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O Ultimo Verao Europeu PDF
O Ultimo Verao Europeu PDF
P u b l i s h e r s We e kl y
“A clareza e ousadia da tese de Fromkin já são suficientes para
justificar o interesse do leitor, mas a fluidez de sua narrativa
certamente conquistará para seu livro um público mais amplo. ”
Booklist
“0 céu de onde despencou a Europa
não estava vazio; ao contrário, esta
va carregado de processos e poderes.
As forças que iriam dilacerá-lo —
Primeiro-ministro britânico,
Herbert Asquith
Sir Edward Grey, secretário
britânico das Relações Exteriores
T radução
Renato Aguiar
OBJETIVA
Copyright @ 2004 David Fromkin
Tradução publicada mediante acordo com Alfred A. Knopf, uma divisão da Random House, Inc.
Título original:
Europe’s Last Summer: Who Started the Great War in 1914?
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA OBJETIVA LTDA. Rua Cosme Velho, 103
Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22241-090
Tel.: (21) 2556-7824 - Fax: (21) 2556-3322
www.objetiva.com.br
Todas as ilustrações reproduzidas com permissão da Illustrated London News Library exceto: “Coronel
Edward House” e “Conde Graf Berchtold” (Hulton-Deutsch Collection/Corbis); “General alemão
Erich von Falkenhayn” (Corbis); e “Almirante alemão Alfred von Tirpitz” (Bettman/Corbis).
Fotos de capa
On The Ladies Way - ©Hulton-Deutsch Collection/ CORBIS
Hand Holding Burning Matching - ©Bettmann/ CORBIS
Fotógrafo: Philip Gendreau
Capa
Pedro Gaia e Felipe Mello sobre design original de Evan Gaffney
Revisão
Umberto de Figueiredo Pinto
Taís Monteiro
Marilena Moraes
Editoração Eletrônica
FA Editoração Eletrônica
F931u
Fromkin, David
O último verão europeu : Quem começou a grande guerra de 1914? /
David Fromkin. Tradução de Renato Aguiar. - Rio de Janeiro : Objetiva,
2005.
CDD 940.4
Para Alain Silvera
A transição peremptória de uma paz aparentemente profunda a uma
guerra geral violenta em poucas semanas em pleno verão de 1914 conti
nua a desafiar as tentativas de explicação.
— JOHN k e e g a n , A Primeira Guerra Mundial
SUMÁRIO
Mapa 13
PRÓLOGO
(i) Do nada 15
(ii) A importância da questão 17
(iii) Um verão a ser lembrado 25
PARTE UM
AS TENSÕES EUROPÉIAS
CAPÍTULO 1 CHOQUE DE IMPÉRIOS 31
CAPÍTULO 2 LUTA DE CLASSES 35
CAPÍTULO 3 DISPUTA ENTRE NAÇÕES 37
CAPÍTULO 4 ARMAMENTO DOS PAÍSES 42
CAPÍTULO 5 PROFECIAS DE ZARATUSTRA 54
CAPÍTULO 6 ALINHAMENTO DIPLOMÁTICO 58
PARTE DOIS
ANDANDO EM CAMPOS MINADOS
CAPÍTULO 7 A QUESTÃO ORIENTAL 65
CAPÍTULO 8 UM DESAFIO PARA O ARQUIDUQUE 67
CAPÍTULO 9 ALEMANHA EXPLOSIVA 70
PARTE TRÊS
À DERIVA PARA A GUERRA
CAPÍTULO 10 MACEDÔNIA - FORA DE CONTROLE 83
CAPÍTULO 11 ÁUSTRIA - PRIMEIRA A DAR PARTIDA 87
CAPÍTULO 12 FRANÇA E ALEMANHA FAZEM SEU JOGO 93
CAPÍTULO 13 A ITÁLIA TOMA POSSEs OS BÁLCÃS TAMBÉM 100
CAPÍTULO 14 A MARÉ ESLÁVICA 104
CAPÍTULO 15 A EUROPA À BEIRA DO PRECIPÍCIO 112
CAPÍTULO 16 MAIS ABALOS NOS BÁLCÃS 116
CAPÍTULO 17 UM AMERICANO TENTA DETER O PROCESSO 122
PARTE QUATRO
ASSASSINATO!
CAPÍTULO 18 A ÚLTIMA VALSA 133
CAPÍTULO 19 NA TERRA DOS ASSASSINOS 138
CAPÍTULO 20 A CONEXÃO RUSSA 150
CAPÍTULO 21 OS TERRORISTAS ATACAM 153
CAPÍTULO 22 A EUROPA BOCEJA 158
CAPÍTULO 23 DESCARTE DOS CORPOS 166
CAPÍTULO 24 REUNINDO OS SUSPEITOS 168
PARTE CINCO
MENTINDO
CAPÍTULO 25 ALEMANHA ASSINA CHEQUE EM BRANCO 175
CAPÍTULO 26 A GRANDE FRAUDE 185
CAPÍTULO 27 BERCHTOLD PERDE O PRAZO 191
CAPÍTULO 28 MANTÉM-SE O SEGREDO 193
PARTE SEIS
CRISE!
CAPÍTULO 29 O itt/T N Ã O FOI ACCOM PLI 197
CAPÍTULO 30 APRESENTANDO O ULTIMATO 208
CAPÍTULO 31 A SÉRVIA MAIS OU MENOS ACEITA 220
PARTE SETE
CONTAGEM REGRESSIVA
CAPÍTULO 32 CARTAS NA MESA EM BERLIM 227
CAPÍTULO 33 26 DE JULHO 232
CAPÍTULO 34 27 DE JULHO 238
CAPÍTULO 35 28 DE JULHO 244
CAPÍTULO 36 29 DE JULHO 250
CAPÍTULO 37 30 DE JULHO 256
CAPÍTULO 38 31 DE JULHO 262
CAPÍTULO 39 1“ DE AGOSTO 265
CAPÍTULO 40 2 DE AGOSTO 272
CAPÍTULO 41 3 DE AGOSTO 277
CAPÍTULO 42 4 DE AGOSTO 279
CAPÍTULO 43 DESTRUINDO PROVAS
PARTE OITO
O MISTÉRIO DESVENDADO
CAPÍTULO 44 REUNIÃO NA BIBLIOTECA 287
CAPÍTULO 45 O QUE NÃO ACONTECEU 289
CAPÍTULO 46 A CHAVE PARA O QUE ACONTECEU 301
CAPÍTULO 47 QUAL O PORQUÊ? 308
CAPÍTULO 48 QUEM PODERIA TER IMPEDIDO? 314
CAPÍTULO 49 QUEM COMEÇOU? 318
CAPÍTULO 50 PODERIA ACONTECER OUTRA VEZ? 324
CAPÍTULO 51 RESUMINDO 327
EPÍLOGO
CAPÍTULO 52 A GUERRA DA ÁUSTRIA 331
CAPÍTULO 53 A GUERRA DA ALEMANHA 335
fosse “aquilo”, não deu para ver que ia acontecer. Os passageiros não ti
nham idéia do que os tinha atingido, e as companhias aéreas não estavam
em condições de garantir que algo semelhante não aconteceria outra vez.
Especialistas citados pelos meios de comunicação acreditavam que
o vôo 826 havia sido vítima do que eles chamam de “turbulência de céu
ou ar claro”. Eles a associavam a um tornado horizontal, mas um torna
do que não se pode ver. Alguns dos especialistas entrevistados expressa
ram sua esperança de que em poucos anos algum tipo de tecnologia de
radar fosse desenvolvido para detectar essas tempestades invisíveis antes
de elas romperem. A transparência da atmosfera significa pouco, apren
deu o público deste episódio; o céu calmo pode irromper em furia tão
repentinamente quanto o oceano.
Especula-se que algo parecido com esse ataque de turbulência de céu
claro tenha ocorrido com a civilização européia em 1914, durante a sua
passagem do século XIX para o século XX. O mundo da década de 1890
tinha sido, à semelhança da nossa própria época, um tempo de congres
sos internacionais, conferências de desarmamento, globalização da eco
nomia mundial e iniciativas visando implantar algum tipo de liga de
nações para banir a guerra. O público esperava que um longo período
de paz e prosperidade se estendesse indefinidamente.
Em vez disso, o mundo europeu mergulhou descontrolado, despe
daçando-se e explodindo em décadas de tirania, guerra mundial e assas
sinato em massa. Que tornado terá varrido a Velha Europa civilizada e o
mundo que ela então dominava? Retrospectivamente, a passagem pode
ser menos misteriosa do que imaginaram alguns contemporâneos que a
experimentaram. Os anos de 1913e 1914 foram anos de perigos e dis
túrbios. Nas primeiras décadas do século XX, havia sinais de que a catás
trofe poderia eclodir logo adiante; nós podemos vê-los agora, os líderes
militares e políticos podiam vê-los então.
O céu de onde despencou a Europa não estava vazio; ao contrário,
estava carregado de processos e poderes. As forças que iriam dilacerá-lo
—nacionalismo, socialismo, imperialismo e afins —estavam havia muito
em movimento. O mundo europeu já vinha sendo assaltado por ventos
de grande altitude. Havia muito navegava em céus perigosos. O coman
dante e a equipagem o sabiam. Mas os passageiros, pegos completamen
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PRÓLOGO
1908. A partir das suas respostas, o que segue pode ilustrar quantos
caminhos podemos imaginar terem levado a Sarajevo.
O século IV d.C. A decisão de dividir o Império Romano entre Oci
dente falante do latim e Oriente falante do grego teve consequências
duradouras. A separação cultural que bifurcou a cristandade em dois
ramos distintos, em dois calendários e duas escritas rivais (o latim e o
cirílico) persistiu. Os austríacos católicos romanos e os sérvios ortodo
xos gregos, cujas rixas deram ocasião à guerra de 1914, estavam, neste
sentido, fadados a serem inimigos.
O século VII. Os eslavos, que estavam em vias de se tornar o maior
grupo étnico da Europa, deslocaram-se para os Bálcãs, onde os teutônicos
já haviam chegado. O conflito entre povos eslavos e germânicos tornou-se
um tema recorrente da história européia, e no século XX antagonizou
germânicos teutônicos e austríacos com russos eslavos e sérvios.
O século XI. A divisão formal entre as cristandades católica romana e
ortodoxa grega gerou um conflito de fé religiosa em torno da mesma
fratura que as de grupo étnico, alfabeto e cultural —romanos versus gre
gos —,fratura esta que ameaçava a Europa do Sudeste e acabou resultan
do no terremoto político que ocorreu em 1914.
O século XV. A conquista do Oriente cristão e da Europa Central pelo
Império Otomano (ou Turco) muçulmano privou os povos dos Bálcãs
de séculos de experiência de autogoverno. É possível que isto tenha con
tribuído para a violência e o facciosismo da área nos anos que prepara
ram o caminho para a guerra de 1914 - e talvez para provocá-la.
O século XVI. A Reforma Protestante dividiu a cristandade ocidental.
Ela separou os povos germânicos politicamente e levou ao curioso rela
cionamento entre a Alemanha e a Áustria, que está no coração da crise
de julho de 1914.
O século XVII. O começo da secular retirada otomana da Europa signi
ficou que os turcos estavam abandonando terras valiosas, cobiçadas pelas
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PARTE UM
AS TENSÕES EUROPÉIAS
CAPÍTULO 1: CHOQUE DE IMPÉRIOS
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C H O Q U E DE I MPÉ R I OS
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C H O Q U E DE I MPÉ R I OS
34
CAPÍTULO 2: LUTA DE CLASSES
35
LUTA DE C LAS SES
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CAPÍTULO 3: DISPUTA ENTRE NAÇÕES
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CAPÍTULO 4: ARMAMENTO DOS PAÍSES
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Era natural que Adams fosse otimista; era filho do século que acre
ditava que a história fosse a história do progresso. Antes de o século XIX
começar, os homens olhavam para trás, para uma época de ouro. Então,
eles passaram a olhar para a frente, para poder vislumbrá-la.
Europeus e americanos estavam fascinados com as especulações
sobre o futuro. Um novo tipo de ficção alimentou suas predileções. Jú
lio Verne e H. G. Wells foram os pioneiros da criação de narrativas de
maravilhas científicas e tecnológicas: de máquinas voadoras, vida sob os
oceanos, viagens interplanetárias.
O foco sobre todos esses prodígios que o futuro mantinha em esto
que para uma humanidade de poderes aumentados pode ter sido um
pouco exagerado. Só uns poucos perceberam que o lado escuro da histó
ria, não fosse por isso prometéica, era que a raça humana estava lançan
do mão das suas extraordinárias possibilidades evocando novos e
explosivos poderes de destruição.
