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O que temos para hoje: pirâmide invertida no jornalismo on-line1

COSTA, Helton (Doutorando em Comunicação e Linguagens)2


Universidade Tuiuti do Paraná/Paraná

Resumo: este artigo tem como objetivo revisar a discussão sobre o uso da pirâmide invertida dentro do
jornalismo on-line, posicionando-se ao final sobre a utilização do método. Para isso o artigo faz um breve
histórico das fases do jornalismo on-line, traz suas características e as duas linhas divergentes que
defendem a continuidade e o fim utilização da pirâmide, mostrando que em ambos os casos há prós e
contras e que no final o que dirá qual deve ser usado será o tamanho do texto e a capacidade de ligar
informações e blocos de informação, que aparentemente estão separados, por parte do autor, ainda que
quem seja contrário à pirâmide diga que a não utilização da ferramenta diminui o papel do jornalista no
processo. Nesse ponto o artigo trará outra proposta, mostrando que na verdade a pirâmide possibilita que
o próprio leitor/usuário construa sua forma de ler o texto, ainda que de forma direcionada e hierarquizada
dentro da própria narrativa.

Palavras-chave: pirâmide invertida; jornalismo on-line; linearidade

Antes de investigar as duas formas mais usuais e mais comuns dentro da


estrutura textual do jornalismo on-line, é preciso fazer um breve histórico da própria
área, uma vez que os atuais três jornais on-line mais acessados do país na atualidade e
que não são portais, segundo o medidor Alexa3, têm origem em transmediações de
jornais impressos e de jornais televisivos4.

1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Digital, integrante do 9º Encontro Nacional de


