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ENFIM SÓ(S).

FIM DO MUNDO COMO IDÍLIO


Valéria Sabrina PEREIRA1

Resumo: Com as tensões da Guerra Abstract: As the tensions of the Cold


Fria, o fim dos tempos passou a ser per- War grew, the end of times came to be
cebido como uma realidade próxima, perceived as a near reality, which
causando um boom de livros pós-apoca- caused a boom of post-apocalyptic
lípticos. Em algumas obras, a destruição books. In some of these works, the world
mundial parece ser a única possibilidade destruction seems to be the only way to
de reestruturar positivamente a política restructure politics and the life in soci-
e a vida em sociedade; em outras, o es- ety, in others, there is no sense of com-
pírito de fraternidade é raro. Em vista de munity left. As the humanity itself is the
um cenário no qual a própria humani- sole responsible for destruction and
dade é responsável pela destruição e o chaos in these scenarios, being the only
caos, ser o último sobrevivente adquire survivor turns out to be a good thing.
contornos mais favoráveis. Paz, contato Peace, near contact with nature and
íntimo com a natureza e tempo para con- more time for the consumption of arts
sumir artes são algumas das vantagens are some of the advantages of being the
de ser o último humano. Este artigo dis- last man. This paper discusses the posi-
cute as representações positivas de um tive representations of a future apoca-
apocalipse futuro em Schwarze Spiegel lypse in Arno Schmidt’s Dark Mirrors
(Espelhos negros, 1951) de Arno Sch- (1963) and Marlen Haushofer’s The
midt e Die Wand (O muro, 1963) de Wall (1963) and compares them to Mar-
Marlen Haushofer, com o romance Ble- celo Rubens Paiva’s pessimistic novel
caute (1986) de Marcelo Rubens Paiva Blackout (1986).
como contraexemplo.

Palavras-chave: apocalipse, último ho- Keywords: apocalypse, last man, Ger-


mem, literatura alemã, literatura brasi- man literature, Brazilian literature
leira
Recebido em 07-07-2017
Aceito em 17-07-2017
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Doutora pela Universidade de São Paulo (USP-FFLCH); Departamento de Letras Modernas, Área de
Língua e Literatura Alemã.

Revista Trama | Volume 14 | Número 31 | Ano 2018 | p. 15 – 25 | e-ISSN 1981-4674


Estados distópicos estão o hermetismo
Século XX da sociedade, o coletivismo dominante e
as rígidas regulamentações do planeja-
No que diz respeito a narrativas mento familiar (ibidem, p. 39-52). Mui-
futuristas e pessimistas, o século XX tas dessas narrativas são guiadas pela
pode ser dividido em duas partes. Na pri- perspectiva de um membro dessa socie-
meira metade, floresceram as distopias, dade que, em virtude do contato com
impulsionadas pelo avanço de regimes uma pessoa do sexo oposto, passa a ter
totalitários baseados em utopias políticas maior consciência de sua individuali-
como o Socialismo e o Nazismo. Na se- dade (muitas vezes guiado por uma pai-
gunda, ficções apocalípticas respondiam xão), o que o leva a questionar a rígida
às tensões criadas pela bomba atômica e regulamentação de sua vida pessoal por
a Guerra Fria. Embora a distopia e o pós- um Estado opressor (ibidem, p. 22).
apocalipse sejam de gêneros distintos – São muitos os exemplos dessa es-
sendo a primeira marcada pelos efeitos trutura narrativa: Nós (1924), de
negativos de um regime autoritário Yevgeny Zamiatyn; Admirável Mundo
(ZEISSLER, 2008, p. 20), e o segundo Novo (1932), de Aldous Huxley; Anthem
por catástrofes de proporções mundiais – (Hino, 1938), de Ayn Rand; 1984
, o senso comum tende a designar ambos (1949), de George Orwell, e; Fahrenheit
como “distopia”, entendendo o termo 451 (1953), de Ray Bradbury. Em todas
como sinônimo de um cenário marcada- essas narrativas, a natureza se apresenta
mente nocivo ao bem-estar humano. Na como espaço de liberdade, livre do con-
atualidade, inclusive, não é incomum trole do Estado. Em 1984, o primeiro en-
que os gêneros se misturem. Muitas dis- contro amoroso de Winston Smith com
topias políticas, como a apresentada em Julia se dá no campo, onde acreditam es-
O conto da Aia (1984), de Margaret tarem a salvo de qualquer controle por
Atwood, se desenrolam em um cenário câmeras. Em Admirável Mundo Novo, há
pós-apocalíptico, no qual uma guerra um espaço, natural, exterior à sociedade
mundial devastou grande parte da huma- estritamente controlada, onde John, o
nidade e muitos ainda sofrem com os selvagem, foi concebido por meios natu-
efeitos da radiação. Também é notável o rais, sem qualquer programação gené-
fato de que ambos os gêneros se apresen- tica. Em Nós, a floresta para além dos li-
taram como reação aos desenvolvimen- mites do “muro verde” é o local onde os
tos políticos percebidos cada vez com rebeldes se encontram e muitos deles vi-
mais desconfiança. Eles não apenas pre- vem de forma livre e independente. As
tendem exercer um efeito catártico por poucas distopias que têm um final posi-
meio da representação dos piores temo- tivo, nas quais o protagonista não acaba
res da época, como também fazem parte subjugado pelo sistema e consegue con-
do gênero que se concebeu chamar de tinuar seu caminho em direção à autodes-
“utopia de alerta”, ou seja, livros que de- coberta, terminam com o exílio do prota-
senham um cenário pessimista como gonista na natureza, fora dos limites im-
forma de motivar seus leitores a ações postos pelo Estado, como em Fahrenheit
que previnam esse futuro. 451 ou Anthem. Em contraposição ao ur-
Por serem basicamente uma crí- bano, vigiado e regulamentado, a natu-
tica à utopia, as distopias da primeira me- reza se apresenta como o espaço onde a
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tade do século XX apresentam uma série reestruturação social é possível, onde


