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Publicação da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural

Edição 3 | ano 1 | abril de 2017 | R$ 15,90

ENTREVISTA
Hugo Corres, novo presidente
da fib, detalha seus planos

NOSSO CRAQUE
Professor Péricles Fusco relembra
sua trajetória profissional

Edifício

Vista
Guanabara
Projeto inovador se insere no conjunto de obras arrojadas
que modificou a região portuária do Rio de Janeiro
ÍNDICE | REVISTA ESTRUTURA

DIVULGAÇÃO - MARCELO DONATELLI


EDIFÍCIO ÍNDICE
VISTA 04 | EDITORIAL
ENGENHARIA BRASILEIRA: UMA NOVA ERA
49 | NORMAS TÉCNICAS
REVISÃO DA ABNT NBR 6122:2010 PROJETO E
EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES

GUANABARA
05 | PALAVRA DO PRESIDENTE
MOMENTO EXIGE SUPERAÇÃO 52 | APRENDENDO COM O ERRO
ESQUECERAM A SUBPRESSÃO!
06 | ENTREVISTA
PRESIDENTE DA FIB CONCLAMA A UM 54 | MUSEU DO PROJETO
CONSTANTE RENOVAR DO CONHECIMENTO EDIFÍCIO SAN SIRO

11 | NOSSO CRAQUE 56 | INDUSTRIALIZAÇÃO


NASCIDO PARA SER ENGENHEIRO AMPLIAÇÃO DE GARAGEM DO GALEÃO:
SOLUÇÃO COM BUBBLEDECK E PRÉ-FABRICADO
14 | VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
ESTÃO OS CONSTRUTORES MATANDO SUA 62 | ESPAÇO ABERTO
GALINHA DOS OVOS DE OURO? CONSTRUÇÃO EM AÇO

17 | ESTRUTURA EM DESTAQUE 63 | ESPAÇO BIM


EDIFÍCIO VISTA GUANABARA BIM BEM FEITO

22 | CASE INTERNACIONAL 66 | INOVAÇÃO


LUANDA TOWERS: 3 TORRES E MUITAS HISTÓRIAS DESAFIOS TECNOLÓGICOS DO PRÉDIO MAIS
ESBELTO DE NEW YORK
28 | ESTRUTURAS METÁLICAS
ESTRUTURAS METÁLICAS E DE VIDRO: UMA 69 | BOAS PRÁTICAS
ABORDAGEM NO CONCEITO BIM
CONSTRUTIVAS
34 | ARTIGO TÉCNICO LAJES NERVURADAS
COLAPSO DE PONTE SOBRE O RIO MISSISSIPI
PROJETO ESTRUTURAL 72 | BOAS PRÁTICAS DE PROJETO
38 | ARTIGO RETRÔ PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA SOB
ARROJADO E SOLUÇÕES TECNOLOGIA DE RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS LAJES DE COBERTURA DE EDIFÍCIOS
OUSADAS
43 | NOTAS E EVENTOS 77 | AGENDA
CALENDÁRIO DE CURSOS

17 46 | O QUE ELES QUEREM DE NÓS


CARACTERÍSTICA DE UM ENGENHEIRO DE
ESTRUTURAS DE SUCESSO
78 | JOGO DE SETE ERROS
DETECTE AS FALHAS

EXPEDIENTE
A Revista Estrutura é uma publicação da ABECE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGE-
NHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL, dirigida aos escritórios de engenharia e enge-
nheiros projetistas, construtoras, arquitetos e demais profissionais do setor.

PRESIDENTE: Jefferson Dias de Souza Junior Aurélio Fortes da Silva, Ricardo Borges Kerr, REDAÇÃO: Lázaro Evair de Souza, Sylvia Mie
VICE-PRESIDENTE DE RELACIONAMENTO: Thomas Carmona, Túlio Nogueira Bittencourt PRODUÇÃO GRÁFICA: MGDesign
João Alberto de Abreu Vendramini SECRETARIA GERAL: Elaine C. M. Silva www.mgdesign.art.br
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João Luis Casagrande Sergio Hampshire, Valdir Pignatta e Silva.
DIRETOR DE PRÉ-MOLDADOS: EDIÇÃO: Mecânica de Comunicação
Fabricio Tomo www.meccanica.com.br Cadastre-se no
DIRETORES: Claudio Adler, José Martins JORNALISTA RESPONSÁVEL: site da ABECE para
Laginha Neto, Leonardo Braga Passos, Luiz Enio Campoi – MTB 19.194 receber a revista.

03
EDITORIAL

ENGENHARIA BRASILEIRA:
UMA NOVA ERA
Q
uando recebi o convite para rarmos ao nosso país? Seria extraor-
escrever este editorial fiquei dinário se tivéssemos uma tecla como
muito lisonjeado, mas ao esta, onde precisaríamos apenas aper-
mesmo tempo temeroso e me tá-la e, em questão de segundos, tudo
veio à mente aquela pergunta: “Sobre regressaria à normalidade, mas infeliz-
qual tema irei ortografar? ”, pois bem, mente ela não existe. E então, como de-
surgiu-me, de imediato, a idéia de gra- vemos proceder?
far sobre a atual situação em que nosso Na minha opinião, este dispositivo já foi
país, juntamente com a profissão a qual apertado, pois nunca na história desta
optei para atuar, A ENGENHARIA, en- nação tantos políticos e empresários
contram-se atualmente. foram presos e verbas provenientes de
Para iniciar minhas palavras retornemos corrupção foram devolvidas aos cofres
ao ano de 2013. Neste ano, iniciou-se públicos. A população passou a intera-
a chamada “Operação Lava Jato” e, em gir e cobrar mais de seus governantes.
2014, os primeiros mandados de pri- Entretanto, temos consciência de que
são, busca e apreensão foram emitidos a retomada a um Brasil melhor será a
para executivos de renomadas empre- longo prazo, mas o restart já foi dado e
sas de engenharia, na época, suposta- estamos no rumo certo para a melhoria
mente envolvidas no maior esquema do país.
de corrupção identificado nesta nação Precisamos direcionar nossos esforços
e justamente em um período em que o na educação das novas gerações, preci-
país se encontrava fragilizado pela crise samos reestabelecer nossos conceitos
econômica. LEONARDO BRAGA PASSOS, sobre o que é certo e o que é errado,
Desde então, a sensação que temos é DIRETOR DA ABECE sobre honestidade, cumplicidade, ami-
que nossa nação, nosso lar, se encontra zade e ajuda ao próximo. Não podemos
envolvido por uma nuvem negra, onde, abandonar os valores e bons ensina-
a cada dia, surgem raios e trovões dis- va” naquela situação que nem mesmo mentos que nos foram repassados pe-
parados progressivamente sobre nós: apertando as teclas “ctrl+alt+del” ele não las gerações anteriores devido a maus
Impeachment, construção civil em de- funciona. exemplos de pessoas de má índole que,
clínio, alta da inflação, demissões em A primeira situação podemos comparar com certeza, representam uma minoria
crescimento acentuado, prisões de em- com a que estamos vivendo, onde o país em nosso país.
presários do alto escalão e de políticos encontra-se “infectado” a décadas por Para finalizar, vocês devem estar se per-
considerados antes como “intocáveis”. atos ilícitos de instituições e pessoas. guntando: O que tem a ver o título “EN-
Entretanto, meu intuito não é desani- Para eliminar estes vírus, precisamos GENHARIA BRASILEIRA – UMA NOVA
má-los e sim, expor meu ponto de vista utilizar antivírus que, no caso brasileiro, ERA” com o exposto neste texto? Esta,
sobre os acontecimentos ocorridos nos podemos citar como exemplo a Polícia é fácil de responder. Sem a melhoria das
últimos anos no Brasil. Gostaria de fazer Federal que, juntamente com o judiciá- condições atuais de nosso país, econô-
uma breve reflexão: suponhamos que rio, está tratando e banindo gradativa- mica e principalmente de valores como
o Brasil é um computador, ok? Compu- mente os vírus que tanto mal fazem para ética e honestidade, a engenharia não
tadores apresentam problemas em sua a população. irá crescer e o inverso também é válido,
utilização, mas gostaria de citar em es- Já o segundo problema, quando ocor- sem engenharia nenhum país se desen-
pecial dois deles: o primeiro refere-se re em computadores, a única forma de volve, por isso, a nova era que iniciamos
a hipótese em que está infectado por saná-lo é apertando a tecla de “restart”, no país, será também, a NOVA ERA DA
malwares; e o segundo, quando ele “tra- mas como podemos tratá-lo se compa- ENGENHARIA.

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PALAVRA DO PRESIDENTE | JEFFERSON DIAS DE SOUZA JÚNIOR

MOMENTO EXIGE
SUPERAÇÃO
É
longa minha atuação na área da cons- Quanto à estrutura, poderemos imaginar
trução civil, mais especificamente, na que possa ser convencional, paredes de
engenharia estrutural. Agora, na con- concreto, pré-moldada, concreto protendi-
dição de atual presidente da ABECE, do, metálica, alvenaria, lajes nervuradas...
espero contribuir para unir os elos da cadeia Para isso, temos que participar do nasci-
produtiva. mento do projeto, tentando, desde o início,
Estamos vivenciando um período de sobre- harmonizar a solução estrutural adequada
vivência, tendo em vista a situação política e para cada arquitetura concebida. Ainda nos
econômica do país com a qual nos defron- dias de hoje, convivemos com construtoras
tamos. Nesse contexto, temos que, neces- de pequeno e médio porte nos consultando
sariamente, nos adequarmos, inovarmos, quando já têm um produto absolutamente
além de nos unirmos em prol do desenvolvi- definido. Concebem uma obra sem ao me-
mento e do crescimento do setor, nos preo- nos realizar uma sondagem para se avaliar o
cupando ainda mais com os custos finais das custo de um 2º, 3º ou 4º subsolos, do impac-
obras, uma vez que impactam diretamente to dos vizinhos/divisa, da interferência do
nos resultados almejados por nossos con- lançamento dos pilares nas garagens, sendo
tratantes, quer sejam eles incorporadores que inúmero deles e sua distribuição estão
imobiliários, investidores ou empresários. relacionados à solução adotada.
Somos todos parceiros: Sei que, para muitos, estou falando o óbvio,
• construtoras mas, como frisei, o Brasil tem dimensões
• incorporadoras e investidores continentais, e o que pode parecer evidente
• projetistas em uma região, pode muito bem não sê-lo
Juntos precisamos vencer esta etapa dura, em outra...
porém necessária, para a superação. Em função das dimensões continentais de Por isso, cabe a nós um importante desafio:
Quando digo projetistas, estou me referindo nosso país, internamente, temos culturas • Unirmo-nos em prol da geração de obras
aos profissionais que atuam nas áreas de: e conhecimentos diferentes, o que eu cha- projetadas com segurança, concebidas
• Arquitetura maria de “cultura regionalizada”, que muito com soluções construtivas mais adequa-
• Estrutura influencia na tomada de decisões. das, melhor custo/benefício, levando em
• Fundações Será que uma solução considerada ideal conta:
• Instalações para uma região pode não ser adequada o As diversas Normas vigentes
• Paisagismo para outra? o A qualidade e o conforto que o usuário
• Infraestrutura, etc... Sim, não há dúvidas quanto a isso. final exige
Nós, e os projetistas das demais áreas, te- Cabe a nós, profissionais do projeto, nos in- o Tudo com custos reduzidos ao máximo
mos que, literalmente, “tirar da manga” car- tegrarmos e nos inteirarmos sobre as técni- para o nosso contratante que atravessa
tas com as soluções mais adequadas para cas disponíveis, inovações e considerarmos, fase crítica em nossa área.
cada caso. Certamente é um grande desafio, com olhar crítico, as soluções viáveis a serem Para que a as parcerias sejam efetivas e con-
levando em conta: apresentadas ao nosso cliente, consideran- tinuem em constante evolução, os projetis-
• Localização da obra do todas as variáveis. tas de estrutura, assim como os demais par-
• Localização dos contratantes Temos que saber propor alternativas para ceiros de projetos, deveriam estar presentes
• Partido definido pela Arquitetura obtermos o melhor custo/benefício para e integrados, não apenas na concepção e no
• Técnicas disponíveis cada obra/projeto, contribuindo, desta for- desenvolvimento dos projetos, mas, na me-
• Cultura e expertise da contratante ma, como parceiros que somos, para o aten- dida do possível, durante todo o processo
• Qualidade e disponibilidade da mão de dimento da viabilidade financeira e da quali- produtivo no decorrer da obra.
obra local dade final esperadas. Mas isso já é assunto para outro dia...

