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Introdução a Freios Automotivos

Introdução a
Apostila escrita por Guilherme Rossi Zangarini
Freios Aluno graduando de Engenharia Mecânica
FEM – UNICAMP
E-mail: grzanga@yahoo.com.br
Automotivos grzanga@gmail.com

Campinas, janeiro de 2006.

Qualquer dúvida, sugestão e/ou correção, por favor,


entre em contato.

Guilherme Rossi Zangarini

FEM – UNICAMP – 2006


Introdução a Freios Automotivos – Guilherme Rossi Zangarini Introdução a Freios Automotivos – Guilherme Rossi Zangarini

7.2.2. Freio Hidráulico Duo-Servo......................40


Índice 7.3. Dimensionamento .............................................41
7.4. Roteiro sugerido para dimensionamento ..........42
7.5. Cuidados com a Instalação e Manutenção .......43
Índice ...............................................................................1 8. Comparações entre Freio a Disco e a Tambor ..........45
1. História dos Freios .......................................................3 9. Defeitos mais comuns................................................46
2. Introdução....................................................................6 10. Cilindro Mestre.........................................................49
3. Fundamentos.............................................................11 10.1. Componentes..................................................49
10.2. Funcionamento ...............................................51
3.1. Momento ...........................................................11
3.2. Principio de Pascal ...........................................12 11. Servo Freio ..............................................................54
3.3. Atrito Estático e Atrito Dinâmico........................13 12. ABS (Anti-lock Brake System) .................................55
3.4. Aderência pneu/solo .........................................14
3.5. Esquema simplificado de freio ..........................15 12.1. Componentes..................................................55
12.1.1. Sensores de Velocidade nas rodas e
4. Material de Fricção ....................................................17 Rotores Dentados ..............................................56
4.1. O Asbesto .........................................................22 12.1.2. Atuador Hidráulico..................................56
4.2. Propostas de Substitutos para o Asbesto .........23 12.1.3. Módulo de Controle................................57
12.2. Operação do ABS ...........................................57
5. Física da frenagem ....................................................26
12.3. O ABS como Item de Segurança ....................58
6. Freio a Disco..............................................................28
13. Bibliografia ...............................................................60
6.1. Componentes....................................................29
Apêndice A – Determinação do centro de gravidade.....62
6.2. Dimensionamento .............................................30
6.3. Roteiro sugerido para dimensionamento ..........33
6.4. Recomendações de Projeto..............................33
6.5. Tipos de Disco ..................................................34
6.6. Exemplos de Disco ...........................................36
6.7. Cuidados com a Instalação e Manutenção .......36
7. Freio a Tambor ..........................................................38
7.1. Componentes e funcionamento ........................38
7.2. Tipos de Freio a Tambor...................................39
7.2.1. Freio Hidráulico Simplex ..........................39

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1. História dos Freios melhorando significativamente o desempenho em


frenagem.
Os primeiros carros só tinham freios traseiros, pois
Os primeiros sistemas eram muito precários em
se acreditava que freios dianteiros causariam
relação aos atuais, que em compensação são muito mais
instabilidade e desvio. Mas na verdade ocorre o oposto e
complexos. Séculos atrás, quando surgiram as primeiras
na década de 1920 surgem freios nas quatro rodas.
bicicletas, o método utilizado para frear era colocando o
Também nesta época surgiram vários dispositivos para
calçado entre o garfo e a roda. Em 1838, Kirkpatrick
ampliar e assistir a força muscular do condutor para
Macmillan, um ferreiro escocês, criou o conceito de
acionar os freios. Dentre elas, surgiu a idéia de
pinçar contra a roda – spoon brake – onde a alavanca
assistência gerada pelo vácuo do motor, utilizada
exercia compressão em um bloco de madeira com
atualmente. Além disso, foi montado os primeiros carros
eventuais tiras de couro contra o pneu da bicicleta,
com assistência hidráulica em 1921 pela Dusenberg e
atualmente é contra o aro.
depois pela Chrysler.
Os primeiros veículos utilizavam este conceito,
Os freios a tambores apesar de serem
com variações de como colocar o bloco em contato com
revolucionários, tinham problemas com a dissipação de
as roldanas de transmissão. Porém havia problemas,
calor em altas velocidades e perda de eficiência em
pois o atrito era concentrado em uma pequena superfície,
poças de água.
forçando a roda ou as roldanas e retardando em muito a
Assim, surgem os freios a discos montados
parada do veículo.
inicialmente no Crosley em 1948. Seu conceito inicial foi
Os sistemas seguintes a surgir eram externos,
idealizado em meados de 1890, e em 1898, umas das
envolvendo os cubos de roda com correias ou cabos de
primeiras versões foram utilizadas por Elmer Ambrose
aço, com ou sem blocos de atrito, aumentando a área de
Sperry num carro elétrico onde a pastilha era forçada
contato.
contra o disco por meio eletromagnético.
Em meados de 1900, uma significativa melhora foi
Os carros ingleses e franceses começaram a
introduzida pelo francês Louis Renault, o freio a tambor
serem produzidos com discos de freio em escala
por expansão interna, ainda usado atualmente.
industrial nos anos de 1950 e os americanos em 1960.
Inicialmente, os tambores eram de aço estampado (havia
A atual combinação de discos na dianteira e
problemas de flexão e alto nível de ruído), pequenos e as
tambores na traseira trouxe melhorias para o
sapatas eram de ferro. Rapidamente o material passou a
desempenho da frenagem e foi seguida de um dispositivo
ser aço fundido.
para controlar de modo variável a pressão exercida nos
Herbert Frood e Ferodo, ingleses, foram os
freios traseiros de acordo com a distancia entre chassi e
primeiros a estudar os materiais de atrito sendo
eixo. Este conceito, denominado de válvula sensível a
responsáveis pela sua evolução. Em 1908, eles
carga, foi introduzido nos anos de 1970 pela Fiat.
apresentaram um material contendo resina, impregnado
de amianto e reforçado com arames de latão,

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Por último, um conceito que melhorou


significativamente a frenagem em carros comuns foi o 2. Introdução
ABS (Anti-lock Braking System). Originalmente
desenvolvido para aviões, a patente da versão mecânica Freios automotivos possuem três funções básicas:
foi apresentada nos anos 1920 e nos anos 1970 surgiram parar o carro rapidamente, fazer com que fique
as versões eletrônicas que monitoram a velocidade de estacionado na ausência do condutor e diminuir/manter
cada roda, e quando uma delas reduza a velocidade são constante a velocidade num declive.
acionados pulsos de pressão hidráulica prevenindo o O funcionamento do freio hidráulico tem por base
travamento da roda. a aplicação da "Lei de Pascal". O motor desenvolve uma
potência que leva o veículo do estado de repouso até a
respectiva velocidade. Essa potência precisa ser
transformada quando se deseja diminuir a velocidade do
veículo ou pará-lo totalmente, tarefa que cabe ao freio. O
freio atua no sentido de transformar a energia cinética do
veículo em calor, através do atrito.
Figura 1 – Eventos importantes na historia da frenagem
automotiva.

Figura 2 – Transferência de peso durante a frenagem.

Cerca de 70% do poder de frenagem está


concentrado nos freios dianteiros, o que submete o
sistema a temperatura e esforços extremos. Alguns
sistemas têm uma estrutura ventilada para permitir o
melhor resfriamento do sistema. No sistema traseiro o
esforço é menor, mas, no entanto, alguns componentes
são mais sensíveis e suscetíveis à falhas.

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Há dois tipos de sistemas de freio a disco: fixos


(possuem pistões em ambos os lados, que quando
acionados encostam as pastilhas no disco) e flutuantes
(empurra o pistão e encosta a pastilha interna contra o
disco de freio e ao mesmo tempo a pinça movimenta-se
para trás do pistão. Apresenta construção mais
compacta).
A pressão hidráulica para acionamento do sistema
é gerada através do cilindro mestre, acionado pelo
condutor. O reservatório de fluido garante o fornecimento
de fluido quando aumenta a absorção devido ao
desgaste das pastilhas. O equilíbrio da pressão quando
não é aplicado o freio é dado pelo furo de compensação
(0,7mm de diâmetro). Há dois tipos de cilindro mestre:
simples e duplo.
Logo há vários tipos de circuito de freio:
• com cilindro mestre simples: a saída do
cilindro alimenta todos os freios
simultaneamente, logo um vazamento
acarreta a perda total do freio.
• com cilindro mestre duplo por eixo: cada
saída alimenta um eixo.
• com cilindro mestre duplo cruzado: uma
saída alimenta a roda dianteira esquerda e
a traseira direita e a outra saída alimenta as
rodas restantes. Neste caso o pistão
primário do cilindro tem curso útil igual ao
secundário e o raio de rolagem deverá ser
negativo na suspensão dianteira.

