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[T]
[A]
[a]
Fisioterapeuta, MSc em Engenharia Biomédica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Doutorando
em Engenharia Biomédica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Curitiba, PR - Brasil, e-mail:
kruegereddy@gmail.com
[b]
Educador físico, MSc em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), bolsista Capes,
Curitiba, PR - Brasil.
[c]
Engenheiro de computação, MSc em Engenharia Elétrica, Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), bolsista CNPq, Campinas, SP - Brasil.
[d]
Doutora, docente em Engenharia Biomédica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP - Brasil.
[e]
Doutor em Engenharia Biomédica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), docente do Centro
Universitário Campos de Andrade (Uniandrade), Curitiba, PR - Brasil.
[f]
Doutor em Engenharia Biomédica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), docente da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Curitiba, PR - Brasil.
[R]
Resumo
Introdução: O potencial de ação (PA) origina-se graças a uma perturbação do estado de repouso da mem-
brana celular, com consequente fluxo de íons, por meio da membrana e alteração da concentração iônica nos
meios intra e extracelular. Objetivos: Sintetizar o conhecimento científico acumulado até o presente sobre o
potencial de ação neural e o seu processo de adaptação sob aplicação de um estímulo constante. Materiais
e métodos: Busca realizada nas bases Springer, ScienceDirect, PubMed, IEEE Xplore, Google Acadêmico,
Portal de Periódicos da Capes, além de livros referentes ao assunto. O idioma de preferência selecionado
foi o inglês, com as keywords: action potential; adaptation; accommodation; rheobase; chronaxy; nerve im-
pulse. Efetuou-se a procura de artigos com uma janela de tempo de 1931 a 2010 e livros de 1791 a 2007.
Resultados: Dos trabalhos selecionados, foram extraídas informações a respeito dos seguintes tópicos:
potencial de ação e suas fases; condução nervosa; reobase; cronaxia; acomodação; e adaptação neuronal.
Conclusão: Um estímulo que crie PA, se aplicado de maneira constante, pode reduzir a frequência de des-
polarizações em função do tempo e, consequentemente, adaptar a célula. O tempo que a célula demora, na
ausência de estímulos, para recuperar sua frequência original é definido como desadaptação. [#]
[P]
Palavras-chave: Potenciais de ação. Adaptação fisiológica. Cronaxia. Tecido nervoso. Canais iônicos. [#]
[B]
Abstract
Introduction: The action potential (AP) arises due to a disturbance of the resting state of the cell membrane
with consequent flow of ions across the membrane and ion concentration changes in intra and extra cellular
space. Objectives: This article aims to summarize the scientific knowledge accumulated to date on the
action potential and neural adaptation in the process of applying a constant stimulus. Materials and
methods: This is a literature review on the bases Springer, ScienceDirect, PubMed, IEEE Xplore, Google Scholar,
Capes Periodicals Portal as well as books on the topic. The selected preferred language was English with the
keywords: action potential; adaptation, accommodation; rheobase; chronaxy; nerve impulse. We conducted a
search of articles with a wide time window from 1931 to 2010 and books from 1791 to 2007. Results: In the
selected studies was extracted information about the following topics: action potential and its stages; nerve
conduction; rheobase; chronaxie, accommodation, and adaptation. Conclusion: A stimulus that creates AP,
if applied consistently, can reduce the frequency of depolarization as a function of time and, consequently, to
adapt the cell. The time it takes the cell in the absence of stimuli, to recover its original frequency, is defined
as a disadaptation. [#]
[K]
Keywords: Action potentials. Physiological adaptation. Chronaxy. Nerve tissue. Ion channels. [#]
patas traseiras de rãs dissecadas (10). Seu sobrinho, O biofísico Alan Lloyd Hodgkin (1914-1998) e
Giovanni Aldini (1762-1834), foi o primeiro a aplicar o fisiologista Andrew Fielding Huxley (1917-) de-
estimulação elétrica em cadáveres frescos de crimi- senvolveram, na década de 1940, a técnica voltage-
nosos executados. Postula-se que esse fato inspirou clamp, que isola a membrana celular para mensurar
a escritora Mary Shelley (1797-1851) a escrever o o PA em axônio gigante de lula (Loligo brasiliensis).