05
ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI

PRESIDENTE DA FIB
CONCLAMA A UM
CONSTANTE RENOVAR
DO CONHECIMENTO
O ENGENHEIRO HUGO CORRES ENFATIZA A NECESSIDADE DE MELHOR
INTEGRAÇÃO ENTRE PROJETISTAS, CONSTRUTORES E ACADÊMICOS PARA O PLENO
DESENVOLVIMENTO DA ENGENHARIA. A SEU VER, É DIFÍCIL FORMAR ENGENHEIROS
NA UNIVERSIDADE, POIS A PROFISSÃO SE APRENDE COM EXPERIÊNCIA

6 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


R
econhecido mundialmente como tornou mais visível nos últimos anos. Com tir de membros ativos que se aproxima-
um dos mais conceituados proje- a elaboração do novo Model Code 2020, vam de novos integrantes. Sempre houve
tistas de estrutura da atualidade, foram dados passos importantes no mudança de geração. Em todo caso, a
o engenheiro espanhol Hugo Cor- sentido de propiciar a participação inter- nova dinâmica do mundo moderno exige
res Peiretti tem participado ativamente da nacional. Países de todos os continentes uma reflexão sobre esse tema para revi-
concepção e execução de grandes obras pertencem à fib. Em todos os órgãos de sar a integração dos jovens e para garan-
em diversas regiões do planeta. Exemplos governo participam membros de distin- tir a reposição de gerações, assegurando
não faltam: assinou ou coordenou, por tos países. No Presidium, por exemplo, a manutenção da produção excepcional
meio do CORRES, escritório de projeto e temos um membro eleito do Brasil, que é que a fib sempre teve.
consultoria que fundou e preside desde
1979, projetos como o do Terminal 4 do
Aeroporto de Barajas; do Auditório de
Tenerife; viadutos ferroviários para o TAV
(Trem de Alta Velocidade) da Espanha, en-


tre outros, incluindo obras que levaram
a assinatura de consagrados arquitetos
como Santiago Calatrava, Renzo Piano,
Zaha Hadid, Norman Foster e Jean Nouvel. Não se pode avançar sem que
Bastante atuante também na esfera aca-
novos conhecimentos sejam
dêmica, pois é professor da Universida-
de Politécnica de Madri, Corres mantem
interpretados e possam ser


proximidade com instituições que atuam utilizados nos projetos
no estudo e estímulo à engenharia. Em
função disso, está sempre percorrendo o
mundo proferindo palestras, com cons-
tantes passagens também pelo Brasil a
convite de entidades como a ABECE, AB-
CIC e IBRACON, onde aliás também par-
ticipou da elaboração do projeto para a
construção da Arena Corinthians. A todas
essas atividades, ele acumulou mais uma, Iria Doniak, presidente executiva da Abcic. ABECE – Quais são as diretrizes para a
pois acaba de assumir a presidência da Em todos os órgãos de produção técnica, fib nos próximos anos?
fib (Federação Internacional do Concre- a presença de membros de todos os con- Hugo Corres – As diretrizes da fib são
to), a mais importante entidade técnica tinentes é um fato. É necessário fortalecer sempre as mesmas, definidas na missão
do concreto no mundo. Na entrevista a essa faceta da fib. da organização: desenvolver, em nível
seguir, Corres fala de seus planos à frente Os diversos agentes do mundo do con- internacional, estudo de matérias cientí-
da instituição e de sua avaliação sobre a creto estrutural atuam sem uma grande ficas e práticas, capazes de avançar o de-
necessidade de um permanente renovar integração. Os construtores, projetistas, sempenho técnico, econômico, estético e
do conhecimento sobre engenharia: acadêmicos e pesquisadores têm uma ambiental da construção em concreto. O
comunicação inadequada. Inclusive den- que evolui são as estratégias para fazer
ABECE – Quais serão suas prioridades tro do mundo acadêmico, os especialis- com que esses objetivos tornem-se rea-
e seus planos em sua gestão na fib? tas nas distintas disciplinas não estão lidade. Além disso, cada presidente, em
Hugo Corres – A fib inicia minha presi- conectados, não têm um léxico comum. função de sua experiência e especializa-
dência em um estado muito bom e com Isso não ajuda no desenvolvimento do ção, deve deixar seu legado específico,
projetos importantes que vamos realizar. concreto estrutural. Não se pode avan- transformando mais aqueles aspectos
O novo Model Code 2020 é, sem dúvida, çar sem que os novos conhecimentos se- que lhes são mais próximos e familiares.
um projeto importantíssimo que temos jam conhecidos e, também, que possam
em mãos. Acho que, não obstante, há ser interpretados adequadamente pelos ABECE – Qual é sua opinião sobre a
lugar para novos objetivos que podem agentes que têm a missão de utilizá-los participação dos representantes do
melhorar nossa organização. Nesse sen- tanto nos projetos como na construção. É Brasil na fib?
tido, eu me proponho a tentar uma maior necessário mudar essa tendência. É pre- Hugo Corres – Desde sua fundação, nos
integração de todas as contribuições que ciso integrar diversos agentes em comis- anos 1950, quando foram criados o CEB e
fazemos e, portanto, possivelmente um sões e grupos de trabalho liderados por a FIP, a fib foi considerada como uma fede-
melhor desenvolvimento e a difusão de especialistas, mas acompanhados por ração internacional de países, representa-
todos os resultados científicos e técnicos membros de outros setores. dos por suas respectivas associações ou
que são produzidos pela fib, que é uma A fib foi integrando, ao longo de sua histó- instituições vinculadas, de uma forma ou
associação internacional, aspecto que se ria, as novas gerações, geralmente a par- de outra, ao concreto estrutural. Embora

7
ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI

existam diferentes tipos de sócios, os só- pré-fabricação. Além disso, foi membro ma continuada, foi criada recentemente
cios estatutários, ou seja, os países repre- convidada do Presídium, o órgão de ges- a nova comissão 10, liderada por Gor-
sentados por suas associações locais são tão da fib, e recentemente foi eleita pela don Clark, ex-presidente da fib, que tem
realmente os que têm o protagonismo em assembleia geral por mais quatro anos por objetivo identificar e produzir Model
nossa associação. Essa estrutura, que é nessa função. Sua contribuição também Codes. Neste momento, foi criado o TG
única nesse tipo de instituições, e é inspi-
rada no principio de que os que conhecem
os problemas locais são as associações lo-
cais e, além disso, são as que conhecem
sua gente para poder propiciar a partici-


pação nos trabalhos técnicos da associa-
ção de pessoas mais preparadas de cada
estado membro. Portanto, o papel dos
países, das associações que representam
o Brasil, ou seja, ABECE e ABCIC, é funda-
Os Model Codes são documentos
mental. A participação do Brasil é muito pré-normativos que tiveram e terão
ativa. Sua contribuição é muito generosa
e importantíssima para a fib. As associa- uma grande influência nos códigos


ções brasileiras locais, ao que me consta,
servem de caixa de ressonância ativa de nacionais e regionais
tudo que acontece na fib. Por sua vez seus
representantes participam ativamente em
diferentes foros para transmitir os aspec-
tos que preocupam o país dentro da fib e
também exercem a responsabilidade de
identificar os melhores especialistas para
que contribuam, junto com outros colegas
internacionais, para o desenvolvimento neste importante fórum de decisões é 10.1, em cujo âmbito é produzido o Mode
do concreto estrutural. muito apreciada. Code 2010. Esse grupo é liderado por
Stuart Matthius que também é o presi-
ABECE – Qual é a contribuição que o gru- ABECE – O Model Code da fib avança dente da Comissão 3 Estruturas Existen-
po brasileiro, liderado pelo engenheiro cada vez mais como uma referência tes, que tem a seu cargo a produção do
Fernando Stucchi, traz para a fib? internacional para estruturas de con- Model Code 2020.
Hugo Corres – O professor Stucchi junto creto. O senhor poderia descrever sua Foi estabelecido um rico debate nos dois
com Iria Doniak, tem sido os represen- importância e seus objetivos? E como últimos anos sobre o teor e a forma de
tantes do Brasil na fib. Ambos estão cum- o Model Code cobre o interesse dos 43 produção do novo Model Code. Ficou
prindo um papel importantíssimo e es- países que compõem a federação? decidido que o novo Model Code integra-
tão contribuindo de forma substancial. O Hugo Corres – Os Model Codes são do- ria em um mesmo documento e de uma
professor Stucchi, além de participar, a tí- cumentos pré-normativos que tiveram e forma uniforme, as novas estruturas, que
tulo individual, em diferentes TG, faz par- terão uma grande influência nos códigos tratam dos códigos atuais, e as estruturas
te do TG 6.5 pontes pré-fabricadas, que nacionais e regionais que se desenvol- existentes que exigem ser inspecionadas,
eu mesmo dirijo, por exemplo. Ele teve vem e se desenvolverão no futuro. Os mantidas, reparadas e relançadas para
uma participação relevante no último euro-códigos e outras normas se ba- seu uso nos próximos anos, ou demoli-
Model Code 2010, onde foi o porta-voz seiam nas diferentes versões do Model das. Embora o Model Code 2010 já trate
do trabalho de um grupo de engenheiros Code. Os Model Codes sempre foram das estruturas existentes, planeja-se um
brasileiros que analisaram e comentaram documentos que apresentaram soluções desenvolvimento no mesmo nível das es-
o documento antes de sua publicação e novas e criativas em diferentes campos. truturas novas. As estruturas existentes
permitiram a introdução de correções e A fib desenvolveu os Model Codes 1970, fazem parte de nossas infraestruturas e
melhorias. Espero que esse documento, 1990, 2010 e agora enfrenta este novo estão exigindo uma grande atividade no
de grande qualidade científica e técnica, desafio que espera estar terminado em mundo do concreto estrutural.
possa contribuir ainda mais para o país. 2020. A fib também produziu outros Mo- Ficou decidido que o tratamento seja inte-
Além disso, ele participa na TG10.1, onde del Codes complementares aos códigos grado. Não se pretende criar novas teorias
se elabora o novo Model Code 2020. Iria gerais, que tratam de temas específicos de comportamento. Desejamos apenas a
Doniak, participa ativamente na Comis- como o Model Code para estruturas sís- extensão das teorias atualmente válidas,
são 6 de Pré-fabricação e propiciou a micas ou o Model Code para a vida útil atualizadas e ampliadas, para o tratamen-
integração da industrialização com a en- das estruturas. Sendo consciente da to das estruturas. O Model Code 2010
genharia estrutural. Gerenciou brilhante- importância desse tipo de documentos fez um esforço importante para tratar de
mente a relação fib-Brasil no campo da e para garantir que se produzam de for- eliminar os modelos empíricos e estabe-

8 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


lecer modelos físicos que permitam tratar primeiro lugar, tenho que dizer que a en- de projeto. Nós devemos ser capazes de
da forma mais geral, diferentes compor- genharia brasileira tem o mais alto nível. transformar cada projeto em um grande
tamentos, dependendo dos casos. Esta Sempre esteve alinhada com uma forma projeto. Dessa forma podemos inovar,
é uma política que vai se estender e se de proceder muito próxima à fib, e conta transformar, exercer a função de um en-
desenvolver para poder atingir o objetivo com uma normativa nacional muito pró- genheiro estrutural e, definitivamente,
traçado. O Model Code 2010 implantou xima dos princípios racionais que a fib podemos sentir uma grande satisfação,
um sistema de diferentes níveis de apro- preconiza há décadas. A engenharia bra- fazendo esse trabalho gratificante.
ximação que permite analisar com o mes- sileira soube racionalizar esses concei-
mo modelo físico os problemas em dife- tos, para adaptar-se às condições locais. ABECE – Quais são as principais evo-
rentes níveis. Em um nível mais conceitual, Além disso, ela tem profissionais dentro luções nas obras na engenharia e no
quando não se necessita mais, e em um do mundo estrutural que são extraordi- projeto estrutural? E em termos de
nível muito mais elaborado, quando é im- nariamente bem formados e criativos. evolução dos materiais usados na cons-
prescindível, mas mantendo intactos os O Brasil precisa de grandes investimen- trução? E nos sistemas construtivos?
princípios do problema. tos na infraestrutura e, portanto, exige Hugo Corres – Efetivamente se nós co-
Tudo isso representa um desafio mag- uma engenharia em boa forma, capaz nhecêssemos bem nossa história, sabe-
nífico. Devido à necessidade de dedicar de responder às necessidades. Lamen- ríamos que não existem grandes possibi-
energias para a produção desse tipo de tavelmente, a falta de continuidade na lidades de criar muitas novas ideias. Em
documentos, a fib criou, recentemente, atividade pode não ajudar, mas sabemos qualquer caso, os avanços que acontece-
a nova comissão 10 Model Codes. Ficou que esse cenário não é novo e, portanto, ram nos materiais e procedimentos cons-
decidido que o processo da produção do as empresas e os profissionais da área de trutivos nos permitem usar ideias boas e
novo Model Code deveria envolver toda a engenharia já desenvolveram mecanis- excelentes, mas também velhos concei-
organização e ser um processo realmen- tos estruturais renovados e utilizando
te internacional. Para garantir que pode- os meios extraordinários e materiais de
ria cobrir as necessidades dos diferentes contribuições insuperáveis. Esse proces-
países, foram organizados workshops em so é verdadeiramente criativo também,
diferentes continentes para difundir os mas exige uma grande paixão e um gran-


trabalhos realizados, e para obter infor- de envolvimento.
mações sobre necessidades e possíveis
contribuições. O primeiro workshop foi ABECE – Como o senhor compreende
promovido em Tóquio, e o segundo na
Cidade do Cabo. O próximo será em Mas-
A engenharia a ATP - Avaliação Técnica de Projetos
(CQP - Controle da Qualidade do Proje-
trich, em junho. O Brasil está organizando brasileira tem o to)? Quais são os benefícios? Como se
um workshop para a América Latina, que aplica na Espanha e em ouros países
será realizado em setembro deste ano, mais alto nível e da Europa?
em São Paulo. Imediatamente depois,
será realizado outro workshop nos Esta-
sempre esteve Hugo Corres – O controle de projetos é
uma atividade importante, complexa e
dos Unidos. Também está programado
para outubro um workshop na Austrália e
alinhada com que se realiza de forma mais ou menos
geral no mundo todo. É importante por-
na Índia. Por último, está previsto para o uma forma de que permite dar garantias aos projetos
próximo ano um workshop em Xangai, e que se realizam, em uma etapa em que
um evento de apresentação dos primeiros proceder da fib os custos das correções são razoáveis e


resultados no Congresso da fib em Mel- as garantias são maiores. É uma tarefa
borne. A engrenagem está em movimen- complexa porque exige pessoas expe-
to e todos nós estamos muito motivados rientes. Comprovar é verificar a idoneida-
com este projeto interessantíssimo e, ao de da solução, que é o mais importante.
mesmo tempo seguramente muito útil. Isso não pode ser feito por qualquer pes-
soa. Se a ideia for inadequada não há cál-
ABECE – O senhor esteve no Brasil al- culo justificativo que possa dar um jeito
gumas vezes e também participou de nela. Essa verificação não pode ser feita
obras aqui. Qual é sua avaliação do mos de subsistência e de manter capaci- no final do projeto. Deve ser realizada no
momento atual da engenharia estru- dades imprescindíveis para por o motor final da concepção. Em seguida, é preciso
tural no Brasil, comparado com a reali- em marcha quanto necessário. verificar o projeto em si mesmo, desde o
dade europeia? ponto de vista normativo e desde o pon-
Hugo Corres – Tive a possibilidade de ABECE – Do ponto de vista estrutural, to de vista quantitativo. Aqui, novamente,
visitar o Brasil em inúmeras ocasiões, e qual obra foi mais desafiadora? E em os cálculos são necessários, mas a cons-
pude trabalhar em alguns projetos bra- termos de inovação? tatação conceitual também é necessária,
sileiros, com FHECOR do Brasil e em co- Hugo Corres – Sinceramente acho que e muito. Em todos os projetos grandes do
laboração com outras engenharias. Em ninguém deve esperar enfrentar um gran- mundo é imprescindível fazer engenharia