Numa carta muito citada, escrita quando estourou a guerra em
1914, Henry James, o famoso romancista americano residente na Ingla
terra, escreveu: “O mergulho da civilização neste abismo de sangue e
trevas [...] é uma coisa que trai tão gravemente a longa época durante a
qual supomos que o mundo, apesar dos percalços, estava gradualmente
melhorando, que ter de percebê-lo agora pelo que os anos de ilusão esta
vam o tempo todo realmente construindo e significando é trágico demais
para quaisquer palavras.”2 A ciência não tinha tornado o ser humano
mais pacífico e civilizado; ela traiu esta esperança e em vez disso tornou
possível os Exércitos serem mais selvagemente destrutivos do que qual
quer soldado do passado jamais poderia ter sonhado.
A Europa não estava progredindo na direção de um mundo me
lhor, mas sim de um gigantesco desastre, pois, na primeira guerra entre
sociedades industriais modernas do século XX, o poder explosivo acu
mulado desenvolvido pela ciência avançada concentrava-se na meta da
destruição em massa.
Por que os contemporâneos acreditavam estar evoluindo para um
mundo mais pacífico? Como puderam eliminar a hipótese de uma guer
ra entre as potências européias dos seus temores e de suas mentes? Por
que foram pegos de surpresa quando a guerra estourou? Nunca busca
ram ver o que suas principais indústrias estavam fabricando?
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que quer tenha sido, serviu como roteiro, e esta é provavelmente a me
lhor maneira de encará-lo.
Os memorandos de Schlieffen de 1905-1906 continuam a ser ob-
jeto de intensa controvérsia. Após o final da Primeira Guerra Mundial,
os generais sobreviventes da Alemanha afirmaram que a guerra havia
sido perdida apenas porque colegas mortos tinham deixado de seguir ao
pé da letra um suposto plano secreto de Schlieffen, que teria se mostrado
um verdadeiro guia para a vitória.
Em grande parte, a sua alegação foi aceita. O plano supostamente
chamava quase todo o Exército alemão a constituir um braço direito —
um flanco direito —que avançaria sobre as costas holandesa e belga e
depois cairia rapidamente, envolvendo o oeste da França, para então
guinar e penetrar até Paris, a caminho de uma vitória decisiva a leste
daquela cidade: uma vitória sobre um Exército francês àquela altura in
teiramente cercado. A França seria destruída para sempre como grande
potência. Toda a manobra seria questão de semanas, e o Exército ale
mão seria então transferido para o leste, para lidar com a Rússia.
Ao longo de todo o século XX, e agora no XXI, os historiadores
têm debatido as consequências do assim chamado plano Schlieffen. Seu
rígido cronograma teria supostamente obrigado a Alemanha a iniciar a
guerra quando e como ela iniciou. O curso dos acontecimentos no verão
de 1914 é frequentemente descrito como um exemplo de automação,
como se o governo de Berlim estivesse preso nas garras do seu próprio
plano secreto imutável. Mas hoje nós podemos ver que todos esses rela
tos são distorcidos.
Hoje nós temos recursos críticos que não estavam disponíveis para
as gerações passadas. Documentos de Schlieffen, levados pelos america
nos, foram descobertos em Washington, D.C., em 1953, nos Arquivos
Nacionais. Após a pesquisa pioneira de Gerhard Ritter nos anos 1950,
lucidamente secundada em 2001 por John Keegan, tornou-se claro que,
o que quer possa ter acontecido, o memorando Schlieffen de 1905, com
seu suplemento de 1906, não era um plano. Ele não entrava em detalhes
e não emitia ordens. Não era operacional. É possível examiná-lo em seu
contexto por meio da leitura de uma coletânea dos escritos militares de
Schlieffen, recém-publicada em tradução inglesa por Robert T. Foley.
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C A PÍT U LO 5: PROFECIAS DE ZARATUSTRA
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P RO F E C I A S DE ZA RA TUS TR A
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em seu nome. Ele vivia num mundo em que a guerra era considerada
desejável —e mesmo necessária.
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AL INHAME NTO DI PLOMÁTICO
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PARTE D O IS
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C A P ÍT U L O 8: UM DESAFIO PARA O
ARQUI DUQUE
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UM DE S A F I O PARA O A R Q U I D U Q U E
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C A P ÍT U L O 9: ALEMANHA EXPLOSIVA
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O cáiser Guilherme II era meio inglês; sua mãe era filha da rainha
Vitória. Ele apresentava atitudes estranhas em relação à Inglaterra —um
caleidoscópio de amor, ódio, admiração e desejo de ser aceito pelo me
nos como igual - , e essas contradições são explicadas por muitos biógra
fos com base nos seus sentimentos tanto pela mãe quanto pela avó.
Ao nascer, descobriu-se que ele estava mal posicionado no corpo
da mãe. Os médicos que assistiram o parto não eram plenamente quali
ficados para o problema: na época, menos de 2% dos bebês mal posicio
nados nasciam vivos. Guilherme - mal - sobreviveu, mas com seqttelas
permanentes.
Parece provável que Guilherme II fosse emocionalmente desequili
brado por causa das várias sequelas sofridas no nascimento. Resta aberto
e controverso saber se sofreu ou não dano cerebral. Seu braço esquerdo
ficou permanente paralisado, e a reação dos outros ao membro atrofiado
pode tê-lo afetado de uma maneira ou de outra. John Rõhl, principal
pesquisador da sua vida e da sua época, concluiu, com base em consi
deráveis indícios médicos, que Guilherme fora privado de oxigénio durante
o parto e sofreu a vida inteira das consequências: distúrbios de persona
lidade como falta de objetividade e sensibilidade excessiva.6 Na opinião
de Rõhl, o problema foi agravado pelo rigores da sua infância, inclusive
o tratamento do pescoço torto por métodos como o uso de um “apare
lho de tração da cabeça”, e o tratamento do braço por introdução no
corpo de um coelho recém-sacrificado.7 Sua paixão por uniformes mili
tares, sua devoção à caça e sua identificação com Aquiles sugerem que
ansiava por uma glória marcial que jamais conseguiu alcançar.
Em 1888, Guilherme ascendeu ao trono como rei da Prússia e im
perador alemão. Em 1913, aos 54 anos de idade, ele havia reinado por
um quarto de século. Durante este tempo, ele presidira os assuntos de
Estado num sem número de crises internacionais que ameaçaram pro
vocar uma guerra européia, e em todas elas a guerra tinha sido evitada
com o próprio Guilherme cedendo afinal, em cada caso, ao lado da paz.
A decisão era dele. A constituição da federação alemã lhe dava o poder
de declarar guerra. Ele brincava amiúde com a idéia de fazê-lo.
Ele era uma influência perturbadora. Era nervoso, irritável e in
constante. Apanhado na excitação do momento, ele ameaçava e assumia
posturas, agia como um senhor da guerra pronto a liderar a nação na
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PARTE TRÊS
P arece muito que a deriva para a guerra começou, até onde qualquer
movimento da história tem um começo, na velha cidade imperial de
Constantinopla: a Bizâncio de ontem e Istambul de hoje. Dominando
os estreitos que separam a Europa da Ásia, a cidade ocupa um lugar que
esteve no centro da política mundial desde que os lendários, e talvez
fabulosos, Agamenon, Ulisses e Aquiles embarcaram para a vizinha Tróia.
Por mais de mil anos após o século IV d.C., Constantinopla serviu como
capital do Império Romano do Oriente. Depois, por quinhentos anos
ela foi capital do Império Otomano (ou Turco). Sobreviveu a duas
civilizações e, no começo dos anos 1900, parecia pronta a sobreviver à
terceira.
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MACEDÔNIA - FORA DE C O N T R O L E
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CAPÍTULO 11: ÁUSTRIA
- PRIMEIRA A DAR PARTIDA
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ÁUSTRI A - PRI MEI RA A DAR PARTI DA
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FAZEM SEU JOGO
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F R A NÇ A E AL EMANHA FAZEM SE U J O G O
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FRA NÇ A E AL EMANHA FAZEM S E U J O G O
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F R A NÇ A E AL E MAN H A FAZEM S E U J O G O
trais da sua mãe eram juizes e políticos. Seu primo Henri tornou-se um
dos matemáticos mais importantes do século XX.
Virtuoso, cauteloso, abstémio, moderado e essencialmente não par
tidário, impelia-o contudo uma competitividade abrasadora: a ambição
de vencer todas as disputas da vida. Aos vinte anos de idade, ele tornou-
se o mais jovem advogado da França. Aos 26, foi eleito o mais jovem
membro do Parlamento. Aos 52, em 17 de janeiro de 1913, ele foi a
pessoa mais jovem até então eleita para presidente, cargo que durava sete
anos. Também foi o primeiro a ser eleito diretamente do cargo de pri-
meiro-ministro para o de presidente. Como presidente, foi uma figura
dominante. No verão de 1914, tinha assumido o controle quase total da
política exterior francesa. Em relação à Alemanha, ele mantinha uma
posição tipicamente intermediária entre as forças de centro-esquerda,
entre seu colega pró-alemão Joseph Caillaux e o lobo solitário antialemão
Georges Clemenceau. Um observador da época, porém, poderia ter
discernido algo em favor de Berlim. Em 20 de janeiro de 1914, Poincaré
jantou na embaixada alemã - a primeira vez que um presidente francês o
fazia desde 1870.
Keiger sugere que o incremento da amizade entre Poincaré e os
alemães era produto de uma confiança oriunda em parte dos resultados
da Primeira Guerra dos Bálcãs, em que as forças balcânicas, treinadas e
armadas pela França, derrotaram os Exércitos otomanos, treinados e
armados pelos alemães. Além disso, Poincaré tinha retomado a causa da
aliança colonialista francesa, o Comité de 1’Orient, que aspirava ao con
trole da Síria, do Líbano e da Palestina caso o império turco desmoro
nasse - objetivo este que poderia jogar a França contra seus aliados, a
Inglaterra e a Rússia.
Porém ocorreu que, como a França começou a dar-se por satisfeita
com suas intenções coloniais, a Grã-Bretanha, sua rival tradicional, não
ofereceu oposição, mas, ao contrário, apoio. E a Alemanha, que tinha
encorajado a França em suas ambições imperiais, agora estava no cami
nho. Novas alianças estavam em processo de formação. Mudanças esta
vam no ar.
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Áustria até as fundações.” E que, ganhando tudo o que for possível nas
negociações de paz, “nós devemos ficar contentes com o que receber
mos, encarando-o como uma prestação, pois o futuro nos pertence”.
Foi a própria Áustria-Hungria, ao anexar a Bósnia-Herzegóvina,
quem havia provocado a reação da Rússia e da Sérvia em busca de vin
gança. Era possível que a Sérvia, que havia dobrado de tamanho, e seus
aliados, a Rússia e as forças pan-eslavas, continuassem o seu avanço.
Aehrenthal tinha perturbado o equilíbrio de forças dos Bálcãs em 1908
em fàvor da Áustria. Agora, Hartwig o perturbara em favor da Rússia. Iria a
Monarquia Dual responder por sua vez? Ou continuaria o germanismo
a recuar diante do eslavismo?
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CAPÍTULO 15: A EUROPA À BEIRA
DO PRECIPÍCIO
E ntre 1908 e 1913, os Jovens Turcos foram sucedidos por uma inter
venção européia depois da outra em terras que certa feita haviam
sido ou que ainda eram otomanas. A rebelião na Turquia tinha levado à
anexação pela Áustria da Bósnia-Herzegóvina. A França fez então seu
movimento no Marrocos, inspirando a Itália a golpear o Império
Otomano na Líbia e nas Egéias, enquanto Sérvia, Montenegro, Grécia e
Bulgária atacavam nos Bálcãs. Naqueles cinco anos, as grandes potências
deram um jeito de se manterem a distância umas das outras, evitando
choque após choque, enquanto ao mesmo tempo aproximavam-se cada
vez mais da colisão final. Entre 1908 e 1913, a despesa total com arma
mento das seis grandes potências cresceu cerca de 50%.
Em conjunto, os acontecimentos desses anos produziram uma
mudança na cara da política européia.
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• Nas guerras dos Bálcãs, a França mostrou que iria além do seu trata
do puramente defensivo para apoiar a Rússia num conflito contra a
Alemanha começado pela Rússia.
• Isolada durante a crise de Agadir, apesar do seu tratado defensivo
com a Monarquia Dual, a Alemanha evoluiu na direção de apoiar o
Império Habsburgo —sustentando-o (como Moltke prometeu a
Conrad durante a crise da Bósnia-Herzegóvina) mesmo num ato de
agressão —em vez de ficar isolada outra vez.
• A Itália, imprevisível militarmente mesmo contra o lerdo Império
Otomano, não era confiável.
• A Turquia européia, liberada pelos próprios povos balcânicos, em
vez de pelas grandes potências (como se esperara), caiu conseqúente
mente presa da violência e das paixões voláteis dos seus grupos étni
cos rivais, em vez de desfrutar a estabilidade que o equilíbrio de poder
das grandes potências poderia ter trazido.
