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ISSN 0103-5150

Fisioter. Mov., Curitiba, v. 24, n. 3, p. 535-547, jul./set. 2011


Licenciado sob uma Licença Creative Commons

[T]

Potencial de ação: do estímulo à adaptação neural


[I]

Action potential: from excitation to neural adaptation

[A]

Eddy Krueger-Beck[a], Eduardo Mendonça Scheeren[b], Guilherme Nunes Nogueira-Neto[c],


Vera Lúcia da Silveira Nantes Button[d], Eduardo Borba Neves[e], Percy Nohama[f]

[a]
Fisioterapeuta, MSc em Engenharia Biomédica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Doutorando
em Engenharia Biomédica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Curitiba, PR - Brasil, e-mail:
kruegereddy@gmail.com
[b]
Educador físico, MSc em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), bolsista Capes,
Curitiba, PR - Brasil.
[c]
Engenheiro de computação, MSc em Engenharia Elétrica, Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), bolsista CNPq, Campinas, SP - Brasil.
[d]
Doutora, docente em Engenharia Biomédica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP - Brasil.
[e]
Doutor em Engenharia Biomédica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), docente do Centro
Universitário Campos de Andrade (Uniandrade), Curitiba, PR - Brasil.
[f]
Doutor em Engenharia Biomédica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), docente da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Curitiba, PR - Brasil.

[R]

Resumo
Introdução: O potencial de ação (PA) origina-se graças a uma perturbação do estado de repouso da mem-
brana celular, com consequente fluxo de íons, por meio da membrana e alteração da concentração iônica nos
meios intra e extracelular. Objetivos: Sintetizar o conhecimento científico acumulado até o presente sobre o
potencial de ação neural e o seu processo de adaptação sob aplicação de um estímulo constante. Materiais
e métodos: Busca realizada nas bases Springer, ScienceDirect, PubMed, IEEE Xplore, Google Acadêmico,
Portal de Periódicos da Capes, além de livros referentes ao assunto. O idioma de preferência selecionado
foi o inglês, com as keywords: action potential; adaptation; accommodation; rheobase; chronaxy; nerve im-
pulse. Efetuou-se a procura de artigos com uma janela de tempo de 1931 a 2010 e livros de 1791 a 2007.

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Krueger-Beck E, Scheeren EM, Nogueira-Neto GN, Button VLSN, Neves EB, Nohama P.
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Resultados: Dos trabalhos selecionados, foram extraídas informações a respeito dos seguintes tópicos:
potencial de ação e suas fases; condução nervosa; reobase; cronaxia; acomodação; e adaptação neuronal.
Conclusão: Um estímulo que crie PA, se aplicado de maneira constante, pode reduzir a frequência de des-
polarizações em função do tempo e, consequentemente, adaptar a célula. O tempo que a célula demora, na
ausência de estímulos, para recuperar sua frequência original é definido como desadaptação. [#]
[P]

Palavras-chave: Potenciais de ação. Adaptação fisiológica. Cronaxia. Tecido nervoso. Canais iônicos. [#]
[B]

Abstract
Introduction: The action potential (AP) arises due to a disturbance of the resting state of the cell membrane
with consequent flow of ions across the membrane and ion concentration changes in intra and extra cellular
space. Objectives: This article aims to summarize the scientific knowledge accumulated to date on the
action potential and neural adaptation in the process of applying a constant stimulus. Materials and
methods: This is a literature review on the bases Springer, ScienceDirect, PubMed, IEEE Xplore, Google Scholar,
Capes Periodicals Portal as well as books on the topic. The selected preferred language was English with the
keywords: action potential; adaptation, accommodation; rheobase; chronaxy; nerve impulse. We conducted a
search of articles with a wide time window from 1931 to 2010 and books from 1791 to 2007. Results: In the
selected studies was extracted information about the following topics: action potential and its stages; nerve
conduction; rheobase; chronaxie, accommodation, and adaptation. Conclusion: A stimulus that creates AP,
if applied consistently, can reduce the frequency of depolarization as a function of time and, consequently, to
adapt the cell. The time it takes the cell in the absence of stimuli, to recover its original frequency, is defined
as a disadaptation. [#]
[K]

Keywords: Action potentials. Physiological adaptation. Chronaxy. Nerve tissue. Ion channels. [#]

