo. E assim – dizem eles –
ela leva à total infelicidade. Então, eles contestam a lei do Senhor e a deixam de lado. Eles a
vêem como inteiramente negativa e puramente restritiva. Para citar Milton, eles a vêem como
algo que leva a pessoa "a desdenhar os deleites e uma vida de dias laboriosos".

Mas aqui, a questão que se levanta é: Que é a felicidade? Todos nós a desejamos. Não há
nada errado nisto: fomos criados para ser felizes. Deus nos fez e queria que fôssemos felizes. A
tragédia, porém, da posição moderna é que ela vê a felicidade apenas como experiência. Você
pode ver isto na literatura, no drama, em todas as coisas que temos mencionado. Este é o teste
da felicidade: experiência, e, especialmente, "a experiência do momento". O momento presente!
Nada imporia tanto quanto isto. Você deixa todo o resto de fora; você não considera nada mais
além da experiência no presente; e isto é o que conduz a muitos dos problemas de hoje, e a
tantas calamidades.

Essa definição de calamidade é muito pequena e estreita. Felicidade deve ser definida em
termos da pessoa total; mas agora ela é definida apenas em termos de certas experiências
particulares. O argumento é o de que nós não podemos ser realmente felizes, a menos que
tenhamos liberdade aqui e agora. Esta é a idéia de felicidade: a gratificação do meu desejo do
momento; nada mais é levado em consideração. A pessoa, como um todo – a mente, a alma, a
consciência –, não é considerada; as conseqüências não são levadas em consideração. .

O resultado, claro, é quase inevitável. Se você partir de uma falsa concepção de


felicidade, nunca vai encontrá-la; e o homem e a mulher modernos que estão vivendo para o
prazer e para a felicidade não a estão encontrando. Essas pessoas jogaram fora a lei do Senhor.
Elas dizem: Nós não podemos ser felizes enquanto esta idéia da lei, este monstro da moralidade,
estiver sobre nós; vamos livrar-nos dela, e então poderemos ser felizes.

Mas elas não estão felizes. Por que não? Porque cada pessoa tem uma consciência. Elas
não crêem em consciência, mas ela está aí, e elas não podem livrar-se dela. Você não pode
livrar-se do remorso, não pode abolir o sentimento de vergonha: eles estão aí. A experiência do
momento! Isto é que é vida! Isto é felicidade! Mas será mesmo? E que dizer do dia seguinte?
Existem certas leis na vida. A Bíblia nos fala desde o princípio: "...o caminho dos transgressores
é duro" (Provérbios 13:15). Se você quebrar as leis de Deus, você vai sofrer. Há uma lei da vida
e do ser e outra da felicidade. Os fatos mostram que a moderna rebelião contra a lei de Deus e a
falsa busca pela felicidade não estão trazendo felicidade.

Com que base digo isto? Sugiro que as estatísticas do divórcio o provam. Li,
recentemente, que um em cada dois casamentos em Los Angeles termina em divórcio. E este é o
lugar onde eles crêem em "liberdade", não é mesmo? É onde eles vivem para a felicidade. Los
Angeles! Hollywood! Isto é que é vida! Aqui, porém, está o resultado: um em cada dois
casamentos se dissolve! Eles jogaram fora as leis de Deus, mas será que encontraram
felicidade?

Mas, infelizmente, não pára no divórcio: existem as drogas, a bebida, a procura eterna de
novas experiências. Se as pessoas estão felizes, por que têm que fazer essas coisas? Elas não são
felizes porque toda a sua noção de felicidade está errada. É muito pequena. Elas não começam
olhando para os seres humanos pensando no que são, e entendendo que antes de que possam ser
felizes cada parte deles tem que estar satisfeita. Elas só querem a experiência atual, o prazer
imediato.

A tragédia é que homens e mulheres podem ser, na verdade, tão tolos a ponto de crer que
possam encontrar felicidade nessas condições. Freqüentemente, este tem sido o caso. Deixe-me
dar-lhe um exemplo que talvez seja um dos mais dramáticos e chocantes: o caso do grande
mestre cristão Agostinho. Ele tentou tudo, há muito tempo, lá pelo final do século 4. Aqui,
estava um homem com toda a sua genialidade, sua filosofia brilhante. Não era um cristão, mas
estava tentando encontrar a felicidade, e havia tentado, do mesmo modo das pessoas hoje. Mas
não conseguiu. Ele buscou de todas as maneiras. Não era novidade ter uma amante. Isto é tão
velho quanto a natureza humana. Tentou tudo, mas seu grande cérebro não ficou satisfeito,
porque ele sentia a falta de algo. E continuou no encalço da felicidade. Aí, veio o momento
dramático, quando ele fez sua grande confissão:

Tu nos fizeste para Ti


e nosso coração não tem paz,
até que encontre a paz em Ti.

Em segundo lugar, as pessoas se rebelam contra a lei porque a vêem como algo oposto à
liberdade. Esta, é claro, é a grande afirmativa: que a religião prende, manda não fazer isto, ou
aquilo, não deixa a pessoa se expressar. "Queremos liberdade", dizem; "Queremos ser livres".
Todo mundo sabe disto muito bem. Todos passamos por isto. Quando você era adolescente
aguardava ansioso o dia em que não mais seria forçado a ir à Escola Dominical; quando seria
um adulto e decidiria por você mesmo o que fazer; quando seria livre e abandonaria a igreja, o
culto, Deus e a religião, e realmente viveria a sua vida em liberdade! Essas pessoas colocam a
lei e a liberdade uma contra a outra, e este é outro erro trágico, porque á questão que vem a
seguir é: Que é a liberdade? E a idéia moderna de liberdade é licenciosidade: fazer o que quiser,
cada um por si, o tempo que quiser; não ser restringido por nada; não se preocupar com
ninguém. Se você quer algo, então é seu. Pegue e não pense em mais ninguém!

Mas isto é licenciosidade, não liberdade. E ainda: a tragédia em tudo isto é que não leva à
liberdade. Você pode pular a cerca, pode empurrar a lei de Deus porta afora, cuspir nas coisas
santas e "desprezar as palavras do Santo de Israel"... Não tente, porém, imaginar que este seja o
caminho da liberdade, porque não é. Deixe-me dizer-lhe por que... Jesus fez uma grande
afirmativa que você encontrará no oitavo capítulo do evangelho de João. Um dia, quando ele
estava falando e as pessoas pareciam acreditar nEle, Ele olhou para elas e disse: "Se vocês
permanecerem na minha palavra, então serão meus discípulos de verdade; e conhecerão a
verdade, e a verdade os libertará."

Elas, porém, não gostaram daquilo. Voltando-se para Ele, disseram: "Nós somos semente
de Abraão, e nunca fomos servos de ninguém. Como podes dizer que seremos livres?"

E Jesus lhes respondeu: "Na verdade, na verdade, vos digo: Aquele que comete pecado é
servo do pecado" (João 8:31-34).

Você pode livrar-se da lei, mas não consegue ser livre. Você torna-se escravo do pecado.
Pense nos homens e nas mulheres que têm desprezado o nome de Deus, blasfemado contra Ele e
jogado fora toda a sua lei. Eles se tornaram livres? Pobres escravos! São escravos do sexo, da
bebida e de várias outras coisas que os prendem e os manipulam; escravos de sua profissão;
escravos da inveja e do orgulho. Veja a vida da sociedade. Eles se dizem muito inteligentes para
crer em Deus, mas observe a miserável escravidão dessa vida de polidez da sociedade. Eles têm
inveja da roupa um do outro, e da aparência, e do carro, e da casa, e do iate, e disto, e daquilo. É
pura escravidão! Não, não, não! "O que comete pecado é servo do pecado." Você não encontra
liberdade nem felicidade jogando a lei pela janela afora.

Deixe-me citar algumas palavras excelentes do Marechal de Campo Lord Slim, que li
recentemente. Eu creio que este seja um resumo profundo de toda a discussão. "Você pode ter
disciplina sem liberdade", diz ele, "mas não pode ter liberdade sem disciplina." E por que não?
Por esta razão: você não estará realmente livre até que tenha um relacionamento correto com
todos. Você tem o que quer, mas a outra pessoa também fará o mesmo, e você sentirá que ela
está tirando de você; você não será livre. Não existe liberdade sem disciplina, e a tragédia atual
é que homens e mulheres estão convencidos de que há. Eles acham que o caminho para ser livre
é jogar fora a lei de Deus. Eles não sabem nada do que Tiago chamava de "a lei perfeita da
liberdade"; ou como está registrado no Livro de Orações da igreja Anglicana: "cujo culto é a
perfeita liberdade". Eles são ignorantes disto. Toda a sua noção de liberdade se deturpou.