livro Frankenstein ou o moderno Prometeu (11). Posteriormente, em 1963, foram laureados com o
Johannes Peter Müller (1801-1858) afirmava neurofisiologista Sir John Carew Eccles (1903-1997)
que a duração do impulso nervoso era tão rápida com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina (13).
que seria impossível mensurá-lo. Já seu discípulo, Hodgkin e Huxley (HH) corroboraram que o PA pode
Emil Heinrich du Bois-Reymond (1818-1896), con- atingir no MIC uma amplitude aproximada de 40 mV
siderado por muitos como o pai da eletrofisiologia, (13) e modelaram os canais iônicos presentes na mem-
refutando as ideias de seu professor, mostrou em brana celular como voltagem-dependentes (17). Essa
1843 a existência de uma flutuação negativa (do ale- modelagem foi amplamente utilizada em muitos es-
mão negative schwankung) na tela do eletroscópio, tudos posteriores (18), como em fibras mielinizadas
durante uma tetania muscular produzida pelo uso de sapos (Xenopus laevis) (19), na membrana iônica
do veneno estricnina (9, 11). Entre 1850 e 1852, dos neurônios auditivos da cóclea de mamíferos (20)
Hermann von Helmholtz (1821-1894), colega de ou mesmo para modelagens com uso de estimulação
Bois-Reymond, determinou a velocidade de propa- elétrica (21). Erwin Neher (1944-) e Bert Sakmann
gação do impulso nervoso, cálculo realizado a partir (1942-) realizavam experiências com a técnica patch-
da distância entre os eletrodos e do tempo de atraso clamp (22), isolando um único canal dependente de
que precedia a contração muscular (11). tensão elétrica de músculos denervados de sapos
Um assistente de Helmholtz, Julius Bernstein (23) e acabaram sendo laureados com o Prêmio Nobel
(1839-1917), em torno de 1868, estudou a análise de Fisiologia/Medicina em 1991.
temporal do PA em ascendência, latência e descen- O PA comporta-se de maneiras diferentes diante
dência (9). O estudo revelou que o PA se move no de diferentes estímulos físicos; quando um estímulo
sentido do corpo do neurônio (soma) para a extre- é muito lento, não rápido e intenso o suficiente para
midade do axônio (terminal pré-sináptico), deno- despolarizar a célula, acontece o fenômeno da acomo-
minada condução ortodrômica (1), que provém do dação (24, 25). A redução da frequência (de disparo da
grego orto (certo) e dromos (pista), presente na despolarização) após a exposição a um estímulo fí-
ativação eferente de fibras motoras e glandulares. sico prolongado, como toque (26), alongamento mus-
Quando a condução ocorre da extremidade do axô- cular (27, 28), exposição a odores (29) e estimula-
nio em sentido ao corpo do neurônio, denomina-se ção elétrica (30, 31), caracteriza a adaptação (32,
transmissão antidrômica (contra a pista), presente 33). A recuperação da adaptação (desadaptação)
no sistema aferente sensitivo/sensorial (12). ocorre após o cessar do estímulo, e demora até que
Bernstein baseou-se no conceito de difusão de a frequência dos estímulos volte a ser normal (34),
gases de Nernst para explicar o PA. Ele postulou que salvo quando ocorre transdução genética, como na
o PA ocorre em virtude da alta permeabilidade do K⁺ plasticidade sináptica (14, 35). O presente estudo
pela membrana celular comparado com outros íons, e trata de uma revisão da literatura sobre o desen-
pela maior concentração do íon no meio intracelular cadeamento e a propagação do PA e o consequente
(MIC) em relação ao meio extracelular (MEC) (9). No processo de adaptação celular.