• A Sérvia, exultante com suas vitórias relâmpago nas duas guerras dos
Bálcãs, ansiava por continuar sua expansão.
• Com um medo mortal dos planos da Sérvia, a Áustria passou a acre
ditar que atacar primeiro podia ser sua única esperança. Vendo os
Estados balcânicos potencialmente como um bloco único (e como
tal equivalente a uma grande potência nova), ela temia a possibilidade
de tornar-se uma entidade eslava ou grego-ortodoxa, alinhada com a
Rússia, e assim deslocar o equilíbrio de forças na Europa em favor da
França/Rússia.
• Durante um tempo, o cáiser achou que a mudança no equilíbrio de
forças criaria um pára-choque capaz de resolver o problema da rivali
dade austro-russa, ao mesmo tempo permitindo aos cristãos se uni
rem em sua expansão para o leste, contra o islã.
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A E UR OP A À BEIRA DO P R E C I P Í C I O
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C A P ÍT U LO 16: MAIS ABALOS NOS BÁLCÃS
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MAIS ABALOS N OS BÁLCÃS
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C A P ÍT U LO 17: UM AMERICANO TENTA DETER
O PROCESSO
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tinha uma residência e sua base política no seu estado natal, o Texas.
Quando necessário, ia para Washington, D. C., encontrar-se com o chefe
reformista em primeiro mandato do Executivo americano, Woodrow
Wilson, que House tinha ajudado a eleger para a presidência na bizarra
eleição de 1912. Naquela eleição, os dois candidatos republicanos —o
ex-presidente Theodore Roosevelt, concorrendo pelo Partido Progres
sista, e o presidente em exercício William Howard Taft - haviam racha
do a maioria republicana entre eles, criando condições para Wilson —
candidato do partido minoritário, o Democrático —insinuar-se, che
gando à vitória com menos de 50% do voto popular, ainda que bem
mais do que a metade do colégio eleitoral.
Woodrow Wilson foi um dos homens mais estranhos jamais eleito
para a presidência. Recluso que só se sentia à vontade na companhia de
mulheres e crianças, ele não tinha gosto pela política nem simpatia por
políticos, achava acordos e compromissos repugnantes, e a ambição po
lítica - exceto a sua própria - uma coisa sórdida.
Foi o dom das descobertas casuais que reuniu Wilson e House na
eleição de 1912. House tornou-se seu alter ego. Uma vez Wilson eleito,
House assumiu grande parte dos aspectos políticos da presidência: as
tarefas rotineiras que Wilson não podia ou não queria fazer por si mes
mo. House entrevistava frequentemente os que procuravam emprego
ou favores na nova administração. Se havia acordos a fazer ou transações
comerciais a negociar, era ele quem agia. Os estudiosos continuam a
discutir sobre as contribuições respectivas dos dois homens para o bom
andamento da administração Wilson, mas House desempenhou um pa-
pel-chave em assuntos tão importantes como o estabelecimento do Fe
deral Reserve Bank,* a reforma fiscal e a instituição do imposto de renda.
No campo das Relações Exteriores, pelo menos nos dois primeiros
anos da presidência de Wilson, foi House, um talentoso estudante da
política internacional, quem se mobilizou com os desenvolvimentos
europeus, enquanto Wilson, que não tinha experiência na questão, não
se interessou.
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UM A M E R I C A N O T E N T A D E T E R O P R O C E S S O
arranjou um encontro de House com Sir Edward Grey. Não foi fácil.
House explicou a Wilson: “Encontrei tudo aqui atravancado com afaze
res sociais, e é impossível trabalhar rapidamente.17 Eles só pensam em
Ascot,* recepções ao ar livre, etc., etc.”
Em 27 de junho, o encontro com Grey finalmente aconteceu, du
rante um almoço. Ainda que outros estivessem presentes, a conversação
coube quase toda a House e Grey. Eles realizaram uma discussão ampla
sobre a conturbada situação política européia. Concordaram que os lí
deres franceses tinham aberto mão de quaisquer pensamentos de recu
perar territórios na Alsácia e Lorena, ou de se desforrar da Alemanha. O
povo francês ainda acalentava tais sonhos, mas os políticos franceses
reconheciam que o crescimento constante da população alemã em rela
ção à da França fazia deste objetivo uma possibilidade cada vez mais
remota.
Quanto à Rússia e à Grã-Bretanha, Grey observou que as duas en
travam em contato em tantos pontos ao redor do mundo que era impor
tante manter os melhores termos. Grey afirmava entender que a Alemanha
sentisse necessidade de construir uma frota maior. Foi House quem
alertou Grey —e não Grey quem alertou House —sobre o “espírito de
guerra militante na Alemanha e a grande tensão popular. [...]18 Eu achei
que a Alemanha atacaria rapidamente quando se pusesse em movimen
to. Que não haveria parlamentações ou discussões. Que quando sentisse
que uma dificuldade não podia ser resolvida através de negociações pací
ficas, ela não correria riscos, mas atacaria. Eu achei que o cáiser ele mes
mo e seus assessores imediatos não quisessem a guerra, por desejarem
que a Alemanha continuasse a se expandir comercialmente e a aumentar
sua riqueza, mas o Exército estava imbuído, agressivo e pronto para a
guerra a qualquer momento”.
Contudo, os dois homens concordaram - menos de 24 horas antes
de o arquiduque Francisco Ferdinando ser assassinado —que “nem a
Inglaterra, a Alemanha e a Rússia, e nem a França desejava a guerra”.19
Olhando prescientemente para uma ameaça menos visível mas de mais
* Povoado próximo de Windsor in Berkshire, que as elites frequentavam pelas corridas de cavalo disputa
das em junho em Ascot Heath. (N. do T.)
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PARTE Q U A TRO
ASSASSINATO!
CAPÍTULO 18: A ÚLTIMA VALSA
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A ÚL TI MA VALSA
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A ÚL TI MA VALSA
palavra, talvez obtendo uma dispensa papal para fazê-lo, e tornasse Sophie
sua imperatriz de pleno direito, elevando a posição dos três filhos do
casal, bem como colocando-os na linha de sucessão ao trono. A luz deste
receio provavelmente justificado, parece muito estranho os funcionários
da corte continuarem suas perseguições mesquinhas contra Sophie, ad
ministrando o protocolo de modo a repetidas vezes humilhá-la em pú
blico. Um dia ela poderia ser perfeitamente capaz de cobrar; e não há
dúvida, o próprio Francisco Ferdinando teria gostado de fazê-lo.
O herdeiro aparente não era uma pessoa de quem fosse fácil gostar.
Poucos contemporâneos seus tinham uma palavra delicada a dizer sobre
ele. A única coisa que era (e continua a ser) atraente nele é o seu amor
por sua esposa e filhos. Quando foi convidado, em 1913, a inspecionar
as forças armadas em manobras programadas para o final de junho de
1914 na Bósnia-Herzegóvina - um chamado muito pouco atraente em
alguns aspectos - , uma das razões pelas quais ele pode ter aceitado foi
que, devido ao status especial da Bósnia-Herzegóvina (que estava numa
espécie de limbo, enquanto Áustria e Hungria disputavam a propriedade),
Sophie teria permissão de tomar seu lugar junto dele durante os proce
dimentos oficiais. Planejavam-se cerimónias na capital provincial de
Sarajevo em 28 de junho, a data de aniversário do seu casamento.
E não há de ter sido apenas notado, mas salientado pelos funcioná
rios Habsburgo encarregados do planejamento dos eventos, que 28 de
junho - pelo menos segundo o moderno calendário ocidental - era o dia
do aniversário da Primeira Batalha de Kosovo (1389), na qual a Sérvia
medieval supostamente perdeu a sua independência para os turcos. Se
ria razoável esperar que os sérvios da Bósnia-Herzegóvina, sempre refra-
tários por terem sido anexados pela Áustria, objetariam a qualquer
ostentação do governo austríaco naquela data particular.
O funcionalismo austríaco teve a sua reputação de eficiência
desmentida por seu desempenho na organização dessa viagem particular.
Faltou eletricidade quando o imperador embarcava no trem. A criadagem
correu para acender velas. Normalmente mal-humorado, Francisco Ferdi
nando brincou; parecia, disse ele, que estávamos entrando “numa tumba”.
O arquiduque e sua consorte partiram na chuva na manhã de quar
ta-feira, 24 de junho. Eles partiram de Viena separadamente, por cami
nhos diferentes, e a chuva os seguiu. Sophie chegou primeiro ao destino
comum: a estação de águas de Bad Ilidze, nas cercanias da capital bósnia
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CAPÍTULO 19: NA TERRA DOS ASSASSINOS
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a Sérvia “tinha motivos para suspeitar que um complô estava sendo tra
mado contra a vida do arquiduque por ocasião da sua viagem à Bósnia.
E como a visita pode dar lugar a incidentes lamentáveis por causa de
algum fanático, seria útil sugerir ao governo austro-húngaro a prudência
de adiar a visita do arquiduque”.
Tendo Pasic mandado ou não o telegrama, o fato é que seu enviado
tentou uma entrevista. O representante Ljuba Jovanovic, que pode ter
recebido o telegrama, teve pelo menos duas razões para não seguir as
instruções de seu primeiro-ministro. Ele não tinha boas relações com o
ministro das Relações Exteriores Habsburgo, o conde Leopold von Berchtold,
funcionário que ele devia alertar, e preferia não ter de encontrá-lo.
Ele optou, em vez disso, por tentar uma entrevista com o ministro das
Finanças, Leon von Bilinski, sob cuja administração (pelo menos tempora
riamente) estavam as províncias anexadas da Bósnia e da Herzegóvina,
que o arquiduque programara visitar. Contudo, as questões de seguran
ça eram de responsabilidade do general Oskar Potiorek, governador das
províncias, nominalmente subordinado a Bilinski, mas na verdade em
rixa com ele. Assim, Potiorek ignorara Bilinski deliberadamente, ulti
mando os arranjos para a missão do arquiduque na Bósnia.
Jovanovic encontrou-se com Bilinski em 21 de junho, ao meio-dia.
Aparentemente, ele decidira suprimir o núcleo da mensagem que supos-
tamente teria recebido ordens de entregar —que Belgrado tinha infor
mações sólidas sobre um complô para matar o arquiduque. Em vez disso,
ele falou em termos gerais sobre os perigos inerentes da visita a Sarajevo
e a possibilidade de que sérvios descontentes pudessem atacar Francisco
Ferdinando. Jovanovic tinha razões para não falar do complô para ma
tar Francisco Ferdinando; havia sido o indicado de Apis para o Ministé
rio das Relações Exteriores no golpe de Estado que Hartwig tinha evitado
em maio. Circulavam então rumores de que Apis estava preparando um
novo golpe, talvez para o mês de agosto, e mais uma vez pensava em
promover Jovanovic. Não estava na hora de Jovanovic se alinhar com
Pasic contra Apis.
Por sua vez, Bilinski tinha razões para descartar a vaga advertência
que recebeu. Havia sido ignorado no planejamento da segurança. A res
ponsabilidade tinha sido assumida por um subordinado dele, o general
Potiorek, sob ordens expressas de Francisco Ferdinando. Se as coisas
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C A P ÍT U L O 21: OS TERRORISTAS ATACAM
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OS T E R R O R I S T A S ATACAM
Só, Princip perambulou até o que tinha sido o seu ponto na margem do
rio na avenida Appel, na chamada ponte Latina. Então, atravessou a rua.
Os relatos diferem sobre onde ele permaneceu ou sentou-se.
Francisco Ferdinando decidiu cancelar os planos em curso, que
previam a passagem da sua comitiva por ruelas sinuosas a caminho do
museu; mas não refez o caminho, recuando. Após uma parada na prefei
tura para uma recepção e discursos, ele insistiu em ir até o hospital para
visitar o coronel Merizzi, levemente ferido no ataque de Cabrinovic. O
motorista do carro à frente da comitiva não foi informado ou não com
preendeu; seguiu os planos originais, deixando a avenida Appel e pegan
do uma rua lateral para chegar ao museu, e o motorista do arquiduque
simplesmente o seguiu. “Volte!”, gritou-lhe o general Potiorek. O mo
torista parou. Considerou a melhor maneira de voltar. A retaguarda do
seu automóvel pode ter ficado bloqueada pelo restante do comboio. Ele
teria de manobrar lentamente na rua estreita, talvez andando de marcha
a ré ou fazendo retorno. Nesse ínterim, o veículo ficou parado. Tudo
isso se passou a cerca de l,50m de distância de Princip. Ele estava cerca
do por outros espectadores. Deve ter ficado surpreso, mas pensou rápi
do e agarrou a chance. Pôs a mão no bolso para pegar a bomba, mas
compreendeu que estava apertado demais na multidão para poder proje-
tar o braço e lançá-la livremente no alvo. Então sacou sua pistola e dis
parou dois tiros à queima-roupa, atingindo a jugular do arquiduque com
um e o abdome da duquesa com o outro. Àquela distância, era quase
impossível errar.