História da Mídia, 2013. Trabalho ligado ao Grupo de Pesquisa JOR XXI que tem como líderes a Profa.
Dra. Claudia Quadros e Prof. Dr. Álvaro Laranjeira na Universidade Tuiuti do Paraná.
2 Doutorando em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná.
3
O indicador Alexa é um serviço de informações sobre o tráfego da Internet Mundial criado pela Alexa
Internet Inc, uma empresa controlada pela gigante Amazon.com, que mede quantos usuários de internet
visitam um determinado site. A fórmula exata de cálculo (métricas) nunca foram divulgadas , mas
especialistas afirmam que os dados estão baseados em milhões de análises de tráfego de usuários do
Alexa Toolbar (ferramenta de avaliação de tráfego que pode ser instalado no site), bem como de coleta de
informações possivelmente ligadas ao acessos em sites de busca como: Google Search, Yahoo! Search,
Gmail, Yahoo! Mail, Google Trends, Google AdWords AdSense, MSN Search, MSN Messenger, Google
Analytics e agora o Google Offers”. (Disponível em www.bolsadeofertas.com.br)
4
Com atividade fim jornalismo, segundo a classificação do Alexa: IG (13º), Folha OnLine (22º) e
Estadão (49º). Se considerássemos os portais: Universo Online [Uol] (5º), Globo (6º), Terra (12º),
Disponível em http://www.alexa.com/topsites/countries;1/BR . Acesso em 29 de março de 2013.
Iniciado em 1995 o ciberjornalismo é hoje o terceiro meio de informação mais
utilizado no Brasil (Ibope, 2012), a frente de meios tradicionais como revistas e jornais.
Desde a década de 60 quando a Internet ainda estava em fase de pesquisa até sua
popularização nos anos 90, passando pela criação dos primeiros ciberjornais nos
Estados Unidos, até os dias atuais essa área de conhecimento só tem se expandido.
Segundo Müller (2006) “o boom dos diários digitais foi entre 1995 e 1996”.
(MÜLLER, 2006, p.02). “A iniciativa foi de um grupo de empresários que teve a ideia
de distribuir notícias na Internet, por causa da rapidez de difusão da informação”.
(QUADROS, 2002, p.07)
O Jornal do Brasil foi o primeiro a fazer uma cobertura completa no espaço virtual
no país em 1995. Ele foi disponibilizado integralmente na web em 28 de maio, seguido
por Zero Hora, do grupo RBS, em junho do mesmo ano“. (MÜLLER, 2006, p.05).
De lá para cá muita coisa mudou e a Internet deu um grande salto. O
“Registro.br” que comercializa os domínios de sites do país divulga que passa de 3.141
mil o número de sites registrados no país até 28 de março de 2013. (Disponível em
http://registro.br/estatisticas.html). Nesse contexto estão também inseridos os
webjornais, tantos aqueles transmediados da versão impressa, quanto àqueles feitos
especificamente de atender o público da Internet, o que leva a uma separação
cronológica da evolução em andamento na área específica do Jornalismo com
veiculação pela Internet.
Cronologia evolutiva
Esse jornalismo on-line estaria agora entrando em uma quarta fase de evolução.
Conforme explica Palacios (2006), a primeira fase teria sido o da reprodução de partes
dos grandes jornais impressos na Internet. Na segunda fase o modelo tradicional ainda
foi mantido, mas com alguns implementos específicos do Jornalismo On-line, como
ferramentas interativas “e-mail, para comunicação entre jornalista e leitor; fóruns de
debates; surgem as seções como últimas Notícias” (MACHADO, 2003, p.49).
Agora estaria terminando a terceira fase que Palacios (2006) define como “new
journalism on-line”, onde os sites “ultrapassam a ideia de uma versão para a web de um
veículo já existente e empresas jornalísticas são criadas não mais em decorrência de
uma tradição do jornalismo impresso” (TORQUATO, 2005, p.33)
Nessa terceira fase citada, há uma sistematização de atributos que são debatidos
e organizados como características que definem o ciberjornalismo. São apontadas como
características a interatividade, o hipertexto, a localidade, a personalização, a
instantaneidade e a apetência pela profundidade através da navegabilidade.
(TORQUATO, 2006, p. 45).
Machado e Palacios (2003) concentram as seis características citadas em cinco:
multimidialidade/convergência, interatividade, hipertextualidade, personalização e
memória. (MACHADO & PALACIOS, 2003, p.02). Essas seis características ainda
estão dentro da terceira geração do jornalismo.

A caracterização desse estágio pressupõe base tecnológica


ampliada, acesso expandido por meio de conexões banda larga,
proliferação de plataformas móveis, redação descentralizada e
adoção de sistemas que permitam a participação do usuário,
produtos criados originalmente para veiculação no ciberespaço,
conteúdos dinâmicos formatados em narrativas multimídia,
experimentação de novos elementos conceituais para
organização da informação, assim como de novos gêneros.
(BARBOSA, 2007, p.129)

A quarta geração, que Canavilhas (2012) chama de “Quarto Ecrã”, traz como
novidade a entrada em cena de outros dispositivos para recebimento de conteúdo
jornalístico, que são os chamados dispositivos móveis, podendo significar os aparelhos
telefônicos ou os populares tablet’s, por exemplo, que são possíveis de navegabilidade
através de redes sem fio (wireless). (CANAVILHAS, 2012)
Nesse novo patamar, Canavilhas (2012) vê uma mudança também na forma de
se direcionar conteúdo, uma vez que o público consumidor de conteúdo estaria ficando
mais exigente.