Mas, em terceiro lugar, eles vêem a lei como o oposto do amor, e esta é a interpretação
favorita. Eles crêem no "amor". Carstairs, um professor de Reith, disse que o problema todo se
deve ao fato de que a Igreja põe a castidade antes do amor. Mas o amor é que é importante!
Então, ele vai adiante advogando a causa do casamento experimental. "Amor é o oposto da lei",
dizem eles. "A Igreja tem pregado a lei, e todos estão infelizes. O que precisamos é de amor!"
Então, eles contrastam isto com o ensino de Paulo, sobre quem são tão sofridamente ignorantes.
E o grande professor de Reith mostrou uma profunda e colossal ignorância quanto ao ensino de
Paulo – "Paulo, o misógino" – disse ele –, "o homem que é contra as mulheres!"

Quanta bobagem! Por que não lêem o apóstolo Paulo? Contrastá-lo com o ensino do
Senhor Jesus é blasfêmia. Ninguém jamais honrou o Senhor Jesus Cristo mais do que o apóstolo
Paulo. Não existe nenhuma contradição: é precisamente o mesmo ensino. Mas nestes termos
eles colocam o amor contra a lei e a lei contra o amor.

Assim, a pergunta que aqui temos de nos fazer é: "Que é o amor?" E eu creio que, de
todas as questões que o homem e a mulher modernos devem considerar, esta é uma das
primeiras. Vivemos em uma geração dirigida pelo sexo e pela mídia. Daí, vem a noção
contemporânea do amor. Não é nada mais do que lascívia: viver como um animal, liberar-se isto
é o que se pensa do amor. Que mais? Bem, alguma boa intenção mais vaga etc., e.., é claro, que
a lei de Deus muito acertadamente é contra isto. Ela está contra lascívia e contra essa conversa
geral, vaga e sem sentido. A lei de Deus é forte e poderosa; é uma expressão do amor de Deus.
Ela não se opõe ao amor.

O apóstolo Paulo diz: "O amor não faz mal ao próximo" (Romanos 13:10). A essência da
Lei de Deus diz ele que é esta: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo (...), o amor é o
cumprimento da lei" (v. 9, 10). Longe de ser a antítese da lei, o amor cumpre a lei e é forte, é
nobre, é puro, é limpo e reto. Nosso Senhor Jesus Cristo é a perfeita encarnação do amor de
Deus. Ele que é o amor perfeito nos diz: "Não penseis que eu vim destruir a lei ou os profetas:
Eu não vim para destruir, mas para cumprir" (Mateus 5:17). É trágico ver como hoje homens e
mulheres rejeitam a lei de Deus. Isto acontece porque não a entendem, têm uma concepção
completamente errada em relação ao seu significado.

A segunda causa da rebelião e rejeição da lei de Deus é esta: há um profundo mal-


entendido quanto à natureza dos homens e mulheres. "Porque jogaram fora a lei do Senhor dos
Exércitos e desprezaram a palavra do Santo de Israel." Por que eles fazem isso? Porque não
entendem a lei, sim. O mais trágico, porém, é que, ao tentarem exaltar a si próprias, as pessoas
estão se degradando e mostrando que o verdadeiro problema é que elas não entendem nada
sobre si mesmas e sua verdadeira natureza. Elas perguntam: "Por que devo ter lei? Por que me
devo conter? Por que não me posso expressar?" Temos, assim, o culto da auto-expressão.

Mas aqui está a questão: Que, então, é o homem, e é a mulher? Qual é a visão moderna?
Se as pessoas dizem: "Eu não gosto da lei porque é um insulto a mim", então podemos
perguntar: "Mas quem é você? Que é você?" E elas não têm nenhuma resposta. Esta é uma das
coisas mais trágicas. Aqui está uma das definições modernas para o homem. Dizem que ele é
"um bando de sensações"! Não existe uma coisa tal como "Eu" ou "Ego". Dizem-me que eu não
sou nada além desse bando de sensações. Existem toda sorte de impulsos e instintos e desejos
dentro de mim – sensações –, e, ao reagir aos outros e ao mundo, adquiro mais sensações. Eu
sou o que sou no momento. Neste momento, tenho consciência de certas sensações de prazer,
dor, contentamento, descontentamento etc. Eu, porém, não sou mais nada senão essas sensações
momentâneas.

Esta é uma questão muito séria. Os homens e as mulheres modernos deixaram de crer em
Deus e na lei de Deus. Então, qual é a filosofia favorita hoje? É a chamada visão existencialista
da humanidade: o existencialismo. É extremamente popular. Você o encontra em livros, peças e
filmes. Que isto nos diz sobre quem eu sou? Bem, deixe-me dar-lhe algumas citações. Eu sou
"um mero núcleo de experiência consciente na corrente espaço-temporal". A vida é uma
corrente espaço-temporal. Ela se move adiante e eu sou apenas um tipo de núcleo de experiência
dentro dela.

Aqui está outra definição. Sum cogitens, que quer dizer sou um centro de pensamento.
Sou capaz de pensar e tenho certos pensamentos. Isto é tudo que posso saber sobre mim mesmo.

Agora, veja outra: "Somos seres finitos num processo infinito, e nos tornamos reais ao
aceitar este fato, em lugar de nos iludirmos pela falsa estabilidade do pensamento conceptual".
Então, que sou? Um ser finito em algum processo infinito que me está levando. Havia vida
antes de mim, existe vida agora, e haverá vida depois de mim. Aqui está um processo infinito.
Eu não conheço o começo nem o final dele. Mas eu sou finito. Eu não estive sempre aqui; eu
não vou estar para sempre aqui. E a forma de me tornar verdadeiro é aceitar este fato, em lugar
de me iludir, crendo em Deus e em salvação.

Ou, permita-me dar-lhe ainda outra definição, e o faço muito deliberadamente. Porque as
pessoas crêem neste tipo de coisa, elas rejeitam a lei de Deus e cospem na palavra do Santo de
Israel. Pegue um grande escritor francês – digo grande porque ele é um grande escritor, mas é
um não-crente e infiel – Jean-Paul Sartre. Este é o seu ensino. Ele diz que aceitou o completo
ateísmo e a completa liberdade de decisão, e está preparado para arcar com as conseqüências
dessas duas proposições. "A humanidade deve fazer suas escolhas vitais sem nenhuma premissa
sobre a qual arrazoar. Eu nada sei, não posso ter certeza de nada, mas devo fazer minhas
escolhas. Tenho que viver, e viver significa fazer escolhas."

Mas eu pergunto: Sobre que bases posso decidir?

Sartre responde: "Somos lançados no mundo, não sabemos como, e somos deixados livres
para fazer nossas escolhas. Nós não temos regras, princípios, nem verdade a escolher. Nossa
situação é absurda porque nosso conceito de nós mesmos, nossa essência, está sempre à frente
do que somos no presente. Diz mais: "Nunca sou o que quero ser; nunca sou o que eu sei que
deveria ser. Estou sempre em movimento, mas nunca chego lá, e é por isto que toda a nossa
posição é absurda."
E onde tudo isso termina? Bem, de acordo com Sartre, termina em desespero e náusea,
um sentimento perpétuo de enjôo. E a era moderna está enjoada da vida. Daí, toda a literatura e
o drama e a arquitetura e tudo o mais de que já falei. É a era do enjôo! É a náusea! Os homens e
as mulheres estão nauseados e cansados, por não saberem onde estão. Tudo é muito grande para
eles, e, ainda assim, dizem que conseguem entender. Eles admitem que não têm nenhuma base
sobre a qual arrazoar, mas têm que fazer escolhas vitais. Esta é a visão deles quanto a si
próprios, e é por causa disto que rejeitam a lei de Deus.

Mas, além disto, eles crêem que ainda são capazes de decidir; ainda pensam que podem
decidir o que é melhor para eles. Mas, como podem? Cada opinião difere, e, no momento em
que você toma essas diferentes opiniões, acontecem os choques, e você não consegue ter
harmonia ou uma boa vida. Não apenas isto, mas as pessoas são por natureza egoístas,
autojustificadas e controladas pelos desejos. Ainda pensam, porém, que podem tomar as
decisões corretas, e – o que é mais monstruoso e ridículo ainda – julgam que são capazes de
manter suas decisões depois de chegarem a elas. Elas ainda afirmam que os seres humanos não
necessitam de Deus; podem fazer seu próprio mundo e fazê-lo de uma forma maravilhosa.

Qual é a resposta? Ela é dada de uma vez por todas na Epístola aos Romanos capítulo 7:
"O querer está presente em mim, mas o realizar aquilo que é bom isto eu não encontro. Porque o
bem que eu quero eu não faço e o mal que eu não quero este eu faço" (Romanos 7:18,19). E isto
é válido para todo homem e toda mulher. Há uma luta perpétua, e eles não podem fazer o que
pretendem; mesmo assim, afirmam que podem. Homens e mulheres são uma massa de
contradições. Desde o nascimento da civilização, eles têm admitido que, na prática, não
conseguem governar-se nem fazer o que reconhecem como o certo.

