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Luta na África do Norte

A primeira batalha de El Alamein

El Alamein: Ofensiva inicial alemã

Junho, 30, de 1942. O mundo inteiro vive voltado para os


acontecimentos que estremecem o norte da África. O destino da
guerra no deserto joga-se nesse momento numa reduzida frente que
vai da costa do Mediterrâneo até a desolada depressão do Quattara.
Ali, entrincheiradas, as tropas britânicas aguardam a investida alemã.
À frente deles, as forças do Afrika Korps se aprontam para lançar a
sua última cartada.

As defesas da linha de El Alamein, cuja construção fôra iniciada


em 1941 e terminada apressadamente nos dias que se seguiram à
derrota de Tobruk, consistiam em três redutos distribuídos de norte a
sul, entre o Mediterrâneo e o Quattara, com intervalos de uns 25 km,
aproximadamente. No extremo norte, em torno da estação ferroviária
de El Alamein, estava a primeira posição fortificada, bloqueando a
rodovia e a estrada de ferro que correm paralelas à costa. No centro,
estavam as fortificações de Bab el Quattara. Ao sul, próximas à grande
depressão, encontravam-se as fortificações de Abu Weiss. No último
instante foi criada uma quarta posição entre El Alamein e Bab el
Quattara. Era o reduto de Deir el Shein, situado no sopé do maciço
rochoso de Ruweisat. Ali foi localizada a 18 a Brigada de Infantaria
hindu, apoiada por três regimentos de artilharia de campanha. As
outras posições eram defendidas pelas 1a Divisão sul-africana, a 50a
Divisão britânica, 9a Brigada de Infantaria hindu e a divisão
neozelandesa. Mais para a retaguarda estava localizada a 1a Divisão
Blindada, com 150 tanques.

No próprio dia 30 de junho, o General Auchinleck, chefe das


forças britânicas, instalou seu QG a poucos quilômetros do maciço de
Ruweisat, no centro das defesas. Ainda nessa jornada, ordenou ao
General Holmes, do 10o Corpo de Exército, que se transladasse ao
delta do Nilo e organizasse ali uma nova posição defensiva para
prever um possível desenrolar desfavorável da batalha de El Alamein.
Ainda enviou um telegrama às autoridades, em Londres, expondo os
seus pontos de vista acerca da iminente batalha. A seu ver, Rommel
realizaria o seu ataque principal no setor situado entre El Alamein e
Bab el Quattara. Com efeito, assim aconteceria.
Segunda Guerra Mundial 2

Depois de enviado o comunicado a Londres, Auchinleck emitiu


uma mensagem destinada às tropas. Dizia: “O comandante-chefe
acredita que, não tendo o inimigo atacado esta noite, o fará amanhã,
na primeira hora. Todas as tropas devem estar prontas para repeli-lo, a
partir de meia-noite”. Assim se encerraram os preparativos no lado
britânico.

Rommel, por sua vez, estava ultimando os detalhes do seu plano


de ataque. Propunha-se a repetir a manobra que havia realizado, com
grande êxito em Marsa Matruh. As duas divisões Panzer e a 90 a
Ligeira irromperiam frontalmente nas linhas britânicas, entre as
posições fortificadas de El Alamein e Deir el Shein. Uma vez obtido o
rompimento, a 90a Ligeira giraria para o norte, para alcançar a costa
do Mediterrâneo e cercar, pela retaguarda, a guarnição do reduto de El
Alamein. Simultaneamente, as duas divisões Panzer (15 a e 21a) se
deslocariam para o sul, para envolver as tropas britânicas sediadas nos
redutos de Bab el Quattara e Abu Weiss. Para levar a termo esse plano,
Rommel esperava realizar uma rápida penetração, em virtude da
suposta debilidade das tropas britânicas e da desmoralização que
acreditava campear nas suas fileiras. Logo haveria de comprovar que a
realidade não correspondia à sua expectativa.

Começa a luta

Às 2h30 da madrugada de 1o de julho, as forças do Afrika Korps se


puseram em movimento. Chegara o momento do choque decisivo. Do
resultado da iminente batalha dependia a sorte do exército britânico na
África do Norte e, conseqüentemente, do delta do Nilo. Eram
imprevisíveis os resultados que tal derrota causaria à Inglaterra. Para
os alemães, caso triunfassem, ficaria aberta a rota para a Índia. Tinham
consciência disso os homens do Afrika Korps, que se dispunham a
realizar um esforço supremo, depois de cinco semanas de luta
ininterrupta.

Avançando através do deserto, em meio à obscuridade, as colunas


mecanizadas alemães perderam o rumo. Finalmente conseguiram
orientar-se e, com três horas de atraso, alcançaram as posições de
ataque predeterminada. Eram aproximadamente 5h30 da manhã e as
primeiras luzes do dia começavam a iluminar o cenário. Aquele era o
momento que a aviação britânica aguardava para se lançar ao ataque.
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E o fez, com efeito devastador. A aparição dos aviões britânicos


provocou confusão entre as linhas alemães e obrigou seus efetivos a se
dispersarem, procurando refúgio. A Luftwaffe, então, somou-se à luta,
e enfrentou os aviões ingleses, bombardeando também as posições dos
britânicos. Assim pôde o Afrika Korps, sob a proteção dos seus aviões,
iniciar o avanço.

