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Dezembro/2017
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Resumo
Este trabalho pretende apresentar a gratidão enquanto emoção, virtude e disposição
estudada pela Psicologia Positiva e seus impactos no bem estar e saúde. Para tal, buscou-se
por diferentes autores e pesquisadores que consideraram a gratidão como foco de seus
estudos. O interesse maior deste trabalho foi de apresentar a gratidão como fenônemo
altamente favorável à condição humana, com a hipótese inicial de que seja responsável por
benefícios relacionados à felicidade e satisfação na vida. Foram levantadas definições,
condições para sua ocorrência, vantagens para as interações sociais e para o
desenvolvimento humano. Apresentaram-se formas sugeridas na literatura para sua
aplicação direta no cotidiano, metodologias consideradas simples mas já consagradas pelos
principais teóricos sobre gratidão. Realizou-se também levantamento de instrumentos
validados e estudos empíricos recentes publicados na plataforma da APA (American
Psychology Association) que investigaram a gratidão principalmente em contextos de saúde.
Todo estudo realizado leva à conclusão da grande vantagem da aplicação da gratidão ao
longo da vida, como forma de reconhecer os benefícios recebidos, o valor daquele que os
oferece e com impactos positivos diretos nessa relação. Os diferentes estudos apontaram
forte relação com redução de estresse e sintomas de depressão, bem como aumento do bem-
estar e satisfação com a vida. Portanto, confirma-se a ideia do grande valor da gratidão para
o aumento da sensação de bem-estar, felicidade e saúde de forma geral.
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 8, Edição nº 14 Vol. 01 dezembro/2017
Sobre a gratidão: definições, aplicações e promoção do desenvolvimento humano
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A partir das diretrizes iniciais dos autores, a Psicologia Positiva foi estruturada sobre
os três estruturantes pilares: 1) as experiências subjetivas positivas, por exemplo, o bem-estar,
o prazer, a auto realização, a felicidade; 2) as características individuais positivas, tais como
os talentos, os valores, as virtudes, os traços fortes; 3) as instituições positivas, como a
família, a escola, a comunidade, entre outras. (PALUDO; KOLLER, 2007)
Nesse novo cenário que se abriu com novas e diferentes possibilidades de estudo,
alguns trabalhos já anteriormente explorados sobre gratidão puderam contribuir para os
avanços e descobertas da Psicologia Positiva.
O professor e pesquisador Robert Emmons já realizava diferentes pesquisas sobre a
gratidão ainda nos anos de 1980. Segundo ele, até pouco tempo, a gratidão foi ignorada por
psicólogos científicos por ser uma emoção aparentemente simples ou óbvia, mas acreditou
que poderia ser melhor investigada. Em seus primeiros estudos já conseguiu identificar o
grande valor dessa emoção:
...embora essa emoção parecesse simplista até mesmo para mim, quando comecei
minha pesquisa, logo descobri que a gratidão é um fenômeno mais profundo e
complexo que desempenha um papel crucial na felicidade humana. É, literalmente,
uma das poucas coisas que podem mudar de forma mensurável a vida das pessoas.
(EMMONS, 2009:12)
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Identificando o grande valor da gratidão para a felicidade humana, este artigo propõe-
se a explorar definições, práticas e pesquisas relacionadas a essa emoção como forma de
também contribuir para sua compreensão e disseminação tanto no campo científico como
colaborar para sua aplicação no dia a dia das pessoas.
1. O fenômeno da gratidão
Expressões culturais e religiosas mostram que a prática da gratidão percorreu
diferentes culturas ao longo dos séculos. Colonos americanos expressavam a gratidão por
meio de rituais oriundos de costumes e orações europeias. Nos anos de 1620, americanos
nativos e peregrinos celebravam a colheita através da partilha de refeição em conjunto. Em
1630 celebrou-se o primeiro Dia da Ação de Graças, data altamente valorizada pela cultura
americana (SHELTON,2010). A prática e incentivo da gratidão são compreendidas como uma
das estratégias dos colonizadores americanos em meio às grandes dificuldades encontradas à
época como as condições de vida na nova terra, clima desfavorável, etc. Esse constante
exercício aos poucos foi apropriado à cultura americana evoluindo para um tema duradouro
no país.