Mesmo nas tribos mais primitivas, existem costumes e tabus, regras e regulamentos. Por
que isto? É porque a vida em comunidade é impossível fora dela. Deixe que cada homem e cada
mulher faça o que quer, e você terá nada além do caos. Mesmo os humanistas modernos têm
que reconhecer que, na prática, você tem que ter limites, tem que ter regras. Eles reconhecem
que certas coisas estão erradas. Ao não crerem na anarquia, pronunciam o seguinte princípio:
Você tem que ter lei. E isto é bastante óbvio no nível internacional. Por que precisamos da ONU
(Organização das Nações Unidas)? Por que os líderes mundiais pensam em termos de um
parlamento mundial ou força de paz? É porque as pessoas devem ser mantidas em ordem, e não
podem chegar a isto por si mesmas, seja individualmente, seja como grupos nacionais.

E tudo isto acontece porque, como diz a Bíblia, homens e mulheres são criaturas caídas;
são más. Se fossem boas, não precisariam da lei. As leis não são feitas para os certos, mas para
os errados, e toda a humanidade é errada e injusta. São criaturas decaídas que se desviaram,
estão perdidas; são escravas da lascívia e do desejo; não vivem de acordo com seu cérebro,
embora tentem convencer-se de que vivem. Sua grande necessidade é sabedoria; elas precisam
de conhecimento; precisam de controle e poder.

Isto tem acontecido muito freqüentemente. Volte à Grécia Antiga, antes do nascimento de
Jesus Cristo. Em Atenas, havia, ao mesmo tempo, um ensino brilhante, os filósofos e, como o
apóstolo Paulo descobriu, um altar ao Deus Desconhecido (Atos 17). Eles não podiam encontrar
Deus. Então, tinham que postulá-lo, e construíram um altar para ele, e procederam em adorá-lo
em ignorância. Esta é a admissão completa de que os seres humanos são incapazes de ordenar a
própria vida. Eles não podem continuar sem lei; não podem continuar sem Deus. Ainda assim,
imaginam em sua loucura que podem, desprezando, desta maneira, a lei de Deus.

O último ponto é este: essa atual rejeição da lei de Deus não se deve apenas a um mal-
entendido quanto à lei e quanto à natureza humana. Acima de tudo, ela está baseada na extrema
ignorância de Deus "...porque eles jogaram fora a lei do Senhor dos Exércitos e desprezaram a
palavra do Santo de Israel". O profeta Isaías apresenta a natureza de Deus ao descrevê-lo de dois
modos diferentes: "O Senhor dos Exércitos", e "O Santo de Israel". Esta é a tragédia do homem
e da mulher modernos. E eles acham que Deus está contra eles, que Deus é um monstro que se
opõe a eles e os está mantendo em sujeição. Esta é a tragédia, e foi o primeiro pecado.

Mas, pior ainda: aqueles que rejeitam a lei de Deus odeiam tudo que seja relativo à
santidade de Deus. Isto é uma coisa terrível, mas verdadeira. As pessoas estão prontas a crer em
um Deus de amor, mas odeiam a idéia de um Deus Santo: o Santo de Israel! "Elas não gostam
de santidade; sentem que isso vai de encontro a elas e seus maiores interesses; é o contrário do
que querem ser." Quando Deus diz "Porque eu sou Deus, vocês não (...)", elas o odeiam. Não há
uma característica mais terrível das pessoas modernas do que o ódio pela santidade de Deus.

E do mesmo modo, na sua ignorância elas desafiam o poder de Deus "...porque jogaram
fora a lei do Senhor dos Exércitos", do Deus que comanda o Sol, a Lua e as estrelas; do Deus
que reina sobre tudo, que fez tudo e sustenta tudo: o Senhor Deus Jeová! Senhor dos Exércitos!
Infinito, absoluto em poder! E elas se levantam e o desafiam; rejeitam sua santa lei e desprezam
suas mais santas palavras. Não percebem que estão nas mãos de Deus, que Deus está em todo
lugar, e que não se pode escapar dEle. Não se dão conta de quão "terrível coisa é cair nas mãos
do Deus vivo" (Hebreus 10:31). Elas não sabem que com toda a sua sagacidade irão morrer e se
encontrar com Deus. Façam o que fizerem, não podem escapar disto nem evitá-lo. "O Santo de
Israel!", "O Senhor dos Exércitos!" Esta é a explicação da tragédia do homem e da mulher
modernos.

Mas de que eles precisam? Está claro, não está? Eles precisam de saber a verdade sobre
Deus, o que Deus é: Santo, Justo e Todo-Poderoso. Precisam de conhecer Deus como seu
Criador, aquele que lhes deu vida e forma para que vivessem para sua glória e para desfrutá-lo
para sempre. Eles têm de saber disto.

Também necessitam de saber da verdade sobre si mesmos, que não são animais, nem um
bando de sensações. Pelo contrário, têm de ter certeza de que foram criados à imagem e
semelhança de Deus (Gênesis 1:26), possuem mente e entendimento, uma alma e um espírito,
são maiores que o mundo e a vida e toda experiência; enfim, são almas viventes.

Além disso, eles precisam de saber a verdade sobre a vida, e como vivê-la. Eles têm de
saber que a sua felicidade está baseada numa coisa apenas: o conhecimento de Deus e o guardar
da sua santa lei. Eles necessitam conscientizar-se de que, se tão-somente fizerem isto
encontrarão a felicidade, a liberdade e o amor que tanto desejam e procuram. Nosso Senhor
ensinou: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." Se tão-somente amássemos nosso próximo
como a nós mesmos, o mundo seria perfeito, e nunca nos aproveitaríamos de ninguém. Eu
nunca faria mal ao outro para satisfazer a minha lascívia; teria respeito pelo outro. Sentiria amor
pelo próximo e o consideraria da mesma forma que considero a mim mesmo. Assim, também
fariam as nações. Haveria uma paz perfeita se apenas amássemos nossos vizinhos como a nós
mesmos.

Mas que me capacitará a fazer isto? Jesus Cristo, como já vimos, deu-nos a resposta. Só
existe um modo como chegarei a amar meu próximo como a mim mesmo, e é obedecendo à
instrução de Jesus: "Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com
toda a tua mente e com toda a tua força: este é o primeiro mandamento. E o segundo,
semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo" (Marcos 12:30,31). Você nunca
conhecerá a si mesmo, ou se amará adequadamente até que conheça Deus e esteja vivendo para
Ele e para a sua glória. Quando fizer isto você também estará bem com seu próximo, e o amará
como a você mesmo. Nenhum de nós, faz isto; ninguém consegue fazer. Pelo fato de sempre
estarem falhando quanto a isto, muitos explicam, de maneira blasfema e insana: "É esta religião,
esta lei de Deus que está estragando tudo"... Mas é justamente o contrário que acontece: fique
bem com Deus, comece a obedecer a Ele, e todos os seus problemas se resolverão.
Esta é a maravilhosa mensagem do Evangelho cristão. Porque nós não podemos cumpri-
la, e até mesmo não queiramos atender a ela, é que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu
seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna"
(João 3:16). Deus nos viu em nossa miséria, em nossa escravidão e falta de amor, e, em sua
compaixão, enviou seu filho do céu a este mundo, para morrer em uma cruz, e nos tornar livres.
Assim, quando o Senhor, como vimos antes, disse: "Aquele que comete pecado é servo do
pecado", em seguida completou, dizendo: "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis
livres" (João 8:34,36). Livres da lascívia, de todas as coisas que nos acorrentam; livres para
desfrutar a liberdade que só Deus nos pode dar.

Então, deixe-me expor isto a você nas palavras do apóstolo Paulo. Ali estava ele, tentando
viver uma vida correta e falhando, até que, em sua extrema agonia ele lamenta: "Maldito
homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" – desta pura contradição que sou? E a
resposta é esta: "Graças a Deus, mediante Jesus Cristo nosso Senhor" (Romanos 7:24,25). "A lei
do Espírito de vida em Cristo Jesus me libertou da lei do pecado e morre" (Romanos 8:2). Eu
sou um homem livre! Assim, Paulo pôde dizer como o salmista: "Oh, como eu amo a tua lei!"
(Salmos 119:97). "Eu me deleito em fazer a tua vontade, ó meu Deus!" (Salmos 40:8).

Só há uma forma de encontrar felicidade e liberdade; só há um modo de encontrar amor.


