Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Schelling
Schelling
Markus Gabriel
Heidelberg/New York
1
J. Derrida, L 'écriture et la différance, Paris 1967, p. 225f.
Phitosophica, 27, Lisboa, 2006, pp. 53-67
54 Markus Gabriel
I . A metafísica e a consciência o n t ó n o m a
2
Metafísica, I055b26-29: cíiore (pavtQov ott àsi 3~ársQov TÕ>V smvríwv Àéysrai xa-rò. HTÍQ^ÍTIV
ànózsv & x a
T O TiQtúTBi xaÀ rà ysmj TOJV h/avritov, oíov rò sv xai rà rroÁÁá- rà yàg aXXa dç
v
Tavra àváysrai.
3
"Das Absolute selbst aber ist [...] die Identität der Identität und der Nichtidentität; Ent-
gegensetzen und Einssein ist zugleich in ihm." (Cf. G. W. F. Hegel, Werke in zwanzig
Bänden. Theorie-Werkausgabe [TWA], ed. E. Moldenhauer und K. M. Michel,
Frankfurt: 1970ff., 2, p. 95)
Metafísica e Mitologia 55
conceito do absoluto (r¿ sn' ào%r)v GWUTTÓSSTO)/ ), que toma pensável a tota-
1
tPoliteia, 510b6f.
5
Sophistes, 245a8f.
6
Sophistes, 245a5f.
7
Cf. K. von Fritz, "NOUS, NQEIN and Their Derivatives in Pre-Socratic Philosophy
(Excluding Anaxágoras): Part 1. From the Beginnings to Parmenides", Classical Philology
40, pp.223-242; id, "NOUS, NOEIN and Their Derivatives in Pre-Socratic Philosophy
(Excluding Anaxágoras): Part I I . The Post-Parmenidean Period", Classical Philology
40, pp. 12-34; B. Snell, Die Ausdrücke für den Begriff des Wissens in der vorplaton-
ischen Philosophie, Berlin 1929.
8
raírròv õ' éa~rl vosw rs xai ovvsxsv eon votjfia. / ov yaq avtxj TOU êóvroç, h iß mçaTur/iévov
éorlv, / evoycreiç TO votív. (Parmenides, B8, 34-36)
9
A partir de um passo do Sophistes de Platão (248 E f f ) , a totalidade é entendida como a
trindade do Ser (ÓV), vida (CfJij) e pensamento (vovç). Cf. H. J. Kramer, Der Ursprung der
Geistmetaphysik, Untersuchungen zur Geschichte des Piatonismus zwischen Piaton und
Plotin, Amsterdam l 9 6 7 , pp. I93ff.
2
1 0
PIotino, Eneade V3, 5, 37. Cf. W. Beierwaltes, Selbsterkenntnis und Erfahrung der
56 Markus Gabriel
1 3
L. Wittgenstein, "Aufzeichnungen für Vorlesungen über "privates Erlebnis" und
"Sinnesdaten", in: Id., Vortrag über Ethik und andere kleine Schriften, hg. von J.
Schulte, Frankfurt 1999, p.75.
4
1 4
Hegel compara "o verdadeiro infinito" {die wahrhafte Unendlichkeit) a um circulo
(TWA, 5, p.162) c, respectivamente, a um "circulo de circulos" (TWA, 6, p.571).
1 5
"Es kommt nach meiner Einsicht, welche sich nur durch die Darstellung des Systems
selbst rechtfertigen muß, alles darauf an, das Wahre nicht als Substanz, sondern eben-
sosehr als Subjekt aufzufassen und auszudrücken." (TWA, 3, pp.21 f.) Cf. K. Düsing,
"Idealistische Substanzmetaphysik. Probleme der Systementwicklung bei Schelling
und Hegel in Jena", in: Hegel-Studien, Beiheft 20, Bonn 1980, pp.25-44.
58 Markus Gabriel
1 6
Aristóteles, Poética, 1451a36ff.