Introdução Historicamente, as primeiras descobertas sobre


PA remontam a Claudius Galenus (129-199/217), que
As células nervosas transmitem informações umas corroborava com os princípios aristotélicos que di-
para as outras por meio de impulsos elétricos deno- ziam que dos vasos sanguíneos do cérebro provinha a
minados potenciais de ação (PA) (1), tornando a co- psychic pneuma (ou spiritus animalis, que hoje corres-
municação dos neurônios similar a uma rede de cir- ponde à atividade neural), conduzida pelos nervos até
cuitos eletrônicos (2, 3). PAs ocorrem o tempo todo os músculos, que eram “inflados” gerando a contração.
em tecidos do corpo humano, coordenando suas Após Galenus, foram criadas teorias similares, como a
funções, seja no estado de vigília, dormindo e em ou- de René Descartes (1596-1650), que acreditava que
tros estados comportamentais (4). Com o uso de ele- os nervos movimentavam certo tipo de espírito por
trodos de Ag/AgCl (5) aderidos à superfície da pele entre seus “tubos”. Giovanni Alfonso Borelli (1608-
ou microeletrodos conectados diretamente ao tecido 1679), considerado o pai da biomecânica moderna,
nervoso(6), a atividade do PA pode ser mensurada compactuava com a ideia de que um fluido, não um
por meio de várias técnicas de medição de sinal, tais espírito, percorria os nervos e inchava os músculos
como: eletro-oculografia (EOG), eletroencefalografia provocando contração. William Gilbert (1544-1603)
(EEG), eletroretinografia (ERG), eletrocardiografia construiu o primeiro eletroscópio e Otto von Guericke
(ECG), eletrococleografia (ECoG) e eletromiografia (1602-1686) desenvolveu o primeiro gerador elétrico
(EMG) (7). O PA gerado no interior do corpo produz que produzia eletricidade estática (a partir de fricção)
um campo magnético perpendicular ao axônio, que e que podia ser usado em experimentos com eletrici-
pode ser registrado exteriormente por aparelhos dade. Esses instrumentos possibilitaram o desenvol-
como: magnetoencefalógrafo (MEG), magnetocardió- vimento de estudos em eletrofisiologia (9).
grafo (MCG) e o SQUID (acrônimo do inglês Super Luigi Galvani (1737-1798) foi o primeiro a de-
Conducting Quantum Interference Device) (8). monstrar, indiretamente, a propagação do PA em

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patas traseiras de rãs dissecadas (10). Seu sobrinho, O biofísico Alan Lloyd Hodgkin (1914-1998) e
Giovanni Aldini (1762-1834), foi o primeiro a aplicar o fisiologista Andrew Fielding Huxley (1917-) de-
estimulação elétrica em cadáveres frescos de crimi- senvolveram, na década de 1940, a técnica voltage-
nosos executados. Postula-se que esse fato inspirou clamp, que isola a membrana celular para mensurar
a escritora Mary Shelley (1797-1851) a escrever o o PA em axônio gigante de lula (Loligo brasiliensis).
livro Frankenstein ou o moderno Prometeu (11). Posteriormente, em 1963, foram laureados com o
Johannes Peter Müller (1801-1858) afirmava neurofisiologista Sir John Carew Eccles (1903-1997)
que a duração do impulso nervoso era tão rápida com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina (13).
que seria impossível mensurá-lo. Já seu discípulo, Hodgkin e Huxley (HH) corroboraram que o PA pode
Emil Heinrich du Bois-Reymond (1818-1896), con- atingir no MIC uma amplitude aproximada de 40 mV
siderado por muitos como o pai da eletrofisiologia, (13) e modelaram os canais iônicos presentes na mem-
refutando as ideias de seu professor, mostrou em brana celular como voltagem-dependentes (17). Essa
1843 a existência de uma flutuação negativa (do ale- modelagem foi amplamente utilizada em muitos es-
mão negative schwankung) na tela do eletroscópio, tudos posteriores (18), como em fibras mielinizadas
durante uma tetania muscular produzida pelo uso de sapos (Xenopus laevis) (19), na membrana iônica
do veneno estricnina (9, 11). Entre 1850 e 1852, dos neurônios auditivos da cóclea de mamíferos (20)
Hermann von Helmholtz (1821-1894), colega de ou mesmo para modelagens com uso de estimulação
Bois-Reymond, determinou a velocidade de propa- elétrica (21). Erwin Neher (1944-) e Bert Sakmann
gação do impulso nervoso, cálculo realizado a partir (1942-) realizavam experiências com a técnica patch-
da distância entre os eletrodos e do tempo de atraso clamp (22), isolando um único canal dependente de
que precedia a contração muscular (11). tensão elétrica de músculos denervados de sapos
Um assistente de Helmholtz, Julius Bernstein (23) e acabaram sendo laureados com o Prêmio Nobel
(1839-1917), em torno de 1868, estudou a análise de Fisiologia/Medicina em 1991.
temporal do PA em ascendência, latência e descen- O PA comporta-se de maneiras diferentes diante
dência (9). O estudo revelou que o PA se move no de diferentes estímulos físicos; quando um estímulo
sentido do corpo do neurônio (soma) para a extre- é muito lento, não rápido e intenso o suficiente para
midade do axônio (terminal pré-sináptico), deno- despolarizar a célula, acontece o fenômeno da acomo-
minada condução ortodrômica (1), que provém do dação (24, 25). A redução da frequência (de disparo da
grego orto (certo) e dromos (pista), presente na despolarização) após a exposição a um estímulo fí-
ativação eferente de fibras motoras e glandulares. sico prolongado, como toque (26), alongamento mus-
Quando a condução ocorre da extremidade do axô- cular (27, 28), exposição a odores (29) e estimula-
nio em sentido ao corpo do neurônio, denomina-se ção elétrica (30, 31), caracteriza a adaptação (32,
transmissão antidrômica (contra a pista), presente 33). A recuperação da adaptação (desadaptação)
no sistema aferente sensitivo/sensorial (12). ocorre após o cessar do estímulo, e demora até que
Bernstein baseou-se no conceito de difusão de a frequência dos estímulos volte a ser normal (34),
gases de Nernst para explicar o PA. Ele postulou que salvo quando ocorre transdução genética, como na
o PA ocorre em virtude da alta permeabilidade do K⁺ plasticidade sináptica (14, 35). O presente estudo
pela membrana celular comparado com outros íons, e trata de uma revisão da literatura sobre o desen-
pela maior concentração do íon no meio intracelular cadeamento e a propagação do PA e o consequente
(MIC) em relação ao meio extracelular (MEC) (9). No processo de adaptação celular.
ano de 1902, Bernstein propôs que durante o PA a cé-
lula nervosa adquiriria uma polaridade que não ultra-
passava 0 mV (13). Keith Lucas (1879-1916) determi- Materiais e métodos
nou o “efeito tudo ou nada” do tecido muscular (14)
e Edgar D. Adrian (1889-1977) descobriu que esse A busca de informações foi realizada nas ba-
efeito também se aplicava ao tecido nervoso (15). ses Springer, ScienceDirect, PubMed, IEEE Xplore,
O fisiologista francês Louis Lapicque (1866-1952) es- Google Acadêmico e Portal de Periódicos da Capes e
tudou a fundo os parâmetros necessários para a de- livros sobre o assunto. O idioma de preferência sele-
flagração do PA em tecidos excitáveis em função da cionado foi o inglês, com as keywords: action poten-
amplitude (reobase) e do tempo (cronaxia) (16). tial; adaptation; accommodation; rheobase; chronaxy;