Aqui está um homem que encontrou, e é assim que ele ora:

Minha vontade não é minha


até que a faças tua;
se ela chegasse ao trono do monarca
ela a coroa a ti entregaria.
George Matheson

Não creia na mentira do diabo de que ser cristão é ser infeliz, ser um escravo e não ter
amor. Não, pelo contrário, ser cristão sincero é desfrutar liberdade, vida, alegria e paz. "Se o
Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
O VEREDICTO

Por isso a ira do Senhor está acesa contra seu povo, e ele estende a sua mão contra
eles e os fere: de maneira que os montes tremem e seus cadáveres estão dilacerados no
meio das ruas. Apesar de tudo isso a sua ira não se aplaca, mas ainda está estendida a
sua mão (Isaías 5:25).

Aqui neste versículo o profeta está pronunciando seu veredicto. Deus lhe deu esta
mensagem para Israel porque as coisas estavam começando a dar errado. Havia falsos profetas:
aliás, sempre houve. Está registrado que eles eram as pessoas que sempre chegavam e... "curam
a ferida da filha de meu povo, superficialmente, dizendo paz, paz; quando não havia paz"
(Jeremias 8:11). Este é sempre o problema com os falsos profetas. Eles estão aí para agradar, ser
populares, sabendo que o povo gosta de ouvir: "Paz, paz"! As pessoas gostam de ouvir que tudo
está bem: "Não se preocupe!" "Não fique ansioso!" "Não tenha medo!" "Há algo errado, sim,
mas não é nada sério, logo vai se resolver." "Paz, paz..." E havia muitos desses falsos profetas
falando ao povo de Israel.

Mas o verdadeiro profeta é chamado por Deus, e sua mensagem não é uma mensagem de
"paz, paz". Ele não olha meramente para as condições exteriores, e faz um diagnóstico
superficial; nem está preocupado em simplesmente medicar os sintomas. Ele está preocupado
com a verdade; ele realmente quer ajudar, e sabe que você tem que ser cruel, sincero. Ele diz a
verdade, e é isto que temos no capítulo 5. Todas estas coisas virão até vocês, diz o profeta,
porque vocês não se conduziram como povo de Deus. Este é o significado, como já vimos,
daquele poema, daquela parábola, nos primeiros sete versículos.

Então, Isaías passa pelos pecados e transgressões específicos dos quais o povo era
culpado, e, como acabamos de ver, resume tudo em uma acusação final contra o povo de Israel,
dizendo: "Eles jogaram fora a lei do Senhor dos Exércitos e desprezaram as palavras do Santo
de Israel." Esta é a acusação, e, agora, aqui está o veredicto desta acusação: "Por isso a ira do
Senhor está acesa contra seu povo, e ele estende a sua mão contra eles e os fere." Ela foi severa,
e não terminou; até isso não é o fim. "...mas a sua mão ainda está estendida". Por quê? Porque
eles não se arrependeram.

Vamos examinar esta grande mensagem juntos. Note que ela nos faz lembrar do que trata.
É claro que, da palavra mais proeminente em todo o capítulo, a palavra "ai". Seis "ais" foram
pronunciados, e aqui está a conclusão na palavra "ira" ou "cólera".

Depois disto o restante do capítulo é puramente descritivo. Os versículos de 26 até o final


não são nada mais do que uma descrição detalhada do tipo de punição que Deus estará enviando
ao povo de Judá. Então, esse versículo é, realmente, o final de nosso estudo deste capítulo.

Ao chamar sua atenção para esse versículo, estou totalmente consciente de que não há um
aspecto da mensagem bíblica que perturbe tanto os homens e mulheres modernos quanto a ira
de Deus: Deus, aquele que pune o pecado e a iniqüidade. Não há nenhuma parte, nenhum
elemento no ensino bíblico, contra o qual as pessoas tenham uma objeção tão violenta e
enraizada como esta verdade em particular.

Agora, é claro que não é nada surpreendente que as pessoas julguem isto questionável.
Particularmente, não surpreende que seja questionado pelo tipo de pessoa que estávamos
examinando quando lidamos com aqueles que contestam toda noção de lei, uma noção
completa, em última instância, da moralidade, e na verdade de todo o ensino sobre Deus. Não é
uma surpresa que façam objeção a esta doutrina da ira de Deus. Eles seriam inconsistentes se
não a fizessem. Eu quero crer que a posição deles é em tudo coerente e lógica. Se você não crê
em leis, não posso esperar que creia na doutrina da ira de Deus e da punição do pecado por ele.
Uma, inevitavelmente, acompanha a outra.

Assim, a objeção quanto a esta doutrina é encontrada entre aqueles que não são cristãos e
que estão fora da Igreja. Eles a contestam acima de qualquer outra. Eles dizem: "Nós
entendemos a idéia do amor de Deus, mas esta noção de ira e da mão de Deus estendida, isto é
impossível." "O homem natural", como a Bíblia classifica essas pessoas, aquelas que não se
professam como cristãs, ressente-se desta doutrina. Aliás, sempre tem sido assim. Mas, coitado!,
a objeção não está confinada às pessoas que estão fora da Igreja. Existem muitas que estão
dentro da Igreja e fazem tantas objeções quanto as que estão fora. Elas têm uma visão das
Escrituras que chamam de "liberal", e, assim, abominam esta doutrina da ira de Deus.

Agora, quero lidar, em particular, com este segundo grupo, mas, é claro, ao mesmo tempo
creio que estarei, de algum modo lidando com o caso dos que estão fora da Igreja. Rendo
minhas homenagens, deixe-me repetir, aos que estão de fora, porque, de alguma forma, eles são
consistentes e lógicos. Eu, porém, não posso homenagear os que estão dentro da Igreja e negam
a doutrina da ira de Deus. Eles, realmente, estão numa posição indefensável, como espero
mostrar-lhe; não há consistência nenhuma neles. Sejamos, ao menos, pessoas consistentes, que
se posicionam, não pessoas que estão metade dentro e metade fora, pessoas que pegam um
pedaço e largam o resto. É tudo ou nada, quando se trata desta doutrina bíblica.

Este é um assunto vital, visto não apenas do ponto de vista da mensagem cristã e da Igreja
mas também de um ponto de vista geral político e social. Se fosse meu objetivo fazê-lo, acredito
que não teria muita dificuldade em demonstrar que um grande número. de nossos problemas
atuais – estou-me referindo aos políticos e sociais – derivam, realmente, desta enraizada objeção
a toda noção de disciplina, ordem, lei, retidão, justiça e retribuição. Eu acredito em que a
objeção a esses princípios dá explicação, em uma grande medida, da ruína da disciplina da vida
no lar, e pode também ser a raiz de muitos dos problemas da delinqüência juvenil.

Mas – outra vez – sejamos honestos e justos. Sei que estamos neste século sofrendo de
uma reação contra aquilo a que já me referi como vitorianismo. Longe esteja de mim tentar
defender o tipo vitoriano de pai – aquele tirano –, porém, o mundo reagiu tão violentamente
contra ele, que essa reação, é claro, como todas as reações, foi longe demais. Ela alcançou um
ponto de ilegalidade, e o pai moderno, em seu desejo de não ser como o durão, ranzinza, dedo-
duro, truculento, sem amor, pai vitoriano, tornou-se tão fácil e indulgente que não crê, de forma
alguma, em disciplina. E o resultado é o que, infelizmente, tem-se testemunhado, com tanta
freqüência, na vida do lar e da família, nas escolas, e na falta em geral de um comportamento
decente entre os jovens e as crianças.

E ainda outro resultado – que só menciono ocasionalmente – é a nossa atitude em relação


a prisões e ao que deveria acontecer em uma prisão. Qual é o propósito em mandar alguém para
a cadeia? Hoje, a idéia já não é a de punir o ofensor: não cremos em retribuição. O objetivo da
prisão – explicam – é a reforma. Mas você está familiarizado com alguns dos detalhes para os
quais isto tem levado a questão, por exemplo, de se existe uma coisa tal como o pecado, no
momento está na balança.

Na verdade, a questão principal de que haja essa coisa como o crime também parece estar
em julgamento. Para algumas pessoas, muito em breve não haverá criminosos: todos estaremos
"doentes", de uma forma ou de outra! O crime se torna um assunto médico, não um problema
legal, e, assim, não se punem mais as pessoas: elas são "tratadas"... Você chama os psiquiatras,
e já não há punição. Penso que é tempo de começar a examinar-se mais seriamente, toda essa
questão, porque nossos modernos esforços não parecem dar resultados muito bons. Mas aí está
esta contestação fundamental a toda idéia de lei e aplicação da lei, especialmente quanto à
punição: é uma coisa para a qual o pensamento moderno tem uma objeção muito enraizada e
violenta.