Shelton ainda afirma ser difícil conceber uma sociedade em que a gratidão e suas
consequências não desempenhem importantes papéis sociais. “Para que uma sociedade
floresça, as atitudes acalentadas, como ajudar os necessitados e mostrar preocupação pelos
outros, precisam ser encorajadas” (SHELTON, 2010:19, tradução nossa). Não somente nos
Estados Unidos, em diferentes sociedades a gratidão pode representar importante papel na
sobrevivência e evolução de um povo.
Para Emmons (2009), é impossível imaginar um mundo em que os indivíduos não
sejam regularmente gratos uns aos outros. Em relacionamentos de reciprocidade, a gratidão
pode ser considerada um dos alicerces da sociedade civil e humana. Nesse sentido, Georg
Simmel (apud EMMONS, 2009) sociólogo suíço do início do século XX a considerou como
uma memória moral da humanidade.
O fenômeno tem sido explorado ao longo dos anos através de preceitos religiosos,
assim como pela Filosofia e Teologia. Através dos anos e em diferentes culturas, a expressão
da gratidão é considerada como um dos aspectos básicos e desejáveis da personalidade
humana e da vida social, manifestação indispensável de virtude e excelência de caráter.
Peterson e Seligman (2004) salientam que a gratidão enquanto disposição humana sempre foi
valorizada no pensamento judaico, cristão, muçulmano, budista e hindu. Transversal às
religiões e correntes teóricas, identificam-se diferentes abordagens sobre sua importância para
o bem-estar individual, nos relacionamentos e em toda a sociedade. Seja direcionada a um ser
maior que abençoa, como a qualquer outro que oferece um benefício mesmo sem ser
solicitado, expressar gratidão pode contribuir para uma amplificação daquela sensação de
bem-feitoria.
É possível perceber estreita relação entre a gratidão e a espiritualidade e religiosidade,
sendo identificada como uma das palavras mais comuns nas orações e descrições das
religiões. (McCULLOUGH; KILPATRICK; EMMONS; LARSON; 2001). Emmons
apresenta diferentes orações em que a gratidão é destaque e afirma:
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Embora a gratidão esteja mais presente nas tradições monoteístas, não há religião na
Terra que não acredite que o agradecimento é importante. Ele é universalmente
endossado. Em muitas tradições espirituais as orações de gratidão são consideradas a
forma mais poderosa de oração, porque, por meio delas, as pessoas reconhecem a
fonte suprema de tudo que são e sempre serão. (EMMONS, 2009: 248)
No campo da Filosofia, que por vezes se propõe a investigar e questionar entre outras
tantas questões, a natureza do homem e de fatos relacionados a este, por meio de análise,
reflexão e crítica, encontram-se muitas contribuições para a compreensão da gratidão. Cícero
afirmava que ela não apenas seria a maior das virtudes, mas também mãe de todas as outras
(PETERSON; SELIGMAN, 2004).
De forma análoga, Smith (apud McCULLOUGH et al 2001) também se referia à
gratidão como “a memória moral da humanidade”. Percebe-se a relação estreita entre a
gratidão enquanto atitude ou emoção com a conduta moral, virtuosa apreciada e estudada na
filosofia e contribuinte para uma melhor interação tanto interpessoal quanto intrapessoal.
Sob o olhar filosófico e considerando os fortes componentes afetivos da gratidão, em
séculos anteriores, o filósofo Thomas Brown a definiu como “a deliciosa emoção de amor por
quem foi bondoso conosco, sentimento esse que, em si, é uma parte importante do benefício
conferido” (apud EMMONS, 2009:17).
Ainda neste contexto em que as virtudes são tomadas como forças que agem ou que
podem agir, expressões daquilo que constituem o valor da pessoa, sua excelência própria,
Comte-Sponville (1995) considera a gratidão como um segundo prazer, que prolonga o
primeiro, uma alegria repetida. Ao celebrar o presente recebido, vive-se novo momento de
graça e satisfação:
O que a gratidão dá? Ela dá a si mesma: como um eco de alegria, dizia eu, pelo que
ela é amor, pelo que ela é partilha, pelo que ela é dom. É prazer somado ao prazer,
felicidade somada à felicidade, gratidão somada à generosidade. (...) A gratidão é
dom, a gratidão é partilha, a gratidão é amor, é uma alegria que acompanha a ideia
de sua causa (COMTE-SPONVILLE, 1995:146).