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nerve impulse. Efetuou-se a procura de artigos com produzam dor. O mecanismo luminoso é ativado por
uma janela de tempo ampla, de 1931 a 2010, e livros fótons que incidem na retina. Todos os exemplos
de 1791 a 2007. Foram descartados três trabalhos descritos fazem a transdução (37) desses fenôme-
relacionados à adaptação conhecida como plastici- nos físicos em PAs (36, 38).
dade neuronal, por se entender que esse fenômeno As membranas celulares são semipermeáveis (39)
está ligado a processos de aprendizagem e ocorre permitindo a passagem de apenas algumas subs-
por estímulos repetidos e de longa duração, afas- tâncias como Na⁺, K⁺, Cl⁻, Ca⁺⁺, proteínas e glicose,
tando-se do foco deste estudo. Após a realização das entre outras (7, 40). A Tabela 2 apresenta a concen-
buscas nas bases de dados, foram lidos os abstracts tração de Na⁺ K⁺ e Cl⁻ no MIC e MEC expressa em
e eliminadas as duplicações. Dos trabalhos selecio- mM e mEq/L de axônio gigante de lula (39).
nados, foram extraídas informações a respeito dos Pela equação de Nernst (40), cada substância
seguintes tópicos: potencial de ação e suas fases, apresenta uma diferença de potencial entre MIC e
condução nervosa, reobase, cronaxia, acomodação MEC graças à diferença de concentração entre os meios
e adaptação neuronal. (5). Em virtude dessa diferença de concentração e
pelo efeito denominado equilíbrio de Gibbs-Donnan
(39, 41), a membrana celular mantém-se polarizada.
Resultados O potencial de repouso da célula é de aproximada-
mente − 70mV (Gráfico 1) (19, 28), encontrado por
Foram selecionados os trabalhos que versavam meio da equação (1) (7, 40) de Goldman-Hodgkin-
sobre PA e o processo de adaptação celular. O artigo Katz (17, 42), sendo T a temperatura em Kelvin; F o
foi escrito a partir de 23 livros, 51 artigos encontra- número de Faraday estipulado em 96.500 Cb/mol;
dos no Google Acadêmico, 1 artigo do IEEE Xplore, 8 Px a permeabilidade de cada íon; e R a constante
artigos da ScienceDirect e 9 artigos da base Springer,
totalizando 92 referências.
Tabela 1 - Classificação da fibra nervosa em função do
diâmetro e velocidade de condução
Potencial de ação e suas fases
Fibra nervosa Diâmetro ( μm) Velocidade (m/s)
A fibra nervosa é classificada em função de seu Aα 15 100
diâmetro (Ø) e velocidade (V). Quanto maior o di-
Aβ 8 50
âmetro, maior é a velocidade de condução nervosa.
Joseph Erlanger (1874-1965) e Herbert Gasser (1888- Aγ 5 20
1963), ganhadores do Prêmio Nobel de 1944 (14), Aδ 3 15
apresentam a classificação dos tipos de fibra ner- B 3 7
vosa em função de seu diâmetro e velocidade de C 0,5 1
condução (Tabela 1). Como critério de comparação,
o diâmetro médio do axônio gigante de lula é de 0,5 Fonte: Adaptado de Schmidt et al. (36).
mm (13).
O PA pode propagar-se em dois sentidos princi-
pais: de fora do sistema nervoso central (SNC) em Tabela 2 - Concentração de sódio, potássio e cloro no meio
direção ao SNC (aferente) e vice-versa (eferente). intra e extracelular de axônio gigante de lula
Diversos são os mecanismos de deflagração do PA.
Por exemplo, a ativação mecânica está presente na MIC MEC
pressão sobre a pele (ou como toque e vibração so- mM mEq/L mM mEq/L
nora) e na pressão sanguínea sobre os barorrecep-
tores localizados nas artérias carótidas. A ativação [Na+] 50 10 440 142
química está presente no paladar e olfato, enquanto [K ]+
400 140 20 4
o frio e o calor são mecanismos de ativação térmica. [Cl−] 52 4 560 103
A ativação de mecanismos álgicos é decorrente de
cortes e queimaduras, dentre outras situações que Fonte: Adaptado de Schmidt et al. (36).

