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200 Crônicas Escolhidas - Rubem Braga

Rubem Braga é, sem sombra de dúvidas, o melhor cronista da Literatura Brasileira,


conseguindo, portanto, um lugar de destaque. E para compreendermos melhor os
textos de 200 Crônicas Escolhidas, é necessário entender o tipo de literatura em
que se especializou.

A crônica surgiu em 1799, na França, no Journal des Débates. Chamada então de


“feuilleton”, consistia num comentário que vinha no rodapé das notícias veiculadas.
Com o tempo, esses pequenos textos foram ganhando destaque, saindo dessa
condição de mera nota e adquirindo certa independência.

No século XIX esse gênero entra em nossa literatura através de José de Alencar, o
primeiro cronista de qualidade. Mas é com Machado de Assis que a crônica
começa a ganhar status literário, merecendo o respeito da crítica. E muitas de suas
características básicas passam a ser sedimentadas.

Com o Modernismo, uma junção entre gênero e escola literária torna-se


extremamente conveniente, já que tal tipo de texto tinha tudo o que a poética
modernista pregava. Assim, a crônica acaba ganhando um lugar de destaque na
produção escrita.

No entanto, devemos entender que o seu hábitat impõe-lhe algumas de suas


qualidades. Nascida nos jornais, ela acaba fortemente presa ao dia-a-dia, ao
cotidiano. Porém, paradoxalmente consegue tratar o comum mostrando-lhe um
caráter inusitado, diferente, curioso. São algumas diferenças dentro de algo
comum. Além disso, o seu tom inusitado faz com que a linguagem seja elaborada,
torne-se literária. Dessa forma, acaba tornando-se aquele texto em que qualquer
fato inspira qualquer tipo de texto. Aliás, é essa quase anarquia, as múltiplas
formas em que pode se apresentar, que lhe dá mais charme.

Portanto, veiculada no jornal, consegue ser ao mesmo tempo passageira (pois sua
base, a notícia, também o é) e despreocupada, leve, já que não vai em direção de
altos temas filosóficos, sociológicos ou metafísicos. É, nos dizeres do crítico Antonio
Candido, um gênero “ao rés do chão”, pois se hoje entretém o leitor, na semana
seguinte servirá para embrulhar sapato ou peixe. Ainda assim, ou talvez por causa
dessa preocupação, algumas crônicas tenham capacidade de tocar fundo o seu
leitor. São justamente as muito bem elaboradas que furam o círculo jornalístico,
ultrapassam a efemeridade e acabam por se tornar literárias, eternas. É nesse
quadro que se encaixa a produção sempre antológica de Rubem Braga, o cronista
por essência.

Para o autor, qualquer tema parece inspirá-lo, de simples luvas esquecidas atrás de
uns livros até uma pescaria. Mas, apesar dessa miríade temática, seus textos,
todos dotados de um tom que mistura melancolia, saudosismo, simpatia e empatia,
giram geralmente ao redor de um único assunto, ou variações dele: o bem perdido.

Rubem Braga fala sempre, por meio de sua dicção coloquial, bem fluente, de uma
felicidade, de um bem-estar, ou de uma sensação, uma impressão boa (daí alguns
críticos enxergarem nele resquícios simbolistas ou mesmo impressionistas) que
perdemos, que está em nosso passado, seja real ou imaginário, seja pessoal ou
coletivo. Ao falar de seu bem perdido, parece tocar no coração do leitor e atiçar-lhe
o saudosismo, ou pelo menos estimular um desejo de fuga de um cotidiano tão
massacrante e desumano.
Nesse aspecto, pode-se entender que a abordagem da infância, principalmente da
relação que a criança tem com passarinhos, é uma evasão para o bem perdido da
meninice.

Ou então a valorização do campo e de elementos da natureza como a busca desse


mesmo lado, desse contato que perdemos, pessoal ou social, com aspectos mais
telúricos, com as árvores, com o sol, com o encantar-se com a chegada da
primavera.

É tocante também a paixão que o escritor tem pela casa. Como ele próprio disse, a
casa é uma antecipação do túmulo. Talvez daí venha o apego a esse ambiente, que
é valorizado em seu aconchego, como um retorno àquela confortável e talvez
imaginária residência de nossa infância, em que nos sentíamos protegidos.

Mas o seu tema predileto está ligado à relação com as mulheres, que lhe
proporciona grandes sensações que, mesmo depois de passadas, procura eternizar
pela linguagem literária, muitas vezes poética de suas crônicas. Aqui está o bem
perdido que quer recuperar através da escritura.

Portanto, produzindo textos de sublime beleza em cima de temas tão simples e


cotidianos, Rubem Braga conquista o posto de ser uma das glórias da Literatura
Brasileira.

LINK PARA O VÍDEO DO PASQUALE- LETRAS DE MÚSICA

http://www.dominiopublico.gov.br/download/video/me003927.mp4

link documentário Vinícius de Moraes

https://www.youtube.com/watch?v=6WYHuZ5EZJk

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