Em suas reflexões sobre diversas virtudes, o autor esclarece que a genuína gratidão é
expressada não com o intuito do benefício próprio de quem a pratica ou mesmo como
obrigação em retribuir, mas sim como retribuição espontânea:
Digamos apenas que a gratidão é levada a agir, por sua vez, em favor de quem a
suscita, não decerto para trocar um obséquio por outro (não seria mais gratidão, e
sim troca), mas porque o amor quer dar alegria a quem o alegra, com o que a
gratidão nutre a generosidade, quase sempre, que nutre a gratidão. (COMTE-
SPONVILLE, 1995:148)
concedido à gratidão, propondo que ela seja uma das emoções sociais básicas em pé de
igualdade a emoções como ressentimento e carinho, um dos motivadores primários do
comportamento benevolente através da figura do benfeitor. Na relação estabelecida entre
benfeitor e beneficiário, a gratidão leva à experiência de emoções prazerosas que prolongam
aquele momento de alegria e satisfação.
2. Definindo a gratidão
No campo da Psicologia, Robert Emmons chegou a afirmar que a gratidão é um
fenômeno que desafia uma classificação fácil. Pode ser concebida como “uma emoção, uma
atitude, uma virtude moral, um hábito, um traço de personalidade, ou uma resposta de
enfrentamento” (EMMONS; MCCULLOUGH, 2003:377, tradução nossa). Percebe-se,
portanto, a amplitude de possibilidades de compreensão do que propusesse chamar de
fenômeno da gratidão.
A palavra gratidão é derivada da raiz latina gratia, que significa graça, graciosidade ou
gratidão. Todos os derivados desta raiz latina "têm a ver com bondade, generosidade, dons, a
beleza de dar e receber, ou receber algo para nada" (PRUYSER, 1976:69; apud PETERSON
& SELIGMAN, 2004:554, tradução nossa). A essa interpretação, Emmons complementa: “a
gratidão é agradável. Dá prazer. Também é motivadora. Quando nos sentimos gratos, somos
levados a partilhar a bondade que recebemos com outros” (EMMONS, 2009:14).
O dicionário britânico Oxford English Dictionary apresenta gratidão como a
“qualidade ou condição de ser grato; o reconhecimento de uma tendência à bondade”
(EMMONS, 2009). Combinação entre manifestação do altruísmo e reconhecimento daquele
que o recebe, portanto, somente possível na relação estabelecida, naturalmente alimentada
pela expressão da gratidão.
Compreendendo entre as forças de caráter sob o olhar da Psicologia Positiva, Peterson
& Seligman introduzem o capítulo sobre gratidão conceituando-a como “sentimento de
agradecimento e alegria em resposta a um presente recebido, sendo o bem um benefício
tangível de outrem em específico ou um momento de felicidade pacífica evocado por beleza
natural” (PETERSON; SELIGMAN, 2004:554, tradução nossa). Os autores discriminam o
que chamam de gratidão pessoal da gratidão transpessoal, sendo a primeira direcionada para
uma outra pessoa em específico que ofereceu o benefício e a segunda voltada para Deus, a um
poder maior, ao cosmos.
Ao realizarem levantamento bibliográfico a respeito da gratidão enquanto afeto moral,
McCullough et al (2001) afirmam que ela seja tanto uma resposta a um comportamento moral
quanto um motivador ao comportamento moral. Em um círculo virtuoso, seria causa e efeito
no processo.
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aos papéis da benevolência de outras pessoas nas experiências positivas e resultados que se
obtém” (2002, apud JANS-BEKEN, LATASTER, LEONTJEVAS & JACOBS, 2015).
Também como traço de personalidade, a gratidão é expressa como um agradecimento
duradouro que é mantido através das situações e ao longo do tempo (PETERSON;
SELIGMAN, 2004). Portanto, a prática contínua e consistente da gratidão sustenta a
concepção de seja característica da pessoa, podendo ser considerada ponto forte em sua
relação consigo mesmo e com as demais pessoas.