de características estruturais em comum grupos (ou duplas) podem redefinir as re-
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com o gênero (MEYER, 2001, p. 35). gras de convívio e sua rotina de forma
Entre as principais características dos geral.

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Se na primeira metade do século como uma alternativa que permite pensar
XX era o indivíduo que estava ameaçado soluções e estruturações diferentes da-
pelo poder totalitário, na segunda metade quelas que se apresentavam na realidade.
do século é a possibilidade de uma Mesmo em um romance em que toda a
guerra atômica que ameaça a sobrevi- raça humana é infectada, como Eu sou a
vência da própria humanidade. O gênero lenda (1954), de Richard Matheson, a ca-
apocalíptico se alimentou dessas inquie- tástrofe é positiva. O último homem
tações e foi uma forma muito presente morre ao final do livro, condenado por
durante toda a Guerra Fria. As narrativas uma comunidade de vampiros social-
do gênero não se limitaram ao realismo mente bem organizados, que zelam pelo
do filme The Day After (1983), de Nicho- bem-estar de seus pares: uma sociedade
las Meyer, que procurava apresentar a que talvez funcione de forma mais justa
miséria da sobrevivência a um ataque nu- do que a nossa. Independentemente de a
clear nos EUA da forma mais palpável narrativa tentar manter um tom mais rea-
possível. Nem mesmo a causa da catás- lista ou ser declaradamente fantástica,
trofe se limitou ao conflito nuclear: em histórias pós-apocalípticas com muita
Der Untergang der Stadt Passau (O ca- frequência refletem simultaneamente o
dafalso da cidade de Passau, 1975), de desejo de renovação e a falta de espe-
Carl Amery, por exemplo, a aniquilação rança causada pelas condições políticas
da maior parte da humanidade é causada de sua época.
por um vírus. Contudo, são poucas as
narrativas que realmente tratam do fim
do mundo. Mesmo que pesquisas indi-
cassem que a sobrevivência humana não Final “feliz”
seria possível no caso de uma guerra nu-
clear, a necessidade de uma perspectiva A literatura alemã nos demonstra,
humana que possibilite a narração da his- contudo, que não é só o gênero pós-apo-
tória faz com que a maior parte desses li- calíptico que pode fazer um suco do li-
vros seja classificada como “pós-apoca- mão do que seria a catástrofe mundial:
lipse”, ou seja, eles dão conta da sobre- romances sobre o último humano e o fim
vivência de um pequeno grupo após o do nosso gênero também são capazes de
evento destruidor. A partir do pressu- dar um tom esperançoso ao fim dos tem-
posto de que houve sobreviventes, essas pos. Destacam-se aqui Schwarze Spiegel
narrativas trabalham com a ideia de uma (Espelhos negros, 1951), de Arno Sch-
reformulação social. O apocalipse, como midt e Die Wand (O muro, 1963), de
em algumas interpretações religiosas, é Marlen Haushofer, que, apesar de terem
apenas o marco zero que permite o reco- estilos e intenções muito distintos, apre-
meço e uma reestruturação das relações sentam diversas similaridades.
humanas. Esse é o caso de Der Unter- Schwarze Spiegel é escrito a par-
gang der Stadt Passau, de Die Erbendes tir do ano de 1960, nove anos à frente de
Untergangs (As heranças do cadafalso, seu tempo e cinco anos após o suposto
1959), de Oskar Maria Graf, ou até confronto nuclear que teria dizimado
mesmo Dança da morte (1978), de toda a humanidade. Não se sabe o nome
Stephen King. do último homem, responsável pelas
Por décadas, o diálogo entre as anotações fragmentárias que lemos, mas
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duas superpotências mundiais pareceu tudo indica que se trata de uma represen-
impossível, mesmo em um futuro dis- tação do próprio autor, tanto em razão de
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tante. Dessa perspectiva, a catástrofe traços característicos de sua personali-


