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A Flauta Mágica

Dr. Carlos Raitzin (Spicasc)

Publicado no Site da Grande Loja Unida da Venezuela

Traduzido, Editado e Internetizado por José Antonio de Souza Filardo M.´. I.´.

Cena de A Flauta Mágica

A famosa ópera de Wolfgang Amadeus Mozart e Emanuel Schikaneder,“A Flauta Mágica” tem sido
objeto de inúmeros estudos, sem dúvida motivado tanto pelo seu imenso valor musical quando pelo
tema subjacente ao seu livreto.

As claras referências esotéricas feitas em seu desenvolvimento motivaram inclusive que Goethe
escrevesse uma segunda parte, continuação do livreto de Schikaneder e, não satisfeito com isso, ele
preparava pessoalmente os esboços para uma representação da ópera de Mozart em Weimar,
esboços que foram parcialmente preservados. Mas, infelizmente, a grande maioria dos estudos
realizados são devidos a musicólogos. Estes são, sem dúvida, muito competente na sua disciplina,
mas o são muito pouco em matéria de esoterismo.

Por isso, entendemos que poderia ser interessante uma análise da ópera do ponto de vista iniciático,
deixando quase que totalmente na parte técnica da música (como nós entendemos que existem
outros mais competentes do que nós para lidar com eles).

Além dos musicólogos quem vez por outra tentou mergulhar em “A Flauta Mágica” foram os
maçons. Com relação a isso, porém, convém ser taxativamente claro.

Na verdade, existem dois tipos distintos de maçonaria. Por um lado temos a Maçonaria política e
econômica formada quase inteiramente por pessoas pouco ou nada se importam com as tradições
espirituais dessa Ordem.

Este tipo degradado de Maçonaria tem sido amplamente difundido no mundo, porque sempre
existiram aventureiros sem escrúpulos, como desejos de poder político. Naturalmente, em tais
organizações não deve buscar nem se pode encontrar valores espirituais.
Há, porém, um outro tipo de maçonaria que transmite um legado espiritual real que vem desde o
antigo Egito. Naturalmente, isso a Maçonaria é a antítese da anterior. Vale a pena parar um
momento sobre este assunto para entender melhor a questão que hoje nos ocupa. Segundo nos
informa o erudito francês antimaçônico Jacques D’Plonchard D’Assac, Mozart, bem como
Schikaneder pertencia à Maçonaria Egípcia em Viena, aquela que praticava o rito de Mizraim.

Este rito havia se difundido enormemente tanto na Áustria quanto na Espanha desde meados do
século XVIII, dando então origem ao Rito Nacional Espanhol neste segundo país.

Deve-se mencionar que o Rito de Mizraim originou-se no iniciação transmitida pelo Mestre
Althotas a Joseph Balsamo, conhecido como Conde de Cagliostro.

Mais tarde, esse rito se difundiu na Itália e mais tarde na França. É interessante notar, de passagem,
a Espanha, porque foi iniciado (na Loja “Lealidad” de Cádiz), o então jovem tenente do exército
espanhol Don José de San Martín. O fato é que em 14 de dezembro de 1784 Mozart foi iniciado
como aprendiz na loja “Zur Wohlthätigkeit” ascendendo a companheiro em 07 de janeiro do ano
seguinte (menos de um mês entre as duas iniciações).

Imediatamente começa a composição de sua famosas Sonatas Maçônicas.


http://www.youtube.com/watch?v=TF4vQ8fBkVg

Em abril de 1785 Mozart já é Mestre Maçom e em seis desse mesmo mês, é iniciado seu pai, o
compositor e maestro Leopold Mozart. Este foi sem dúvida um homem de talento e provou-se
recentemente que a famosa “Sinfonia dos Brinquedos” http://www.youtube.com/watch?
v=qDnrL46wY44 atribuída por muito tempo a Haydn é, na realidade, de autoria de Leopold
Mozart.

Na loja, Mozart conheceu Johann Joseph Schikaneder, que tinha ali o nome de Emannuel, e que
mais tarde seria o libretista de “A Flauta Mágica”.

Schikaneder era um homem de caráter, barítono de boa voz e bom gosto e, mais tarde, diretor de um
pequeno teatro. Sabe-se que ele representou o primeiro Papageno

na estréia da ópera em questão. Também frequentava a loja Karl Ludwig Giesecke que
aparentemente contribuiu com algumas idéias para o libreto.