Princip virou a arma contra si mesmo, mas foi impedido de atirar
por um homem ao seu lado, que se lançou sobre o braço do assassino.
Não estava claro o que tinha acontecido. Para alguns, os dois estampi
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C A P ÍT U L O 22: A EUROPA BOCEJA
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A EUROPA B OCE J A
Deve ter sido um golpe terrível para o cáiser Guilherme. Ele ficaria
horrorizado pelo assassinato de qualquer figura real; além disso, porém,
ele havia trabalhado quatro anos para consolidar um relacionamento
especial com Francisco Ferdinando. Para esse fim, ele foi, e mostrava
todos os sinais de continuar a ser, o maior defensor de Sophie. Uma vez
que o velho Francisco José morresse - em não mais do que uns poucos
anos —, os dois amigos e imperadores, Guilherme e Francisco Ferdinan
do, poderiam (no que parecia ser a visão do cáiser) trabalhar em parceria
para liderar o continente europeu. Este sonho havia sido destruído. Para
a Alemanha, conjecturou-se, depois de Francisco Ferdinando sair de
cena, o Império Habsburgo poderia não ser um aliado tão próximo e
confiável quanto sob a liderança de Francisco Ferdinando.
De Kiel, o correspondente do Times de Londres passou um telegra
ma ao seu editor, dizendo que “o interesse alemão pelo problema austrí
aco será certamente mais intenso” do que antes.
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CAPÍTULO 23: DESCARTE DOS CORPOS
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rio, ao passo que o dela exibia um par de luvas brancas e um leque negro
—a insígnia do seu préstimo de dama de companhia.2
Os filhos do casal foram proibidos de comparecer ao funeral
por seus parentes. Eles mandaram flores, um dos dois únicos buquês
permitidos.
Viena solicitou que as personalidades reais estrangeiras não com
parecessem e, consequentemente, tampouco o fez. A cerimónia ocorreu
em 3 de julho. Posteriormente, a capela foi fechada. Durante a noite, os
caixões foram enviados de volta à estação de trem, mas foram intercep
tados; depois, foram acompanhados por um grande cortejo de nobres
conduzidos pelo irmão de Sophie - grupo que se recusou a ser excluído.
Em Artstetten, os corpos do arquiduque e de sua esposa morganática
chegaram finalmente ao campo-santo, acossados e humilhados na mor
te como haviam sido em vida pela corte dos Habsburgo. Foi uma atitu
de vil dos próceres da corte. E também tacanha: solapava a sua própria
pretensão de terem sido injuriados pelo crime que Gavrilo Princip
perpetrara.
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CAPÍTULO 24: REUNINDO OS SUSPEITOS
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R E U N I N D O OS S U S P E I T O S
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R E U N I N D O OS S U S P E I T O S
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PARTE C IN C O
MENTINDO
C A P ÍT U L O 2 5 : ALEMANHA ASSINA
CHEQUE EM BRANCO
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arriscar uma guerra mais ampla, desde que Viena atacasse prontamente.
A resposta alemã à missão de Hoyos, segundo o respeitado trabalho de
Berghahn, trazia a chancela de Bethmann, que aparentemente a conce
beu.6 Foi plano de Berlim (embora o mundo não pudesse saber disso)
que Viena assumiu a responsabilidade de apoiar. O plano era a Áustria
atacar rapidamente, submeter a Sérvia, e apresentar à Europa um fait
accompli.
Em 6 de julho, Bethmann confirmou aos austríacos o compromis
so secreto do cáiser de apoiar a Áustria em caso de guerra.
A maioria dos historiadores condenou a garantia alemã como te
merária ou negligente. Samuel Williamson, um dos mais destacados es
tudiosos do papel da Áustria-Hungria nas origens da Primeira Guerra
Mundial, escreve: “Com suas garantias, a Alemanha entregou a direção
e o andamento da crise de julho” à Áustria.7
Contudo, o cheque pode não ter sido inteiramente em branco. Os
alemães podem ter acreditado que era deles o plano - um ataque rápido
—que a Áustria iria levar a efeito, de modo que não estariam realmente
entregando a decisão a Viena. E depois, também, a caução alemã estava
sujeita a certas condições —ou pelo menos o cáiser pode ter pensado que
estariam implícitas. A garantia foi dada no contexto dos vários anos de
hostilidades nos Bálcãs, durante os quais a Áustria já havia pedido pelo
menos três vezes a declaração de apoio que Hoyos recebera, conseguin
do um sim e dois nãos. O cáiser tinha certas precondições em mente
para dar apoio total à Áustria-Hungria no seu continuado conflito com
a Sérvia, precondições estas que se tornam mais claras quando observa
das no contexto de 1912-1914, em vez de apenas no de 1914.
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CAPÍTULO 26: A GRANDE FRAUDE
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CAPÍTULO 27. BERCHTOLD PERDE O PRAZO
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CAPÍTULO 28: MANTÉM-SE O SEGREDO
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M A N T ÊM - SE O SEGREDO
brado o código italiano, sabiam o que San Giuliano estava dizendo aos
seus diplomatas. O historiador Samuel Williamsom, que relata este acon
tecimento, conjectura que os russos, com a sua sofisticação em criptologia,
também podem ter decifrado o código italiano, e ter alertado a Sérvia.2
Os russos tinham quebrado o código austríaco, lido a inquirição de
Berchtold quanto à data em que o presidente e o primeiro-ministro france
ses deixariam a Rússia - e podem ter tirado conclusões da sua solicitação.
Vazamentos deste tipo eram certamente de se esperar à medida que
o tempo passava, e que uma protelação levava a outra. Um diplomata
austríaco aposentado deixou escapar uma alusão que foi captada pelo
embaixador britânico, que repassou o boato a um colega francês.
Em 16 de julho, o embaixador britânico na Rússia alertou o seu
governo sobre a tempestade que estava se formando: “O governo austro-
húngaro não tem disposição de parlamentar com a Sérvia [sic[, mas vai
insistir em anuência imediata incondicional, na falta da qual será usada
a força. Comenta-se que a Alemanha está totalmente de acordo com este
procedimento.”3
No mesmo dia, e na mesma cidade, São Petersburgo, o embaixador
italiano disse ao diplomata russo “que a Áustria era capaz de dar um
passo irrevogável em relação à Sérvia, baseada na crença de que, embora
protestasse verbalmente, a Rússia não adotaria medidas de força para
proteger a Sérvia contra quaisquer tentativas austríacas”.4
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PARTE SEIS
CRISE!
CAPÍTULO 29: O FAIT NÃO FOI ACCOMPLI
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O F A IT N Ã O FOI ACCOMPL I
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Era tarde demais para lançar a invasão surpresa que Bethmann ha
via considerado. Os países da Europa ficariam em alerta assim que to
massem conhecimento do tipo de ultimato que Berchtold propunha
entregar. Saberiam que a Sérvia iria provavelmente recusar, que a Áus
tria iria provavelmente declarar guerra e que a Alemanha iria provavel
mente apoiar a Áustria. O elemento surpresa estaria perdido.
Uma fase do plano austro-alemão para punir a Sérvia fora supera
da: o plano de invasão formulado em 6 de julho e nunca experimentado.
Até 19 de julho, a Áustria teria tido condições de subjugar a Sérvia sem
interferência das potências européias, pois a operação teria sido realiza
da antes de as potências terem tempo de reagir. Agora - depois do 19 de
julho —o plano teria de ser mudado, pois era tarde demais para levar a
cabo o que fora originalmente premeditado. No esquema original,
a invasão seria completada antes de o restante da Europa poder fazer
alguma coisa, exceto emitir notas de protesto depois do fato consuma
do. Na nova concepção, a Europa teria tempo de reagir e responder, mas
seria convencida a esperar até que fosse tarde demais. “Localização” era
a palavra-chave que os alemães continuariam a usar, significando que as
grandes potências, apesar de plenamente conscientes do que estava pres
tes a suceder, optariam por não intervir em virtude de não ser problema
delas. A Alemanha empreendeu persuadi-las de que deviam deixar a Áustria
e a Sérvia resolverem suas diferenças entre si. Claramente, os austríacos
também tinham de agir rápido, pois quanto mais demorassem para es
magar seu vizinho menor, maior a probabilidade de que um dos patronos
da Sérvia —particularmente a Rússia ou a França —pudesse começar a
pensar em termos de interromper o conflito desigual.
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CAPÍTULO 30: APRESENTANDO O ULTIMATO
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APRESEN TA NDO O ULTIMATO
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Era a primeira vez naquele mês que o gabinete ouvia falar de política
exterior. Churchill era um dos dois únicos homens do gabinete, além do
primeiro-ministro, que tinham sido avisados por Grey antes da reunião.
Durante a reunião, como de costume, o primeiro-ministro Asquith
escreveu uma carta à sua confidente, Venetia Stanley. Disse a ela que a
situação européia “está tão mal quanto é possível estar. A Áustria enviou
uma nota intimidadora e humilhante à Sérvia, que absolutamente não
pode cumpri-la, e exigiu resposta em 48 horas - na ausência da qual,
marchará. Isto significa, quase inevitavelmente, que a Rússia vai entrar
em cena em defesa da Sérvia e em desafio à Áustria; se assim for, será
difícil tanto para a Alemanha como para a França se absterem de em
prestar seu apoio a um lado ou outro. Assim, estamos a uma distância
mensurável, ou imaginável, de um verdadeiro Armagedom”.4
Mas ele termina com uma nota tranquilizadora: “Felizmente, parece
não haver nenhuma razão para sermos mais do que meros espectadores.”
No final da reunião, Churchill, por sua vez, escreveu à esposa que a
“Europa está tremendo à beira de uma guerra generalizada.5 O ultimato
austríaco à Sérvia sendo, no género, o documento mais insolente jamais
concebido”. Mas ele tampouco previa um papel para a Grã-Bretanha
desempenhar no conflito iminente, e escreveu principalmente para di
zer que estaria com a família na praia durante o fim de semana.
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APRESENTA NDO O ULTIMATO
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APRES ENT AND O O ULTIMATO
A Rússia, como tão amiúde foi o caso, era um mistério para o mundo
europeu em 1914. Suas dimensões imensas e aparente exotismo oriental
eram assustadores. Era o maior dos países, e o tamanho da sua popula
ção —170 milhões de habitantes - era intimidador. Entretanto, em ju
lho de 1914 os seus ministros consideravam-na vulnerável.
O ritmo da sua industrialização, a sua rede ferroviária sempre em
crescimento e o seu programa moderno de rearmamento, em grande
parte financiado pela França, começaram com a Rússia tão gravemente
atrasada, que alcançar qualquer progresso parecia muito maior do que
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APRESENTA NDO O ULTIMATO
esposa e as filhas que ele adorava, e o filho Alexei, com pouco menos de
dez anos de idade em 1914, cuja hemofilia pesava como uma espada
sobre a monarquia.
Quaisquer que fossem os seus sentimentos sobre os sérvios como
irmãos eslavos, Nicolau tinha necessariamente sentimentos fortes quan
to a regicidas. Seu avô Alexandre II, que tinha libertado os servos, foi
objeto de mais de meia dúzia de tentativas de assassinato antes da fatal.
Além disso, Nicolau começou seu reinado um pouco sob a influên
cia do cáiser Guilherme. Nicolau foi coroado em 1895, aos 26 anos de
idade. Guilherme, nove anos mais velho, já ocupava o trono há seis
anos. “Gui” influenciou “Nic” durante uma década, aconselhando-o de
maneira perigosamente iníqua, instigando a idéia de conquistas no Ex
tremo Oriente, o que levou à desastrosa guerra contra o Japão (1904-
1905), que quase redundou no colapso da Rússia como grande potência.
A crise culminou com a revolução de 1905.
No final de 1905 e da influência de Guilherme, o tsar caiu sob o
fascínio de outra figura perigosa, o curandeiro religioso Gregori Rasputin,
que ofereceu a esperança de curar a hemofilia do herdeiro aparente. O
crédulo e vulnerável casal imperial, Nicolau e sua esposa Alexandra, que
se preocupava mais com a vida do seu filho do que com qualquer outra
coisa, parecia estar colocando o destino do czaréviche nas mãos de
Rasputin, o homem da voz gutural, dos olhos hipnóticos e do toque que
abrandava. Fisicamente vigoroso, Rasputin era movido por apetites quase
insaciáveis; os fofoqueiros tinham sempre o que fazer acrescentando
nomes de mulheres à lista das suas conquistas, que diziam incluir a im
peratriz Alexandra e uma de suas filhas, para orgulho da esposa do mon
ge, deixada em casa na Sibéria com seus quatro filhos: “Ele é bastante
para todas elas”, jactava-se ela.15
Ao aproximar-se a crise de julho de 1914, a ascendência exercida
por este mago fraudulento e pernicioso sobre a família real já havia aba
lado a reputação da própria monarquia. Era previsível que pelo menos
uma parte do público culpasse a influência de Rasputin pela reviravolta
trágica no destino da Rússia durante e após 1914.
