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Pós-Graduação em Educação

Módulo Básico

A Psicologia do
Comportamento Escolar

Rita de Cássia Spréa Uhle


FAEL

Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar

Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo

Coordenador Pedagógico Francisco Carlos Pierin Mendes

EDITORA FAEL

Autoria Rita de Cássia Spréa Uhle

Gerente Editorial William Marlos da Costa

Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues

Revisão Monique Gonçalves

Programação Visual e Diagramação Sandro Niemicz

ATENÇÃO: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael.
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FOTOS DA CAPA
Anissa Thompson
Jos van Galen
Julia Freeman-Woolpert
Krishnan Gopakumar
Stefan Krilla
Viviane Stonoga

Todos os direitos reservados.


2012
A Psicologia do
Comportamento Escolar

Resumo

O presente artigo tem como objetivo expor os com- aprendizado. Destaca transtornos e atitudes que
portamentos influentes em sala de aula, apresentando influenciam o ambiente estudantil. Utiliza como fonte
suas causas, contextos e as consequências ocasionadas diversas bibliografias para compreender e basear
pelas ações e decisões dos alunos, que muitas vezes informações a respeito do assunto. Discute questões
impedem o desenvolvimento próprio e de seus colegas. relacionadas ao papel do educador no processo de
Visa explanar a respeito do comportamento escolar por aprendizagem e no manejo com problemas caracte-
intermédio das teorias de aprendizagem, a fim de com- rísticos no comportamento escolar, com opções de
preendê-lo. Por meio desse reconhecimento, aplicar estratégias e práticas.
estratégias, assim como teorias que a psicologia pro-
porciona para um tratamento e acompanhamento efe- Palavras-chave
tivo na busca de bons relacionamentos sociais, melho-
rando as condições em sala de aula e aperfeiçoando o Comportamento escolar. Psicologia. Transtornos.

A relevância se dá pela necessidade de os profes-


1. Introdução sores reconhecerem cada tipo de transtorno, para assim
O comportamento escolar é reflexo do contexto e lidarem da maneira mais adequada com toda a turma,
dos relacionamentos de cada aluno. As situações mar- identificando os conflitos, aprendendo a lidar com eles e
cantes, problemáticas ou não, influenciam diretamente as encontrando soluções para o convívio dentro da escola.
ações das crianças em seu ambiente, no caso a escola,
no qual precisam lidar com suas questões, colegas e 2. Teorias da aprendizagem
professores e também se encontrar no processo de
aprendizagem. Quando existem falhas, esse processo O que é aprendizagem?
é interrompido ou distorcido, gerando prejuízos para a
Todas as mudanças relativamente permanen-
própria criança e para o ambiente escolar. tes no potencial de comportamento, que resul-
tam da experiência, mas não são causadas por
Problemas como desatenção, transtornos emocio- cansaço, maturação, drogas, lesões ou doen-
nais ou psicológicos, traumas e até mesmo violência são ças (LEFRANÇOIS, 2008, p. 6).
entendidos como fatores determinantes no comporta-
mento individual, que influenciam e ocasionam crises A aprendizagem pode ser considerada um resultado
nas salas de aula. da experiência vivida e vai além da definição de obtenção
de informações, uma vez que as informações obtidas nem
O objetivo deste trabalho é compreender esses sempre se fazem óbvias no processo de aprendizagem.
comportamentos e indicar as possibilidades oferecidas
pela psicologia no intuito de colaborar para um apren- As mudanças de comportamento são evidências da
dizado dentro dos limites aceitos e, também, relaciona- ação da aprendizagem, mas isso não significa que todas
mentos aceitáveis tanto na escola quanto em casa. as mudanças de comportamento a procedam, pois alte-
rações resultantes de cansaço e drogas são temporá-
Essa abordagem da psicologia comportamental rias, e não se caracterizam como prova de que houve
escolar é necessária, uma vez que, alunos reconhecidos aprendizagem. Ela implica em mudanças na capacidade
como preguiçosos ou desatentos na verdade podem de fazer algo e na disposição em realizá-lo.
sofrer algum distúrbio e, com a intervenção correta,
podem se adequar ao padrão escolar e aprender dentro A generalização e a discriminação são importantes
de seus limites. na aprendizagem. A generalização diz respeito ao envol-
vimento com os comportamentos aprendidos anterior- formulação de planos de tratamento e orientação das
mente, na solução de novas situações. Nem todas as ações do terapeuta. Possui dois princípios centrais
situações podem ser apresentadas em sala de aula, por (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008, p. 15):
isso a importância da generalização, uma vez que se
x as cognições têm uma influência controladora
ensina para generalizar (LEFRANÇOIS, 2008, p. 127).
sobre as emoções e os comportamentos dos
Já a discriminação complementa a generalização e
indivíduos.
implica na distinção entre situações semelhantes que
x o modo como as pessoas agem ou se compor-
precisem de respostas diferenciadas, agregando valor
tam pode afetar profundamente seus padrões
ao aprendizado social, o que é certo fazer ou não.
de pensamentos e suas emoções.

2.1 Teoria científica Existem três proposições fundamentais que definem


as características presentes na terapia cognitivo-com-
Teoria científica é o conjunto de afirmações con- portamental (DOBSON apud KNAPP, 2004, p. 19):
gruentes que objetiva explicar determinadas obser- x a atividade cognitiva influencia o comporta-
vações. A teoria tem o propósito de avaliar, resumir e mento.
organizar fatos, assim como ser compreensível e simples x a atividade cognitiva pode ser monitorada e
para melhor compreensão. E para entender as mudan- alterada.
ças comportamentais existe a teoria da aprendizagem. x o comportamento desejado pode ser influen-
ciado mediante a mudança cognitiva.
Essa teoria, também conhecida como teoria com-
portamental, tem como objetivo organizar as hipóteses, Essa terapia tem como objetivo a correção das
as observações feitas a respeito do comportamento distorções do pensamento (KNAPP, 2004, p. 20) e se
humano (LEFRANÇOIS, 2008, p. 22). baseia na relação existente entre cognição, emoção e
pensamento, responsável pelo funcionamento normal
As teorias da aprendizagem tiveram suas origens do ser humano.
na explicação do comportamento baseado em instintos
e emoções (LEFRANÇOIS, 2008, p. 22). Existem duas Knapp (2004) afirma que a TCC se apoia no pres-
classificações para essas teorias: suposto teórico de que as experiências de cada indiví-
x behaviorismo – foco nos aspectos mais obje- duo são determinantes na interpretação das situações
tivos do comportamento, como estímulo, res- em seu contexto. O que ele pensa a respeito dos acon-
posta e recompensa. tecimentos gera determinadas emoções e comporta-
x cognitivismo – concentração nos conceitos mentos. Esses pensamentos que influenciam, muitas
biológicos, na atividade mental humana. vezes, podem ser distorcidos, fato que é conhecido
como distorções cognitivas.
Os psicólogos behavioristas examinam o compor-
tamento real e as condições que levam a tal atitude, De acordo com Knapp,
lidam com estímulos, respostas ao comportamento. Já
os psicólogos cognitivistas, sem contradizer o beha- Se a situação é avaliada erroneamente, essas
distorções podem amplificar o impacto das
viorismo, acreditam que o comportamento humano se percepções falhas. As distorções cognitivas
baseia em atividades como pensar, desejar, raciocinar, podem levar o indivíduo a conclusões equivo-
o que envolve o processo intelectual, a formação de cadas mesmo quando sua percepção da situa-
conceitos, a memória e a percepção. ção está acurada. O objetivo da terapia cog-
nitiva é corrigir as distorções do pensamento
(2004, p. 20).
3. Terapia cognitiva
comportamental – TCC As técnicas utilizadas na TCC auxiliam na identifi-
cação, na avaliação e na modificação de pensamentos
A terapia cognitiva comportamental surgiu nos e crenças disfuncionais, pois sabe-se que a alteração
anos 60 do século XX e foi implementada pelo psiquia- desses pensamentos tem impactos significativos na vida
tra Aaron Beck. Baseia-se em teorias desenvolvidas na do paciente. As crenças, conceitos incondicionais esta-

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2.
belecidos, formam-se com as experiências e se consoli- Essas teorias são utilizadas pelos profissionais em
dam durante a vida. Knapp (2004, p. 21) diz ainda que diversas situações, como no relacionamento e no com-
“as crenças disfuncionais são absolutistas, generalizadas portamento em sala de aula.
e cristalizadas; [...] sendo ativadas nos transtornos emo-
Aprendizagem social pode significar toda a
cionais”.
aprendizagem que ocorre como resultado da
interação social (uma definição de processo)
3.1 Relacionamento ou o tipo de aprendizagem que está envolvido
na descoberta de quais comportamentos são
professor-aluno sob esperados e aceitáveis nas diferentes situações
a influência da TCC sociais (LEFRANÇOIS, 2008, p. 391).

