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4 Historia - Da - Midia - Digital - Helton - Costa PDF
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Resumo: este artigo tem como objetivo revisar a discussão sobre o uso da pirâmide invertida dentro do
jornalismo on-line, posicionando-se ao final sobre a utilização do método. Para isso o artigo faz um breve
histórico das fases do jornalismo on-line, traz suas características e as duas linhas divergentes que
defendem a continuidade e o fim utilização da pirâmide, mostrando que em ambos os casos há prós e
contras e que no final o que dirá qual deve ser usado será o tamanho do texto e a capacidade de ligar
informações e blocos de informação, que aparentemente estão separados, por parte do autor, ainda que
quem seja contrário à pirâmide diga que a não utilização da ferramenta diminui o papel do jornalista no
processo. Nesse ponto o artigo trará outra proposta, mostrando que na verdade a pirâmide possibilita que
o próprio leitor/usuário construa sua forma de ler o texto, ainda que de forma direcionada e hierarquizada
dentro da própria narrativa.
A quarta geração, que Canavilhas (2012) chama de “Quarto Ecrã”, traz como
novidade a entrada em cena de outros dispositivos para recebimento de conteúdo
jornalístico, que são os chamados dispositivos móveis, podendo significar os aparelhos
telefônicos ou os populares tablet’s, por exemplo, que são possíveis de navegabilidade
através de redes sem fio (wireless). (CANAVILHAS, 2012)
Nesse novo patamar, Canavilhas (2012) vê uma mudança também na forma de
se direcionar conteúdo, uma vez que o público consumidor de conteúdo estaria ficando
mais exigente.
Porém, desde 1995 até a data de publicação deste artigo, alguns formatos de
apresentação da notícia por canais via Internet continuam imutáveis. Mudaram-se os
meios, permaneceram os formatos. É o caso do texto jornalístico baseado no lead5 e na
pirâmide invertida, que segue um modelo linear de leitura. Nesse artigo o que se busca
não é reafirmar a usabilidade deste modelo, nem desacreditá-lo. O que será mostrado,
são suas vantagens e desvantagens em relação à uma leitura não linear, que encontra
respaldo principalmente nos escritos do pesquisador português João Canavilhas.
Antes, porém é preciso fazer algumas considerações à respeito desse método de
transmissão de informações que já tem mais de 170 anos de idade, já que tem sua
origem ligada à invenção do telégrafo em 1837, quando preocupados com a parte
técnica, uma vez que a transmissão poderia ser cortada, usuários transmitiam primeiro
as parte mais importantes daquilo que queriam dizer. (FRANCO, 2008, p.55)
Já a popularização do método para a imprensa, para o jornalismo, teria sido
durante a Guerra Civil Norte-americana, quando correspondentes utilizaram o telégrafo
para enviar suas informações para as redações.
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As perguntas: Quem? Quê? Quando? Como? Onde? Por quê?, que devem ser respondidas no primeiro
nível do texto.
“Pero con la introducción del hipertexto en la noticia, el usuario puede
definir los recorridos de lectura en función de sus intereses personales,
por lo que los supuestos que sirven de base a la técnica de la pirámide
invertida necesitan una revisión a luz de una nueva realidad: ya no es
el periodista quien determina lo que es más importante, porque la
interactividad permite al usuario una lectura muy personal de la
noticia”. (CANAVILHAS, 2007, p.85)
Canavilhas (2007) cita um estudo realizado por ele no ano anterior à publicação
da obra, em 2007, onde sujeitou participantes a lerem notícias on-line “con múltiples
posibilidades de lectura ofrecidas por un hipertexto”. Ele concluiu que “77 % de los
lectores sigue un recorrido de lectura propio: en el tercer momento de interacción ya
existían 22 recorridos de lectura entre los 55 posibles”, o que provaria a preferência
por uma navegação livre, sem obedecer o estruturalismo que a escrita linear pressupõe.
(CANAVILHAS, 2007, p. 85)
No ano seguinte do estudo de Canavilhas (2007), “Roy Peter Clark, professor do
Poynter Institute, centro de pesquisa e formação em jornalismo com sede na Flórida
(Estados Unidos), incluiu a pirâmide invertida numa lista de “maravilhas do mundo
jornalístico”. (FRANCO, 2008, p. 52)
“Ironicamente, essa distinção vem num momento no qual, em muitas
redações do mundo, se diz que a pirâmide invertida ficou fora de
moda, sendo substituída por outras técnicas narrativas – uma posição
absolutamente polêmica. Em alguns casos, o resultado do uso dessas
técnicas narrativas é tão pobre (em essência, dilui a informação),
sobretudo no ambiente online, que seria possível falar da transição “da
pirâmide invertida à pirâmide pervertida”. (FRANCO, p.52)
O debate entre prós e contras ao uso da pirâmide vai ainda mais longe e é motivo
de discussões acirradas entre os pesquisadores da área, como relata Zamith (2005), que
afirma ter participado de um encontro onde o assunto foi debatido com seus prós e
contras e que ao final, grupos se dividiram.