O fato incontestável é que Mozart foi um maçom ativo até o fim de sua vida. Em 18 de novembro
de 1791, quando só lhe restavam dezessete dias de vida, conduziu pessoalmente sua “Pequena
Cantata Maçônica” (Köchel 623) http://www.youtube.com/watch?v=WyHWEFA3Yzk por ocasião
da consagração do novo templo da Loja “Zur neugekrönten Hoffnung”. Schikaneder por outro lado
adormeceu, ou seja, retirou-se da loja logo depois de ter conhecido Mozart, embora a amizade e a
cooperação entre os dois tenha persistido, dando conforme sabemos um magnífico resultado.

Uma das mais vis calúnias que circularam sobre Wolfgang Amadeus Mozart foi ter sido envenenado
pelos maçons por ter revelado segredos da Ordem em “A Flauta Mágica”. Justamente por isso eu
mencionei o fato de que poucos dias antes de sua morte, foi especialmente convidado para dirigir o
sua Cantata para a consagração de um novo templo. Isso aconteceu um mês e meio após a estréia de
“A Flauta Mágica”, ou seja, a ópera em questão. Isso prova a falsidade de tal afirmação.

Se houve revelação, como alguns dizem, o principal responsável teria sido Schikaneder o autor do
libreto e não, evidentemente, o autor da música. Schikaneder continuou a viver por muitos anos,
mas este fato não é mencionado por esses caluniadores.
Mozart e seu libretista estavam bem cientes destas coisas e por isso colocaram em sua ópera um
arquétipo que simboliza a via lunar governada pelas emoções mais baixas que se disfarçam e se
ocultam nas aparências religiosas.

Este arquétipo é a Rainha da Noite http://www.youtube.com/watch?v=0rZdM73uivA cujas duas


árias expressam aspectos bem contrastantes de uma personalidade sinistra.

Em sua primeira ária aparece como a mãe de coração partido por ter-lhe sido tirada sua filha.
Tamino se deixa seduzir por suas lágrimas falsas e suas mentiras. Ela o elogia e lhe promete a mão
de Pamina, enquanto sutilmente planta o ódio no coração do jovem príncipe.

Muito diferente é a sua atitude na segunda ária “Der Holle Rache kocht em meinem Herzen” (O
rancor do inferno ferve no meu coração) http://www.youtube.com/watch?v=ZNEOl4bcfkc quando
coloca um punhal na mão de Pamina para que a virtuosa, porém perturbada jovem assassine o
Venerável Mestre Sarastro.

Nessa cena se revela toda a traição e maldade que antes a Rainha encobria com sentimentalismo e
lágrimas, pois ela ameaça Pamina se ela não cumprir seus desejos. Claramente aqui se aproxima do
que temos tratado amplamente em vários artigos e conferências.

Trata-se do antagonismo existente entre os que praticam a via lunar ou religiosa (a pitriyana ou o
caminho dos ancestrais dos hindus) e os Iniciados, que praticam a via solar ou Devayana (caminho
dos deuses).

A via lunar se reveste de emotividade e pretende ser um conforto para as massas, a quem manipula
com base justamente no medos e nas emoções. Desta forma, aceita-se indistintamente a todos os
que se apresentam, pois seu último desejo é o poder temporal com base na quantidade. Corresponde
ao modo passivo e é a única forma de vida espiritual a que podem aspirar as pessoas não
qualificadas.

A via solar iniciática está reservada para as elites, quer dizer, a indivíduos plenamente qualificados.
Naturalmente, os grupos sectários que são os religiosos nunca quiseram aceitar sua subordinação
aos Mistérios Iniciáticos e se esforçaram para destruí-los.

Na alegoria de Mozart e Schikaneder, a Rainha da Noite, que representa, sem dúvida, a Igreja
Católica, organização sectária tipicamente lunar.

As damas da Rainha da Noite, apesar do flerte e do bom humor que revelam no início da ópera, não
hesitam em se apresentar a Tamino e Papageno para derramar calúnias insidiosas contra a Sarastro e
seus sacerdotes.

Finalmente, em cumplicidade com o traiçoeiro mouro Monostatos, http://www.youtube.com/watch?


v=79a2Riic5DI&feature=related a Rainha prepara uma grande complô nas sombras para destruir o
templo. Felizmente eles fracassam nessa tarefa e são jogados de volta para as trevas do mundo
profano.