Devido ao fato de frear ser uma das operações


mais repetitivas ao ato de dirigir um carro, procura-se
Figura 3 – Esquema de freio geralmente utilizado num
diminuir esse esforço utilizando sistemas auxiliares. O
veículo.

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servo freio utiliza como fonte de energia o vácuo Fluido de Freio


existente na admissão do motor. Responsável pela transmissão de pressão
Resumindo temos o quadro abaixo: gerada no cilindro mestre para os freios das
rodas.
Cilindro Mestre: Sistema ABS:
Cilindro Mestre é acionado através do pedal de Com esse sistema se obtém algumas
freio do veículo, cuja função é transmitir vantagens como:
pressão hidráulica para acionar as pastilhas Melhor dirigibilidade - controle sobre as rodas
contra o disco e parar as rodas do veículo. dianteiras;
Servofreio: Melhor estabilidade - controle sobre as rodas
O Servofreio é um equipamento destinado ao traseiras;
motorista para um maior conforto no Menores distâncias de paradas no ato da
acionamento do pedal de freio, podemos dizer frenagem.
que o Servofreio é um multiplicador de forças. Material de Fricção
Ele se ultiliza da pressão atmosférica Geram atrito suficiente para diminuir ou parar a
combinada com o vácuo gerado pelo motor. roda de um veículo.
Válvulas Equalizadoras de Pressão:
Atuam como reguladoras de pressão entre as
rodas dianteiras e traseiras. São as
responsáveis pelo equilíbrio do veículo no
momento da frenagem.
Cilindro de Roda:
Sua função é transformar a pressão vinda do
cilindro mestre através do fluído em força
mecânica aplicada sobre as sapatas de freio.
Freio a Disco:
Para proporcionar uma melhor frenagem foi
desenvolvido o Sistema de Freio a Disco onde
os principais componentes são: Disco,
Conjunto de Pinça e Pastilha.
Freio a Tambor:
A dois tipos: Simplex e Duo-servo.
O tambor faz atrito com as lonas no momento
da frenagem.

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relações de comprimento ao invés disso, fossem de 3


3. Fundamentos para 1, a força aplicada ao lado maior, seria 3 vezes
maior do outro lado e, assim sucessivamente.
Para fazer com que o sistema de freios tenha a Porém mesmo usando uma alavanca no pedal de
eficiência necessária, dois princípios de Física são freio, o tamanho da alavanca teria que ser muito grande.
aplicados em um sistema básico: Outro inconveniente vem do fato que o curso seria
igualmente grande para gerar a força necessária a
• Momento
frenagem adequada do veículo, já que o deslocamento
• Multiplicação hidráulica
do lado mais longo é tantas vezes maior que o presente
do outro lado, quantas vezes um braço é maior que o
3.1. Momento outro.

Este é o primeiro princípio utilizado, assim como 3.2. Principio de Pascal


no freio da bicicleta, porém de forma otimizada, ele
também é conhecido por "alavanca". Observando a figura
Como a “alavancagem” não gera sozinha a força
4, pode-se entender melhor como se consegue maior um
necessária, este princípio é usado de forma a multiplicar
aumento da força empregada no pedal de freio.
a força obtida pela aplicação do primeiro.
A pressão do fluido é a mesma em todo o sistema.
Sabemos que os automóveis utilizam fluido no seu
sistema de freios. Sua utilização vem sendo pesquisada
e aperfeiçoada desde que o Blaise Pascal, filósofo, físico
e matemático francês, nascido em 19 de junho de 1623,
estudou pressões hidráulicas e descobriu fundamentos
importantíssimos, denominados "LEIS DE PASCAL".
Figura 4 – Esquema simplificado de “alavanca”. Uma destas leis diz o seguinte: "A pressão exercida
sobre um líquido em câmara selada transmite-se por
No exemplo, se apoiar uma alavanca em um igual em todas as direções”.
ponto, de forma a termos de um lado o dobro da
distância existente do lado oposto, pode colocar um
objeto de 10 kg do lado mais comprido, que ele
equilibrará um objeto de 20 kg do lado mais curto. Ou
seja, a força aplicada na extremidade mais longa,
aparece duplicada na extremidade mais curta. Caso as

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partes que estão se "esfregando" se encontram paradas,


ou quando estão em movimento uma em relação à outra.
O atrito existente quando as partes encontram-se
paradas, chama-se atrito estático. Quando as partes se
acham em movimento, tem-se o atrito dinâmico.

3.4. Aderência pneu/solo

Além dos três princípios básicos, um conceito


muito importante é a aderência pneu/solo.
Figura 5 – Esquema demonstrativo o Princípio de Pascal. O atrito dos freios tem uma limitação que é o atrito
existente entre o pneu e a estrada. Assim sendo, quem
Imagine dois tubos preenchidos de um líquido limita a freada máxima do veículo é o atrito entre o pneu
pouco compressível (como óleo), em que o primeiro e a estrada. Isto pode ser claramente notado ao dirigir-se
tenha 2 cm de diâmetro e o segundo, 6 cm de diâmetro e em uma estrada molhada, quando então não se pode, de
unidos pela sua base como aparece na animação a maneira alguma, aplicar completamente os freios.
seguir. Quando ocorre travamento das rodas dianteiras o
Este princípio nos garante que uma força aplicada carro perde o controle direcional, mas tem frenagem
em um ponto de um líquido incompressível (em geral estável. E quando as rodas traseiras travam há
óleos no caso dos freios) se transmite aos todos pontos instabilidade direcional (tende a rodar). O objetivo do
do fluído. Desta forma, no nosso exemplo - onde os ABS é evitar que as rodas travem para evitar isso.
êmbolos apresentam uma relação onde o segundo tem
uma área nove vezes maior (Área = Pi*r²) do que o FR=força de retardamento = m*b
primeiro - se aplicarmos uma força de 100 KGF (cem Onde m=massa e b=desaceleração
kilogramas-força, ou a força exercida por um objeto de
100 kg) ao lado esquerdo, seremos capazes de fazer a = b I g (a = % g) m = G I g FR = G .b I g = G .a = Fed +
mover um corpo de 900 kg no êmbolo da direita. Este Fet
mesmo princípio é utilizado nos macacos hidráulicos.
Chama-se de aproveitamento do coeficiente de
aderência a relação a/f e imaginando uma situação em
que todas as rodas atinjam a relação a/f=1, significa que
3.3. Atrito Estático e Atrito Dinâmico conseguimos obter o máximo aproveitamento sob o
ponto de vista físico, também chamado ideal. Neste caso
É mais fácil um objeto continuar o seu movimento, a aderência dos pneus dianteiros e traseiros fica igual à
do que iniciá-lo. O atrito não é o mesmo, quando as desaceleração do veículo. Porém, a desaceleração ideal

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não é realizável principalmente pelo ponto máximo da


curva de aderência não ser estável, pois a
escorregamento relativo pneu-solo.

Figura 6 – Esquema simplificado de freio.

No esquema da figura 6, uma vez que se


pressione o pedal do freio, ele faz funcionar um esquema
de “alavanca” com uma relação de 4 para 1.
Simultaneamente aciona-se também o êmbolo do cilindro
mestre (burrinho) que possui uma relação de área de 1
para 9 em relação ao pistão do freio, como na ilustração
acima.
Desta forma, para cada 1 kgf aplicado ao pedal,
teremos 36 kgf aplicados sobre o disco de freio, uma
multiplicação de força considerável, se pensarmos que
com um sistema destes, com apenas 2 kgf, é possível
obter força necessária para levantar um adulto médio.
3.5. Esquema simplificado de freio Obviamente este é um esquema bem simples,
mas que ilustra bem o funcionamento da maior parte dos
Com os conceitos acima ficou claro como que a sistemas de freio convencionais utilizados atualmente.
Física consegue ajudar a produzir a força necessária Peças adicionais, como válvulas e servos, além de
para fazer o carro parar. Combinado as partes 3.1 e 3.2 outros, fazem parte do conjunto a fim de garantir um
surge o exemplo abaixo: perfeito funcionamento e maior eficiência do sistema.