Em pesquisas realizadas a respeito da psicoterapia, A teoria de aprendizagem social dá dois significa-


Michael Lambert constatou que “o impacto do terapeuta dos ao termo, uma aprendizagem ocorrida da interação
pode ter caráter tanto positivo, quanto negativo, por isso a social, como uma consequência, e o processo pelo qual
importância dos aspectos pessoais do profissional, bem todos aprendem. Essa aprendizagem é o conhecimento
como da sua formação e treinamento” (LAMBERT apud a respeito do que é aceitável socialmente.
PICCOLOTO; WAINER; PICCOLOTO, 2008, p. 14).
Para Guy Lefrançois, uma das mais importan-
Pode-se traçar um paralelo entre essa pesquisa tes tarefas de acompanhar o crescimento infantil é o
com o relacionamento vincular entre professor e aluno ensinamento sobre os comportamentos adequados no
na sala de aula. O vínculo positivo que o professor esta- aspecto social (2008, p. 373). Isso é a socialização.
belece com seu aluno influencia o seu desempenho As instituições são consideradas as maiores influências
durante todo o ano letivo. nesse processo. E essas instituições são: família, igreja,
meios de comunicação, escola. As crianças recebem
Beck sempre considerou a necessidade de alguns delas valores e crenças que definem a cultura em que
fatores específicos no tratamento terapêutico, tais como: estão inseridas.
calor humano, empatia, genuinidade e confiança. A base
da TCC é a utilização do questionamento como instru- Mas como uma criança aprende o que é social-
mento de abordagem. mente aceitável?

Uma das características atraentes da terapia Albert Bandura, psicólogo, dá a resposta com o termo
cognitivo-comportamental (TCC) é o emprego “aprendizagem” por observação, que vem da imitação.
de um estilo de relação terapêutica colabora-
tiva, simples e voltada para a ação. Embora a A teoria reconhece a enorme significância da
relação entre terapeuta e paciente não seja nossa capacidade de antecipar as consequên-
considerada o mecanismo principal para a cias de nossos comportamentos, de simbolizar
mudança como em algumas outras formas de e perceber as relações de causa e efeito. O
psicoterapia, uma boa aliança de trabalho é poder dos modelos tem a ver, principalmente,
uma parte essencialmente importante do trata- com sua função informativa. Os modelos nos
mento (BECK apud WRIGHT; BASCO; THASE, informam não apenas como fazer certas coi-
2008, p. 33). sas, mas também as consequências que os
nossos comportamentos podem ter (LEFRAN-
Esses fatores específicos que Beck coloca como ÇOIS, 2008, p. 376).
fundamentais no vínculo terapêutico são habilidades
Dentro da aprendizagem por observação, encon-
necessárias para o educador no ambiente escolar. A rela-
tram-se alguns processos diferentes que completam
ção entre aluno e professor/educador define o curso do
essa etapa:
comportamento no ambiente escolar. Para os autores, há
a necessidade de o profissional se envolver, demonstrar x processo de atenção – a atenção é neces-
compreensão e flexibilidade ao reagir às características sária para aprender. Segundo Brandura (apud
singulares de sintomas, crenças e influências em cada LEFRANÇOIS, 2008), estar atento ao compor-
pessoa. A colaboração entre ambos auxilia na identifica- tamento depende da importância dada a ele.
ção dos problemas e na busca por soluções. Aquilo que é valorizado tem muita atenção.

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

3.
x processo de retenção – além de prestar alunos, com muito mais atenção, disposição e motiva-
atenção, é preciso lembrar o que foi visto. Exis- ção (2007, p. 17).
tem dois tipos de representação no processo
de aprendizado: visual e verbal. Ambos são Essa característica surge a partir do temperamento
importantes, porém cada um tem sua relevân- da pessoa, de seu contexto cultural, das marcas e feri-
cia para a transmissão de informações. das que possui, e do apoio que ela recebe. Ela está
x processo de reprodução motora – com- na ajuda de organizações, no amor próprio, valorização
portamentos concretos são alcançados atra- pessoal, religião e, por não ser uma constante, deve ser
vés dessa imitação, que é feita com habilidade incentivada sempre.
física e intelectual. Pode promover a correção
[...] cada um vive seus dramas e feridas de
da ação ou ensinamento passado. maneira única e individual. Não se pode fazer
x processos motivacionais – motivos são uma descrição padronizada das consequên-
razões e causas do comportamento e, para cias de um trauma ou outro numa criança.
aprender, é preciso haver motivação. A maneira pela qual ela vai superá-lo ou não
depende de seu patrimônio genético, das
Para Brandura (apud LEFRANÇOIS, 2008), não circunstâncias de sua primeira infância, das
se pode definir o comportamento apenas pelas inter- mensagens que recebeu, das ligações afetivas
que criou e da segurança que estas lhe fizeram
venções externas ou internas. Os estímulos externos
sentir (POLETTI; DOBBS, 2007, p. 40-41).
não são os únicos responsáveis pelo comportamento
humano, e o mesmo pode ser dito de estímulos inter- A resiliência, como comportamento, pode ser ensi-
nos. O autor acredita que existem três sistemas que, em nada às crianças. Ela se constrói na união dos fatores
conjunto, determinam o comportamento das pessoas: internos, por meio de mensagens verbais e visuais
x controle de estímulos – ações reflexas ou elementos externos, com a presença de adultos,
usadas para responder a determinados estí- acontecimentos importantes. Ela pode ser promovida
mulos, como medo, espirro, amor, susto. nas escolas pela motivação, pois com esse incentivo
x controle de resultados – alguns comporta- a criança desenvolve competência social, aprende a
mentos são controlados por suas consequên- conviver bem com os outros, aprende a se comunicar
cias, são ações condicionadas. e busca a resolução de suas questões, estabelecendo
x controle simbólico – atividades huma- seus objetivos e pedindo auxílio quando necessário.
nas influenciadas por processos internos. Um
exemplo é o pensamento, que pode afetar o As autoras acreditam que a escola é um lugar essen-
comportamento das pessoas. cial para as crianças que estão sofrendo, independe-
mente dos problemas (POLETTI; DOBBS, 2007, p. 50).
Existem vários fatores que influenciam o compor- Lá, ela precisa encontrar pessoas preocupadas com seu
tamento, o qual pode ser determinado por problemas, bem-estar, assim como em casa; ter esperança, tendo
perdas e abusos. Mas, mesmo em face de situações uma razão para acreditar em si mesma; ter oportunidade
complicadas e desestruturadoras, há uma possibilidade de participação, aumentando sua autoestima e se sen-
de manter um bom comportamento através de cuida- tindo parte de um todo, segura, ativa e feliz.
dos, compreensão. Isso pode ser conhecido como resi-
liência.
4. Gestão de
A resiliência, que pode ser definida como resis- relacionamento e
tência aos choques, é uma maneira de enfrentar gran- comportamento escolar
des problemas. Segundo Poletti e Dobbs, a resiliência
pode ocorrer em situações de risco devido a fatores de Em qualquer escola, os mesmos alunos
estresse e tensão. As autoras dizem não ser uma tarefa podem se comportar de maneira diferente, em
diferentes cenários e com diferentes professo-
fácil acabar com todas as cicatrizes, mas os resilientes
res. O comportamento do professor e o com-
podem viver com dignidade, ainda que tenham sofrido portamento do aluno têm um efeito recíproco
abusos quando crianças. Para elas, os educadores um sobre o outro e sobre o sempre presente
podem enxergar de outra maneira a evolução de seus “público” de colegas (ROGERS, 2008, p. 17).