ano de 1902, Bernstein propôs que durante o PA a cé-
lula nervosa adquiriria uma polaridade que não ultra-
passava 0 mV (13). Keith Lucas (1879-1916) determi- Materiais e métodos
nou o “efeito tudo ou nada” do tecido muscular (14)
e Edgar D. Adrian (1889-1977) descobriu que esse A busca de informações foi realizada nas ba-
efeito também se aplicava ao tecido nervoso (15). ses Springer, ScienceDirect, PubMed, IEEE Xplore,
O fisiologista francês Louis Lapicque (1866-1952) es- Google Acadêmico e Portal de Periódicos da Capes e
tudou a fundo os parâmetros necessários para a de- livros sobre o assunto. O idioma de preferência sele-
flagração do PA em tecidos excitáveis em função da cionado foi o inglês, com as keywords: action poten-
amplitude (reobase) e do tempo (cronaxia) (16). tial; adaptation; accommodation; rheobase; chronaxy;
nerve impulse. Efetuou-se a procura de artigos com produzam dor. O mecanismo luminoso é ativado por
uma janela de tempo ampla, de 1931 a 2010, e livros fótons que incidem na retina. Todos os exemplos
de 1791 a 2007. Foram descartados três trabalhos descritos fazem a transdução (37) desses fenôme-
relacionados à adaptação conhecida como plastici- nos físicos em PAs (36, 38).
dade neuronal, por se entender que esse fenômeno As membranas celulares são semipermeáveis (39)
está ligado a processos de aprendizagem e ocorre permitindo a passagem de apenas algumas subs-
por estímulos repetidos e de longa duração, afas- tâncias como Na⁺, K⁺, Cl⁻, Ca⁺⁺, proteínas e glicose,
tando-se do foco deste estudo. Após a realização das entre outras (7, 40). A Tabela 2 apresenta a concen-
buscas nas bases de dados, foram lidos os abstracts tração de Na⁺ K⁺ e Cl⁻ no MIC e MEC expressa em
e eliminadas as duplicações. Dos trabalhos selecio- mM e mEq/L de axônio gigante de lula (39).
nados, foram extraídas informações a respeito dos Pela equação de Nernst (40), cada substância
seguintes tópicos: potencial de ação e suas fases, apresenta uma diferença de potencial entre MIC e
condução nervosa, reobase, cronaxia, acomodação MEC graças à diferença de concentração entre os meios
e adaptação neuronal. (5). Em virtude dessa diferença de concentração e
pelo efeito denominado equilíbrio de Gibbs-Donnan
(39, 41), a membrana celular mantém-se polarizada.
Resultados O potencial de repouso da célula é de aproximada-
mente − 70mV (Gráfico 1) (19, 28), encontrado por
Foram selecionados os trabalhos que versavam meio da equação (1) (7, 40) de Goldman-Hodgkin-
sobre PA e o processo de adaptação celular. O artigo Katz (17, 42), sendo T a temperatura em Kelvin; F o
foi escrito a partir de 23 livros, 51 artigos encontra- número de Faraday estipulado em 96.500 Cb/mol;
dos no Google Acadêmico, 1 artigo do IEEE Xplore, 8 Px a permeabilidade de cada íon; e R a constante
artigos da ScienceDirect e 9 artigos da base Springer,
totalizando 92 referências.
Tabela 1 - Classificação da fibra nervosa em função do
diâmetro e velocidade de condução
Potencial de ação e suas fases
Fibra nervosa Diâmetro ( μm) Velocidade (m/s)
A fibra nervosa é classificada em função de seu Aα 15 100
diâmetro (Ø) e velocidade (V). Quanto maior o di-
Aβ 8 50
âmetro, maior é a velocidade de condução nervosa.
Joseph Erlanger (1874-1965) e Herbert Gasser (1888- Aγ 5 20
1963), ganhadores do Prêmio Nobel de 1944 (14), Aδ 3 15
apresentam a classificação dos tipos de fibra ner- B 3 7
vosa em função de seu diâmetro e velocidade de C 0,5 1
condução (Tabela 1). Como critério de comparação,
o diâmetro médio do axônio gigante de lula é de 0,5 Fonte: Adaptado de Schmidt et al. (36).
mm (13).
O PA pode propagar-se em dois sentidos princi-
pais: de fora do sistema nervoso central (SNC) em Tabela 2 - Concentração de sódio, potássio e cloro no meio
direção ao SNC (aferente) e vice-versa (eferente). intra e extracelular de axônio gigante de lula
Diversos são os mecanismos de deflagração do PA.
