transformar e mudar

Mudar padrões enraizados

As Etapas da
Transmutação
A transmutação tem sido o grande objetivo do meu trabalho desde que sou terapeuta.
Ajudar a mudar padrões enraizados, substituindo-os por novos, mais elevados, frescos
e saudáveis. Ajustar, mudar, transformar pensamentos, emoções, atitudes, posturas e
comportamentos de forma a recolocar o ser na coerência de si mesmo, transcendendo
medos, traumas e afins que promoveram desvios da informação contida na matriz da alma.
A transmutação é tão falada, mas nem sempre compreendida no seu significado mais
tangível, prático e efetivo.
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enho visto e ouvido muitos
equívocos à volta desta grande
tarefa que todos nós temos, e
que é no limite, a derradeira
razão que nos traz por cá.
O que estamos cá a fazer, senão a tentar
transmutar o que em nós vibra em dese-
quilíbrio? Evolução é isso mesmo: elevar
a nossa vibração para frequências cada vez
mais subtis.
Ser feliz, crescer e evoluir
Mas, como é que isso se faz na prática?
Para que serve?
Bom, na verdade, serve simplesmente para
conseguir o que todos queremos: ser felizes
e o que alguns querem: crescer, evoluir.
É bom ter em conta que os padrões em
desequilíbrio que carregamos têm suas
consequências, e essas consequências terão
naturalmente a mesma carga que as suas
causas, logo serão também desequilibradas.
Não posso plantar catos e esperar colher
rosas. Dito de outra forma, se há uma se-
mente de ódio dentro de mim, poderei
esperar colher amor?
Os equívocos de que lhe falo acima prendem-
-se essencialmente à falta de compreensão
e entendimento do que é a transmutação,
mas também a uma teimosa e persistente
crença que leva as pessoas a acreditar, ou
querer acreditar, que há uma fórmula mágica
exterior a elas mesmas que pode resolver o
seu problema.
Eu fiz a terapia, por isso transmutei, ligaram-
-me à máquina X, por isso transmutei, fiz
a meditação XPTO, já transmutei, esqueci
a questão, afastei-me de quem me fazia
vibrar no padrão, por isso transmutei, e
por aí podíamos continuar... Mas, será que
mudamos mesmo? Ou só camuflamos o
padrão até ao dia em que alguém ou algu-
ma situação nos toque no gatilho certo?
Não querendo com isto dizer que terapias,
meditações ou outros não são métodos
válidos. São, claro. Estimulam, facilitam o
processo, ajudam na remoção de obstáculos
ao mesmo, esclarecem para uma melhor
compreensão com uma visão de que vê de
fora e conhece os mecanismos da mente
e coração humanos. Mas, o poder de se
transmutar, esse, só você o tem. Só você.
Ninguém o pode fazer por si!
O que é, afinal, transmutar?
Transmutar, sendo uma palavra composta
por outras duas: transformar e mudar,
refere-se a um processo semelhante à
metamorfose. Quando se deixa de ser uma
coisa para se ser uma outra, mais bela, mais
livre, mais elevada. A transmutação acontece
quando da lagarta só fica a memória e as
aprendizagens que esse estado de ser lhe
proporcionou. Mas, em ocasião alguma
agirá de novo como lagarta, pois agora é
borboleta. Há uma transformação alquímica
do ser inerente ao processo de transmutação.
É quando os gatilhos já não funcionam, pois
o padrão correspondente já não existe. Já
não vibra mais. Que gatilho poderá fazer
uma borboleta rastejar de novo, se na sua
nova condição ela só sabe voar?
Quando efetivamente muda e se transforma,
já não há mais nada que o pode levar à sua
anterior condição, pois ela já não é mais.
Por exemplo, quando transmuta efetivamente
um padrão de insegurança, a partir dali o
mundo é seu. Porque dentro de si aconteceu
uma mudança, que trespassa todos os seus Z
poros e que grita: eu sou capaz!
Quando transmuta um padrão de carência
afetiva que o arrastou para reiterados rela-
cionamentos de dependência emocional,
preencheu o vazio que lhe criava a ilusão de
que alguém o podia fazer por si, e a partir
dali relaciona-se com base num novo pa-
radigma: a partilha e não a dependência.
Transmuta um padrão de vítima que perpetua
na sua vida situações de conflito, de revolta,
de intolerância, de aparente subjugação e
injustiça, quando finalmente tem coragem
de assumir na totalidade quem você é.
Mas, como chegar aí?
Respondendo agora à questão: como é
que se transmuta na prática? Apresento-
-lhe as Etapas da Transmutação, que fui
verificando, nos meus próprios processos e
nos processos de quem trato. Há processo
longos, outros mais curtos, alguns são para
uma vida ou várias, mas em nenhuma si-
tuação poderemos dizer que transmutamos
se tivermos queimado etapas. Vamos ver
quais são:
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As 5 Etapas
1ª Etapa: A Consciencialização
O primeiro passo para transmutar um padrão é ser
consciente de que ele existe em nós. Enquanto assim não
for, ficaremos remetidos a vítimas das suas consequências
adversas, sem termos sequer noção de que esse padrão se
repete na nossa vida. Aqui, a ajuda de um terapeuta ou até
de um amigo pode ser muito útil, se tivermos abertos para
ouvir. Pois é sempre mais fácil a quem está ‘do lado de fora’
da questão ver de forma clara. Note-se que quanto mais
neutra e isenta for a pessoa que nos acompanha neste
processo, melhor, daí ser sempre preferível recorrer a um
terapeuta, por assim ficarem neutralizadas as interferências
que a amizade vai atrair para a questão.
Estando lamentavelmente na ordem do dia as questões
relacionadas com violência doméstica, pelo ano negro
de 2014 que revelam as estatísticas, tomemos esse padrão
como exemplo.
Pelo simples ato de observação de si mesma e da sua
vida, uma vítima de violência poderá facilmente verificar
que esse é um padrão que eventualmente começou
prematuramente, talvez por mão pesada de um progenitor,
ou um irmão mais velho ou, quem sabe, um outro familiar,
vizinho ou qualquer desconhecido. Mais tarde, namorado,
companheiro e marido. Poderá também, com, ou sem
ajuda, dependendo da vontade e pré-disposição e do
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distanciamento emocional, que consiga fazer da situação
para ver claro, verificar que esse padrão já aconteceu
antes com a sua mãe, e já se verifica também com a sua
filha. Aí, é o ponto em que a consciencialização se dá, ou
seja, a verificação de que um padrão determinado é uma
realidade.
Padrão é algo que se repete várias vezes numa vida, e não
raras, em várias gerações da mesma família.
Contudo, este é apenas um primeiro passo, fundamental
para a transmutação, mas de forma alguma suficiente.
Podemos ter consciência de muitos padrões na nossa vida,
mas daí a mudar alguma coisa há uma grande distância.
Ilustrando ainda, pode ter consciência de que é inseguro,
tem falta de confiança em si, e sabe que é um padrão seu,
que afeta a sua vida em várias dimensões, nomeadamente,
pode tê-lo feito agarrar-se a um emprego ilusoriamente
seguro mas que detesta, todavia, daí a fazer alguma coisa
para mudar isso... Na verdade, podemos passar a vida com
plena consciência das limitações que nos condicionam, mas
não fazer nunca nada para mudar.
Por outro lado, há padrões mais subtis, ou mentes menos
predispostas a vê-los, que permanecem ocultos e que se
fazem notar apenas pelas suas consequências adversas.
Independentemente do caso, a consciencialização terá de
ser sempre o primeiro passo. Sem ela, somos cegos, surdos,
mudos, o que nos torna incapazes de nos mover.