“A emergência dos chamados terceiro e quarto ecrã (Aguado, 2008)


obrigou os meios de comunicação a efetuar reajustamentos nas suas
estratégias de distribuição. A possibilidade de fazer chegar os
conteúdos aos computadores e telemóveis dos consumidores abriu
novos canais, mas criou igualmente a oportunidade de lançar novos
formatos jornalísticos mais apelativos e adaptados a utilizadores cada
vez mais exigentes”. (CANAVILHAS, 2012, p.07)

Porém, desde 1995 até a data de publicação deste artigo, alguns formatos de
apresentação da notícia por canais via Internet continuam imutáveis. Mudaram-se os
meios, permaneceram os formatos. É o caso do texto jornalístico baseado no lead5 e na
pirâmide invertida, que segue um modelo linear de leitura. Nesse artigo o que se busca
não é reafirmar a usabilidade deste modelo, nem desacreditá-lo. O que será mostrado,
são suas vantagens e desvantagens em relação à uma leitura não linear, que encontra
respaldo principalmente nos escritos do pesquisador português João Canavilhas.
Antes, porém é preciso fazer algumas considerações à respeito desse método de
transmissão de informações que já tem mais de 170 anos de idade, já que tem sua
origem ligada à invenção do telégrafo em 1837, quando preocupados com a parte
técnica, uma vez que a transmissão poderia ser cortada, usuários transmitiam primeiro
as parte mais importantes daquilo que queriam dizer. (FRANCO, 2008, p.55)
Já a popularização do método para a imprensa, para o jornalismo, teria sido
durante a Guerra Civil Norte-americana, quando correspondentes utilizaram o telégrafo
para enviar suas informações para as redações.

“Perante esta situação, os operadores de telégrafo criaram um método


para dar prioridade em simultâneo a todos os correspondentes. O
método consistiu em fazer uma fila de informadores em que cada um
podia ditar um parágrafo ‘o mais importante’ da sua informação. Ao
acabar o turno iniciava-se o ditado do segundo parágrafo, e assim até
final. Nascera a pirâmide invertida da notícia, método ainda hoje em
vigor” (Fontcuberta, 1996, p.59).

Nos jornais o modelo continuou a ser usado e ainda o é. Com o nascimento da


Internet, sua popularização e a imigração de profissionais do jornalismo impresso para o
mercado on-line, em 1995, antigos costumes podem ter sido levados para a área então
nascente no Brasil.
Porém, hoje, em 2013, quando o ciberjornalismo (uma outra designação para o
jornalismo on-line) alcança sua maioridade, ao atingir 18 anos, o modelo ainda está
presente na maioria das redações.
Contra ela, os críticos afirmam ser um modelo já superado, que precisa ser
substituído. A visão de Canavilhas (2007), por exemplo, defende uma reformulação, e
propõe que dizer o que é mais importante para o leitor, está deixando de ser função do
jornalista, já que o leitor/usuário teria uma maneira própria de conduzir sua leitura,
muitas vez não linear.

5
As perguntas: Quem? Quê? Quando? Como? Onde? Por quê?, que devem ser respondidas no primeiro
nível do texto.
“Pero con la introducción del hipertexto en la noticia, el usuario puede
definir los recorridos de lectura en función de sus intereses personales,
por lo que los supuestos que sirven de base a la técnica de la pirámide
invertida necesitan una revisión a luz de una nueva realidad: ya no es
el periodista quien determina lo que es más importante, porque la
interactividad permite al usuario una lectura muy personal de la
noticia”. (CANAVILHAS, 2007, p.85)

Canavilhas (2007) cita um estudo realizado por ele no ano anterior à publicação
da obra, em 2007, onde sujeitou participantes a lerem notícias on-line “con múltiples
posibilidades de lectura ofrecidas por un hipertexto”. Ele concluiu que “77 % de los
lectores sigue un recorrido de lectura propio: en el tercer momento de interacción ya
existían 22 recorridos de lectura entre los 55 posibles”, o que provaria a preferência
por uma navegação livre, sem obedecer o estruturalismo que a escrita linear pressupõe.
(CANAVILHAS, 2007, p. 85)
No ano seguinte do estudo de Canavilhas (2007), “Roy Peter Clark, professor do
Poynter Institute, centro de pesquisa e formação em jornalismo com sede na Flórida
(Estados Unidos), incluiu a pirâmide invertida numa lista de “maravilhas do mundo
jornalístico”. (FRANCO, 2008, p. 52)
“Ironicamente, essa distinção vem num momento no qual, em muitas
redações do mundo, se diz que a pirâmide invertida ficou fora de
moda, sendo substituída por outras técnicas narrativas – uma posição
absolutamente polêmica. Em alguns casos, o resultado do uso dessas
técnicas narrativas é tão pobre (em essência, dilui a informação),
sobretudo no ambiente online, que seria possível falar da transição “da
pirâmide invertida à pirâmide pervertida”. (FRANCO, p.52)