Pelas nove da manhã, a 21 a Divisão Panzer deparou com as


posições fortificadas de Deir el Shein, defendidas pela 18a Brigada de
Infantaria hindu, três regimentos de artilharia de campanha, uma
companhia antitanque, e nove antiquados tanques Matilda. Os hindus,
de suas posições, defendidas por extensos campos de minas,
ofereceram encarniçada resistência ao ataque alemão. Estes, porém,
depois da primeira investida, aniquilaram dois batalhões que se
encontravam na primeira linha e conseguiram penetrar nas posições. O
General Nehring, que exercia o comando direto das duas divisões
Panzer, procurou conseguir a capitulação do inimigos. Para isso,
enviou, sob bandeira branca, um oficial britânico capturado com a
missão de intimar a rendição. Os hindus, no entanto, rechaçaram o
ultimato.

Rommel, enquanto isso, acercou-se da frente de luta para verificar,


pessoalmente, o desenvolvimento das operações. Porém, o fogo das
baterias britânicas o obrigou a retirar-se para posições mais
defendidas.

Nesse meio tempo, as tropas do General Nehring sustentavam um


encarniçado duelo com os efetivos hindus, que se prolongaria pelo dia
inteiro. Os hindus, disparando praticamente a queima-roupa seus
canhões de 25 libras e peças antitanque, conseguiram destruir 18
tanques alemães. As perdas, proporcionalmente eram muito elevadas,
dado o reduzido número de veículos blindados com que os alemães
contavam.

Ao cair da noite, finalmente, a luta cessou em Deir el Shein. A


posição fôra capturada e perto de 2.000 soldados hindus caíram
prisioneiros. O rápido rompimento, planejado por Rommel, no
entanto, não se havia concretizado. As duas divisões Panzer do Afrika
Korps, por causa das graves perdas sofridas, já não estavam em
condições de realizar a manobra de envolvimento planejado
anteriormente.
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Enquanto isso ocorria em Deir el Shein, ao norte, a 90 a Ligeira


enfrentava também graves dificuldades. Seu ataque se havia iniciado
praticamente na hora prevista, por volta das 3h20 da madrugada.
Porém, em virtude da violenta resistência das forças britânicas, os
efetivos alemães tiveram que deter seu avanço três horas mais tarde,
nas cercanias de El Alamein. Seguindo instruções de Auchinleck, que
havia previsto acertadamente o plano de ataque de Rommel, as forças
sul-africanas contiveram o avanço alemão com um violento fogo
convergente. Ante a crítica situação, a 90a Divisão se deslocou para o
sul a fim de escapar aos efeitos do bombardeio. Já era meio-dia. Os
alemães, com a intenção de reagrupar suas forças, formaram uma
frente defensiva. A luta permaneceu então estabilizada até as quatro da
tarde. A essa hora, as colunas alemães se puseram novamente em
marcha, numa desesperada tentativa de abrir caminho até a costa do
Mediterrâneo e cercar El Alamein. Os britânicos, compreendendo o
perigo que o movimento dos alemães representava, ofereceram uma
tenaz resistência. Submetidas a um canhoneio infernal, as tropas da
90a Ligeira tiveram que deter o avanço e entrincheirar-se. O chefe da
unidade solicitou, então, urgentes reforços. Rommel, ao receber a
mensagem, resolveu reunir todas as unidades de reserva que dispunha,
e marchou em socorro da 90a Ligeira. A operação contudo, não teve
sucesso. As colunas motorizadas lideradas por Rommel caíram sob o
fogo concentrado das baterias e da aviação britânicas. Para escapar à
chuva de projéteis, os veículos foram dispersados, e o próprio
Rommel teve que se estender no solo e permanecer durante duas horas
numa trincheira improvisada.

Diante da violenta oposição dos britânicos, Rommel decidiu


aguardar até a noite, com o objetivo de tentar abrir caminho por um
audacioso golpe de astúcia.

Às 9h30 da noite e à tênue luz da lua, os corajosos soldados da 90 a


Ligeira lançaram-se novamente ao ataque. Os britânicos, que
permaneciam alertas em suas fortificações, abriram um fogo
violentíssimo e rechaçaram o ataque, dizimando os 1.300 soldados
alemães que se haviam lançado à aventura. Uma vez mais os planos
de Rommel tropeçaram na inquebrantável resistência inglesa.

O ataque detido

Nessa mesma noite, 1o de julho, enquanto seus homens lutavam


sem descanso, tratando de deter o avanço alemão, Auchinleck, no seu
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veículo de comando estacionado em pleno deserto, mantinha uma


conferência com seus assessores. A jornada terminara favoravelmente
às armas britânicas, apesar do contratempo sofrido em Deir el Shein.
Os Generais Gort e Norrie, chefes respectivamente dos 13 o e 30o
corpos, receberam de Auchinleck as ordens de combate para a ação
futura. Era necessário passar imediatamente ao contra-ataque, para
arrebatar a Rommel a iniciativa e acelerar o desgaste e a
desmoralização de suas extenuadas forças. O 8o Exército deveria
lançar-se à ofensiva no dia seguinte. Com esse fim, o 13 o Corpo se
atiraria sobre o flanco sul do Afrika Korps e, depois de superar as
linhas alemães, prosseguiria avançando até alcançar o Mediterrâneo, e
envolver, pela retaguarda, as forças alemães. O 30o Corpo prosseguiria
sua resistência em torno de El Alamein, mantendo as tropas do Eixo
entretidas, impedindo-as de escapar à armadilha.

Com a decisão de atacar, Auchinleck restabeleceu em seus


subordinados o moral combativo e devolveu a seus homens grande
parte da confiança perdida.