9
ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI

de verificação. É um processo paralelo ao nas faculdades europeias e também ABECE – Que orientação geral o se-
projeto e que o segue nas diferentes eta- no Brasil? nhor pode dar aos jovens que expres-
pas. É um projeto que tem um alto custo, Hugo Corres – Esse é um assunto com- sam o desejo de seguir a carreira de
mas que é uma garantia de investimento plexo. Eu também sou professor na Uni- engenharia de projetos de estruturas?
muito importante. versidade Politécnica de Madri e me per- Hugo Corres – Que é uma grande esco-
Na Espanha existe essa supervisão para gunto sempre qual é a forma de contribuir lha; que é uma profissão com a qual se
muitas obras de infraestrutura propiciada mais para a formação das novas gera- pode criar. Que é preciso estar constante-
pelas administrações. Para evitar proble- ções. Creio que, neste momento, exis- mente aprendendo, que é preciso ter uma
mas nas construções e também para ad- te muito ruído e muita especialidade. A grande curiosidade, e que é necessário ter
vertir seus clientes sobre possíveis falhas universidade se debate entre investigar e uma grande paixão para entender e con-
de projeto, as construtoras espanholas projetar. Entre publicar ou ensinar. Há um tribuir. É preciso saber e digerir tudo. É um
realizam CQPs de todas as suas obras. Es- pouco de confusão. Em minha opinião, é mundo apaixonante, e é uma atividade na
ses trabalhos são mais conceituais, mas difícil fazer um engenheiro na universida- qual vale a pena investir uma vida.
muito importantes e devem ser realizados de. O compromisso da universidade deve
por pessoas de muita experiência. ser dar a ele uma boa formação; a melhor ABECE – Qual é a importância da siner-
gia entre projetistas de estruturas, en-
genheiros e arquitetos?
Hugo Corres – Nós, engenheiros e ar-
quitetos temos sido as mesmas pessoas,
cronologicamente, desde quase 300


anos. Os atores da engenharia/arquitetu-
ra/arte/construção eram uma só pessoa.
Apolodoro de Damasco, o arquiteto/en-
É difícil fazer um engenheiro na genheiro/construtor/artista do Panteão
de Roma, a obra de engenharia estrutu-
universidade. A profissão deve ser ral que, em minha opinião, é a mais inte-

aprendida com a experiência e a ressante da história da arte/engenharia/


arquitetura/construção, era uma única


ajuda de mestres pessoa. Era arquiteto, concebeu um tem-
plo para os deuses do céu e pensou um
óculo no centro de uma cúpula, que foi
recorde do mundo do concreto durante
quase 1800 anos, para prestar uma ho-
menagem ao sol. Era um excelente en-
genheiro estrutural porque idealizou as
formas com maestria, de acordo com as
proporções canônicas de seu tempo e
ABECE – Em sua opinião, quais são os possível. A profissão, a experiência, os utilizou como ninguém o concreto que
maiores desafios da engenharia no fu- mestres, muitos ou poucos que encon- podia ser produzido naquela época. Era
turo? tramos no caminho são importantes. A um construtor incrível porque estabele-
Hugo Corres – A formação. As novas tec- profissão deve ser aprendida com a expe- ceu um recorde. Era um artista porque
nologias devem ser aproveitadas como riência e com a ajuda de mestres adequa- imaginou cada um dos detalhes deco-
instrumento para o desenvolvimento dos. Precisamos ser humildes para poder rativos do templo porque nós nos es-
das ideias, mas as ideias são o motor, o aprender; temos que aprender fazendo. quecemos de nossas origens. Se nossa
primeiro passo. Devemos estar acostu- É preciso trabalhar infinitamente. E para formação agora não é tão geral porque
mados a engendrar ideias e, para isso, tudo isso é imprescindível uma formação não sabemos nos questionar e resolver
a formação é importantíssima. Precisa- básica boa, muito boa, de conceitos cla- conjuntamente nossos problemas co-
mos saber mais, mais que nunca e sobre ros, e equilíbrio e a compatibilidade elás- muns. É por falta de inteligência. Nós,
tudo. Saber profundamente. Entender, tica que é a formação básica. Conceitos os arquitetos e engenheiros, temos que
entender e entender. O trabalho de um totalmente claros. A universidade tem um colaborar de forma estreita e percorrer
engenheiro não é calcular, é gerar ideias papel que é formar-se, dotar-se e manter- juntos os problemas e as soluções dos
a partir do conhecimento e evitar proble- -se constantemente autocrítica. O mundo temas de arquitetura que são complexos
mas que nunca são solucionados com o em que vivemos muitas vezes não nos e que exigem o máximo de criatividade.
cálculo. Temos que ensinar/aprender a permite pensar nesses termos. Mesmo Para mim, um dos maiores prazeres foi e
fazer engenharia. assim, os bons engenheiros continuam continua sendo colaborar com bons ar-
aparecendo. Será que com mais ajuda quitetos. Sempre aprendi, sempre pude
ABECE – Como o senhor analisa o esta- eles seriam mais e melhores? Ninguém desempenhar minha parte de criativida-
do atual o ensinamento da engenharia sabe e nem saberá. de e sempre senti prazer com isso.

10 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


NOSSO CRAQUE | PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO

NASCIDO PARA
SER ENGENHEIRO
A TRAJETÓRIA VITORIOSA DO PROFESSOR PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO,
RESPONSÁVEL POR INÚMEROS PROJETOS E TAMBÉM POR UMA ATUAÇÃO INTENSA NAS
ATIVIDADES ACADÊMICAS LIGADAS A VÁRIOS SEGMENTOS DA ENGENHARIA BRASILEIRA

O
interesse por engenharia genheiros, um tema frequente em sua
surgiu muito cedo na vida do vida e que o tem preocupado bastante,
paulistano Péricles Brasilien- diante da situação atual do ensino no
se Fusco. “Eu nasci para ser Brasil, de maneira geral, mas especial-
engenheiro”, como ele mesmo gosta mente no campo da engenharia. Para-
de afirmar sobre sua opção pela pro- lelo ao trabalho de produção literária
fissão. Dono de uma capacidade impar voltada para o campo da engenharia,
para aprender, de forma rápida, os te- o professor Fusco ainda encontra tem-
mas mais complexos dos ensinamentos po para prestar serviços de consultoria
ministrados na Escola Politécnica da em estrutura para algumas empresas.
Universidade de São Paulo, na qual se Foi em meio a tantas atividades que ele
formou na turma de 1952, logo ele se concedeu, no final do ano passado, uma
tornaria professor, atividade que mar- entrevista à revista ESTRUTURA. Na se-
caria toda sua trajetória profissionais quência, confira os principais trechos
de mais 60 anos. da conversa:
O professor Fusco, como é mais conhe-
cido na engenharia brasileira, talvez ABECE – O que o levou a escolher
seja um dos engenheiros que melhor Engenharia?
conseguiu conciliar o ofício de proje- FUSCO – Acho que no meu caso foi
tistas de estrutura, pois assim que se uma questão de reencarnação ou
formou fez questão de já montar seu então genética distante, já que meu pai
pequeno escritório de projetos, com era médico e minha mãe professora. A
as inúmeras atividades acadêmicas, verdade é que nasci para ser engenheiro.
uma vez que manteve uma permanente Assim que terminei o colegial, fiz
atuação na cátedra das mais importan- um cursinho e entrei de primeira na
tes escolas de engenharia do País. Além Politécnica, onde me formei, em 1952.
PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO de dar aulas e acompanhar centenas Antes mesmo de concluir o curso,
de trabalhos de mestrado e doutorado comecei a trabalhar, como estagiário,
dos seus alunos, também se dedicou a num ótimo escritório de projetos de
produção de livros: foram 13 títulos, in- estrutura. Minha vontade de exercer a
cluindo um sobre “Técnicas de Armar as profissão era tamanha que, ainda sem
Estruturas de Concreto”, considerado a finalizar o curso, projetei meu primeiro
verdadeira “bíblia” dos projetistas brasi- arranha-céu. Além disso, no meio do
leiros. Dedicou-se também ao IPT - Ins- ano, fui convidado para trabalhar na
tituto de Pesquisas Tecnológicas, onde área de estruturas do IPT – Instituto de
entrou como assistente. Pesquisas Tecnológicas, onde fiquei até
E aos 87 anos, o professor Fusco não 1956, quando o professor Nilo Amaral,
dá sinais de que irá parar tão cedo, pois que era o catedrático de concreto
está trabalhando em mais um livro, que armado da Politécnica me convidou
terá com foco a formação dos jovens en- para ser seu assistente. No IPT aprendi

11
NOSSO CRAQUE | PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO

tudo o que era possível aprender sobre sores Telêmaco Van Langendonck e Fer- tade dos anos de 1990, pela criação da
experimentos em estruturas. Já na Poli, nando Lobo. Faculdade de Tecnologia Termodinâmi-
passei a dar aulas de concreto armado. ABECE – Quais os fatos marcantes ca, uma instituição de formação técnica.
Paralelamente, montei meu escritório de dessa época? Acabei ficando dez anos lá.  
projetos de estrutura. FUSCO – Uma das minhas realizações foi
a montagem de um laboratório de estru- ABECE – Com base em sua trajetória,
ABECE – O senhor também se formou turas para o curso de Engenharia da Poli, quais as principais mudanças ocorri-
em Engenharia Naval. O que o levou um antigo sonho meu. Lembro que o pro- das na área de projetos?
para esse caminho? fessor Décio de Zagottis tinha comprado FUSCO – No início da década de 1950
FUSCO – Em meados dos anos de 1950, alguns equipamentos de ensaios, que se projetava usando o regime elástico.
o governo decidiu criar no Brasil o pri- estavam encostados num canto. Então Quando comecei como estagiário no es-
meiro curso de engenharia naval. Como eu me propus a montar o laboratório. Fui critório do Paulo Franco Rocha, o concre-
faltava professor, foram chamados en- me encontrar com o governador, que na to armado era calculado em regime elás-
genheiros do exterior e o responsável época era o Paulo Maluf, um ex-aluno da tico e a resistência do concreto se admitia
pela coordenação foi o contra-almiran- Poli e lhe falei da minha ideia. Ele me ofe- como tensão de um pilar na faixa de 40
te reformado da Marinha dos Estados receu a doação de 80 toneladas de suca- kgf por cm2 que, com a mudança do siste-
Unidos, George Charles Manning. Fui ta de aço, que eram sobras das obras do ma internacional de medição, equivalia a
convidado para ser seu assistente, mas metrô. Com isso, mais a ajuda de algumas 4MPa. Eram valores básicos e com a evo-
pouco antes do início efetivo do curso, o empresas e também o apoio da Prefeitu- lução, deixou-se de lado o regime elásti-
professor Manning decidiu me incumbir ra da USP, consegui materializar o labo- co e se passou a calcular pelo regime de
de ministrar o curso, pois acreditava que ratório, que está em funcionamento até ruptura. Foi uma mudança da água para
eu tinha mais conhecimento de estru- hoje no campus. Uma das empresas que o vinho.
turas. Parti então para minha segunda
graduação e, num processo estranho, ABECE – E em relação à forma de pro-
eu fui, talvez, um caso único de, por dois jetar o que mudou?
semestres, ter sido ao mesmo tempo FUSCO – Quando comecei, se fazia os
aluno e professor de mim mesmo. No cálculos apenas com a régua de cálculo.


final do semestre, eu avaliava os meus Depois começaram a surgir as máquinas
colegas, enquanto meus exames vinham de calcular mecânicas. Depois vieram as
do MIT em envelopes lacrados. Em 1960 elétricas. Me recordo que, quando me
conclui o curso e em 1965 terminava O Brasil formei, fiz um trabalho que continha uma
também meu doutorado em Engenharia
Naval. Durante o período em que lecio-
sempre série de tabelas. Para fazer os cálculos,
pedi emprestada do escritório onde es-
nei no curso de Engenharia Naval, fui necessitará tagiava, uma máquina elétrica. Que coisa
responsável pela elaboração do projeto maravilhosa! As máquinas mecânicas da
de quatro navios, que, por problemas de de gente época faziam cálculos a + b, a x b e a:b. Já
orçamento, não saíram do papel. com as elétricas era uma maravilha, pois
competente você dava os parâmetros de a, x, y e b, e
ABECE – Então o senhor voltou para a
construção civil?
para projetar e ela fazia todo o cálculo.