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dureza confiável e uma boa resistência ao desgaste nas


4. Material de Fricção mais variadas condições de uso.
Os primeiros freios foram eitos de couro e de
O material de fricção é um aglomerado de tecidos de algodão impregnados com asfalto/borracha. A
matérias, submetidos a mistura em proporção o conforme partir de 1905 o asbesto (ou amianto) foi usado como
formulação. material de fricção de guarnições, lonas de freios e
Este é prensado quando é pó, calandrado quando discos de embreagem para automóveis, caminhões,
é massa, manufaturado seu formato, acabamento e tratores..., devido a suas excelentes características
secagem em fornos. No caso de utilização em freios, térmicas as quais lhe conferem boas propriedades, como
deve estar capacitado para suportar as seguintes material de reforço, mas devido ao efeito cancerígeno em
condições: seres humanos o asbesto está sendo proibido em
diversos países. Logo, procura fibras para substituir o
• Resistência ao impacto, tendo uma
asbesto como material de reforço.
determinada dureza;
Segundo LIMBERT (1999), a composição básica
• Flexibilidade, com o objetivo de
das pastilhas de freio é descrita da seguinte maneira:
acompanhar as deformações;
• Reforços (Fibras): Provêm a resistência e
• Resistência térmica, devido a necessidade
rigidez necessária para as pastilhas. No
de suportar temperaturas sem grandes
caso de ressecamento as fibras mantêm a
modificações físicas;
forma prévia do material. Para altas
• Baixo coeficiente de desgaste; temperaturas no material de fricção as
• Baixo nível de ruído; fibras proporcionam estabilidade térmica.
• Não ser excessivamente agressivo; Os materiais de fibra incluem asbesto (ou
• Boa estabilidade em seu coeficiente de outras fibras) e palha de aço.
atrito. • Modificadores de fricção: geralmente são
elastômeros que proporcionam
Os freios têm evoluído, de modo que sua propriedades mecânicas e resistência ao
eficiência se encontra em proporcionalidade com as altas desgaste, agentes de cura e outros que
velocidades que atingem os veículos modernos. O freio é afetam a uniformidade da fricção. Latão,
considerado o aspecto mais importante na segurança de zinco ou outros metais são adicionados
um automóvel. para controlar as propriedades abrasivas e
O material de fricção de um sistema de freio é uma para limpesa total da superfície do disco.
dos mais complicados materiais de compósitos e Alguns tipos de elastômeros são:
usualmente contém mais de dez ingredientes. Este é o Borracha natural: caiu em desuso
desenvolvido para manter a força de fricção estável, devido ao seu alto custo e ao fato de

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que exala um forte cheiro quando resistência ao calor e reduzem os


aquecida. tempos de cura.
o Borracha de estireno butadieno: o Resinas fenólicas modificadas por
usada em combinação com resinas ácido bórico – melhoram a
fenólicas, oferece rigidez e resistência ao calor e diminuem o
resistência mecânica adicional. desgaste.
o Borracha de acrilonitrila butadieno: • Material de preenchimento (Recheio ou
oferece melhor resistência ao calor Cargas Minerais): São minerais
que outras borrachas, auxilia na indispensáveis para aumentar a vida da
eficiência e melhora a compressão pastilha, preenchendo os espaços e
contra a superfície oposta. minimizando os custos. Tais materiais
o Ligantes (Matrizes): São os materiais podem ser:
aglutinantes que mantém os o Sulfato de bário: Famoso pelo baixo
materiais da pastilha juntos. Os custo, embora possus grande
ligantes mais comunmente usados densidade específica. Aumenta um
são os fenolformaldeídos e podem pouco o desgaste e reduz o nível de
ser de dois tipos: fricção. Tem alta estabilidade
o Resina crisol: São duras e térmica.
quebradiças mais resistem ao calor. o Carbonato de cálcio: Tem menor
o Novolak: precisa de um agente para densidade específica entretanto é
completar a cura. Outras resinas menos resistente ao calor que o
alternativas são: sulfato de bário.
o Resinas de óleo modificado (de o Sílica (dióxido de silício): É um
linhaça, de rícino, de soja) – abrasivo suave e pode aumentar o
oferecem flexibilidade e aumentam peso do material de fricção em até
as cargas de fricção. 5%.
o Resinas de óleo de castanha de caju
– Aumentam a eficiência e ternam o Para aumentar o nível de fricção alguns abrasivos
freio mais silencioso. são incluídos nos materiais de fricção. Alguns destes
o Resinas fenólicas modificadas por são:
elastômeros – oferecem flexibilidade • Óxido de alumínio: anidro (alumina): é um
e altos coeficientes de fricção. material bastante duro e abrasivo,
o Resinas fenólicas modificadas por apresenta estabilidade em altas
óxidos metálicos – aumentam a temperaturas. Uma fina poeira de alumina

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misturada com uma solução de resina • Lascas de latão: até 4% em peso é


fenólica é usada para pintar a superfície suficiente para controlar o “fade”.
final da pastilha. Dessa forma é possível • Pó de cobre: Aumenta a eficiência, é bom
polir e moldar a superfície do disco durante condutor, em altas quantidades provoca
os 100 primeiros quilômetros de uso, desgaste.
combatendo a baixa fricção inicial sem • Chumbo: oferece estabilidade friccional em
reduzir a vida da pastilha. altas temperaturas é altamente tóxico.
• Óxido de cromo: aumenta a fricção mas
não é usado devido ao alto custo.
• Óxido de zinco: tem algum efeito 4.1. O Asbesto
lubrificante e oferece resistência ao
desgaste, porém pode causar o desgaste O asbesto (ou amianto) é um mineral fibroso
do disco. natural. Muito usado em roupas e equipamento à prova
• Cal (hidróxido de cálcio): oferece dureza e de fogo. Devido a toxidade o material deixou de ser
combate a ferrugem em fórmulas contendo largamente empregado como isolamento térmico na
palha de aço e partículas de ferro. construção civil em meados dos anos 80. Diversos tipos
• Óxido de cobre: aumenta o nível de fricção de câncer de pulmão foram associados à exposição
mas não garante a qualidade da superfície profissional ao asbesto, hoje banido em vários países.
do disco. Além do câncer de pulmão a exposição ao asbesto
• Óxido de ferro: os diferentes tipos são também pode levar ao desenvolvimento de doenças
usados para aumentar o nível de fricção e como: asbestose e câncer do intestino.
dar alguma estabilidade térmica. O risco do asbesto está na inalação do pó liberado
• Óxido de ferro vermelho (hematita): é um por materiais destruídos ou danificados. O cimento de
suave abrasivo, usado como agente polidor amianto e as lonas de freio contendo asbesto são
da superfície. considerados menos tóxicos por não serem friáveis, isto
• Óxido de ferro preto (magnetita): em é, não se transformam em pó quando submetidos à
fórmulas semi-metálicas é usada para pressão. Mesmo assim a obtenção de um material
elevar a fricção à frio. substituto é uma boa nova para a indústria
• Óxido de magnésio: usado para aumentar a automobilística.
estabilidade térmica das resinas. No estado
fundido aumenta o nível da fricção.
• Grafite: reduz o nível de fricção e evita o
superaquecimento instantâneo com
redução do atrito conhecido como “fade”.