MÓDULO BÁSICO

4.
Bill Rogers afirma que tanto o professor quanto o alguns princípios básicos para o desenvolvimento dessa
aluno ensinam um ao outro pelo seu comportamento linguagem, entre eles pode-se destacar uma interação
relacional diário (2008, p. 17). Rogers acredita que, corretiva, declarações assertivas, tom de voz respeitoso
ainda que professor ou o aluno estejam passsando por e positivo. O processo de ensino flui à medida que o
um dia ruim, o comportamento e a sua administração professor se apresenta interessado e envolvido no pro-
podem influenciar na ocorrência de incidentes. Uma gresso de seu aluno com atitudes como encorajamento,
importante ferramenta para benefícios em sala de aula dedicação e positivismo.
é ser um profissional reflexivo, que avalia a prática e a
gestão de ensino. De acordo com Bill Rogers, um professor precisa
de habilidade para se relacionar e se comunicar com
Entretanto, muitos comportamentos inadequados os alunos. Esses são atributos essenciais para motivar
em determinadas situações impedem que haja uma o trabalho com tarefas e relações interpessoais (2008,
real reflexão e, até mesmo, uma mudança de posicio- p. 151).
namento. Rogers nomeia comportamentos secundários
atitudes como olhar de desaprovação, mau humor, irri- Todo comportamento gera uma consequência e o
tação e rebelião e diz que estes são considerados mais professor necessita saber gerenciá-las.
intolerantes que os comportamentos primários, quais Consequências comportamentais, como uma
sejam: não realizar tarefas, atrasos, etc. característica de disciplina cuidadosa, são uma
tentativa do professor de ligar o comporta-
Para haver um bom desenvolvimento do grupo de mento perturbador ou errado do aluno a um
alunos é necessário o estabelecimento da gestão com- resultado que, espera-se, enfatizará a impar-
cialidade e a justiça, e até mesmo ensinará à
portamental por meio de práticas e habilidades. Durante criança alguma coisa sobre responsabilidade
essa fase, o professor faz um acompanhamento para final (ROGERS, 2008, p. 156).
destacar responsabilidades da turma, seus direitos e
deveres. Existem algumas metas da gestão de compor- A aplicação de consequências sugere uma orga-
tamento a serem alcançadas (ROGERS, 2008, p. 49): nização de resultados, permitindo aos alunos experi-
mentarem a reação de suas atitudes comportamentais.
x reconhecer/ser responsável por seu compor-
Assim como escolhem incomodar, optam por enfrentar
tamento;
as consequências geradas.
x respeitar os direitos, sentimentos e necessida-
des dos outros; As detenções também podem ser usadas
x construir relações funcionais. para rastrear se alunos, turmas e professores
estão passando por dificuldades. Elas são uma
Muitas escolas utilizam o acordo comportamental “advertência antecipada” de que professores
em sala de aula para estabelecer direitos e responsabi- experientes podem (e deveriam) oferecer apoio
lidades compartilhados. moral e prático (ROGERS, 2008, p. 172).

Os alunos participam, juntamente com seus Para lidar com essas reações, é preciso haver uma
professores, de “um acordo” abordando direi- administração das consequências negociáveis e não
tos, responsabilidades e regras em comum negociáveis. Ambas devem ser explicadas de antemão,
sobre o comportamento e aprendizagem; as
apresentando as questões envolvidas como comporta-
consequências principais para um comporta-
mento inaceitável e uma estrutura de apoio mentos aborrecedores frequentes ou não. Também é
para auxiliar os alunos quando eles estão se necessário equilibrar os aspectos disciplinares com o
esforçando com seu comportamento e apren- apoio adequado: mediação, restituição, aconselhamento
dizagem (ROGERS, 2008, p. 51). e até planos de comportamento para cada aluno.
Para que os alunos entendam o que lhes é pro-
posto, é preciso comunicação e linguagem adequada 5. Inteligência emocional
ao contexto, assim como uma expressão dinâmica. É a capacidade natural que nós, os humanos,
Quando utilizada de maneira correta, pode ser a base temos para gerir nossas emoções com o obje-
para relacionamentos positivos e funcionais. Existem tivo de nos adaptarmos às circunstâncias de

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

5.
nosso ambiente; capacidade que podemos Segundo Silvia Parrat-Dayan “a disciplina é um
melhorar mediante a introspecção e a prática conjunto de regras de conduta estabelecidas para man-
(AGÜERA, 2008, p. 91).
ter a ordem e o desenvolvimento normal das atividades
Baron (apud AGÜERA, 2008, p. 92) define a inteli- de uma aula ou num estabelecimento escolar” (2008,
gência emocional a partir de três fatores: p. 20). A autora diz que o conceito de indisciplina se
traduz de várias maneiras e também por diversas inter-
x percepção da emoção – itens que reco- pretações, existem três referências para a avaliação,
nhecem as emoções por expressões faciais, a do aluno, a do professor e a da escola. A indisci-
desenhos e relatos. plina se mostra nas condutas e nos relacionamentos
x compreensão da emoção – itens que interpessoais do aluno.
reconhecem a mudança das emoções ao
longo do tempo e como se misturam. A avaliação é feita pela escola, por exemplo, na
x regulação das emoções – testes qualifica- ausência de valores democráticos ao se declarar como
dores das estratégias a serem seguidas, situa- tal, e da perspectiva do professor se ele obedece ou não
ções problemáticas de ordem emocional. as normas estabelecidas e sua intervenção em questões
Para Agüera (2008), a inteligência emocional é problemáticas com seus alunos.
fator determinante para o sucesso profissional e até
As crianças precisam, assim como todos os indiví-
mesmo de domínios científicos. A inteligência emocional
duos, de regras para manter um bom relacionamento no
é composta por competências; a primeira é emocional,
ambiente em que estão inseridas, nesse caso, a escola.
a segunda, competência pessoal e, por fim, competên-
Quando essas regras não são devidamente assimiladas
cia social. Com uma boa administração de ambas, é
ou seguidas, existe o problema indisciplinar, o qual é
possível um contentamento individual, apesar de dile-
associado a problemas de moral.
mas, e um bom relacionamento interpessoal.
Agir moralmente significa se conformar às
Goleman (apud AGÜERA, 2008, p. 95) define a regras da moral, que são exteriores à consciên-
competência emocional como: cia da criança porque foram elaboradas sem
ela. Mas chegará o momento em que a criança
uma meta-habilidade composta pelas habi- entrará em contato com essas regras. Esse
lidades de saber controlar os impulsos emo- momento da existência da criança é decisivo
cionais, saber desprender-se dos estados de no que diz respeito à formação da disciplina
ânimo negativos e saber adiar gratificações (PARRAT-DAYAN, 2008, p. 32).
(2008, p. 95).
As regras são necessárias ao ambiente escolar,
5.1 Comportamento uma vez que agem como instrumentos no processo
em sala de aula de educação moral. A autora sugere que uma escola
democrática promove e favorece a cooperação e a inte-
A indisciplina é um problema comum em salas de ração entre os alunos e que é a fonte de autonomia
aula e demanda do professor atitudes corretivas e dis- intelectual e moral.
ciplinares. A conduta indisciplinar pode ser causada por
diversos fatores, como problemas psicológicos, familia- Os motivos para a indisciplina podem ser encon-
res, estruturação familiar e pode, também, transformar-se tradas tanto nas escolas como fora delas. As causas
com o contexto social em que a criança esteja inserida. externas podem ser influência de programas de TV,
relacionamentos sociais, falta de valores e problemas
As situações de indisciplina têm relação com uma familiares. Já as internas estão presentes na relação
perspectiva pedagógica, uma vez que problemas peda- professor-aluno, adaptação ao contexto, perfil do aluno,
gógicos influenciam atitudes indisciplinares. interesse e habilidades.

As crianças precisam, assim como todos os indivíduos,


de regras para manter um bom relacionamento.

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6.
De um modo geral, a indisciplina pode ser enten- É preciso levar em consideração algumas questões:
dida como um problema de razão social e, por isso, quantos são os alunos perturbadores, quão frequentes
deve ser considerada uma questão pedagógica para ser são suas ações e quem são os líderes desse comporta-
compreendida nos relacionamentos entre professor e mento. Assim que reconhecidas, o professor pode fazer
aluno (intervenção escolar). Ela deve ser vista não ape- reuniões com sua turma a fim de responder à seguinte
nas como um problema pessoal, mas como parte da pergunta: o que podemos fazer para mudar nossa sala
responsabilidade das instituições de ensino. É na sala de de aula e como?
aula que o aluno vai aprender tanto o conteúdo quanto
o manejo de conflitos. O professor pode destacar os direitos e as respon-
sabilidades dos alunos, provando que o comportamento
Para combater a indisciplina nas escolas é preciso pode afetar a segurança da turma e mostrando quais as
levar em consideração o desenvolvimento da criança e consequências de não agir conforme as regras estabe-
adotar postura e ideia construtivistas e motivacionais. lecidas. Segundo Bill Rogers (2008), os alunos devem
Isso por meio de democracia, estímulo ao respeito, estar cientes dos resultados da reunião e o professor
debate, atitudes que dependem da formação do profes- deve publicá-los sempre que possível, de maneira posi-
sor. Segundo Dayan, educar não é estabelecer exigên- tiva e estimulante. O autor oferece um roteiro de ações
cias às crianças, é fixar normas e supervisionar para que para lidar com o mau comportamento em sala de aula,
sejam cumpridas (2008, p. 69). com o apoio de colegas:

Um projeto de investigação, que foi dirigido por x análise do problema – por meio de um
Neuenschewander (apud PARRAT-DAYAN, 2008, p. 70), contato planejado, estruturado.
sugere quatro tipos de gestão de classe, com as regras x estabelecimento de objetivos – con-
sociais elaboradas: quistar a atenção dos alunos ou habilidades
particulares na linguagem da disciplina, por
x soberano – equilíbrio entre regras e flexibi- exemplo.
lidade. x feedback – apresentar os resultados dos
x regulamentado – pouco flexível. objetivos conquistados.
x relacional – há muita flexibilidade e poucas x desengajamento – o professor recebe o
regras. apoio mais distante, dando-lhe a oportunidade
x desorganizado – não há regras ou flexibi- de se ajustar às habilidades encontradas.
lidade.
Silvia Parrat-Dayan acredita que o professor não
O soberano é o mais exigente, contudo, eficaz por
pode apenas transmitir seu conhecimento, e sim guiar e
sua avaliação de ensino.
acompanhar o seu aluno nas atividades, investigações e
tentativas (2008, p. 116).
5.2 Habilidades sociais
Além do mais, o educador é o persona-
em sala de aula – gem-chave no que se refere ao desenvolvi-
professor e aluno mento de interações positivas; portanto, ele
desenha, em colaboração com toda a equipe
Turmas difíceis de lidar podem desestruturar um educativa, uma estratégia que mostre aos
bom professor, abalando a confiança dos mais expe- alunos a necessidade de escutar, de dialogar,
de ter tolerância, de enfrentar os conflitos,
rientes. Por essa razão, é importante contar com o apoio de reconhecer os erros e de conseguir pro-
dos colegas no desenvolvimento de um plano de ação gressivamente a independência de critério
colegial para restabelecer a turma “difícil”. (PARRAT-DAYAN, 2008, p. 116-117).

O professor precisa, por meio de habilidades, estru- Sentimentos, transtornos, família e acontecimentos
turar interações sociais educativas, pois seu posiciona- são peças expressivas na construção do caráter das
mento – maneira de lidar com os objetivos propostos crianças e ajudam a definir a personalidade e as ações
com os alunos – pode interferir no comportamento da de cada uma. Quando passam por situações embaraço-
sala em geral. sas, constrangedoras ou até mesmo problemáticas, as

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

7.
crianças tendem a revelar suas frustrações por meio de
comportamentos, assim como ocorre em momentos de
6. Bullying influenciando o
alegria. Esses comportamentos influenciam seu apren- comportamento escolar
dizado e os relacionamentos sociais.
A definição de bullying, segundo Fante:
Com dinamismo, trabalhos criativos e motivação,
Palavra de origem inglesa, adotada em mui-
um professor pode proporcionar uma mudança em sala tos países para definir o desejo consciente e
de aula, incentivando responsabilidade e o anseio por deliberado de maltratar uma outra pessoa e
aprender. colocá-la sob tensão; termo que conceitua
os comportamentos agressivos e antissociais,
O profissional que cuida de uma criança com difi- utilizado pela literatura psicológica anglo-saxô-
nica nos estudos sobre o problema da violên-
culdade de aprendizagem, para garantir a normalização
cia escolar (2005, p. 27).
das aquisições de conhecimento, precisa conhecer a
maneira como se dá o aprendizado, os fatores influen- Esse fenômeno é antigo, mas professores e edu-
tes, as características pessoais e de desenvolvimento. cadores só começaram a ter consciência da relevância
Somente assim terá as condições necessárias para dele a partir dos anos 70 do século XX.
determinar a melhor opção terapêutica.
Conflitos entre alunos são comuns em determina-
A aprendizagem, como um fenômeno psicológico, das situações, porém, se essa agressividade é intencio-
precisa ser compreendida em diversos fatores, tanto bio- nada, há uma influência no contexto da sala de aula,
lógicos quanto psicossociais, já que a inteligência interage promovendo comportamentos similares.
com a emoção, agregando valor ao processo cognitivo.
Não é um comportamento restrito a crianças de
5.3 Emoção na sala de aula baixa renda e sua ação é percebida em muitas esco-
las em todo o país, sejam elas municipais, estaduais ou
As emoções são sinais entre animais da mesma particulares. O bullying é um problema crônico, que gera
espécie, que comunicam duas mentes entre si (HOBSON baixa autoestima e dificuldades de relacionamento.
apud AGÜERA, 2008, p. 78). Essas emoções podem
ser positivas ou negativas, mas sempre são traduzi- Agressões marcam a personalidade e a vida de uma
das pelo comportamento social. Em uma sala de aula, criança e de um jovem por toda sua vida. As consequên-
os alunos estão sempre apresentando suas emoções cias são diversas e podem ocasionar decisões erradas,
com variados comportamentos, ansiosos por atenção, assim como falhas de comportamento. Questões como
mesmo que para isso desafiem, instiguem, questionem essas são preocupantes tanto para pais e educadores
ou, até mesmo, ofendam. Esses alunos são conhecidos quanto para psicólogos, por isso a necessidade de se
como desafiadores. investigar mais sobre esse tema, descobrindo causas,
coibindo a violência, trazendo as informações relevantes
Esses estudantes fazem parte de um grupo que a respeito do bullying para dentro das salas de aula e
representa 5% do geral, com comportamentos carac- indicando opções de tratamento de casos relacionados.
terísticos, inconvenientes e perturbadores. Existe também
o grupo de alunos que participa e se dedica, o qual, Uma reação para incidentes de bullying na escola
segundo que segundo as estatísticas, é a maioria, 80%. envolve algumas características como a colaboração e a
contextualização da perspectiva. A colaboração implica
O comportamento, para Rudolf Dreikurs (apud uma atitude dos educadores de minimizar a problemática
ROGERS, 2008, p. 171), dirige-se a objetivos específi- entre os alunos necessitados de assistência, buscando
cos e particulares, tendo como base a busca por acei- cooperação e colaboração com uma parceria positiva
tação social. Há crianças que procuram se adaptar por no controle de problemas relacionados ao desrespeito
meio de comportamentos atentivos. O autor desafia os e ao bullying. Já a contextualização serve para indicar
educadores a encontrarem o objetivo comportamental uma perspectiva sociocultural, otimizando uma análise
de seus alunos. dos contextos da vida social da criança.