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Potencial de ação
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universal dos gases, 8.314 J/mol K. A equação de constante; m³ representa uma comporta de ativação
Goldman-Hodgkin-Katz foi confeccionada a partir da e h representa uma comporta de inativação (44).
equação de Nernst (43).
I Na = g Na (V − VNa ) (2)
RT [Na]i PNa + [K]i PK + [Cl]i PCl
Vm = − ln   (1) I K = g K (V − VK ) (3)
F [Na]e PNa [K ]e PK + [Cl]e PCl
g Na = g NaM × m³ × h (4)
O PA ocorre na faixa de milissegundos (44), com
frequências que variam de 20 Hz (1) até milhares de Em um determinado momento o Na⁺ quebra o
Hertz (36). Iniciado pela entrada abrupta do Na⁺ no bloqueio de Ca⁺⁺ e adentra abruptamente para o MIC,
MIC, em virtude da diferença de concentração com despolarizando a célula (24, 43) e aumentando a
o MEC, termina com a saída do K⁺ e a consequente diferença de potencial da membrana a um platô de
repolarização da célula (45). A diferença de concen- 40 mV (Gráfico 1) nas fibras Aα (13). Já nas mais
tração dos íons nos meios intra e extracelular pode adelgaçadas, o platô não ultrapassa 0 mV. O valor
ser modelada por meio de um circuito eletrônico entre 0 mV e + 40 mV é definido como overshoot
como um capacitor, de aproximadamente 0,9 a 2 (51). Na despolarização, a permeabilidade do Na⁺ é
μF/cm² (6, 45), que acumula energia e, em um de- 3,5 vezes maior que a permeabilidade do K⁺ (19).
terminado momento, descarrega-se por meio de um Estudos recentes mostram que a corrente de Na⁺
resistor (24) em paralelo; o MIC tem uma resistivi- é abrupta e com menos atraso em relação ao que
dade aproximada de 0,6 Ω.m (46) e a resistência da postulavam HH (44); em neurônios centrais de ma-
membrana celular varia entre 1 e 5 kΩ/cm² (6). míferos, a corrente de Na⁺ é ativada sem atraso em
Todo íon tem o seu canal (47) específico na mem- comparação aos anfíbios (52). Em decorrência da
brana permeável, sendo este dependente da dife- corrente de Na⁺, a membrana celular apresentará
rença de potencial; outra substância, geralmente ou- uma variação entre 80 mV (1) e 100 mV (45) (de-
tro íon, funciona como bloqueador do canal. O pre- pendendo do diâmetro da fibra), produzindo um pe-
cursor do PA na fibra nervosa é o íon Na⁺, tendo ríodo refratário absoluto (Gráfico 1) (24, 53) no qual
como bloqueador de seu canal o íon Ca⁺⁺ (48). O canal um novo estímulo não conseguirá deflagrar outro
iônico do Na⁺ apresenta, segundo hipóteses de HH, PA nesse intervalo (efeito tudo ou nada) (51).
comportas de ativação (m, n e h), sendo a comporta Após o período refratário absoluto, ocorre a saída
h responsável pela inativação do canal (33,49). Por do íon K⁺ (54), onde a membrana eleva seu limiar
possuir uma concentração mais baixa no MIC que no de despolarização, necessitando de maior corrente
MEC (48), resultando em um gradiente de potencial para que ocorra uma nova despolarização (55). O pro-
elétrico (40) entre o MIC e MEC (50), o Na⁺ tende a cesso de inativação reduz gradativamente a permea-
entrar, com isso, tem-se uma variação no potencial bilidade do Na⁺ após ter ocorrido a despolarização
elétrico. O limiar de despolarização (LD) é de 15 da membrana, esse evento é conhecido como perí-
mV em relação à tensão da membrana polarizada odo refratário relativo (Gráfico 1) (24). O tempo de
(Grafico 1); se essa variação ficar entre 10 e 15 mV inativação estará quase completo quando a tensão
ocorrerá um potencial graduado (45). O potencial na membrana for menor que − 30 mV (24). Um pulso
graduado, local ou eletrotônico (36), percorre me- de Na⁺ aplicado logo no início do período refratário
nos de 0,3 mm na fibra nervosa com rápida atenua- relativo apresenta uma condutância de apenas 37%
ção(3), retornando rapidamente ao potencial origi- quando comparado ao seu valor no período refratá-
nal da célula polarizada (51). rio absoluto. Entretanto, a tensão da membrana não
A corrente do íon Na⁺ (19) é representada pela sofre grande variação. Após 35 ms, a condutância
equação (2), sendo INa a corrente de Na⁺, gNa a con- do Na⁺ retorna exponencialmente ao seu valor má-
dutância ao Na⁺, V representa a tensão da membrana ximo (33). Em nervos mielinizados de coelhos, por
e VNa a tensão de Na⁺. A mesma modelagem mate- exemplo, esse tempo de inativação é de duas a três
mática aplica-se para a corrente de K⁺ (24) como vezes maior que em sapos (56).
mostra a equação (3). Já a condutância ao íon Na⁺ Descobriu-se que a rápida entrada de Na⁺ na cé-
(52) é expressa pela equação (4), onde gNaM é uma lula reduz e atrasa o início da corrente de K⁺ em