Na verdade, Rasputin advogava consistentemente a causa da paz.
Na crise da guerra dos Bálcãs de 1908, ele tinha dito: “Não vale a pena
lutar pelos Bálcãs.” Em 1914, recuperando-se em sua aldeia camponesa
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AP RE SE NTANDO O ULTIMATO
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C A P ÍT U L O 31: A SÉRVIA MAIS
OU MENOS ACEITA
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O ÚL T I MO VERÃO E U R O P E U
ofereceria ajuda, mas não especificou que forma esta ajuda tomaria. No
final, o governo do tsar sugeriu que a Sérvia - se a resistência fosse sem
esperanças —deveria recuar em vez de resistir, e confiar no senso de
justiça da Europa para corrigir a questão. Nem a Rússia nem sua aliada,
a França, estavam prontas para lutar, especialmente pela Sérvia.
Inicialmente, o governo sérvio estava inclinado a ser desafiador.
Mas depois de os ministros examinarem a questão em detalhes, passa
ram a um ânimo mais realista.
Era unânime entre os líderes sérvios que seu país seria esmagado
em caso de guerra contra a Monarquia Dual. Somente a Rússia, ou uma
combinação de potências neutras, poderia salvá-los. Tal apoio seria difí
cil de obter em qualquer caso, ainda mais porque havia pouco tempo: a
resposta Sérvia tinha de ser dada até as seis horas da tarde do dia 25 de
julho. Pasic e seus colegas estavam trabalhando continuamente, hesitan
do entre a aceitação total do ultimato e a tentação de apresentar condições
ou restrições que permitissem escapar mais tarde do peso das rígidas
exigências de Viena.
À medida que frases eram acrescentadas, modificadas e riscadas, o
texto tornava-se cada vez menos legível. Contudo, ele precisava ser sufi
cientemente legível, para o tradutor poder fazer o seu trabalho. Revisado
e rebatido várias vezes, o texto continuava confuso e o prazo final se
aproximava. O datilógrafo não era experiente; a máquina de escrever
quebrou. A menos de duas horas do fim do prazo, foi feita uma tentativa
de escrevê-lo a mão.
O documento final parecia mais um primeiro rascunho, com pala
vras riscadas, borrões de tinta e outras coisas mais. Como ninguém mais
se ofereceu para levá-lo, foi o próprio Pasic quem o fez, apressando-se na
direção da legação austríaca para entregar a resposta sérvia antes do pra
zo de seis da tarde. Ele pode ter chegado ligeiramente atrasado. Giesl leu
rapidamente, levantando-se. Ele já havia destruído seus papéis e feito as
suas malas. Um automóvel estava pronto para levá-lo à estação ferroviá
ria. Ele desempenhou as formalidades sumárias atinentes à ruptura de
relações diplomáticas e partiu para pegar o seu trem.
Fora da Áustria-Hungria, acreditava-se que a resposta ao ultimato
aceitaria todas as condições menos uma. Na verdade, ela continha uma
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A S ÉRVI A MAIS OU M E N O S AC E I T A
Berchtold assumiu a posição de que a sua nota para a Sérvia não era um
ultimato, pois nenhuma declaração de guerra decorreu automaticamen
te quando o prazo expirou. Em 25 de julho, Berchtold ainda estava
dizendo aos russos que a ruptura das relações com a Sérvia pela Áustria
não levaria necessariamente à guerra: “Nossas exigências podem fazer
surgir uma solução pacífica.”4
Mas chegou então um telegrama do seu embaixador em Berlim,
lembrando-o de que a Alemanha esperava que a Áustria abrisse as hosti
lidades. “Considera-se aqui que toda demora em dar início às operações
de guerra representa o perigo de que potências estrangeiras possam in
terferir. Fomos urgentemente aconselhados a proceder sem tardança.”
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O Ú L T I M O VERÃO E U R O P E U
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PARTE SETE
CONTAGEM REGRESSIVA
CAPÍTULO 32: CARTAS NA MESA EM BERLIM
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CARTAS NA MESA EM BERLI M
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CARTAS NA MESA EM BE RL I M
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CAPÍTULO 33: 26 DE JULHO
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CAPÍTULO 34: 27 DE JULHO
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Mas nao foi o que aconteceu. O que Guilherme encontrou foi que
a Áustria-Hungria tinha deixado passar uma chance de humilhar a Sérvia
pacificamente. Agora a Sérvia estava se aprontando para tomar uma ati
tude, a frota britânica estava mobilizada e a Rússia tinha dado o primei
ro passo na preparação para a guerra. A Grã-Bretanha estava pressionando
para uma conferência diplomática que pudesse resolver a disputa em
bases menos favoráveis do que os termos que a Áustria já havia recusado
em 25 de julho.
Ao retornarem das suas férias encenadas, os líderes das potências
germanófonas tiveram de tomar decisões sobre o seu próximo passo.
Aquela se mostraria uma semana decisiva. O que os elementos-chave
dos governos alemão e austríaco identificaram como perigo imediato foi
que a proposta de Grey de mediação pelas quatro potências poderia ter
êxito, evitando a eclosão da guerra. Nos Ministérios das Relações Exte
riores de Viena e de Berlim, o 27 de julho viu desencadear-se o começo
de um pânico da paz.
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a apoiar seu secretário das Relações Exteriores, mas sua principal preo
cupação era manter o seu Partido Liberal unido no apoio à política ado-
tada, fosse qual fosse.
Após a reunião do gabinete, Winston Churchill começou a traçar
planos para garantir a prontidão da força naval. Ele estava em seu ele
mento. Tinha experiência de campo de batalha na índia e no Sudão, e
seus feitos notáveis como civil na Guerra dos Bóeres tinham ajudado a
lançar sua carreira política. Embora não fosse um fomentador de guer
ras, foi no fragor dos Exércitos que se notabilizou.
À tarde, ele começou a dispor proteções em pontos vulneráveis, a
tomar precauções contra ataques surpresa. O seu Almirantado se juntou
ao Ministério da Guerra, reunindo um pequeno grupo para avaliar a
melhor maneira de pedir autocensura à imprensa; informações úteis não
podiam ser reveladas ao inimigo.
O figurão da imprensa George Riddell, que estava entre os presen
tes, registrou posteriormente em seu diário que um porta-voz do gover
no “nos informou que a situação continental estava se tornando muito
séria.4 Ele disse que poderia ser necessário deslocar tropas e navios [...]
secretamente”, e perguntou como evitar que a notícia fosse publicada.
Riddell rascunhou uma carta aos jornais, a qual foi divulgada “e consti
tuiu a primeira sugestão oficial à imprensa sobre a guerra iminente. O
resultado foi notável. Nenhuma informação era divulgada, e os alemães
estavam alheios ao que estava sendo feito”.
Naquela noite, Churchill colocou suas forças em alerta informal.
Ele passou um cabo às frotas da Marinha Real espalhadas em todo o
mundo: “Secreto. Situação política européia mostra que guerra entre
potências Tríplice Aliança e Tríplice Entente definitivamente não é
impossível.5 Este não é um Telegrama de Alerta, mas estejam prepara
dos para vigiar possíveis navios de guerra [...] Medida é puramente
preventiva.”
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veu ele em seu diário, “permanecer calma e deixar a Rússia isolar-se, mas
então não se encolher diante de uma guerra se ela for inevitável”.10
Bethmann concordava com o militar num aspecto: “Em todo caso, a
Rússia tem de ser implacavelmente isolada”, disse ele a Guilherme.
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CAPÍTULO 35: 28 DE JULHO
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O Ú L T I M O VERÃO E U R O P E U
Sua posição era de que a guerra era inevitável, que o tempo estava cor
rendo contra a Alemanha, e que em um ou dois anos a vantagem muda
ria de lado: em 1914, a França e a Rússia podiam ser batidas, mas em
1916 ou 1917, a Alemanha podia perder. Por conseguinte, a Alemanha
tinha de atacar imediatamente.
A crise de julho, como Moltke a via, evoluíra, felizmente para a
Alemanha, de modo a colocá-la numa “posição singularmente favorá
vel”.2 As colheitas já haviam acontecido, o treinamento anual de recru
tas estava concluído, e a Rússia e a França não estariam realmente prontas
antes de dois anos. A Áustria tinha se colocado numa posição em que
não podia deixar de lutar ao lado da Alemanha, e isto era absolutamente
vital. Como resumiu Moltke: “Nunca mais teremos uma chance tão boa
como a que temos agora.”
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28 DE J U L H O
Era preciso dizer aos austríacos que não havia mais qualquer razão para
entrar em guerra.6 O cáiser também notificou Moltke, por escrito, da
mesma conclusão.
Como escreve Christopher Clark, um dos biógrafos recentes do
cáiser: “Talvez o mais surpreendente nessa carta do 28 de julho para
Jagow é que ela não foi posta em prática [...]7 Suas instruções não tive
ram nenhuma influência sobre as representações de Berlim em Viena.
Bethmann realmente mandou um telegrama para Viena, repetindo al
gumas das opiniões do cáiser, mas omitindo a mais importante: que a
Áustria deveria parar, não entrar em guerra, permitindo, em vez disso,
que o cáiser mediasse a disputa com a Sérvia.”
Um general bávaro anotou em seu diário que “infelizmente [...]
havia notícias de paz. O cáiser quer absolutamente a paz. [...]8 Ele quer
até influenciar a Áustria, e fazê-la parar de avançar”.
Segundo o ministro da Guerra, von Falkenhayn, o cáiser “fazia
discursos confusos, que davam a clara impressão de que não queria mais
a guerra e estava determinado a [evitá-la], mesmo que isso significasse9
deixar a Áustria-Hungria em apuros”.10 Mas Falkenhayn relembrou ao
cáiser que ele “já não tinha mais o controle da questão nas suas mãos.”
Em outras circunstâncias, isso teria parecido uma insubordinação cho
cante. Porém, desde o incidente com o Daily Telegraph, em 1908,* a
posição do imperador era precária. Em maio de 1914, apenas dois meses
antes do lembrete de Falkenhayn, Edward House, enviado do presiden
te Wilson, havia relatado de Berlim que a “oligarquia militar” era supre
ma, estava “determinada quanto à guerra” e preparada para “destronar o
cáiser tão logo ele desse sinais de assumir um curso que levasse à paz”.11
É claro, Guilherme, cuja relação com o real era bastante débil, podia não
ter plena consciência dos perigos da sua posição. Alternativamente, House
pode ter exagerado.
Mas não pode haver dúvidas de que o imperador não tinha consci
ência de muita coisa que estava em curso. Com certeza, entre as coisas
que Guilherme não sabia estava o fato de que, no dia anterior, Jagow
havia enviado um telegrama urgente para Viena, instando —decerto pra
* Ver p. 90.
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28 DE J U L H O
Paris. A França nada sabia sobre a crise bélica; a notícia que todos co
mentavam era que a senhora Caillaux havia sido absolvida!
Sem saber que o seu próprio Ministério das Relações Exteriores estava
anulando os esforços que ele havia empenhado para conter os austría
cos, Guilherme enviou uma mensagem ao tsar. Ele lembrava seu primo
que “nós dois, você e eu, temos o interesse comum, bem como todos os
soberanos”, de punir os sérvios por matarem membros de uma família
governante. “Neste particular, a política não desempenha nenhum pa
pel.” Porém, continuou o cáiser: “Por outro lado, entendo plenamente
o quanto é difícil para você e o seu governo enfrentarem o ímpeto da
opinião pública.” O nacionalismo russo, incerto, mas todavia uma for
ça, era um fato da vida política para Nicolau. (Soubesse Guilherme ou
não, pressões pró-mobilização também estavam sendo exercidas pelo
Estado-maior russo.) O cáiser protestou a sua “sincera e afetuosa amiza
de” e lhe garantiu: “Estou exercendo minha máxima influência para in
duzir os austríacos a lidar corretamente com a situação.”
Essa mensagem —a primeira na correspondência entre Gui e Nic
após a Áustria declarar guerra à Sérvia - cruzou no caminho com uma
outra do tsar: “Estou feliz que tenha voltado [...] peço-lhe para ajudar-
me. Uma guerra ignóbil foi declarada contra um país fraco [...] [E]m
breve eu serei sobrepujado pela pressão exercida sobre mim [...] para
tomar medidas extremas que levarão à guerra. Para buscarmos evitar
uma calamidade do porte de uma guerra européia, eu lhe rogo, em nome
da nossa velha amizade, para fazer tudo o que estiver ao seu alcance para
impedir os aliados de irem longe demais.”