Então, qual é a dificuldade? Por que esta objeção? E particularmente, por que existe esta
discussão entre pessoas que se chamam a si mesmas de cristãs? Parece-me que duas são as
respostas óbvias. A primeira é a de que as pessoas não se submetem à revelação da Bíblia. Isso é
fundamental. Em última análise, só existem duas posições abertas, tanto para os que estão
dentro quanto para os que estão fora da Igreja: ou se submetem à revelação e ao ensino da
Bíblia, ou os rejeitam. Até onde entendo, esta é a única classificação que interessa. Nada mais
interessa do ponto de vista da pessoa que crê na Bíblia.

O problema com essas pessoas que dizem ser cristãs e ainda assim não crêem em punição
é o de que elas aceitam a Bíblia em algumas coisas, mas não em outras. Elas explicam que não
crêem porque não podem reconciliá-la com a idéia de um Deus de amor. E as pessoas de fora
dizem a mesma coisa: "É impensável que Deus tenha ira ou cólera, ou que venha a levantar a
sua mão para punir." E continuam: "Tal Deus não é um Deus de amor, e eu não poderia crer
nEle desse modo." Até mesmo pessoas dentro da Igreja dizem isto.

O problema é que sua noção de Deus não se deriva da Bíblia, mas do que pensam de
Deus, do que pensam do amor. Eles partem de suas próprias idéias, e, porque a Bíblia não
concorda, eles a rejeitam. Eles são os juízes, o modelo, e desprezam toda a categoria da
revelação; então, veremos o significado disto.

Mas a segunda razão para isso – e para mim a mais importante, e ao mesmo tempo muito
fascinante! – é esta: As pessoas não conseguem ver a unidade da mensagem bíblica. Muitas
doutrinas diferentes são ensinadas na Bíblia, mas a glória da Bíblia é a sua unidade: são, todas,
facetas de uma grande verdade central unificada. Só isto, no que me concerne, seria mais do que
suficiente para me fazer crer que a Bíblia é a Palavra de Deus. Aqui, está um grande livro que
consiste em 66 livros incorporados em um, escritos em épocas diferentes, por autores diferentes,
com séculos de intervalos, e, ainda assim, dizendo todos a mesma coisa. Existe uma grande
mensagem do Gênesis ao Apocalipse, um tema central. Tudo é levado a uma magnífica unidade.
Há uma inteireza que é suprema e divina, e o problema com as pessoas é que elas não a
enxergam. Elas examinam as doutrinas isoladamente, e, pelo fato de assim fazerem,
concentram-se nos particulares e deixam de fora o geral, não conseguindo entender nem mesmo
o particular. Por esta razão, tendem a estar erradas em cada ponto.

Se você deixar de fora esta doutrina da ira de Deus, toda a doutrina da salvação entrará
em colapso. Se eu não cresse na doutrina da ira de Deus, não entenderia a morre de Cristo na
cruz: ela não teria sentido para mim. Você não pode ficar escolhendo neste assunto; ou você
leva tudo ou não leva nada. É por isto que devo enfatizar, outra vez, que as pessoas que me
parecem estar fazendo o maior mal à causa cristã são os cristãos inebriados, não as que estão, de
fato, fora da Igreja. Elas perdem o ponto principal, a inteireza, a unidade, a grandiosidade. Não
vêem como cada doutrina se encaixa com a outra! Elas não entendem que, se você tirar uma,
destrói tudo.

Então, as pessoas que não crêem na doutrina da ira de Deus nunca têm uma visão correta
da Cruz. A visão delas da Cruz é algo sentimental, superficial. Tem que ser assim, visto que não
se apropriam da chave essencial ao entendimento da glória da Cruz.

Vamos, então, olhar para aquele momento que aconteceu na Sexta-Feira da Paixão,
quando Jesus de Nazaré estava crucificado no Calvário entre os dois ladrões. Ele entrara em
Jerusalém montado em um jumento, e as pessoas haviam estendido suas roupas, cortado ramos
de palmeiras e forrado a estrada; e gritavam: "Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor"
(Marcos 11:9). Mas ele estava indo para a morte, para a crucificação, para a vergonha, para a
ignomínia, para o deboche e para um sofrimento incrível.

Mas que significa tudo isto? É uma questão de História. Jesus de Nazaré pertence à
História. O Domingo de Ramos aconteceu mesmo. * Não é uma história, é um fato que
aconteceu. E a grande questão que deveria preocupar-nos é esta: Quem é este Jesus? Que estava
fazendo ali, esta pessoa montada em um jumento? E o mais importante: Por que Ele acabou
pregado na cruz? Tudo isto tem ou não um significado? Minha opinião é a de que você nunca
compreenderá, a menos que entenda o ensino bíblico em relação à ira de Deus, e sua ira sobre o
pecado.

Por que isto é tão essencial? Vou apresentar-lhe três respostas. A primeira é a de que a
doutrina da ira de Deus é absolutamente essencial ao entendimento da verdade sobre o próprio
Deus. Aqui, é claro, está a proposição primária. Tudo é uma questão de conhecer Deus. Qual é a
verdade sobre Deus? É disto que o Cristianismo trata. A idéia de que o Cristianismo é apenas
algo que confere um sentimento bom – ou me faz esquecer os problemas, que é um tipo de ópio
ou paliativo – é a mais perfeita e completa caricatura. Sei muito bem que Deus sempre tem sido
apresentado assim: "Venha a Jesus, e você terá isto, e isso, e aquilo..." Mas este não é o
cristianismo bíblico. O Cristianismo bíblico é este: Deus e meu relacionamento com Ele!

Mas quem é Deus? Que é Deus? Esta é a questão fundamental. Que sei sobre Deus? Não
muito. Como posso saber algo sobre Ele? Veja, crer ou não na ira de Deus depende de sua visão
de Deus. Mas, de onde você tira esta visão? E aqui está o ponto no qual muitos se desviam.
"Poderia você, procurando Deus, encontrá-Lo? (Jó 11:7). Bem, o apóstolo Paulo, um homem
culto e brilhante, diz-nos "o mundo mediante a sabedoria" – referindo-se à filosofia "não
conheceu a Deus" (I Coríntios 1:21). Ah, sim, os filósofos estavam indagando sobre Ele... Não
há dúvida de que aqueles homens poderosos haviam lutado com este problema. Eles estavam
conscientes da complexidade da vida e tentavam entendê-la. Estavam fazendo perguntas
fundamentais. Mas o problema é que eles nunca poderiam chegar a uma resposta. Pode um
homem encontrar Deus, procurando-O? E a resposta é "Não."

Às vezes, penso que não há nada mais interessante em todo o Novo Testamento do que a
história em Atos 17. É a história da visita feita pelo apóstolo Paulo à famosa cidade de Atenas.
Não há dúvida de que ele fora ali de férias. Depois de haver sido tratado mal em Tessalônica e
em Beréia, seus amigos levaram-no até o mar e ele partiu para Atenas a fim de descansar. Mas
ele não pôde descansar. Ele teve que começar a falar, porque, como disse ao povo ateniense:
"Eu percebo que vocês são bastante supersticiosos sobre todas as coisas."

Que levou Paulo a esta conclusão? Encontrou a famosa cidade de Atenas, o grande centro
filosófico, a terra e o lugar da Filosofia, abarrotada de templos e altares a vários ídolos. E o mais
interessante de tudo é que, entre aqueles altares, encontrou um com a inscrição: "Ao Deus
Desconhecido."

Esta era uma tremenda confissão. Atenas conhecera o melhor da Filosofia, e o grande
período do florescimento da mesma. O tempo dos grandes "mestres" terminara – lembre-se –,
quando isto aconteceu. Apesar, daquele ensinamento todo, porém, aqui estava um "Deus
Desconhecido"! Havia um poder externo – acreditavam eles – maior que o homem e a sua
mente, seu pensamento e seu entendimento; havia poderes influenciando este mundo; havia
"deuses". Assim, na verdade, com sua filosofia eles tinham "religião demais", só que ainda

*
Esta mensagem foi pregada no Domingo de Ramos de 1964.
estavam procurando por Deus e não conseguiam encontrá-Lo. "O mundo, por sua sabedoria, não
conheceu Deus", e ainda não pode conhecê-lo pela própria sabedoria.

E a razão para isto é exatamente o caráter e a pessoa de Deus. Se eu conseguisse


encontrar Deus, isto significaria que eu seria maior que Deus. Se Deus fosse um objeto que eu
pudesse examinar e dissecar, então eu seria maior que Ele. Deus, porém, por definição, está
além; Ele é absoluto, é eterno.