FUSCO – Sim. Voltei para o Departa- construir ABECE – E com a chegada gradual do


mento de Engenharia Civil. Como eu computador o que aconteceu?
havia feito o doutorado, fui escolhido FUSCO – Aí mudou tudo. Inclusive o mé-
para ser o chefe da disciplina. Foi muito todo de calcular. Antigamente as estrutu-
bom, pois isso coincidiu com uma gran- ras pesadas hiperestáticas eram calcu-
de movimentação mundial em torno do ladas, principalmente, com métodos de
estudo das estruturas de concreto, na esforços, que exigiam uma enorme tra-
qual eu estava muito interessado, que balheira. Hoje nem se usa mais os méto-
era a finalização de um trabalho iniciado dos dos esforços. Hoje se usa o método
após a Segunda Guerra Mundial e que contribuiu foi a Termomecânica, de outro das deformações e dos deslocamentos,
consistia na reavaliação da forma de ex-aluno da Poli, o empresário Salvador que já era conhecido na época, mas não
se conceber as estruturas de concreto Arena. Fui falar com ele, que forneceu era possível fazer o cálculo por falta de
em todo o mundo. Havia sido criado um uma ponte rolante para a instalação dos tecnologia. Atualmente, com os algorit-
grupo de estudo com a participação de equipamentos de teste do futuro labora- mos, basta alimentar com os dados que
todos os países europeus e que contava tório. Esse encontro com Salvador Arena tudo é calculado em segundos. Quando
também com representantes de países acabou gerando, um tempo depois, mais os computadores começaram a ser intro-
de outros continentes, incluindo o Bra- uma atividade na área acadêmica, quan- duzidos nos canteiros, em meados dos
sil, que era representado pelos profes- do fui ser responsável, na segunda me- anos de 1980, nós do Departamento de

12 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


Engenharia Civil da Poli decidimos mon- outra Itaipu não encontrará mais esses que se discute aqui são princípios para
tar um curso de computação para os pro- profissionais. E gente você não cria em 24 a organização da arte de aprender. Para
fessores do Departamento, no qual eu horas. Eu alertei em relação ao perigo do essa discussão, pode-se partir de três
também me matriculei. desmantelamento das equipes que tinham princípios educacionais:
ajudado a construir as obras de infraestru- 1 – Só se aprende a partir daquilo que já
ABECE – Considerando materiais, nor- tura projetadas durante o regime militar. se conhece;
mas técnicas e ferramentas entre
outros quesitos envolvidos na enge-
nharia, o que mais evolui nos últimos
tempos na engenharia brasileira?
FUSCO – Tivemos uma evolução mais ou


menos uniforme de todas as áreas e é ne-
cessário que haja mesmo essa sincronia
na evolução, mas é bom saber também
de um detalhe importantíssimo: as nor- Tivemos uma evolução
mas técnicas formam a espinha dorsal da
engenharia de um país. uniforme em todas as áreas.
ABECE – Como tem sido sua participa- Mas as normas técnicas
ção na formulação das normas brasi-
leiras?
formam a espinha dorsal da
FUSCO – Tenho participado diretamente engenharia brasileira


dos trabalhos de elaboração das normas
técnicas voltadas à engenharia e constru-
ção civil da ABNT – Associação Brasileira
de Normas Técnicas desde o princípio
dos anos de 1970, quando o assunto co-
meçou a despertar atenção dos profis-
sionais brasileiros. Um exemplo disso foi
a Norma de Símbolos Gráficos para Pro-
jetos de Estruturas, que fiz praticamen- ABECE – E em relação às escolas de 2 – Só se aprende as coisas que são es-
te sozinho, tendo sido posteriormente engenharia? miuçadas;
submetida a uma comissão que a apro- FUSCO – A qualidade dos estudantes que 3 – Só se aprende quando não há lacunas
vou quase sem nenhuma alteração. Ou- chegam ao nível superior tem decaído no processo de aprendizagem anterior.
tra que também redigi foi a de Ações de muito nos últimos anos. As escolas de en- Além disso, para saber se as ideias que
Segurança nas Estruturas. Em ambas, as genharia fazem o que podem a partir de pretendia aprender foram inteiramente
mudanças nelas introduzidas ao longo do alunos do ensino médio que recebe e que entendidas, isto é, se foram efetivamente
tempo foram meramente formais. Atuei são horríveis. Temos um sério problema integradas nas suas estruturas mentais, o
por mais de dez anos na ABNT, tendo de educação básica no país. estudante deve se sentir capaz de expli-
participado nesse tempo da elaboração cá-las, em todos os seus detalhes, a outro
e também da revisão das principais nor- ABECE – A seu ver, como soluciona- estudante ou, o que é melhor, de explicá-
mas que regem o setor nos dias de hoje. mos isso? -las a si mesmo, como se ele tivesse sido o
FUSCO – Há muito tempo estou preo- idealizador dessas ideias. Esta é a melhor
ABECE – Qual sua avaliação sobre o cupado com o ensino de forma geral no forma de alguém julgar o próprio aprendi-
momento atual da engenharia brasi- país. Agora mesmo, estou concluindo zado. Por fim, para saber se um conheci-
leira? um livro com o título de “Introdução à mento foi efetivamente adquirido por ou-
FUSCO – Assim como o país, ela está toda Engenharia de Estruturas de Concreto” tros, deve haver uma avaliação. Eu termino
destruída. Apesar dos desacertos do perío- exatamente para auxiliar no equacio- o prefácio com uma recomendação: para
do militar, havia um projeto de país, incluin- namento dessa questão. E no prefácio o desenvolvimento do país, é fundamental
do as obras de infraestrutura. Com o fim do dele, coloco alguns aspectos sobre um que os estudantes aprendam a aprender.
regime militar, os que chegaram ao poder ponto que considero decisivo: que é a
começaram a desmontar o que havia sido falta de uma atenção especial sobre a ABECE – Que mensagem pode dar
criado pelos militares. Isso provocou a fuga “arte de aprender”. Coloco lá que, en- aos jovens que estão cursando en-
de profissionais capacitados para o exte- quanto ao longo do tempo, a arte de genharia?
rior ou para outras atividades. Um exemplo ensinar ganhou apoio científico e se FUSCO – O Brasil precisa ainda ser cons-
disso são os profissionais responsáveis por transformou na tecnologia do ensinar, o truído, então sempre vai necessitar de gen-
projetar a Usina de Itaipu. Toda essa equipe aprender continua ainda no artesanato te competente para projetar e construir
sumiu. Se o Brasil precisar hoje construir individual. É isso que precisa mudar. O tudo o que for necessário ser construído.

13
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL | FOCO NO PESSOAL DE PROJETO

ESTÃO OS
CONSTRUTORES
MATANDO SUA GALINHA
DOS OVOS DE OURO?

O
POR AUGUSTO CARLOS DE VASCONCELOS s construtores sabem, melhor a durabilidade, dificuldade de executar,
do que qualquer outro profis- falta de informação sobre escoramen-
sional, comprar os melhores tos essenciais, embalagem atraente com
materiais nas mais vantajosas apresentação artística escondendo de-
condições. Ninguém consegue igualá- feitos não visíveis.
-los. Eles sabem muito bem que, além O construtor, muito experiente, depois
do preço, existem outros fatores que de cometer muitos erros, acaba apren-
podem ser mais importantes: entrega dendo a comprar os melhores materiais,
com pontualidade, condições especiais a fugir dos fornecedores enganosos, a
de pagamento, garantia de qualidade, escolher os operários certos para cada
responsabilidade por quebras e defei- tarefa. No tocante ao projeto, ele não
tos. Enfim, mais capazes do que os pro- adquiriu a experiência necessária para
fissionais de projeto, os construtores perceber a falta de segurança. Delega tal
conseguem auferir melhores lucros sa- atividade para auxiliares geralmente não
bendo comprar, nem sempre, pelo me- muito competentes para tal tipo de tra-
nor preço. balho. Não tem condições de examinar
Fora do campo dos materiais de cons- detalhadamente o projeto recebido para
trução, parece que os construtores não julgar sobre os perigos de uma execução
conseguem raciocinar com a mesma muito rápida, sobre o aproveitamento
perícia. É somente o preço do projeto máximo dos escoramentos, sobre as di-
que entra em consideração. Às vezes, é ficuldades de uma execução sem falhas,
também computado o prazo de entrega, sobre a proteção das armaduras e sobre
que fica muito prejudicado, com suas os perigos da aplicação da protensão
próprias indecisões de escolha. Não fora do prazo oportuno.
existe uma forma de fazer o construtor Os efeitos de variações térmicas e de
entender que o projeto é semelhante a deformação lenta do concreto não são
um material de construção que pode ter analisados com a minúcia necessária
seus defeitos: resistência baixa, durabili- para evitar dissabores futuros. O cons-
dade precária, aplicação difícil, deterio- trutor não tem outra alternativa senão
ração em progresso, embalagem inefi- delegar tais tarefas para outros. Não
ciente. Os projetos também carregam chega a perceber que nem todos os en-
consigo muitos parâmetros escondidos: genheiros de projeto estão habilitados
segurança precária, pouca atenção com para essas funções. Sua sorte está lan-

14 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


çada no instante em que definiu o pro- uma obra perfeita. Um exemplo simples construtor. O projetista deve pagar as
jetista pelo preço mais baixo. A propa- vale mais do que mil palavras. inovações em seu projeto. Deve garantir
ganda na televisão acena para algumas Uma obra de 5 milhões de reais a segurança de todas as peças e verificar
escolhas erradas: “Não é uma Brastemp, tem uma estrutura que custa cer- gratuitamente as consequências decor-
mas satisfaz...”. Ou propagandas enga- ca de R$1.000.000. Um corretor ga- rentes das novas exigências. Ou faz, ou
nosas: “Tira manchas difíceis até mes- nha 6% do custo total para arranjar não recebe o saldo de seus serviços. E
mo depois de secas...”. Mas não mostra compradores e organizar a venda: tem que fazer depressa, porque a obra
os casos de desastres esclarecendo as 0,06x5.000.000=300.000. Sua respon- não pode parar. Isto não é urna exceção,
causas. As obras caem por falhas dos sabilidade limita-se a verificar se os como se poderia pensar à primeira vista.
materiais, de sua aplicação descuidada papéis estão corretos, se existem ônus É a rotina da maioria dos projetos.
ou pela concepção errada da estrutura?
O construtor é o maior interessado em
saber os verdadeiros motivos dos aci-
dentes, mas não chega a tirar proveito
dessas lições da vida.
As maiores dores de cabeça dos constru-


tores com obras defeituosas decorrem
do projeto. Ou é o arquiteto, que conce-
beu uma obra difícil de ser executada, ou
um projetista, que aceitou as exigências
Quem faz a obra não é o dono
de arquitetos incapazes de perceber o da construtora. São seus
comportamento estrutural. Tal projetista
negligente, ganhando pouco, deixou de colaboradores. Sua má escolha
dar a atenção que o projeto mereceria. O
construtor não se detém a pensar nessas leva a maior probabilidade de
eventualidades. Uma trinca em alvenaria
aborrecimento


pode resultar de uma aplicação em épo-
ca errada (dias quentes no fechamento
de vãos), de uma deformabilidade exces-
siva do suporte, de erro de projeto ou
de retirada prematura de escoramentos.
Qualquer que seja a causa, o aborreci-
mento do construtor é o mesmo. Poderia
ter sido evitado? Uma escolha correta do
projetista, com preço justo do serviço, registrados sobre o imóvel, se existe al- Mas a realidade é diferente: o que se
teria como decorrência um projeto mais guma pendência judiciária. paga realmente, hoje, por um projeto de
perfeito? Um projeto de estrutura custa, segun- estrutura, não chega a 50% do valor de
As falhas, que ocorrem todos os dias, do a tabela de honorários do Institu- tabela. No exemplo citado, isto corres-
não são privilégio dos maus construto- to de Engenharia de São Paulo, cer- ponde a R$30.000, o que representa ape-
res. Acontecem com todos, bons e maus, ca de 6% sobre o valor da estrutura: nas 0,006 do custo da construção. Uma
honestos ou safados, sovinas ou esban- 0,06x1.000.000=60.000, isto é, 20% dos variação de 25% deste valor (7.500), que
jadores. Quem faz a obra não é o dono honorários do corretor. Sua responsa- deveria ser a dispersão normal de valo-
da construtora. São os seus colaborado- bilidade não se limita à segurança da res de diversas propostas, não represen-
res. Sua má escolha leva a maior proba- construção: ele é responsável pelas de- ta quase nada para o investimento total
bilidade de aborrecimento. Raramente formações excessivas das peças, pelas da construção. Tais diferenças, entretan-
resulta de falha de material de constru- agressões à arquitetura, pelas invasões to, podem representar a escolha entre
ção, tijolo ou concreto, aço ou vidro. O aos recintos de uso domiciliar, pela possi- uma obra bem concebida, segura e de
material pode ser ótimo, mas sua apli- bilidade de passagens de tubulações, pe- desempenho satisfatório e outra obra,
cação tem que ser correta. Um projeto las condições de uma boa execução, pelo mal concebida, mal detalhada, com segu-
pode ser correto, mas a execução preci- consumo de materiais. Depois de pronto rança precária, de durabilidade duvidosa,
sa corresponder à qualidade do que se e entregue o projeto, podem surgir mo- exigindo urna manutenção dispendiosa
deseja obter. Um projeto correto, porém dificações, porque o novo comprador para encobrir os defeitos. O significado
mal concebido, pode significar um de- tem ideias diferentes sobre a utilização disto representa para o proprietário ou
sastre. Um bom construtor deve dedicar do que lhe foi oferecido. O construtor ao construtor dezenas de vezes mais do
algum tempo para julgar se um projeto não pode perder uma oportunidade de que o valor pago pelo serviço mal feito.
foi mal concebido ou não, independen- venda e atende a qualquer alteração que Para o profissional, por outro lado, repre-
temente de estar corretamente calcu- o comprador exigir. Tais alterações são senta trabalhar ou ficar ocioso. Tive no-
lado. A má concepção não pode levar a gratuitas para o comprador e para o tícia de um profissional, meu amigo, que

