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Paola Mieli, Ph.

D — Tradução: Eliana Rodrigues Pereira Mendes

Uma nota sobre a diferenciação estrutural


de Freud entre neurose e perversão
Paola Mieli, Ph.D
Tradução: Eliana Rodrigues Pereira Mendes

Resumo
A autora apresenta uma visão geral da elaboração de Freud a respeito da diferenciação entre
neurose e perversão. Enfatiza o modo pelo qual o sujeito se relaciona com a configuração edí-
pica – o modo que decide a sua relação com a castração, com a realidade, com o desejo e com
seus objetos. Estruturas diferentes estão relacionadas a mecanismos psíquicos específicos, que
manifestam diferentes soluções para a interdição edípica (recalque na neurose e denegação na
perversão), o que também é importante na condução da transferência e do próprio tratamento
psicanalítico.

Palavras-chave
Neurose, Perversão, Recalque, Denegação, Fantasia, Fetichismo, Configuração edípica.

“As neuroses são, pode-se dizer, a negativa das em conta a natureza da própria pulsão. A
perversões” (FREUD, 1905, p.165). Com perversão é originalmente compreendida
essa afirmação Freud indica, entre outras como um desvio da pulsão em relação à
coisas, como a sintomatologia psiconeuró- sua meta ou objeto. Esse ponto de vista,
tica representa – através do recalque – a contudo, implica na existência de uma
expressão convertida dos impulsos que satisfação ‘normal’ da pulsão, uma pressu-
poderiam ser qualificados, de um ponto posição que a descoberta de Freud do ca-
de vista normativo, como pervertidos. ráter polimórfico universal da sexualidade
Freud comenta, mais especificamente, que humana põe em questão. De fato, graças a
as “fantasias histéricas inconscientes corres- seu estudo da sexualidade infantil, Freud
pondem completamente às situações em que aponta a peculiaridade da relação entre
a satisfação é conscientemente obtida pelos a pulsão sexual, sua meta e seu objeto.
perversos” (1908, p.162). Graças ao papel Como sabemos, a meta dessa pulsão é a
fundamental exercido pelas fantasias, a satisfação em si mesma. O objeto de uma
histeria, em particular, parece pôr em foco pulsão, por outro lado,
a relação que a neurose mantém com a
perversão. A proximidade e ao mesmo “é aquele que por si mesmo ou através do
tempo a oposição entre neurose e perver- qual a pulsão se acha apta a atingir sua
são levantam a questão da relação entre meta. O objeto é o que é mais variável
as duas, assim como a sua diferenciação na pulsão e não está originalmente
estrutural. conectado a ela, mas se torna determi-
nado a ela apenas em consequência do
Em direção a uma diferenciação estrutural fato de ser particularmente apropriado
Nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexua- para possibilitar a satisfação. O objeto
lidade Freud (1905) nota a dificuldade de não é necessariamente extrínseco: ele
dar uma definição de ‘perversão’, tendo pode igualmente ser uma parte do próprio
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corpo do sujeito. Ele pode mudar quantas permanece associada com as pulsões do
vezes forem possíveis no curso das vicissi- ego ao longo da vida e lhes fornecem
tudes que a pulsão percorre durante a sua componentes libidinais, o que no fun-
existência” (FREUD, 1915, p.122-123, cionamento normal facilmente escapa
grifos nossos). à percepção e é revelado apenas pelo
estabelecimento da doença” (FREUD,
Dessa forma, do ponto de vista da 1915, p.125-126).
natureza da pulsão, a noção de um ‘desvio’
em relação ao objeto ou à meta parece A sexualidade humana não é biolo-
ser autocontraditório em seus próprios gicamente determinada, assim como o
termos, desde que não existe uma coisa próprio conceito de ‘pulsão sexual’ – um
tal como um objeto estável para que a conceito na fronteira entre o mental e o
pulsão atinja sua satisfação, ou a satisfação somático – dá a entender, e a escolha do
que deve ser privilegiada em si mesma. objeto sexual individual é independente
Paradoxalmente, a qualidade ‘perversa’ da distinção biológica dos gêneros. Com
da pulsão é ‘normal’, se desejamos man- a descoberta do caráter polimórfico per-
ter essa terminologia, e como aponta verso da sexualidade infantil, Freud indica
Freud, “do ponto de vista da psicanálise, como, para ambos os sexos, a sexualidade
o interesse exclusivo sentido por homens é primeiro organizada em torno das zo-
e mulheres é também um problema que nas erógenas do corpo, onde uma troca
necessita elucidação e não é um fato evi- privilegiada com o outro – o cuidador, a
dente por si mesmo baseado numa atração mãe – acontece. As mesmas pulsões par-
que é basicamente de natureza química” ciais que caracterizam a sexualidade das
(1905/1915, p.146). crianças estão em ação na sexualidade
Tendo analisado a natureza da pulsão dos adultos, tanto independentemente
sexual, Freud chega às seguintes conclu- quanto promovendo prazer preliminar no
sões: intercurso genital. Portanto, as pulsões que
poderiam ser qualificadas como ‘perversas’
“Tudo isso pode ser dito pelo modo de se revelam como uma inevitável parte do
caracterização da pulsão sexual. Elas processo que fundamenta a estrutura da
são inúmeras, emanam de uma grande própria organização psicossexual.
variedade de fontes orgânicas, atuam em Nos Três Ensaios sobre a Teoria da Se-
primeira instância independentemente xualidade (FREUD, 1905), as perversões
umas das outras e apenas conseguem parecem ser o resultado de uma regressão
uma síntese mais ou menos completa no e de uma fixação a uma certa fase do
último estágio. A meta pela qual cada desenvolvimento libidinal, caracterizado
uma delas se empenha é a obtenção pela prevalência das pulsões parciais espe-
do ‘prazer do órgão’; apenas quando a cíficas. Baseada na evidência fenomeno-
síntese é alcançada é que elas começam lógica, essa hipótese sobre a natureza da
o trabalho da função reprodutiva e logo perversão não responde à questão aberta
após tornam-se geralmente reconhecíveis sobre a especificidade de sua estrutura,
como pulsões sexuais. Quando aparecem especialmente à luz do caráter universal
pela primeira vez estão ligadas às pulsões ‘normalmente perverso’ da própria pul-
de autopreservação, das quais apenas são parcial. Ao atualizar, na realidade,
gradativamente tornam-se separadas; na os modos de satisfação idênticos àqueles
sua escolha de objeto, também, elas se- manifestados na sequência dos estágios
guem os caminhos que lhes são indicados e fantasias psicossexuais dos neuróticos,
pelas pulsões do ego. Uma porção delas a perversão permanece como o ‘reverso’
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da normalidade e da neurose. Nada ainda consegui-lo de volta. Deixando de lado a