Neste contexto, Fitzgerald (1998, apud PETERSON; SELIGMAN, 2004) identifica
três componentes da gratidão, que são: a) o senso de apreço por alguém, b) um senso de boa
vontade em relação a outra pessoa ou coisa e c) uma disposição a agir que resulta da
apreciação e da boa vontade. A partir dessas considerações, nota-se a gratidão como forma de
perceber que gera sensações positivas e resulta em ações que podem promover novos
resultados satisfatórios.
Emmons destaca que a gratidão envolve duas etapas. O primeiro é o reconhecimento
de que existe bondade na vida, apesar das dificuldades e problemas encontrados. “Quando
olhamos para a vida como um todo, a gratidão nos encoraja a identificar alguma quantidade
de bondade em nossa vida” (EMMONS, 2010).
Como segundo componente, Emmons apresenta o reconhecimento de que a origem da
bondade relacionada à gratidão encontra-se fora de nós. “O objeto da gratidão é o outro; você
pode ser grato aos outros, a Deus, aos animais, mas nunca a si próprio”. (EMMONS,
2009:15). Dessa forma, ela se diferencia de outras emoções como orgulho ou culpa, que
podem ser voltadas para nós mesmos. O autor conclui que a gratidão vai além de um
sentimento, por exigir uma disposição por reconhecer: “a) que fomos beneficiários da
bondade de alguém, b) que o benfeitor proporcionou intencionalmente o benefício, muitas
vezes incorrendo em um custo pessoal e c) que, para o beneficiário, o benefício tem valor”
(EMMONS, 2009:15)
Essa análise permite perceber a relação da gratidão com diferentes aspectos como o
reconhecimento do valor do outro e a humildade em perceber que não obteríamos os mesmos
resultados sem a participação de uma segunda pessoa.
Por fim, Emmons ainda destaca outros importantes aspectos da gratidão:
primeiramente o que chamou de “prêmio imerecido”, ou seja, ao ser grato, reconhece-se
muitas vezes que não houve merecimento ou que a bondade ocorreu independentemente de
suas ações ou mesmo apesar delas.
Já Ortony (apud McCULLOUGH et al, 2001) propôs três aspectos em que a gratidão
seja mais provável de ocorrer: 1) quando a ação do benfeitor é julgada como louvável. 2)
quando a ação do benfeitor difere do padrão de comportamento esperado, e 3) quando o
resultado do comportamento do benfeitor é julgado como pessoalmente favorável. Observa-se
a condição de análise à ação daquele que concede a benefício, o reconhecimento daquele que
recebe de que seu benfeitor manifestou grande e notável feito.
Outro destaque encontrado na revisão da literatura é que a gratidão pode ocorrer
também em momentos infelizes, como reação ao mal também imerecido. Apesar da dor,
desapontamento ou sofrimento, é possível exercitar a gratidão:
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É sua presença nos tempos difíceis que nos permite concluir que a gratidão não é
apenas uma forma de ‘pensamento positivo’, ou técnica de ‘felicidade-ologia’, mas
um reconhecimento profundo e contínuo de que a bondade existe, mesmo durante o
pior que a vida oferece. Esse aspecto da gratidão é um dos mais intrigantes para
mim. (EMMONS, 2009:20).
Além de ser percebida enquanto emoção positiva, Watkins, Woodward, Stone e Kolts
(2003) propõem existir um traço de gratidão para a personalidade, que pode ser
confiavelmente medido e está altamente associado ao bem-estar subjetivo. Dessa forma, a
abordam como característica disposicional, considerando que as pessoas gratas possuem
como características: a) não se sentem privados na vida, possuindo um senso de abundância;
2) ficam agradecidos com a contribuição os outros em seu bem-estar; 3) possuem a tendência
em apreciar simples prazeres da vida, sendo mais propensos a vivenciar sentimentos de
gratidão com mais frequência em sua rotina e 4) percebem a importância em vivenciar e
expressar a gratidão.