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• Fibras de celulose: tornam o freio mais


4.2. Propostas de Substitutos para o Asbesto silencioso e o material mais elástico.
• Poliéster: é uma fibra orgânica, mas possue
Segundo AGUILA (1999), a metodologia proposta desempenho inferior ao da poliacrilonitrila.
em seu trabalho mostrou-se adequada para a produção • Fibra de vidro: tem tido sucesso em
de compósitos com redução do tempo de cura. Os substituir o asbesto mas possui ponto de
compósitos reforçados com fibras de panos e polpa de fusão baixo.
aramida apresentam bons desempenho de atrito, o • Fibras de algodão: presentes em muitos
compósito apresentou as mesmas propriedades de materiais de fricção em veículos pesados.
frenagem das pastilhas de asbesto, em testes feitos com • Fibras de aramida: possui propriedades que
pastilhas fornecidas por um fabricante de freios. Este oferecem resistência mecânica e ao calor,
compósito é obtido em um estágio intermediário no além de facilitar a manufatura das fórmulas
processo de fabricação da fibra de carbono. sem asbesto. Entretanto seu custo fez com
Outras alternativas avaliadas atualmente são: que as fórmulas tivessem seu teor
• Wollastonite (CaSiO3): possui tamanho de reduzidos.
fibras variável e apresenta baixo custo. • Carbono: apresenta peso reduzido, boa
• Vermiculite: trata-se de um mineral, um condutividade térmica, alto calor específico,
silicato de alumínio e magnésio hidratado. possui resistência mecânica e é
Resistente ao calor e de baixa densidade. termicamente estável.
Não é fibroso, portanto não acrescenta
resistência mecânica ao produto. È usado
como preenchimento de baixo custo,
melhora as características de desgaste e
reduz o inchaço e o crescimento.
• Mica: se houver um bom ligante entre a
mica e a resina ela irá aumentar a
resistência mecânica.
• Fibra de basalto: possui pouca quantidade
de ferro e pouco cálcio.
• Fibra cerâmica: alta resistência térmica e
baixo custo.
• Poliacrilonitrila: rende seis vezes mais que
o asbesto. Reforça a resistência mecânica
do material, é usada em freios pesados. Figura 7 – Pastilhas de freios com resinas sólidas.

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Outros aspectos devem ser considerados na 5. Física da frenagem


formulação do material de fricção além do desempenho:
• Tendência a segregação das partículas; Consideremos um veículo tipo automóvel, de
• Facilidade construtiva; massa m em movimento no plano horizontal
• Bolhas e laminações; desacelerado por ação das forças de atrito F1 e F2
• Estabilidade dimensional; atuando nas rodas dianteiras e traseiras,
• Capacidade de eliminação de resíduos. respectivamente. A figura abaixo apresenta o esquema
das forças atuantes:

Figura 8 – Valores médios calculados para os ensaios


realizados com todos os fornecedores de todas as
marcas para pastilhas novas. Figura 9 – Esquema de forças atuantes num veículo.

As condições de equilíbrio no eixo vertical e


dinâmicas no eixo horizontal, implicam em:

N1 + N 2 = P ≡ m ⋅ g (5.1)
F1 + F2 = m ⋅ α (5.2)

A condição de equilíbrio rotacional, por sua vez,


introduz:

N1 ⋅ a − N 2 ⋅ b − (F1 + F2 ) ⋅ h = 0 (5.3)

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A expressão empírica para as forças de atrito 6. Freio a Disco


fornece as condições subsidiárias:
O freio a disco recebe pressão hidráulica gerada
F1 = µ1 ⋅ N 1 (5.4a) pelo cilindro mestre, transformando-a em força mecânica
F2 = µ 2 ⋅ N 2 (5.4b) através dos êmbolos, que pressiona as pastilhas contra o
disco.
As equações (5.1), (5.2), (5.3), (5.4b) e (5.4b) Por causa de sua concepção, não está sujeito a
formam um sistema que pode ser facilmente resolvido certos tipos de defeitos que normalmente ocorrem nos
para a, fornecendo: sistemas de freio a tambor, por efeitos como sujeiras,
lama, água, etc.
g (µ 2 ⋅ a + µ1 ⋅ b ) Por ser mais exposto que o freio a tambor, a sua
α= (5.5) refrigeração é muito maior, principalmente quando o
a + b − (µ1 − µ 2 ) ⋅ h
veículo está em movimento, dissipando o calor
rapidamente e dificultando que o material de atrito
Da expressão acima, observa-se claramente que a (pastilhas de freio) venha a perder sua eficiência por
aceleração α = m.g, normalmente utilizada como primeira excesso de calor, quando o freio for muito solicitado.
aproximação para o cálculo de velocidades, é obtida ao Os freios a disco foram projetados para equipar os
se impor em (5.5) m1 = m2, independentemente do valor freios das rodas dianteiras dos veículos, mas devido a
de h. sua eficiência, praticidade e baixo custo de manutenção
O valor de alfa introduzido pela equação (5.5) estão sendo também, largamente empregados nos freios
depende de diversos fatores. Mesmo no caso em que a = das rodas traseiras dos veículos, como também em
b, isto é, para veículos com o peso distribuído veículos de médio e grande porte.
homogeneamente entre as rodas dianteiras e traseiras, a
será função de m1 e m2. É o caso, por exemplo, de
veículos que dispõem de freios a disco nas rodas
dianteiras e a tambor nas traseiras, nos quais, em geral,
em decorrência da melhor eficiência dos freios a disco.
Outros casos similares ocorrem quando o veículo
apresenta pneus gastos na traseira, e bons na dianteira
ou quando o freio é dimensionado pela engenharia do
veículo para melhor desempenho em um dos pares de
rodas.

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7. Pastilhas de Freio: São comprimidas pelo êmbolo,


6.1. Componentes se atritando ao disco.
8. Parafuso Sangrador: Adequadamente, elimina o ar
do sistema hidráulico.
9. Coifas: Revestem as partes devidas protegendo-
as da contaminação por sujeiras.
10. Coifas dos pinos deslizantes: Revestem as partes
devidas protegendo-as da contaminação por
sujeiras.

6.2. Dimensionamento

Considerações são impostas para realização dos


cálculos:
• Forças de resistência do ar foram
desprezadas.
• Foi assumido que a frenagem é efetuada
sem travamento das rodas, portanto
utilizamos nos cálculos o atrito estático
entre a roda e o solo.
• Coeficiente de atrito entre a pastilha e o
Figura 10 – Componentes da pinça (cáliper) de freio. disco, caso NÃO tenha dado específico:
0,4.
• Força máxima aplicável no pedal por uma
1. Cáliper: Aloja as pastilhas e o êmbolo. pessoa: 160 N.
2. Anel de Vedação: Veda o fluido de freio e faz
retornar o êmbolo. A desaceleração desejada foi calculada
3. Êmbolo: Empurra as pastilhas contra o disco. considerando o veículo como um corpo sólido em
4. Suporte: Fixa o conjunto do freio ao veículo. movimento retilíneo uniformemente variável,
5. Pinos Deslizantes: Dão a estabilidade
(compensação) ao movimento do cáliper. V 2
= V o2 + 2 ⋅ α ⋅ ∆ X (6.1)
6. Molas: Prendem as pastilhas de freio.
onde:

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V = Velocidade final Pascal); e que, na dianteira, o torque produzido pelo freio


Vo = Velocidade máxima é igual ao torque das duas rodas, chega-se à equação:
α = Desaceleração do veículo
⋅µ ⋅ R pneu
∆X =Espaço máximo para frenagem F
eixo solo = 2 ⋅ µ past ⋅ l ⋅ F ⋅
A
pinça
⋅R (6.3)
2 pedal A c.mestre disco