mundial se apresenta ficcionalmente dade quanto por dados específicos, como

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sua data de aniversário. Inicialmente, que isso, todos os seres humanos e ani-
seus relatos apresentam impressões e mais que se encontravam do outro lado
pensamentos conforme ele vaga pela do muro estão agora paralisados, fazendo
Alemanha, explorando ruínas e locais da protagonista a última mulher viva.
abandonados em busca de comida. O en- Sem qualquer acesso à cidade, ela deve
contro com esqueletos ou corpos em pro- primeiramente viver dos mantimentos
cesso de decomposição é descrito como estocados na casa. Com o passar do
rotineiro, mas isso não tem nenhum tempo, ela se adapta a uma vida comple-
efeito sobre o humor do narrador, nem tamente rural, devendo sua subsistência
serve para a apresentação de um cenário a uma plantação de batatas, colheita de
mais realista. Apesar de não haver des- frutas, caça e o cuidado de uma vaca e
crição de qualquer evento estranho ou um touro. Além deles, ela tem como
sobrenatural, o conto reúne aspectos de companhia um cachorro e uma gata. No
uma narrativa fantástica (REINHART, que diz respeito às dificuldades vividas
1997, p. 289): não há qualquer explica- pela protagonista por se encontrar nessa
ção sobre as razões pelas quais o prota- situação peculiar, Die Wand é mais rea-
gonista não foi afetado pela radiação, ele lista do que Schwarze Spiegel: ela passa
não tem maiores dificuldades para en- fome, adoece e chega a pensar em suicí-
contrar alimento e a radiação até lhe traz dio. Isso não impede, entretanto, que ela
vantagens, como a ausência de mosqui- também veja sua condição de uma pers-
tos. Como afirma Jörg Drews (1986, p. pectiva um tanto otimista. Tome-se
18-19), ao contrário de outras narrativas como exemplo o momento no qual ela
sobre o fim do mundo, Schwarze Spiegel instintivamente tranca as portas, apenas
não exerce nenhuma função de alerta – é para notar: “O único inimigo que conheci
mais um sonho desejoso. Logo no início, até hoje em minha vida foi o ser hu-
o narrador celebra o fim, enquanto ob- mano.” (ibidem, p. 23) Completamente
serva o mato que se apodera das casas: só, ela pode ter a certeza de que está a
“Ainda bem que tudo havia acabado; salvo do inimigo.
cuspi: fim!”2 (SCHMIDT, 1975, p. 247) Apesar de personalidades e for-
Já Die Wand se apresenta como mas de encarar a vida distintas, tanto o
uma história fantástica. Não há qualquer protagonista de Schwarze Spiegel quanto
informação sobre qual seria o ano no a protagonista de Die Wand veem aspec-
qual a história se desenrola. Há a menção tos positivos no fato de serem os últimos
ao fato de que a possível guerra atômica sobreviventes. O último homem, um mi-
era uma preocupação de sua época santropo notável, comemora que, junto
(HAUSHOFER, 2004, p. 10), contudo, o aos homens, também se vão tantas outras
fim veio de forma inesperada e inexpli- mazelas trazidas por eles, entre elas os
cável. A protagonista, uma mulher de advogados: “ora, que essa corja tenha su-
quarenta e tantos anos, viúva e mãe de mido me reconcilia novamente com a
duas filhas crescidas, viaja com a prima grande catástrofe” (SCHMIDT, 1975, p.
e seu marido para uma casa de campo nas 279). Sua ira contra os advogados é jus-
montanhas. Quando o casal vai para a ci- tificada pelo fato de eles defenderem
dade, mas não retorna, a protagonista qualquer tipo de pessoa vil, como ladrões
descobre que uma espécie de gigantesco e assassinos. Nessa lista, ele inclui uma
muro invisível se formou ao redor do lo- única menção a uma pessoa específica e
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cal no qual ela se encontrava. Mais do real: Ilse Koch, esposa de Karl Otto
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Todas as traduções são de minha autoria.

