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Este texto é parte do argumento inicialmente apresentado, na sua primeira

versão, ao longo dos meses de novembro e dezembro de 1999, nos auditórios


da Faculdade de Saúde, da Biblioteca Central e da Reitoria da Universidade
de Brasília. O argumento aqui desenvolvido viria a transformar-se, três anos
mais tarde, em 2002, em parte da primeira proposta formal, apresentada por
mim e pelo prof. José Jorge de Carvalho, de introdução de uma medida de
reserva de vagas para estudantes negros e indígenas numa universidade federal
(Carvalho & Segato, 2002). A proposta foi finalmente votada e aprovada
pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da Universidade de
Brasília, em julho de 2003, e acolhida com entusiasmo pelo então vice-reitor
da UnB, prof. Timothy Mulholland. O que aconteceu nesse meio tempo é
de domínio público: o tema se instalou no país; a mídia não cessou de dar
ampla cobertura à questão; duas instituições de ensino superior estaduais,
a Universidade Estadual do Rio de Janeiro e a Universidade Estadual da
Bahia, por decisão de seus respectivos legislativos, instituíram políticas de
cotas em 2002; a primeira pergunta do último debate do primeiro turno entre
os candidatos à presidência da República em 2002 foi sobre sua posição
a respeito das cotas para estudantes negros no ensino superior; e hoje 16
instituições públicas de ensino superior já têm algum tipo de reserva de vagas
para alunos negros e/ou indígenas. Parece evidente que, apesar das acusações
e penalidades que sobre nós pesaram pela ousadia de introduzir o tema da
discriminação racial no seio da corporação acadêmica, a sociedade brasileira
se encontrava disponível para iniciar o debate que assim se inaugurava. De
outra forma, seria impossível explicar o impacto da proposta e a velocidade
RITA LAURA SEGATO com que se propagou.

Cotas: por que


reagimos?
N o Brasil, aqueles que defendemos a
instauração de um regime de cotas
ficamos muitas vezes perplexos pelo caráter
excessivamente veemente, apaixonado e, por
momentos, até virulento de algumas reações.
RITA LAURA
Tentarei, na primeira parte do meu argumento,
SEGATO é professora
do Departamento apontar algumas das razões que colocam obs-
de Antropologia da
Universidade de Brasília. táculos à compreensão da proposta para estu-
dantes negros e que podem explicar a ansiedade
com que alguns reagem a ela. Em seguida, passo
a listar as formas de eficácia que a introdução
de um sistema de cotas teria para transformar
positivamente o sistema educativo e a sociedade
que ele reproduz.
SETE RAZÕES PARA A REAÇÃO
DO PÚBLICO BRASILEIRO AO
PROGRAMA DE COTAS: AS ÁREAS
DE DESCONHECIMENTO E OS
PONTOS NEVRÁLGICOS DAS
RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL

1. Falta de reflexão e informação:


muitas opiniões são proferidas
na ignorância dos fatos
que sustentam o debate

Em primeiro lugar, a falta de informação. Não


há, no Brasil, uma prática de discussão ampla
e assídua do público sobre igualdade de acesso
a direitos e recursos em geral e em particu-
lar sobre racismo. Isso faz com que a maioria
das pessoas, incluindo o público universitário
e mesmo muitos profissionais do Direito, não
se encontre suficientemente informada sobre
a evolução e o estado deste já longo debate
sobre ações afirmativas na cena internacional.
Nem mesmo o vocabulário internacionalmente
aceito sobre o tema é devidamente utilizado
pelo público.
Esse desconhecimento alcança inclusive os
setores da sociedade que dispõem de maior
acesso à educação e aos meios de informação.
Quando, no dia 28 de fevereiro de 2002, o
presidente da Federação de Indústrias de São
Paulo reagia se declarando “abalado” ao ler nos
jornais as primeiras notícias dos resultados da
pesquisa do Ipea sobre índices de exclusão dos
negros, sua surpresa manifesta revelou que algo
tinha falhado nos modelos de representação da
sociedade brasileira elaborados até então pelas
ciências sociais.
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mal” – exemplo que tomei do relato de um
2. As diversas formas do racismo estudante do curso de Letras desta univer-
sidade.
no Brasil • Um racismo emotivo: expressa-se ma-
nifestando rancor, ressentimento ou medo
Em segundo lugar, a falta de esclareci- em relação a pessoas de outra raça. Alguém
mento, que faz com que, em muitas ocasiões que, em um elevador, assusta-se por estar
e cenários dos mais variados, às vezes dis- em companhia de uma pessoa negra, ou que
criminemos, excluamos e até maltratemos adverte os filhos de que não façam amizade
por motivos raciais, sem ter qualquer grau de com colegas dessa cor.
percepção de que estamos incorrendo num • Um racismo político e, em alguns países,
ato de racismo. Se existem pelo menos qua- até partidário: grupos políticos que advo-
tro tipos de ações discriminatórias de cunho gam o antagonismo aberto contra setores
racista, as mais conscientes e deliberadas da população racialmente marcados. O
não são as mais freqüentes entre nós. Isso Partido Nacional Australiano ou a Ku Klux
leva a que muitos não tenhamos consciência Klan norte-americana são exemplos. Esta
da necessidade de criar mecanismos de cor- última variante é praticamente desconhecida
reção para contrapor à tendência espontânea no Brasil, à exceção de pequenos grupos
de beneficiar o branco em todos os âmbitos neonazistas existentes em alguns centros
da vida social brasileira. urbanos de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio
Os quatro tipos de racismo mais comuns Grande do Sul.
podem ser definidos como segue: O primeiro desses quatro tipos é o mais
• Um racismo prático: automático, irre- freqüente no Brasil. Curiosamente, apesar
fletido, naturalizado, culturalmente estabe- de se apresentar como a mais inocente das
lecido e que não chega a ser reconhecido formas de discriminação racial, está longe
ou explicitado como atribuição de valor de ser a mais inócua. Muito pelo contrário,
ou ideologia. Opõe-se aos racismos fun- é a que mais vítimas faz no convívio da
damentados numa consciência discursiva. vida escolar e aquela da qual é mais difícil
O professor de escola que simplesmente defender-se, pois opera sem nomear. A ação
não acredita que o aluno negro possa ser silenciosa da discriminação automática torna
inteligente, que não o ouve quando fala o racismo uma prática estabelecida, costu-
nem o percebe na sala de aula. O porteiro meira, mas dificilmente detectável. Somente
do edifício de classe média que não pode do outro lado da linha, no pólo distante e
conceber que um dos proprietários seja macroscópico das estatísticas, torna-se vi-
negro. A família que aposta sem duvidar sível o resultado social desses incontáveis
nas virtudes do seu membro de pele mais gestos microscópicos e rotineiros.
clara. Esse tipo de atitude aparentemente Esse racismo considerado ingênuo,
irrefletida é a que resulta na reprodução do porém letal para os negros, é o racismo
processo contínuo de exclusão de grande diário e difuso do cidadão – qualquer um
porte que chamamos de “racismo estrutural” de nós, professores – cujo crime é, pelo
e “racismo institucional”, e que resiste à menos aparentemente, estar desavisado
identificação de uma autoria ou à alocação sobre o assunto. É esse racismo dos que
de responsabilidade. nos consideramos bem-intencionados que
• Um racismo axiológico: se expressa constitui o gargalo e escoadouro dos alunos
através de um conjunto de valores e cren- negros, impedindo-os de avançar no sistema
ças que atribui predicados negativos ou educativo, derrubando-os no caminho sem
positivos em função da cor da pessoa. O que nem sequer possam apontar aquilo que
professor universitário que, em aula, procla- os prejudica. E é especialmente esse tipo de
ma que “todos nós sabemos que os negros discriminação e seus efeitos nas escolas de
são inferiores intelectualmente ao branco, todos os graus que as cotas vêm denunciar
mas isso não é razão para que os tratemos e corrigir. Sua ação é silenciosa, mas suas