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axônios amielinizados das fibras musgosas do hipo- Condução nervosa


campo de ratos, o que minimiza a sobreposição de
seus respectivos influxos e difere dos apresentados Em um sinal eferente, o PA origina-se no cone do
por HH. Mesmo sendo em tecido amielinizado do axônio (3), que é o corpo do neurônio adelgaçando-
SNC, os autores propõem que uma economia de pro- se no axônio. A condução nervosa ocorre de maneira
cessos neurais está associada à evolução (57). A dura- saltatória (58, 60) nas fibras mielinizadas, por meio
ção do PA não é a mesma para todos os neurônios. Por da despolarização dos nódulos de Ranvier (NR) (61).
exemplo, os neurônios que secretam dopamina têm A função da mielina é servir como um isolante elétrico
um período refratário relativo maior que as células aumentando a velocidade da condução nervosa (48).
piramidais CA1 do hipocampo e maior ainda quando O PA também pode ser deflagrado quando uma esti-
comparado às células de Purkinje do cerebelo (51). mulação elétrica é aplicada no internódulo, porém,
Ao final da saída dos íons K⁺ ocorre o intumes- o PA terá menor amplitude. Em nervos isquiáticos
cimento da célula em virtude do acúmulo de ânions de rãs, Huxley e Stämpfli (1949) mostraram que a
no MIC (58). Ocorre a ativação da bomba de Na⁺-K⁺- amplitude do PA reduz à medida que se aproxima
ATPase (28, 40), que contribui para a manutenção do internódulo e aumenta quando se aproxima do
do potencial de repouso da célula (59), liberando três nódulo, chegando ao seu máximo ao atingi-lo. O PA
íons de Na⁺ para o MEC a cada dois íons de K⁺ para sofre um atraso no NR graças ao fato de que essas re-
o MIC (48). O afluxo de ânions para o MIC gera hi- giões apresentam condutância e capacitância maio-
perpolarização, deixando o MIC mais negativo que o res que nos internódulos. Internamente, não existe
rotineiro, definindo o estado ulterior negativo, sendo atraso na geração do PA em um internódulo; já quan-
mais difícil de despolarizar a célula nesse momento do atingem o NR, ocorre um pequeno atraso na ge-
(50). Consequentemente, ocorre o estado ulterior ração do PA (60).
positivo, ocasionando um leve aumento na tensão da A partir da modelagem matemática da membrana
membrana no MIC, antes que retorne ao seu estado da célula nervosa, constatou-se que o axônio gigante
de polarização original (38). Os eventos que com- de lula não é um bom condutor de eletricidade (51).
preendem o PA estão ilustrados no Gráfico 1. Sugeriu-se, então, que modelos como o de HH, entre
outros, deveriam ser revisados. Face ao estudo reali-
zado, a forma mais indicada deveria estar de acordo
com a equação [5], onde D pode ser considerado
PRA PRR
como a dimensão fractal (em vários módulos) da ses-
+ 40
são do axônio e A é a área do condutor (62).

1
R~ (5)
0 A
D/(D + 1)
mV

O PA dura poucos milissegundos, mas em casos


particulares pode durar até dias em razão das al-
LD terações bioquímicas, como da proteína G no MIC.
− 55
PL Um exemplo desse tipo de receptor é o N-methyl-d-
− 70 aspartate (NMDA) do neurotransmissor glutamato
UN UP
PM (63), localizado na Cornu Ammonis (50) do hipo-
campo, região encefálica correspondente à memó-
ms
ria (55, 64).