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Koch, comandante do campo de concen- Longe de qualquer convívio so-
tração Buchenwald, que ficou conhecida cial, a protagonista de Die Wand não está
pelos atos sádicos praticados contra os mais obrigada a performatividades de
prisioneiros. Além disso, o narrador do gênero. Ela não usa mais joias, não tem
livro ainda relata memórias sobre o tra- cuidados com cabelo ou vestimentas.
tamento dispensado a presos de guerra Sua vida cotidiana está agora completa-
“na penúltima (segunda) guerra mun- mente voltada para ações funcionais: tra-
dial” (ibidem, p. 259). A experiência das balho, alimentação, cuidado com os ani-
últimas décadas claramente o conduziu a mais e descanso. Livre de imposições so-
um estado de falta de esperança na hu- ciais, a última mulher pode ocupar dife-
manidade: duas guerras mundiais subse- rentes papéis: “Eu podia tranquilamente
quentes; ações abertamente sádicas por esquecer que eu era uma mulher. Às ve-
parte de determinados alemães; o uso de zes eu era uma criança que procurava
bombas atômicas como simples exibição morangos, quando me sentava com [a
de poder. Que a história continuasse se gata] Perle sobre os joelhos magros e ob-
desenvolvendo nessa mesma direção, servava o sol poente, um ser muito velho
esta, sim, seria a verdadeira catástrofe e sem gênero.” (HAUSHOFER, 2004, p.
(DREWS, 1986, p. 16). 82) Como nas distopias da primeira me-
Em Die Wand, a última mulher tade do século, a natureza se apresenta
não compartilha desse desprezo pela hu- como o espaço onde é possível se desen-
manidade. Seu relato sobre a prima e o volver todas as facetas individuais, livre
marido é afetuoso, e que a morte deles, e de regramentos. O trabalho duro e o can-
de todos os outros, tenha ocorrido de saço, que garantem um bom sono ao final
forma aparentemente indolor é algo que do dia, são percebidos pela narradora
a tranquiliza. A humanidade, contudo, como mais recompensadores do que as
ainda é percebida como algo ameaçador facilidades que eram oferecidas pela vida
– mais especificamente: o homem. Ao se urbana. Se algo marcava a experiência
lembrar de um caçador que vivia nas re- urbana para a protagonista, era a sensa-
dondezas, ela pondera sobre como a vida ção de tédio – agora completamente ex-
poderia ter se tornado mais fácil se ele tinta com o congelamento da cidade e a
ainda estivesse presente, apenas para se ausência de qualquer objeto que pudesse
corrigir: “De qualquer forma, ele era fi- lhe lembrar daquela vida, como revistas
sicamente mais forte do que eu e eu teria e jornais (ibidem, p. 110).
me tornado dependente dele. Talvez hoje Circulando em ambos os ambien-
ele ficaria deitado preguiçosamente na tes, tanto o urbano quanto o campo, o
cabana e me mandaria trabalhar. [...] protagonista de Schwarze Spiegel tem fá-
Não. É melhor ficar sozinha.” cil acesso a mantimentos e tempo de so-
(HAUSHOFER, 2004, p. 66) O contato bra para o ócio (e o tédio), como se com-
com o homem é percebido como peri- prova com suas atividades inúteis ou re-
goso ou nocivo em todas as suas varian- beldes: tomar banho de sol nu no meio de
tes, seja pela possibilidade de ser escra- um cruzamento, quebrar a vidraça de
vizada, subjugada pela força física do uma repartição pública ou escrever uma
outro, ou porque, se ele trabalhasse de longa carta contestando um autor publi-
forma eficiente e se tornasse seu prove- cado na revista Seleções. Essas atitudes
dor, ela estaria em situação de completa são uma celebração da expressão livre de
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dependência. A última mulher pode opiniões pessoais, assim como da ausên-


agora gozar da completa liberdade, cia de regulamentações. Se por um lado
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sendo responsável por todas as ativida- é visto como positivo que as casas este-
des que garantem sua sobrevivência.