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conseqüências falam alto nos números
que as pesquisas recolhem, e podem ser
4. As famílias brasileiras “brancas”,
constatadas na ausência de pessoas negras
em profissões de prestígio e nos espaços
à exceção daquelas formadas
de decisão.
exclusivamente por imigrantes
3. Racismo: zona de insensibilidade e seus descendentes não
da cultura brasileira miscigenados, lutaram por
Em terceiro lugar, uma razão cultu-
diluir e esquecer sua parcela de
ral: o que se pode chamar de “o ponto
cego da sensibilidade brasileira”, já que,
ancestralidade negra
se consideramos que cada época e cada
cultura tiveram uma área específica de Em quarto lugar, uma razão de memó-
insensibilidade e uma cegueira própria, ria histórica como segredo guardado em
não tenho dúvidas em afirmar que a nossa família: por razões demográficas inesca-
é a dos males do racismo com sua seqüela páveis, a classe média “branca” brasileira
de sofrimentos. O padecimento moral e a de hoje produziu sua cor e o prestígio a ela
insegurança das pessoas negras na nossa associado por meio de um esforço cons-
sociedade são inaudíveis, não encontram tante de branqueamento, de mecanismos
meios expressivos para se manifestar e não de controle severos sobre seus membros
encontram registro nem no discurso midi- e de trabalho de esquecimento sistemático
ático nem no acadêmico. Tanto os teóricos de seus componentes ancestrais não-bran-
das ciências sociais quanto o senso comum cos. A fala sobre cotas parece trazer como
o descrevem como parte de uma tradição, subtexto a afirmação de que esse esforço
prática habitual, estilo de convivência, traço mancomunado da sociedade e sustentado
idiossincrático e até pitoresco da civilização até hoje por esquecer o escravo dentro de
brasileira. Esse sofrimento, que tem como si, por apagar o traço do seu sangue, foi
causa pura e exclusivamente a cor da pele, um esforço inútil. Ao introduzir o tema
é particularmente grande precisamente onde das cotas, passamos a mensagem de que
menos poderia ser admitido: nos espaços nossas famílias se esforçaram, reprimiram
institucionais da esfera pública, dos quais a e expurgaram em vão laços e memórias ao
universidade é uma instância crucial. longo de gerações. Mais ainda: que o que
elas conseguiram quando finalmente se
alojaram no nicho prestigioso da brancura
pode vir agora a se perder com a simples
votação de um Conselho Universitário ou
a assinatura de um decreto. Uma pergunta
velada que se ouve por trás da ansiedade
apenas dissimulada de muitas audiências
diz respeito ao que entendemos como um
retrocesso histórico no longo esforço por
adquirir uma aparência condizente com
a vocação moderna, ocidental, do Brasil:
vamos agora auto-infringir-nos um recuo?
Vamos ceder espaço, valorizar aquilo que
por tanto tempo tentamos erradicar? Per-
cebemos, então, que as nossas certezas as-
sentavam-se num equívoco histórico e ético

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amplamente compartilhado e que o retrato
do ancestral negro guardado na gaveta ou
alterado pelo retoque de um fotógrafo de
outros tempos nos torna para sempre paren-
tes daqueles que hoje tentamos evitar, tanto
nas nossas universidades como no seio das
nossas famílias.
A verdade é que a maioria das nossas
famílias agiram assim e alguns de nós ainda
operamos com essas concepções. A demo-
grafia histórica do Brasil o prova de forma
irrefutável. Se, apesar do forte racismo de
todas as épocas, a miscigenação foi uma
prática relativamente habitual do passado,
inevitável porque a classe branca não era
suficientemente numerosa para garantir sua
própria reprodução biológica, econômica o território da brancura e as benesses que
e cultural, hoje, quando essa classe média dispensa passam a ser, a cada dia, mais bem
“branca” é já ampla, a antiga prática da resguardados.
miscigenação que produzira a cor do Bra-
sil “incluído” dos nossos dias tornou-se
estatisticamente irrelevante, para não dizer 5. O sujeito da elite pós-escravocrata
inexistente. Um processo de segregação
crescente passou a tomar seu lugar e se se constitui numa paisagem de
instalou entre nós. A assim chamada “civi-
lização brasileira” dos seguidores das teses desigualdade e exclusão 1 “As uniões conjugais são carac-
de Gilberto Freyre precisa ser, finalmente, terizadas pela predominância
de endogamia racial. Embora
abordada numa perspectiva temporal, le- Em quinto lugar, uma razão psicológica, o PNAD de 1999 mostre
vando em consideração suas transformações ancorada no padrão de formação da subje- que aproximadamente 40%
da população brasileira seja
históricas. Quando muito, trata-se de uma tividade de muitos brasileiros. A exclusão, classificada como ‘parda’,
tese histórica, pois, se alguma vez foi verda- entre nós, é uma estrutura profunda de or- apenas 22% das uniões bra-
sileiras se dão entre pessoas
deira pelo menos para alguns, hoje ela não dem psíquica, cognitiva, ontológica e não de raças diferentes… Entre
termos relativos, no entanto, a
descreve os padrões de sociabilidade e de meramente socioeconômica. Originária do miscigenação, quando ocorre,
escolhas maritais do Brasil contemporâneo, sistema de exploração escravocrata, logo é mais comum entre pessoas
que não são brancas, como
onde os espaços de convivência inter-racial permaneceu enquistada na ideologia e re- os casais compostos por pardos
e negros… A análise do perfil
diminuíram dramaticamente1. produzida pela cultura do povo brasileiro. racial dos casais e das taxas
No Brasil dos nossos dias, mostra-nos As relações sociais próprias da escravidão de miscigenação das mulheres
permite concluir que, se mantida
o IBGE – à diferença do Brasil lendário da constituíram-se em matriz de convivência a situação atual, o tamanho
miscigenação que produziu a classe que no Brasil, transformaram-se em “costume”, futuro da segunda maior ca-
tegoria racial do país, a dos
hoje estuda e ensina nas universidades –, numa forma de normalidade. Na sociedade pardos, está, em sua maior
parte, relacionada à própria
branco casa com branco, e pretos e pardos brasileira pós-escravocrata, a suspensão da reprodução da população de
se unem e procriam entre si, sendo essa a ordem jurídica que garantia a exclusão na pardos, unidos a outros pardos,
e não à mescla de brancos e
tendência claramente dominante e ampla- lei foi substituída por uma caução ideoló- negros, por exemplo, uma vez
que esta última ocorre com pou-
mente estabelecida. O que significa isso? gica, o racismo, que passou a ser a norma ca freqüência… Nas famílias
Pois significa que não são as cotas o fator não-jurídica a garantir a permanência da monoparentais… os filhos são
da mesma raça da mãe ou pai
que viria a “americanizar” o Brasil, como exclusão das pessoas negras. com quem vivem em cerca de
muitos sugerem, mas que o Brasil já se Portanto, é importante perceber que os 89% dos casos, independente
da raça ou do sexo da mãe ou
encontra em pleno processo de segrega- excluídos não são produtivos somente no pai com quem vivem” (Marcelo
Medeiros, 2002). Ver também
ção e guetificação, ou seja, já se encontra que diz respeito à extração de trabalho mal análise dos dados sobre casa-
“americanizado”. Os contingentes raciais, pago, eles também são produtivos na repro- mento inter-racial em Valle Silva
(1992), que mostra a mesma
portanto, perderam sua porosidade anterior; dução da subjetividade das classes domi- tendência endogâmica.