Gráfico 1 - Potencial de ação e suas fases


Legenda: mV = 10-3V; PM = potencial de membrana; LD = limiar Reobase, cronaxia e acomodação
de despolarização; PL = potencial local; PRA = potencial
refratário absoluto; PRR = período refratário relativo; UN =
estado ulterior negativo; UP = estado ulterior positivo. Reobase é o estímulo elétrico de amplitude mí-
Fonte: Dados da pesquisa. nima (25) para despolarizar uma célula excitável (12,

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49), quando se aplica um pulso de longa duração


(300 ms). Cronaxia é definida como a menor duração PA EE
de pulso para deflagrar um PA (5), com um estímulo (mV) (V)

configurado com o dobro da amplitude da reobase.


O diâmetro do axônio é inversamente proporcional à EE
cronaxia, assim, quanto maior o diâmetro do axônio,
menor a duração do pulso elétrico necessário para
despolarizar a célula (65). Já a reobase é inversa-
LD
mente proporcional à duração do pulso, sendo ne-
cessária uma amplitude de estímulo maior quanto
menor for a duração do pulso (5).
A acomodação decorre do incremento lento de
Tempo
amplitude (ao nível sublimiar) (5) em função do
tempo, fazendo com que a célula aumente o seu LD
(66) gerando apenas um potencial graduado e não Gráfico 2 - Adaptação do potencial de ação sobre um estí-
um PA (67). Estudos em sapos indicaram que os mulo prolongado
gânglios espinais possuem rápida acomodação, ne- Legenda: PA = potencial de ação; EE = estímulo elétrico (traço
cheio); LD = limiar de despolarização (linha com traço e
cessitando de um incremento de amplitude muito ponto), linha tracejada representa o potencial de repouso
rápido para evitar-se acomodação, ao passo que os do PA e a ausência de estimulação elétrica.
gânglios simpáticos apresentam menor grau de aco- Fonte: Dados da pesquisa.
modação e os motoneurônios muito menos depen-
dência de um incremento rápido na amplitude para
evitar a acomodação (25). O baixo grau de acomo- tardia (72). A adaptação inicial do motoneurônio
dação em motoneurônios possivelmente deve-se à pode ocorrer graças ao aumento da condutância do
dependência da troca de condutância do K⁺ na fase K⁺ (73), enquanto a adaptação tardia parece estar
de inativação do Na⁺. ligada à inativação dos canais iônicos de Na⁺ (33,
66). O bloqueio bioquímico da bomba de Na⁺-K⁺-
ATPase não influencia na adaptação do motoneurô-
Adaptação neuronal nio em qualquer fase (72).
Os corpúsculos de Paccini são exemplos de re-
Diferentemente da acomodação que ocorre antes ceptores de rápida adaptação (66), as terminações
da primeira despolarização da célula, um estímulo de Ruffini são de adaptação lenta (74), assim como
físico específico, aplicado sobre um receptor neuro- os nociceptores (38), de temperatura (68) e adapta-
nal, logo alcança o seu platô e tem sua frequência ção em receptores olfatórios, que são ativados por
de PAs reduzida em função do tempo (68), tanto no meio de substâncias químicas (75). A recuperação
tecido nervoso periférico (66) como central (69). da adaptação (desadaptação) corresponde ao inter-
A sensibilidade (37) de uma célula nervosa diante de valo de tempo após a adaptação no qual a célula não
um estímulo contínuo ou repetitivo (constante den- sofre qualquer estímulo e retorna ao seu limiar de
tro de um padrão) é definida como adaptação ou ha- despolarização original (29). A variação da ampli-
bituação (42), decorrente do aumento do seu limiar tude do estímulo apresenta-se como forma de retar-
de despolarização (29) sem deflagrar novos PAs, dar a adaptação (68).
como ilustra o Gráfico 2. O termo em inglês “spike A adaptação existe em mecanoceptores (32,76)
frequency adaptation” é utilizado por alguns auto- como o órgão tendinoso de Golgi (28). No fuso mus-
res com o significado de adaptação (70, 71). cular, as fibras anuloespirais (primárias) da bolsa
Logo após a aplicação de um estímulo elétrico nuclear (tipo Ia), que registram o comportamento
constante para a despolarização da célula nervosa, dinâmico do músculo (32), são de rápida adaptação.
existe uma rápida queda (~0,1s) na frequência de des- Já as fibras secundárias (tipo II), que medem o mús-
polarização, denominada de adaptação inicial. Após culo de forma estática, são de adaptação lenta (55)
esse evento, a frequência começa a decair lentamente graças ao fato de serem utilizadas por longo tempo,
de forma exponencial, caracterizando a adaptação como os músculos responsáveis por manterem o

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corpo humano em posição ortostática. No fuso mus-