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jam sendo tomadas pelo mato e que to- bom, o narrador continua sendo perce-
dos os animais estejam voltando ao seu bido por Lisa como uma ameaça. Como
estado selvagem, por outro, não é como a protagonista de Die Wand, essa sobre-
se o último homem tivesse total desprezo vivente também percebe a dependência
pela civilização. Sua queixa é que a arra- de outra pessoa como um risco. Ela parte
sadora maioria da humanidade não agia dizendo que deve procurar mais sobrevi-
seguindo o bom senso (SCHMIDT, ventes, mas também deixa claro que
1975, p. 307). Uma vez que não apenas deve deixá-lo porque está “bem demais
essa arrasadora maioria, mas aparente- com ele” e porque considera que ele é
mente toda a humanidade foi extinta, o “forte demais” para ela (ibidem, p. 327).
último homem pode utilizar seu tempo Ou seja, ao permanecer com esse ho-
para apreciar a cultura produzida por mem, ela pode amolecer e perder suas
uma minoria no decorrer dos séculos. Ele habilidades e a liberdade que ganhou
coleciona obras de arte originais e reco- com a catástrofe. À partida de sua com-
lhe de bibliotecas diversos livros que ser- panheira, o protagonista reage se autode-
virão à sua coleção particular – o que clarando, novamente, o último ser hu-
pode ser encarado como um reflexo de mano e desfrutando do vento que vem da
um desejo do autor, que teve grande floresta.
parte de sua biblioteca particular, inclu- Enquanto a reação do protago-
sive livros raros, destruída ao final da Se- nista de Schwarze Spiegel possa parecer
gunda Guerra. A guerra atômica de Arno cínica, ela, na verdade, corresponde à ati-
Schmidt destrói apenas a vida humana (e tude de sua companheira. Ao abandoná-
os mosquitos), mas a cultura, que é o que lo, também Lisa recupera seu status de
a humanidade produziu de positivo, per- última mulher e, assim, sua soberania.
manece intacta. Como Leopold Schlöndorff (2013,
Como Axel Goodbody (2006, p. p.316) bem coloca, o último ser humano
97) aponta, com o decorrer da história não simplesmente não precisa de nin-
fica evidente que parte do sarcasmo do guém, mais do que isso ele necessita da
protagonista de Schwarze Spiegel visa ausência do outro para se desenvolver
encobrir sua solidão. Ele despreza a hu- plenamente num mundo que agora lhe
manidade, mas, ao mesmo tempo em que pertence. “O último ser humano está to-
celebra o seu fim, procura encontrar ou- tal e completamente ocupado cuidando
tros sobreviventes com o uso do rádio. O de si próprio.” (idem) Se, por um lado, o
encontro, quando finalmente acontece, é último homem nutre o desejo de ter uma
marcado pela desconfiança: uma mulher companheira, por outro, ele prontamente
de meia-idade atira na sua direção. aceita a situação na qual ela o coloca ao
Quando ele consegue desarmá-la, esta abandoná-lo, sabendo que pode se dedi-
mulher, Lisa, justifica-se atribuindo sua car mais uma vez às artes, à natureza e a
atitude ao medo de ser estuprada. O nar- si próprio.
rador aos poucos ganha sua confiança, Enquanto em Schwarze Spiegel o
cuida dela e, desde o princípio, faz pla- encontro dos sobreviventes é furtivo,
nos para o futuro, como fica evidente no mas feliz, em Die Wand qualquer contato
momento em que ele afirma que agora é impossível. A última mulher também
eles precisariam ter tudo aos pares, ao se depara com outro sobrevivente do
que a mulher logo retruca dizendo que sexo oposto nas últimas páginas do livro,
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ele não sabe se ela pretende ficar (SCH- mas o encontro é ainda mais violento. O
MIDT, 1975, p. 312-313). Com o passar último homem, uma pessoa com roupas
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do tempo, a dupla se envolve amorosa- gastas, mas de bom corte e reconhecida-


mente. Apesar de o relacionamento ser mente caras, mata o touro e o cachorro a

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machadadas, ao que a protagonista reage reflexões, apenas para a ação. O possível
atirando contra o invasor. Toda a ação é contato é tão odioso que deve ser imedi-
vista pela mulher como inexplicável. O atamente evitado. Possíveis filhos que
cachorro, obedecendo às ordens da dona, viriam dessa união também não pode-
não avançaria sobre o homem. Sua in- riam ser melhores do que a raça humana
vestida sobre o cão não podia ser justifi- que a protagonista bem conhecia: ela
cada por autoproteção ou de qualquer ou- própria era mãe de duas moças, mas as
tra maneira. Para a narradora, este ho- lembranças tenras que a mãe tem das fi-
mem representa a encarnação da culpa. lhas se reduzem à infância. A ligação en-
Ela afirma que ele não merece ficar pró- tre mãe e filhas se quebrou de forma ir-
ximo ao touro ou “na grama inocente” recuperável conforme elas cresceram.
(HAUSHOFER, 2004, p. 273), razão Apenas o contato com os animais parecia
pela qual ela arrasta seu corpo até um ro- íntimo e equilibrado para a última mu-
chedo. Toda a natureza, do mundo ani- lher. O fim da humanidade se apresenta
mal ao vegetal, é de caráter superior a como retorno à inocência. Que os prota-
esse homem que não sabe agir sem vio- gonistas de Schwarze Spiegel se deem
lência. bem não faz com que eles desenvolvam
Apesar da afirmação da narra- desejos de repovoar a Terra. Lisa pode
dora de poder agora ocupar diferentes tirar bom proveito da solidão, e o último
papéis (da criança ao idoso, sempre sem homem tem uma estima muito baixa pela
um gênero definido), o livro tem um po- humanidade para que deseje recriá-la.
sicionamento claro sobre o que seria o Nessas narrativas, a experiência
biologicamente típico feminino e mascu- de sobreviver ao fim do mundo se asse-
lino. A mulher tem um trato bondoso e melha à fuga das nações autoritárias rea-
maternal com seus animais, ela é uma lizadas em distopias. Sozinhos no
com a natureza. Já o homem é impulsio- mundo, esses protagonistas têm a possi-
nado pelo ímpeto de destruir e matar. bilidade de agir de acordo com seus im-
Aqui também é refletido o dualismo en- pulsos e sem preocupações com regula-
tre capitalismo e vida rural. A mulher se mentos sociais ou com a opinião de ter-
entrega à vida rural, abandona padrões ceiros. Essas obras são odes ao individu-
de vestimenta e se dedica completamente alismo. O último homem tem tempo para
ao trabalho. Como em antigas poesias dedicar ao que realmente lhe importa, a
bucólicas, o passar do tempo é apresen- arte, e também está livre para expor suas
tado no romance por meio das variações opiniões recheadas de sarcasmo, mesmo
das tarefas agrárias nas diferentes esta- que não haja ninguém para ouvir. A úl-
ções. Esse regramento e esforço são tima mulher pode se soltar de amarras
apresentados como virtudes fundamen- culturais e desenvolver seu potencial por
tais do ser humano (WILLIAMS, 2011, meio de trabalhos braçais exaustivos, co-
p. 31). Já o homem, como se reconhece mumente reservados para homens (no
por suas vestes, é uma representação de contexto vivido por uma mulher de
um capitalismo que só explora e não re- classe média). Ou ela ainda pode desen-
tribui. Sua relação com a natureza é cor- volver seu potencial aventureiro e explo-
rompida. Uma reconciliação entre esses rador, como o faz Lisa. O diferencial
dois polos não é mais possível. dessas histórias é que não se está fugindo
A possibilidade de dar continui- de um sistema que não deu certo – é o
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dade à humanidade é rejeitada em ambas próprio gênero humano que é apresen-