O debate entre prós e contras ao uso da pirâmide vai ainda mais longe e é motivo
de discussões acirradas entre os pesquisadores da área, como relata Zamith (2005), que
afirma ter participado de um encontro onde o assunto foi debatido com seus prós e
contras e que ao final, grupos se dividiram.

“Na polémica que se gerou após o congresso de Santiago de


Compostela 6 , Ramón Salverría foi extremamente cáustico na crítica
aos defensores da pirâmide invertida, propondo mesmo a “criação” do
Partido de la Redacción Ciberperiodística (PRC) 7 , que, jocosamente,
disse ser também conhecido nos “círculos clandestinos” como Partido
Contra los Perceptistas Anticuados de la Pirâmide Invertida. A
reacção do director do Laboratório de Comunicação Multimédia da
Universidade de Navarra nasceu, contudo, de um equívoco: Nem
María José Cantalapiedra nem Rosental Alves defenderam a pirâmide
invertida como “formato redactorial único e supremo para os
cibermeios”. Ambos se fixaram na cibernotícia e, no caso de Alves,
apenas nas hard news, dado que há outras técnicas mais aconselháveis
para outros géneros jornalísticos. A excessiva rudeza das palavras de
Salaverría foi reconhecida pelo próprio, que, aquando do
relançamento do debate por Carlos Castilho, colocou um novo
comentário no blogue Intermezzo 8 , pedindo desculpa a quem se
tivesse sentido ofendido e explicando os seus argumentos de um modo
menos “mal-humorado”. Salaverría afirma que “a pirâmide invertida
serve, mas não basta”: (ZAMITH, 2005, p.1.599)

É neste ponto que este artigo se situa, na utilidade da pirâmide, que se mostra,
segundo Franco (2008), como “a melhor estrutura para apresentar textos”, porque com
a Internet “abriu a possibilidade de que o próprio usuário a construa”. (FRANCO,
2008, p.52).
Ao contrário dos defensores da leitura não linear, que seria resultado da não
utilização da pirâmide, Nielsen (1996), chega a afirmar que “na Web, a pirâmide
invertida chega a ser até mais importante”. (NIELSEN, 1996, disponível em
http://www.nngroup.com/articles/inverted-pyramids-in-cyberspace/ )

“(...) sabemos por vários estudos que os usuários não rolam a tela, e
portanto muito frequentemente eles leem só a parte superior do artigo.
Os usuários muito interessados rolarão a tela, e essas poucas almas
motivadas encontrarão a base da pirâmide e obterão a matéria
completa em todos seus detalhes”. (NIELSEN, 1996, disponível em
http://www.nngroup.com/articles/inverted-pyramids-in-cyberspace/ )

Mais tarde, o mesmo autor iria rever seu ponto de vista sobre o fato da rolagem
da página, mas não mudaria de ideia quanto à inserção primeira dos fatos mais
importantes, reafirmando o que dissera anteriormente, o que é aceitável, já que a
Internet passa por constantes atualizações de ferramentas de usabilidade.