Em linhas gerais, pode-se compreender a gratidão como percepção da bondade nas
experiências vividas ao longo da vida e o reconhecimento dessa benevolência em fontes
externas a nós. Seja enquanto emoção positiva, afeto moral ou traço de personalidade, a
interação com diversas origens de benevolência e generosidade geram resultados positivos
como aumento do bem-estar e da satisfação com a vida.
3. Os benefícios da gratidão
Shelton (2010) aponta que um dos benefícios do estudo sobre a gratidão é perceber
seus efeitos positivos, pois diferentes estudos confirmam as inúmeras vantagens do estímulo
de sua prática. De forma geral e unânime, pesquisas revelam constantemente que pessoas
gratas são pessoas felizes. Em pesquisa realizada com adolescentes e adultos pelo Instituto em
1998, 90% dos respondentes indicaram que expressar a gratidão os ajudava a se sentirem
“extremamente felizes” ou “muito feliz” (EMMONS; McCULLOUGH, 2003).
Afirma-se que a felicidade é potenciada pela gratidão, pois diferentes estudos
encontraram relações entre a gratidão e a capacidade de apreciar o bem. Como consequência,
pessoas felizes sentem-se também mais autoconfiantes, criativas e são mais afortunadas. Ao
focarem-se no que lhes foi dado por terceiros sentem-se acarinhadas e amadas (ALVES,
2010).
Na intenção de se verificar os benefícios da gratidão para a saúde física, emocional e
social, Robert Emmons (2010) realizou estudos empíricos com mais de mil pessoas, com
idades entre oito e oitenta anos através de exercícios considerados simples e básicos.
Relacionados à saúde física, os resultados encontrados pelo autor apontam para
sistemas imunológicos mais resistentes, maior tolerância à dor, pressão arterial mais baixa,
maior cuidado com a própria saúde e maior qualidade de sono.
Quanto à saúde emocional, seus estudos revelam níveis mais elevados de emoções
positivas, de otimismo e felicidade, maior estado de ânimo e vivacidade, mais momentos de
alegria e prazer.
Por fim, relativo às relações interpessoais, suas pesquisas relevam maior extroversão,
menor sentimento de solidão e isolamento e aumento na sensação de utilidade, prática de
generosidade e compaixão. Com esses últimos resultados, Emmons (2010) destaca o
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Esses resultados mostram que além das melhorias na saúde física e emocional, o
exercício da gratidão mostra benefícios tanto para a convivência com outras pessoas como na
atitude em relação a elas. “Sentir gratidão motiva as pessoas beneficiadas a retribuir seus
benfeitores e estender a generosidade a terceiros, assim como expressões de gratidão também
reforçam benfeitores pela sua generosidade”. (ABREU, 2016:275)
Confirmando esta constatação, Fredrickson revela que “a gratidão abre seu coração e
leva à compulsão por retribuir – dar algo em troca, seja para quem ajudou ou para outra
pessoa qualquer”. (FREDRICKSON, 2009;49), afirmando nitidamente o impacto positivo
tanto na emoção vivenciada quanto nos relacionamentos interpessoais.
Em recente trabalho científico, Jans-Beken et al (2015) relacionam diferentes estudos
empíricos que retratam associações positivas da disposição em ser grato com o bem-estar
subjetivo, a felicidade, a transcendência espiritual, a religiosidade e a espiritualidade,
otimismo, além de associações negativas com a depressão e agressão.
Emmons e Stern (2013) enfatizam sobre a importância da gratidão para a saúde de
forma geral, afirmando ser “um dos elos mais fortes para a saúde mental e satisfação com a
vida de qualquer traço de personalidade – mais do que até otimismo, esperança ou
compaixão.” (EMMONS; STERN, 2013:848, tradução nossa).
Buscando manter um enfoque mais científico ao exercício da gratidão, Lyubomirsky
(2008) apresenta oito razões pelas quais recomenda a sua prática como caminho para uma
vida mais feliz:
1) Pensar de forma agradecida, incentiva a saborear as experiências positivas da vida,
extraindo o máximo de satisfação e divertimento possíveis das circunstâncias
atuais.
2) Expressar gratidão favorece o auto merecimento e a autoestima, por levar o
beneficiário a compreender o quanto as pessoas fizeram por ele.