as obras. O fim se apresenta como a me- tado como projeto falido.
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lhor opção. Essa não é uma escolha raci- É evidente que nenhum desses
onal em Die Wand; não há tempo para autores desejava o fim. A obra de

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Haushofer serve como alegoria e pode grupo de sobreviventes brasileiros apre-
demonstrar que, havendo possibilidade sente outra similaridade com o protago-
ou necessidade, mulheres poderiam se nista alemão: o passatempo de depredar
desenvolver de formas diferentes daque- a cidade. Suas ações incluem pintar toda
las que lhes eram impostas. Arno Sch- a Avenida Paulista de vermelho e derru-
midt, por sua vez, explora o papel do mi- bar a antena da TV Globo localizada na
santropo ao máximo, inclusive expondo mesma avenida. Como no caso do último
suas contradições: não é possível se odiar homem que quebra a vidraça de uma re-
a humanidade a ponto que não reste qual- partição pública como revanche contra
quer necessidade de contato. Hiltrud toda a burocracia do passado, a ação dos
Gnüg (apud Goodbody, 2006, p. 87) de- jovens também é repleta de significado.
fende que o cinismo e escapismo de Mais do que um “abaixo à rede Globo”,
Schwarze Spiegel servem a uma reafir- o trio está afirmando sua dominação so-
mação da individualidade como contra- bre a cidade: a Avenida Paulista lhes per-
ponto ao que o autor experimentou du- tence, a Globo não tem mais poder sobre
rante o Nazismo. Goodbody (2006, p. a política, a cidade ou suas vidas. Por
97) ainda salienta que, independente- que, então, apesar desse tipo de ação afir-
mente do tom pessimista, esse tipo de mativa, Blecaute não oferece uma visão
senso de humor pode ser entendido como mais positiva do fim, como as narrativas
um encorajamento para que se rompa de Schmidt e Haushofer?
com padrões de pensamento preestabele- Uma diferença crucial é que esta
cidos. A destruição do mundo é “posi- não é uma história de “último homem”,
tiva” porque ela corresponde ao des- mas sim de um trio. O grupo não avança
monte de antigos padrões e à liberação em direção à autodescoberta porque não
do ser humano. há espaço para o individual, cada inte-
grante do grupo continua tendo de se pre-
ocupar em algum grau com as atitudes
dos outros. O narrador, Rindu, tenta
O contraexemplo: blecaute manter o equilíbrio, enquanto o amigo,
Mário, se descontrola, bebe, coleciona
Nem toda história de último so- armas e desaparece por dias sem dar ex-
brevivente retrata o fim de forma tão po- plicações. Martina se irrita com os sumi-
sitiva. Blecaute (1986), de Marcelo Ru- ços do namorado, Mário, e também co-
bens Paiva, é um bom exemplo disso. O bra explicações sobre as idas e vindas de
texto apresenta um grupo de três adoles- Rindu. Mário, por sua vez, considera a
centes, dois rapazes e uma moça, que fi- namorada chata, enquanto Rindu nutre
cam acidentalmente presos em uma ca- uma paixão calada pela moça. Como
verna. Quando conseguem retornar, to- Schlöndorff (2013, p. 316) aponta, a li-
dos os humanos estão paralisados, pare- berdade completa vivida pelo protago-
cendo bonecos de borracha, mas outras nista de Schwarze Spiegel só é possível
formas de vida animal não foram afeta- porque não há outros sobreviventes; a
das. Como em Die Wand, a catástrofe é falta do julgamento do “outro” faz com
indolor e não há cadáveres em decompo- que o último homem se torne tão livre de
sição, o que atenua o trauma dos sobre- culpa como era Adão antes da vinda de
viventes, e, como em Schwarze Spiegel, Eva. Essa ausência de culpa e a liberdade
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toda a estrutura urbana foi preservada, que ela ocasiona não são experimentadas
facilitando o acesso a comida, transporte pelos protagonistas de Blecaute, que vi-
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e abrigo. Essas facilidades e o tempo li- vem um ciclo de preocupações e cobran-