Por exemplo, a ativação mecânica está presente na MIC MEC
pressão sobre a pele (ou como toque e vibração so- mM mEq/L mM mEq/L
nora) e na pressão sanguínea sobre os barorrecep-
tores localizados nas artérias carótidas. A ativação [Na+] 50 10 440 142
química está presente no paladar e olfato, enquanto [K ]+
400 140 20 4
o frio e o calor são mecanismos de ativação térmica. [Cl−] 52 4 560 103
A ativação de mecanismos álgicos é decorrente de
cortes e queimaduras, dentre outras situações que Fonte: Adaptado de Schmidt et al. (36).
universal dos gases, 8.314 J/mol K. A equação de constante; m³ representa uma comporta de ativação
Goldman-Hodgkin-Katz foi confeccionada a partir da e h representa uma comporta de inativação (44).
equação de Nernst (43).
I Na = g Na (V − VNa ) (2)
RT [Na]i PNa + [K]i PK + [Cl]i PCl
Vm = − ln (1) I K = g K (V − VK ) (3)
F [Na]e PNa [K ]e PK + [Cl]e PCl
g Na = g NaM × m³ × h (4)
O PA ocorre na faixa de milissegundos (44), com
frequências que variam de 20 Hz (1) até milhares de Em um determinado momento o Na⁺ quebra o
Hertz (36). Iniciado pela entrada abrupta do Na⁺ no bloqueio de Ca⁺⁺ e adentra abruptamente para o MIC,
MIC, em virtude da diferença de concentração com despolarizando a célula (24, 43) e aumentando a
o MEC, termina com a saída do K⁺ e a consequente diferença de potencial da membrana a um platô de
repolarização da célula (45). A diferença de concen- 40 mV (Gráfico 1) nas fibras Aα (13). Já nas mais
tração dos íons nos meios intra e extracelular pode adelgaçadas, o platô não ultrapassa 0 mV. O valor
ser modelada por meio de um circuito eletrônico entre 0 mV e + 40 mV é definido como overshoot
como um capacitor, de aproximadamente 0,9 a 2 (51). Na despolarização, a permeabilidade do Na⁺ é
μF/cm² (6, 45), que acumula energia e, em um de- 3,5 vezes maior que a permeabilidade do K⁺ (19).
terminado momento, descarrega-se por meio de um Estudos recentes mostram que a corrente de Na⁺
resistor (24) em paralelo; o MIC tem uma resistivi- é abrupta e com menos atraso em relação ao que
dade aproximada de 0,6 Ω.m (46) e a resistência da postulavam HH (44); em neurônios centrais de ma-
membrana celular varia entre 1 e 5 kΩ/cm² (6). míferos, a corrente de Na⁺ é ativada sem atraso em
Todo íon tem o seu canal (47) específico na mem- comparação aos anfíbios (52). Em decorrência da
brana permeável, sendo este dependente da dife- corrente de Na⁺, a membrana celular apresentará
rença de potencial; outra substância, geralmente ou- uma variação entre 80 mV (1) e 100 mV (45) (de-
tro íon, funciona como bloqueador do canal. O pre- pendendo do diâmetro da fibra), produzindo um pe-
cursor do PA na fibra nervosa é o íon Na⁺, tendo ríodo refratário absoluto (Gráfico 1) (24, 53) no qual
como bloqueador de seu canal o íon Ca⁺⁺ (48). O canal um novo estímulo não conseguirá deflagrar outro
iônico do Na⁺ apresenta, segundo hipóteses de HH, PA nesse intervalo (efeito tudo ou nada) (51).