O coeficiente de atrito estático entre o pneu e o


solo sem derrapagem é obtido de α g , onde g é onde:
aceleração da gravidade. µsolo = Atrito com o solo sem derrapagem
Como a distribuição da massa do veículo, Rpneu = Raio do pneu
geralmente, não é uniforme nem no sentido vertical e, µ pastilha = Coeficiente de atrito entre a pastilha e o disco
principalmente, nem no horizontal, as rodas traseiras e de freio.
as dianteiras sofrerão forças substancialmente diferente. l = Razão de alavanca do pedal de freio
Ao acionar o freio do veículo, as reações normais Fpedal = Força aplicada ao pedal de freio
nos eixos passam a ser diferentes daquelas que Apinça = Área do pistão da pinça
acontecem em uma situação estática, isso devido à Ac.mestre = Área do pistão do cilindro mestre
desaceleração da frenagem. Para quantificar as novas Rdisco = Raio efetivo do disco de freio (distância da linha
reações normais para um regime dinâmico, usa a de centro dos pistões até o centro do disco)
seguinte fórmula:
Constatada uma diminuição substancial no peso
m incidente no eixo traseiro, dimensiona-se o disco traseiro
F eixo = ⋅ ( g ⋅ (d − a ) + α ⋅ h) (6.2)
d para a desaceleração máxima requerida, assim, para
desacelerações menores o pneu desenvolverá essa força
onde: sem travamento, já que nessa condição a transferência
Feixo = Reação normal no eixo em situação dinâmica longitudinal de peso é menor.
m = Massa do veículo Se tiver dos freios no eixo traseiro utiliza-se a
d = Distância de entre eixos formula (6.3), e se for um usa a (6.4), já que o torque
a = Distância horizontal do eixo ao C.G. produzido pelo freio é duas vezes o torque da roda:
h = Altura do C.G.
A
pinça
Sabe-se que a força que a pinça aplica no disco é F ⋅µ ⋅ R pneu = 2 ⋅ µ past ⋅ l ⋅ F ⋅ ⋅R (6.4)
eixo solo pedal A c.mestre disco
uma função da razão entre as áreas dos pistões do
cilindro mestre e da pinça, da força aplicada no cilindro
mestre e da alavanca no pedal do freio (Princípio de

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6.3. Roteiro sugerido para dimensionamento O disco deve ser o mais leve possível para ter
menor inércia girante. Veja a seção 9 para a escolha do
1. Obtenha o centro de gravidade (C.G.), a massa, o melhor tipo de disco para a aplicação requerida.
Rpneu e a velocidade final do veículo. Os discos devem ser usinados a partir de tarugos
2. Determine uma distância para o veículo quando (e nunca de chapas!) devido as suas características
estiver em velocidade final pare totalmente. metalográficas para não empenarem.
3. Com esses dados obtêm-se as reações normais Escolha o fluido de freio que suporte altas
em cada eixo. temperaturas e que tenha especificações de acordo com
4. Imponha um µsolo a partir da utilização do veículo. a exigência do projeto.
5. Faça um calculo prévio estimando Apinça, Rdisco,
Ac.mestre e l.
6. A partir destes dados, escolha as peças do 6.5. Tipos de Disco
sistema de freio.
7. Dimensione o disco de freio dianteiro.
8. Sempre respeite a pressão máxima admissível da
pastilha.
9. Utiliza-se a formula (6.3) para obter l.
10. Por ultimo dimensiona o disco traseiro. Discos simples, o tipo mais comum.
Discos ventilados, existe um espaço no
meio do disco que permite que o ar entre
6.4. Recomendações de Projeto e ajude a arrefecer os discos quando
solicitados melhorando assim a eficiência
dos mesmos.
Recomenda-se que o reservatório deverá ter
capacidade para o nível de fluido estar acima da metade
quando as pastilhas estiverem totalmente gastas.
Disco furados, permitem
O sistema deverá trabalhar na menor temperatura
um maior movimento do ar
possível. Nunca jogue água diretamente no sistema, uma
e, por conseguinte um
alternativa é borrifar água no ambiente para abaixar a
maior arrefecimento dos
temperatura do ar.
discos, além de serem
Todas as linhas devem ser resistentes a vibrações
mais leves. Os gases
e deverão ser usadas linhas flexíveis para ligar qualquer
formados pela fricção das
parte móvel.
pastilhas nos discos e as
partículas que se criam

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também passam a ter um local para sair e quanto mais


"limpa" for a superfície de contacto melhor será a 6.6. Exemplos de Disco
eficiência do freio. Com chuva, eles têm um
comportamento muito melhor, pois permitem escoar a Stock car
água muito mais rapidamente. Em uso off road serve
também para a eliminação de lama. Os discos de freio são
fabricados pela Fremax
especialmente para a Stock
Discos com ranhuras, que ajuda a criar a Car. São discos ventilados,
tal superfície "limpa" e permite que os que melhoram a eficiência da
gases que se criam durante a frenagem frenagem. As pinças de freio
se dissipem mais rapidamente. A são americanas com seis
superfície do disco não fica muito pistões na dianteira e quatro na traseira e utilizam
reduzida devido a esses "rasgos" o que pastilhas especialmente desenvolvidas pela Cobreq.
tem vantagens, o que já foi explicado. Outra vantagem é Cada roda tem sistema independente de acionamento
que duram mais do que os perfurados. Normalmente dos freios.
estes tipos de discos são preferíveis em relação aos
perfurados. Moto da marca KTM
Dianteiro Traseiro
Disco com furos e
ranhuras combinados,
juntando as
características dos dois
tipos.

6.7. Cuidados com a Instalação e Manutenção

• Substitua os discos de freio quando atingirem a


espessura mínima;

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• Na troca de pastilhas sempre substitua ou


retifique os discos de freio; 7. Freio a Tambor
• A espessura dos discos de freio do mesmo
eixo deve ser igual; O calor produzido durante a frenagem precisa se
• Troque sempre os discos de freio e as dissipar rapidamente na massa de material do tambor de
pastilhas de freio do mesmo eixo; freio e se transfira imediatamente ao ar ambiente para
• Lave os discos de freio com desengraxante limitar o aumento da temperatura no freio a tambor. O
antes de ser montado no veículo; tambor de freio deve ter suficiente condutibilidade térmica
• Limpe as faces de contato entre o disco de e deve ainda resistir à fadiga causada pela diferença de
freio e o cubo; temperatura entre a superfície interior e a exterior. A
• Depois de retirada, a pinça de freio não deve superfície interna do tambor serve de contato para a lona
ser fixada apenas pelo flexível. O correto é de freio. Para uma frenagem eficiente, é necessário que
pendurá-la de forma que não force o flexível, este contato seja superior a 90% da área de trabalho da
evitando assim possíveis vazamentos e lona.
formação de bolsas;
• Não use alavancas ou chaves de fenda para
recuar as pastilhas e êmbolos. Deve-se abrir o 7.1. Componentes e funcionamento
sangrador para evitar que o fluído contido nas
pinças não retorne para o reservatório; Na figura 11 são mostrados o cilindro de freio, que
• O ideal é usar o "sargento" para o recuo das recebe a pressão hidráulica do sistema de acionamento;
pastilhas e êmbolos da pinça, com o sangrador os pistões do cilindro, que se movem aplicando a sapata
aberto, recua-se até o fim do curso do êmbolo. sobre o tambor; as sapatas, que consistem no suporte
metálico (contra-sapata) e na lona de freio; o tambor, que
é a parte que gira do conjunto e é solidário à roda em
veículos; o cabo, que serve para aplicar o freio
manualmente através da alavanca do freio; e o ajustador
de folga, que move a lona para mais perto do tambor
conforme esta vai sendo desgastada, diminuindo o curso
até a frenagem. No tipo de freio mostrado, a força gerada
no cilindro hidráulico move a parte superior das sapatas,
que estão ancoradas no ajustador de folga. Com essa
restrição, as sapatas não se movem lateralmente, mas
giram em torno do ponto de ancoragem. Fica evidente
que o apoio da sapata sobre o tambor se dá

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principalmente na parte superior desta, fazendo com que resulta na centralização automática das sapatas no
a pressão de contato seja maior nessa região. tambor.
Este tipo tem uma menor razão torque por força
exercida pelo pedal de freio. Quando o veículo se
movimenta para frente, a sapata primária é mais
solicitada do que a sapata secundária, com isso damos à
sapata primária o nome de sapata energizada e para a
sapata secundária damos o nome de sapata
desenergizada. Com o veículo se movimentando à ré, a
atuação das sapatas se inverte.