0.55 × 1.5 [0.1 × (T − t)]
cular do sapo (77), o alongamento muscular em fun- WTd = (7)
ção do tempo resulta em diminuição da frequência ∑ WTd
de PA (78, 79).
Estudou-se a adaptação de nervos cutâneos de Sendo WTd o peso da função em relação ao re-
sapos diante da estimulação proporcionada por jatos torno do limiar de despolarização ao seu valor ori-
de ar. Decorridos 22s após o estímulo, a frequência ginal (em porcentagem a partir do valor no início
de impulsos decaía mais da metade, de aproxima- da desadaptação), T o período da amostra (desde o
damente 150 Hz para 60 Hz (26). Gray e Matthews início do estímulo) e t o tempo a partir do tempo
(1951) estudaram a adaptação de corpúsculos de máximo de Ta da equação [6]. O tempo de retorno
Paccini do mesentério de gatos. Mostraram que a da adaptação decai exponencialmente em função do
fibra nervosa, exposta a um estímulo mecânico que tempo, conforme Moore (29).
aumenta linearmente, adapta-se muito mais rapi- Em outro estudo, estimulou-se eletricamente
damente quando comparada a um estímulo elétrico com frequências de 4 e 8 Hz numa e intensidades na
aplicado da mesma maneira sobre o nervo corres- faixa de 0,1-0,5 mA sobre o rostro de roedores (pró-
pondente ao corpúsculo de Paccini (27). Esses re- ximo à vibrissa) (30). O tempo de adaptação no nú-
sultados mostram que diferentes estímulos físicos cleo ventral póstero-medial (NVPM) (81) do tálamo
têm respostas de adaptação diferenciadas sobre o foi medido e comparado ao tempo de adaptação
mesmo receptor. das células em barril do córtex somatossensorial
Por meio do músculo estriado esquelético ex vivo primário (81). Com 4 Hz em 5s de aplicação, o nú-
de gato, relacionou-se o nível de tensão de estimu- cleo ventral póstero-medial apresentou adaptação
lação elétrica, que não deflagrasse uma contração da amplitude que reduzia de 31% ± 9% em com-
muscular, com o alongamento mecânico resultante paração aos 79% ± 6% do córtex somatossensorial
para verificar a resposta do fuso muscular. Com a primário. O NVPM tem um tempo de desadaptação
estimulação elétrica, a frequência do fuso muscular médio de 5s para retornar ao valor de 95% (valor
manteve-se em 27 Hz com variação de 10% do va- normalizado em 100%); já o SI demorava 13s para
lor inicial, durante todo o experimento (1,4s). Com obter o mesmo efeito. Com estímulos elétricos em
o alongamento muscular, o receptor alcançou ini- 8 Hz e 2,5s, o núcleo ventral póstero-medial mos-
cialmente 92 Hz e em 0,3s decaiu para 25 Hz e se trou uma redução de 70% ± 6% de sua amplitude
manteve durante o resto do tempo (1,4s de tempo e o SI 93% ± 5%, com um tempo de recuperação
total). Esses resultados tiveram um comportamento muito rápido (para atingir os 95%) no núcleo ven-
similar em todas as amostras (N = 20) (31). E suge- tral póstero-medial (aproximadamente 1s) contra
rem um comportamento diferenciado do fuso mus- aproximadamente 22s no córtex somatossensorial
cular em relação ao comprimento muscular. primário. A tensão da membrana cortical não sofreu
Em estudo com células olfatórias, demonstrou- variação no estado polarizado, apresentando − 61,7
se que o tempo de adaptação e desadaptação varia ± 1,3 mV previamente à estimulação, contra − 62,1
de 500ms até 10s, criando uma analogia com a ± 1,4 mV logo após a adaptação, mostrando que a
eletrônica de uma banda passante (faixa de atuação hiperpolarização não ocorre em nível cortical (30).
do sinal) (80) de 500ms a 10s. A equação (6) re- A adaptação dos motoneurônios e dos interneu-
produz esse tipo de adaptação, onde WTa é o peso rônios em tartarugas com aplicação da estimula-
da função (porcentagem do aumento do limiar de ção elétrica durante 30s é descrita de modo simi-
despolarização), Ta representa a fase de adaptação, lar na literatura. Nos primeiros 5s de estímulos, a
t é tempo de início do estímulo até o ponto de maior frequência decai em torno de 33%, e depois conti-
aumento do limiar de despolarização. Esse limiar nuava decaindo durante os próximos 25s, até atingir
eleva-se exponencialmente. Para a desadaptação, uma redução em frequência de aproximadamente
utiliza-se a equação (7). 40% (82). A adaptação do motoneurônio tem um de-
caimento exponencial, sendo modelada pela equa-
ção (8):
0.55 × 1.5 (0.1 × t)
WTa = (6)
∑ WTa f = k + A1e
− t τ1
+ A2e
− t τ2
+ … + A ne
− t τn
(8)