Parece muito provável hoje em dia que Mozart e Schikaneder tenham sido aconselhados por Ignaz
von Born sobre este tema. Von Born era o Venerável Mestre da Loja “Zur Wohltätigkeit” naquela
época, e um verdadeiro erudito nos mistérios da Grécia antiga.

A interpretação de alguns autores do rancor da rainha contra Sarastro para impor a primazia de
sucessão matrilinear em relação à tradição patriarcal nos aparece hoje pura fantasia. Ainda em mais
alto grau é fantasiosa a interpretação do escritor maçônico M. Zile, que em 1866 sustentou
ingenuamente que Tamino representava o Imperador Joseph II, Pamina o povo austríaco, Sarastro
era mencionado como Venerável Mestre e a Rainha da Noite, a imperatriz Maria Teresa, que então
tinha começado a perseguir a Maçonaria.

Até aqui, um primeiro símbolo mais político que esotérico e que refletia uma realidade daqueles
tempos. Não se pode esquecer que em 1738 o Papa Clemente XII havia excomungado a Maçonaria
com sua encíclica “In eminenti specula”. Embora pouca atenção fosse dada em Viena a tal
resolução, era evidente que o velho ódio da Igreja pelos Mistérios Iniciáticos subsistia em pleno
vigor.

De maior interesse para esta alegoria são outros símbolos de natureza tanto anagógica quanto
tropológica que vemos desfilar na ópera. Vamos recordar brevemente que, segundo a classificação
estabelecida por Dante Alighieri em “Il Convivio”, os símbolos podem ser agrupados em quatro
categorias.

A primeira é a dos símbolos literais. Como exemplo podemos citar um texto escrito em qualquer
língua ou uma equação matemática.

A segunda categoria corresponde aos símbolos alegóricos. Como tal, pode-se mencionar a pomba,
símbolo da paz, a lira de Apolo representando a música, a foice uma reminiscência de Saturno que
recorda a morte, Mercúrio representando o comércio e a cornucópia simbolizando abundância, entre
muitos outros.

Símbolo tropológico (De tropos: mudança de direção) é o que tem um sentido ético-moralizante,
indicando uma mudança de rumo na vida. Como tal, podemos citar um esquadro simbolizando a
retidão, um prumo indicando a disciplina e verticalidade, e a colher do pedreiro que recorda
necessidade de suavizar as asperezas.

Por último, temos os símbolos anagógicos (De Anas: no alto). Estes últimos representam uma
indicação de elevação através da espiritualização da existência e, geralmente, têm conteúdo
esotérico.

Podemos mencionar aqui a escada de Jacó que recorda precisamente isso, o caduceu de Hermes-
Mercúrio que esotericamente se refere à transmutação das energias inferiores do homem e o Olho
de Deus que simboliza que nada do que fazemos foge ou está oculto para a Consciência Suprema.

Um desses últimos símbolos, muito interessante e que escapou completamente da análise dos
musicólogos está no início da ópera, imediatamente após a abertura. Nos referimos à serpente ou
dragão, um tema que reaparece mais tarde, com o mesmo significado na Tetralogia de Richard
Wagner. (Recordemos o dragão Pfafnir em cujo sangue deve o herói solar Siegfried deve banhar-
se).

Aqui estamos lidando com um símbolo tradicional que reaparece continuamente na literatura
esotérica. Trata-se, naturalmente, do Primeiro Guardião do Umbral.

O candidato à iniciação deve enfrentar os efeitos cármicos que ele mesmo acumulou em incontáveis
existências. Seu enfrentamento supõe um processo doloroso de purificação e de um risco; quem
evita isso renuncia para sempre à recompensa espiritual desejada; e Tamino, assim como Siegfried
deve passar por essa prova.
Se Tamino pode ser bem-sucedido é com a ajuda das damas da Rainha da Noite. Mas essa ajuda,
como era de se esperar, não é desinteressada. As damas têm a missão a lhe designar: é claro que se
trata de salvar Pamina.

Tamino e Pamina são um casal arquetípico precursor como o são de certa forma Siegfried e
Brunhilde. Não são diferentes, na verdade um do outro em ambos os casos.