“Em 1996, eu disse que ‘os usuários não rolam a tela’. Isso estava
certo naquele momento: muitos, se não a maioria, dos usuários só
olhavam a parte visível da página e raramente faziam ‘scroll’ para
abaixo da dobra (primeira tela). A evolução da Web mudou essa
conclusão. À medida que os usuários experimentaram mais com
páginas que têm rolagem, muitos passaram a fazê-lo. Porém, sempre é
bom assegurar-se de que a informação mais importante apareça na
primeira tela e evitar as páginas muito longas”. (NIELSEN, 1997,
disponível em http://www.nngroup.com/articles/inverted-pyramids-in-
cyberspace/ )

Para quem defende a revisão ou o fim da pirâmide invertida, o uso de tal


ferramenta poderia ser substituído por blocos de notícia no decorrer da notícia, o que
traria uma nova configuração até mesmo para a rotina de trabalho do jornalista que
teria, segundo Canavilhas (2012), que utilizar um estilo de redação que deixe diferentes
rotas de leitura para os usuários, com diferenças de necessidades de informação.
(CANAVILHAS, 2012, p. 86)

Aunque una noticia con una arquitectura abierta presente evidentes


ventajas, también plantea algunos problemas. Por ejemplo, la
coherencia del documento, algo importante en un texto lineal, pero
que adquiere aún más importancia en una situación en que hay
múltiples recorridos de lectura. El hecho de que la navegación sea
libre, obliga el autor del contenido a dejar pistas de lectura
(hypertrails) para que cada usuario encuentre una coherencia en el
documento (Storrer, 2002) y, sobretodo, que no se pierda en la lectura.
A ello contribuye igualmente todo el diseño del sitio Web. Un sistema
de navegación intuitivo, simple y fácil de usar es absolutamente
necesario para que el usuario se sien-ta confortable en la lectura
(Theng, Rigny, Thimbleby y Jones, 1996), esperándose que los
usuarios, al sentirse cómodos, tengan una experiencia más gratificante.
(Canavilhas, 2012, p. 86-7)

Pirâmides possíveis

Franco (2008) defende a utilização da pirâmide “adaptada – com ajustes


relativamente pequenos – ao ambiente online”. Ele dá três níveis (formas) de utilização
da pirâmide invertida, indo desde um nível mais básico, idêntico ao dos jornais
impressos, por exemplo, até um nível que privilegia as características da Internet, como
por exemplo, os hiperlinks, que seriam as peças chaves para uma leitura não linear,
como defendem os que não são favoráveis à utilização da técnica. (FRANCO, 2008,
p.55-62)
O primeiro nível seria marcado pela pouca interferência do autor/editor para
apresentação do conteúdo, uma vez que teria que utilizar apenas o lead complementado
por informações secundárias para informar.
Já o segundo nível, Franco (2008) sugere um “texto linear dividido
tematicamente em uma só página Web”.

“Neste nível, o autor/editor realiza o exercício de hierarquização e


classificação (ou taxonomia, se preferir) do texto. A partir do assunto
principal, exposto no primeiro parágrafo, ele define subtemas que são
apresentados ou introduzidos por intertítulos dentro da mesma página.
Se o autor/editor conseguir criar uma independência total de cada um
deles, ele permite ao usuário uma leitura não linear dentro da mesma
página.”. (FRANCO, 2008, p.58)
Por último, o terceiro nível, usa-se a mesma metodologia do segundo, porém,
“uma vez definidos o tema e os subtemas, que vão em diferentes páginas, o exercício de
hierarquização se concentra em entregar os elementos destes últimos em ordem
decrescente de importância”. (FRANCO, 2008, p.60)

“O resultado final deste trabalho é uma introdução ao assunto, seguida


por links que levam aos subtemas. A ordem em que são apresentados
os subtemas pode sugerir uma rota de navegação, mas o usuário pode
optar por uma rota alternativa. Isto pressupõe que é o usuário quem
determina a hierarquia da informação (o que é o mais importante e o
que é menos) e, em última análise, é ele quem constrói sua própria
pirâmide. Outra maneira de dizer isso: neste nível, há uma ruptura da
linearidade”. (FRANCO, 2008, p.60-1)