Na manhã de 2 de julho, Rommel decidiu concentrar todas as suas


forças na operação contra o reduto de El Alamein. As 15a e 21a
divisões Panzer, cujo avanço havia sido detido em Deir el Shein,
deslocaram-se para o norte, para integrar-se à 90 a Ligeira, e completar
o cerco da praça de guerra. Esta manobra coincidiu com o planejado
contra-ataque britânico. As forças alemães, portanto, ao agruparem-se
para avançar sobre El Alamein, ficaram com o flanco sul totalmente
exposto. As forças britânicas, por sua vez, seguindo a orientação de
Auchinleck, lançaram-se sobre as linhas inimigas. A manobra não teve
o êxito esperado. Rommel, mais uma vez, pôde dar mostras da sua
extraordinária capacidade de reação. Ao ter notícia da penetração dos
tanques ingleses na sua retaguarda, deslocou para o sul a 15 a Divisão
Panzer e conseguiu deter a investida.

O fracasso da iniciativa britânica, contudo, não foi total. O


principal objetivo, ou seja, deter as forças de Rommel fôra alcançado.
As divisões Panzer não apenas não conseguiram cercar El Alamein,
como também haviam sofrido, na dura luta, perdas consideráveis.
Seus tanques estavam reduzidos a 26.

Rommel, reconhecendo a eficiência da orientação que Auchinleck


imprimiu às suas forças, posteriormente, se manifestaria: “Ele
(Auchinleck) manejava suas tropas com uma habilidade extraordinária
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e com dotes táticas mais eficazes que os de Ritchie; parecia


contemplar a situação com tranqüilidade fria e não permitia que se
introduzisse modificação alguma nas manobras planejadas”.

Apesar das dificuldades crescentes, confiava ainda em poder


inverter a situação a seu favor.

No dia 3 de julho, ao meio-dia, lançou novamente o Afrika Korps


ao ataque sobre El Alamein. A tentativa foi recebida pelo bombardeio
incessante da artilharia e da aviação britânicas. Sustentando duros e
constantes combates, as exauridas forças alemães conseguiram, a
princípio, abrir caminho para o leste, implantando uma ponta de lança
na retaguarda das linhas inglesas, em El Alamein. Esse triunfo inicial,
contudo, viu-se frustrado por um episódio catastrófico, que ocorreu no
sul. Nas posições defendidas pela divisão italiana Ariete, os tanques da
1a Divisão Blindada britânica e a infantaria neozelandesa lançaram-se
inesperadamente ao ataque e conseguiram uma vitória completa. Ao
meio-dia, a Ariete havia abandonado o campo de batalha, depois de
perder toda a sua artilharia e de ficar com apenas cinco tanques.

Ao receber a notícia do desastre, Rommel, completamente


desalentado, enviou novamente a 15a Panzer para cobrir seus flancos.
Tentou também, com a 21a Divisão Panzer e a 90a Ligeira, um último
e desesperado esforço para cercar El Alamein. Esta operação redundou
em outro fracasso. O Afrika Korps já não possuía suficiente poder
ofensivo para pesar no desenrolar dos acontecimentos. Suas unidades
estavam reduzidas a uma expressão mínima, exauridas e esgotadas, e
careciam de vibração e capacidade combativa. Assim, ao cair a noite
Rommel ordenou suspender o ataque e suas forças passaram à
defensiva. Embora sabendo que a pausa que proporcionava permitiria
aos britânicos consolidar sua defesa e reorganizar suas forças,
Rommel não tinha outra alternativa; suas tropas, efetivamente, se
encontravam à beira de um colapso, a um passo da desintegração.

Na campo inglês, entretanto, reinava o júbilo pelo desenrolar


favorável dos acontecimentos. Auchinleck, caracteristicamente
lacônico, dirigiu, ao término da jornada, uma mensagem aos seus
homens. Dizia: “Do comandante-chefe a todas as tropas do 8 o
Exército. Todos se portaram muito bem. A jornada foi magnífica.
Mantenham-se firmes”.

Auchinleck contra-ataca
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Depois do terrível esforço despendido pelos seus homens, Rommel


recolheu da frente de combate as unidades blindadas e motorizadas, a
fim de reorganizá-las.

Paralelamente, iam sendo substituídas por unidades de infantaria


italianas. Auchinleck, contudo, não estava disposto a dar trégua ao seu
adversário. Na tarde de 4 de julho entrevistou-se com os generais
Norrie e Gort e lhes ordenou que efetuassem um novo contra-ataque.
Seu plano era lançar, novamente, um ataque de flanco, pelo sul, com o
13o Corpo de exército, para penetrar na retaguarda das linhas alemães
e encurralar o Afrika Korps contra a costa do Mediterrâneo. O
objetivo principal dessa operação era destruir o moral dos alemães,
mediante uma série ininterruptas de golpes; os alemães, de fato,
haviam lutado até aquele momento de vitória em vitória. As derrotas,
em rápida sucessão, provocariam a desorientação nas suas fileiras.
Assim pensava Auchinleck.

O ataque britânico, iniciado a 5 de julho, não chegou a concretizar


sua finalidade. O 13o Corpo avançou muito lentamente, numa atitude
inexplicável. Somente a 4a Brigada Blindada Leve, integrada
totalmente de carros blindados, atravessou as linhas alemães e, a toda
velocidade, irrompeu na retaguarda do Afrika Korps. Essa penetração
semeou uma terrível confusão nas fileiras do Eixo, pois acreditou-se
que se tratava de uma força de tanques. Rommel, inclusive, também
supôs o mesmo. A esse fato, acrescentou-se outro; o de que, nesse
setor, os alemães careciam de armas antitanques. As poucas baterias
de artilharia de campanha, por sua vez, não contavam com suficiente
munição. Tudo contribuía para criar um quadro de crise total no setor
alemão.