Pamina é a alma de Tamino, a alma que deverá passar por novas e duras provas antes de chegar à
Iniciação: odisséia de Pamina é uma verdadeira “Noite Escura da Alma” (A Nigredo na
terminologia dos alquimistas). São provas iniciáticas que conduzem à purificação através do
caminho do sofrimento humano e das dúvidas que assaltam os aspirantes. Constituem o chamado
Segundo Guardião do Umbral e são uma parte inevitável da Via Iniciática. Desgraçado daquele que
as evita ou cede ante estas dúvidas, pois se verá cada vez mais mais mergulhado nas trevas do
mundo profano e não chegará a receber a luz espiritual da Iniciação.

Este processo vital de transmutação interior (cuja realidade só pode ser negada pelos ignorantes)
tem como contrapartida visível as provas simbólicas do ritual, aquelas que em “A Flauta Mágica”
são mencionadas com maior clareza.

Felizmente, Mozart e Schikaneder foram suficientemente discretos e seria muita ingenuidade


alguém pretender conhecer alguma coisa dos mistérios da Iniciação Maçônica apenas assistindo à
ópera.

As damas dão a Tamino, para ajuda-lo em sua missão de resgate a Flauta Mágica que dá o título à
ópera, e também Papageno que será seu companheiro recebe sinos de prata, também dotados de
incríveis poderes. Aqui há alusões simbólicas a várias pontos da tradição esotérica que merecem ser
mencionadas rapidamente.

É uma dupla referência ao poder do som, o poder que pode ser incompreensível e absurdo, não só
aos profanos, mas também aos pseudo-maçons tão ignorante quanto arrogante a quem referimos
anteriormente.

É fácil ver que isso é verdadeiro; basta perguntar a qualquer um dos maçons orientados para a
política e os negócios, qual é a verdadeira origem dos símbolos e sinais de seus graus, e quais são as
sílabas de poder associadas a tais sinais. Não terão outra alternativa, a não ser reconhecer a
enormidade da sua ignorância sobre o assunto e nem por um momento mencionarão que existe uma
antiquíssima tradição secreta a respeito disso.

Esta tradição foi, inclusive, transmitida pelo Profeta Maomé aos seus mais fieis discípulos e o
Corão contém certas sílabas intraduzíveis que estão ligadas a este mistério.

Mas, tudo isso e muito mais é e será para sempre desconhecido por este tipo de pessoa que têm a
audácia de se auto-qualificar como maçons regulares e de qualificar outros como irregulares. Seria
possível escrever um livro sobre isso e é bem possível que algum dia este autor o faça.

Na Índia, este poder oculto do som é ensinado no Matrika Yoga e testemunhamos pessoalmente
alguns fatos surpreendentes feitos por este meio.

A pergunta honesta, desde já, se Mozart e Schikaneder estavam ao corrente de tais fatos. É provável
que eles estivessem, somente por tradição mítica na forma de contos de fadas populares.
O que é fato estabelecido é que a trama externa, profana digamos, o enredo de “A Flauta Mágica”
era uma narrativa deste tipo intitulada “Lulu oder die Zauberflöte”.

Seja como for, é interessante notar com William Mann que, tendo sido esculpida a flauta pelo pai de
Pamina, este a havia feito de carvalho. Na tradição esotérica, esta árvore é um símbolo de sabedoria
e força. Para ser esculpida, à madeira foi adicionada a Beleza e agora estamos de volta à tradição
maçônica completo. Isto se refere, evidentemente, à Tradição Sagrada tanto maçônica quanto não
maçônica.

Na tríade é simbolizado tanto a divindade quanto a síntese de opostos. Isto é bem conhecido e só se
pode acrescentar que unido ao quaternário conduz ao setenário, símbolo do justo e perfeito.

Na encenação original se referia ao Quaternário (símbolo do material), com uma inscrição em uma
pirâmide que os vigilantes armados do templo liam para Tamino: “Quem passa por este caminho
difícil será purificado por terra, ar, fogo e água.”

A pirâmide, assim como a famosa ária de Sarastro “Ísis e Osíris” http://www.youtube.com/watch?


v=K_IaJDqz2Zo eram uma clara referência à origem egípcia do Rito de Mizraim.

Curiosamente, esse rito (unificado posteriormente com o outro Rito Maçônico egípcio, qual seja o
Rito de Memphis pelo Grão-Mestre Giuseppe Garibaldi) reverencia a memória de um notabilísimo
Mestre Arquiteto: Imotep, que a Bíblia menciona com o nome de Hiram Abif, diretor das obras de
construção do famoso Templo de Salomão, uma das maravilhas do mundo antigo e também artesão
excelso.