As figuras abaixo dão uma noção dos três modelos aqui apresentados:

Figura 1: Pirâmide invertida, nível básico de utilização


Fonte: FRANCO, 2008, p.57
Figura 2: Pirâmide invertida, segundo nível de utilização
Fonte: FRANCO, 2008, p.59

Figura 3: Pirâmide invertida, terceiro nível de utilização


Fonte: FRANCO, 2008, p.61

Logo, o que se pode notar, é que no terceiro nível, há uma aproximação (ou seria
uma apropriação?) do modelo não linear, sem, no entanto, perder o foco informativo
hierarquizado que caracteriza o texto linear convencional. Seria, portanto,
responsabilidade do autor, definir qual método utilizar. Porém, como fazer isso? Como
decidir qual a melhor apresentação textual?
Mais uma vez, Franco (2008) revela uma pista de como pode ser feita essa
escolha. Para Franco (2008), o tamanho do texto é que vai dizer qual modelo melhor se
enquadra ao que se quer noticiar. “Não faz sentido dividir tematicamente um texto muito
curto, como também não tem lógica mandar o usuário ver o desenvolvimento de um
subtema numa página diferente quando esta tem apenas dois ou três parágrafos”.
(FRANCO, 2008, p.64)
Na época da discussão entre os pesquisadores de ciberjornalismo relatada por
Zamith (2005), após o congresso de Santiago de Compostela, quando Ramón
Salaverría, María José Cantalapiedra e Rosental Alves apresentaram seus
posicionamentos divergentes, os dois últimos já davam a entender que a pirâmide
poderia receber adaptações e Rosental Alves defendeu o formato apenas para as
“hard news, dado que há outras técnicas mais aconselháveis para outros gêneros
jornalísticos”. (ZAMITH, 2005, p.07)
Coincidência ou não, o livro de Franco (2008) faz parte da coleção de
publicações do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, onde Rosental Alves é
diretor, o que pode confirmar uma concordância na defesa de ideias dos dois
pesquisadores.
Uma pirâmide para os leitores
A pirâmide invertida se torna importante ainda, devido ao grau de profundidade
de leitura dos usuários, que geralmente não lê até o final do texto. Pesquisa do Poynter
Institute, da Flórida (Estados Unidos), que data de 20076, mostrou que as pessoas lêem
em profundidade nos websites de jornais, até mais do que nas edições impressas.
Participaram da pesquisa 605 pessoas. (Disponível em http://eyetrack.poynter.org/)

No caso do Eyetrack07, eram duas câmeras: uma registrava os


movimentos do olho; a outra, o ponto em que observavam a tela ou a
edição impressa. (...) De acordo com os pesquisadores, os
participantes online do EyeTrack07 leram 77% do texto que
escolheram. Essa cifra é alta se for comparada com o que leram os
participantes dos formatos impressos em formato standard, 62%, e os

6
Até esse momento é a mais atual sobre o assunto, uma vez que a pesquisa de 2012 do grupo avaliava
somente o grau de atenção na visualização de conteúdo de tablet’s. Sobre este tema ver
http://www.poynter.org/how-tos/newsgathering-storytelling/visual-voice/191875/new-poynter-
eyetrack-research-reveals-how-people-read-news-on-tablets/
do tablóide, 57%. Os pesquisadores estabeleceram que esse
comportamento – maior leitura online do que impressa – não dependia
do tamanho dos textos. Também estabeleceram que os leitores online
tendiam a completar a leitura dos textos selecionados mais do que os
leitores do impresso: 63%, comparado com 40% em standard e 36%
em tablóide. (Franco, 2008, p.28)

Nos outros meios de informação que requerem leitura, as pessoas também não
vão até o final, o que justificaria colocar as informações principais em primeiro plano. O
mesmo se dá na Internet.
O único questionamento que surge quanto à essa vertente da utilização da
pirâmide, é afirmar o que é mais importante ou sob a perspectiva de quem algo é
importante, o que seria relativo e passaria pelas rotinas jornalísticas das quais fala
GADINI (2008).
Nesse caso, a notícia teria que passar a ser entendida como um recorte do real
influenciado pelo jornalista e pelo ambiente onde ele está inserido, bem como pela
formação que ele traz consigo.