7.2.2. Freio Hidráulico Duo-Servo

Nos freios tipo uni e duo-servo, o tipo de projeto é


o mesmo, estando a diferença em que o uni-servo possui
cilindro com um único êmbolo, tendo, portanto, ação
unidirecional atuando sobre a sapata primária, fazendo
com que o freio tenha ação de servo somente quando o
veículo se movimenta para a frente. Já o tipo duo-servo,
possui cilindro com dois êmbolos, portanto, com dois
sentidos de aplicação atuando sobre as sapatas
primárias e secundárias. Desta forma, a ação de servo
Figura 11 – Esquema de um Freio a Tambor. atua tanto no movimento para frente como no movimento
de ré. Esse freio é conhecido pela servo-ação da sapata
7.2. Tipos de Freio a Tambor primária sobre a secundária e vice-versa quando for duo-
servo.
A pressão exercida contra o tambor por uma das
7.2.1. Freio Hidráulico Simplex sapatas é aumentada substancialmente pela servo-ação
da outra sapata; por exemplo, quando o veículo se
Neste tipo de freio, as sapatas agem movimenta para a frente, temos: Aplicando-se o freio, o
independentemente. As extremidades de ancoragem são movimento do tambor de freio tende a arrastar a sapata
livres para se movimentarem, deslizando sobre a primária (energização); essa força de arraste é então
ancoragem, daí a denominação flutuante. Essa flutuação aplicada à sapata secundária, por intermédio do conjunto

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de regulagem automática, adicionando-se a força Com a soma dos momentos é possível obter a
aplicada pelo cilindro de freio. força aplicada F:
Isto resulta numa multiplicação de forças e,
conseqüentemente, numa diminuição do esforço por F ⋅c − Mn + M f = 0 (7.4)
parte do motorista ao frear o veículo, daí a denominação
servo. O torque de frenagem é obtido pela equação (7.5):

Pmax
7.3. Dimensionamento T = µ ⋅w⋅r2 ⋅ (cos θ1 − cos θ 2 ) (7.5)
senθ max
A pressão hidráulica, através do Princípio de
Pascal, é calculada pela fórmula 7.1: Feixo ⋅ µ solo ⋅ R pneu
Sendo T= conforme foi visto nas
2
Ph =
Fcm
=
F equações (6.2) e (6.3).
(7.1)
Acm Acr
7.4. Roteiro sugerido para dimensionamento
Onde Fcm é a força gerada pelo cilindro mestre, Acm é a
área do embolo deste, F é a força aplicada e Acr é a área 1. Obtenha o centro de gravidade (C.G.), a massa, o
do embolo do cilindro de roda. Rpneu e a velocidade final do veículo.
As medidas d, c, r, Θ1 e Θ2 podem ser observadas 2. Determine uma distância para o veículo quando
na figura 11. A medida w é a largura da sapata e Θmax é o estiver em velocidade final pare totalmente.
mínimo entre Θ2 e 90º. 3. Com esses dados obtêm-se as reações normais
As equações (7.2) e (7.3), respectivamente, são o em cada eixo.
momento devido à força normal e o momento devido à 4. Imponha um µsolo a partir da utilização do veículo.
força de atrito. 5. Dimensione o freio dianteiro, que provavelmente
será a disco.
Pmax ⋅ w ⋅ r ⋅ d 6. A partir destes dados, escolha as peças do
Mn = [2 ⋅ (θ 2 − θ1 ) − sen2θ 2 + sen2θ1 ] (7.2) sistema de freio.
4 ⋅ senθ max
7. Utiliza-se a formula (6.3) para obter l.
8. A partir das equações (6.2) e (7.5) dimensione o
µ ⋅ Pmax ⋅ r ⋅ w ⎡ ⎤
r (cosθ1 − cosθ 2 ) + (cos 2θ 2 − cos 2θ1 )⎥
b tambor e as sapatas num processo iterativo.
Mf = ⎢ (7.3)
senθ max ⎣ 4 ⎦ 9. E com as equações (7.1) a (7.4) dimensione o
cilindro de roda.

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7.5. Cuidados com a Instalação e Manutenção destas impurezas reduz o atrito entre as lonas
e o tambor, tornando a frenagem ineficiente;
• Substitua os tambores de freio quando • Freadas contínuas ou carregamento impróprio
atingirem o diâmetro máximo permitido. A do veículo causam o superaquecimento dos
retífica do tambor de freio deve ser realizada freios, comprometendo sua performance;
sempre nos dois tambores de um mesmo eixo; • Verifique o sistema de freio a cada 5.000 km.
isto quer dizer que os diâmetros dos tambores
de freio devem ser iguais entre si. O tambor de
freio suporta durante as frenagens altas
temperaturas e esforços mecânicos extremos.
O uso de tambor de freio com diâmetro acima
do máximo permitido poderá ocasionar sérios
problemas, como:
o Maior possibilidade de
superaquecimento dos freios devido à
menor quantidade de material;
o Menor resistência mecânica da peça,
podendo ocorrer ovalização, trincas ou
até mesmo a quebra total do tambor de
freio.
• Choques mecânicos como marteladas ou
quedas podem causar ovalização nos
tambores, provocando trepidação no pedal de
freio durante a frenagem;
• Na troca das lonas, substitua ou retifique os
tambores de freio;
• Troque sempre os tambores e as lonas de freio
do mesmo eixo;
• Lave os tambores de freio com desengraxante
antes de montá-los no veículo;
• Evite contaminar a superfície de atrito do
tambor e das lonas de freio com graxa ou fluido
de freio durante o manuseio, pois a presença

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8. Comparações entre Freio a Disco e a 9. Defeitos mais comuns


Tambor
Alavanca ou pedal de freio sem resistência (Freio a
Freios a tambor são muitos sensíveis às Disco)
mudanças no coeficiente de fricção que varia conforme a • Bolhas de ar ou vazamentos no sistema
razão da força de fricção com a força atuante definindo a hidráulico.
efeciência do freio. Uma pequena mudança no • Pastilha/disco contaminados com óleo.
coeficiente de fricção requer uma força normal bem maior • Retentor do pistão da pinça gasto.
na sapata para o mesmo torque. Já o freio a disco não • Reparo do cilindro mestre gasto.
tem esse problema, porque seu torque desenvolvido é • Pastilha de freio e/ou disco gastos.
linearmente proporcional ao coeficiente de fricção e uma • Pinça de freio não desliza adequadamente.
pequena mudança no coeficiente não o afeta tanto. • Nível de fluido de freio baixo.
Contudo, o principal problema do freio a disco é a falta da • Passagem de fluido obstruída.
auto-energização. Devido a esse problema o freio a disco • Disco de freio empenado ou gasto.
necessita de maior potência. • Pistão da pinça gasta.

Alavanca ou pedal de freio duro (Freio a Disco)


• Pistão da pinça preso.
• Pinça de freio não desliza adequadamente.
• Passagem do fluido obstruída.
• Retentor do pistão da pinça gasto.
• Pistão do cilindro mestre travado.
• Alavanca/pedal de freio torto.

Alavanca de freio dura ou demora a retornar (Freio a


Tambor)
• Mola de retorno gasta/quebrada.
• Ajuste incorreto do freio.
• Tambor de freio pegando devido à
contaminação.
• Sapata de freio gasta na área de contato com o
excêntrico.

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• Cabo de freio prendendo. o Pastilha gasta.


• Excêntrico do freio gasto. o Problemas no reparo do burrinho.
• Sapatas de freio instaladas incorretamente. o Ar no sistema.
o Nível do fluido de freio baixo.
Carro puxando de lado nas frenagens (Ambos) o Fluido de freio contaminado com água.
• Freios de um lado estão freando mais que os • Freio a Tambor
do outro. o Ajuste incorreto do freio.
• Calibragem dos pneus e se estão sendo o Lona de freio gasta.
usados pneus iguais dos dois lados. o Tambor de freio gasto.
• Chassi torto. o Excêntrico do freio gasto.
• Problemas nos rolamentos, componentes de o Sapatas de freio instaladas
suspensão ou direção. incorretamente.
• Discos com espessuras diferentes. o Cabo de freio prendendo.
o Lonas de freio contaminadas.
• Pinça de freio travando.
o Sapata de freio gasta na área de contato
• Tubulações ou flexíveis obstruídos.
com o excêntrico.
• Pastilhas (ou lonas) diferentes, vidradas ou
contaminadas com óleo ou fluido de freio. Trepidação no freio (Freio a Tambor)
• Lona de freio gasta.
Dificuldade em girar a roda (Ambos)
• Tambor de freio gasto.
• Freio desajustado.
• Lonas de freio contaminadas.
• Disco de freio empenado.
• Rolamentos da roda com defeito.
• Engrenagem defeituosa do velocímetro.