E, assim, o ensino bíblico diz que homens e mulheres não podem, de forma alguma, saber
algo sobre Deus, a menos que Deus escolha revelar-se a eles. É claro que reconheço que,
mediante o estudo da natureza e da criação, você pode chegar a uma crença em um Criador.
Esta foi a conclusão a que chegou Sir James Jeans: deve haver uma grande mente por trás do
universo. Ele disse que seu conhecimento científico o fizera chegar a esta conclusão. Mas isto
só leva ao conhecimento de Deus como algo poderoso, um Deus Criador. Este é o argumento do
apóstolo Paulo no primeiro capítulo da Epístola aos Romanos. Ela pode levá-lo a isto, mas isto
não é conhecer Deus. Quero conhecê-Lo como ele é; quero conhecer um Deus pessoal; quero
saber os atributos do caráter de Deus. E aí não posso ser bem-sucedido; aí, ninguém pode ser
bem-sucedido, ninguém jamais foi bem-sucedido: este é o mistério de Deus! Ó mysterium
tremendum! – como alguém já disse. E isto é o que Ele é. É o máximo: Deus! Estamos presos à
revelação. Não sabemos nada sobre Deus, exceto aquilo que Ele se agradou em nos revelar.

E graças a Deus por se haver agradado em nos dar essa revelação! Esta é a grande
mensagem da Bíblia. É uma grande falácia pensar e dizer que a Bíblia é o maior relato da
procura do homem por Deus. É exatamente o oposto. É o relato do fracasso do homem, e de
Deus graciosamente se revelando, bem como seu propósito para o mundo. É um relato da
revelação e não da descoberta. Trata-se de antíteses absolutamente opostas.

Então, Deus nos deu sua revelação. Ele a deu a Adão, a Eva e a Caim, seu filho. Ele deu
uma revelação de si mesmo ao povo antes do Dilúvio e ao povo que construiu a Torre de Babel,
em sua sagacidade e esforço para alcançar os céus. Ele deu uma revelação nos Dez
Mandamentos que entregou a Moisés, e na lei moral. Entregou a mensagem aos profetas. Na
verdade, todo o Velho Testamento não é nada mais, em um certo sentido, do que um grande
relato da revelação de Deus sobre si mesmo.

E que ensina Ele? Isto: "Eu sou o Senhor teu Deus! Eu sou um Deus Santo!" Em todo
lugar, é isto o que Ele nos conta sobre si mesmo. Colocou o homem e a mulher no Jardim e
disse: Agora guardem os meus mandamentos, obedeçam à minha santa lei, e vocês se
desenvolverão, crescerão e nunca morrerão. Mas, se não fizerem assim, morrerão, perecerão,
serão expulsos. Esta foi a revelação da santidade de Deus.

E foi da mesma forma que Ele se revelou a todos os profetas. Leia o que está resumido
por Habacuque: "Tu [Deus] és tão puro de olhos que não podes ver o mal" (Habacuque 1:13).
Esta é a grande mensagem do Velho Testamento: de que Deus é um Deus santo, um Deus justo
e reto. E foi por não perceber isto que o povo de Israel enfrentou sempre problemas.

Agora, vá ao Novo Testamento. Que dizer do ensino do Novo Testamento em relação a


Deus? Veja o ensino do próprio Senhor Jesus. As pessoas dizem que não gostam do Deus do
Velho Testamento, mas gostam do Deus-Jesus. Mas que Jesus disse sobre Deus? Bem, vejamos
a Oração do Pai Nosso, com a qual ensinou o povo a orar. Ela começa com "Pai nosso"! Sim,
mas não deixe que alguém pense: Ah, Deus é como um pai, não é? Igual ao pai moderno,
indulgente, que sorri docemente sobre o que você faz ou deixa de fazer. Não! "Pai nosso, que
estás no céu, santificado seja o teu nome!" É assim que Ele nos ensina a orar! Não
"papaizinho"; não como alguém com quem possamos estar familiarizados, mas "Deus que está
no céu, santificado seja o teu nome."
Além disto, quando você lê os relatos das próprias orações de Jesus, observe como,
invariavelmente, Ele orava: "Pai Santo"! Aqui está Jesus Cristo, a encarnação do Deus de Amor.
Seu ensino sobre Deus é o de que Ele é um Deus santo, justo e reto, e que é a própria antítese do
pecado, do mal e de tudo que está errado. Este é o ensino de nosso Senhor.

Vá, agora, ao ensino dos apóstolos, e encontrará a mesma coisa. Eles dizem: "Deus é luz,
e nele não há treva alguma" (I João 1:5). "Nosso Deus é um fogo consumidor" (Hebreus 12:29).
Todos são unânimes em seus ensinamentos. O ensino da Bíblia no Velho Testamento e no Novo
é uma grande revelação deste Ser Augusto. Deixe-me acrescentar que os judeus, apesar de todo
o seu pecado e de toda a sua recalcitrância, tinham um conceito fundamental sobre a santidade
de Deus, pois Deus lhes dera seu próprio nome. Ele disse: Eu sou Jeová! "Eu sou o que sou"
(Êxodo 3:14). "Eu sou o que serei! Eu sou de eternidade a eternidade! Eu sou um Deus santo"!
Eles não tinham nem coragem de pronunciar o nome de Deus. Era tão sagrado, tão santo, que se
referiam a Ele como "o Nome". Eles foram ensinados assim. Veja Moisés e a sarça que
queimava sem cessar! Ele se interessou pelo fenômeno, e como um típico homem moderno se
perguntou a si mesmo: "Que é isso? Agora, vou voltar e ver esta grande visão" (Êxodo 3:3).
Então, veio a palavra: Para trás! "Descalça as sandálias dos teus pés, porque o lugar que estás
pisando é lugar santo" (Êxodo 3:5).

Isto significa que Deus não é para ser examinado; Ele não é um fenômeno para nossa
investigação científica. Deus é! Ele é santo, e é como fogo. Deus é luz. É justiça e retidão, e
devo humilhar-me diante dEle; descalçar os sapatos, porque estou em território santo. Não sou o
examinador: sou o adorador. Eu devo calar-me; tenho de ouvir.

E certamente, isto é algo que deve ser óbvio para todos nós. Esta é a revelação, e assim
tem de ser. O atributo essencial de Deus é glória. Não podemos definir a glória; não sabemos
nada sobre ela. Somos muito manchados, indignos, poluídos. Deus Glória, porém, é o absoluto
em tudo: absoluto em santidade e retidão, o máximo em justiça, amor, misericórdia e
compaixão. Deus é onisciente; onipotente e onipresente. Todos os seus atributos são perfeitos e
são todos um em sua eterna pureza.

Luz eterna! luz eterna!


Quão pura a alma deve ser
quando, colocada diante da tua visão que escrutina,
não se extingue, mas em tranqüilo deleite
pode viver e a ti ver
Thomas Binney
Imortal, Invisível, Deus de sabedoria,
na luz inacessível escondido de nossos olhos,
Abençoado, Glorioso, Ancião de Dias,
Poderoso, Vitorioso, teu grande nome louvamos.
Walter Chalmers Smith

Mas esta descrição não é nada! Ela não define Deus; vai além disto. Tudo que sabemos é
que Deus é glorioso em todos os seus atributos, e é inconcebível que Ele não seja santo. Se
Deus pudesse misturar-se com o pecado, o mal, o vício e as coisas com que estamos tão
familiarizados, não mais seria Deus. Deus é exatamente o oposto do que sou, em toda a minha
pequenez, finitude, indignidade e feiúra. Deus é o eterno contraste de tudo isto, em toda a sua
glória e maravilha e perfeição, e é inconcebível que esse Deus possa fingir que não vê o pecado,
que não o odeia, que todo o seu ser não o abomina. Deus não poderia coexistir com isto. Então,
digo, com toda a reverência, que Deus tem que fazer algo a respeito do pecado. O ensino bíblico
é que Ele fez e fará. Então, esta doutrina da ira de Deus é essencial, em primeiro lugar, para uma
compreensão de Deus mesmo.
Em segundo lugar, porém, esta doutrina é absolutamente essencial a um entendimento da
história humana. E quando digo história humana estou-me referindo a toda a história da
civilização de que se tem conhecimento, da raça humana, a história que temos disponível. É
essencial como? Bem, como você explica a história passada do mundo até este momento?
Deixe-me fazer-lhe, mais uma vez, a pergunta: Por que o mundo está como está? Por que esta
desordem? Por que a confusão? Por que o sofrimento, a dor, a agonia, a corrupção, a baixeza
moral e a injustiça? Por que tanta infelicidade no mundo?

A Bíblia tem uma resposta para isto, para mim a única adequada. É a seguinte: Não é
porque o mundo esteja passando por algum processo evolucionário doloroso na direção da
perfeição, porque não há nenhuma evidência disto. O mundo está tão mal hoje quanto sempre
esteve. Não. A resposta é, que Deus fez um mundo perfeito e pôs um homem e uma mulher
perfeitos nele, e a vida teria sido um paraíso. Deveria haver sido uma vida santa, limpa, pura,
feliz e alegre. "Então, por que as coisas estão do jeito que estão?" – você me perguntaria.