15
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL | FOCO NO PESSOAL DE PROJETO

me respondeu: “Para trabalhar deste jei- as pessoas envolvidas: emprego públi- dência? Nossos construtores têm cons-
to, prefiro desistir da profissão. Se V. não co, venda de materiais, planejamento ciência do que estão fazendo com o sis-
aceitar esse preço, outro vai fazer!” industrial, auditoria, consultoria técnica, tema de “leilão de projetos” sem escolha
Assim, não valem nada a experiência criação de gado, montagem de restau- do profissional pelo seu valor? Quando
profissional, a dedicação, a ficha de ser- rantes, informática, publicidade, música menciono isto em nosso meio a respos-
viços bem sucedidos e o prestígio. Todos em boates. Em todos esses casos, fui in- ta é sempre a mesma: “É o mercado que
estão nivelados pelo preço. É o computa- formado de que os ganhos foram subs- domina o sistema, que torna impossível
dor que calcula: o projeto é um só, com tancialmente maiores do que em proje- qualquer alteração!”.
a mesma segurança. O engenheiro só tos. Já estão ocorrendo casos em São Ficaremos de braços cruzados, deixan-
aperta botões! A criatividade não existe Paulo – e eu tenho conhecimento direto do o pior acontecer? Sabemos que isto
mais. A apresentação é desenhada por de três casos – de projetos de arquitetu- já está acontecendo e não há meios de
computador. Não existem erros. As nor- ra e estrutura feitos nos Estados Unidos. alertar os construtores de que eles estão
mas são obedecidas. Não há diferenças São obras grandes, não habitacionais, “matando a sua galinha de ovos de ouro”,
entre os diversos profissionais. É assim de elevado investimento. Tais obras não e de que sua economia ao conseguir um
que pensam os construtores e proprie- têm permissão legal para serem execu- projeto mais barato corresponde a com-
tários... Mas a realidade é diferente: o tadas no Brasil. Para isso, é necessário prar algo que não é nenhuma Brastemp,
como diz a propaganda. Estão a par de
que eles estão sendo iludidos, compran-
do papel pintado ao invés de um proje-
to bem elaborado? Que pela metade do
preço eles não conseguem comprar um


bom azulejo, ou cimento confiável, ou aço
de características comprovadas ou ... um
projeto sensato e seguro?
Assumir a responsabilidade Já fiz anteriormente uma tentativa de

por um projeto que não fez, abrir os olhos dos proprietários e dos
construtores, com os seguintes 8 pon-
porque não foi pago para isso, tos para serem meditados, os quais ago-
ra repito:
é uma espécie de prostituição – Nem sempre o preço mais baixo de
projeto dá uma economia real.
– Pode acontecer de que a obra seja
mais econômica com maior consumo.


– É mais importante um projeto bem
detalhado do que um desenho bonito
– Poucos desenhos podem indicar gas-
to excessivo de materiais.
– Nunca haverá um projeto bom feito
num prazo inadequado.
– Não é somente a segurança que vale
que se paga realmente, hoje, por um que algum profissional, registrado em num projeto: o comportamento em
projeto de estrutura, não corresponde nosso país assuma a paternidade do serviço e a durabilidade são igual-
ao que se deveria obter. O construtor ou projeto e refaça os desenhos de acor- mente importantes.
o proprietário pensa que fez “um bom do com os modelos de apresentação – O que representa o preço de um pro-
negócio” sem perceber a diferença entre compreensíveis para nossos operários jeto de qualidade em confronto com
uma obra bem concebida, segura e de e em obediência às normas brasileiras. custo dos acabamentos, facilidade
desempenho satisfatório e outra obra, Por incrível que pareça, sempre existirá de execução, bom detalhamento,
mal projetada, mal detalhada, com se- alguém que aceite tal incumbência por tranquilidade e acompanhamento da
gurança precária, de durabilidade duvi- uma remuneração aviltante! Assumir as obra pelo projetista?
dosa, exigindo uma manutenção dispen- responsabilidades de um projeto que – Quem escreve isto só é beneficiado
diosa para encobrir os defeitos. não fez, porque não foi pago para isso, é com projetos ruins.
Tal situação tem causado uma deban- uma espécie de prostituição. No deses- Construtores e proprietários bem in-
dada dos projetistas. Aqueles que não pero de sobrevivência, sempre existirá tencionados: meditem profundamen-
são fanáticos pela profissão procuram alguém que faça isto! te sobre tudo isto, sem preconceito, e
outros meios de sobrevivência. Tenho O que está acontecendo com nossa pro- ganhem dinheiro procedendo com os
tido conhecimento de casos assombro- fissão? Isto tende a se alastrar? Nossas profissionais colaboradores como pro-
sos de desvio da profissão. Eis alguns entidades de classe estão a par desta cedem em suas compras de materiais,
de que tive conhecimento direto com situação? Elas tomarão alguma provi- escolhendo pela qualidade!

16 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


ESTRUTURA EM DESTAQUE | EDIFÍCIO VISTA GUANABARA

PROJETO ESTRUTURAL
ARROJADO E SOLUÇÕES
OUSADAS
EDIFÍCIO VISTA GUANABARA SE INSERE NO CONJUNTO DE OBRAS
ARROJADAS E DE GRANDE IMPACTO URBANÍSTICOS QUE VEM TRANSFORMANDO
O CENÁRIO DA ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO

A
POR AVILA ENGENHARIA DE ESTRUTURAS região portuária da cidade do
Rio de Janeiro passa por um
grande processo de reurba-
nização e modernização con-
templado sob a denominação de Porto
Maravilha, ação de iniciativa pública
que objetiva revitalizar a região, ante-
riormente degradada e hoje com obras
de grande impacto em andamento. É
neste contexto de modernização que
se insere o Edifício Vista Guanabara,
empreendimento localizado à Rua Ba-
rão de Tefé, 34 – no bairro Saúde e que
integra-se, de maneira positiva, aos de-
mais projetos em andamento.
A obra em questão é uma torre em-
presarial que conta com: 4 subsolos;
pavimento de acesso; 4 pavimentos de
garagens elevadas; 17 pavimentos cor-
porativos; pavimento técnico e helipon-
to, com altura total de 107 m, sendo 93
m acima do nível da rua. A obra foi ven-
dedora do Prêmio Talento Engenharia
Estrutural 2016 - categoria Edificação.
Por estar localizado em área de con-
truções antigas e próximo do mar (com
lençol freático muito próximo ao nível
da rua), optou-se em todo perímetro
pela execução de paredes diafragma
como solução para contenção e funda-
ção de 14 dos 16 pilares que formam
a fachada e nascem no 1º pavimento
tipo. Com esta situação, era preciso re-
solver como seria feita a escavação do
terreno, pois uma lateral não poderia

17
ESTRUTURA EM DESTAQUE | EDIFÍCIO VISTA GUANABARA

IMAGEM 3D DO MODELO TQS

ser atirantada pela existência de obra


já construida. Foi desenvolvido o pro-
jeto da laje de subpressão para resistir
aos esforços de coluna d´água de 12m,
apoiada nas fundações do prédio e em
tirantes no nível do 4º subsolo, subme-
tidos a grandes cargas de tração.
Em 3 lados foram implantados tirantes
provisórios nas paredes para possibili-
tar a escavação do terreno até o nível
das fundações e prosseguir com a obra
de maneira convencional, porém esta
solução não pode ser adotada em uma
das divisas devido à existência de uma
obra. A solução encontrada foi inverter
a sequência da obra nessa divisa, ou
seja; seria feita a estrutura do nível da
rua primeiro (1º pavimento de acesso)
e os pavimentos inferiores na sequên-
cia até o nível do 4º subsolo para trava-
mento desta contenção.
Junto à esta divisa está localizada a
rampa de acesso aos subsolos (ocupa
toda extensão da divisa). Portanto esta
rampa foi dimensionada para resistir
aos esforços horizontais da contenção
durante a fase de obra. Devido à gran-
de extensão da rampa foram necessá-
rios o uso de perfis metálicos cravados
no solo, com a função de pilares provi-
sórios para apoio de uma das laterais
da rampa. Quando a obra atingiu o 4º
subsolo e passou-se a erguer a estru-

FORMA PARCIAL DO 4º SUBSOLO CORTE DA RAMPA EXISTENTE JUNTO A DIVISA

18 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


tura principal da torre, os perfis foram
incorporados aos pilares definitivos do
edifício.
Nas 3 divisas atirantadas onde os pila-
res da torre (coincidiram sobre as pa-
redes diafragma) com cargas verticais
aproximadas de 2.000tf cada, foram
projetadas vigas de transição no nível
do 1º pavimento (acesso) que funcio-
naram como blocos flexíveis de funda-
ção, distribuindo as cargas desses pila-
res sobre as várias lamelas da parede
diafragma.
Houve também um cuidado especial
quanto à profundidade de toda funda-
ção, pois sob a obra há previsão de pas-
sagem de um túnel para trânsito rodo-
viário, denominado Túnel Rio 450 Anos.
Vencida esta etapa do embasamento,
FOTO DA RAMPA EXECUTADA E O 2º SUBSOLO DA TORRE EM EXECUÇÃO
a atenção volta-se para a etapa que

FORMA DO 1º PAVIMENTO/ACESSO IMAGEM DA LOCALIZAÇÃO DO EDIFÍCIO VISTA GUANABARA

DETALHE DA INFLEXÃO ENTRE O 9º E 10º PAVIMENTO

19
ESTRUTURA EM DESTAQUE | EDIFÍCIO VISTA GUANABARA

PLANTA DO PAVIMENTO TÉCNICO

DETALHE DE VARIAÇÃO DO CONCRETO PILAR/LAJE

será a mais impactante para a região, que


é a estrutura do prédio acima da rua, cons-
tituída por fachadas inclinadas recobertas
por pele de vidro, remetendo aos conceitos
de inovação e modernidade pretendidos.
Optou-se pelo uso de pilares inclinados, pois
assim se teria um melhor aproveitamento
de espaço interno e um sistema mais rígido
para fixação das fachadas. Salienta-se que
alguns pilares possuem uma inflexão entre
FORMA DO 3º PAVIMENTO TIPO o 9º e 10º pavimento, mudando a direção de
sua inclinação.
Para vencer os grandes vãos de laje nos pavi-
mentos tipo com um número reduzido de pi-
lares, utilizou-se lajes nervuradas com altura
total de 35cm e faixas de protensão.
Juntos aos pilares inclinados foram incluídas
vigas no nível da laje, com a finalidade de
absorver os esforços horizontais originados
pela inclinação e inflecção desses pilares.
O núcleo do edifício (caixa de escadas/eleva-
dores) foi enrijecido com o uso de pilares e
vigas para dar estabilidade à edificação e re-
sistir aos esforços horizontais provenientes
das ações de vento.
Devido aos pilares inclinados, cada pavi-
mento possui dimensões distintas, fazendo
com que cada um deles fossem detalhados
individualmente, com projetos de formas e
DETALHE DAS CUBETAS PLÁSTICAS USADAS NAS LAJES NERVURADAS DO TIPO
armações específicos, gerando um número

20 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


de folhas bem maior que os edifícios
convencionais.
No pavimento técnico está prevista a
instalação de grandes equipamentos,
com sobrecarga prevista de 1000 kgf/
m 2. Devido a esta exigência, foi man-
tido o conceito de lajes nervuradas
protendidas, porém com altura total
de 50cm.
Para economia de aço, otimização da
seção de pilares e melhor aproveita-
mento das propriedades do concreto
adotado na obra, optou-se pelo uso de
concreto com uma resistência maior
que os geralmente empregados em
edifícios convencionais. Nos blocos e CABOS DA ARMADURA PROTENDIDA EM PLANTA NO 6º PAVIMENTO TIPO
pilares dos pavimentos inferiores até
o nível do 2º pavimento foram especi-
ficados concreto classe C50, com redu-
ção gradual até o 10º pavimento tipo,
a partir do qual utilizou-se o concreto
classe C35 até o final da obra. Para as
lajes e vigas de toda obra, utilizou-se o
concreto C35, com detalhe de concre-
tagem conforme imagem “Detalhe de
variação do concreto pilar/laje”.
O aço utilizado para as armaduras pas-
sivas foram CA-50 e CA-60, com bitolas
de 6,3mm a 32mm. Na armadura ati-
va foram utilizadas cordoalhas engra-
xadas de 12,7 mm aço CP-190. Nova-
mente o piso técnico foi diferenciado
devido às grandes cargas, com o uso
de cordoalhas engraxadas de 15,2 mm.
O sistema de escoramento da estru-
tura foi do tipo permanente conforme
apresentado na imagem ao lado:

FICHA TÉCNICA

Estrutura de Concreto: Avila Engenharia


DETALHE DA ANCORAGEM DAS CORDOALHAS DA PROTENSÃO
de Estruturas ( José Augusto Avila)
Projeto arquitetônico: William Louie
(arquiteto coordenador), do escritório
Kohn Pedersen Fox Associates (KPF),
de Nova Iorque, com a colaboração
de Edmundo De Cesario Musa
e Cristiana Braga, do escritório
brasileiro ARQ&URB Projetos
Fundações: Apoio Fundações
Construtora: Hochtief do Brasil
Área construída: 51.791,0 2 m2
Projeto: abril de 2013
Conclusão da obra: junho de 2016
Cliente: Autonomy Investimentos
e GTIS Partners
Localização da obra: Rio de Janeiro
Finalidade do edifício: uso comercial