No último momento, e realizando esforços desesperados, Rommel


conseguiu interpor alguns caminhões sobre a rota de avanço dos
carros blindados inimigos. Pôde assim rechaçá-los e paralisar sua
penetração. Os britânicos, contudo, continuaram realizando ataques
limitados, ao longo de toda a frente, apoiando-os com um intenso fogo
de artilharia. Desta forma, mantiveram, sob assédio constante, as
forças alemães.

Luta em Bab el Quattara


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A chegada à frente de combate das forças avançadas da infantaria


italiana, integradas por 11 batalhões dos 10o e 21o Corpos de Exército,
apoiados por 30 baterias leves e 15 pesadas, permitiu a Rommel
planejar novas operações ofensivas. Desta vez, decidiu descarregar o
peso do ataque sobre o centro do dispositivo britânico e escolheu
como ponto de rompimento o reduto fortificado de Bab el Quattara.
Auchinleck, ao mesmo tempo, projetava realizar um ataque ao longo
da estrada da costa do Mediterrâneo, sobre o flanco norte de Rommel.
Utilizaria para isso as tropas da 9 a Divisão australiana, que acabavam
de incorporar-se ao 8o Exército. Para distrair a atenção de Rommel
antes dessa operação, Auchinleck ordenou que as forças de Bab el
Quattara se retirassem. Desta forma, casualmente, os planos de ambos
os chefes coincidiram e redundaram em proveito dos ingleses.
Efetivamente, na manhã de 9 de julho, a 21 a Divisão Panzer, a 90a
Ligeira e a Littorio penetraram em Bab el Quattara, sem encontrar
muita resistência. Com surpresa, os alemães constataram que as
unidades neozelandesas haviam se retirado, entregando-lhes sem luta
a posição. A surpresa que essa atitude ocasionou nos alemães é
refletida nas palavras de Rommel: “Os neozelandeses haviam
abandonado grandes quantidades de munição e equipamento sem que
pudéssemos compreender o motivo daquela retirada...”

Nessa mesma noite, Rommel instalou seu posto-de-comando em


Bab el Quattara, e emitiu ordens para completar no dia seguinte o que
considerava uma vitória iminente. Ao amanhecer, o surdo rugido da
artilharia inglesa, ouvido a grande distância, na direção norte, alertou
Rommel e o trouxe de volta à realidade. A “retirada inglesa” não era
mais que um hábil truque de Auchinleck, destinado a encobrir o
contra-golpe que nesse momento se iniciara e que tinha como objetivo
as forças italianas entrincheiradas diante de El Alamein. Os
australianos, lançando-se impetuosamente ao ataque, superaram e
puseram em fuga as unidades da divisão Sabratha. Os soldados
italianos abandonaram as linhas de fugiram em direção ao deserto.
Toda a artilharia da divisão foi capturada, assim como a colina de Tell
el Eisa, estratégico ponto elevado que dominava o campo de batalha
de El Alamein.

Diante do desastre que ameaçava todas as suas forças, Rommel


ordenou que se suspendesse a projetada ofensiva em Bab el Quattara e
se dirigiu imediatamente para o norte, com parte da 15a Divisão
Panzer e outras unidades mecanizadas.
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Sobre a costa do Mediterrâneo a batalha se desenvolvia com


grande intensidade. Ali, o Tenente-Coronel von Mellenthin havia
conseguido erguer uma improvisada linha de defesa, utilizando tropas
pertencentes a diversos serviços, guarnições das baterias antiaéreas, e
parte das tropas da 164a Divisão Ligeira, que, proveniente da
Alemanha, acabava de chegar à África do Norte.

Ao meio-dia, as forças conduzidas por Rommel avançaram, vindas


do sul, contra o flanco da cunha aberta pelos australianos, porém
foram contidas pelo violentíssimo fogo das baterias britânicas
sediadas em El Alamein. A luta prolongou-se até o dia seguinte,
quando Auchinleck lançou um novo ataque contra as unidades de
infantaria italianas. Desta vez, a divisão Trieste foi superada pelos
britânicos e sofreu numerosas baixas entre mortos, feridos e
prisioneiros.

Os últimos combates

Os êxitos alcançados pelos britânicos no dia 11 de julho, sobre a


divisão Trieste, demonstravam que Auchinleck havia golpeado no
momento adequado, escolhendo como objetivo de seu ataque as tropas
que, a seu ver, lhe ofereciam menor resistência. Rommel interpretou
acertadamente essa tática do comandante inglês e assim a registrou em
seu diário: “Durante os últimos dias, o chefe contrário demonstrou
considerável audácia. Logo compreendeu que os italianos, com a
apatia decorrente do seu enorme cansaço, eram uma presa fácil”.