explica as razões pelas quais a regressão muito bem conhecida ideia da assimetria
e a fixação têm lugar na perversão nem dos gêneros no complexo de Édipo, vamos
se explica o que distingue esses mesmos simplesmente recordar aqui o ponto cru-
mecanismos daqueles em curso nas neu- cial de sua descoberta: o próprio fato de
roses. Apesar do avanço na compreensão que para ambos os sexos a relação com o
dos processos perversos e sua relação falo, estabelecida pela organização sexual
com a chamada sexualidade ‘normal’, a infantil, aponta para uma perda ou uma
questão da distinção no nível da estrutura falta fundamental. Independentemente do
de caráter entre a neurose e a perversão gênero, a apropriação da sexualidade hu-
permanece aberta. mana necessariamente se confronta com
É nas teorias que Freud expandiu nos a castração, necessariamente se confronta
anos 20 que emerge uma possível resposta com uma perda e uma perda como tal. O
a essa questão. Dois aspectos fundamen- complexo de castração está implicitamen-
tais permitiram uma nova abordagem da te associado à configuração edípica e à in-
estrutura da perversão: em primeiro lugar terdição a ela associada – simbolicamente
o estudo da organização genital infantil; representada pela lei do pai, como Freud
em segundo, a descoberta do mecanismo indica, por exemplo, em Totem e Tabu.
psíquico que fundamenta a constitui- Tal proibição, que separa a criança de seu
ção do fetichismo. Um terceiro aspecto objeto, tanto o menino quanto a menina,
também deve ser mencionado: a noção enfatiza o fato de que a própria existência
de Freud sobre a “fusão (Vermischung/ do desejo está implicitamente relacionada
Verquickung) das pulsões” (1924), entre a uma falta, a algo que à medida que é
a libido e as pulsões de morte ativas no sa- barrado, pode ser desejado. O modo como
dismo e no masoquismo. Não vou elaborar, a confrontação com a ansiedade de castra-
neste terceiro ponto, e neste contexto par- ção e a perda imaginária relacionada a ela
ticular, já que isto iria requerer uma longa acontece, determina a futura configuração
discussão sobre as pulsões de morte – uma da sexualidade do sujeito e estabelece a
discussão certamente complementária ao diferenciação estrutural entre as patolo-
presente argumento, mas não essencial gias. Nesta articulação, em que começa a
para esta introdução. emergir a ansiedade de castração, as fobias
Nos anos 20 Freud mostra como a infantis circunscrevem o campo da futura
passagem da sexualidade polimórfica origi- escolha da neurose ou da perversão.
nalmente indiferenciada das crianças para É precisamente no estudo da organi-
o estabelecimento de uma supremacia ge- zação sexual infantil e sua relação com a
nital se funda na existência de uma organi- ansiedade de castração que Freud introduz
zação genital infantil, que reflete a posição um termo específico para representar o
da criança na configuração edípica. Abrin- modo pelo qual as crianças podem reagir
do o caminho para a futura organização à ausência do pênis na mãe: confrontadas
sexual do indivíduo, a organização genital com tal ausência
segue e recapitula as fases caracterizadas
pelas pulsões parciais. Para ambos os sexos “Elas denegam (leugnen) o fato e acre-
esta fase fundamenta a supremacia do falo. ditam que viram de verdade um pênis na
Tê-lo ou não tê-lo se torna a questão, que mãe. Elas atenuam a contradição entre
determina duas posições diante da castra- a observação e a ideia preconcebida do
ção: por um lado, a crença de ter o falo e assunto, ao dizerem a si mesmas que o
a ansiedade de perdê-lo, por outro lado a pênis ainda está pequeno e depois se tor-
crença de o haver perdido e o desejo de nará maior; e assim, lentamente, chegam
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à conclusão emocionalmente significativa (1927). É precisamente esta duplicidade,