comportas de ativação (m, n e h), sendo a comporta Após o período refratário absoluto, ocorre a saída
h responsável pela inativação do canal (33,49). Por do íon K⁺ (54), onde a membrana eleva seu limiar
possuir uma concentração mais baixa no MIC que no de despolarização, necessitando de maior corrente
MEC (48), resultando em um gradiente de potencial para que ocorra uma nova despolarização (55). O pro-
elétrico (40) entre o MIC e MEC (50), o Na⁺ tende a cesso de inativação reduz gradativamente a permea-
entrar, com isso, tem-se uma variação no potencial bilidade do Na⁺ após ter ocorrido a despolarização
elétrico. O limiar de despolarização (LD) é de 15 da membrana, esse evento é conhecido como perí-
mV em relação à tensão da membrana polarizada odo refratário relativo (Gráfico 1) (24). O tempo de
(Grafico 1); se essa variação ficar entre 10 e 15 mV inativação estará quase completo quando a tensão
ocorrerá um potencial graduado (45). O potencial na membrana for menor que − 30 mV (24). Um pulso
graduado, local ou eletrotônico (36), percorre me- de Na⁺ aplicado logo no início do período refratário
nos de 0,3 mm na fibra nervosa com rápida atenua- relativo apresenta uma condutância de apenas 37%
ção(3), retornando rapidamente ao potencial origi- quando comparado ao seu valor no período refratá-
nal da célula polarizada (51). rio absoluto. Entretanto, a tensão da membrana não
A corrente do íon Na⁺ (19) é representada pela sofre grande variação. Após 35 ms, a condutância
equação (2), sendo INa a corrente de Na⁺, gNa a con- do Na⁺ retorna exponencialmente ao seu valor má-
dutância ao Na⁺, V representa a tensão da membrana ximo (33). Em nervos mielinizados de coelhos, por
e VNa a tensão de Na⁺. A mesma modelagem mate- exemplo, esse tempo de inativação é de duas a três
mática aplica-se para a corrente de K⁺ (24) como vezes maior que em sapos (56).
mostra a equação (3). Já a condutância ao íon Na⁺ Descobriu-se que a rápida entrada de Na⁺ na cé-
(52) é expressa pela equação (4), onde gNaM é uma lula reduz e atrasa o início da corrente de K⁺ em
1
R~ (5)
0 A
D/(D + 1)
mV
Onde t representa tempo (em segundos) após o para o primeiro minuto de estimulação, a adaptação
primeiro spike do sinal, k é constante de equilíbrio das fibras rápidas provocou uma queda de 60% da
(quando a frequência passa de um exponencial para força, acompanhando o declínio da frequência; o
outra), A₁ … An (Hz) são as amplitudes de cada ex- mesmo não ocorreu com as fibras S (90) e tanto a
ponencial, e τ1 e τn são constantes de tempo, con- frequência como a força variaram muito pouco no
forme Gorman et al. (82). primeiro minuto. Por meio da eletromiografia, de-
Em sanguessugas, estimulando eletricamente o monstrou-se que em contração voluntária de mús-
motoneurônio, independente da intensidade apli- culo deltoide existe uma forte correlação negativa
cada (0,5; 1; 1,5; 2 nA), a frequência de despolari- entre o disparo do motoneurônio e o desenvolvi-
zação do sinal decaía 50% em 1s após a aplicação mento de força na fibra muscular (91). Novamente
(83). Na adaptação de motoneurônios do nervo com gatos anestesiados, avaliou-se a adaptação dos
hipoglosso de ratazanas durante a aplicação de es- motoneurônios de músculos do tipo F e S diante de
timulação elétrica constante de 60s, ocorria uma uma estimulação elétrica constante. Durante a esti-
redução de ~30 Hz para ~22 Hz nos primeiros 10s mulação elétrica mantida durante 240s, um moto-
de estimulação, e depois a frequência continuava a neurônio tipo F apresentou redução de ~30 Hz para
decair suavemente nos 50s restantes (72). ~3 Hz ao final do período de estimulação, enquanto
O músculo estriado esquelético é dividido basi- o motoneurônio de uma fibra tipo S apresentou re-
camente em fibras do tipo F (ou II) de rápida con- dução de ~20 Hz para ~15 Hz ao final do experi-
tração/fadiga muscular e do tipo S (ou I) de lenta mento (92), demonstrando que a redução da frequên-
contração/fadiga muscular (84). Em contração iso- cia do motoneurônio é análoga à fadiga muscular.
métrica, as frequências de disparo dos motoneurô-
nios ficam entre 20 Hz e 50 Hz; fibras musculares
com maior número de fibras S apresentam menores Conclusão
frequências; o contrário ocorre com as fibras F (85).