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nantes. Os mecanismos de expurgo voltados tendo a sua autoridade e a da instituição
para o próprio interior da sociedade nacional acadêmica. Reiteramos, nas nossas falas,
e vitimando particularmente os negros são insistentemente, a qualidade, a nobreza,
cruciais para a reprodução do modo de ser e a legitimidade dessa instituição, tentando
a autopercepção das elites, incluindo a nós deixar fora de questão qualquer crítica aos
mesmos, a elite do saber. Os que excluem princípios de escolha e afunilamento que se
e os excluídos não formamos continentes encontram na base e fundamentam todas as
apartados sem conexão. Muito pelo contrá- práticas da vida universitária. Essa obstina-
rio, fazemos parte de uma economia única ção na defesa do cânone acadêmico mostra,
que diz respeito tanto à ordem material como acredito, entre outras, a insegurança endê-
à ordem psíquica da sociedade nacional. O mica que assola a produção e a transferência
expurgo de um outro racialmente marcado de conhecimento nos países periféricos,
como inferior é o gesto no qual se assenta dependentes tecnologicamente. Nós pro-
e do qual depende a identidade mesma do fessores sentimos que necessitamos exaltar
sujeito pós-escravista branco. Esse gesto com veemência o sistema que nos conferiu
reproduz, nas profundezas do psiquismo o prestígio do qual atualmente gozamos, e
historicamente formado, a subjetividade da esquecemos que todo sistema de regras pode
elite, que afirma o ser como ser-mais frente e deve ser aperfeiçoado continuamente.
ao menos-ser dos excluídos, necessitando Somente o esforço pelo aprimoramento dos
destes. Nessa economia canibalística, alterar métodos e critérios de seleção atesta a nossa
a relação desigual das partes ameaça não legitimidade como educadores preocupados
somente a posição mas também a identidade para que as condições educativas e sociais
mesma do sujeito de elite, ao tocar sua re- das novas gerações sejam melhores que as
lação hierárquica de mais-ser em relação a do nosso tempo.
outros que são-menos, geralmente marcados
racialmente.
A universidade, pelo seu prestígio sin- 7. O comprometimento histórico
gular entre todas as instituições, é o centro
de gravidade dessa estrutura histórica, a das ciências sociais na construção
usina onde reproduzimos, representamos
e justificamos os seus fluxos. da imagem hegemônica da nação
brasileira como caso de relações
6. A autoridade do professor
raciais bem-sucedidas
fundamenta-se no suposto da
Finalmente, existe um entrave específico
lisura incontestável dos processos para o acolhimento da medida de cotas nos
departamentos de ciências sociais, e espe-
de seleção que transpôs ao longo cialmente nos de antropologia. Não posso
me estender na análise dessa questão aqui,
da sua carreira acadêmica mas basta dizer que a antropologia brasileira
teve como tarefa histórica ao seu cargo a
Em sexto lugar, um dilema de legitimi- produção de uma narrativa forte da nação
dade. Nós, professores, tememos que as que foi constelando em torno de si setores
cotas coloquem em questão os processos de da direita e da esquerda do espectro políti-
aferição de mérito pelos quais atravessamos co em torno de uma retórica nacionalista.
para chegar a ocupar as posições que hoje O englobamento do negro numa posição
ocupamos. Com isso, as cotas pareceriam subalterna, mas concordante, foi o tema
apontar, indiretamente, para um grau de central dessa retórica. Representar a nação
ilegitimidade desses métodos, comprome- significava, inevitavelmente, para o trabalho