de que, apesar de tudo, o pênis esteve no este simultâneo ‘sim e não’ que caracteriza
lugar antes e foi tirado depois” (FREUD, o mecanismo Verleugnung no fetichismo.
1923, p.143-144). Chega-se assim a um compromisso, um
compromisso que é apenas possível, como
Tanto na Organização Genital Infan- Freud o coloca, sob a dominação das leis
til (FREUD, 1923) quanto em Algumas inconscientes do pensamento (1927).
Consequências Psíquicas da Distinção Através de um deslocamento no ato da
Anatômica entre os Sexos (FREUD, percepção – um deslocamento do olhar,
1925), a noção de Verleugnung, de dene- por exemplo, da visão dos genitais da
gação, chega a indicar, de modo geral, uma mãe, para seu cabelo, seu pé, seus sapatos
reação psíquica da criança à descoberta da – o fetiche se constitui ao ‘tomar o lugar’
diferença sexual e à ameaça representada do pênis ausente. Como um substituto
por ela. Nesses mesmos anos, a noção de daquilo que está faltando, ele representa
denegação adquire uma posição central tanto a “lembrança” do horror à castração
no estudo de Freud sobre o mecanismo quanto um “testemunho do triunfo” sobre
de defesa do ego na negação psicótica a sua ameaça, uma “proteção contra ela”
da realidade. Enfatizando as diferentes (FREUD, 1927). Sua existência tanto con-
relações ao mundo externo da neurose e firma quanto nega uma ausência. Como o
da psicose, Freud indica que, enquanto fetiche é, geralmente, desconhecido pelos
a neurose “não denega a realidade”, mas outros, o acesso a ele permanece aberto e a
simplesmente “a ignora”, a psicose “a de- satisfação sexual ligada a ele é facilmente
nega e tenta substituí-la” (1924, p.185). acessível. Paradoxalmente, então, através
Uma distinção fundamental se deduz entre da sua solução para o dilema da castração,
a atitude que “se contenta em evitar” um os fetichistas podem alcançar facilmente o
pedaço da realidade através do recalque e seu objeto, podem obter sem esforço aquilo
da formação de sintomas, e uma outra que que os “outros homens têm que cortejar e
a nega literalmente a fim de substituí-la. trabalhar duro para conseguir” (FREUD,
A noção de denegação continuará a 1927, p.154).
ocupar a elaboração de Freud até o fim Mais tarde, no entanto, Freud des-
de sua vida, na sua tentativa de estabele- cobre que há um resíduo para a perfeita
cer uma diferenciação estrutural entre a operação fetichista: a cisão do ego (1938).
neurose e a psicose. Mas é precisamente Confrontada a um conflito entre a deman-
ao perseguir tal diferenciação que Freud da por parte da pulsão e um obstáculo ou
encontra uma ‘terceira’ via de relaciona- uma proibição na realidade – a insistência,
mento com a realidade, uma perversão: no exemplo de Freud, à renúncia de sua
o fetichismo. Ele descobre que o meca- satisfação masturbatória em face da ame-
nismo de denegação determina a solução aça de castração –,
fetichista ante a descoberta da diferença
sexual e a ameaça de castração que ela “a criança não toma nenhum desses
representa. A denegação, assim como caminhos, ou melhor, toma ambos simul-
aparece no fetichismo, assume uma nova taneamente, chegando assim à mesma
especificidade. Freud observa que, con- coisa... Por um lado, com a ajuda de um
frontada à ausência do pênis no corpo da certo mecanismo ela rejeita a realidade
mãe, confrontada à castração materna, a e recusa aceitar qualquer proibição; por
criança denega essa ausência, isto é: por outro lado, com o mesmo fôlego ela re-
um lado a criança nega a percepção e conhece o perigo da realidade, assume o
por outro lado toma conhecimento dela medo daquele perigo como um sintoma
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patológico e tenta, subsequentemente, ferentes patologias, é também verdadeiro