A Bíblia tem suas respostas: É porque o pecado entrou, porque o homem e a mulher se
rebelaram contra Deus. Com efeito, já vimos que Deus lhes disse: Vivam como eu criei vocês e
como espero que vocês vivam, e terão apenas felicidade. Se, porém, assim não fizerem, trarão a
punição sobre vocês.

Deus os avisou; não havia desculpas. Eles entenderam os termos, que estavam bem claros
e razoáveis. Em sua indescritível tolice, porém, e na arrogância de seu orgulho, eles se
rebelaram contra Deus, e Deus fez o que disse que faria. Ele os puniu e os retirou do Paraíso. E
avisou: "Comerás teu pão com o suor do teu rosto" (Gênesis 3:19). Mas não foi somente isto.
Ele também amaldiçoou a Terra, e espinhos e sarças começaram a crescer. Daí por adiante, a
vida da humanidade seria uma luta, a semente da serpente contra a semente da mulher, conflito,
tensão, problema, guerras, calamidades, doenças malditas, todas estas coisas entrariam como
parte da punição pela rebelião e pelo pecado. Deus avisou que aconteceria, e aconteceu.

Sugiro a você que não existe uma explicação mais adequada para o estado em que o
mundo está hoje. Assim como está expressa, você a encontrará através do Velho Testamento. E
ela está confirmada repetidamente na vida das nações fora da história do Velho Testamento.

Deus tomou um homem chamado Abraão e fez dele uma nação. Ele disse: "Eu vou fazer
um povo para mim." Então, abençoou-os e derramou seus dons sobre eles. Disse, também:
"Vocês só têm que viver de uma maneira que me glorificará, e eu continuarei abençoando
vocês. Se assim não fizerem, eu os punirei." Mas eles não obedeceram. Eles se rebelaram contra
Ele, e, embora fossem seu povo escolhido, Ele os puniu. Deus levantou inimigos contra eles,
que os conquistaram e os levaram para o cativeiro.

Esta é a história bíblica. É tudo uma parte da punição do pecado. Como já vimos,
encontramos esta verdade no caso de indivíduos. Alguns deles grandes homens, os maiores
homens de todos. Veja o caso de um homem como Davi. Ficamos sabendo que ele era um
favorito de Deus. E que homem poderoso era ele, um grande rei, um grande líder militar, um
grande poeta, um grande salmista. Mesmo assim, ele teve que sofrer muito neste mundo. Por
quê? Por causa do seu pecado. Ele quebrou as leis de Deus, rebelou-se contra Ele, e a punição
lhe sobreveio. Pobre Davi! Ele teve um aspecto trágico de vida. Começou tão bem, mas veja o
final: tudo porque não deu ouvidos a Deus. Por isto teve que suportar as conseqüências de suas
ações. Deus o puniu, apesar de ele ser seu servo escolhido.

Isto aconteceu no passado, mas dá-se também no presente. O mundo atual está tão cheio
de problemas como sempre esteve. Apesar de todos os avanços e de toda a nossa educação, o
mundo enfrenta seriíssimos problemas. Não conheço nenhuma outra explicação além da que é
dada pelo apóstolo Paulo em Romanos 1, onde ele repete três vezes: "Deus os entregou"; como
em Romanos 1:28: "Deus os entregou a uma mente reprovável." Isto é parte do julgamento de
Deus. Quando a humanidade não dá ouvidos a Deus, não ouve seus apelos, e rejeita suas
ofertas, então Deus começa a punir. E uma das punições é a de retirar suas restrições. Ele
permite que os homens e as mulheres "façam seu jogo" como queiram. É assim que ele diz:
"Muito bem, você acha que pode continuar sem mim, então vá adiante."

E creio que esta é a grande e terrível explicação para este nosso século XX. Deus está,
nos permitindo "ir adiante", mas sozinhos. As limitações se foram, e tudo que Deus faz para
confinar o mal está sendo liberado. Estamos, assim, testemunhando o inferno escancarado. Ele
nos entregou a uma mentalidade reprovável.

Deus repetiu muitas vezes no Velho Testamento: "Não há paz (...) para o perverso"
(Isaías 57:21). Você pode ser muito culto, mas isto não lhe dará paz; você pode ser muito rico,
mas não pode comprar a paz. Graças a Deus que não! Graças a Deus que neste mundo moderno
existem algumas coisas que dinheiro nenhum consegue comprar! Você não pode comprar
felicidade, tranqüilidade, amor verdadeiro, saúde intocável, a paz de consciência, a isenção do
medo da morte. Dinheiro não serve, cultura não serve; nada serve. "Não há paz" – diz o meu
Deus – "para o perverso." Quer você queira, quer não, você está no mundo de Deus, e suas leis
ainda estão em operação. Faça o que fizer, você nunca encontrará paz, a não ser que reconheça
que há um Deus e, então, submeter-se a Ele.

Há uma outra frase muito importante, como já vimos: "O caminho dos transgressores é
duro" (Provérbios 13:15). Sempre foi e sempre será. Não se pode pecar e sair impune. Você terá
que pagar por ele. Pagar talvez com sua saúde, ou com a sedação de suas faculdades, ou em um
gradual embrutecer de toda a sua aparência. "O caminho dos transgressores é duro." Tem sido
sempre assim, ainda é, e sempre será. Há uma explicação para o passado e para o presente. E
que dizer do futuro?

Bem, de acordo com esse texto, as coisas não vão melhorar nada.

Mas alguém pode argumentar: "Eu pensei que em algum momento haveria um pouco de
esperança! Você diz, porém, que as coisas vão piorar?

A Bíblia diz-nos: "Os Homens maus (...) irão de mal a pior" (II Timóteo 3:13), e "haverá
guerras e rumores de guerras" (Mateus 24:6). Pode haver movimentos políticos e outros
movimentos contra a guerra, e grandes esforços para "banir a bomba" – mas as guerras nunca
vão terminar.

Por que não? Porque a guerra está no coração humano. Por que ficar ofendido quando um
tirano invade um país e o anexa? Por que tanta indignação sobre isto, se você desculpa o
indivíduo que invade o lar de outro homem, sua vida conjugal, e rouba dele a esposa; ou vive
uma vida dupla e sórdida: lá e cá? Qual, em princípio, é a diferença? Nenhuma! E é por isto que
o mundo nunca será capaz de se reformar a si mesmo, ou de se salvar. Ele tem tentado fazer isto
através dos séculos! Esta é a grande história da civilização. Vamos voltar à Grécia. Veja seus
planos utópicos. Por que não aconteceram? Qual foi o problema?

Só há uma resposta: "Não haverá paz" – diz meu Deus – "para o perverso." Na verdade, a
mensagem bíblica conduz a isto: a história está-se encaminhando para um clímax. Ela diz que
Deus começou o processo temporal, que Ele ainda o tem sob controle, e que o mundo será
julgado com justiça. Você encontra isto em toda a Bíblia. Será a coisa mais impressionante que
jamais poderemos contemplar. Mas, para mim, embora seja algo aterrador, agradeço a Deus por
ela, por me mostrar que tenho a dignidade da responsabilidade, que não sou uma simples
máquina, um mero agregado de princípios biológicos ou um fortuito resultado das emissões das
glândulas sexuais. Ela me diz que sou um ser humano responsável diante de Deus; que terei que
aparecer perante uma corte de julgamento, e que por Deus me é concedida a honra de prestar
contas de minha mordomia da alma que Ele me deu, e de minha conduta e comportamento neste
mundo temporal. Tudo conduz a um julgamento final.

Então, estou argumentando que você não pode entender a história humana e a história do
mundo se rejeitar a grande doutrina da ira de Deus sobre o pecado.

Mas em último lugar, se você rejeitar esta doutrina, nunca entenderá a graça de Deus, o
amor de Deus, nem compreenderá jamais o Evangelho. Acima de tudo nunca entenderá a cruz
de Cristo, nunca! Esta só se pode compreender à luz do ensino bíblico no que se refere à ira de
Deus sobre o pecado. É por esta razão que estou tão preocupado com esta doutrina. Ao rejeitá-
la, você rejeita todas as mais maravilhosas coisas de todo o Evangelho.