MÓDULO BÁSICO

8.
Uma forma para diminuir esses problemas é a dos problemas, o que os torna comuns a todos e propi-
exteriorização de pensamentos e sentimentos, o que cia um envolvimento geral na busca da solução concreta
pode transformar a visão de uma criança briguenta para ele.
na de alguém que precisa de ajuda para lidar com a
raiva, a frustração e a violência. Os problemas, quando 6.1 Perfis existentes
exteriorizados, podem ser encarados como algo a ser
no bullying
controlado, o que pode gerar um sentimento de respon-
sabilidade no tratamento deles. Existem três personagens envolvidos nessa reali-
dade: o agressor, a vítima e o espectador ou testemu-
É preciso que haja o conhecimento da realidade da
nha. O perfil do agressor é caracterizado pela presença
escola, reconhecendo as diversas formas de violência
de violência, muitas vezes aprendida com adultos rela-
escolar. O educador deve ter como objetivo e, a partir
cionados. Ele tem um caráter provocador e intimidador e
daí, compreender seu papel para evitar e até mesmo
possui dificuldades de relacionamento, pois acredita que
eliminar esse tipo de atitude dentro de sala de aula.
tudo deve ser feito conforme seu desejo.
Para identificar o bullying, faz-se uma investigação
em sala de aula, utilizando um questionário, que pode A vítima é a criança tímida e retraída, que não tem
abranger um contexto mais amplo ou ser mais espe- capacidade de se defender, por se sentir insegura, dis-
cífico e fazer perguntas descritivas e diretas. Existem criminada e excluída. Ela não se sente à vontade no
instrumentos de investigação que servem como identi- ambiente escolar e pode desenvolver inúmeros dis-
ficação de alunos problemáticos, vítimas de agressões, túrbios de personalidade, como se tornar uma pessoa
como a redação sobre a vida familiar ou uma entrevista ansiosa, depressiva, com grandes danos à sua auto-
particular, em que o aluno é questionado sobre sua estima.
rotina e costumes familiares.
Já a testemunha é a criança que não participa do
Além desses aspectos, existem algumas vantagens ato de violência ou é submetida a ele, mas o presencia
com o estímulo ao vínculo, como o esforço do aluno em em seu cotidiano e não denuncia por insegurança ou
ser o melhor que puder, a construção da autoestima, a medo da reação do agressor. Isso gera conivência e até
segurança, a satisfação, o compromisso e a participação. mesmo a falsa sensação de que ações como o bullying
não são tão erradas.
Os educadores podem criar oportunidades de
os alunos tornarem visíveis o eu de sua pre-
ferência e sua determinação, mesmo quando 6.2 O papel do educador
todas as pessoas têm uma história proble-
mática a respeito desses alunos – casos de Existem diversas causas que auxiliam no envol-
fracasso, de bullying ou de falta de respeito vimento de crianças e adolescentes com bullying. Os
(BEAUDOIN; TAYLOR, 2006, p. 121).
alunos, para Beaudoin e Taylor (2006, p. 45), não são
o problema, mas sim “o sentimento da falta de opções
A colaboração de todos na turma é uma ação valo-
(devido aos bloqueios contextuais) [...]”. De acordo com
rizada para minimizar os efeitos e as consequências do
as autoras,
bullying. No entanto, para que ela aconteça, métodos
de competitividade não devem coexistir. A autorreflexão Os jovens envolvidos em questões de desres-
também é uma ação necessária para que o contexto seja peito e bullying precisam de um auxílio que
modificado. Ela traz vantagens ao permitir uma avaliação eles realmente possam fazer escolhas dife-
dos valores e intenções, habilidade de atenção e percep- rentes [...] isso não significa adultos expondo
opções, mas sim jovens que são convidados
ção e melhoria do relacionamento com outras pessoas. a realizar um processo mais aprofundado de
autoinvestigação, dado o contexto específico
Reconehcendo e avaliando os problemas que de suas vidas (2006, p. 44).
envolvem bullying, é o momento de alterar a realidade
escolar pelas estratégias de intervenção. Esse posicio- O educador deve considerar o contexto em que
namento facilita a reflexão, promovendo a humanização cada um de seus alunos vive e está envolvido. Não

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

9.
pode apenas julgar a situação pelo ato em si, mas antes Se a criança começa a apresentar mau rendimento ou
conhecer as histórias, problemáticas ou não. um comportamento inaceitável em sala, ela pode estar
passando por problemas em casa.
De acordo com Beaudoin e Taylor (2006, p. 48):
Para trabalhar o problema de uma forma positiva,
Se os educadores reconhecerem que
existem estratégias como: histórias e programas de TV
nenhuma verdade efetiva pode ser descoberta,
mas sim apenas a perspectiva de cada aluno e que ajudem a turma a entender os sentimentos experi-
sua experiência subjetiva da situação, estabe- mentados em situações semelhantes. Atividades espor-
lece-se um tipo bem diferente de conversa. Os tivas, de lazer, podem ajudar a criança a esquecer ou
alunos sentem-se então ouvidos e respeitados,
a desviar seus pensamentos referentes ao problema, à
talvez não tentem provar nem defender nada,
e cria-se um contexto no qual pode surgir a frustração. Outra atividade interessante é a de expres-
compreensão e a resolução de problemas. são emocional, na qual a criança pode se expressar por
meio de música, filme, arte, etc.
A verdade não pode ser encontrada, mas existe
uma diversidade de perspectivas a serem conhecidas A separação dos pais pode interferir no bom com-
e analisadas. A punição para as consequências de atos portamento da criança e, se isso acontecer, ela preci-
irresponsáveis nem sempre é útil para modificar o com- sará de apoio para enfrentar tal situação, necessitará de
portamento do aluno, antes colaboram com as pres- alguém que a escute, que lhe dê atenção e a motive a
sões, frustrações e resistência a autoridade. As punições se ocupar com as tarefas escolares.
constantes “levam professores e aluno a ficar presos em
um ciclo vicioso cheio de problemas, no qual as mes-
mas reações se repetem” (BEAUDOIN; TAYLOR, 2006,
7. Influência dos
p. 53). transtornos
psiquiátricos/emocionais
Para haver mudança no comportamento, as boas
na sala de aula
intenções contam e são importantes, mas por si só não
são determinantes para a transformação. A presença A criança pode sofrer transtornos psicológicos,
da capacitação e do encorajamento aos alunos se faz sociais, físicos, ocasionados por perdas e frustrações.
necessária para que eles cumpram esse propósito. Problemas como esses estão presentes em sala de aula
e precisam ser reconhecidos para serem tratados da
6.3 Divórcio e novo maneira adequada.
casamento
Esses transtornos podem acontecer em qualquer
A separação dos pais causa sofrimento na criança, fase da vida, contudo, são comuns à infância, e os pro-
sentimento que gera marcas, as quais, se não forem per- fessores devem estar preparados para receber crianças
cebidas, podem ter influência no comportamento atual que passaram por algum problema. Situações como o
e futuro da criança, tanto na família quanto na escola. A ciclo inicial da escola básica, a não aceitação ou ridicula-
autoestima é gerada pela identidade adquirida de ambos rização por parte de crianças mais velhas podem causar
os pais e, quando há uma separação, essa identidade se euforia, mal-estar e angústia. Muitas vezes a criança não
perde, tornando a criança isolada e retraída. se sente acolhida na escola.

Após todo o processo de separação, a criança pre- Para lidar com esses transtornos emocionais, não
cisa se sentir segura, sabendo o que aconteceu a ela e é preciso uma fórmula mágica ou um padrão preesta-
à sua família. Por isso é preciso administrar sentimentos, belecido, uma vez que cada criança tem características
informações e até o comportamento em sala de aula. específicas e problemas individuais. A generosidade e a

A separação dos pais pode interferir no


bom comportamento da criança.

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10.
compreensão do contexto social e emocional são alia- Algum comprometimento deve estar presente
das no reconhecimento e no tratamento de transtornos. em pelo menos dois contextos (por ex. em
casa e na escola ou trabalho). [...] Deve haver
claras evidências de interferência no funciona-
As desordens emocionais são ocasionadas, em sua mento social, acadêmico ou ocupacional pró-
maioria, por abusos. Uma criança pode passar por situa- prio do nível de desenvolvimento [...].
ções problemáticas e ser abusada fisicamente, emocio-
nalmente, sexualmente ou até por negligência. A criança portadora de TDAH pode apresentar
vários sintomas, contudo, destacam-se a desatenção,
x Abuso físico: tapas, socos e queimaduras,
a hiperatividade ou a impulsividade, separadamente
feitos por pais, familiares ou responsáveis.
ou em conjunto. Esse transtorno, por ser crônico, não
x Abuso emocional: causado por rejeição,
pode ser eliminado, mas tratado para que a criança
maus tratos. É um dos mais difíceis de ser
com essa síndrome possa ter sua vida organizada,
reconhecido, pois influencia diretamente no
apresentando um comportamento funcional tanto em
desenvolvimento emocional da criança.
casa como na escola.
x Abuso sexual: toques inadequados, porno-
grafia, ou algum envolvimento para o qual a
O TDAH surge, geralmente, no início da infância
criança não está preparada ou com o qual não
e permanece durante toda a fase adulta, tendo como
consentiu.
principais sintomas a distração e a impulsividade, além
x Negligência: ignorância com relação às
da incapacidade de relacionamento e adequação aos
necessidades da criança, todo tipo de des-
colegas. Mesmo que esses sintomas possam acontecer
cuido, como deixar de alimentar, vestir ou até
em idades diferentes, são mais acentuados na infância,
mesmo cuidar da saúde da criança.
e, mesmo que a criança conheça as regras estipuladas,
O abuso pode ocorrer no ambiente escolar, sendo não as obedece em situações sociais.
que pode conter as características de um mais tipos de
violência. Faz parte do papel de educar estar atento aos A incidência de TDAH em crianças é muito comum,
sinais de abuso. principalmente em idade escolar (6 a 12 anos). O
comportamento dessas crianças pode ser exagerado
As crianças podem apresentar problemas especí- em relação às atividades (tarefas chatas, complicadas,
ficos e transtornos característicos, os quais dificultam fáceis) e as habilidades se mostram deficientes, gerando
o processo de aprendizagem e interrompem o desen- prejuízos nas relações sociais.
volvimento de relações e do comportamento em sala
de aula. Um transtorno conhecido e bastante comum Educadores que lidam com crianças portadoras
em crianças de idade escolar é o transtorno de deficit desse distúrbio devem levar em consideração os sinto-
de atenção. mas que variam de acordo com o estágio do desenvol-
vimento da criança, para auxiliar na identificação do pro-
blema, assim como no seu tratamento. A hiperatividade,
7.1 Transtorno de
por exemplo, é mais percebida em crianças mais jovens.
deficit de atenção e Já a desatenção é percebida em crianças mais velhas,
hiperatividade – TDAH intensificando-se em jovens, uma vez que o grau de
atenção exigido para determinadas atividades aumenta
Trata-se de um problema comum e constante conforme a idade.
em escolas, muitos professores e educadores ainda
não sabem lidar com portadores desse transtorno. De Crianças com TDAH com prevalência de desaten-
acordo com o DSM-IV-TR (2002, p. 112), a definição ção tendem a se isolar mais, dificultando os relaciona-
de TDAH é a seguinte: mentos e a maturação, a qual depende de habilidades
sociais para existir, assim como gera uma ansiedade e
Alguns sintomas hiperativo-impulsivos que
causam comprometimento devem ter estado resistência no envolvimento grupal.
presente antes dos 7 anos, mas muitos indi-
víduos são diagnosticados depois, após a Existem algumas técnicas de avaliação que podem
presença dos sintomas por alguns anos [...]. ser usadas para o diagnóstico do TDAH, tais como:

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

11.
x entrevistas e coleta de histórias – o his- O TDAH geralmente se apresenta com comorbi-
tórico familiar, médico, psiquiátrico e as entre- dades, ou seja, outros transtornos em conjunto. Essas
vistas com familiares e com o próprio paciente comorbidades podem ser: desvios de conduta, trans-
são ferramentas importantes para identificar o tornos de humor (bipolaridade, depressão) e ansiedade.
perfil sintomático de TDAH. São avaliadas qua- Quando há o diagnóstico desses transtornos é preciso
tro áreas: ambiente familiar, desempenho esco- haver também um tratamento específico para o conví-
lar, relações sociais e funcionamento pessoal. vio social adequado. Uma doença comórbida bastante
x observação – é uma técnica pouco utilizada, comum é o transtorno desafiador de oposição.
porém, eficiente, pois auxilia no acompanha-
mento do paciente em situações regulares e 7.2 Transtorno desafiador
pode melhorar o diagnóstico. São avaliados
de oposição – TDO
sinais como: inquietação motora, atenção e
impulsividade, habilidades sociais e de relacio- Esse transtorno consiste em um comportamento
namento. opositivo às figuras de autoridade e, em geral, é dire-
Além de medicamentos, existe o tratamento psi- cionado a pais e professores. Há sempre uma agressi-
cológico que, muitas vezes, é a melhor indicação para vidade latente na criança, ela discute sobre tudo e culpa
determinados pacientes que apresentam, por exemplo, outros por suas atitudes.
deficit de habilidades escolares. Ainda que o remédio
A criança com TDO apresenta, em geral, baixa
auxilie na melhora em alguns pontos específicos, não autoestima devido às frequentes críticas que
é o suficiente. recebe e pela sensação de que está sendo
injustamente criticada e punida. Esse padrão
Uma intervenção utilizada com frequência no manejo de comportamento gera consequências nega-
do comportamento em sala de aula inclui o controle de tivas a longo prazo, e está associado a vários
marcadores de mau prognóstico na vida adulta
contingência, em que a atenção positiva ou negativa do (ROHDE; MATTOS, 2003, p. 86).
professor se faz reforço; as estratégias cognitivo-com-
portamentais, em que são trabalhadas a autoconversa; a O tratamento indicado para TDO é o cognitivo-com-
repetição de instruções e a aprendizagem assistida por portamental, no qual acontece um acompanhamento do
pares, um método eficaz no aumento das habilidades paciente em questão e de sua família no conhecimento
escolares (podem ser escolhidos colegas para ajudar a a respeito da doença e quais as maneiras possíveis para
copiar as tarefas). lidar com ela, tanto em casa como na escola, proporcio-
nando assim uma vida social saudável.
As crianças com TDAH apresentam prejuízo no
desempenho escolar em vários níveis. Assim,
os programas para ensinar habilidades esco- 7.3 Transtorno de conduta
lares precisam ter como alvo tanto habilida-
des gerais quanto específicas. As habilidades Outro transtorno possível de ser diagnosticado
escolares geralmente são ensinadas por meio
de estratégias cognitivo-comportamentais em
como comorbidade é o transtorno de conduta, no qual
aulas especiais ou professores particulares se reconhecem mentiras frequentes, fugas, abusos e
(CONNERS, 2009, p. 83). crueldade. Esses fatores colaboram para destruir rela-
cionamentos sociais, familiares e escolares, prevale-
A terapia multimodal é indicada por ser eficaz e cendo até a idade adulta.
consiste em medicamentos e tratamentos psicossociais
e, além disso, há o treinamento dos pais, controle em O transtorno de conduta, de acordo com o
sala de aula, reforço comportamental e terapia para DSM-IV-TR (2002), é um padrão repetitivo e persistente
habilidade social (CONNERS, 2009, p. 86-87). de comportamento, no qual são violados os direitos

O TDAH geralmente se apresenta com comorbidades,


ou seja, outros transtornos em conjunto.

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12.
básicos dos outros ou as normas sociais. O transtorno de relacionamento com colegas e família. Essa interação
envolve violar regras, causar perdas ou danos a pro- de múltiplos fatores pode ocasionar grande dificuldade
priedades, defraudar ou furtar e causar danos físicos a educacional, gerando um aprendizado fraco, quase ine-
pessoas ou a animais. xistente.

A investigação e a avaliação correta em relação às As crianças em idade escolar podem receber estru-
comorbidades pode ajudar na identificação de grupos tura a apoio nesse ambiente, para lidar com sentimentos
de pacientes específicos e na busca pelo tratamento fortes e muitas vezes incompreensíveis. Os professores,
correto. Estando ciente do histórico familiar, de acon- unidos aos pais, podem oferecer cuidados a fim de
tecimentos marcantes e características pessoais do reduzir a reação depressiva, mostrando à criança que é
paciente, há a oportunidade de respostas para o manejo amada e não ficará sozinha. Mas, além da intervenção
dos transtornos e a modificação cognitiva, já que esta de pais e educadores, profissionais podem colaborar
pode ser alterada com o propósito de melhorias, tanto nesse processo de solução do conflito, com avaliações
individuais quanto sociais. mais aprofundadas, testes criteriosos e terapia individual,
assim como familiar.
7.4 Depressão na infância
7.5 Transtorno da
Existe ainda a depressão infantil, em que são iden- ansiedade generalizada
tificadas alterações no comportamento, como retrai-
mento, irritação, desânimo e agressividade. Entre as De acordo com o DSM-IV-TR (2002), o transtorno
razões existentes para o surgimento da depressão nessa de ansiedade generalizada consiste em ansiedade e
fase, podem ser destacadas: o próprio diagnóstico de preocupação excessivas com diversos eventos ou ati-
TDAH, baixa autoestima, aceitação da família e colegas, vidades. Ocorre na maioria dos dias durante aproxima-
assim como problemas decorrentes desse transtorno. A damente seis meses, sendo que o indivíduo considera
depressão, aliada ao TDAH, prejudica a vida estudantil difícil controlar a preocupação.
da criança, gerando mais falta de atenção e interesse
pelas atividades propostas em sala, como também a Esse transtorno está associado a sintomas como:
dificuldade de aprendizagem. irritabilidade, inquietação e dificuldade de concentra-
ção. A psicoterapia, terapia cognitiva comportamental
A depressão nessa fase pode existir por si só ou em questão, busca conceder aos pacientes o desen-
estar associada a alguns fatores relevantes na vida da volvimento de estratégias para lidar com os sintomas
criança. De acordo com Aquino (1999, p. 65), a infância da ansiedade.
é um tempo de desenvolvimento e aprendizagem, assim
como de descoberta de oportunidades e desafios. Nesse 7.6 Transtorno alimentar
período, a depressão é mal compreendida. A criança se
mostra infeliz, desinteressada, com a autoestima baixa. A bulimia nervosa (BN) e a anorexia nervosa (AN)
Tem a sensação de não ser amada, não se sente segura são distúrbios alimentares, assim como o grupo dos
e por essa razão sofre e se afasta dos demais, o que não definidos (Ednos), que são mais comuns entre os
prejudica seu desenvolvimento e sua interação com pacientes.
outras crianças e também familiares.
A TCC para o tratamento desse transtorno tem
Ainda segundo Aquino, o prazer é parte integral da como objetivo a redução dos sintomas. Knapp explica
vida de uma criança e um componente necessário para que “o foco cognitivo é a preocupação extrema com a
a aprendizagem, crescimento e divertimento (1999, forma e peso e a proposta de atitudes alternativas mais
p. 67). saudáveis em relação à comida, peso, forma e imagem
corporal” (2004, p. 301).
Existem alguns comportamentos que indicam a pre-
sença da depressão na vida de uma criança: frequência Barlow acredita que tanto a BN quanto a AN podem
e rendimento escolar baixos, fugas de casa, problemas ser tratadas pela TCC, ainda que a primeira seja mais