se livrar desse medo” (FREUD, 1938, que Freud enfatiza como a distinção entre
p.275). neurose, psicose e perversão pressupõe
uma diferenciação topográfica e estrutural
O triunfo sobre a castração “é obtido do modo pelo qual a cisão acontece. “Os
pelo preço de uma fenda no ego que nunca fatos dessa cisão do ego, que acabamos de
cicatriza” (idem, p.276). No exemplo de descrever [ele escreve em Um Esboço da
Freud, o remanescente do mecanismo da Psicanálise], não são tão novos ou estranhos
denegação é um medo, uma atitude fóbica, como podem parecer a princípio. Ela é, na
que persiste, embora deslocada, junto à verdade, uma característica universal da
persistência da satisfação sexual. Dessa neurose que está presente na vida mental dos
forma, a solução do perverso ocasiona sua sujeitos, e que se relaciona a um comporta-
contiguidade com a fobia. Já que a maneira mento peculiar, a duas atitudes diferentes,
pela qual a confrontação com a castração contrárias entre si e independentes uma da
acontece decide a estrutura da sexuali- outra. No caso da neurose, contudo, uma
dade do sujeito, a ansiedade de castração dessas atitudes pertence ao ego e a outra
constitui a base comum para a emergência contrária, que é recalcada, pertence ao id.
da neurose e da perversão. Ao revelar sua A diferença entre esse caso e o outro
contiguidade com a fobia, o fetichismo [fetichismo] é essencialmente topográfica
descortina a história de sua origem junto ou estrutural e nem sempre é fácil decidir,
à sua diferenciação estrutural da neurose, num exemplo individual, com qual das
manifesta na especificidade do mecanismo duas possibilidades se está tratando” (1938,
de denegação da diferença sexual. Talvez p.204, grifos nossos). Ao apontar como o
seja por causa da experiência com essa fenômeno da cisão do ego é uma caracte-
ansiedade residual que o psicanalista seja rística ‘universal’ da neurose e, podemos
procurado por pessoas que, se não fosse acrescentar, do funcionamento da mente
por isso, seriam perfeitamente ‘ajustadas’ em geral, Freud indica que isso acontece
à sua solução ‘perversa’. precisamente porque esse fenômeno está
É importante salientar que, come- estruturalmente ligado ao mecanismo
çando por seu trabalho de 1927 sobre o do recalque. Na medida em que o in-
Fetichismo, Freud sempre irá mencionar a consciente existe, a censura e o recalque
denegação da diferença sexual como uma marcam a passagem do processo primário
especificidade do fetichismo. Ele não mais para o secundário, e mostram a natureza
se referirá a ela como uma reação psíquica do sujeito humano como estruturalmente
geral da criança à ameaça de castração. dividida. De fato, a noção de Freud sobre o
Por outro lado, o fenômeno da cisão do recalque primário (1915) como um evento
ego, do qual o fetichismo constitui “um psíquico fundamentando a constituição do
assunto particularmente favorável” de inconsciente, torna o recalque universal
estudo (FREUD, 1938, p.203), revela-se na mente humana.
como um mecanismo psíquico comumente Apesar do termo comum ‘cisão do
partilhado pela neurose e a psicose (ib.). A ego’, Freud sublinha como esse fenômeno
denegação das percepções, na tentativa de pode ter diferentes conotações dependen-
conseguir um distanciamento da realidade do do modo e do contexto nos quais ele
ou da urgência da pulsão, representa, de opera. A diferença é estrutural e topo-
acordo com os artigos finais de Freud, gráfica, como ele especifica, indicando a
uma das principais linhas de defesa do ego importância de manter uma distinção que
infantil. No entanto, se é verdade que a possa responder aos vários modos pelos
cisão do ego é um fenômeno comum a di- quais a psicose, a neurose e a perversão
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lidam com a realidade. Implicitamente, um conflito entre a urgência da pulsão e a


Freud parece sugerir que a denegação, lei do princípio da realidade, entre o desejo
assim como ela acontece no fetichismo, e sua satisfação através de objetos especí-
não envolve uma cisão entre o Ego e o ficos. Desse ponto de vista, a denegação
Id, mas uma cisão, uma aberta oposição e o recalque são dois modos distintos de
do ego em si mesmo, no seu trato com a lidar com a ansiedade de castração e a lei
realidade. Freud não vai mais longe no simbólica nela implicada. Enquanto os
encalço de sua ênfase a respeito das dife- fetichistas respondem com uma denegação
renciações topográficas. Ele tanto sustenta à oposição entre a urgência da pulsão e
a ideia da universalidade do mecanismo uma interdição da realidade, os neuróticos
da denegação quanto da especificidade tomam conhecimento de tal oposição e
estrutural diferente na qual a denega- recalcam a pulsão a fim de se protegerem
ção acontece. Mais especificamente, ele contra o emergente conflito frente à reali-
parece desenvolver duas posições: a que dade. Ao reconhecer, de imediato, e negar
classifica a denegação como um mecanis- a diferença sexual, a denegação eleva uma
mo de defesa geral a ser acrescentado ao contradição a uma condição ética que
recalque, e a outra posição é a que discerne permite, pelo menos num de seus aspectos,
na própria denegação um modo de cisão evitar a renúncia de uma pulsão.
do ego governado pelo recalque, caracte- Aqui não é o lugar para se retornar
rístico da neurose e diferenciado daquele à natureza do recalque e aos diferentes
que opera no fetichismo. A oscilação de caminhos que ele opera numa neurose
Freud não habilita seus seguidores a elimi- particular. No entanto, já que mencionei
nar o problema privilegiando o ponto de a relação especial que a histeria mantém
vista da denegação como um mecanismo com a perversão, vale a pena relembrar,
estruturalmente indiferenciado de desliga- como exemplo geral, que, de acordo com
mento da realidade, operando no mundo Freud, o recalque histérico usualmente
externo justamente como o recalque faz no opera instigando uma disjunção entre o
mundo interno. Tal redução põe em perigo afeto ligado à pulsão e a pulsão em si mes-
a natureza diferencial das afirmações de ma. Segundo a posição de Freud de 1915,
Freud, que são, sem dúvida, de grande tanto no caso da histeria de angústia, a
relevância clínica. “porção ideacional” da pulsão recalcada
Na verdade, à luz do tema das confi- é deslocada ao longo de uma cadeia de
gurações estruturais, vale a pena pergun- conexão para uma nova representação
tar por que o caminho privilegiado pelo e o afeto é transformado em ansiedade,
estudo de Freud sobre o mecanismo de quanto na histeria de conversão as duas
denegação deveria ser precisamente uma representações relacionadas à pulsão e
perversão. O que caracteriza o fetichismo seu afeto são recalcadas e é formado um
é a denegação específica da diferença sintoma que condensa em si mesmo o
sexual. Com o estudo da organização investimento pulsional (1915).
sexual infantil e a universal confrontação Os modos de recalque e denegação
da criança com a ansiedade de castração, relacionados ao complexo de castração e
esse próprio fato adquire uma significân- à interdição edípica implicam em diferen-
cia especial, já que a maneira pela qual tes vicissitudes da pulsão. Se o recalque
tal confrontação acontece fundamenta envolve o deslocamento e a substituição
diferentes configurações sexuais. Como já da satisfação que se procura através da
vimos, na visão de Freud a ansiedade de constituição de um sintoma, a denegação
castração está estruturalmente relaciona- permite, por sua duplicidade, pelo menos
da à interdição edípica, a qual estabelece uma possibilidade de satisfação da pulsão
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sem o recalque e o deslocamento. A esse geral de derivar a perversão do complexo