Prevendo que Auchinleck realizaria novos ataques contra as tropas


italianas, o chefe alemão resolveu adiantar-se aos acontecimentos e
ordenou à 21a Divisão Panzer efetuar uma inesperada investida contra
a fortaleza de El Alamein. A operação foi realizada a 13 de julho,
porém o fogo ininterrupto das baterias inglesas não permitiu que os
alemães avançassem. Ao cair a tarde, Rommel se viu obrigado a
interromper a ação, resolução que tomou muito a contragosto. Nesse
instante desencadeou-se uma violenta tempestade de areia que,
impedindo a visibilidade dos artilheiros britânicos, teria permitido aos
alemães consumar o seu avanço. Contudo, as perdas sofridas pelos
alemães eram tão elevadas que a operação não pôde se realizar. A
respeito dessa jornada, disse Rommel, mais tarde: “Acabávamos de
perder uma oportunidade única...”
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Apesar de tudo, o chefe alemão, no dia seguinte, 14 de julho,


lançou novamente ao ataque a 21 a Panzer, desta vez contra a colina
Tell el Eisa, defendida pelas tropas australianas. Os Stukas realizaram
um violento bombardeio prévio, porém as unidades alemães,
marteladas pelo fogo da artilharia e da aviação britânicas, não
conseguiram perfurar a frente inimiga. A luta se prolongou até a noite,
com intensidade crescente, sem que os australianos cedessem em sua
irremovível resistência. Enquanto esses fatos se desenrolavam diante
da fortaleza de El Alamein, ao sul, Auchinleck lançou um inesperado
ataque com os neozelandeses e a 5a Brigada hindu, sobre o maciço de
Ruweisat, defendido pelo 20o Corpo de exército italiano. Avançando
na escuridão, com baioneta calada, os neozelandeses se apoderaram de
toda a colina, mantendo sangrentos combates corpo a corpo com os
italianos Ao chegar o dia, prosseguiram na sua penetração e
envolvendo pela retaguarda as divisões Brescia e Pavia, capturando a
quase totalidade de seus efetivos. O avanço ainda continuou até o
reduto de Deir el Shein, onde foram, a duras penas, contidos por
grupos isolados do Afrika Korps.

Ao receber a notícia da catastrófica penetração britânica, Rommel


ordenou que a 21a Divisão Panzer interrompesse imediatamente seus
ataques contra El Alamein e se deslocasse para o sul, a fim de rechaçar
os neozelandeses. Durante a tarde, os tanques alemães contra-
atacaram em Deir el Shein, recuperando grande parte do terreno
perdido e fazendo inúmeros prisioneiros. Este êxito animou Rommel a
realizar um novo ataque contra o centro do dispositivo britânico,
porém, Auchinleck, novamente, interrompeu os seus planos. Na noite
de 16 de julho, os australianos irromperam novamente pelo norte, ao
longo da estrada da costa, sobrepujando as divisões Trento e Trieste.
Rommel, sem perda de tempo, enviou todas as suas forças ao encontro
dos australianos. Depois de rude combate, deteve o avanço. Porém, a
conseqüência principal desta série de ataques e contra-ataques, se
cristalizava no golpe que o moral do chefe alemão havia sofrido. Com
efeito, Rommel, a 17 de julho, já não pensava na vitória. As perdas
que o Afrika Korps sofrera e o estado de esgotamento dos seus
homens o obrigavam a ver a situação de um plano mais realista. Como
ele mesmo escreveu mais tarde, “nossas forças eram tão inferiores às
inglesas, que podíamos nos considerar com sorte se conseguíssemos
manter a frente...”. Totalmente abatido, Rommel escreveu à sua
esposa: “Isto não pode continuar assim, a frente se desmoronará
quando menos esperamos...”. A correspondência enviada por Rommel
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à esposa, nos dias seguintes, traduz fielmente a inquietude do chefe


alemão.

Com esse estado de ânimo, Rommel enfrentou os violentos


ataques que Auchinleck lançou nas noites de 21 a de 26 de julho. As
duas ofensivas se originaram num telegrama enviado por Churchill a
Auchinleck, no qual lhe expunha a grave situação que se delineava, se
o avanço alemão continuasse no mesmo ritmo no Cáucaso. Posto que
esse avanço ameaçaria as vitais jazidas de petróleo do Oriente Médio,
era necessário derrotar Rommel rapidamente, com a finalidade de
deslocar parte das forças para as regiões ameaçadas. Embora
Auchinleck não confiasse totalmente na possibilidade de atingir a
vitória, dado ao estado de esgotamento de suas tropas, e a escassez de
seus meios, ordenou ao 8o Exército levar adiante a operação prevista.
O resultado, tal como foi previsto, foi adverso. Os soldados alemães,
combatendo encarniçadamente, rechaçaram os ingleses, causando-lhes
graves perdas. Assim terminou a primeira fase da luta em El Alamein.
Ambos os lados haviam sofrido consideráveis baixas. Ao final, porém
era Rommel que havia levado a pior. Seu plano de alcançar o Suez
numa rápida investida fracassara, graças ao esforço do 8o Exército e,
principalmente do seu chefe, Auchinleck. O próprio Rommel o
reconheceu: “Embora as perdas inglesas fossem superiores às nossas,
o preço pago por Auchinleck não era excessivo, porque o mais
importante para ele era conter o nosso avanço, coisa que, infelizmente,
havia conseguido... Depois de retumbantes vitórias, a esplêndida
campanha de verão terminava em perigosíssimo marasmo”.

Anexo

O Exército britânico
A unidade básica do exército britânico era a divisão. As divisões
de infantaria contavam com um total aproximado de 17.000 soldados.
Cada divisão era integrada por 3 brigadas e cada brigada por 3
batalhões que compreendiam quatro companhias de atiradores, e
seções de apoio, armadas com canhões antitanque, morteiros e
veículos blindados Bren. A divisão de infantaria contava com 1
batalhão de metralhadoras pesadas, com 48 armas desse tipo. Sua
artilharia era integrada por 3 regimentos de artilharia de campanha (72
canhões de 25 libras), um regimento de canhões antitanque e um
regimento de artilharia antiaérea (canhões leves Bofors).
Completavam a divisão quatro companhias de engenharia, unidades
de saúde, serviços e polícia militar.
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A divisão blindada era integrada por uma brigada blindada e uma


brigada de infantaria motorizada. O total aproximado de efetivos era
de 156 tanques e 13.500 soldados. A brigada blindada compreendia 3
regimentos de tanques, um de carros blindados e um batalhão de
infantaria motorizada. A divisão blindada e a de infantaria contavam
com suas próprias unidades de artilharia, engenharia e serviços. As
divisões erma agrupadas em corpos de exército que formavam um
exército. O 8o Exército britânico, comandado pelo General
Auchinleck, contava em julho de 1942, com os 13 o e 30o Corpos de
Exércitos.