1 7
H . Blumenberg, Arbeit am Mythos, Frankfurt 2001.
6
1 8
In: Terror und Spiel. Probieme der Mythenrezeption. Poetik und Hermeneutik IV, ed.
M . Fuhrmann, München 1971, pp.l 1-66.
1 9
Arbeit am Mythos, pp.295ff.
Metafísica e Mitologia 59
2 0
Cf. a parte primeira do Arbeit am Mythos de Hans Blumenberg.
2 1
W. Nestle, Vom Mythos zum Logos. Die Selbstentfaltung des griechischen Denkens von
Homer bis auf die Sophistik und Sokrates, Stuttgart: 1974, pp.86-95.
2
2 2
Platão introduz a distinção entre a verdade (TÒ àÀijSéç) do pensamento metafísico e a
forma do mito {pí/Sov crxy/ia) expressis verbis no Timaios. (22c7f) Aristóteles aceitou
essa distinção, mas afirma que os próprios mitos cosmogónicos têm um núcleo filosó-
fico. Acrescenta ainda que o próprio conteúdo mítico dos mitos (cujas narrativas são
antropomórficas) não c mais do que um meio que apenas serve para controlar o povo c,
desse modo, manter as leis: nagaBséorai §è -naqà T5¡V âo%aíu>v mi nafina^aíiov êv fiúSou
oyJ)(íO,Tt xaraAeXeißfieva TOTÇ VOTSQOV ön Deoí rs tltnv oúroi xai moié%et rò %7ov T qu okqv r
<píxnv. rà Sè Àomà ßi/$ixä>$ 7¡h) nooa^xrai TTQÒÇ TT¡V TTS¡$Ü) T&V noAAów xai ngòç TT/V elç T O I ) Ç
TO <TVfi(p£QOV XSW' ' àl/^QWTlOÈlèíTç TIÜV oXklaV ó/j,oíovç
V
vÓflOUÇ xa\ T E 7 ¿ 0 T W r W g Xa!
Ticri Xeyowi, xai roúroiç STsga âxóÃovSa xai naqanX^ma TOTÇ SIQT/PJVOIÇ, WV S" TIÇ %ojgítraç
60 Markus Gabriel
física grega que aspira a surpreender o seu último conteúdo, isto é, o Ser
unitário do mundo, tem na mitologia essa mesma origem mitológica. A
teonomia da consciência mitológica torna na máscara da ontonomia do
saber metafísico. " A filosofia grega recebeu as suas questões fundamen-
tais da herança mítica. O Logos n ã o surgiu do nada, mas foi-se formando
ao ocupar-se com o mito. Deste modo, transformou o mito, mas não o
eliminou radicalmente. Sem tomarmos em consideração as suas raízes
míticas não conseguimos c o m p r e e n d ê - l a . " Toda a filosofia do espírito
25
avrò Xäßoi ßovov TO ngÖrroy, ort SEOUÇ IpovTo ràç TTQWTÍLÇ oíffiaç zívat, Ssítoç àv íloyaSai
voßimv. (Metafísica, 1074*38-010)
2 3
Cf. a Filosofia da mitologia de Schelling, onde Sendling critica o próprio conceito da
"allegoria" como conceito metódico da interpretação dos mitos. Em vez da "allegoria",
Schelling serve-se de um método "tautegórico" (F. W. J. von Schelling: Sämmtliche
Werke [SW], ed. K . F. A. Schelling, Estugarda/Augsburg 856-1861: SW X I , 196). Cf.
Carlos João Correia, "As divindades de Samotrácia", in: Id., Mitos e Narrativas.
Ensaios sobre a experiência do mal, Lisboa 2003, pp. 161-170.
2 4
Cf. K. Hübner, Die Wahrheit des Mythos, München 1985, p.151.