Limites de tempo e espaço; condições de produção; qualificação


profissional e interferência empresarial na orientação editorial são,
assim, alguns fatores que podem marcar o processo de produção,
circulação e consumo da informação jornalística. Fatores esses que
podem redirecionar os sentidos que vão ser destacados e marcar a
apresentação dos mais diversos produtos do jornalismo
contemporâneo. Da mesma forma, os desdobramentos políticos,
econômicos e culturais dessa perspectiva estão diretamente associados
aos modos de organizar, viver, pensar e agir dos indivíduos que
participam de um determinado contexto e época. (Gadini, 2008, p.84)

Conclusão
O que se pode dizer após o confronto entre as duas formas de produzir um texto
para o ambiente on-line do jornalismo, é que o uso da pirâmide invertida traz consigo a
possibilidade de uma leitura linear. É importante que se diga que se trata de uma
possibilidade, porque até mesmo em um jornal impresso existem formas de leitura não
linear. (SILVA, 2011, p.1-2)
Pode-se notar também o inverso, onde um texto produzido inicialmente para não
ser linear (sem seguir o esquema da pirâmide) pode ser lido de maneira linear, do
começo ao fim.
Assim, concordamos com Franco (2008) e seus modelos de níveis, onde o que
definirá o uso de blocos independentes ou não será o tamanho do texto. Da mesma
maneira, é de se ressaltar que o que foi discutido aqui, foi a forma textual de
apresentação de conteúdo para jornalismo de Internet e não a forma de apresentação da
notícia como um todo para o usuário.
Por qualquer que seja o método utilizado, se fazem necessárias as demais
características da Internet das quais falam Machado e Palacios (2003). A tela (página)
onde o texto (linear/não linear) estará posto, continuará a precisar da
multimidialidade/convergência (com podcasts, vídeos, galerias de imagens), da
interatividade (comentários, espaço de participação, blogs, entre outros)
hipertextualidade, personalização e memória.
É o texto em conjunto com essas outras ferramentas que dará sentido e contexto
ao que está querendo ser comunicado, havendo no terceiro nível proposto por Franco
(2008), uma grande semelhança entre os blocos não lineares de Canavilhas (2007) e a
forma linear de produção.
Outras pesquisas poderiam mostrar até que ponto a fuga dos leitores para pontos
diferentes do texto poderiam ser prejudiciais para o entendimento do “todo” da matéria
jornalística e se esses prejuízos não seriam ainda maiores caso o usuário fosse
redirecionado para outra página, seja no próprio jornal, seja de outro site.
Mesmo assim, conforme o modelo proposto por Franco (2008), ainda seria
necessária uma hierarquização dentro de cada sub-bloco, caso contrário poderia haver
uma descontinuidade das próprias frases.
É de se ressaltar também, que com a redução das telas, migrando para telefones
celulares, tablet’s, smartphones e outros dispositivos móveis, pode ser necessária uma
hierarquização das informações, pelo menos para os conteúdos escritos, já que os
formatos mais populares para esses tipos de dispositivos e que mais chamam a atenção
são aqueles de áudio, vídeo e imagens7.
Em suma, é o que afirmamos no início do artigo, pirâmide invertida é o que
temos para hoje (no sentido de agora), pelo menos até que um novo modelo se mostre
mais eficiente.

7
Ver mais sobre o estudo em http://www.poynter.org/how-tos/newsgathering-storytelling/visual-
voice/191875/new-poynter-eyetrack-research-reveals-how-people-read-news-on-tablets/
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