Cartas trocadas entre Hitler e Mussolini


Depois da queda de Tobruk nas mãos do Eixo, a 21 de junho de
1942, Mussolini enviou uma mensagem a Hitler, onde expressava:
“Estou certo, como o Fuhrer, de que é necessário consolidar e ampliar
os resultados obtidos. Malta é o centro dos nossos problemas
estratégicos... Declaro-lhe que os preparativos para uma ação contra
essa base estão muito adiantados... As operações na Marmárica
obrigaram a adiar a ação para agosto... A operação contra Malta se
impõe mais do que nunca...”
Na sua resposta, Hitler dizia:
“Nesse momento, que do ponto de vista militar é histórico, quero
expor-lhe o meu pensamento acerca de uma questão que pode ser de
importância decisiva para o êxito da guerra. O destino nos oferece
uma possibilidade que, de nenhuma maneira, voltará a se apresentar-se
no teatro de luta. Aproveitá-la deve ser, segundo creio, nossa
primordial preocupação... O 8o Exército está praticamente destruído...
Se os restos desse exército não são perseguidos sem trégua, até o
último alento de cada homem, acontecerá o mesmo que ocorreu aos
ingleses, quando a pouca distância de Trípoli, tiveram que deter-se a
fim de enviar tropas para a Grécia... Se agora nossas forças não
continuarem avançando até o coração do Egito... em pouco tempo a
situação se voltará contra nós... desta vez o Egito deve ser arrebatado
da Inglaterra! As conseqüências desse ato terão repercussão mundial...
Se neste momento posso, Duce, dar-lhe um conselho: ordene
prosseguir as operações até o aniquilamento das forças britânicas... A
deusa das batalhas passa uma só vez junto aos líderes; aquele que não
a segura no momento oportuno, poderá nunca mais tornar a vê-la...”

Com Rommel na África do Norte


A 1ª Batalha de El Alamein 13

3 de julho de 1942
Aqui se perde toda a noção de tempo. A luta pelas últimas posições
diante de Alexandria é muito dura. Permaneci na primeira linha alguns
dias, vivendo no carro ou num buraco cavado na terra. As forças
aéreas inimigas nos fizeram passar um mau pedaço. Contudo, espero
que tudo se resolva bem.
4 de julho de 1942
Infelizmente, as coisas não caminham como eu queria. A
resistência é grande e nossas tropas estão exaustas. Contudo, espero
encontrar a maneira de atingir nosso objetivo. Sinto-me um pouco
cansado.
5 de julho de 1942
Estamos atravessando momentos muito difíceis. Porém, espero
superá-los... A recuperação de nossas forças é muito lenta. Não é nada
agradável ver-se forçado à imobilidade, a apenas 96 km de
Alexandria. Porém, tudo acabará bem.
12 de julho de 1942
A grave situação dos últimos dias melhora paulatinamente. Porém,
a atmosfera ainda está carregada de eletricidade. Espero poder avançar
amanhã mais um passo.
13 de julho de 1942
Hoje será outra jornada decisiva nesta dura luta. As tropas se
movimentam já em pleno deserto.
14 de julho de 1942
Minhas esperanças de ontem foram desenganadas. Não pude
conseguir êxito algum. De qualquer formas, devemos desfechar o
golpe e planejarmos com entusiasmo futuras operações. Fisicamente,
estou bem. Hoje, estou trajando bermudas pela primeira vez, pois está
fazendo muito calor. A batalha do leste (Ofensiva alemã na Rússia, no
final de junho, destinada a conquistar Stalingrado e as jazidas de
petróleo do Cáucaso) continua esplendidamente, o que nos dá
coragem para resistir aqui.
17 de julho de 1942
Tudo vai mal para mim, pelo menos no sentido militar. O inimigo
utiliza a sua superioridade em infantaria para destruir, uma por uma,
as formações italianas, enquanto que a nossas estão já muito fracas.
Dá vontade de chorar.
18 de julho de 1942
Ontem foi um dia especialmente crítico. Avançamos novamente.
Porém isso não pode continuar assim, pois a frente se desmoronará
quando menos esperarmos. Militarmente é o período mais difícil que
Segunda Guerra Mundial 14

já atravessei. Há perspectivas de ajuda, mas viveremos até vê-la


chegar?
2 de agosto de 1942
Sem novidades, com exceção da grande atividade aérea contra
minhas linhas de abastecimento. Agradeço cada dia que transcorre em
calma. Muitos doentes. Eu também me sinto muito cansado... A
estrada de ferro de Tobruk até a frente ainda não está funcionando.
Aguardamos locomotivas.
O fato de nos mantermos na linha de El Alamein nos obriga à luta
mais cruel que já tivemos na África. Ainda que suportável, sofremos
diarréia por causa do calor.
27 de agosto de 1942
Kesselring vira hoje para trocar comigo impressões acerca dos
problemas mais prementes. Ele tem também, as vezes, dificuldades
em Roma. Fazem-lhe muitas promessas, mas cumprem muito poucas.
Seu excesso de otimismo a respeito desses inúteis lhe está causando
graves desgostos
4 de setembro de 1942
Acabamos de passar uns dias muito agitados. Tivemos que
suspender a ofensiva, por dificuldades no abastecimento e pela
superioridade do inimigo em forças aéreas. Do contrário, a vitória
seria nossa
11 de setembro de 1942
Sinto-me perfeitamente bem. Meu estado varia muito. Chegou o
momento em que preciso de umas semanas de descanso
16 de setembro de 1942
Ontem a noite cheguei de Tobruk... Tudo volta a estar sob controle.
Stumme chega a Roma hoje. Espero colocar-me em marcha dentro de
uma semana. Kesselring chegou esta manhã, depois da conversa que
tive com ele em Tobruk, ontem. Vem do QG do Fuhrer. A batalha de
Stalingrado parece ser muito dura e está nos obrigando a empregar
forças que seriam mais necessárias no sul.