3) A gratidão ajuda as pessoas a lidar com o estresse e o trauma, por ser um método
de superação adaptativa no qual a pessoa reinterpreta as experiências vividas.
4) A expressão da gratidão encoraja o comportamento moral, pois a tendência
encontrada nos estudos é de que pessoas agradecidas ajudam mais as outras e
apresentam-se menos materialistas.
5) A gratidão pode ajudar a criar laços sociais, fortalecer as relações existentes e a
alimentar novas.
6) A manifestação da gratidão tende a inibir comparações com outras pessoas, pois o
beneficiário tende a observar e reconhecer mais o que tem.
7) A prática da gratidão é incompatível com emoções negativas e pode diminui-las
8) A gratidão ajuda a frustrar a adaptação hedônica, a capacidade de o indivíduo
ajustar-se com rapidez a circunstâncias ou acontecimentos novos da vida.
Portanto, através dos diferentes estudos encontrados, pode-se consolidar a relevância
da gratidão como fonte geradora de bem estar e saúde em seus diferentes espectros.
4. A prática da gratidão
Sabendo, portanto, dos benefícios resultantes da prática da gratidão, recorre-se às
maneiras de exercitá-la. Sonja Lyubomirsky explica que índices de felicidade são
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influenciados por três grandes grupos de fatores, em diferentes proporções: 50% fatores
genéticos, como traços de personalidade e de humor, 10% pelas circunstâncias da vida como
situação financeira, status e estado civil, e 40% por atitudes intencionais, ou seja, formas de
pensar e agir em que a pessoa decide adotar. Nesse último grupo, o exercício da gratidão
poderá então ser estimulado, transformando-se num elemento indispensável para a promoção
da felicidade (LYUBOMIRSKY, 2008).
Em pesquisa aos diferentes autores, a prática da gratidão é proposta através de
metodologia considerada simples e facilmente aplicáveis. Salvas algumas adaptações, as
técnicas propostas são: o diário da gratidão e a visita da gratidão.
Diário da gratidão
Pode-se considerar que o diário da gratidão seja uma unanimidade como
recomendação de prática da gratidão entre os autores pesquisados.
Seligman recomenda a utilização do diário da gratidão como uma reflexão sobre o que
correu bem, chamado também de “três bênçãos”. A sugestão é que seja registrado seja em um
caderno ou no computador, as três coisas que deram certo no dia e porque deram certo.
Enquanto professor universitário, Seligman sugere periodicamente a técnica a seus alunos,
que relatam grandes resultados.
Robert Emmons também apresenta a técnica de registrar diariamente os motivos de
agradecimento. Como concebe a gratidão uma forma de admitir que haja fontes de bondade
na vida, o autor afirma que escrevendo diariamente há uma ampliação e exaltação dessas
fontes de bondade.
A técnica, porém, requer que ocorra o registro, não apenas pensar sobre o que deu
certo. Segundo Emmons, o ato de anotar traduz os pensamentos em palavras, auxiliando na
organização as ideias. Pesquisas revelam que traduzir pensamentos em linguagem concreta
traz mais vantagens do que apenas pensar (EMMONS, 2009).
Shelton (2010) propõe a técnica como um exame de consciência, promovendo a
percepção sobre as bênçãos recebidas e promovendo o agradecimento. Como um passo a
passo para a essa prática, o autor sugere: uma pausa no dia, rever tudo o que nos ocorreu,
saborear as boas sensações resultantes dos episódios positivos ocorridos e por fim o que
chama de resposta, que seria a identificação de uma forma de retribuir o que recebeu ou
passa-la adiante.
Como proposta de prática da gratidão com objetivo de melhores resultados
emocionais, Robert Emmons publicou em 2013 o livro Gratitude Works! (sem tradução para
o português), o que chamou de desafio de vinte e um dias de gratidão como propósito de
prosperidade emocional. O material explora práticas baseadas em seus estudos, fornecendo
um guia passo a passo para cultivar gratidão como um modo de vida.