Freio agarrando (Freio a Disco)


• Mangueira do freio obstruída.
• Roda desalinhada.
• Disco de freio empenado.
• Pinça de freio não desliza adequadamente.

Freio com funcionamento deficiente


• Freio a Disco
o Disco de freio contaminado com óleo.

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5. Gaxeta Primária: Veda a câmara geradora de


10. Cilindro Mestre pressão na condição de acionamento.
6. Arruela Protetora: Protege a gaxeta primária,
Através do cilindro mestre se inicia a "Hidráulica evitando que ela se danifique.
do Freio", introduzindo e controlando o processo de 7. Êmbolo: Sua ação deslizante é responsável pela
frenagem, injetando e comprimindo o óleo, gerando a alimentação e drenagem do óleo.
pressão necessária para todo o Sistema de Freios. Sua 8. Gaxeta Secundária: Veda o fluído sem pressão.
função é gerar uma pressão hidráulica em todo o sistema 9. Arruela Trava: Age como topador de mola de
de freios. retorno.
Existem vários tipos de cilindro mestre. Os mais 10. Anel Trava: Impede que a Arruela Trava se solte.
utilizados são: 11. Coifa: Proteção envolvente da gaxeta primária.

Figura 12 – Cilindros mestre duplo (esquerda) e simples


(direita).

10.1. Componentes

Seja na figura 13 os seguintes componentes:


1. Carcaça: Aloja todo o mecanismo interno deste
conjunto.
2. Reservatório: Armazena o fluido de freio.
3. Válvula de Pressão Residual: Mantém a pressão
interna no circuito hidráulico, impedindo a entrada
de ar.
4. Mola de Retorno: Empurra o êmbolo para trás Figura 13 – Componentes do cilindro mestre.
quando na condição de retorno.

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10.2. Funcionamento Com o pedal do freio liberado, o êmbolo retorna


rapidamente ao repouso, empurrado pela pressão
Na situação de repouso todo sistema está cheio hidráulica do circuito e mola de retorno do próprio
de líquido e a pressão interna do cilindro é a mais cilindro.
próxima da pressão atmosférica, com a compensação À medida que o êmbolo do cilindro mestre retorna,
necessária de volume do fluido em todo o sistema. a pressão do circuito diminui. E ao mesmo tempo as
O fluido passa do reservatório para as câmaras do molas de retorno das sapatas empurram de volta os
cilindro através dos furos de compensação e êmbolos dos cilindros das rodas. Dessa forma, ocorre o
alimentação. retorno do fluido para o cilindro mestre.
Quando o pedal é acionado, o êmbolo é No conjunto do cilindro mestre são encontrados
empurrado e, com isso, a gaxeta primária veda o furo de pequenos orifícios, que dificultam o retorno do fluido para
compensação, interrompendo a comunicação da câmara o seu interior, mesmo com a mola de retorno do cilindro
geradora de pressão. Na câmara geradora, o fluido está forçando o recuo do fluido. Note que foi representado
sob pressão. O fluido sob pressão aciona os cilindros das que, em situação de retorno, o êmbolo volta rapidamente.
rodas e, conseqüentemente, as pastilhas, freando o O fluido presente no sistema, devido à sua inércia,
veículo. não volta com a mesma velocidade, pois isso acarretaria
A gaxeta primária veda, eficientemente, a câmara uma pressão negativa na câmara geradora de pressão.
geradora de pressão, pois o seu formato favorece a Nessa situação, a pressão na câmara geradora de
compressão contra a parede do cilindro com uma força pressão diminui, ficando inferior à pressão atmosférica.
diretamente proporcional à pressão atuada. Na câmara anelar, a pressão é igual à atmosférica, pois o
A arruela protetora tem a função de proteger a fluido está ligado ao reservatório pelo furo de
gaxeta primária (que é forçada para trás) para que ela alimentação.
não se deforme, não permitindo a passagem de óleo Essa diferença de pressão faz com que a gaxeta
para a câmara anterior. primária permita que o fluido, que se encontra na câmara
Na câmara anelar, o fluido está sob pressão anelar com pressão atmosférica, atravesse, por um
atmosférica, pois está em contato com o reservatório, orifício do êmbolo, facilmente pelo lado externo dos
através do furo de alimentação. Note que na tampa do lábios e passe para a câmara geradora de pressão.
reservatório existe um furo de respiro, ele iguala as Nesse estágio de retorno observa-se as seguintes
pressões internas e externas do reservatório e evita características:
formação de vácuo no caso do nível do fluído baixar. • Evita que numa segunda freada o condutor
O fluido passa do reservatório para as câmaras do sinta uma sensação de vazio, o que
cilindro através dos furos de compensação e causaria insegurança.
alimentação. • Que numa segunda freada o pedal fique
mais alto, devido ao excesso de fluido.

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• Com o êmbolo em posição de repouso,


esse excesso de fluido retorna ao 11. Servo Freio
reservatório pelo furo de compensação.
A função do servo de freio é reduzir a força
Essa válvula dispõe de uma mola que, devido à aplicada pelo motorista no pedal de freio, o processo se
sua carga, mantém o fluido sob pressão positiva no dá através da diferença de pressão entre o vácuo gerado
circuito hidráulico, mesmo quando o freio não está sendo pelo motor ou bomba de vácuo e a pressão atmosférica,
aplicado, de maneira que, com o menor aumento de amplificando a força de atuação sobre o cilindro mestre e
pressão quando acionado o cilindro mestre, ocorra proporcionando maior conforto ao motorista. Ele é
imediatamente, o efeito da frenagem, reduzindo o acionado mecanicamente através do pedal de freio em
chamado "curso morto" do pedal. conjunto com o vácuo (produzido pelo motor do veículo
É utilizada somente em freios a tambor, por ou pela bomba de vácuo), mais a pressão atmosférica.
possuírem molas de retorno que concedem equilíbrio ao
sistema. Através dessa pressão residual, a válvula evita
a entrada de ar pela gaxeta dos cilindros de roda.
No Sistema de Freios a Disco, como não há mola
de retorno do êmbolo, se houvesse pressão residual, os
freios ficariam acionados, prendendo as rodas mesmo na
condição de liberadas.

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12.1.1. Sensores de Velocidade nas rodas e Rotores


12. ABS (Anti-lock Brake System) Dentados

O sistema ABS evita que, durante uma frenagem, Esses sensores são utilizados para determinar a
a roda trave e comece a deslizar no chão. Em resumo, o razão de rotação das rodas. A extremidade do sensor
sistema de antitravamento de freios é a mais sofisticada está localizada perto do coroa dentada, que é geralmente
tecnologia, em se tratando de sistema de freios, que preso ao eixo do veículo ou na articulação guiada e gira
proporciona ao veículo a máxima eficiência na frenagem, na mesma velocidade das rodas. Quando o rotor gira,
sem considerar as condições do piso, para que o veículo uma tensão é induzida no sensor. O módulo e freqüência
mantenha sua trajetória mesmo em situações críticas. dessa tensão variam em relação à velocidade da roda. O
Foi criado pela empresa alemã Bosch, tornando-se sensor de velocidade pode vir montado em cada roda ou
disponível para uso em 1978, com o nome "Anti-lock na carcaça do eixo ou ainda na transmissão.
Brake System", embora houvesse tipos de ABS
mecânicos desde os anos 1950.
O sistema hidráulico do freio atua reduzindo a 12.1.2. Atuador Hidráulico
pressão a fim de evitar o travamento das rodas,
mantendo o atrito entre as rodas e a pista num valor O atuador hidráulico é a unidade que tem a
ótimo. Já o sistema eletrônico do ABS age recebendo capacidade de aumentar, diminuir ou manter a pressão
sinal dos sensores e enviando sinais de comando para o no freio. Ele age baseado em sinais recebidos do módulo
atuador hidráulico. de controle. O atuador hidráulico consiste basicamente
nos seguintes componentes:
• Conjunto bomba/motor, que supre o
12.1. Componentes acumulador com fluido de freio
pressurizado;
Os componentes do ABS são: • Acumulador, que recebe o fluido de freio
• Sensores de velocidade nas rodas; altamente pressurizado;
• Coroa dentada; • Conjunto de válvulas bloqueadoras, que
• Atuador hidráulico; contêm as válvulas solenóides hidráulicas.
• Módulo de controle Electronic Control Unit No sistema intregrado ABS, o conjunto cilindro
(ECU). mestre/elevador de pressão é uma parte integral da
O sistema pode ser aplicado nas duas rodas unidade hidráulica. Nesses sistemas, o acionamento
traseiras ou nas quatro rodas. assistido é provido pelo fluido de freio pressurizado que é
suprido pelo acumulador. Em um sistema não integrado,