21
INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA

LUANDA
TOWERS:
3 TORRES E
MUITAS
HISTÓRIAS
ESTRUTURADAS EM CONCRETO E AÇO

POR: ANDRÉ LUIZ DE MATTOS ANDRADE


E JEFERSON LUIZ ANDRADE

JEFERSON LUIZ ANDRADE

ANDRÉ LUIZ DE MATTOS


ANDRADE

22 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


C
om a conclusão das obras pre- ração dos projetos unifilares. Desde
vista para 2017, Luanda Towers o princípio, a obra envolveu grandes
envolveu um processo constru- desafios, principalmente em relação à
tivo rico em soluções técnicas troca de informações entre os profis-
e situações inusitadas, que constituem sionais envolvidos com a obra: o time
o DNA de um edifício concebido com contava com um cliente final francês,
uma arquitetura arrojada, distribuída projetistas brasileiros, gerenciadores
em três torres de 106 metros de altura e construtores portugueses, inves-
e uma solução bastante otimizada, com tidores israelenses e angolanos, ins-
a utilização de estrutura mista de con- petores de projeto provenientes da
creto e aço. França, Israel e Portugal, e fabricante
A concepção inicial do edifício é de de estruturas metálicas chinês. Toda
2008, quando se deu início à elabo- essa diversidade de profissionais de

FIG. 1 – PLANTA TIPO DA TORRE 01

23
INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA

diferentes partes do mundo resultou projeto original contava ainda com um de aceleração obtidos junto a esses ins-
em muitas viagens para três continen- heliponto, que foi suprimido ainda na tituto, foi possível definir as ações sís-
tes – Europa, África e Ásia –, além de fase inicial, por conta das legislações micas atuantes na estrutura.
centenas de reuniões e audioconfe- locais que proibem voo de helicópte- Para as ações de vento, na completa
rências que exigiram aprimorar um ros particulares. ausência de isopletas ou normas em
pouco mais o inglês, além de desen- Do ponto de vista arquitetônico, a con- Angola, fez-se um estudo a partir dos
volver um considerável aprendizado cepção previa plantas assimétricas e ventos em localidades próximas, com
sobre normas internacionais. diferentes entre si, com fachadas em na África do Sul e em outras regiões
A elaboração dos projetos seguiu si- vidro e caixas de escadas e elevadores do mundo com a mesma latitude e
multaneamente com o trabalho de bastante excêntricas, ou seja, distantes longitude, como o nordeste brasileiro,
verificação e, com o avanço dos traba- dos centros de massas das torres. Tam- aliado ainda às prescrições das nor-
lhos, foram-se revelando as necessida- bém foi colocado como desafio técnico mas ASCE e Eurocode. Essa avaliação
des e particularidades do empreendi- a proximidade entre as torres, princi- teve o respaldo e aprovação dos res-
mento como um todo. Primeiramente, palmente para as análises de segurança ponsável pela verificação de projeto,
o objetivo da edificação era o de abri- estrutural e de conforto humano quan- que colocaram suas opiniões e, no fim,
gar os colaboradores e funcionários to a ação dos ventos. validaram o trabalho de determinação
do cliente final, uma petrolífera fran- Do ponto de vista estrutural, algumas dos esforços.
cesa que residiam em Luanda ou nas necessidades de determinação das Na sequência, seguiu-se no conceito da
proximidades. A edificação deveria cargas na estrutura exigiram pesqui- edificação, que consistiu inicialmente
possuir infraestrutura capaz de ga- sas mais aprofundadas, especialmente no desenvolvimento de uma estrutura
rantir autossuficiência e segurança para levantamento de ações sísmicas e monolítica de concreto armado, abai-
para essas pessoas. Sob esse premis- de ventos. xo do nível +29,15m, onde se localizam
sa, Luanda Towers foi projetada para Como em Angola não há registros de as áreas comuns às três torres, como
comportar, além de dezenas de apar- históricos sismológicos nem normas por exemplo, o shopping center e as
tamentos, também shopping center, técnicas que compilem informações garagens. Essa estrutura contou com
hospital dia, academia, áreas para sobre as ações naturais em seu terri- paredes diafragma no perímetro dos
recreação, geradores e cisternas (que tório, foi necessário investigar a ativi- 130.000 m² de área construída, laje es-
garantirão o fornecimento de energia dade sísmica da região, com base em pessa sobre solo utilizando técnica de
elétrica e água potável mesmo que informações coletadas em órgãos inter- jet grouting, sete níveis de laje nervura-
haja suspensão da rede pública), além nacionais como a USGS (United States das, pilares e contrafortes. Tal premissa
de salas de pânico (denominadas Unit Geological Survey), um prestigiado ins- teve por objetivos a obtenção de um
Crisis, que nada mais são que bunkers tituto norte-americado especializado embasamento rígido capaz de controlar
totalmente seguros e com reservas em geologia, e que dispõe de bases de deformações diferenciais entre os pila-
de água e comida para abrigar seus dados de atividades sismológicas em res das torres e a contenção lateral dos
moradores por algumas semanas). O todo o mundo. Com base nos valores empuxos hidrostáticos oriundos dos

FIG. 2 – PLANTA TIPO DA TORRE 02 FIG. 3 – PLANTA TIPO DA TORRE 03

24 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


terrenos vizinhos, uma vez que o nível
da cota d’água estava 10 metros acima
da laje de fundo.
O piso localizado no nível +29,15m foi
responsável pela transição das áreas
comuns para as três torres indepen-
dentes. Nele, foram projetadas vigas
treliçadas de 2,40 metros de altura, com
o objetivo de transicionar os pilares
das torres, que não nascem coinciden-
tes aos pilares de concreto localizados
abaixo dessa cota. O espaço gerado por
essas vigas permitiu criar uma grande
área técnica, que atende a parte lógica
e energética da edificação.
Acima desse nível, foi condebido um
sistema estrutural industrializado,
a fim de minimizar o uso de mão de
obra. Cabe aqui uma ressalta: o cená-
rio em Angola, à época, era de um país
em reconstrução, após anos de guerra
civil, no qual imperava a escassez de
tudo, inclusive de pessoal capacitado aliviaram as cargas nas fundações, e O conceito estrutural contou com
tecnicamente. Diante dessa realidade, adicionalmente viabilizaram a contra- núcleos rígidos de concreto armado
a alternativa de se ter uma estrutu- tação da estrutura no mercado inter- na região das escadas e elevadores
ra altamente industrializada permitiu nacional, resultando em velocidade ao longo dos 77 metros de altura das
o emprego de peças mais leves que executiva na etapa de construção. torres e com pilares metálicos com se-

25
INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA

ções tipo “H” conformados através de porte às lajes. Estas vigas foram ligadas mentos estruturais, foi definida pelo
chapas soldadas. às lajes através de conectores tipo “stud fornecedor das estruturas. Nessa obra,
A estabilidade horizontal do edifício, es- bolt”, criando assim um sistema misto portanto, não foram utilizados quais-
pecialmente para as cargas de vento, foi de concreto e aço. Este método cons- quer perfis laminados.
concebida para ser garantida exclusiva- trutivo contribuiu para o aumento da Para os pisos, utilizaram-se as fôrmas
mente pelos núcleos rígidos, tendo como rigidez de todo o conjunto estrutural. de aço incorporado tipo “steel deck”, que
premissa que os pilares metálicos funcio- Para otimizar o consumo de aço, consi- dentre várias vantagens construtivas,
nariam essencialmente a esforços axiais. derou-se que todas as vigas seriam es- também funcionam como armaduras
Para isso, as vigas e lajes foram devida- coradas e, portanto, trabalhariam com positivas para as lajes. A fim de garantir
mente ancoradas às paredes dos núcleos, a rigidez plena aço-concreto para 100% todas exigências de normas e do cader-
e os esforços foram transmitidos pelo dos esforços atuantes. no de especificações do cliente, a espes-
efeito diafragma das lajes, que tiveram As vigas metálicas, nesse caso, foram sura da laje foi definida não somente com
sua rigidez adequada para tal finalidade. concebidas como seções tipo “I” tam- base na rigidez desejada para questões
Os pisos foram compostos por vigas bém conformadas através de chapas de resistência e deformação, mas tam-
primárias e secundárias, essencialmen- soldadas. Essa condição inclusive, de bém para conceber conforto térmico e
te bi-apoiadas, responsáveis por dar su- se utilizar chapas para construir os ele- acústico. As armaduras negativas foram
projetadas para resistir ao momento ne-
gativo em balanços, assim como para evi-
tar fissuras devido a retração.
Previram-se, ainda, armaduras adicio-
nais para costurar pontos de tração na
laje, como por exemplo, no contorno de
pilares e em possíveis locais que ocasio-
nassem efeitos de continuidade em vi-
gas. Para essa análise, modelos de ele-
mentos finitos foram criados e diversas
hipóteses de carga foram consideradas,
de modo a cobrir diferentes possibilida-
des de uso e ocupação das unidades.
Para as situações de incêndio, previ-
ram-se armaduras positivas adicionais
nas lajes. Já os elementos metálicos
principais, como vigas e pilares, foram
protegidos passivamente com arga-
massa projetada.
Do ponto de vista de economicidade, o
empreendimento foi um sucesso. Além
de viabilizá-lo ao investidor, a solução
mista concreto e aço também conse-
guiu números muito interessantes. Foi
possível construir as edificações metá-
licas com consumo médio de 40 kg/m²
de aço. As cargas nas fundações tiveram
redução de 30% aproximadamente e a
mão de obra foi 20% menor que a pre-
vista inicialmente. Essas informações
foram repassadas pelos gerenciadores à
época, que se mostraram extremamen-
te satisfeitos com a performance obtida.
No entanto, dentre todas as atividades
acima citadas, a verificação de projeto
é a que merece destaque especial. Ao
contrário do que estamos habituados
no Brasil, esse empreendimento contou
com três diferentes escritórios dedicados
somente para a inspeção dos projetos
desenvolvidos, o que nos deixou igual-
FIG. 4 – PLANTA TIPO DAS GARAGENS – ÁREA COMUM
mente surpresos e um pouco apreensi-

26 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


FIG. 5 – IMAGEM MODELO DE FIG. 6 – IMAGEM MODELO DE FIG. 7 – IMAGEM MODELO DE CÁLCULO 3D DA
CÁLCULO 3D DA TORRE 01 CÁLCULO 3D DA TORRE 02 TORRE 03

vos no começo dos trabalhos, porém isso com esse escritório foi bastante positi- de que há muito espaço para que a en-
foi desmistificado ao longo do processo. va para entender as preocupações de genharia brasileira evolua, tanto em téc-
Em relação aos escritórios de verifica- uma seguradora internacional, muitas nica, quanto em produtividade. Primei-
ção, o primeiro contato foi feito com o vezes óbvias, como por exemplo, a ins- ro, é necessário valorizar o bom projeto
de Portugal, contratado pela constru- talação de sistemas contra fogo, po- e exigir uma verificação adequada, pau-
tora igualmente portuguesa. Essa em- rém outras não tão óbvias, como por tada na ética e visando a contribuição ao
presa tomou como base os eurocódigos exemplo, atingir acelerações de pico trabalho, para que possamos oferecer
para aferição dos dimensionamento e inferiores a determinado percentual produtos cada vez melhores ao cliente
imprimiu uma tendência mais conser- da aceleração da gravidade no topo do final. Cita-se, ainda, a necessidade de in-
vadora nas propostas de melhoria, com edifício, de modo a garantir conforto vestir em tecnologia e melhores técnicas
bastante foco na estabilidade das peças humano adequado. Todas essas e di- construtivas, aprimorar o conhecimento
de concreto armado, no embasamento versas outras análises foram realiza- técnico tendo como base a facilidade
e nos núcleos rígidos. das e devidamente verificadas. com que temos acesso à informação
O segundo escritório, israelense e con- É possível perceber, que a essa altura do após a globalização e a era digital.
tratado pelos investidores do edifício, projeto, a pluralidade de conhecimen- É preciso, ao invés de temer a globali-
aferiu o projeto com base nas normas tos, normas e escolas proporcionou ao zação e vê-la somente como ameaça,
americanas AISC e ASCE, e focou bas- trabalho uma riqueza ímpar de detalhes aprender a aproveitar as oportunida-
tante na otimização da estrutura. In- e uma segurança de suma importância a des que ela nos traz e aliar as novas
clusive, foi um dos maiores apoiadores nós projetistas, que nos sentimos mui- informações obtidas com nossa grande
e simpatizantes da idéia em se contar to confortáveis quanto ao produto final capacidade de solucionar problemas.
com estrutura mista concreto e aço que estávamos entregando ao cliente.
escorada contra núcleos rígidos, tendo Destaca-se, especialmente nesse caso, a FICHA TÉCNICA
em vista que sua experiência em edifí- grande importância e naturalidade com Engenheiro de estrutura:
cios de grandes alturas indicava essa que esses escritórios envolvidos lidaram André Luiz de Mattos Andrade
ser uma solução bastante competitiva. com a atividade de inspeção de projetos. Empresa responsável pelas
O terceiro verificador, agora francês A maturidade ética e profissional que to- fundações:
e contratado pela seguradora do em- dos demonstraram ao longo do proces- Tecnasol Fundações e Geotecnia
preendimento, fez suas análises pelo so, deveria servir de reflexão e inspira- Arquiteto: Manoel Doria, do
código internacional IBC (International ção a todos os nossos projetistas, para Escritório Doria Lopes e Fiuza
Building Code) e focou exclusivamen- que pudéssemos elevar, ainda mais, a Construtora: Consórcio
te na segurança do empreendimento, qualidade da engenharia brasileira. Soares da Costa/Mota Engil
especialmente nas redundâncias que A conclusão que pudemos tirar dessa (Construtoras Portuguesas)
o sistema estrutural previa em caso de experiência internacional, que muito en- Localização da obra: Luanda (Angola)
acidentes ou catástrofes. A experiência riqueceu os profissionais envolvidos, foi