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

13.
pesquisada. Para ele, as estratégias terapêuticas se terapêutica; treinamento na identificação dos sintomas;
estendem a outros transtornos, como a AN (1999, sessões de terapia com técnicas comportamentais e
p. 314). No caso da BN, o tratamento é realizado com cognitivas para a correção de pensamentos e crenças
a psicoeducação, com informações a respeito dos sin- disfuncionais e a prevenção da recaída com a terapia de
tomas da bulimia, compulsões alimentares e as conse- manutenção (2004, p. 196).
quências médicas.
7.8 Transtorno de
A AN é considerada um transtorno grave e tem seu
tratamento diferenciado da BN. Um programa de TCC personalidade
de três estágios foi desenvolvido para a AN. Nele se
A TCC, ainda que tenha sido elaborada para o tra-
avalia a natureza do distúrbio, auxiliando na motivação
tamento do transtorno do humor unipolar, foi estendida
para uma mudança; prescrição de objetivos de peso;
a outros distúrbios, como o caso do transtorno de per-
normalização de padrões alimentares; reconhecimento
sonalidade.
das crenças disfuncionais relacionadas à comida e o
trabalho com a autoestima (KNAPP, 2004, p. 302). Esse distúrbio dificulta a interação social do seu
portador, já que este não tem um bom repertório para
A observação desse quadro de distúrbio alimentar,
lidar com seus pensamentos e crenças distorcidas ou
muitas vezes, é vista em primeira instância no ambiente
disfuncionais. Ele se torna um indivíduo desconfiado e
escolar. O banheiro é um local utilizado por várias crian-
evita contato íntimo com os demais. Para Knapp (2004),
ças/adolescentes e estes percebem alguém realizando
esse comportamento é caracterizado como um desafio
purgações (vômitos). Colegas notam que determinado
para terapeutas que lidam com pacientes que apresen-
colega nunca lancha e sempre está preocupado com
tam esse transtorno.
sua aparência. Por meio de comentários e em redações
e composições de texto, o aluno, muita vezes, coloca a Para o tratamento, a TCC foca a modificação das
distorção cognitiva. Educadores atentos e que conhe- crenças disfuncionais, como na aplicação de outros
cem os sintomas tomam providências imediatamente distúrbios. Mas há algumas características que forçam
para ajudar o aluno. uma adaptação da terapia no acompanhamento ao
paciente, pois este tem problemas de relacionamento
7.7 Transtorno obsessivo interpessoal. Por essa razão, o terapeuta se apresenta
compulsivo – TOC mais confrontativo.

O DSM-IV-TR diz que 7.9 Transtorno afetivo


O transtorno obsessivo compulsivo caracteri- bipolar – TAB
za-se por obsessões (que causam acentuada
ansiedade ou sofrimento) e ou compulsões O transtorno bipolar é uma doença mental
(que servem para neutralizar a ansiedade). As grave, crônica, recorrente e incapacitante.
obsessões são ideias, pensamentos, impulsos Enquanto alguns raros indivíduos podem expe-
ou imagens persistentes, que são vivenciados rimentar somente um único episódio de mania
como intrusivos e inadequados e causam acen- e depressão em suas vidas, mais de 95% das
tuada ansiedade ou sofrimento. [...] As compul- pessoas com transtorno bipolar têm episódios
sões são comportamentos repetitivos ou atos recorrentes de depressão e mania ao longo
mentais cujo objetivo é prevenir ou reduzir a da vida (GOODWIN; JAMISON apud KNAPP,
ansiedade ou sofrimento, em vez de oferecer 2004, p. 318).
prazer ou gratificação (2002, p. 443).
Segundo Knapp, a TCC, no tratamento desse dis-
As crenças no TOC são identificadas como disfun- túrbio, parte da premissa de que “os sentimentos e
cionais e as técnicas cognitivas propõem a sua correção. comportamentos das pessoas estão fortemente conec-
Knapp mostra algumas etapas na utilização da TCC para tados, cada um influenciando o outro” (2004, p. 319).
TOC: avaliação do paciente e indicação do tratamento Se há alterações no humor, com início de depressão, o
adequado; motivação e estabelecimento da relação comportamento será influenciado.

MÓDULO BÁSICO

14.
Existem alguns objetivos específicos para o trata- suas relações dinâmicas e complexas na aprendizagem,
mento do TAB que envolvem a psicoeducação do aluno porém, o foco deste trabalho é conhecer melhor sobre
a respeito de seu distúrbio, as dificuldades associadas à a visão da reeducação da dislexia, por uma abordagem
doença e o fornecimento de estratégias de habilidades estruturada.
cognitivas a fim de lidar com os problemas cognitivos e
comportamentais, que sejam associados aos sintomas Atualmente, não se podem separar os aspectos
depressivos e maníacos. psicossociológicos ou psicoculturais dos aspectos neu-
rofisiológicos ou neurobiológicos da concepção das difi-
culdades de aprendizagem.
7.10 Transtorno de
pânico (TP)
8.1 Dislexia
Circunstâncias desagradáveis e estressantes podem
Quando se fala em dislexia, ainda é comum as pes-
ocasionar o pânico, como a morte de pessoas signifi-
soas reagirem da seguinte forma: “O que é isso? Já ouvi
cativas, doenças graves e conflitos. Essas ocorrências
falar, mas não sei o que é”.
podem gerar sensações de ansiedade, característica
presente no distúrbio. A dislexia é uma dificuldade duradoura na apren-
dizagem da leitura e de seu automatismo em crianças
A técnica da TCC para o tratamento do transtorno
inteligentes, normalmente escolarizadas e livres de inter-
do pânico é bem aceita entre os profissionais da saúde
ferências causadas por disfunções visuais, auditivas ou
e professores, e tem mostrado sua eficácia ao longo do
lesões cerebrais. Também não pode ter como causa
tempo de experimentos.
comprometimentos de origem emocional. Vem acom-
O modelo cognitivo-comportamental tem panhada, quase constantemente, de grandes dificulda-
como foco principal o papel do medo dos des na aquisição de regras ortográficas.
sintomas físicos associados à ansiedade, das
cognições catastróficas e da conduta evitativa Segundo Ciasca (2003), dislexia é a falha no pro-
na gênese e na manutenção do transtorno de
cessamento da habilidade da leitura e da escrita durante
pânico (OTTO; DECKERSBACH apud KNAPP,
2004, p. 219). o desenvolvimento. É o mais incidente entre os distúrbios
específicos da aprendizagem, pois tem como caracte-
rística um atraso do desenvolvimento ou a diminuição
8. Dificuldades de em traduzir sons em símbolos gráficos e compreender
aprendizagem qualquer material escrito.

Dificuldade de aprendizagem é uma expressão Ainda para Ciasca (2003), as dificuldades de apren-
geral que se refere a várias desordens manifestadas nos dizagem ficam entre 5 e 7%, e as dificuldades escolares
processos de aquisição de leitura, escrita, fala, compre- entre 10 e 15%. Sabe-se que a incidência da dislexia
ensão auditiva e raciocínio matemático. Essas desordens situa-se entre 10 e 15% da população, sem distinção
são intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam entre raças, culturas ou condição socioeconômica.
dificuldades funcionais relacionadas ao sistema nervoso
central, e podem ocorrer durante toda a vida. As crianças disléxicas apresentam as seguintes
dificuldades: deficit perceptivo, transposições de letras
O órgão privilegiado da aprendizagem é o cérebro. O e sílabas, inversões, substituições, inclusões, omissões,
cérebro humano é um sistema complexo, que estabelece perseverações, confusões entre vogais, confusões entre
relações com o mundo que o rodeia. Portanto, as relações sons surdos e sonoros.
entre o cérebro e o comportamento e entre o cérebro e
a aprendizagem são as mesmas quando se abordam as Para definir o que é dislexia, é necessário saber o
relações com as dificuldades de aprendizagem (DA). significado de leitura, que é uma forma de aprendizagem
simbólica, na qual mudanças podem alterar os significa-
Faz-se necessário conhecer a estrutura e o fun- dos das palavras. Para a comprerensão da escrita, são
cionamento do cérebro para melhor compreender as necessárias atenção, organização e imagem mental.