2ª Etapa: O Tratamento
e a Aceitação
A aceitação implica, em primeiro lugar, assumir a nossa
cota parte de responsabilidade no padrão identificado. O
que significa eliminar o conforto que decorre do papel de
vítima, pela desresponsabilização que lhe é característica.
Se assim for, começa a dar-se o processo de mudança, pela
diminuição da revolta, da raiva ou tristeza que são inerentes
ao processo. Agora, a energia é canalizada para a busca
de um sentido, para a procura das causas que forjaram o
padrão.
Voltando ao padrão da violência, nesta fase, a pessoa que
vivencia o padrão já se consciencializou da sua abrangência,
e começa a redirecionar a sua atenção para um foco
diferente, ou seja, para si mesmo. Começa a questionar-se
sobre o que poderá haver em si para atrair situações dessa
ordem, ao invés de direcionar toda a sua atenção para o
autor das agressões. Aqui o paradigma começa a mudar, o
pensamento é agora diferente. Passa do: eu sou uma vítima
e o meu agressor é o único responsável por toda a situação;
para: que escolhas me trouxeram a esta situação? O que
posso fazer para sair disto? Porque se repete? Onde está a
causa? Se eu atraio o que está em mim, no meu interior, que
ferida é essa que me traz estas vivências?
Naturalmente, este é um processo que exige uma grande
maturidade, logo, muito difícil de se concretizar sem ajuda.
Independentemente do método terapêutico usado, o
tratamento deverá incidir na identificação das causas e
tratamento do trauma e ‘feridas’ emocionais associadas
à ocorrência. Contudo, todo o trabalho terapêutico deve
ser orientado no sentido do reconhecimento interior e não
da culpabilização do outro, da sorte ou de um karma
qualquer.
Este é um trabalho, por vezes, complexo e difícil, e muito
mais podia dizer sobre ele, mas importa aqui apenas
sublinhar que esta é apenas mais uma etapa. Na
verdade, esta é a etapa, assim como, a primeira, em que
o terapeuta tem um papel mais importante e ativo.
Até este ponto, a pessoa estará já consciente do padrão,
terá compreendido as suas causas e feito a aceitação
da sua responsabilidade como co-criador da sua
realidade, terá também recebido tratamento no plano
emocional e mental, em situações de trauma. Ou seja,
nesta fase do processo saberá ‘o quê?’, ‘o porquê?’ e terá
compreendido em profundidade que tudo começou
dentro de si, logo, terá feito o perdão.
Tudo isto não é pouca coisa, mas ainda assim não é nem
metade do processo. É que muitas vezes as pessoas criam
a ilusão de que o processo está concluído porque ‘alguém’
o resolveu por mim. Depois, vem as desilusões quando as
situações se repetem. Neste ponto, a pessoa está liberta
para a transmutação, mas não ainda transmutada. Tudo
o que foi compreendido e feito, com terapia ou não, serviu
para retirar os bloqueios, os impedimentos, as vendas dos
olhos, as amarras, os estados de ilusão e hipnóticos, o
veneno das mágoas e ódios, tudo aquilo que aprisionava
a pessoa ao padrão em causa e a impedia de sair dele.
A partir daqui, o caminho está desimpedido e aberto,
mas não está feito.
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3ª Etapa: A Inversão de para um quadro de baixa autoestima, de submissão,