É neste ponto que este artigo se situa, na utilidade da pirâmide, que se mostra,
segundo Franco (2008), como “a melhor estrutura para apresentar textos”, porque com
a Internet “abriu a possibilidade de que o próprio usuário a construa”. (FRANCO,
2008, p.52).
Ao contrário dos defensores da leitura não linear, que seria resultado da não
utilização da pirâmide, Nielsen (1996), chega a afirmar que “na Web, a pirâmide
invertida chega a ser até mais importante”. (NIELSEN, 1996, disponível em
http://www.nngroup.com/articles/inverted-pyramids-in-cyberspace/ )
“(...) sabemos por vários estudos que os usuários não rolam a tela, e
portanto muito frequentemente eles leem só a parte superior do artigo.
Os usuários muito interessados rolarão a tela, e essas poucas almas
motivadas encontrarão a base da pirâmide e obterão a matéria
completa em todos seus detalhes”. (NIELSEN, 1996, disponível em
http://www.nngroup.com/articles/inverted-pyramids-in-cyberspace/ )
Mais tarde, o mesmo autor iria rever seu ponto de vista sobre o fato da rolagem
da página, mas não mudaria de ideia quanto à inserção primeira dos fatos mais
importantes, reafirmando o que dissera anteriormente, o que é aceitável, já que a
Internet passa por constantes atualizações de ferramentas de usabilidade.
“Em 1996, eu disse que ‘os usuários não rolam a tela’. Isso estava
certo naquele momento: muitos, se não a maioria, dos usuários só
olhavam a parte visível da página e raramente faziam ‘scroll’ para
abaixo da dobra (primeira tela). A evolução da Web mudou essa
conclusão. À medida que os usuários experimentaram mais com
páginas que têm rolagem, muitos passaram a fazê-lo. Porém, sempre é
bom assegurar-se de que a informação mais importante apareça na
primeira tela e evitar as páginas muito longas”. (NIELSEN, 1997,
disponível em http://www.nngroup.com/articles/inverted-pyramids-in-
cyberspace/ )
Pirâmides possíveis
As figuras abaixo dão uma noção dos três modelos aqui apresentados:
Logo, o que se pode notar, é que no terceiro nível, há uma aproximação (ou seria
uma apropriação?) do modelo não linear, sem, no entanto, perder o foco informativo
hierarquizado que caracteriza o texto linear convencional. Seria, portanto,
responsabilidade do autor, definir qual método utilizar. Porém, como fazer isso? Como
decidir qual a melhor apresentação textual?
Mais uma vez, Franco (2008) revela uma pista de como pode ser feita essa
escolha. Para Franco (2008), o tamanho do texto é que vai dizer qual modelo melhor se
enquadra ao que se quer noticiar. “Não faz sentido dividir tematicamente um texto muito
curto, como também não tem lógica mandar o usuário ver o desenvolvimento de um
subtema numa página diferente quando esta tem apenas dois ou três parágrafos”.
(FRANCO, 2008, p.64)
Na época da discussão entre os pesquisadores de ciberjornalismo relatada por
Zamith (2005), após o congresso de Santiago de Compostela, quando Ramón
Salaverría, María José Cantalapiedra e Rosental Alves apresentaram seus
posicionamentos divergentes, os dois últimos já davam a entender que a pirâmide
poderia receber adaptações e Rosental Alves defendeu o formato apenas para as
“hard news, dado que há outras técnicas mais aconselháveis para outros gêneros
jornalísticos”. (ZAMITH, 2005, p.07)
Coincidência ou não, o livro de Franco (2008) faz parte da coleção de
publicações do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, onde Rosental Alves é
diretor, o que pode confirmar uma concordância na defesa de ideias dos dois
pesquisadores.
Uma pirâmide para os leitores
A pirâmide invertida se torna importante ainda, devido ao grau de profundidade
de leitura dos usuários, que geralmente não lê até o final do texto. Pesquisa do Poynter
Institute, da Flórida (Estados Unidos), que data de 20076, mostrou que as pessoas lêem
em profundidade nos websites de jornais, até mais do que nas edições impressas.