Em seus estudos sobre a utilização do diário da gratidão, Lyubomirsky (2008) aplicou
a técnica de forma orientada em dois grupos, um deles com a instrução de registrar as
chamadas “bênçãos” três vezes por semana e ao outro grupo foi prescrito o registro em
somente um dia da semana. Ao final de seis semanas, curiosamente, somente os participantes
do segundo grupo apresentaram níveis mais altos de satisfação e felicidade em comparação ao
grupo de controle (pessoas que não praticaram nenhum exercício). A suposição da
pesquisadora para esse resultado inusitado é de aqueles que eram demandados uma frequência
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maior de registros sentiram-se entediados ao passo que aqueles que faziam o exercício
semanalmente provavelmente continuaram o percebendo como novo e importante.
Nesse sentido, Emmons (2009) recomenda que essa prática não seja repetida como
mais uma tarefa diária, mas com a intenção de reflexão, podendo receber variações em sua
forma visando manter a novidade e o interesse por sua realização.
Ao abordar a técnica como prática mental para a positividade, Achor afirma que essa
reflexão diária sobre elementos positivos potenciais treina o cérebro “a perceber e focar
melhor nas possibilidades de crescimento pessoal e profissional e a aproveitar oportunidades
de concretizar essas possibilidades” (ACHOR, 2012:109). Assim, segundo o autor, quanto
mais a prática é utilizada, mais eficientes as pessoas se mostram em perceber os episódios
positivos e consequentemente mais coisas boas elas identificam.
Percebida como uma variação do diário, encontra-se também a recomendação do pote
da gratidão, em que as bênçãos diárias são escritas e guardadas em um recipiente para que
após o final de um período, seja de um ano, final de atividades escolares ou período
terapêutico, os registros são retomados como forma de retomar as experiências e emoções
positivas.
Visita da gratidão
Seligman enfatiza a importância do exercício da gratidão como forma de tornar a vida
mais agradável e através de sua expressão aos outros há a promoção do relacionamento com
as pessoas. Dessa forma, o autor propõe como prática o que chamou de visita da gratidão,
considerando como oportunidade de experimentar e expressar a gratidão “de uma forma
atenciosa e intencional” (SELIGMAN, 2011:41).
O exercício envolve a escrita cuidadosa de uma carta à pessoa que gerou gratidão,
expondo de forma bem específica o que ela fez e como conseguiu afetar de forma positiva a
vida de quem escreve. Após a conclusão da carta, propõe-se que seja feito contato com a
pessoa com agendamento de uma visita para sua leitura. Nessa oportunidade, lê-se a carta de
forma tranquila, sem interrupções, observando as reações da pessoa que a recebe.
Contrariamente à percepção de Seligman, Lyubomirsky (2008) realizou diferentes
estudos relacionados à gratidão e aplicando a visita da gratidão concluiu que apenas
escrevendo a carta de agradecimento e não a enviar já seria suficiente para resultados
substanciais de felicidade.
Porém, a proposta de Seligman (2011) dá destaque ao encontro entre as partes
envolvidas, com um momento de discussão a respeito dos acontecimentos e com isso maior
promoção do relacionamento estabelecido. Como intuito de aperfeiçoar as relações
interpessoais, provavelmente a atividade na forma completa proposta pelo autor pode ser um
excelente exercício de promoção do bem-estar.
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em estudos científicos sobre essa emoção. Apesar de que a pesquisa com a gratidão ocorra
muitas vezes de forma qualitativa, envolvendo auto relato e análise de discurso, instrumentos
de medida podem e são utilizados em pesquisas quantitativas, com o intuito de analisar
correlação ou relação causal com outras medidas.
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acompanhados durantes os quatro meses seguintes e revelaram que tanto a resiliência quanto
a gratidão podem ser conceituadas como mecanismos de proteção, promovendo resultados
positivos após o trauma. Entre as conclusões da pesquisa, destaca-se relevância de se
considerar uma abordagem variada para amortecer os efeitos do trauma preventivamente
cultivando principalmente a resiliência e aumentando a gratidão.
Outro recente estudo (SHAO; GAO, CAO; 2016) investigou os possíveis benefícios de
intervenção psicológica baseada na gratidão e mindfulness para efeitos positivos e negativos
em pacientes com câncer cervical, que se submeteram a instrumentos de auto relato de afeto
positivo e negativo, ruminação e reavaliação antes e após a intervenção de 4 semanas. Os
resultados obtidos apontaram efeitos benéficos para a implementação desta breve intervenção
psicológica em oncologia.