2 5
"Die griechische Philosophie hat ihre Grundfragen aus dem mythischen Erbe über-
nommen. Mit ihr ist nicht der Logos vom Himmel gefallen, sondern er bildete sich in
der Auseinandersetzung mit dem Mythos, den er dadurch umformte, keineswegs aber
radikal beseitigte. Ohne ihre mythischen Wurzeln ist die griechische Philosophie nicht
zu begreifen." (Ibd., p. 150)
Metafísica e Mitologia 61
que Orfeu fosse à frente de Eurídice sem olhar para trás, até chegar à
terra. Como se sabe, Orfeu volveu a cabeça e, assim, perdeu Eurídice
para sempre . 27
um passeio numa avenida cheia de gente temos que nos afastar dos outros
sem pensar muito, sob pena de perturbar a nossa actividade de um passeio
pacífico. Distinguindo entre intentio recta e intentio obliqua poder-se-ia
dizer que há sistemas que só funcionam em intentio recta, isto é, sem
olhar para trás, sem controlar o próprio funcionamento com o auxílio da
reflexão. Este é o caso sobretudo em sistemas cujo ambiente requer a
tomada de decisões rapidíssimas.
N a teoria da consciência de si própria há um problema muito conhe-
cido, a saber, o problema que a consciência de si própria parece incapaz
de se atingir. Mesmo se qualquer consciência tem a estrutura de um sujei-
to referindo-se a um objecto, como é que uma consciência de si própria
como sujeito da consciência é possível? Parece, assim, impossível ter uma
consciência de si própria como consciente sem tornar-se objecto e não
sujeito . Orfeu só consegue trazer Eurídice para a luz sem olhar para trás.
30
2 7
A primeira versão literária do mito encontra-se em Virgílio (Geórgica, IV, 453-527). A
mais antiga representação é um relevo ático (cerca de 420/10 a.C).
2 8
Cf. W. Hogrebe, Orphische Bezüge. Abschiedsvorlesung an der Friedrich-Schiller¬
-Universität zu Jena am 5.2.1997 (Jenaer philosophische Vorträge und Studien), Er-
langen 1997.
2 9
Uma das ideias principais de Wittgenstein na sua segunda fase é precisamente que
seguimos as regras da língua cegamente, isto é, sem decisão nem reflexão. Cf. Philoso-
phische Untersuchungen, § 219: "Wenn ich der Regel folge, wähle ich nicht. Ich folge
der Regel blind." O fundamento da língua não é reflexão, mas acção, decisão infun-
dada: "Die Begründung aber, die Rechtfertigung der Evidenz kommt zu einem Ende; -
das Ende aber ist nicht, daß uns gewisse Sätze unmittelbar als wahr einleuchten, also
eine Art Sehen unsrerseits, sondern unser Handeln, welches am Grunde des Sprach-
spiels liegt." (Über Gewißheit, § 204) É notável que o próprio Wittgenstein atribui uma
"mitologia" a todas "as imagens do mundo" (Weltbilder), porque todos os conceitos do
mundo pressupõem uma classe de pressuposições necessariamente não científicas e
empíricas na base do nosso jogo da dúvida ( Ü G , §§ 94f). Cf. também as observações
de Wittgenstein sobre o livro The Golden Bough. A Study in Magic and Religion do
Cambridge ritualist James George Frazer: L. Wittgenstein, "Bemerkungen über Frazers
Golden Bough", in: id., Vortrag über Ethik und andere kleine Schriften, hg. von J.
Schulte, Frankfurt 1999, pp.29-46.
4
3 0
Este problema j á se encontra na antiguidade, bem expresso em Sextus Empiricus
Metafísica e Mitologia 63
3 4
Cf. sobretudo a segunda obra principal de Heidegger, Beiträge zur Philosophie (Vom
Ereignis), Frankfurt 1989. A palavra alemã Er-Eignis tem dois sentidos na linguagem
heideggeriana: 1. Evento, acontecimento. 2. Apropriação (Selbstwerdung). "Der
Mensch ahnt das Seyn, ist der Ahnende des Seyns, weil das Seyn ihn sich er-eignet,
und zwar so, daß die Er-eignung erst ein Sich-eigenes braucht, ein Selbst, welche
Selbstheit der Mensch zu bestehen hat in der Inständigkeit, die innestehend im Da-sein
den Menschen zu jenem Seienden werden läßt, das nur erst in der Wer-Frage getroffen
wird" (ibd., p.245). Cf. também Id., Einführung in die Metaphysik, Tübingen 1998,
6
p.107.