vre que elas garantem fazem com que o ças.

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As dificuldades de encontrar um ficar enjoada sozinha, parir sozinha. [...]
espaço de liberdade pessoal são acentua- Eu vou embora. Vou deixar essa mulher
das pelo fato de os sobreviventes forma- aí, apodrecendo.” (PAIVA, 2007, p.
rem um grupo misto, dois homens e uma 160). Rindu afirma estar perplexo com a
mulher, gerando um previsível triângulo reação de Mário, mas acaba por abando-
amoroso. Conforme a história se apro- nar Martina à própria sorte, assim como
xima de seu desfecho, há a expectativa foi apregoado pelo amigo.
de que o grupo de amigos comece a que- Quando Mário vai embora enlou-
brar padrões preestabelecidos, quando quecido, o narrador segue seu rastro ape-
Rindu é incluído na vida sexual do casal. nas para vê-lo morrer em um acidente de
Mas já na consumação do ato há sinais paraquedas no Rio de Janeiro. Depois
de que tudo não passa de um jogo. Mário disso, Rindu não retorna para São Paulo
segura uma câmera e brinca de diretor para dar suporte à jovem grávida, mas re-
enquanto dá ordens para o seu amigo: solve viajar pelas Américas em busca de
Rindu deve rasgar o vestido de Martina, mais sobreviventes. Martina não tem
beijar seus seios, deitar-se com ela. São qualquer possibilidade de gozar da liber-
jogos de descoberta sexual adolescentes. dade que a protagonista de Die Wand
Inclusive, a idade dos protagonistas é ou- desfruta. Grávida, ela nunca estará com-
tra característica pela qual as narrativas pletamente só, e, sabendo não é a última
podem ser diferenciadas. Enquanto os sobrevivente, adentra um estado de es-
personagens de Blecaute são jovens e pera pelos homens que foram embora.
agem de acordo com as inseguranças tí- Os personagens de Blecaute não são, em
picas da idade, Schwarze Spiegel e Die nenhum momento, obrigados a romper
Wand apresentam pessoas de meia-idade com padrões sociais, e esse é o seu
com maior estabilidade para lidar com a grande infortúnio.
catástrofe e até para se redescobrir de Depois de anos, Rindu retorna de
forma mais soberana, sem grandes arrou- sua aventura de moto pelo mundo para
bos ou ansiedade. encontrar Martina morando em um casa-
Outro aspecto no qual as histórias rão na Avenida Paulista com o filho que
tomam sentidos divergentes é a possibi- carrega o nome do pai: Mário. Sua casa
lidade de repovoar a Terra, algo que tem um gerador de energia. Ao retorno
Martina declara abertamente ser o seu do amigo, Martina reage com um choro
desejo já no início do livro. A gravidez, longo e pesado. Os jovens amadurece-
contudo, quando ocorre, não fortalece a ram apenas para se tornarem aquilo que
união do grupo, mas sim o desfaz. En- a sociedade que os gerou pregava:
quanto se poderia esperar que a gravidez Rindu, o homem, vai viver a grande
trouxesse a perspectiva de reestrutura- aventura, sem dar qualquer satisfação,
ção, de modo que o trio pudesse redefinir mas sabendo que há um lar para retornar
suas regras de convivência e estabelecer no final. Martina, a mulher, se estabelece
uma família nuclear com dois pais, o que em um casarão próximo da região que o
se observa no final é uma repetição de grupo frequentava – em vez de explorar
atitudes clichês, com o jovem pai exi- todas as possibilidades da cidade –,
gindo sua liberdade e abandonando a torna-se uma mãe responsável e não nega
mulher grávida, acusando-a de inconse- a sua dependência emocional do homem
quente, como se ela fosse a única respon- quando este retorna. Que eles continuem
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sável por seu estado. Mário, que não de- centrados na região da Paulista prova que
seja ser pai, nem cuidar de uma criança sequer conseguiram se desvencilhar do
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pequena, bate em Martina e abusa dela espaço urbano: em vez de investir em