Ciano e a situação na África do Norte


4 de julho de 1942
Cavallero foi nomeado marechal, evidentemente para compensar a
impressão produzida pela nomeação de Rommel. Efeito totalmente
negativo; nos círculos militares, especialmente, a medida foi recebida
com unânime desaprovação.
5 de julho de 1942
A 1ª Batalha de El Alamein 15

Sem novidades. Na Líbia, continuamos ainda parados. Pelo


contrário, na Rússia, a ofensiva progride um pouco, mas
custosamente. Ou a resistência aumentou muito, ou a força de
penetração do exército alemão já não é a mesma de antes.
6 de julho de 1942
Regresso de Roma. Observo uma certa preocupação vaga pela
parada das tropas diante das posições de El Alamein; teme-se que,
uma vez perdido o impulso inicial, Rommel não consiga avançar mais.
No deserto, quem se detém está realmente perdido. Basta pensar que
cada gotas de água deve chegar de Marsa; quase 200 km de estrada
batidos pela aviação inimiga. Contam-me que nos ministérios
militares reina uma violenta indignação contra os alemães. Cavallero é
o único que consegue lucrar com tudo; não se pode negar: ele pode
não ser um grande estrategista, porém quando se trata de comer é
capaz de ganhar até dos alemães.
21 de julho de 1942
O Duce está de bom humor, sobretudo porque está convencido de
que, por volta de duas ou três semana, poderá recomeçar a marcha no
Egito e chegar às grandes metas do Delta e do Canal... Naturalmente,
Mussolini respirou a atmosfera anti-Rommel dos comandos líbicos e
arremete contra o marechal alemão, ainda mais porque este nem
sequer sentiu a necessidade de visitá-lo durante as três semanas em
que lá esteve. A conduta dos soldados é também insolente. Os carros
alemães não cedem passagem a ninguém; e quando se apresenta a
ocasião de disputar despojos de guerra, ficam com tudo.
22 de julho de 1942
Mussolini enviou uma carta a Hitler: notícias sobre a sua estada na
Líbia e a passagem por Atenas. Na realidade, o objetivo principal da
missiva é “por os pontos nos iis” acerca da divisão Sabratha, porque
Rommel enviou à Alemanha um telegrama infamante que Mussolini
“nunca perdoará”... Mussolini está amargurado contra os alemães.
Queixa-se da sistemática espoliação que sofremos na Grécia, e como
eu dos denominasse “lansquenetes” (soldados mercenários alemães)
ele que normalmente não gosta das minhas expressões, imediatamente
associou-se comigo e acrescentou: “talvez muitos alemães se
lamentem de não terem podido invadir a Itália também para levar
tudo”. Mackensen me visita, com um pretexto: elogiar, sem reservas,
Cavallero, que “... é um verdadeiro amigo da Alemanha”. Amigo?
Criado. Não acredita que a ofensiva possa recomeçar antes do mês de
outubro e formula muitas reservas. E me preocupa mais, porque De
Cesare é jettatore (pé frio). Durante a viagem à Líbia demonstrou
Segunda Guerra Mundial 16

eficazmente a sua influência quatro mortos no séquito de Mussolini


por um acidente de aviação.
4 de agosto de 1942
Ambrósio, chefe do Estado-Maior, me disse: 1 o) na Líbia, não nos
será possível voltar a atacar antes de fins de outubro. As perspectivas,
contudo, são favoráveis, porque os reforços britânicos chegam mais
lentamente que o previsto, enquanto que os nossos, principalmente os
alemães 9e isso preocupa o Estado-Maior) chegam com regularidade
satisfatória; 2o) As operações na Rússia se desenvolvem bem...
31 de agosto de 1942
Rommel, ontem à noite, às 8, atacou na Líbia. Escolheu bem o dia
e a hora quando já ninguém esperava o ataque, e o uísque começava a
aparecer nas mesas dos ingleses
1o de setembro de 1942
Não há novidades importantes; no Egito, os ingleses recuam até o
mar, opondo muito pouca resistência.
2 de setembro de 1942
Rommel está no Egito sem poder avançar por falta de combustível.
Três petroleiros nossos foram afundados em dois dias.
3 de setembro de 1942
Rommel continua parado, e, o que é pior, continuam os
afundamentos dos nossos barcos. Ontem à noite, mais dois.
4 de setembro de 1942
Não é claro o que está passando na Líbia; sob o martelamento da
aviação inglesa, Rommel está retirando a sua ala direita, e os tanques
inimigos nem entraram em ação. Ontem afundaram mais dois barcos.
O abastecimento é difícil.
9 de setembro de 1942
... Agora estão “se pegando” na Líbia, e Kesselring viajou
rapidamente a Berlim para acusar Rommel.