Na contração isométrica, o intervalo de pulso é in- O potencial de ação representa o meio de comu-
crementado, reduzindo, assim, a frequência do sinal nicação do tecido nervoso com outros tipos de teci-
(86). A adaptação é mais pronunciada em motoneu- dos, em funções como coordenar um movimento ou
rônios de fibras F do que S (87). Em humanos, com secretar um hormônio na circulação sanguínea, den-
uma contração voluntária sustentada durante 60s, tre outras tantas atividades. Vários são os estágios
a frequência do motoneurônio decai de 27 Hz para que compreendem a geração do potencial de ação,
14 Hz (88). A inibição central provocada pela célula podendo este ser eliciado a partir de vários estímu-
de Renshaw (inibitória) na medula espinal pode in- los físicos. Estímulos que criem PAs são aplicados de
fluenciar no declínio da frequência do motoneurô- maneira constante, reduzem a frequência de despo-
nio durante a fadiga muscular (87) e não somente larização em função do tempo e, consequentemen-
por fatores da fibra nervosa em atividade. te, levam a célula à adaptação, diferenciando-se do
Usando eletrodo intracelular localizado no mús- evento de acomodação, em que o limiar de despola-
culo gastrocnêmio medial de gatos anestesiados, rização eleva-se antes do primeiro potencial de ação.
aplicou-se estimulação elétrica com frequência de A elevação do limiar de despolarização apresenta-
burst em 40 Hz, durante um período de 4 min, con- se como uma das condições que geram a adaptação
tinuamente; o sinal foi adquirido nos motoneurô- do potencial de ação. Por intermédio de modela-
nios. Demonstrou-se que a aplicação do estímulo gens matemáticas, pode-se formular o resultado da
prolongado fez com que a frequência do PA tivesse adaptação sobre um determinado tecido nervoso e
um decremento de aproximadamente 50% nos 30s sua futura desadaptação. O fenômeno da adaptação
iniciais, quando então começava a decair muito len- também ocorre nos fusos musculares e motoneurô-
tamente até o final dos 4 min, sem alteração da am- nios durante a estimulação elétrica, podendo ser per-
plitude do sinal (89). Repetindo o mesmo estudo, cebido em conjunto com a fadiga muscular, graças à
mas com diferenciação entre os tipos de fibras mus- relação intrínseca existente entre fadiga muscular e
culares, observou-se que as fibras F apresentavam adaptação do motoneurônio. Há uma enorme dificul-
decaimento da frequência de disparo mais rapida- dade em se relacionar a resposta motora com um dos
mente que as fibras S. Com os valores normalizados, dois eventos, tendo em vista a sua complexibilidade.
A adaptação do neurônio sob a aplicação de estímu- 10. Galvani L. De viribus electricitatis in motu muscu-
los constantes tem elevado potencial de aplicação na lari commentarius. Bon Sci Art Inst Acad Comm.
reabilitação de portadores de lesões neurológicas. 1791;363-418.
A aplicação desse conhecimento em sistemas de es-
11. Verkhratsky A, Krishtal OA, Petersen OH. From Galvani
timulação elétrica funcional, por exemplo, contribui
to patch clamp: the development of electrophysiol-
na elaboração de estratégia de controle do estimula-
ogy. Pflugers Arch. 2006;453(3):233-47.
dor (sistema em malha fechada).
12. Robinson AJ, Snyder-Mackler L. Eletrofisiologia clí-
Agradecimentos nica: eletroterapia e teste eletrofisiológico. 2a ed.
Porto Alegre: Artmed; 2001.
Os autores gostariam de agradecer à Capes (mes-
13. Mudado MA, Moreira TH, Cruz JS. O início da era dos
trado e doutorado) e ao CNPq (doutorado) pelas bol-
canais iônicos. Ciência Hoje. 2003;33(193):56-8.
sas concedidas para a realização deste trabalho.
14. Cooper SJ. Donald O. Hebb's synapse and learning
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