respeito, o deslocamento da percepção a de Édipo, o que agregaria nova “força”
trabalho da constituição do fetiche não para o próprio complexo (FREUD, 1919,
deveria ser confundido com o desloca- p.193).
mento do alvo da própria pulsão. Esta é A ideia de que a denegação sexual po-
precisamente uma das razões pelas quais deria constituir a ‘solução perversa’ para
os fetichistas podem obter aquilo que “os o complexo de castração e a interdição
outros homens têm que cortejar e traba- a ele relacionada, parece especialmente
lhar duro para conseguir”. Do ponto de adequada do ponto de vista clínico. De
vista das vicissitudes da pulsão, como uma fato, como uma consequência do meca-
consequência do trato com a diferença nismo de denegação, uma persistência
sexual e a interdição edípica, uma diferen- daquilo que pode ser chamado de com-
ça estrutural distingue o comportamento portamento sexual ‘normal’ permanece
do Pequeno Hans (FREUD, 1908) e o paralelo ao comportamento ‘perverso’.
do Pequeno Arpad (FERENCZI, 1913). Os pervertidos podem ser socialmente
Enquanto o Pequeno Hans, confrontado bem integrados – como muitos casos
à ameaça de castração, submete-se à proi- da criminologia demonstram, quando o
bição edípica, recalca suas pulsões e de- autor de certas proezas se revela como
senvolve uma fobia a cavalos, Arpad não sendo o suspeito menos provável – e cli-
apenas tem medo dos galos. Na verdade, nicamente não é infrequente descobrir,
denegando a interdição edípica, desafian- por exemplo, a presença de um fetiche
do seu poder, Arpad age, ele mesmo, como subsequente à manifestação de uma con-
um galo, ele literalmente se torna um galo, figuração sexual neurótica. O fato de que
destronando seu pai – tanto reconhecen- dois conteúdos psíquicos possam coexistir
do como negando sua função simbólica. parece corresponder a uma atitude ética
O medo de galos que Arpad apresenta, muito específica que permite o acting out
constitui um resíduo fóbico, o reverso da das satisfações pulsionais junto à sua res-
própria denegação que lhe permite efetuar trição em circunstâncias estabelecidas. A
sua satisfação sem recalque. esse respeito os perversos não “desligam
De fato, à luz dos dados clínicos, vale seu ego da realidade” completamente,
a pena se perguntar se o próprio meca- ao contrário dos psicóticos, que “tentam
nismo da denegação da diferença sexual substituí-la”. Por outro lado, a própria
poderia ser concebido como um elemento especificidade da denegação da diferença
estrutural que caracteriza a constituição sexual como um modo parcial de desli-
não apenas do fetiche, mas da perversão gamento da realidade, distingue-se do
em geral. Se é verdade que as perversões modo parcial do neurótico, da evitação
aparecem como a regressão para as fases de um conflito com a realidade, graças ao
específicas do desenvolvimento libidinal recalque da pulsão.
e a fixação nessas mesmas fases, estas Se os neuróticos reagem à interdição
mesmas regressão e fixação parecem edípica, à barreira contra o incesto, e à
ocorrer a posteriori (nachträglich), como renúncia da satisfação pulsional com um
um resultado da confrontação à castração reconhecimento que fundamenta, através
na configuração edípica. Freud já sugere do recalque, a constituição dos seus sin-
isso em seu artigo de 1919, Uma Criança tomas, a denegação perversa reconhece
é Espancada, num período que precede a interdição apenas com o propósito de
seu estudo da organização sexual infantil desafiá-la interminavelmente. É esse
e sua descoberta do mecanismo de de- desafio da lei que, muitas vezes, anima
negação: aqui ele indica a possibilidade o comportamento perverso; um desafio,
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no entanto, que pressupõe uma compre- Fantasia e realidade