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

15.
O Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais – mulados com atividades para que seu desenvolvimento
DSM-IV (2002, p. 112) dá a seguinte definição para cognitivo e as relações dentro da sala de aula não sejam
dislexia: comprometidos.

Comprometimento acentuado no desenvolvi- Duas estratégias importantes no manejo desse


mento das habilidades de reconhecimento das
transtorno são: o trabalho dos conceitos numéricos, em
palavras e da compreensão da leitura. O diag-
nóstico é realizado somente se esta incapa- que a criança faz associações dos símbolos à quanti-
cidade interferir significativamente no desem- dade por meio de atividades; e as operações aritmé-
penho escolar ou nas atividades da vida diária ticas trabalhadas de maneira a incentivar a criança na
que requerem habilidades de leitura. percepção da soma como acréscimo, subtração pela
diminuição e assim por diante.
O diagnóstico da dislexia começa a partir da per-
cepção dos pais com relação à alfabetização da criança,
que mostra, aparentemente, um desinteresse pela leitura 8.3 Dispraxia
ou pela escrita. Além dos problemas específicos com a
Para entender o conceito de dispraxia, primeira-
leitura, a criança passa por uma avaliação devido ao seu
mente deve-se conhecer sobre praxia, que pode ser
comportamento, resultado de um fracasso na aprendi-
definida como “a capacidade que o indivíduo tem de
zagem.
realizar um ato mais ou menos complexo, anteriormente
Mais que conhecer o histórico familiar e cultural aprendido, de forma voluntária, ou seja, sob ordem”
da criança, é preciso observar sua leitura e escrita, se (2006, p. 208).
há confusão de letras, troca de sílabas e dificuldade de
Segundo Ajurianguerra e Hécaen (apud ROTTA;
compreensão do texto lido. O tratamento adequado para
OHLWEILER; RIESGO, 2006, p. 212), “a dispraxia é um
esse distúrbio consiste na reestruturação da linguagem
transtorno de atividade gestual aparecido em um indiví-
educacional e envolve uma avaliação específica, pois a
duo cujos órgãos de execução da ação estão intactos
dislexia tem causas e sintomas que variam de pessoa
e que tenha pleno conhecimento do ato a cumprir”.
para pessoa.
Segundo esses autores, existem alguns tipos de dispra-
xia, entre elas:
8.2 Discalculia
x alterações dos desempenhos motores – difi-
De acordo com a Academia Americana de culdades motoras;
Psiquiatria, a discalculia é a dificuldade em x dispraxia construtiva – mais comum em crian-
aprender matemática, com falhas para adquirir
proficiência adequada neste domínio cognitivo,
ças;
a despeito de inteligência normal, oportuni- x discinesia espacial – falta de organização dos
dade escolar, estabilidade emocional e motiva- movimentos;
ção necessária (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, x dispraxias especializadas – verbal, facial, ocu-
2006, p. 202).
lar, etc.
Crianças com esse tipo de problema tendem a A dispraxia é uma das causas para a dificuldade
serem vistas como preguiçosas e desinteressadas, de aprendizagem escolar, já que, nessa fase, a criança
mas uma estimativa revela que cerca de 3 a 6% das se isola mais por causa de seus erros e falhas, sendo
crianças, em geral, possui discalculia do desenvolvi- discriminada por seus colegas de classe por causa de
mento. suas limitações motoras.

Os sintomas mais comuns são: erros na formula- Isso contribui para uma baixa autoestima, o que
ção dos números, incapacidade de realizar operações prejudica todo o processo de desenvolvimento cogni-
simples, dificuldades de ler corretamente e realizar tivo. Como tratamento, a alternativa é a educação psico-
operações como multiplicação e divisão. É necessário motora que dá uma noção de espaço e de como lidar
haver um acompanhamento dos alunos que apresentam com ele, por meio de exercícios ritmados, relaxamentos
dificuldades em matemática, pois eles precisam ser esti- e o domínio sobre o corpo.

MÓDULO BÁSICO

16.
x experimento comportamental – usado
8.4 Técnicas cognitivas
com o propósito de avaliar os pensamentos
comportamentais que o e crenças do aluno, examina os resultados de
professor pode utilizar seu experimento e considera a modificação de
no ambiente escolar suas crenças.
A estruturação e a educação caminham unidas no
A psicologia do comportamento escolar utiliza
processo de tratamento da TCC, pois ambas se comple-
muitas técnicas da terapia cognitiva comportamental.
mentam no incentivo ao aprendizado, “mantendo o tra-
Embora sejam muito utilizadas para o tratamento de
tamento bem-organizado, eficiente e focado” (WRIGHT;
diversos transtornos, existem algumas técnicas bastante
BASCO; THASE, 2008, p. 59).
comuns para os comportamentos em sala de aula ou no
ambiente escolar. A fim de utilizar o meio mais acertado, é preciso
haver um minucioso diagnóstico, pois a criança não
Para a utilização da terapia, existem técnicas cogni-
consegue, por mais que compreenda as circunstâncias
tivas que auxiliam o terapeuta no alcance de seus obje-
dos problemas que enfrenta, estabelecer uma narrativa
tivos. Segundo Beck (apud KNAPP):
organizada para que seu terapeuta possa elaborar um
[...] A terapia cognitiva não é definida pelas diagnóstico de seu transtorno. Após esse diagnóstico,
técnicas que são empregadas, mas pela baseado em critérios e dados, o terapeuta usa a lingua-
ênfase que o terapeuta dá ao papel dos pen- gem mais acessível e compreensível à criança, desde
samentos na causa e manutenção dos trans-
tornos (2004, p. 133).
gráfica até a teatral.

Entre as técnicas comportamentais, podem ser Os problemas podem ter várias raízes: ser asso-
destacadas: ciados a fatores genéticos, em que cromossomopatias
podem alterar o comportamento do aluno; problemas
x monitoramento – o aluno, com a ajuda do familiares, em que abusos e traumas podem fazer a
professor, controla comportamentos específi- diferença. Qual seja a fonte do problema, ele precisa
cos. Por exemplo: com o uso do baralho das ser identificado, compreendido, diagnosticado e tratado,
emoções. para que o educando não tenha prejuízos na fase adulta,
x programação de atividades – o professor em relacionamentos pessoais, sociais e de trabalho.
prescreve atividades diárias que podem trazer

x
recompensas ao aluno.
prescrição de tarefas graduais – como
9. Considerações finais
auxílio ao aluno para que não se sinta depri- Tendo como base a relação existente entre o com-
mido, sugestão de atividades benéficas que portamento escolar e a psicologia, compreende-se que
ele mesmo se propõe a realizar. há a necessidade de um cuidado e acompanhamento
x resolução de problemas – o professor maior em sala de aula, a fim de reconhecer e definir
disponibiliza uma variedade de respostas como problemas a serem trabalhados com o auxílio de pro-
alternativas a situações problemáticas. Identifi- fessores, profissionais da área – terapeutas, psicólogos,
car o problema, avaliar as consequências de psicopedagogos, etc. – e a interação de alunos e pais.
cada solução, escolher e colocar em prática a
solução preferencial. Todas as ações em sala de aula refletem situações
x controle de contingências – os profes- vividas pelas crianças e podem ocasionar consequên-
sores, orientados pelo terapeuta, identificam o cias influentes no desenvolvimento individual e social.
comportamento do aluno, cumprido por inte- Por essa razão, a criança precisa aprender a se relacio-
resse, e estabelecem uma recompensa. nar sem que os problemas sejam fatores determinantes
x avaliação e modificação de crenças no processo de aprendizagem.
– as crenças precisam ser modificadas, para
isso, utiliza-se o exame de vantagens e des- A psicologia possui as ferramentas necessárias
vantagens, experimento comportamental, etc. para identificar distúrbios que possam interromper a

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

17.
aprendizagem, mecanismos para lidar com as proble- sas e contextos que tendem a influenciar e, até mesmo,
máticas como violência e desrespeito, que se refiram ao danificar o ambiente em sala de aula por meio de com-
ambiente escolar ou familiar. Assim, é possível amenizar portamentos inaceitáveis, agressivos e que prejudicam
marcas características, ocasionadas por diversas cau- as relações sociais.

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