Reflita sobre isto desta maneira: se a única coisa em que temos que crer é no amor de
Deus, e se – como a maioria faz – o interpretamos como significando que não importa o que
façamos, contanto que vamos a Deus e lhe digamos "Eu sinto muito", e Ele nos perdoará; se isto
é realmente verdadeiro, então por que seria necessária a Encarnação? Se o amor de Deus é a
única coisa que interessa, e se isto resolve todos os problemas; se todo o universo, toda a
humanidade vai para o céu porque Deus é amor, por que, então, o Filho de Deus veio a este
mundo? Qual o objetivo? O povo de Israel recebera a mensagem sobre Deus como sendo amor:
Quando meu pai e minha mãe me abandonarem" – diz o salmista: "então o Senhor me acolherá"
(Salmos 27:10), e os profetas estão repletos deste grande ensinamento. Então, pergunto: "Se tão-
somente o amor de Deus é a doutrina na qual temos que crer, e se devemos rejeitar a ira de
Deus, por que, afinal, o Filho de Deus deixou os lugares celestiais e veio nascer como um bebê?
Por que viveu em absoluta e completa pobreza? Por que trabalhou com as próprias mãos como
carpinteiro? Por que, acima de tudo, morreu naquela cruz? Se Deus é amor, e é só amor, por que
permitiu que seu Filho morresse? Ele poderia havê-Lo poupado. O próprio Jesus falou: "Se eu
quisesse escapar, eu o faria facilmente. Eu comandaria doze legiões de anjos e eles me
carregariam para o céu" (Mateus 26:53). Mas não: "Ele se fez como nós para cumprir toda a
justiça" (Mateus 3:15).

Mas por que a cruz? Só há uma explicação: por causa da ira de Deus contra o pecado. Eu
digo isto com reverência: o amor de Deus não pôde lidar apenas com o problema do pecado
humano. Ele precisou da Encarnação. E isto leva às maiores glórias do Evangelho. Aqui está:
"Vindo porém a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos"
(Gálatas 4:4,5). Ou deixe-me citar outra vez o texto favorito da maioria: João 3:16 - "Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único Filho" – para quê? – "para que todo
aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna."

Só há uma explicação para a vinda do Filho de Deus ao mundo, e para o fato de Ele haver
ido para a cruz: para que homens e mulheres não "perecessem"! Este é o Evangelho cristão. Esta
é a manifestação do amor de Deus: que Deus enviou seu Filho ao mundo para nos salvar da sua
própria ira sobre o pecado.

Deixe-me resumir citando dois versículos nos quais o apóstolo Paulo traduziu isto muito
claramente:

O qual Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para
manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impune os pecados
anteriormente cometidos, tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo
presente; para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.
(Romanos 3:25,26).
Que significa isto? É o seguinte. O problema do perdão de pecados é o maior problema
que o Deus eterno jamais teve que enfrentar. Criar o mundo não foi nada: tudo que Ele teve que
fazer foi dizer "Haja luz..." Uma palavra, um fiat, foi o suficiente. Mas como os homens e as
mulheres poderiam ser perdoados? Este é o problema, diz Paulo. Como Deus pode ser justo e,
ao mesmo tempo, perdoar o pecador? Como Deus pode continuar santo e extremamente
afastado do pecado e, ainda assim, perdoar as pessoas que pecam? Este é o problema na mente e
no coração do Deus eterno.

O amor apenas não pode resolvê-lo, porque a justiça e a retidão insistem no julgamento.
As leis de Deus devem ser vindicadas. O pecado é uma afronta contra Deus, uma agressão à sua
pessoa e uma rebelião contra Ele. O que importa não são meramente nossas ações, mas o que
elas determinam em nossa atitude com relação a Deus, porque para nós, pecar é desafiar o
eterno e glorioso Deus, que tudo fez e tudo possui. A honra de Deus, seu caráter e sua pessoa
devem ser vindicados. Deus não pode perdoar de uma maneira que de alguma forma lance
algum reflexo ou dúvida sobre sua justiça e retidão.

Então, aqui está o problema: Como é possível que Deus continue justo e, ao mesmo
tempo, justifique o perverso, o pecador e o rebelde? Como poderia Ele fazer isto? E a resposta é
– diz o apóstolo Paulo – que só havia um caminho, e Deus o escolheu. E, se você quiser saber
algo sobre o amor de Deus, é aqui que você encontra. O amor de Deus pelos homens e pelas
mulheres decaídos é tão grande que Ele enviou seu próprio Filho como "uma propiciação,
mediante a fé em seu sangue".

"Mas que significa isso?" – alguém pergunta.

Significa que, embora você haja pecado e se rebelado contra Deus, e não obstante se haja
transformado em algo que é uma caricatura da natureza humana, Deus o ama tanto que coloca
seus pecados e os meus sobre seu querido Filho único, e o Filho os recebe de boa vontade sobre
si. Quando Deus examinou o problema, o Filho disse: "Aqui estou para fazer a tua vontade"
(Hebreus 10:7,9). Alguém tinha que se apresentar para receber a punição. Deus tem que ser
justo, e sua justiça tem que punir o pecado! Então, quer saber como alguém pode ser perdoado?
Aqui está sua resposta: o pecado foi punido no Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Foi por
isto que ele morreu! Foi por isto que Ele não deu ordem às doze legiões de anjos que O
salvassem.

No Jardim do Getsêmane, suando grandes gotas de sangue, Ele orou três vezes dizendo:
"Pai, se possível, passa de mim este cálice; no entanto, seja feita não a minha vontade, mas a
tua" (Mateus 26:39). Que Ele estava dizendo? Que "cálice" era esse? Que era isto que tanto O
amargurava? Não era o medo da morte física. Os mártires não têm medo dela, e você o torna
menor que eles, se disser que Ele estava meramente sofrendo com a dor física.

Não, foi o seguinte: De fato, Ele se voltou para o Pai e disse: Existe outra forma pela qual
a humanidade possa ser salva e perdoada que não seja tomando seus pecados e lançando-os
sobre mim? Porque isto significaria que não poderei contemplá-lo e terei a sua ira sobre mim,
mesmo que por apenas um segundo. Não existe outro modo? Mas, se não houver, ainda assim
eu o farei. Isto é que é amor!: que este santo Filho de Deus fosse feito pecado por nós, e que a
ira de Deus houvesse vindo sobre Ele. E agora você O ouve clamando em agonia na cruz: "Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus 27:46) O Deus em cuja face Ele olhara da
eternidade, escondeu dEle seu rosto e sua ira desceu sobre Ele, Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Tudo pela punição do teu pecado e do meu! Isto sim, é amor! E o resultado é que a justiça de
Deus é vindicada e seu amor manifesto. A justiça e o amor se encontraram e se abraçaram. Os
atributos santos de Deus abraçaram-se um o outro. Todos os santos atributos de Deus são
glorificados juntamente na morte do Filho de Deus na cruz.
Então, você nunca saberá nada sobre o amor de Deus, até que entenda o modo como Deus
nos salva e nos livra da perdição, ao sofrer a punição que nosso pecado tão justamente merecia.
À luz da cruz, você não tem argumentos. De nada vale sua reclamação sobre a ira de Deus; você
nunca vai sofrê-la! Deus enviou seu próprio Filho para salvá-lo dela. Se você reconhecer seu
pecado e se arrepender, e crer no Senhor Jesus Cristo, nunca conhecerá a ira dEle.

Então, você não pode reclamar. Se estiver sofrendo debaixo da ira de Deus, você não terá
ninguém além de si para culpar. É seu orgulho do intelecto. Você pensou que entendia Deus,
que podia ditar-lhe como Ele seria. Você disse: Eu não aceito a ira; só aceito o amor. Então,
assim você trouxe a destruição sobre si porque insultou Deus, e de fato a merece. Nós, todos
nós, merecemos a ira de Deus!

E ninguém sabe disto tão bem quanto o cristão. Os cristãos não são o que são porque são
bons homens e boas mulheres. Cristãos são pecadores vis, salvos unicamente pela graça de
Deus. Os cristãos não se gloriam neles mesmos e em suas boas obras. Você sabe em que eles se
gloriam? Deixe-me responder-lhe nas palavras de um hino:

Sobre a cruz de Jesus,


meus olhos às vezes podem ver
a forma agonizante daquele
que ali sofreu por mim;
e do meu coração ferido, em lágrimas,
duas maravilhas eu confesso:
as maravilhas de seu glorioso amor
e a minha própria falta de valor

Eu tomo, ó cruz, a tua sombra,


como lugar para morada;
não quero outro sol resplandecente
senão o brilho da tua face;

Contente em largar o mundo,


desconhecer ganhos ou perdas –
meu ego de pecado, minha vergonha,
minha única glória – toda a cruz.
Elizabeth Cecília Clephane

O dia da graça – agradeça a Deus – ainda é este. Por quanto tempo mais eu não sei, mas
não parece que o mundo se está preparando para um cataclismo final! Ainda não aconteceu: o
portão da salvação ainda está aberto. Se você consegue enxergar esta verdade, reconheça-a
diante de Deus e entre pelo portão. Deus o está esperando para perdoar todos os seus pecados,
aplicar o sangue de Cristo sobre eles, fazer de você um novo homem, ou uma nova mulher, e
dar-lhe uma herança entre seus filhos na Glória eterna.

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