verbalmente: “Terá de vomitar sozinha, uma vida no campo, onde a subsistência

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seria mais realista do que passar a vida alívio que é escapar das cobranças e im-
comendo enlatados que em breve esta- posições sociais – já que elas ainda im-
riam todos estragados, Martina continua peram através da dinâmica do trio –, os
dependente da ideia de cidade e não con- amigos parecem condenados a uma repe-
segue se desprender sequer da energia, tição de padrões. A renovação não acon-
garantida pelo gerador. tece em Blecaute.
Nas últimas linhas do romance, Nessas histórias, a imagem da
Rindu leva o pequeno Mário para passear procriação assume o significado simbó-
de moto e, sobre o pico do Jaraguá, lhe lico de continuidade. Quando Rindu re-
mostra a cidade e afirma “Um dia, isso torna a São Paulo, ele vê um puma que
tudo será seu.” (PAIVA, 2007, p. 214). ele reconhece como “o dono da cidade”
Mas o pequeno Mário dificilmente se (PAIVA, 2007, p. 212). A natureza esta-
tornará o último homem, totalmente li- ria subvertendo as regras atuais, derru-
vre. Fica implícita a ideia de que, agora bando velhos padrões, mas o narrador
que o trio inicial virou um par, é possível não reconhece a quebra com o urbano
estabelecer uma família tradicional, que como algo bom. Rindu deseja que a pró-
gerará mais filhos e garantirá assim a xima geração recoloque o homem em sua
continuidade da humanidade. Todavia, posição superior. O pequeno Mário é que
não há sinais de que os protagonistas sin- deve se tornar o próximo dono da cidade.
tam que tenham encontrado seu lugar no Tudo deve voltar a ser como antes. Já
mundo, ou de que estejam satisfeitos. histórias como Schwarze Spiegele Die
Martina continuará apaixonada pelo na- Wand reconhecem que é necessária uma
morado abusador falecido, e Rindu sem- forte ruptura dos paradigmas vigentes e
pre saberá que está ocupando um lugar representam isso com a recusa em gerar
que não lhe cabe. Com atitudes calcadas prole. Note-se que mesmo as distopias
em regras velhas e enferrujadas, a catás- não costumam retratar a geração de fi-
trofe não é garantia de um verdadeiro re- lhos como finalidade do encontro de ca-
começo. sais. Os encontros entre homem e mulher
são comuns e, como mencionado anteri-
ormente, tendem a servir ao despertar da
autoconsciência do protagonista que, en-
Considerações finais tão, se rebela. Crianças, em distopias, são
um tema principalmente de interesse do
Em comparação com Schwarze Estado, com suas regras de planejamento
Spiegel e Die Wand, fica evidente que familiar. Em outras palavras, aqui tam-
Blecaute, apesar de citar a antena da rede bém os filhos só visam à continuidade
Globo, não chega a identificar padrões dos velhos padrões.
que devem ser derrubados. Como adoles- Enquanto é verdade que obras
centes que são, os personagens permane- ficcionais apocalípticas são mais comuns
cem centrados em suas desavenças pes- em tempos de crise, o que se observa
soais, e a mudança do cenário no qual es- aqui é que a catástrofe por si só não é
tão inseridos não chega a ser utilizada vista como ferramenta de renovação,
para prover a ampliação de seus valores mas como impulso para que se reconhe-
ou a autodescoberta. Sem a identificação çam e se repensem estruturas falidas.
clara de um sistema que deve ser comba- Mesmo na esfera simbólica, a mudança
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tido, como ocorre nas distopias, sem um final não é ocasionada por fenômenos
declarado desprezo pelas vilanias huma- que estejam além das decisões individu-
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nas como em Schwarze Spiegel e sem ais. Assim, ao contrário de qualquer ex-
qualquer possibilidade de reconhecer o pectativa, pode-se observar que histórias

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de catástrofe podem ser conservadoras, zur Genealogie der Endzeit. Berlin: Aka-
em especial quando o desejo maior é a demieVerlag., 2013, p. 313-326.
restauração da antiga ordem. Estas não WILLIAMS, Raymond. O campo e a ci-
oferecem uma fuga da sociedade opres- dade. Na história e na literatura. Trad.
sora em direção a uma nova realidade. Paulo Henrique Britto. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2011.
São justamente as histórias que, desejo- ZEISSLER, Elena. Dunkle Welten. Die
sas do apocalipse, reconhecem que as Dystopie auf dem Weg ins 21. Jahrhun-
coisas não estão nada bem e, com isso, dert. Marburg: Tectum, 2008.
são capazes de trazer um gérmen de ação
para a mudança.

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25

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dländische Apokalyptik. Kompendium

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