ensão da lei em si mesma, uma tomada Os diferentes modos de relacionar-se à
de consciência do princípio da realidade. interdição e ao princípio da realidade
Essa duplicidade, quando representada parecem afetar, de acordo com Freud,
por uma sutil habilidade de se adaptar às as diferentes maneiras de fantasiar ou
leis da sociedade, ao mesmo tempo em agir. Desde que se toma conhecimento
que as burla, tem sido um tema favorito de uma ameaça, a ação que permite uma
de muitas obras do cinema e da literatu- satisfação do desejo é barrada e uma ação
ra. De fato, a fascinação produzida pelo substituta é criada. Na visão de Freud,
herói perverso e suas façanhas mostra esta substituta constitui uma ação – uma
como ele encena uma satisfação e uma opção de descarga – de um novo tipo. Mas,
habilidade para persegui-la, fantasiada se esta substituição pode tomar lugar é
e/ou recalcada por parte de seu público. porque uma certa fantasia está presente
Pensemos na magnética atração que os para dar-lhe suporte. Freud é muito firme
criminosos exercem na cultura popular. nesse ponto: “Os sintomas histéricos são a
É como se a perversão representasse um realização de uma fantasia inconsciente que
modo de quebrar o mal-estar na civiliza- serve para cumprir um desejo” (FREUD,
ção. Citando alguns exemplos literários da 1908, p.163).
duplicidade perversa em relação às leis, só A questão, assim, pode ser colocada:
precisamos relembrar os famosos Dr.Jekill Qual é o status da fantasia? Partindo da
e Mr. Hyde, ou o estupendo livro Lolita de elaboração do processo secundário e da
Nabokov, no qual o Prof. Humbert Hum- assunção do princípio da realidade, a
bert é representado, a princípio, como um atividade psíquica de fantasiar chega a
personagem socialmente integrado, ou o constituir um ‘reservatório’ de prazer no
filme recente Vanishing – no qual um pai domínio do pensamento. Freud observa
‘normal’ de classe média, de uma família que o protótipo das fantasias são os de-
‘normal’, mascara um sofisticado assassino. vaneios (1908), os quais funcionam para
Nesse último exemplo, o herói relembra definir um território para a satisfação ima-
especificamente as primeiras manifesta- ginária de desejos em oposição à realidade.
ções de seu comportamento como estando O fantasiar, de fato, é sempre construído
associadas à sua necessidade de desafiar a para corrigir a realidade, a fim de propiciar
lei: ele explica, por exemplo, que, quando uma realização imaginária, alternativa, do
criança, pulava de uma sacada... a fim de desejo. A esse respeito, o fantasiar é uma
desafiar a consequência esperada da lei resposta ao princípio de realidade, a um
da gravidade. obstáculo encontrado no caminho para
Embora muitas teorias contemporâ- a satisfação, para uma impossibilidade no
neas afirmem que as linhas divisórias da nível da ação. Se é verdade que o protó-
perversão tenham-se tornado difusas e tipo das fantasias são os devaneios, quer
venham sendo definidas mais em relação dizer, produtos de uma atividade psíquica
ao comportamento do que em termos de consciente, é também verdade que Freud
estrutura psíquica, a obra tardia de Freud insiste na existência de fantasias original-
indica um mecanismo que pode distinguir mente inconscientes. De um modo muito
a perversão no nível da estrutura do ca- geral, a fantasia pode ser definida como a
ráter. Retornando à observação de Freud trajetória psíquica dos traços mnêmicos
sobre a correspondência entre as fantasias que são investidos a fim de atingirem certa
histéricas e as ações perversas, é possível satisfação do desejo. Desse ponto de vista,
questionar essa distinção estrutural à luz o modelo freudiano do aparelho psíquico
da relação entre fantasia e ação. mostra a intrínseca conexão entre fanta-
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Paola Mieli, Ph.D — Tradução: Eliana Rodrigues Pereira Mendes