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ideológico dessa antropologia, representá-la grama de cotas na universidade. Chamarei
como uma sociedade fortemente estratifica- esses impactos de formas particulares de
da no econômico e no social, mas “cordial” e eficácia e identifico dez tipos.
harmônica no cultural (o carnaval e o futebol
de um Roberto DaMatta, responsável pelo
aggiornamento e adaptação à linguagem 1. Eficácia reparadora
das ciências sociais do estilo ensaístico de
Gilberto Freyre). Daí a curiosa e persisten- Instaura, no espaço acadêmico, um
te importação até o presente de um autor mecanismo eficiente para ressarcir, pelo
como Louis Dumont, denunciado na Índia menos em parte, as perdas infringidas na
e praticamente esquecido nos grandes cen- nação brasileira ao componente negro da
tros acadêmicos, mas onipresente nas aulas sua população. O processo de reparação
e nas teses brasileiras. Pois seu modelo histórica é amplamente discutido no mo-
mune o projeto ideológico da antropologia mento, e a oferta educativa é certamente
brasileira com categorias úteis na formu- uma das suas instâncias.
lação da idéia de um escravo feliz, de um As cotas acusam, com sua implantação,
subalterno satisfeito, por força da cultura. a existência do racismo, e o combatem
Razões “civilizatórias” fazem calar a queixa de forma ativa. Esse tipo de intervenção
dos que sofrem. O fato de que gerações de é conhecido como “discriminação positi-
antropólogos somaram forças nessa tarefa va”. A discriminação positiva constitui o
de persuasão ideológica torna difícil abrir fundamento das assim chamadas “ações
as portas a uma discussão que implicaria afirmativas”. As cotas são um tipo de ação
inevitavelmente uma mudança radical de afirmativa. A noção de “reparação”, ou seja,
paradigma e, com isso, uma circulação dos o ressarcimento por atos lesivos cometidos
grupos que detêm o poder disciplinar. contra um povo assim como a noção de
“compensação” pelas perdas ocasionadas
são os conceitos que orientam e conferem
sentido à implementação da medida.
A EFICÁCIA DAS COTAS PARA Uma definição standard desses concei-
tos encontra-se no guia oficial dos Direitos
NEGROS NA UNIVERSIDADE: Humanos publicado pela Unesco e seus
verbetes foram extraídos dos textos dos Ins-
ANÁLISE DAS FORMAS DE trumentos Internacionais aprovados pelas
Nações Unidas para a proteção e promoção
IMPACTO NA ACADEMIA E NA dos Direitos Humanos:

SOCIEDADE EM GERAL “Questões vinculadas à prevenção e elimi-


nação da discriminação são tratadas per-
Não é possível pensar as cotas sim- manentemente pela Assembléia Geral das
plesmente como uma tentativa de alterar o Nações Unidas, pelo Conselho Econômico
perfil de injustiça social que prejudica os e Social (Ecosoc), pela Comissão sobre Di-
índices brasileiros ou como um mecanis- reitos Humanos e pela Subcomissão sobre
mo de desenvolvimento socioeconômico Prevenção da Discriminação e Proteção
através de educação ampliada de setores das Minorias (agora Subcomissão para a
menos favorecidos da população. Quem Promoção e Proteção dos Direitos Huma-
compreende as cotas dessa maneira estará nos). Alcançar a igualdade não somente
reduzindo o fenômeno e deixará de perceber de jure mas também de fato demanda em
a proliferação de conseqüências e a disse- alguns casos que seja implementada uma
minação do seu impacto numa variedade ação afirmativa pelos Estados para dimi-
de dimensões da vida social. Nesta seção, nuir ou eliminar condições que causam a
analiso os possíveis benefícios de um pro- discriminação de indivíduos ou grupos.