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Potencial de ação
543

Onde t representa tempo (em segundos) após o para o primeiro minuto de estimulação, a adaptação
primeiro spike do sinal, k é constante de equilíbrio das fibras rápidas provocou uma queda de 60% da
(quando a frequência passa de um exponencial para força, acompanhando o declínio da frequência; o
outra), A₁ … An (Hz) são as amplitudes de cada ex- mesmo não ocorreu com as fibras S (90) e tanto a
ponencial, e τ1 e τn são constantes de tempo, con- frequência como a força variaram muito pouco no
forme Gorman et al. (82). primeiro minuto. Por meio da eletromiografia, de-
Em sanguessugas, estimulando eletricamente o monstrou-se que em contração voluntária de mús-
motoneurônio, independente da intensidade apli- culo deltoide existe uma forte correlação negativa
cada (0,5; 1; 1,5; 2 nA), a frequência de despolari- entre o disparo do motoneurônio e o desenvolvi-
zação do sinal decaía 50% em 1s após a aplicação mento de força na fibra muscular (91). Novamente
(83). Na adaptação de motoneurônios do nervo com gatos anestesiados, avaliou-se a adaptação dos
hipoglosso de ratazanas durante a aplicação de es- motoneurônios de músculos do tipo F e S diante de
timulação elétrica constante de 60s, ocorria uma uma estimulação elétrica constante. Durante a esti-
redução de ~30 Hz para ~22 Hz nos primeiros 10s mulação elétrica mantida durante 240s, um moto-
de estimulação, e depois a frequência continuava a neurônio tipo F apresentou redução de ~30 Hz para
decair suavemente nos 50s restantes (72). ~3 Hz ao final do período de estimulação, enquanto
O músculo estriado esquelético é dividido basi- o motoneurônio de uma fibra tipo S apresentou re-
camente em fibras do tipo F (ou II) de rápida con- dução de ~20 Hz para ~15 Hz ao final do experi-
tração/fadiga muscular e do tipo S (ou I) de lenta mento (92), demonstrando que a redução da frequên-
contração/fadiga muscular (84). Em contração iso- cia do motoneurônio é análoga à fadiga muscular.
métrica, as frequências de disparo dos motoneurô-
nios ficam entre 20 Hz e 50 Hz; fibras musculares
com maior número de fibras S apresentam menores Conclusão
frequências; o contrário ocorre com as fibras F (85).
Na contração isométrica, o intervalo de pulso é in- O potencial de ação representa o meio de comu-
crementado, reduzindo, assim, a frequência do sinal nicação do tecido nervoso com outros tipos de teci-
(86). A adaptação é mais pronunciada em motoneu- dos, em funções como coordenar um movimento ou
rônios de fibras F do que S (87). Em humanos, com secretar um hormônio na circulação sanguínea, den-
uma contração voluntária sustentada durante 60s, tre outras tantas atividades. Vários são os estágios
a frequência do motoneurônio decai de 27 Hz para que compreendem a geração do potencial de ação,
14 Hz (88). A inibição central provocada pela célula podendo este ser eliciado a partir de vários estímu-
de Renshaw (inibitória) na medula espinal pode in- los físicos. Estímulos que criem PAs são aplicados de
fluenciar no declínio da frequência do motoneurô- maneira constante, reduzem a frequência de despo-
nio durante a fadiga muscular (87) e não somente larização em função do tempo e, consequentemen-
por fatores da fibra nervosa em atividade. te, levam a célula à adaptação, diferenciando-se do
Usando eletrodo intracelular localizado no mús- evento de acomodação, em que o limiar de despola-
culo gastrocnêmio medial de gatos anestesiados, rização eleva-se antes do primeiro potencial de ação.
aplicou-se estimulação elétrica com frequência de A elevação do limiar de despolarização apresenta-
burst em 40 Hz, durante um período de 4 min, con- se como uma das condições que geram a adaptação
tinuamente; o sinal foi adquirido nos motoneurô- do potencial de ação. Por intermédio de modela-
nios. Demonstrou-se que a aplicação do estímulo gens matemáticas, pode-se formular o resultado da
prolongado fez com que a frequência do PA tivesse adaptação sobre um determinado tecido nervoso e
um decremento de aproximadamente 50% nos 30s sua futura desadaptação. O fenômeno da adaptação
iniciais, quando então começava a decair muito len- também ocorre nos fusos musculares e motoneurô-
tamente até o final dos 4 min, sem alteração da am- nios durante a estimulação elétrica, podendo ser per-
plitude do sinal (89). Repetindo o mesmo estudo, cebido em conjunto com a fadiga muscular, graças à
mas com diferenciação entre os tipos de fibras mus- relação intrínseca existente entre fadiga muscular e
culares, observou-se que as fibras F apresentavam adaptação do motoneurônio. Há uma enorme dificul-
decaimento da frequência de disparo mais rapida- dade em se relacionar a resposta motora com um dos
mente que as fibras S. Com os valores normalizados, dois eventos, tendo em vista a sua complexibilidade.

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na elaboração de estratégia de controle do estimula-
ogy. Pflugers Arch. 2006;453(3):233-47.
dor (sistema em malha fechada).
12. Robinson AJ, Snyder-Mackler L. Eletrofisiologia clí-
Agradecimentos nica: eletroterapia e teste eletrofisiológico. 2a ed.
Porto Alegre: Artmed; 2001.
Os autores gostariam de agradecer à Capes (mes-
13. Mudado MA, Moreira TH, Cruz JS. O início da era dos
trado e doutorado) e ao CNPq (doutorado) pelas bol-
canais iônicos. Ciência Hoje. 2003;33(193):56-8.
sas concedidas para a realização deste trabalho.
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