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um conjunto convencional cilindro mestre/bomba é solenóide, e, a pressão do freio, na roda afetada, é


usado. mantida constante.
Alguns veículos são equipados com atuadores que Quando o módulo de controle detecta um
utilizam motores elétricos ao invés de válvulas hidráulicas bloqueamento completo, ele comanda o atuador a
para regular a pressão do freio. diminuir a pressão na roda afetada. Para realizar isso, a
válvula solenóide no atuador move-se para interromper a
pressão de fluido vinda do cilindro mestre e permite que
12.1.3. Módulo de Controle o fluido, atuando no freio, escoe para o reservatório do
acumulador. No mesmo instante, a bomba contida dentro
Um módulo de controle anti-bloqueamento é um do atuador, força o fluido do acumulador de volta ao
computador que usa sinais dos sensores de velocidade cilindro mestre. Quando isso ocorre, a pressão atuante
da roda para determinar quando e como o sistema na roda diminui.
antibloqueamento deve operar em uma determinada Quando todas as rodas estão girando
situação. Quando a roda está próxima à uma condição normalmente, a válvula solenóide no atuador retorna à
de bloqueamento, o módulo de controle emite sinais para sua posição original e o sistema de frenagem
o atuador hidráulico para regular a pressão do fluido que convencional volta a funcionar.
afeta a roda em questão. Se for necessário, um sistema típico anti-
bloqueamento pode repetir esse ciclo por volta de 15
vezes por segundo.
12.2. Operação do ABS

Durante o período de frenagem normal, a porção 12.3. O ABS como Item de Segurança
anti-bloqueamento do freio não opera. Apesar disso, os
sensores continuam monitorando a velocidade de A maior vantagem do ABS é o seu princípio e seu
rotação das rodas e enviando sinais para o módulo de funcionamento, ou seja, o antitravamento das rodas nas
controle. Quando o pedal do freio é pressionado, fluido frenagens de emergência. Em todas as situações, o
de freio escoa do cilindro mestre, através do atuador motorista poderá "pisar" fundo no freio, com a máxima
hidráulico, até o freio. força, sem que haja o travamento das rodas. A
Quando o módulo de controle detecta que a roda segurança do condutor aumentará e a vida útil dos pneus
está aproximando do bloqueamento, ele emite sinais se prolongará, pois os próprios pneus não serão
para a válvula solenóide no atuador hidráulico para arrastados sobre o solo.
bloquear a passagem de fluido entre o cilindro mestre e o Os sensores de rotação nas rodas informam a
freio da roda em questão. A pressão do fluido do cilindro unidade de comando se haverá o travamento (bloqueio)
mestre não pode, assim, escoar através da válvula de uma das rodas ou mais. A unidade (módulo) de

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comando impedirá este bloqueio, dando um conjunto de


sinais ao comando hidráulico, que regulará a pressão do 13. Bibliografia
óleo de freio individualmente, em cada roda.
Assim, o motorista poderá frear o veículo ao 1. LIMPERT, RUDOLF, Brake Design and Safety,
máximo, sem que trave as rodas, proporcionando assim, 2ªed., SAE International, 1999.
uma boa dirigibilidade com tranqüilidade e segurança. O 2. NORTON, ROBERT L., Projeto de Máquinas,
ABS permite que se aplique o freio com o máximo de 2ªed., Bookman, 2004.
força sobre o pedal ao contornar uma curva em alta 3. SHIGERU, M. F., Freios, UNIFEI, 1994.
velocidade mesmo com a pista molhada ou escorregadia, 4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
mantendo o total controle do veículo. O ABS é um TÉCNICAS, NBR-6143, Pastilhas de Freio a
importantíssimo avanço tecnológico rumo à segurança Disco. Determinação do Atrito e Desgaste
total dos condutores de veículos. Através da Bancada de Ensaios Krauss.
5. AGUILA, ZAIDA J., Formulação de Compósitos
Reforçados com Fibras de PANOX e Polpa de
Aramida utilizados em Materiais de Fricção,
Tese de mestrado, FEQ/UNICAMP, 1999.
6. FREUDENBERGER, R., Halting History: Brakes
Then and Now, Automotive Information Center,
Automotive Encyclopedia, 1995, Vol. 14.
7. SMITH, RERRIN N., Freios, Apostila de
Elementos de Máquinas, IPUC/PUC-Minas.
8. SIMTH, C., Engineer to Win, MBI, 2001.
9. SANTOS, ALIANDRO H. C., Avaliação do
Desempenho de Pastilhas Automobilísticas
Nacionais, Tese de mestrado, FEM/UNICAMP,
2005.
10. TRW, Apostilas E-learning Freios. Site TRW.
http://www.trw.com.br/. Acessado: 18/01/2006.
11. Site Wikipédia.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistemadefreios.
Acessado: 23/12/2005.
12. Site Wikipédia.
http://pt.wikipedia.org/wiki/ABS%28freio%29.
Acessado: 23/12/2005.

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13. Site Bosch.


http://www.bosch.com.br/br/autopecas/produtos/fre Apêndice A – Determinação do centro
ios/. Acessado: 18/01/2006.
14. Site Cobreq. http://www.cobreq.com.br. Acessado:
de gravidade
06/2005.
15. Site Freios Varga. http://www.varga.com.br. Para obter o centro de gravidade (C.G.) de um
Acessado: 06/2005. veículo é necessário obter o peso aplicado em cada roda
16. Site MultiFreios. http://www.multifreios.com.br. do veículo. Sendo:
Acessado: 06/2005.
17. Site Oficina & Cia. http://www.oficinaecia.com.br. PTd = Peso traseiro direito
Acessado: 06/2005. PTe = Peso traseiro esquerdo
PT = Peso total traseiro
PDd = Peso dianteiro direito
PDe = Peso dianteiro esquerdo
PD = Peso total dianteiro
Pd = Peso total direito
Pe = Peso total esquerdo
P = Peso total do veículo
ee = Distância entre-eixos
bi = Bitola
h = Altura do suporte
A = Altura do C.G.
a = Distância transversal do C.G. ao lado esquerdo do
veículo
b = Distância transversal do C.G. ao lado direito do
veículo
c = Distância horizontal do C.G. a frente do veículo
d = Distância horizontal do C.G. a traseira do veículo

Calculam-se os pesos que serão usados


posteriormente para o calculo do centro de gravidade:

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PTe + PTd = PT
PDe + PDd = PD
PTe + PDe = Pe
(A.1)
Ptd + PDd = Pd
PT + PD = P
Pe + Pd = P

Para calcular o C.G. horizontal:

PT c
=
P ee
(A.2)
PD d
= Figura A.1 – Esquema para pesagem do veículo para
P ee
obter PTi.
Para calcular o C.G. transversal:
AEEI = h − ( R + r )
(A.4)
Pe b PEEI = ee 2 − AEEI 2
=
P bi
(A.3) Obtém-se a altura do C.G. igual a
Pd a
=
P bi
A=
(ee ⋅ PEEI + AEEI ⋅ (R − r )) ⋅ ee ⋅ (PTi − PT )
Para calcular o C.G. vertical, considerando também: ((ee ⋅ AEEI − PEEI ⋅ (R − r )) ⋅ P ) − ⎛⎜ (PTi ⋅ (R − r )) P ⎞⎟ (A.5)
AEEI = Altura EEI ⎝ ⎠
PEEI = Projeção EEI
PTi = Peso traseiro quando a frente do carro estiver De modo análogo é possível calcular a altura do
inclinada (veja figura A.1) C.G. elevando a traseira do veículo.
R = Raio da roda maior
r = Raio da roda menor

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