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Discriminação inversa pode também existir Não podemos permitir-nos, agora que pelas
e se chama ‘discriminação positiva’. Este estatísticas sabemos, sacrificar mais uma
termo pode ser entendido como ‘selecionar geração, obrigando a nação a aguardar por
pessoas para méritos ou empregos na base mais 32 anos2 para que possíveis melhoras
de seu pertencimento a grupos oprimidos, na escola primária façam seu hipotético
inclusive se o membro de um grupo mais efeito na desigualdade racial.
privilegiado se encontra mais bem qualifi-
cado’, já que, é mister mencionar, o gozo de
direitos humanos e liberdades fundamentais 4. Eficácia experimental
em igualdade de condições não significa
tratamento idêntico em todas as instâncias” O sistema de cotas tem também a van-
(Symonides &Volodin, 2001, p. 162). tagem de permitir ser monitorado regular-
mente com o intuito de avaliar seu impacto
na vida universitária em particular, no
2. Eficácia corretiva sistema educativo em geral e na sociedade
como um todo. Constitui-se num verdadeiro
Redireciona o futuro de uma sociedade laboratório de experimentação sociológica e
cuja história acumula um passivo monstruo- pedagógica, um campo de observação onde
so em relação à população negra. Corrige o os resultados da intervenção podem ser
rumo dessa história e estimula a confiança periodicamente verificados e submetidos à
(hoje profundamente abalada pela memória crítica. Os detalhes da intervenção, portan-
histórica) dessa população nas instituições to, poderão ser corrigidos periodicamente
e no Estado brasileiro. porque o sistema de cotas implementado
manterá seu caráter experimental. Ele
permanecerá sujeito a modificações para
3. Eficácia educativa imediata aperfeiçoar o seu funcionamento, podendo
sofrer ampliações ou reduções e, finalmen-
Garante o acesso à educação superior te, vir a encerrar-se depois de a avaliação
a representantes da população negra em mostrar que as condições estão dadas para
função do seu mérito, medido de forma um progresso constante e irreversível da
eqüitativa ao levar em consideração as situação do negro na sala de aula e nos
desvantagens do estudante negro em todos quadros profissionais.
os níveis do sistema educativo. Como experimento, ele foi acolhido sem
Nesse sentido, trata-se de uma medida esforço pela Universidade de Brasília, com
de cunho emergencial. Portanto, não vem cujo projeto de criação mantém afinidades
para substituir outras de longo prazo que incontestáveis. No programa de cotas,
propõem transformações mais profundas encontra eco o seu mandato de tornar-se
como a melhora e a universalização do en- instituição inovadora no campo da educação
sino público e até as cotas para estudantes superior ensaiando sempre novos rumos
pobres ou formados na escola pública. É uma para a expansão da inteligência brasileira.
medida de emergência, ou seja, de impacto A partir do centro geográfico e político da
imediato, e estritamente direcionada para os nação, o projeto das vagas universitárias
estudantes negros pela sua posição singular para negros vem irradiando sem dúvida sua
2 “Ricardo Henriques, pesqui-
sador do Instituto de Pesquisa e vulnerável em todos os níveis escolares. influência benéfica pelo país afora.
Econômica Aplicada (Ipea), diz Seus efeitos e repercussões esperam-se no
que em 13 anos os brancos
devem alcançar a média de curto e médio prazo, modificando já, e de
oito anos de estudo. Os negros
só atingirão essa meta daqui a
forma muito concreta, os destinos de jovens 5. Eficácia pedagógica
32 anos. Ou seja, só daqui a que hoje se encontram cursando o segundo
três décadas brancos e negros
conseguirão concorrer em pé grau. De outra forma, suas inteligências e Os expertos na área de educação são
de igualdade a uma vaga potencialidades, uma vez mais, poderiam unânimes hoje em afirmar que, em todos
no ensino superior público”
(Weber, 2002, p. 6). perder-se para a vida intelectual da nação. os níveis do sistema educativo, uma sala