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O ÚL T I MO VERÃO E U R OP E U
internas eram o seu principal obstáculo, pois então o governo tinha aberto
negociações com o Partido Social Democrata (SPD), em vista de garan
tir um acordo de lealdade dos representantes da classe trabalhadora em
caso de guerra. A preocupação era genuína. O comité executivo do SPD,
denunciando “a frívola provocação do governo austro-húngaro”, tinha
convocado seus simpatizantes a irem para as ruas.14 O jornal deles prog
nosticou que a guerra traria a revolução na sua esteira. Manifestações em
Berlim em 28 de julho, que a polícia tentou reprimir, trouxeram a vio
lência para a própria capital e pareceram ser apenas um preâmbulo de
mais distúrbios a vir.
Entretanto, Bethmann marcou um ponto ao negociar com a lide
rança do SPD um acordo de alinhamento com o governo naquele mo
mento de perigo nacional.
Nesse ínterim, o cáiser, ainda sem saber que a sua decisão pela paz
tinha sido sabotada por seus subordinados, perguntava-se confusamente
se não tinha agido tarde demais. Ele observou que “a bola estava rolan
do” e “já não podia mais ser detida”.
249
CAPÍTULO 36: 29 DE JULHO
Quando ficou claro que a Rússia poderia de fato intervir se a Sérvia fosse
ameaçada de destruição, questões se impuseram ao espírito dos generais
* Sua referência teria sido à Corte Permanente de Arbitragem, estabelecida em Haia pela Convenção para
a Solução Pacífica de Disputas Internacionais (1899).
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“Uma das ironias do caso”, escreveu Asquith à sua amiga Venetia Stanley,
“é que sendo nós a única potência que chegou a fazer uma sugestão
construtiva na direção da paz, tanto a Alemanha como a Rússia nos
acusam de provocar a deflagração da guerra.12 A Alemanha diz: ‘se dis
sessem que serão neutros, a França e a Rússia não ousariam lutar’, e a
Rússia diz: ‘se declarassem com ousadia que iam ficar do nosso lado, a
Alemanha e a Áustria conteriam imediatamente os seus ímpetos.’ Nada
disso é verdade, é claro”.
Neste dia, o gabinete aprovou a publicação de um alerta geral, que
foi enviado às bases inglesas em todo o mundo. Várias e extensivas pre
cauções foram tomadas. Em termos técnicos, o “Livro de Guerra” foi
aberto pelo secretário do Comité de Defesa Imperial. Contudo, a maio
ria dos membros do gabinete pretendia manter a Grã-Bretanha fora do
conflito.
Winston Churchill temia que a opinião do gabinete e do Partido
Liberal no governo ainda se inclinasse à neutralidade. Secretamente, ele
enviou uma mensagem ao seu mais íntimo amigo conservador, F. E.
Smith, pedindo-lhe para sondar a liderança do seu partido sobre a pos
sibilidade de formar uma coalizão de governo apoiada por liberais pró-
intervenção —segundo toda probabilidade uma minoria dentro daquele
partido - e todos os conservadores. Smith comprometeu-se a conversar
com os outros líderes partidários na oportunidade então já marcada para
dois dias depois, num fim de semana no campo.
Churchill tinha preocupações mais urgentes. Como primeiro lorde
do Almirantado, estava preocupado com a vulnerabilidade da Marinha
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CAPÍTULO 37: 30 DE JULHO
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persuasivas por todos os lados. Sazonov juntou-se aos generais para de
fender a mobilização generalizada, a qual um tsar indeciso e infeliz, mu
dando de idéia mais uma vez, finalmente ordenou. O chefe do
Estado-maior do Exército russo disse a frase famosa: “Vou [...] destruir
meu telefone” para não poder “ser encontrado e ter de dar ordens con
trárias a um novo adiamento da mobilização generalizada”.
Bethmann compreendeu que o movimento da Rússia não era cau
sa de alarme. Ele disse aos ministros de Estado da Prússia que “embora a
mobilização russa tivesse sido declarada, suas medidas de mobilização
não podem se comparar àquelas dos Estados europeus ocidentais [...]
Além disso, a Rússia não pretende entrar em guerra, apenas foi forçada a
tomar essas medidas por causa da Áustria”.9
Os chefes de Estado-maior da Alemanha e da Áustria estavam em
contato um com o outro, e Moltke advertiu o impaciente Conrad: “Não é
preciso declarar guerra contra a Rússia.”10 Em vez disso, os dois impérios
germanófonos deviam apenas “esperar que a Rússia atacasse”.
Nesse ínterim, Bethmann argumentava em favor de um adiamento
enquanto Moltke, que tendera ao adiamento a metade do tempo naque
la semana, mudou de posição. Repentinamente, passou a ser a favor de
avançar. “Suas mudanças de ânimo são difíceis ou impossíveis de expli
car”, observou um desgostoso Falkenhayn.11
Ao cair da noite, o cáiser soube da advertência de Grey ao embai
xador alemão em Londres na noite anterior. Grey, falando apenas por
si mesmo, externou sua opinião de que se a França fosse ameaçada, a
Inglaterra interviria. Como era amplamente sabido nos círculos gover
namentais que, em caso de uma guerra contra a Rússia, a Alemanha
planejava atacar e subjugar a França antes de dar a volta e invadir a
Rússia, Grey estava dizendo que a Inglaterra ia apoiar as potências as
sociadas da Entente, Rússia e França, contra as potências da Tríplice Ali
ança, Alemanha e Áustria. Mais uma vez, o cáiser explodiu em fúria: “A
irresponsabilidade e a fraqueza estão prestes a mergulhar o mundo na mais
terrível das guerras, que em última análise visa destruir a Alemanha”, asse
verou ele.12 “Não resta nenhuma dúvida em minha mente: Inglaterra,
Rússia e França [...] estão coligadas para promover uma guerra de aniqui
lação contra nós, usando o conflito austro-sérvio como pretexto [...] a
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29 DE J U L H O
Paris. De volta da sua longa viagem, e ainda sem terem sido alcançados
por todas as notícias do que tinha acontecido durante as suas ausências,
os líderes franceses tentaram acionar os freios, diminuir a alta velocida
de dos acontecimentos. Com a aprovação do presidente Poincaré, o pri
meiro-ministro Viviani passou ao governo russo um telegrama
aconselhando cautela:14 “Entre as medidas preventivas e as medidas de
fensivas de que a Rússia acredita ser obrigada a lançar mão, ela não deve
proceder imediatamente no sentido de tomar quaisquer medidas que
possam dar à Alemanha um pretexto para a mobilização total ou parcial
das suas forças.”15 A própria França fez recuarem suas forças armadas a
10 quilómetros da fronteira franco-alemã.
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CAPÍTULO 38: 31 DE JULHO
J seu governo que a Alemanha estava prestes a iniciar a guerra sem es
perar que a Rússia mobilizasse primeiro as suas forças.1
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Conrad visava atacar a Sérvia o mais rápido possível, para garantir que a
luta começasse antes de os diplomatas poderem intervir.2
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CAPÍTULO 39: 1- DE AGOSTO
T^aris. Joffre pediu outra vez permissão ao seu governo para ordenar
J- uma mobilização geral imediata. Em vez disso, o gabinete o autori
zou a fazê-la no dia seguinte.
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CAPÍTULO 40: 2 DE AGOSTO
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(1) Não temos obrigação de nenhum tipo nem com a França nem
com a Rússia de dar apoio militar ou naval.1
(2) Despachar a força expedicionária para ajudar a França neste
momento está fora de questão e não serviria a nenhum objetivo.
(3) Não devemos esquecer os laços criados por nossa íntima e dura
doura amizade com a França.
(4) Não é do interesse da Grã-Bretanha que a França seja elimina
da como grande potência.
(5) Não podemos permitir que a Alemanha use o canal como base
hostil.
(6) Nós temos a obrigação de impedir que a Bélgica seja utilizada e
absorvida pela Alemanha.
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2 DE A G O S T O
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2 DE A G O S T O
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CAPÍTULO 41: 3 DE AGOSTO
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3 DE A G O S T O
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CAPÍTULO 42: 4 DE AGOSTO
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4 DE A G O S T O
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CAPÍTULO 43: DESTRUINDO PROVAS
281
D E S T R U I N D O PROVAS
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* O Livre jaune [Livro amarelo], que também pode ser azul, branco, laranja... é uma coletânea de do
cumentos oficiais, diplomáticos, publicada em vários países europeus após acontecimentos importantes,
como uma guerra, para permitir a pesquisa em originais. (N. do T.)
283
D E S T R U I N D O PROVAS
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PARTE O ITO
O MISTÉRIO DESVENDADO
CAPÍTULO 44: REUNIÃO NA BIBLIOTECA
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R E U NI ÃO NA B I B L I OT E C A
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CAPÍTULO 45: O QUE NÃO ACONTECEU
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O Q UE NÃO A C O N T E C E U
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O Ú L T I M O VERÃO E U R OP E U
que isto não era inteiramente verdade. A Sérvia tinha algumas responsa-
bilidades, mas não todas.
O assassinato, como vimos, foi cometido por uma pessoa, um bósnio
e, conseqiientemente, súdito austríaco, e não sérvio. Ele agiu provavel
mente (mas não certamente) por iniciativa própria, ainda que fosse as
sistido por outras pessoas. Seu ato —hoje podemos confirmar —foi
viabilizado pelo apoio de oficiais dissidentes do Exército sérvio.
Não há dúvida de que a bala que matou o arquiduque austríaco
Francisco Ferdinando em Sarajevo no final da manhã de domingo, 28
de junho de 1914, veio de uma arma manuseada pelo estudante secun
dário terrorista Gavrilo Princip.
Embora afirmasse o contrário durante alguns poucos dias após a
sua captura, Princip não agiu inteiramente só. Ele pode ter originado só
a idéia de assassinar Francisco Ferdinando, como manteve até o final,
mas liderava uma equipe. Como ele, os outros eram jovens amadores
motivados por ideologias nacionalistas ou afins. Outro membro do seu
bando tentou o assassinato, mas fracassou. No final, Princip agiu sozi
nho. Não houve terceira bala. Não houve elevação gramada.*
A trama do assassinato talvez não tivesse êxito sem o apoio essen
cial da sociedade secreta sérvia Mão Negra, que proveu armas, treina
mento de tiro e uma “estrada de ferro clandestina”** para contrabandear
Princip e um colega através de postos de fronteiras e alfândegas da Sérvia
até a Bósnia. A Mão Negra, por sua vez, recorria ao apoio de funcioná
rios do baixo escalão do governo sérvio e aos recursos da organização
cultural nacionalista sérvia Narodna Odbrana.
Apis e seus principais lugares-tenentes, os ativos chefes da Mão
Negra, eram oficiais do alto escalão do Exército que se infiltraram no
governo sérvio. Tratava-se de uma facção político-militar conspirando
contra o primeiro-ministro; assim, o primeiro-ministro não era responsá
vel pelo que eles fizeram.
* Trata-se da tradução literal da expressão “grassy knoll”, que se tornou genérica, conotando trama oculta
ou subterfugio, a partir das especulações sobre a existência de conspiração no assassinato do presidente
John Kennedy, o terceiro tiro tendo sido disparado de uma elevação gramada à direita do automóvel
presidencial. (N. do T.)
’* A expressão entre aspas evoca a memória das rotas de fiiga do movimento antiescravista conhecido na
história dos Estados Unidos como Underground Railroad. Do século XVII ao XIX, homens e mulheres
ajudaram escravos africanos a fugirem para a liberdade por meio de uma complexa rede informal de
caminhos e meios clandestinos através de campos, rios e florestas. (N. do T.)
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O cheque em branco nunca foi descontado, mas seria errado dizer que
sua emissão se mostrou irrelevante. Foi somente pela segurança que ele
deu que Francisco José, Berchtold e Conrad tomaram o caminho que
levou à guerra contra a Sérvia.
Foi o cáiser quem decidiu dar o cheque em branco. Seus líderes
militares e civis aprovaram a decisão, compartilhando assim a responsa
bilidade. Apesar de todo o ódio dirigido contra ele pelos Aliados na
guerra de 1914-1918 —“Enforquem o cáiser!”, dizia um canto popular
na Grã-Bretanha o cheque foi o único aspecto pelo qual ele figurava
entre os principais responsáveis pela eclosão da guerra.
Por mais que fosse um monarca turbulento, ameaçador e desequi
librado, o cáiser não queria levar seu país e a Europa a uma guerra. Ao
contrário, ele era a principal força a favor da paz no governo do seu país.
Guilherme e Francisco Ferdinando eram as duas figuras públicas mais
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tar a resposta sérvia, não importa qual fosse. O ultimato, na verdade, foi
escrito com o objetivo de tornar praticamente impossível a Sérvia aceitá-lo.
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raria guerra; e ele não optou pela mobilização até estar convencido de
que se a Rússia não se mobilizasse, a Alemanha ia fazer exatamente a
mesma coisa: culpar a Rússia e declarar guerra. Assim, a questão da
mobilização teve de ser pensada em São Petersburgo apenas em seus
méritos como medida militar.