Pesquisa de Sirois & Wood (2017) proposta como estudo inicial das associações
longitudinais de gratidão ao bem-estar psicológico no contexto de doença crônica, revela
evidências importantes sobre a relevância da gratidão para as populações clínicas relacionadas
à saúde. Examinando as associações longitudinais entre gratidão e depressão em duas
amostras de doenças crônicas, artrite e doença inflamatória intestinal, a gratidão foi
negativamente associada aos sintomas depressivos tanto durante o tratamento quanto após
seis meses da primeira aplicação da pesquisa. Os resultados contribuem para o entendimento
de que a utilização da gratidão contribui para amenizar os sintomas depressivos.
Ainda no contexto da saúde, Otto, Szczesny, Soriano, Laurenceau & Siegel (2016)
realizaram estudo com mulheres portadoras de câncer de mama com uma intervenção de
gratidão online de 6 semanas e grupo de controle. Os resultados apontaram que aquelas
pacientes que viveram a experiência de intervenção de gratidão experimentaram uma
diminuição significativa de medo constante de morte, em comparação com a condição de
controle, ou seja, aqueles que não realizaram a intervenção de gratidão.
O trabalho de Kryniska, Lester, Lyke, Corveleyn (2015) visou testar um modelo de
efeitos causais entre gratidão, religiosidade, razões de vida, enfrentamento e apoio social
como preditores de ideação suicida, ameaças de suicídio e tentativas de suicídio após controle
de depressão e eventos estressantes da vida. Os resultados encontrados mostram que tanto a
gratidão como a religiosidade, juntamente com o apoio social, as habilidades de
enfrentamento e as razões para viver, correlacionaram negativamente com a ideação suicida
anterior.
A pesquisa de Cheng, Tsui, Lam (2015) investigou se dirigir a atenção de profissionais
de saúde aos eventos gratos no trabalho poderia reduzir o estresse e os sintomas depressivos.
Foi realizado um estudo duplo-cego, randomizado e controlado, em cinco hospitais públicos
com seguimento até três meses pós-tratamento, com a participação de cento e dois praticantes
distribuídos aleatoriamente em três condições: gratidão, aborrecimento e tratamento nulo. Os
resultados apontam que essa prática de gratidão foi eficaz para reduzir o estresse e os
sintomas depressivos entre aqueles profissionais.
Esses exemplos mostram o recente interesse da investigação e aplicação da gratidão no
campo da saúde, como alternativa viável e democrática que promova melhorias significativas
e possivelmente possa ser excelente recurso tanto preventivo quanto curativo para diferentes
doenças.
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Sobre a gratidão: definições, aplicações e promoção do desenvolvimento humano
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6. Conclusão
Na revisão da literatura a respeito da gratidão é possível identificar diferentes contextos
históricos e científicos em que ela é analisada e admirada. Seja como afeto moral, emoção
positiva ou com disposição para perceber ou agir, percebe-se o reconhecimento do benefício
recebido, bem como do valor daquele que o ofereceu.
Seus benefícios para a saúde emocional, física e social revelam o grande valor da
gratidão, principalmente por levar à felicidade, seja de forma direta como o aumento do bem-
estar, seja através da redução de sintomas como ansiedade e depressão.
Tendo em vista que a maioria dos estudos encontrados ainda é de literatura estrangeira,
sugere-se a realização de estudos brasileiros tanto na validação dos instrumentos já elaborados
para aplicação em estudos empíricos, quanto no aumento da produção de textos para estudo e
aplicação da gratidão.
Este trabalho pretende enfatizar, portanto, sobre pesquisas e práticas da gratidão como
forma de promover melhorias na qualidade de vida das pessoas. Como demonstrado nos
estudos, mostra-se uma atitude que pode ser promovida e desenvolvida, que quando manifesta
promove a retroalimentação de emoções positivas. Enfim, uma espiral positiva ascendente
que seguramente contribuirá para avanços no campo da saúde, relacionamentos e
desenvolvimento humano.
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