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de aula onde convivem alunos de diversas parte desse tipo deliberado de discriminação
origens étnicas, raciais, regionais, nacionais benigna e legítima.
ou outras é mais apta para o aprendizado.
Nela, a convivência plural e a constatação
diária da diversidade própria do mundo 7. Eficácia política
cumprem um papel importante na formação
profissional pois oferecem uma experiência A implantação de um sistema de cotas
mais rica e permitem acesso a uma reali- tem, ainda, um efeito secundário, porém de
dade mais complexa. No Brasil, uma sala extraordinária relevância: nele, a nação acei-
efetivamente mista do ponto de vista racial ta publicamente sua responsabilidade pela
será, necessariamente, uma sala onde uma prática sistemática do racismo ao longo da
variedade de experiências e perspectivas irá sua história – indicada já nos textos de todas
conviver, uma lição diária de comunicação as constituições brasileiras, sem exceção3.
que ultrapassa as barreiras sociais; um treino Acata, dessa forma, a denúncia da existência
em sociabilidade, adaptação e tolerância da discriminação racial na sociedade bra-
para todos, negros e brancos. sileira e aceita a dívida histórica para com
seu componente negro. Esse processo de
aceitação de responsabilidade, tema absolu-
6. Eficácia educativa de espectro tamente atual da filosofia contemporânea4,
é o único capaz de levar uma sociedade
ampliado nacional à reconciliação e à paz.
As cotas agem, portanto, indiretamente,
A medida terá repercussões importantes sinalizando a questão racial. Ao interpelar a
nos ensinos fundamental e médio: sociedade, convocando-a a discutir o tema,
• Crianças e adolescentes negros poderão o tornam visível para aqueles que nunca o
encontrar estímulo vendo que adultos da enxergaram como problema porque nun-
sua cor são seus professores. Com isso, ca sentiram “na pele” os seus efeitos, ao
retroalimenta-se positivamente a pirâmide mesmo tempo que dá oportunidade a suas
educativa, estimulando a confiança do aluno vítimas para expor sua queixa. Na reação
negro em suas possibilidades de realização apaixonada que provocam, na forma um
futura. tanto excessiva ou até despropositada em
• A exemplo do que ocorreu com a im- que comovem e mobilizam os públicos, as
plantação do Programa de Avaliação Seriada cotas apontam para conteúdos insuspeitos
(PAS), a medida estimula os estudantes ne- que se abrigam nas profundezas de um
gros no segundo grau da educação pública psiquismo historicamente formado, dei-
a demandar da escola e de seus professores xam explícito o inominável. Elas instam a
um melhor nível de ensino para melhorar sociedade a refletir o irrefletido e a debater
suas chances de performance e aproveitar suas conseqüências.
a cota. Por tudo isso, as cotas são uma medida
3 Cf. mostra o exmo. sr. ministro
• Também seguindo o exemplo do PAS, a demonstrativa, que conduz os membros da Marco Aurélio Mendes de
medida desafia os professores a empenhar- comunidade universitária e a população Farias Mello, presidente do
Supremo Tribunal Federal na sua
se em melhorar a performance específica em geral a tomar consciência do que é ser palestra “Óptica Constitucional:
a Igualdade e as Ações Afirma-
dos seus alunos negros na avaliação. Ficarão negro no Brasil. tivas”, proferida em 20 de no-
estimulados, portanto, a acolher com maior vembro de 2001 no seminário
sobre a Discriminação e Sistema
interesse as demandas destes, já que a socie- Legal Brasileiro, promovido pelo
dade e a universidade voltaram sua atenção 8. Eficácia formadora de cidadania Tribunal Superior do Trabalho.

para o desempenho deles no processo de 4 Jacques Derrida (2001), Paul Ri-


coeur (2000) e Günther Anders
seleção. As cotas são uma pedagogia cidadã por- (2001) estão entre os grandes
nomes da filosofia contemporâ-
Como conseqüência da discriminação que a sua implantação revela à sociedade o nea que hoje trabalham sobre
negativa sofrida de forma permanente e seu poder de intervir e interferir ativamente o tema da responsabilidade,
do perdão e da reconciliação
naturalizada na sociedade brasileira fazem no curso da história. Ao executar de forma possível.