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C A P ÍT U L O 4 6 : A CHAVE
PARA O QUE ACONTECEU
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ter perdido o interesse pela guerra austro-sérvia. Esta guerra tinha feito
a sua parte. Tinha preparado o caminho. Mas então, em certa medida,
sumiu da vista.
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CAPÍTULO 47: QUAL O PORQUÊ?
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Nos primeiros anos do seu reinado, o cáiser foi o patrono das reivindica
ções da Marinha. Ele apoiou o programa, defendido por Tirpitz, que
considerava que o rival que a Alemanha teria de desafiar era a Grã-
Bretanha. Se este programa tivesse obtido êxito, a Alemanha —se Tirpitz
estivesse certo —teria se transformado de potência européia dominante
em potência mundial dominante.
Porém, este não era o objetivo - ou pelo menos não era o objetivo a curto
prazo —do governo alemão em 1914. A Rússia, e não a Grã-Bretanha, tinha se
tornado a inimiga. A Marinha fora suplantada pelo Exército; Tirpitz
tinha sido em grande parte eclipsado por Moltke e Falkenhayn. Aqueles
que então ditavam a política da Alemanha - os generais do Exército —,
objetivavam preservar o que este país possuía. Queriam manter o domínio
do seu país no continente europeu. Eles queriam impedir uma futura con
testação dessa posição pela Rússia, apoiada pela França, provocando uma
guerra imediatamente, enquanto suas chances de vencer eram maiores do
que seriam no futuro.
Em Berlim, o que motivava os oficiais do Exército que impuseram
sua política de guerra ao relutante cáiser era o medo do poder crescente da
Rússia. Nós hoje não daríamos crédito à sua noção de que um confronto
final entre teutônicos e eslavos era inevitável. Mas o medo deles era real.
Os homens que dirigiam a Alemanha em 1914 adotaram o que a
seus olhos era uma política defensiva. Era uma política conservadora, no
sentido de que seu objetivo era manter o domínio militar alemão existente
na Europa. O inimigo —o competidor que mais dia menos dia eles teriam
de enfrentar —era a Rússia. Como a Áustria, preferindo combater a Sérvia
hoje em vez de amanhã, a Alemanha - isto é, os líderes militares alemães -
decidiu combater a Rússia hoje em vez de amanhã.
309
QUAL O P O R Q U Ê ?
310
O ÚL T I MO VERÃO E U R OP E U
311
QUAL O P O R Q U Ê ?
312
O Ú L T I MO VERÃO E U R OP E U
313
C A PÍT U LO 4 8 : QUEM PODERIA
TER IMPEDIDO?
314
O ÚL T I MO VERÃO E U R O P E U
No caso da guerra da Áustria, Viena reconheceu que não podia sair im
punemente de um ataque à Sérvia, a menos que Berlim oferecesse prote-
ção. Assegurada a cobertura alemã, ela estava livre para fazer o que
quisesse. É claro, a Áustria também precisava obter (e obteve) a aprova
ção e o apoio da Hungria. Depois disso, nada podia impedir a Áustria-
Hungria de marcharem juntas para a guerra.
Os políticos da Europa estavam no escuro sobre os motivos da
Áustria, e consequentemente desorientados. Eles acharam que o Impé
rio Habsburgo era o que fingia ser: um país ferido que queria reparação.
Na verdade, ele não queria a sua ferida remediada; queria um pretexto.
A Áustria não procurava justiça, pois isso a teria privado de uma descul
pa para fazer o que realmente queria: entrar em guerra. Ela expediu um
ultimato, não para obrigar a Sérvia a aceitá-lo, mas antes para forçá-la a
rejeitá-lo.
É claro, a pesada máquina do governo austro-húngaro andava len
tamente. No começo de agosto, os Exércitos dos Habsburgo ainda não
tinham iniciado as hostilidades que deviam ter concluído em julho. Con
tudo, a passo de lesma, a Monarquia Dual ia diretamente ao seu objeti-
vo, sem parar, sem se desviar, sem permitir-se ser distraída ou rechaçada.
Sua direção era o campo de batalha, e ela não permitiria que nada a
impedisse de chegar lá.
315
Q U E M P O D E R IA T E R I M P E D I D O ?
Com isto, eis duas virtualidades: duas coisas que podiam ter acontecido.
A primeira é que o governo alemão podia ter seguido as ordens do cáiser
na semana de 27 de julho e retirado o apoio à Monarquia Dual, a menos
que ela concordasse com a paz nos termos da Alemanha. O resultado
poderia ter sido um admirável triunfo diplomático para os aliados
germanófonos. A paz teria sido garantida em termos favoráveis à Áustria
e a Sérvia teria sido severamente punida.
A segunda virtualidade: a Rússia poderia ter se retirado do conflito.
Isso poderia ter ocorrido se ela estivesse convencida da culpa sérvia no
caso Sarajevo. A Rússia poderia ter abraçado a causa da Áustria contra
regicidas e terroristas, e dado a Viena uma carta branca, como fez a
Alemanha, para resolver o problema o melhor que pudesse nas suas tran
sações com a Sérvia.
Se a Rússia o tivesse feito, teria privado os líderes militares alemães
das condições e pretextos necessários para iniciar sua intentada guerra contra
a Rússia e a França. A guerra mundial teria no mínimo sido adiada
e, na melhor hipótese, evitada.
316
O ÚL T I MO VERÃO E U R O P E U
317
CAPÍTULO 49: QUEM COMEÇOU?
318
O ÚL T I MO VERÃO E U R O P E U
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QU E M C O M E Ç O U ?
320
O ÚL T I MO VERÃO E U R OP E U
preferia fazer a guerra. Após a guerra (como seu enviado conde Hoyos
deixou claro em julho de 1914 em conversações em Berlim), ele não
queria (como o cáiser queria) uma Sérvia subserviente; queria que
não houvesse nenhuma Sérvia. Para o problema que a Sérvia colocava ao
seu país, ele queria, poder-se-ia dizer, uma solução final.
Berchtold operava sob condições de severa desvantagem: a máqui
na do Estado austro-húngaro movia-se com uma lentidão estarrecedora.
Ele não pôde andar rápido o bastante para produzir o fait accompli que
os alemães pediram. Tudo levava tempo —tempo durante o qual as po
tências podiam impor a paz. Como seus Exércitos não puderam se me
xer por semanas, ele declarou guerra mesmo assim, usando apenas o
status “em estado de guerra” para afastar pacificadores potenciais.
Berchtold estava cercado por sua equipe das Relações Exteriores, os
ativistas herdados de Aehrenthal. Eles podem tê-lo inspirado. O gabine
te da Áustria-Hungria —mesmo Tisza, depois de lhe opor resistência por
uma semana - o apoiou. Todos partilharam sua responsabilidade pela
guerra. Nem precisa ser dito que Conrad foi parceiro integral de Berchtold
em começar a guerra.
Berchtold tinha um grande trunfo ao perseguir sua meta. O minis
tro das Relações Exteriores de qualquer outra grande potência seria con
tido por seus aliados. Se a Rússia quisesse invadir seu vizinho, a França -
que financiou a expansão militar russa - , ia tentar impedir São Peters-
burgo de fazê-lo. Quando a Alemanha interveio no Marrocos em 1911,
até a Áustria se recusou a apoiá-la e assim ajudou a deter Berlim. Apenas
um país na Europa tinha um aliado que não o refrearia —que o apoiaria
cegamente. Era a Áustria, que era apoiada incondicionalmente pela Ale
manha e, contra todas as probabilidades, o único país da Europa a ser
liderado por um homem que estava determinado a começar uma guerra.
Por que Berchtold estava apto a começar uma guerra? A resposta é
porque não havia ninguém para detê-lo. Ele foi o único líder na Europa,
nós agora sabemos, cujos aliados lhe deram carta branca. Deve-se obser
var, contudo, que ele não a usou independentemente dos outros. Ele só
declarou guerra quando - e porque - o ministro das Relações Exteriores
alemão, Jagow, lhe disse para fazê-lo. Assim, Jagow foi mais um a come
çar a guerra austro-sérvia.
321
QUEM C O M E ÇO U?
322
O Ú L T I MO VERÃO E U R OP E U
323
C A P ÍT U L O 50: PODERIA ACONTECER
OUTRA VEZ?
324
O Ú L T I MO VERÃO E U R OP E U
325
P O D E R IA A C O N T E C E R O U T R A V E Z ?
Pelo menos uma coisa mudou muito desde aquele tempo até agora. Em
1914, a guerra iminente foi uma surpresa quase completa para o públi
co. No mundo aberto de hoje, é provável que tenhamos ao menos al
gum tipo de advertência prévia. Isso daria aos povos e Parlamentos pelo
menos a chance de fazerem conhecer suas opiniões. O quanto esta dife
rença pode significar é difícil prever.
326
CAPÍTULO 51: RESUMINDO
327
RESUMINDO
328
EPÍLOGO
CAPÍTULO 52: A GUERRA DA ÁUSTRIA
331
A GUERRA DA ÁUSTRIA
332
O ÚLT IM O VERÃO EUROPEU
Assim, Conrad bancou o gazeteiro nas primeiras semanas das duas guer
ras entrelaçadas: ordenou a seus soldados que fossem de trem para o sul,
em vez de para o norte. Assim fazendo, ele surrupiou para seu país a chance
passageira de empreender seu duelo particular com a Sérvia, um contra
um. Seus Exércitos invadiram a Sérvia. Eles forçaram os sérvios a batalhar.
E - violenta e esmagadoramente - os austríacos foram derrotados!
Os Exércitos dos Habsburgo parecem nunca ter se recuperado dos
seus equívocos iniciais de posicionamento e deslocamento. Depois de
atacarem a Sérvia e serem derrotados, a sua guerra particular estava con
cluída, e eles se juntaram ao conflito mais amplo. Deslocaram-se para a
frente russa e também foram esmagados lá.
No começo de dezembro de 1914, o Império Habsburgo, segundo
John Keegan, já não era mais uma grande potência militar;1 nos diz ele
que perdera 1.268.000 homens dos 3.350.000 mobilizados.2 A Áustria
continuou a lutar, sob as ordens dos seus comandantes alemães, numa
luta mais para sobreviver do que para conquistar.
* Conrad era belicoso e, em outras circunstâncias, ficaria feliz de começar uma guerra contra vizinhos
como a Itália.
333
A GUERRA DA ÁUSTRIA
334
CAPÍTULO 53: A GUERRA DA ALEMANHA
335
A GUERRA DA ALEMANHA
336
O ÚL TIM O VERÃO EUROPEU
337
A PÊ N D IC E 1: A N O TA A U ST R ÍA C A
Conde Berchtold, ministro austríaco das Relações Exteriorest para conde Mensdorffy em
baixador austríaco em Londres. (Comunicadopelo condeMensdorffy 24 dejulho de 1914.)
(Tradução.) (British Documents in Public Record Office.)
339
A NO TA AUSTRÍACA
340
O ÚLT IMO VERÃO EUROPEU
“‘O Governo Real lamenta que oficiais e funcionários sérvios tenham partici
pado da propaganda acima mencionada e deste modo comprometido as relações de
boa vizinhança com as quais o Governo Real estava solenemente comprometido por
sua declaração de 31 de março de 1909.
‘“O Governo Real, que desaprova e repudia toda idéia de interferir ou tentar
interferir nos destinos dos habitantes de toda e qualquer parte da Áustria-Hungria,
considera seu dever formal advertir os seus oficiais e funcionários, e toda a população
do reino, de que doravante irá proceder com o máximo rigor contra as pessoas que
possam ser culpadas de tais maquinações, contra as quais usará todo o seu esforço
para antecipar e frustrar.’
“Esta declaração deve ser comunicada simultaneamente ao Exército Real como
ordem do dia de sua Majestade o Rei, e deve ser publicada no ‘Boletim Oficial’ do
Exército.