Note-se que o referido Rito de Memphis constitui, em seu próprio direito, o mais notório da tradição
maçônica, pois vem, por sua vez, dos mistérios de Isis do antigo Egito e das antiquíssimas filiações
maçônicas drusas. Este Rito foi trazido à Europa por Napoleão I, Champollion e oficiais do exército
francês que foram iniciadas por ocasião da expedição ao Egito.

Not-se de passagem, que as três crianças-guias na decoração original levavam em suas mãos folhas
de palmeira. Este é um símbolo permanente na tradição esotérica, cujo significado é ascensão,
vitória, regeneração e imortalidade.

Até agora, os aspectos anagógicos do simbolismo da ópera. Passemos agora a abordar rapidamente
os aspectos tropológicos, ou seja, aqueles que tornam o conteúdo ético, moral e filosófico.

Em primeiro lugar, não se pode ignorar a tipologia psicológica que estabelece uma clara diferença
entre os dois casais: Tamino – Pamina e Papageno – Papagena.

Os primeiros são seres superiores com aspirações nobres, autênticos “homens de desejo”, para usar
a terminologia de Louis Claude de Saint Martin. Esta atitude contrasta com a dos outros dois que só
aspiram a uma boa comida, um bom relacionamento conjugal e que, em suma, são seres humanos
bons, mas pequenos e medíocres.

Assim, vemos que a Iniciação de Tamino e Pamina acontece, mas a de Papageno e sua futura esposa
falha (como não poderia ser de outra forma). De fato, a esmagadora maioria dos seres humanos em
seu estado atual não é iniciavel, e deve se contentar com as pequenas coisas da vida: seu estado
atual não lhes permite aspirar outra coisa.

Papageno o diz claramente: “Ein Netz fur Mädchen möchte ich, ich fing sie dutzenweis fuer mich”.
(De uma rede para garotas eu preciso, eu as teria às dúzia para mim.)
No entanto, e apesar da sua vulgaridade. Papageno é bom em seus sentimentos. Isto se manifesta no
célebre dueto com Pamina, http://www.youtube.com/watch?v=mO-h1sPcsKQ onde eles expressam
o fato de que o amor é a lei suprema da natureza, e que ele leva o casal ao limiar da Divindade.

Cabe perguntar se os dois personagens, tão charmosos quanto diferentes entre si, concebem o amor
da mesma maneira e no mesmo nível. Pamina é a própria espiritualidade e Papageno a pura
sensualidade. Ela pode conceber e sentir o amor divino, assim como o humano. Seria demais pedir
isso a Papageno.

Uma segunda lição pode ser encontrada nas palavras das crianças-guias. Deve ser dito que estas
crianças são referências às Columbas, a personificação da voz da consciência. Tais Columbas foram
introduzidas nos Ritos Maçônicos Egípcios por Cagliostro. Hoje eles desapareceram, mas ainda são
preservados nos rituais de certas ordens Rosacrucianas de origem moderna e que afirmam ter uma
filiação inexistente proveniente (segundo eles) de tais Ritos.

As crianças-guia são claras com Tamino: “Sei standhaft, duldsam und verschwiegen” (Seja
persistente, paciente e guarde o silêncio). http://www.youtube.com/watch?v=EeSxGG64T2g

Aqui estão três regras de ouro que devemos adicionar ao amor fraterno entre os seres humanos.

Com isso, Tamino chega às três portas do templo. Sua reflexão é precisa: “Onde reina e atividade e
o ócio é proibido, o vício dificilmente pode criar raízes.”

As dúvidas e os erros afligem Tamino. O Segundo Guardião do Umbral está em ação. Surge então
do fundo de seu ser a pergunta-chave “Quando então verei a luz?”. Uma pergunta honesta da parte
de alguém que está disposto a reconhecer seus erros e que cada profano de valor deve fazer em um
dado momento a si mesmo.

Cabe recordar de passagem que Richard Wagner na Tetralogia também menciona claramente este
Segundo Guardião do Umbral. Referimo-nos à passagem de Siegfried atacado pelo anão Alberich a
quem a capa mágica torna invisível.

E aqui é imperativo encerrar pois não se trata de esgotar o tema, mas apenas fornecer abundantes
motivos para reflexão a cada um dos amados leitores.

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