Participaram da pesquisa 605 pessoas. (Disponível em http://eyetrack.poynter.org/)
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Até esse momento é a mais atual sobre o assunto, uma vez que a pesquisa de 2012 do grupo avaliava
somente o grau de atenção na visualização de conteúdo de tablet’s. Sobre este tema ver
http://www.poynter.org/how-tos/newsgathering-storytelling/visual-voice/191875/new-poynter-
eyetrack-research-reveals-how-people-read-news-on-tablets/
do tablóide, 57%. Os pesquisadores estabeleceram que esse
comportamento – maior leitura online do que impressa – não dependia
do tamanho dos textos. Também estabeleceram que os leitores online
tendiam a completar a leitura dos textos selecionados mais do que os
leitores do impresso: 63%, comparado com 40% em standard e 36%
em tablóide. (Franco, 2008, p.28)
Nos outros meios de informação que requerem leitura, as pessoas também não
vão até o final, o que justificaria colocar as informações principais em primeiro plano. O
mesmo se dá na Internet.
O único questionamento que surge quanto à essa vertente da utilização da
pirâmide, é afirmar o que é mais importante ou sob a perspectiva de quem algo é
importante, o que seria relativo e passaria pelas rotinas jornalísticas das quais fala
GADINI (2008).
Nesse caso, a notícia teria que passar a ser entendida como um recorte do real
influenciado pelo jornalista e pelo ambiente onde ele está inserido, bem como pela
formação que ele traz consigo.
Conclusão
O que se pode dizer após o confronto entre as duas formas de produzir um texto
para o ambiente on-line do jornalismo, é que o uso da pirâmide invertida traz consigo a
possibilidade de uma leitura linear. É importante que se diga que se trata de uma
possibilidade, porque até mesmo em um jornal impresso existem formas de leitura não
linear. (SILVA, 2011, p.1-2)
Pode-se notar também o inverso, onde um texto produzido inicialmente para não
ser linear (sem seguir o esquema da pirâmide) pode ser lido de maneira linear, do
começo ao fim.
Assim, concordamos com Franco (2008) e seus modelos de níveis, onde o que
definirá o uso de blocos independentes ou não será o tamanho do texto. Da mesma
maneira, é de se ressaltar que o que foi discutido aqui, foi a forma textual de
apresentação de conteúdo para jornalismo de Internet e não a forma de apresentação da
notícia como um todo para o usuário.
Por qualquer que seja o método utilizado, se fazem necessárias as demais
características da Internet das quais falam Machado e Palacios (2003). A tela (página)
onde o texto (linear/não linear) estará posto, continuará a precisar da
multimidialidade/convergência (com podcasts, vídeos, galerias de imagens), da
interatividade (comentários, espaço de participação, blogs, entre outros)
hipertextualidade, personalização e memória.
É o texto em conjunto com essas outras ferramentas que dará sentido e contexto
ao que está querendo ser comunicado, havendo no terceiro nível proposto por Franco
(2008), uma grande semelhança entre os blocos não lineares de Canavilhas (2007) e a
forma linear de produção.
Outras pesquisas poderiam mostrar até que ponto a fuga dos leitores para pontos
diferentes do texto poderiam ser prejudiciais para o entendimento do “todo” da matéria
jornalística e se esses prejuízos não seriam ainda maiores caso o usuário fosse
redirecionado para outra página, seja no próprio jornal, seja de outro site.
Mesmo assim, conforme o modelo proposto por Franco (2008), ainda seria
necessária uma hierarquização dentro de cada sub-bloco, caso contrário poderia haver
uma descontinuidade das próprias frases.
É de se ressaltar também, que com a redução das telas, migrando para telefones
celulares, tablet’s, smartphones e outros dispositivos móveis, pode ser necessária uma
hierarquização das informações, pelo menos para os conteúdos escritos, já que os
formatos mais populares para esses tipos de dispositivos e que mais chamam a atenção
são aqueles de áudio, vídeo e imagens7.
Em suma, é o que afirmamos no início do artigo, pirâmide invertida é o que
temos para hoje (no sentido de agora), pelo menos até que um novo modelo se mostre
mais eficiente.
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Ver mais sobre o estudo em http://www.poynter.org/how-tos/newsgathering-storytelling/visual-
voice/191875/new-poynter-eyetrack-research-reveals-how-people-read-news-on-tablets/
Bibliografia
FRANCO, Guilhermo. Como escrever para Web. Knight Center for Journalism in the
America, 2008. Disponível em: http://knightcenter.utexas.edu/como_web.php
SILVA, Solimar P., A leitura na era da web 2.0. Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t.
1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011. p.135-39.
ZAMITH, Fernando.
Pirâmide invertida na cibernotícia: a resistência de uma técnica centenária. Livro
de Atas do 4º Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação –
4º SOPCOM , Aveiro, 2005. Disponível em
http://prisma.cetac.up.pt/artigos/piramide_invertida_na_cibernoticia.php.