“O Governo Real Sérvio se compromete igualmente:
“ 1. A reprimir quaisquer publicações que incitem à desobediência ou ao ódio
contra a Monarquia Austro-húngara, e cuja proposta geral é dirigida contra a sua
integridade territorial;
“2. A dissolver imediatamente a sociedade intitulada Narodna Odbrana, a con
fiscar todos os seus meios de propaganda, e a proceder de modo semelhante contra
outras sociedades e suas ramificações na Sérvia que façam propaganda contra a Mo
narquia Austro-húngara. O Governo Real deve tomar as medidas necessárias para
impedir as sociedades dissolvidas de darem prosseguimento às suas atividades sob
outro nome e sob outra forma;
“3. A eliminar sem demora da instrução pública na Sérvia, tanto no tocante ao
seu corpo docente como no tocante aos seus métodos de ensino, tudo o que sirva ou
possa servir para fomentar a propaganda contra a Áustria-hungria;
“4. A remover do serviço militar, e da administração em geral, todos os oficiais
e funcionários culpados de propaganda contra a Monarquia Austro-húngara, cujos
nomes o Governo Austro-húngaro se reserva o direito de comunicar ao Governo
Real;
“5. A aceitar a colaboração na Sérvia dos representantes do Governo Austro-
húngaro para a supressão do movimento subversivo dirigido contra a integridade
territorial da Monarquia;
“6. A tomar medidas judiciais contra cúmplices da trama de 28 de junho que
estão em território sérvio; delegados do Governo Austro-húngaro tomarão parte nes
sa investigação;
“7. A impedir por meio de medidas efetivas a cooperação de autoridades sérvias
no tráfico ilícito de armas e explosivos através das fronteiras, a demitir e punir severa
mente os funcionários do serviço de fronteiras em Schabatz e Loznica, culpados de
terem prestado assistência aos perpetradores do crime de Sarajevo, facilitando a sua
passagem pela fronteira;
341
A NO TA AUSTRÍACA
342
O ÚL TIM O VERÃO EUROPEU
Anexo
343
A N O T A AUSTRÍACA
344
A PÊ N D IC E 2: A R E SPO ST A SÉ RV IA
Segunda-feira, 27 dejulho
345
A RESPOSTA SÉRVIA
absolutamente náo é responsável, haja vista o fato de que, na hora da solução de uma
série de questões levantadas entre a Sérvia e a Áustria-Hungria, ele deu provas de uma
grande disposição de assentir, logrando desse modo acordar a maioria dessas questões
à vantagem dos dois países vizinhos.
Por essas razões, o Governo Real ficou penalizado e surpreso diante das declara
ções, segundo as quais membros do Reino da Sérvia teriam participado nos prepara
tivos do crime cometido em Sarajevo; o Governo Real esperava ser convidado a
colaborar numa investigação de tudo o que diz respeito a este crime, e a fim de provar
a correção da sua atitude, estava pronto a tomar medidas contra quaisquer pessoas
contra quem fossem feitas representações. De acordo, conseqiientemente, com o inte
resse do Governo Imperial e Real, o Governo Real está preparado para entregar para
qualquer processo qualquer súdito sérvio, sem consideração por sua situação ou posi
ção social, cujas provas de cumplicidade no crime de Sarajevo sejam apresentadas, e
mais especialmente ele empreende mandar publicar na primeira página do “Jornal
Oficial” na data de 26 de julho a seguinte declaração:
“O Governo Real da Sérvia condena toda propaganda que possa ser dirigida
contra a Áustria-Hungria; todas as propostas que visam em última análise separar da
Monarquia Austro-húngara territórios que dela fazem parte, e deplora sinceramente
as consequências perniciosas de tais movimentos criminosos. O Governo Real lamenta
que, segundo o comunicado do Governo Imperial e Real, certos funcionários e oficiais
sérvios possam ter tomado parte na propaganda acima mencionada e desse modo com
prometido a boa relação de vizinhança com a qual o Governo Real Sérvio está
solenemente comprometido pela declaração de 31 de março de 1909, declaração
esta que desaprova e repudia toda idéia ou tentativa de interferência no destino dos habi
tantes de qualquer parte da Áustria-Hungria, e o Governo Real considera seu dever preve
nir formalmente seus funcionários, oficiais e toda a população do reino de que
doravante irá tomar as medidas mais rigorosas contra todos aqueles que forem culpa
dos de tais atos, os quais ele irá empenhar o seu máximo esforço para impedir e
reprimir.”
Esta declaração será levada ao conhecimento do Exército Real numa ordem do
dia em nome de Sua Majestade o Rei, por Sua Alteza Real o Príncipe Herdeiro Ale
xandre, e será publicada no próximo boletim oficial do Exército.
O Governo Real se encarregará ainda:
De introduzir, na primeira convocação ordinária da Skupstina, uma cláusula
na lei de imprensa prevendo a mais severa punição contra a incitação ao desrespeito
ou ao ódio contra a Monarquia Austro-húngara, e abertura de processo contra qual
quer publicação cuja proposta geral seja dirigida contra a integridade territorial da
Áustria-Hungria. O governo se compromete, na revisão que se aproxima da Consti
tuição, a produzir uma emenda a ser introduzida no artigo 22 da Constituição, de tal
natureza que as referidas publicações possam ser confiscadas, procedimento atual-
mente impossível sob os termos categóricos do artigo 22 da Constituição.
346
O ÚL TIM O VERÃO EUROPEU
347
A RESPOSTA SÉRVIA
O Governo Real terá a satisfação de dar explicações sobre observações feitas por
seus funcionários tanto na Sérvia como no estrangeiro, em entrevistas após o crime,
as quais, segundo declaração do Governo Imperial e Real, foram hostis em relação à
Monarquia, tão logo o Governo Imperial e Real tenha comunicado as passagens em
questão nessas observações, e assim que ele tiver mostrado que as observações foram
realmente feitas pelos ditos funcionários, embora o próprio Governo Real vá tomar
medidas para coletar indícios e provas.
O Governo Real informará o Governo Imperial e Real sobre a execução das
medidas compreendidas nos parágrafos acima, na medida em que a presente nota
ainda não o tenha sido feito, tão logo cada medida tenha sido ordenada e posta em
prática.
Se o Governo Imperial e Real não ficar satisfeito com esta resposta, o Governo
Sérvio, considerando que nao é do interesse comum precipitar a solução desta ques
tão, está pronto, como sempre, a aceitar um entendimento pacífico, seja submetendo
a questão à decisão da Corte Internacional ou Haia, ou às grandes potências que
tomaram parte na composição da declaração feita pelo Governo Sérvio em 18 (31) de
março de 1909.
Belgrado, 12 (25) dejulho de 1914.
348
Q UEM ERA Q UEM
349
QUEM ERA QUEM
350
O ÚLT IMO VERÃO EUROPEU
351
N O TAS
PRÓLOGO
1 Baseado em coberturas jornalísticas da época
2 Encyclopaedia Britannica, 15a ed., s.w. “World Wars”
3 Winter, Parker, e Habeck 2000: 2
4 Herwig 1997: 1
5 Encyclopaedia Britannica, 15a ed., s.w. “World Wars”
6 McNeill 1976: 255
7 Economist, 31 de dezembro de 1999, p. 30.
8 Kennah 1979: 3
9 Stern 1999: 200
10 Gilbert 1975: 355
11 Kennan 1951: 51
12 Miller, Lynn-Jones
13 Ecvera 1991: xi
14 Lafore 1971: 17
15 Lorde Bryce, citado em Fromkin 1995: 58
16 Zweig 1943: 2 14
17 Taylor 1965: 1
18 Braudel 1979: 104
19 Keynes 1920: 11-12
353
NOTAS
354
O ÚL TIM O VERÃO EUROPEU
Berghahn 1993: 16
11 Fisher 1975: 28
355
NOTAS
18 Ibid.
19 Ibid.: 173
20 Ibid.
21 Ibid : 1766
22 Herrmann 1996: 177
23 Stevenson 1996: 264
356
O ÚL T IM O VERÁO EUROPEU
357
NOTAS
9 Ibid.: 11
10 Ibid.-. 12
11 Kautsky 1924: 61
12 Great Britain 1915: 9-10
13 Lieven 1983: 140
358
O ÚL TIM O VERÃO EUROPEU
359
NOTAS
17 Ibid.
18 Ibid.: 182
19 Hayne 1993: 294-95
20 Geiss 1967: 180
360
O ÚL TIM O VERÃO EUR OP EU
7 Ibid.: 240
8 Ibid.: 241
9 Albertini 1952 II: 4 16
10 Berghahn 1993: 216
11 Great Britain 1915: 74
361
NOTAS
362
O ÚLT IMO VERÃO EUROP EU
363
NOTAS
3 Herwig 1997: 91
4 Ibid.\ 92
5 Ibid.\ 26
6 Ibid.\ 94
364
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365
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370
O ÚL TIM O VERÃO EU ROPEU
371
AGRADECIMENTOS
373
A G R AD E CI M E NT OS
DF
Antigny-le-Chateau (Cote d’Or), França
2 7 d e agosto d e 2 0 0 3
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ÍNDICE REMISSIVO
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ÍN D IC E REMISSIVO
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O ÚL T IM O VERÃO EU ROPEU
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Í ND IC E REMISSIVO
como justificativa para, 176, 183, 293 proposta de parar em Belgrado, 245,
declaração de guerra, 219,236,247,251 252-3, 256
derrota da Áustria, 333-4 razões para entrar em guerra, 308-9
desinteresse europeu por, 302-3 responsabilidade da Alemanha, 294,
“duas guerras”, a questão das, 304-7, 319, 321
322-3, 327 responsabilidade de Berchtold na,
dúvidas alemãs sobre a imobilidade 320-1, 335
austríaca, 198-200 resposta sérvia ao ultimato austríaco,
envolvimento russo-francês, a questão 197, 210, 220-2, 245, 295-7; texto
do, 183, 187, 191, 194, 197, 199, 201 do, 344-7
esforços de mediação, 212-3, 222, retirada do apoio de Guilherme, 245-
233, 235-6, 239-40, 248, 250, 257 6, 315-6
estratégia de “ataque rápido”, 181, ruptura de relações, 218, 221-2,
184, 187, 201, 204, 238-9 233-4
estratégia de localização, 198, 202, ultimato austríaco à Sérvia, 187-9,
237, 240, 242, 244, 251 192, 199-200, 202, 209-13, 217,
ignorância dos europeus sobre os pre 220, 242-3, 295-6; texto do, 338-43
parativos de guerra, 194 vazamento de informação sobre as
invasão da Sérvia, 247, 262-3, 333-4 intenções germano-austríacas, 193-4
legitimidade da queixa austríaca con Guerra dos Bóeres, 90-1
tra a Sérvia, 296 Guerra Fria, 19
mentiras dos governos austríaco e guerras balcânicas, 98, 101-6, 113, 176
alemão em relação à, 183-6 guerras mundiais, ver, Grande Guerra;
mobilização austríaca, 200, 244, 253 Segunda Guerra Mundial
mobilização sérvia, 232-3 apoio alemão à Áustria, 177-83
objetivo austríaco de destruição da Guilherme II, cáiser (Alemanha), 32, 90,
Sérvia, 175-7, 213 95, 115, 309, 337
posição britânica, 206, 210-2, 222, aliança germano-austríaca, 105-7,
233-4 177-83, 294-5, 302
posição francesa, 213-4, 218, 221 anexação da Bósnia pela Áustria, 89
posição russa, 212-7, 220-1, 223, assassinato de Francisco Ferdinando,
296-7, 316 159-60, 170-1, 293
preocupações com a “guerra mundial”, conselho de guerra de 1912, 107-9
202-4, 211 correspondência de Nicolau com rela
“prevenção da guerra”, questão da, ção à marcha para a guerra, 148, 250,
315-6 257-8, 263, 266
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Smith, F. E., 254, 264, 269 Tschirschky, conde Heinrich von, 177
Sophie, duquesa de Hohenberg, 117, Tuchman, Barbara, 278, 324-5
135-7, 153-7, 166-7 Turquia, ver Império Otomano
Spring, D. W., 215 Twelve Days, The [Os Doze Dias]
Stainville, conde de, 58 (Thomson), 151
Stanley, Venetia, 211, 233, 249, 254
Steiner, Zara, 232, 234 verão de 1914, 25-6
Stendhal, 68 Verne, Júlio, 43
Stengers, Jean, 256 Villa, Pancho, 296
Stern, Fritz, 18, 79 Vitória, rainha (Grã-Bretanha), 60
Strachan, Hew, 121 Viviani, René, 191, 213, 260, 263
Stumm, Guilherme von, 178 voo 826 da United Airlines, incidente,
submundo terrorista, 138-42 15-6
Suécia, 274
Suíça, 274 Waldersee, conde Alfred von, 47
Sykes, Sir Mark, 161-2 Wells, H. G., 43
Szõgyéni-Marich, conde Ladislaus, 179, West, Rebecca, 159
182 Whitman, Walt, 140
Wilde, Oscar, 140
Taft, William Howard, 123 Williamson, Samuel, 181, 194, 262-3
Tankosic, major Voja, 142, 148, 170 Wilson, general-de-divisão Sir Henry, 48,
Taylor, A. J. P., 25, 55, 156, 280, 292 96
Thomson, George Malcolm, 151 Wilson, Woodrow, 57, 123-5, 128
Times, de Londres, 160, 162, 169 Wolff, Theodor, 223
Tirpitz, almirante Alfired von, 72, 76-9,
109, 121, 126, 180, 186, 251-2, 167, Zeman, Z. A. B., 140, 164
180, 309 Zenker, capitão, 187
Tisza, conde István, 117, 120, 188, 321 Zimmermann, Arthur, 179, 198, 202-3 nota
Trachtenberg, Marc, 298 Zuber, Terence, 50
Tratado de Resseguro, 75-6 Zweig, Stefan, 25-6, 164-5
388