3 5
Cf. M . Heidegger, "Nur noch ein Gott kann uns retten", in: Der Spiegel 23 (1976),
pp.193-219.
3 6
TWA, 6, p.24.
Metafísica e Mitologia 65
ca na mesma obra que "o Ser é aparência" (Das Sein ist Schein ' ), quer 7 1
Bibliografia
3 7
"Das Sein ist Schein. Das Sein des Scheins besteht allein in dem Aufgehobensein des
Scheins, in seiner Nichtigkeit; diese Nichtigkeit hat es im Wesen, und außer seiner
Nichtigkeit, außer dem Wesen ist er nicht. [...] Der Schein ist der ganze Rest, der noch
von der Sphäre des Seins übriggeblieben ist." (TWA, 6, p. 19) Para uma crítica schel-
linguina-marxista da redução hegeliana do Ser à essência na Lógica da essência veja-se
M . Frank, Der unendliche Mangel an Sein. Schellings Hegelkritik und die Anfänge der
Marxschen Dialektik, Frankfurt 1975.
66 Markus Gabriel
Sextus Empiricus, ed. R. G. Bury, Greek text and English translation, 4 vols.,
Cambridge/Mass. 1933-1949.
B. Snell, Die Ausdrücke für den Begriff des Wissens in der vorplatonischen Phi-
losophie, Berlin 1929.
X . Tilliette, La mythologie comprise. L 'Interpretation schellingienne du paga-
nisme, Neapel 1984.
Id., " L a mythologie expliquee par elle-meme", in: Id.: L'absolu et la Philoso-
phie. Essais sur Schelling, pp.200-214.
P. V e r g i l i Maronis Eclogae et georgica, ed. G. Ianell, Leipzig 1941.
L . Wittgenstein, Werkausgabe in acht Bänden, Frankfurt/Main 1989.
Id., "Bemerkungen ü b e r Frazers Golden Bough", in: id., Vortrag über Ethik und
andere kleine Schriften, hg. von J. Schulte, Frankfurt ^ 1999, pp.29-46.
Id., "Aufzeichnungen für Vorlesungen über »privates Erlebnis« und
» S i n n e s d a t e n « " , in: Id., Vortrag über Ethik und andere kleine Schriften,
hg. vonJ. Schulte, Frankfurt 1999, pp.47-100.
4
Abstract
Since it can reasonably be taken for granted that the Gods o f pagan
mythology have been products o f human cognitive activities, there is an obvious
relation between our most general concepts o f consciousness and the possibility
o f an understanding o f mythology. In order to hint at the insuffiency o f the
modern idea o f an autonomous subject, which is devoid o f any content that
cannot be construed as a moment o f self-conscious reflection, it is necessary to
go back to both ancient greek metaphysics and mythology. Ancient metaphysics
does not yet fully articulate the idea o f an autonomous subjectivity (even though
the latter w o u l d not have been possible without the former), Therefore, it is
better understood in terms o f ontonomy, i.e. metaphysical thought o f what there
ultimately is.
I n the paper it is argued that metaphysical ontonomy has its origin in
mythological theonomy. The very idea o f an emancipation o f logos from myth is
itself mythological. Hence, self-consciousness may be interpreted as a self¬
-explication o f mythology. I n the very act o f reflecting itself in human
consciousness, the " B e i n g " hides its mythological, artistic nature, However, this
could not be made intelligible without the help o f mythology itself because it is
impossible to talk about Ontonomy let alone Theonomy in theoretical
propositions.