Conduta de dependência emocional nos relacionamentos, de
frustração profissional, eventualmente de solidão, se mais
grave, de sociofobia, etc... Após ter identificado o padrão
Esta é a fase mais difícil, logo, aquela que causa mais
em si, compreendido e tratado as causas e os efeitos,
retrocessos. Mas, também é nesta fase que é decidida
falta a parte mais difícil: inverter. Neste caso, em particular,
a transmutação ou perpetuação do padrão. Aqui, ou
inverter significa falar, ao invés de calar, logo, é natural que
mudamos na prática, de forma efetiva e reiterada, ou
após o tratamento surjam variadas situações para que a
voltamos ao mesmo.
pessoa em causa tenha a oportunidade de fazer essa
Se o trabalho anterior tiver sido bem feito, neste ponto saberá
inversão de conduta. É importante ressaltar que quando
reconhecer em si mesmo que traço de personalidade, que
alguém procura a cura, manifesta uma vontade de
comportamentos e condutas trazem como consequências
mudança, mesmo que muitas vezes ainda inconsciente,
o padrão que tratou, logo estará em condições de
logo o Universo vai responder em conformidade. Então, é
reconhecer em tempo real, ou seja, na prática do dia a
possível que, de repente, um patrão autoritário desate aos
dia, as situações em que os gatilhos vão ser acionados.
gritos por uma situação injusta, ou que a mãe queira dizer
Dependendo da sua capacidade de autovigilância e
de que cor devem ser os cortinados da sua casa, ou o
consciência irá identificar as situações e reconhecê-las
companheiro/a radicalize os comportamentos já habituais
como oportunidades de escolha: agir segundo o ‘velho eu’
de desprezo das suas vontades, enfim... qualquer situação
ou inverter agindo de acordo com o ‘novo eu’, ainda em
que venha proporcionar a oportunidade de inverter o
embrião, mas já pronto e livre para crescer. E esta é uma fase
padrão ‘calar e submeter-se à vontade dos outros’ em falar.
incontornável, pois as situações vão surgir umas após as
Falar sem medo a sua verdade interior, sem submissão. Isso,
outras, em contextos diferentes, mas com a mesma carga,
não há terapeuta no mundo que possa fazer por si. Terá de
todas para oferecer uma oportunidade de mudança.
conseguir defender-se da acusação injusta e infundada
Exemplificando: considere um indivíduo com padrão de
do patrão, alertar a sua mãe sobre o facto de ter crescido
‘criança calada’, ou seja, alguém que passou a sua vida
muito rápido não pode querer dominar e controlar a sua
recalcando a sua verdade e preferindo calar para evitar
vida, e resgatar o seu amor-próprio e autoestima para
conflitos. Este padrão conduziu fatalmente esta pessoa
fazer valer as suas vontades.

5ª Etapa: A Transmutação
A transmutação é efetiva quando o ‘velho padrão’ já não é. A transmutação é o resultado de um processo de integração
bem-sucedido.
Nas oscilações inerentes ao processo de integração, a balança irá começar a pender mais para um dos lados. Se pender
para o velho padrão, tudo voltará à fase inicial e será necessário repetir principalmente a partir da segunda etapa. Significa
que algo ficou por compreender ou tratar. Ainda há algo que impede a mudança ou não há genuína vontade de largar o
passado, por ação do ego. Emoções toldam-lhe ainda a visão e barram o caminho da libertação. Há que insistir no tratamento
e aceitação.
Se, por outro lado, o processo for bem-sucedido, a balança começa a pender para o ‘novo padrão’ até ao ponto de
desintegrar o ‘velho padrão’ que foi mirrando e perdendo a força e o peso de outros tempos. Nesta fase, já acontece de
forma automática. A pessoa já age de acordo com o novo padrão sem precisar usar de atenção e vigilância constantes,
nem usar da sua consciência e vontade para inverter, pois o novo padrão já se integrou no ser, já faz parte de si. Já não há
gatilho que possa ativar o velho.
Quando isto acontece, e só aqui concluídas todas estas etapas, a borboleta bate as asas e sabe que já não será lagarta.

Mónica Guimarães
Terapia e Formação
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