sia, sexualidade e desejo. Freud levanta a fantasia no aparelho psíquico, assim como
hipótese, ou melhor, constrói um ponto de na própria natureza da denegação, seria
partida para o aparelho psíquico, o qual incorreto manter a ideia de que na atuação
ele chama de Befriedigungs erlebnis (1900), perversa não há espaço para a fantasia.
isto é, a experiência original de satisfa- Ao contrário, através de dados clínicos,
ção. Tendo por base esta experiência, as sabemos que na perversão a chegada à
fantasias mais fundamentais são aquelas satisfação pode envolver a encenação de
que tendem a reencontrar os objetos de componentes imaginários relacionados a
satisfação alucinatória: desse ponto de fantasias subjacentes; ao mesmo tempo,
vista é impossível isolar a origem da fan- sujeitos cuja constituição psíquica indica
tasia – da combinação de sinais que levam uma estrutura perversa, muitas vezes são
à satisfação – da origem do desejo e da particularmente dotados artisticamente
sexualidade. A constituição da sexualida- – e é bem conhecida a conexão básica
de, como Laplanche e Pontalis observam que Freud estabelece entre a atividade
(1985), ocorre no próprio momento em de fantasiar e a produção de arte. Esta
que a pulsão, descomprometida de seu última consideração levanta a complicada
objeto natural, se volta para a fantasia, questão da sublimação. Recordemos aqui,
ou vice-versa, no próprio momento em simplesmente, que ao manifestar a mu-
que a fantasia provoca a disjunção entre dança da pulsão sexual para uma meta e
a libido e a necessidade. A primeira ‘ação’ um objeto diferentes do original, na visão
psíquica a satisfazer o desejo está na ordem freudiana a sublimação mostra como a
de uma fantasia, da produção de um objeto pulsão sexual pode encontrar sua satisfa-
alucinatório. Logo, fantasia e desejo estão ção em qualquer outro lugar que não seja
estruturalmente relacionados. Não deve- sua finalidade sexual. O que é interessante
ria nos surpreender, então, a facilidade notar, nesse particular contexto, é que o
com que as fantasias adquirem um papel processo de sublimação permite a satisfa-
fundamental na sexualidade e na vida ção de um impulso sem repressão. Dada a
humanas, em geral, e na constituição da natureza da estrutura psíquica perversa e
sintomatologia neurótica em particular. a ‘técnica’ particular com a qual ela pode
Podemos observar que o mecanismo do se relacionar com a realidade sem reprimir
recalque, ao impedir a satisfação do desejo as pulsões sexuais, é possível levantar a
por meio de uma ação na realidade, favo- questão da predisposição particular da
rece o re-investimento das fantasias assim perversão em direção à sublimação.
como a repetição da solução original do No caso da histeria, podemos relem-
aparelho psíquico à urgência da pulsão. Ao brar que os sintomas histéricos represen-
permitir a constituição de um “substituto tam o resultado de um compromisso entre
para a realidade” (FREUD, 1924, p.187), os impulsos libidinais e os recalcados,
a atividade de fantasiar reflete diferentes e constituem a satisfação de um desejo
modos de se relacionar com a realidade. alcançado através de um deslocamento.
Freud observa que na psicose o mundo Recalque e deslocamento são dois ele-
imaginário “tenta colocar-se no lugar da mentos fundamentais que caracterizam
realidade externa”, enquanto na neurose a histeria. O próprio sintoma, como me-
“está apto, como na brincadeira das crianças, táfora para a fantasia inconsciente que
a se ligar a um pedaço da realidade” (ib.). lhe está subjacente, tem o status de uma
Mais uma vez a neurose manifesta sua ação de satisfação. A noção freudiana da
‘submissão’ ao princípio da realidade e neurose como a negativa da perversão
sua tentativa de evitar um conflito com se refere, entre outras coisas, à oposição
ele. Tendo em vista a função estrutural da fantasia/sintoma versus ação, sendo que
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Uma nota sobre a diferenciação estrutural de Freud entre neurose e perversão

esta oposição aponta mais claramente ta como o “sujeito suposto saber”, muitas
para a diferenciação estrutural entre dois vezes leva a uma abrupta interrupção do
tipos de ações do que para os dados fe- tratamento.
nomenológicos ou comportamentais; ao Tentei apresentar aqui uma breve
identificar diferentes modos de satisfação, visão geral da elaboração de Freud a
ela aponta para os mecanismos psíquicos respeito da noção de denegação à luz da
que os fundamentam. questão da diferenciação entre a neurose
Tendo como causa a dialética relação e a perversão. Argumentei a favor de que
que a neurose mantém com a perversão, as diferentes estruturas podem estar rela-
uma distinção estrutural entre as duas é cionadas aos mecanismos psíquicos espe-
crucial para a compreensão e o manejo cíficos que manifestam diferentes soluções
dos acontecimentos clínicos. Os dados para a interdição edípica. Tais afirmações
comportamentais das duas não são sufi- devem ser distinguidas daquelas teorias
cientes para definir a natureza dessa dife- que tratam a perversão como uma conse-
rença. Sabemos como é frequente que os quência dos processos ou identificações
sintomas histéricos possam ter a qualidade pré-edípicos, incluindo aquelas teorias
de ações ‘pervertidas’, como em certos da relação de objeto que desvalorizam o
casos de automutilação histérica ou em componente fundamentalmente sexual
comportamentos sexuais específicos que das perversões. Essas posições divergem
acompanham, por exemplo, desordens das afirmações de Freud, de sua ênfase
orais histéricas. Por outro lado, uma es- na relação entre o complexo de Édipo e
trutura perversa, pela própria natureza do o complexo de castração na constituição
mecanismo que a fundamenta, é, muitas das diferentes configurações sexuais, e
vezes, acompanhada de manifestações sua constante concepção da perversão
neuróticas, como, por exemplo, o medo como patologia sexual. O mais importante
ou a inibição. O fracasso do tratamento de tudo isso é que essa visão parece não
pode se dever, entre outras coisas, a uma produzir progressos clínicos. Num período
confusão entre a denegação perversa e histórico e num país que, muitas vezes, em
uma identificação pré-edípica, ou por prol da simplificação, tem presenciado o
se tomar uma fantasia ou um acting out florescimento de várias visões psicanalíti-
histéricos como um sinal de uma patolo- cas pós-freudianas, parece particularmen-
gia perversa. O próprio fato de que uma te desejável retornar a uma leitura mais
distinção estrutural entre a neurose e rigorosa dos textos freudianos: apesar de
a perversão pode ser fundamentada no todas essas precauções e contradições,
modo pelo qual o sujeito se relaciona com esses textos ainda fornecem a mais efetiva
a configuração edípica – aquele modo estrutura para a compreensão dos fenô-
que decide a relação do sujeito com a menos clínicos, para a direção e o desen-
castração, com a realidade, com o desejo, volvimento de posteriores teorizações. ϕ
e com seus objetos – reflete-se nos dife-
rentes desenvolvimentos da transferência.
O mecanismo de denegação e a relação
específica que o perverso mantém com a
lei – e consequentemente com as figuras
parentais, com o superego – estabelecem
uma configuração transferencial diferente
daquela do neurótico. A má compreensão
dessa condição, por exemplo, do desafio
específico endereçado à posição do analis-
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Paola Mieli, Ph.D — Tradução: Eliana Rodrigues Pereira Mendes