27
ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL

ESTRUTURAS
METÁLICAS
E DE VIDRO –
UMA ABORDAGEM
NO CONCEITO BIM
POR: RAIMUNDO CALIXTO DE MELO NETO
1. INTRODUÇÃO cipalmente nos dias de hoje em que
No presente artigo, procuramos apre- os jovens profissionais, na sua grande
sentar as nossas experiências na tran- maioria, não tiveram a oportunidade de
sição da utilização da plataforma con- serem treinados e orientados por técni-
vencional, utilizando softwares como cos ou engenheiros experientes.
AutoCAD, no desenvolvimento de pro- Em outras palavras, a exaltação do soft-
jetos estruturais de aço e vidro, para ware ou o “culto à ferramenta” nunca
a revolucionária plataforma BIM (Buil- estará em nosso destaque.
ding Information Modeling).
Considerando a nossa experiência de- 2. APRESENTAÇÃO
senvolvendo projetos desenhados ma-
nualmente desde a década de 1980, Em 1990, iniciamos as atividades da
quando éramos engenheiros de proje- RCM - Estruturas Metálicas LTDA, em
tos da F.E.M. S.A. (Fábrica de Estruturas Fortaleza – CE, com o objetivo de de-
Metálicas) da Cia Siderúrgica Nacional, senvolver projetos de estruturas de
temos convicção de que os dias de hoje aço, principalmente na área industrial.
são incomparáveis quanto aos “ganhos” Com a nossa experiência como pro-
tão importantes na transição anterior: jetista de estruturas de aço da F.E.M
Desenho desenvolvido manualmente S.A. e da JAAKKO POYRY ENGENHARIA
(prancheta) Desenho desenvolvido ele- (empresa de consultoria na área de
tronicamente (AutoCAD). projetos), tínhamos a firme intenção de
É importante ressaltar que, de longe, implantar no nosso escritório os ensina-
vemos os desenhos ou croquis manuais mentos que recebemos de grandes pro-
como imprescindíveis na “alimentação” fissionais dessas duas empresas. Face
dos softwares, seja no sistema conven- nossa forte atuação como engenheiro
cional, seja na plataforma BIM, prin- de estruturas ter ocorrido na década de

28 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


1980, convivíamos com a metodologia
do desenho manual. Apesar de bastan-
te lento quando comparado com os mé-
todos modernos, consideramos que o
aprendizado transferido ao profissional
quando os desenhos eram elaborados
manualmente são incomparáveis.
Assim, decidimos como meta treinar
estagiários de Escolas Técnicas, transfe-
rindo os aprendizados que recebemos.
Com facilidade, fizemos a transição
para o “AutoCAD”, pois na sua essência
somente mudava a técnica do desenho
e a facilidade para implantar revisões.
Com o passar dos anos, começamos
a atuar em projetos de edificações co-
merciais, tais como shopping centers,
em cujos projetos arquitetônicos o vi-
dro sempre esteve presente. As patolo-
gias que se apresentavam nas estrutu-
FIG. 2 – MODELO ESTRUTURAL SHOPPING RIO SUL - CONCEITO BIM
ras com esses dois materiais, tais como
quebras, infiltrações, etc., nos fizeram
pesquisar como esses projetos eram
tratados nos países desenvolvidos. As-
sim, o destino nos aproximou do técnico
francês François Willemin, especialista
em produção do vidro, com experiên-
cia em grandes empresas europeias, e
na ocasião, residindo em Fortaleza. Por
meio das suas orientações, passamos a
adquirir os conhecimentos básicos de
produção do vidro que muito nos aju-
daram no entendimento necessário nas
aplicações estruturais.
O nosso grande interesse sempre foi o
de conhecer como eram coordenadas
as “interfaces” entre os dois materiais, FIG. 3 – PROJETO EXECUTADO SHOPPING RIO SUL
tanto em projeto, quanto fisicamente
na montagem. Outra questão impor-
tante, se refere às técnicas de produção Nessas pesquisas, constatamos que o Os projetos a seguir comentados:
necessárias a atender a performance conceito BIM no desenvolvimento dos • Fachadas Shopping Rio Sul – RJ;
desejada, tanto em aplicações somente projetos sempre se fazia presente. Assim, • Árvore EMBRAPA – Fortaleza – CE;
com o vidro, quanto associado a estru- decidimos definitivamente migrar para a • Onda Carioca – RJ, consideramos im-
turas de aço. esta plataforma, com a convicção que o pulsionadores na adoção do BIM por
balanço custo x benefício seria positivo. suas formas arquitetônicas livres, difi-
A figura 1.0 resume o que comentamos. cultando o desenvolvimento pelo con-
ceito tradicional.
3. PROJETOS SHOPPING RIO SUL
A proposta arquitetônica para a nova fa-
IMPULSIONADORES PARA A chada do Shopping Rio Sul, apresentava
PLATAFORMA BIM uma volumetria especial, com superfícies
No processo para implantação do con- curvas de raios variáveis, o que pratica-
ceito BIM em nosso escritório, iniciamos mente impossibilitava o desenvolvimen-
pesquisando o software a ser adotado. to dos desenhos ou projetos utilizando-se
Optamos pelo REVIT, pelo fato de o o AutoCAD. Nesse caso, desenvolvemos
mesmo ser bastante aceito por empre- o projeto utilizando o software Rhinoce-
sas que consideramos como referência ros, bastante utilizado na indústria Naval.
FIG. 1 – ATUAÇÃO NO MERCADO
para os nossos trabalhos. Face ao Rhinoceros ter sido desenvolvido

29
ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL

aprofundar no aprendizado do softwa-


re Revit.
Inicialmente, desenvolvemos o projeto
utilizando o Software AutoCAD, visto
que as estruturas eram simétricas em
torno de um eixo central, porém a ne-
cessidade de estudos diversos para de-
talhes construtivos nos fez concluir que
o conceito BIM era indispensável.
Na figura 4 é mostrada a estrutura mon-
tada. Nas figuras 5 e 6 são apresentados
desenhos desenvolvidos no AutoCAD, e
na figura 7 a árvore é vista através do
modelo desenvolvido no conceito BIM,
empregando-se o software Revit.

ONDA CARIOCA
A cobertura envidraçada Onda Cario-
FIG. 4 – PROJETO EXECUTADO ÁRVORE EMBRAPA
ca, foi idealizada na expansão do centro
comercial “Casa Shopping”, implantada
na sua entrada principal, na Barra da Ti-
juca, na cidade do Rio de Janeiro. Inau-
gurada em 2013, a obra nos possibili-
tou um valioso aprendizado quanto à
utilização do conceito BIM em projetos
de alta complexidade, tanto estrutural
quanto de fabricação, montagem e de
interfaces com outros componentes.
Sob a responsabilidade da empresa
austríaca SEELE, dentro do conceito
BIM, as mais diversas disciplinas e for-
necedores foram competentemente
coordenados. Abaixo, resumimos em
FIG. 5 – PROJETO ÁRVORE EMBRAPA AUTOCAD uma ficha técnica as participantes:
• Construção – SEELE do Brasil;
• Arquitetura – Escritório Israelense NIR
SIVAN;
• Projetos de estruturas de aço e vidro
– Escritório Alemão KNIPPERS HELBIG
GMBH;
• Fabricação das estruturas de aço – Em-
presa Checa
• Fabricação dos painéis de vidro – Em-
presa Chinesa
• Montagem das estruturas de aço – Em-
presa Brasileira
A nossa participação na equipe, se deu
pela exigência de um escritório brasilei-
ro no processo, para validação de pro-
cedimentos e normas empregadas.
Nesse projeto, as interfaces entre os pai-
néis de vidro e as estruturas de aço foram
construídas virtualmente, possibilitando
FIG. 6 – MODELO ESTRUTURAL ÁRVORE EMBRAPA - CONCEITO BIM
uma discussão antecipada de questões
que só seriam apresentadas na ocasião
na plataforma BIM, percebemos clara- ÁRVORE EMBRAPA da construção propriamente dita.
mente as vantagens do referido conceito A “árvore” de aço com “copa” envidra- Foram utilizados quinhentos e três di-
para o tipo de estrutura referida. çada nos deu a possibilidade para nos mensões diferentes de painéis, com me-

30 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


didas de fabricação determinadas em
projeto, demonstrando de forma ine-
quívoca que a compatibilização tão ne-
cessária foi conseguida pelo uso de um
arquivo comum a todos os envolvidos.
Atenção especial foi dada à montagem,
face à forma livre da estrutura exigir
que tensões ou deformações residuais
fossem rigorosamente controladas.

4. FLUXOGRAMA DE
IMPLANTAÇÃO
Considerando que assumimos a utiliza-
FIG. 7 – ONDA CARIOCA - PROJETO EXECUTADO
ção do conceito BIM no nosso escritó-
rio, apresentamos abaixo a forma como
a nossa equipe de cinco engenheiros e
três projetistas passou a adotar o novo
conceito. No nosso entendimento essa
não é uma tarefa fácil, pois constata-
mos que, em muitos casos, diversas
empresas não lograram êxito. Isso se
deve a algo intrínseco ao ser humano,
muito bem resumido pela frase do cé-
lebre economista inglês John Maynard
Keynes – “A dificuldade reside não nas
novas idéias, mas em escapar das ve-
lhas idéias”. Na figura 10, é mostrada a
primeira etapa, em que os usuários são
apresentados à ferramenta:
FIG. 8 – ONDA CARIOCA - ETAPA DE CONSTRUÇÃO

Posteriormente, iniciamos um progra- quívoca que as vantagens apresenta-


ma de treinamento interno bastante das superam quaisquer dificuldades,
sacrificado, em face de termos de fa- principalmente nos dias de hoje em
zer uma transição com trabalhos em que os prazos são cada vez mais redu-
andamento sendo desenvolvidos no zidos e os projetos arquitetônicos, em
conceito convencional. Os prazos sem- muitos casos, de elevada complexida-
pre curtos impediam a migração, pois a de. Resumindo: “O BIM é um processo
remuneração da empresa tinha de ser para planejar, projetar, construir e
observada. Assim, optamos por adotar gerenciar o ambiente construído, en-
a seguinte tática: escolher um projetis- volvendo a criação e uso de modelos
FIG. 9 – FLUXOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO ta e efetivamente afastá-lo do conceito inteligentes 3D”.
PARTE 1
convencional. Começamos então a per- Abaixo destacamos os itens que consi-
ceber que, aos poucos, o referido pro- deramos o grande diferencial na utiliza-
jetista começava a irradiar informações ção do conceito:
aos demais. Com o passar do tempo, a
equipe toda havia adotado o novo con-
ceito. Na figura 11, apresentamos sim-
plificadamente a metodologia adotada
para implantação do conceito.

5. TÓPICOS RELEVANTES
QUANTO A PLATAFORMA BIM:
FIG. 10 – FLUXOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO Após a utilização do conceito BIM, em
PARTE 2 diversos projetos, vemos de forma ine-

31
ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL

6. EXEMPLOS DE MODELOS DESENVOLVIDOS NA PLATAFORMA BIM,


UTILIZANDO O SOFTWARE REVIT:

6.1. Passarela do Centro de Eventos do Ceara – 6.3. Marquise do acesso principal –


55 m de vão: Shopping Bosque dos Ipês – Campo Grande/MS:

PROJETO EXECUTADO

PROJETO EXECUTADO

MODELO BIM

DETALHE BIM

MODELO BIM
6.2. Marquise Principal Shopping Iguatemi – Fortaleza/CE

DETALHE BIM

6.4. Terminal Marítimo – Fortaleza/CE

PROJETO EXECUTADO

PROJETO EXECUTADO

MODELO BIM MODELO BIM

32 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


6.5. Passarela - River Center – 6.7. Fachada Ed. Morumbi Corporate – SP
Empreendimento comercial – Teresina/PI

PROJETO EXECUTADO

PROJETO EXECUTADO

MODELO BIM

DETALHE BIM

6.6. Escada de vidro – Ed.LC Corporate – Fortaleza/CE


6.8. Marquise Principal – Empreendimento
Comercial – RJ (Em desenvolvimento)

PROJETO EXECUTADO

MODELO BIM

MODELO BIM
DETALHE BIM DETALHE BIM

33
ARTIGO TÉCNICO | COLAPSO PONTE SOBRE O MISSISSIPI

COLAPSO DE
PONTE SOBRE O
RIO MISSISSIPI

D
‘‘
POR ANTONIO CARLOS REIS LARANJEIRAS
ecifra-me ou devoro-te”, as- tarde tem três?” Os que não tinham habili-
COLABORAÇÃO DE ANTONIO CAPURUÇO
sim ameaçava a Esfinge, na dade em responder ela estrangulava.
peça de teatro Édipo Rei de Édipo resolveu o enigma: a resposta é
Sófocles, aos que à sua fren- o ser humano, que engatinha nas pri-
te passavam, antes de propor-lhes o seu meiras idades, anda sobre os dois pés
famoso enigma: “Que criatura pela manhã ao crescer, e se apoia em uma bengala,
tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à quando idoso.