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deliberada uma ação de retificação histó- espontânea, aconteceu devido à persistência
rica, a sociedade exibe e constata que tem e insistência dos movimentos de mulheres
liberdade e capacidade para escolher rumos ao longo do último século. Da mesma forma
novos, que é ela quem escreve a história. O que aconteceu com as mulheres, ao inscrever
membro de um conselho universitário que o signo da negritude em todos os espaços
delibera e opta racionalmente por alterar e ambientes sociais, estaremos habituando
a proporção de estudantes negros no seu – muito rapidamente – o olho coletivo a
estabelecimento no transcurso de um único uma realidade mais humana. Entenderemos,
ano assume a dimensão de um ator social por fim, que a cidadania deve e pode ser um
poderoso, capaz de reverter, com um ges- bem universal.
to simples, processos ancestrais injustos.
Nesse sentido, a intervenção planejada em
relação ao negro é somente emblemática de 10. Eficácia propriamente
outras intervenções possíveis, e demonstra
o poder que um grupo de cidadãos tem, em transformadora
um determinado momento da história, de
inventar e experimentar novas formas de Se a forma na qual apreendemos a es-
convivência. trutura hierárquica que organiza a realidade
social é a partir de sua fixação nos signos
em que se representa, e se esses signos
9. Eficácia comunicativa são, também, a caução de sua reprodução,
ao decretar a mobilidade desses signos é
A cor da pele negra é um signo ausente do possível que alcancemos a estrutura em
texto visual geralmente associado ao poder, alguns dos seus pontos de vulnerabilidade e
à autoridade e ao prestígio. A introdução des- lhe causemos dano. Pode-se pensar que, ao
se signo modificará gradualmente a forma chacoalhar os signos, acabemos por minar,
como olhamos e lemos a paisagem humana erosionar, desestabilizar a estrutura no seu
nos ambientes em que transitamos. lentíssimo ritmo de reprodução histórica.
À medida que o signo do negro, o rosto Porém, introduzir o signo da pessoa negra
negro, se fizer presente na vida universitária, em certos cenários onde ele não circulava
assim como em posições sociais e profissões não basta. É necessário fazê-lo reflexiva-
de prestígio em que antes não se inseria, essa mente, deliberativamente.
presença tornar-se-á habitual e modificará as Não basta essa circulação do signo ne-
expectativas da sociedade. A nossa recepção gro por posições não habituais – pois ela,
do negro habilitado para exercer profissões de fato, sempre aconteceu como exceção,
de responsabilidade será automática e sem na história. É necessária sua formulação
sobressaltos. O nosso olhar se fará mais em conceitos e categorias que inscrevam
democrático, mais justo. Não mais pensa- esse movimento nas narrativas mestras
remos que o médico negro é um servente do sistema – a lei, a moral, o costume.
do hospital. Nunca mais uma funcionária da Eu diria que tornar híbridas as posições
Varig falará em inglês a um Milton Santos, da estrutura ferrenhamente hierárquicas
na certeza de que, por seu porte digno, não é uma má prática dos papéis sociais,
poderia ser um negro brasileiro. que pode acabar por levar à obsolescên-
Um claro antecedente de que isso é cia a prescrição estrutural. Penso que a
possível é o ingresso da mulher, em déca- má prática da estrutura e o jogo sígnico
das recentes, no exercício de profissões em podem inocular no senso comum uma
que a sua presença não era habitual. Todos importante dúvida sobre a a-historicidade
somos testemunhas de que a mulher médi- naturalizada da estrutura, e esta dúvida
ca, engenheira, executiva, gerente, chefe, pode levá-la a caducar, a desmontar-se
deixou de ser um dado estranho à nossa lentamente na sua eficácia e nos siste-
percepção. E isso não aconteceu de forma mas de autoridade que sustenta. Poderia

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vislumbrar-se assim a possibilidade da des- pregos mais bem remunerados nas novas
programação do sistema. empresas que se instalaram na ilha com a
Um caso inverso ao que descrevo é, por abertura da economia foram para pessoas
exemplo, o de Cuba, onde se movimentou brancas. Isso mostra que a movimentação
a estrutura econômica mas não se tocou na dos signos é, nos processos inclusivos e
posição dos signos raciais, que acabaram redistributivos, tanto ou mais importante
fazendo seu papel de retenção e proteção que a introdução de novas regras para o
da inércia e persistência do sistema. As pes- sistema econômico.
soas são unânimes em dizer que, apesar da O jogo dos signos é, por enquanto, tudo
intensa democratização da educação, com o que temos: anarquizar com uma perfor-
a instalação da economia dupla depois do mance defeituosa a vitrine em que o sistema
período especial, o abismo racial voltou a se apresenta. Nessa proposta, os meios são
instalar-se e aumentou, seja porque os emi- mais importantes do que os fins (em lugar
grados, transformados em fonte de divisas de os fins tornarem irrelevantes os meios,
para suas famílias, são brancos e, portanto, no estilo do período setentista), porque os
seus aportes enriquecem as famílias brancas meios são a única coisa que temos como
que ficaram em Cuba, seja porque os em- possibilidade prática e a única certeza.

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