A NOTE ON FREUD’S FREUD, S. (1919). “A Child is Being Beaten”: a


STRUCTURAL contribution to the study of the origin of sexual
perversions. Standard Edition, v.XVII.
DIFFERENTIATION
BETWEEN NEUROSIS FREUD, S. (1923). The Infantile Sexual Organiza-
AND PERVERSION tion: an interpolation into the theory of sexuality.
Standard Edition, v.XIX.
Abstract
FREUD, S. (1924). The Economic Problem of
The author presents an overview of Freud’s Masochism. Standard Edition, v.XIX.
elaboration of disawoal, considering the ques-
tion of the differentiation between neurosis FREUD, S. (1924b). The Dissolution of the Oedi-
and perversion. She emphasizes the way in pal Complex. Standard Edition, v.XIX.
which the subject relates to the oedipal con-
FREUD, S. (1924c). The Loss of Reality in Neuro-
figuration – the way that decides his relation sis and Psychosis. Standard Edition, v.XIX.
to castration, to reality, to desire and to his
objects. Different structures are related to FREUD, S. (1925). Some Psychical Consequences
specific psychic mechanisms, that manifest of the Anatomical Distinction between the Sexes.
different solutions to the oedipal interdiction Standard Edition, v.XIX.
(repression in neurosis and disawoal in per- FREUD, S. (1927). Fetichism. Standard Edition,
version), what is also important in dealing v.XXI.
with the transference and the psychoanalytic
treatment itself. FREUD, S. (1938). An outline of Psychoanalysis.
Standard Edition, v.XXIII.
Keywords FREUD, S. (1938b). Splitting of the Ego in the
Neurosis, Perversion, Repression, Disawoal, Process of Defense. Standard Edition, v.XXIII.
Phantasy, Fetichism, Oedipal configuration.
FERENCZI, S. (1935). A Little Chanticleer. In
First Contributions to Psychoanalysis. Maresfield
Reprints: London.

Bibliografia LAPLANCHE , J. and PONTALIS, J.-B.


(1985/86). Fantasy and the origins of sexuality.
The International Journal of Psychoanalysis, v.49.
FREUD, S. (1900). The Interpretation of Dreams.
Standard Edition, v.V.
RECEBIDO EM: 20/03/2012
FREUD, S. (1905). Three Essays on the Theory of APROVADO EM: 20/04/2012
Sexuality. Standard Edition, v.VII.

FREUD, S. (1908). Hysterical Phantasies and their


relation to Bisexuality. Standard Edition,v.IX.

FREUD, S. (1908b). Creative Writers and Day-


-Dreaming. Standard Edition, v.IX.

FREUD, S. (1909). Analysis of a Phobia in a Five-


-Year Old Boy. Standard Edition, v.X.

FREUD, S. (1913). Totem and Taboo. Standard


Edition, v.XIII.

FREUD, S. (1915). Papers on Metapsychology.


Standard Edition, v.XIV.

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Uma nota sobre a diferenciação estrutural de Freud entre neurose e perversão

SOBRE O AUTOR

Paola Mieli
Psicanalista. Fundou e preside
a Après-Coup Psychoanalytic Association
em Nova Iorque. Membro do Cercle Freudien
(Paris). Leciona no Departamento de Fotografia
e Ciências Midiáticas da School of Visual Arts
(Nova Iorque) e na Lacanian School of Berkeley
(São Francisco). Autora de vários artigos
publicados na Europa e na América,
co-editou Being human: the technological
extensions of the body (Nova Iorque:
Agincourt/Marsilio, 1999).
Autora de uma coletânea de artigos
publicada no Brasil sob o título Sobre
as manipulações irreversíveis
do corpo e outros textos psicanalíticos
(Rio de Janeiro: Contra Capa/Corpo
Freudiano, 2002).

Endereço para correspondência:


274 W 12th St
10014 – NEW YORK
Tel.: (212) 691-0019
E-mail: parolapm@yahoo.com

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