Panorama da situação no deserto ocidental


El Alamein, 27 de julho de 1942
Objetivo
1. Defesa do Egito através da derrota das forças inimigas no
deserto ocidental
Situação
2. As forças que se enfrentam: o inimigo dificilmente conseguirá
garantir uma decisiva superioridade na primeira metade de agosto... se
bem que as forças do Eixo sejam fortes para uma ação defensiva, não
são para tentar a conquista do Delta (do Nilo)
A 1ª Batalha de El Alamein 17

3. Forças terrestres. Quantidade e moral... o moral de nossas forças


é elevado... o moral alemão está um pouco mais baixo... o dos
italianos não passa de 50%
4. Material. O 8o Exército dispõe de cerca de 60 tanques. Outros
60 chegarão nos primeiros dias de agosto. Posteriormente, não
chegarão mais unidades blindadas até setembro. Deduz-se que
teremos de economizar nossas forças blindadas, porque durante agosto
o inimigo poderá reunir uma força de uns 150 a 200 tanques...
5. Adestramento. ... nenhuma das formações do 8 o Exército está
bem treinada para operações ofensivas...
6. Valor combativo (forças aéreas). ... mantemos uma total
supremacia aérea ... nossas forças praticamente não são atacadas... o
inimigo sofre ataques aéreos noite e dia.
7. Pontos vulneráveis. Para nós... O Cairo e Alexandria. O inimigo
tem poucos pontos realmente vulneráveis...
8. Terreno. Os exércitos estão em contato sobre uma frente de 65
km, entre o mar e a depressão de El Quattara. A maior parte da zona é
aberta e pode ser controlada pelo fogo de artilharia.
9. Tempo e espaço. Se o inimigo dispusesse de meios de
transportes, a Itália e a Alemanha estão mais próximas de El Alamein
do que nós... Nossas forças estão mais próximas de suas bases...
10. Fatores políticos. ... para nós, o perigo reside no Egito,
politicamente instável...
11. Frente russa. ... se a Wehrmacht penetrasse no Cáucaso, o 8 o
Exército reduziria ao mínimo sua capacidade, para poder enviar
reforços à nova frente... um triunfo alemão na Rússia permitiria à
Wehrmacht enviar reforços para o deserto...
12. Abastecimentos. ... o inimigo tem grandes dificuldades para
abastecer suas forças... Nossos abastecimentos não representam
inconvenientes...
Possibilidades para nós e para o inimigo
13. Para nós. ... prosseguir o ataque antes que o inimigo obtenha
reforços consideráveis...
14. Para o inimigo. O inimigo deve tomar a ofensiva... Porém é
improvável que possa fazê-lo antes da metade de agosto...
15. Ação aconselhada. ... devemos manter-nos na defensiva...
atacando esporadicamente...
16. Plano aconselhado. O 8o Exército deve deter qualquer tentativa
do inimigo de passar através ou em torno de nossas posições...
17. Método. Tropas avançadas: 30o Corpo: 1a Divisão sul-africana,
9a Divisão australiana. 13o Corpo: 1a Divisão neozelandesa, 7a Divisão
Blindada. Reservas: 5a Divisão hindu, 1a Divisão Blindada.
Segunda Guerra Mundial 18

Tática e organização
18. a) devemos estar prontos para combater em uma batalha
defensiva na zona El Alamein-Hamman... b) devemos organizar e
adestrar uma forte ala móvel...
Major-General Dorman-Smith. Aprovado pelo General
Auchinleck. Comandante-chefe do Oriente Médio

Efetivos alemães
Os efetivos alemães até fins de agosto de 1942 eram os seguintes:
Afrika Korps
15a e 21a Divisões Panzer
25.000 homens - 371 tanques - 246 antitanques - 72 peças de
artilharia - 5.600 veículos diversos
Artilharia de campanha
3.300 homens - 56 peças de artilharia - 1.000 veículos
90a Divisão Ligeira
12.500 homens - 220 antitanque - 24 peças de artilharia - 2.400
veículos
164a Divisão de Infantaria
11.500 homens - 45 antitanques - 36 peças de artilharia

Antes de El Alamein
“Em adestramento e comandos somos, como já demonstraram
todas as batalhas anteriores, consideravelmente superiores às tropas
britânicas no deserto aberto. Apesar de, supõe-se, terem os britânicos
aprendido muito, com referência à tática, nos numerosos combates e
escaramuças que travamos, não devem ter tirado proveito amplo desse
fato, posto que seus defeitos não são devidos principalmente aos seus
comandos, mas sim à estrutura ultraconservadora do seu exército, que
não se adapta de forma alguma à luta no deserto aberto, apesar de ser
excelentes no combates em frente fixas.
“Apesar disso, não podemos correr o risco de conduzir a principal
ação ofensiva até operações no deserto aberto, pelas seguintes razões:
“a) A potência proporcional das divisões motorizadas é desigual.
Enquanto nosso adversário está sendo reforçado por unidades
motorizadas, nós recebemos apenas forças não motorizadas, que, no
deserto aberto, são quase inúteis. Somos obrigados a escolher uma
forma de combate em que elas possam participar.
A 1ª Batalha de El Alamein 19

“b) A superioridade aérea britânica, as novas táticas aéreas da RAF


e a conseqüente limitação tática no uso de nossas forças motorizadas a
que já me referi.
“c) Nossa permanente escassez de combustível. Não desejo nunca
mais encontrar-me na desagradável situação de ter que interromper
uma batalha, fiando imobilizado por falta de combustível. Numa ação
defensiva móvel, a falta de combustível significa o desastre
inevitável”. Rommel.

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