FOTO 1 – VISTA AÉREA DA PONTE I-35W (INDICADA PELA SETA)

34 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


FOTO 3 – VISTA INICIAL DA SEQUÊNCIA
DO COLAPSO, OBTIDA POR CÂMERA DE
VIGILÂNCIA INSTALADA EM UMA PEQUENA
BARRAGEM A MONTANTE. NESSA FOTO, VÊ-SE
A TRELIÇA DESCENDO NA REGIÃO PRÓXIMA
AO APOIO, AFASTANDO-SE DA GEOMETRIA
ORIGINAL, EM VIRTUDE DA RUPTURA DA
LIGAÇÃO NO NÓ ASSINALADO COM UM
CÍRCULO. A SEQUÊNCIA DO VÍDEO MOSTRA O
VÃO CENTRAL SEPARANDO-SE DO RESTO DA
FOTO 2 – VISTA DO VÃO CENTRAL DA PONTE I-35W, LADO OESTE ESTRUTURA E CAINDO NO RIO

colapso de toda a estrutura treliçada


com 320 m de comprimento. Um total
de 111 veículos transitava sobre o tre-
cho da estrutura que entrou em colap-
so, dos quais, apenas 17 foram retira-
dos do rio, resultando em 13 mortos e
145 feridos.
Ao lado da ponte I-35W, há uma travessia
mais antiga e mais estreita, com estrutu-
FIG. 1 – ILUSTRAÇÃO DA ESTRUTURA DA PONTE I-35W, COM OS VÃOS DE ACESSO COM VIGAS
RETAS E O TRECHO CENTRAL DE ESTRUTURA TRELIÇADA COM 323 M DE COMPRIMENTO ra em arcos, que aparece em muitas fo-
tos. As fotos a seguir dão vistas da ponte
I-35W antes do colapso.
A solução dos problemas de nossas es- de uma lâmina d’água de 4,5 m de pro- As fotos que seguem apresentam a pon-
truturas guarda estreita semelhança, fundidade. A essa ruptura, seguiu-se o te I-35W após seu colapso.
muitas vezes, com as res-
postas inábeis ao enigma,
que acreditamos corretas,
até que, de repente, surge a
Esfinge à nossa frente e, tra-
gicamente, nos devora.
Essa bem poderia ser a intro-
dução à história do trágico
colapso de uma ponte sobre
o rio Mississipi, nos Estados
Unidos, relatado a seguir.
Às 18 horas, sob inten-
so tráfego de veículos, na
quarta-feira, 1º de agosto
de 2007, a ponte rodoviária
I-35W, inaugurada em 1967,
com 580 m de comprimen-
to e oito pistas de tráfego,
sobre o rio Mississipi, em
Minneapolis, estado de Min-
nesota, sofreu uma ruptura
catastrófica no vão central
com 155 m de treliça metá-
lica, que o fez despencar de FOTO 4 – A PONTE I-35W APÓS O COLAPSO DE TODO O TRECHO COM ESTRUTURA TRELIÇADA, VENDO-SE O
VÃO CENTRAL SEPARADO DO RESTO DA ESTRUTURA, DENTRO DO RIO
uma altura de 32 m dentro

35
ARTIGO TÉCNICO | COLAPSO PONTE SOBRE O MISSISSIPI

FOTO 5 – O VÃO CENTRAL DA PONTE I-35W DENTRO DO RIO

No dia do acidente, tinham lugar ser- O Conselho de Segurança do Transporte de projeto, das placas de ligação (gusset
viços de reparos nas pistas, estando Nacional (National Transportation Safety plates, ver foto 6) dos elementos da tre-
quatro das oito pistas fechadas ao trá- Board) determinou, após extensa e mi- liça que concorrem nos nós U10 (Leste
fego, com máquinas e areia e brita para nuciosa análise, que a provável causa do e Oeste), as quais se romperam sob a
concreto estocadas sobre as pistas blo- colapso da ponte I-35W foi a inadequa- combinação de (1) aumento substancial
queadas. da capacidade de carga, devida a erro do peso da ponte, resultante de modifi-

FOTO 6 – PLACA DE LIGAÇÃO DOS ELEMENTOS DA FOTO 7 – PLACA DE LIGAÇÃO DO NÓ U10W (OESTE) APRESENTANDO
TRELIÇA QUE CONCORREM EM UM NÓ (GUSSET PLATE) ENCURVAMENTOS SOB CARGA

36 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


cações precedentes da estrutura,
como aumento da espessura da
laje, e (2) a carga do tráfego e dos
materiais estocados sobre o ta-
buleiro no dia do acidente.
Segundo o mesmo Conselho de
Segurança, contribuíram para
esse erro de projeto da ponte
I-35W a deficiência do controle de
qualidade por parte do próprio
projetista, que assegurasse o di-
mensionamento adequado das
placas de ligação, e a verificação
insuficiente do projeto por parte
dos órgãos de transporte oficiais,
tanto estaduais como federais.
Ainda segundo o Conselho de
Segurança, contribuíram tam-
bém para o acidente a prática
geralmente adotada nos órgãos
oficiais de transporte federais e
FOTO 8 – IDENTIFICAÇÃO DO NÓ U10W (OESTE)
estaduais ao não dedicar ade-
quada atenção às placas de liga-
ção (gusset plates), durante as inspe- 7. Os responsáveis pela inspeção afirma- no estado, identificando deficiências que
ções, para suas condições de distorção ram que notaram o encurvamento, mas motivaram interdição de tráfego em di-
e encurvamentos, e por excluir as placas julgaram que teria sido causado na fase versas dessas pontes.
de ligação nas avaliações de suas capa- de montagem. Em maio de 2008, duas organizações fe-
cidades de carga. Em outras palavras, A análise das placas de ligação sob as car- derais, a FHWA e a AASHTO instalaram
o projeto e a verificação das placas de gas existentes na ponte I-35W, utilizando uma comissão conjunta com o objetivo
ligação repetiram práticas consagradas os recursos disponíveis em 2007, indicou de desenvolver procedimento dirigido aos
e consolidadas de projeto, de verificação que as placas já se encontravam em es- projetistas de pontes para projeto ade-
e de monitoramento, que se demonstra- coamento nas regiões assinaladas na cor quado das ligações entre elementos me-
ram, no colapso da ponte I-35W, como avermelhada, na figura 2 abaixo. tálicos que concorrem em um mesmo nó.
inadequadas e incorretas. O Departamento de Transportes do Es- Logo após o acidente, o Departamento
Em inspeções realizadas antes do aciden- tado de Minnesota, após o acidente, de- de Transportes do Estado de Minnesota
te, as fotos já indicavam encurvamentos cidiu verificar as placas de ligação das 25 fez revisão de seu Manual de Projeto de
das placas de ligação como mostra a foto pontes metálicas treliçadas, existentes Pontes para incluir a exigência de que to-
dos os projetos de grandes pontes fos-
sem submetidos a revisão independente,
conduzida por uma segunda empresa de
projetos. “Grandes pontes” sendo defini-
das como pontes que apresentam vãos
de 75 m ou maiores. O objetivo declarado
dessa exigência é “especificamente para
reduzir o potencial de erros de projeto
em seus respectivos documentos. “Os
projetos de pontes qualificados como
projetos usuais continuam a ser verifi-
cados pelo próprio Departamento de
Transportes.
O Conselho de Segurança supracitado
identificou que, em 14 estados investiga-
dos, 11 deles reconheceram que projetos
verificados e aprovados se demonstra-
FIG. 2 – VISTA DO NÓ U10W, INDICANDO ENCURVAMENTO DAS PLACAS DE LIGAÇÃO, ram, mais tarde, como ineficientes e com
PROVOCADO PELO DESLOCAMENTO LATERAL DA EXTREMIDADE SUPERIOR DA PEÇA soluções inadequadas.
DIAGONAL. (PARA FACILITAR A VISUALIZAÇÃO, OS ENCURVAMENTOS E DESLOCAMENTO “Decifra-me ou devoro-te”, assim amea-
LATERAL FORAM AMPLIFICADOS 5X)
çava a Esfinge.

37
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

TECNOLOGIA DE
RECUPERACÃO
DE ESTRUTURAS 1

Com forma de rememorar alguns dos importantes temas tratados pela predecessora
da revista Estrutura, vamos reeditar alguns artigos publicado no passado. A ideia é
revisitar assuntos e conceitos técnicos, de forma a que o leitor possa ter uma noção da
situação existente no passado e também perceber as alterações ocorridas ao longo do
tempo. Vale observar que os conteúdos técnicos já sofreram alterações significativas ao
longo do tempo.

1 – APRESENTAÇÃO pressionado pela premência de tempo


ou pela influência de clientes, leigos mui-
Uma das técnicas que mais se tem desen- tas vezes, pode redundar em soluções
volvido na época atual é a de recupera- empíricas, que podem revelar-se inade-
ção e reforço de estruturas. quadas, ineficientes ou antieconômicas.
Entre os fatores que mais influíram no Por falta de um estudo apropriado, em
desenvolvi mento das técnicas de re- que as causas dos defeitos não tenham
cuperação de estruturas foi o advento sido bem analisadas e o programa de
da tecnologia do emprego do concreto execução não tenha levado em conta
projetado, um dos mais importantes re- os processos e os equipamentos ade-
cursos usados para consolidar ou refor- quados, vultosas quantias podem ser
çar estruturas afetadas por defeitos de despendidas sem lograr atingir a meta
proveniências as mais variadas. Para isto, principal, qual a da garantia da seguran-
vale ressaltar o concurso de firmas espe- ça e do bom funcionamento da estrutura
cializadas que vêm com eficiência cada para os fins a que se destina. E não raras
vez maior colocar à disposição dos pro- vezes os defeitos se reproduzem acarre-
jetistas e construtores todo um cabedal tando novas despesas.
de recursos em maquinarias e pessoal al- Vamos apresentar neste trabalho as
tamente treinado para projetar e execu- principais características do emprego do
tar os serviços ligados à recuperação de CONCRETO PROJETADO, o processo re-
estruturas ou à execução de obras espe- volucionário de executar obras especiais
ciais para as quais o concreto tradicional para recuperação, conserto e reforços de
é menos indicado. estruturas, com baixo custo e absoluta
Os engenheiros que até há pouco tempo garantia de segurança.
desconheciam esta nova técnica come-
çam agora a se conscientizar da necessi- 2 – HISTÓRICO
1 Organizado pela equipe da firma CONCRETO dade de recorrer às firmas especializadas.
PROJETA DO RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL
LTDA com base na literatura nacional e
De fato, o encaminhamento do problema Universalmente empregado há mais de 70
estrangeira e experiência própria. de recuperação das estruturas, quando anos com grande êxito, o CONCRETO PRO-

38 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


JETADO, também conheci do sob o nome
de GUNITE, está sendo divulgado em nos-
so País, pois que possibilita a solução mais
técnica e mais econômica – em custos e
prazos – de problemas de difícil resolução
pelos processos tradicionais de lançamen-
to de concreto. Em muitos casos, o CON-
CRETO PROJETADO é a única solução viá-
vel para problemas de recuperação com
garantia de segurança a preço razoável.

1 – APICOAMENTO
3 – DEFINIÇÃO 2 – ARMADURA DE REFORÇO
3 – EQUIPAMENTO PARA CONFECÇÃO DO
O CONCRETO PROJETADO é o concreto CONCRETO
projetado a ar comprimido através de 4 – COLOCAÇÃO DO CONCRETO PROJETADO
canhão próprio, sobre qualquer superfí-
cie de obra existente de concreto ou al-
venaria ou no interior de espaços vazios,
com objetivo de reforçar ou recuperar
estruturas de concreto armado ou outro
qualquer tipo de obra que necessite de
recuperação, consertos ou reforços.

4 – TECNOLOGIA
4.1 – Equipamento
O concreto projetado lança mão, para sua
aplicação, de um compressor de ar compri-
mido com capacidade variando entre 325 e
600 p.c.m., além dos seguintes equipamen-
tos próprios de projeção do concreto:
4.1.1 – Máquinas de câmara dupla para
operação contínua.
4.1.2 – Bomba d’água de alta pressão.
4.1.3 – Mangote de transportes de con-
creto, munido de canhão.
4.1.4 – Mangotes de ar comprimido.
4.1.5 – Mangueiras d’água. de até 60 lbs/pol² no bico de lançamen- Cabe ao operador uma tarefa importante
Embora preferível, pode ser dispen- to (canhão). E, então, adicionada a água do processo, qual seja o controle da água
sada energia elétrica no local da obra, por meio de uma bomba de alta pressão para obtenção correta do fator água/ci-
podendo todo o equipamento funcio- (90 lbs/pol²). Um dispositivo de controle mento (0,35 a 0,55), conforme o tipo de
nar somente a ar comprimido. permite manter um fator água/cimento serviço a executar. Água em excesso,
adequado. Um operador no extremo além de reduzir a resistência à compres-
4.2 – Equipe da linha maneja o canhão, projetando o são do concreto, daria margem ao seu
A equipe a ser utilizada é a que se segue: concreto de maneira contínua, em apli- escorrimento (sag). Água insuficiente, ao
4.2.1 – Operador de máquina. cações sucessivas, sem limite técnico contrário, provocaria excessiva reflexão
4.2.2 – Operador de canhão e ajudantes. de espessura, sobre a superfície que ou ricochete (rebound), acarretando per-
4.2.3 – Serventes para medição, traço e vai receber o concreto projetado. Esta da de material.
carregamento da máquina. aplicação pode ser feita em pisos, su- Durante a operação são importantes a
4.2.4 – Pedreiros e ajudantes para de- perfícies inclinadas ou verticais, ou até distância e o ângulo de incidência do jato,
sempenar as superfícies concreta- mesmo em tetos, onde o concreto adere de modo a assegurar a continuidade da
das, sempre que necessário. perfeitamente, em virtude do baixo fator concretagem e o perfeito envolvimento
água/cimento e da velocidade e pressão da ar mação.
4.3 – Operação com que é projetado.
O concreto, traçado a seco em betonei- Esta qualidade – inerente ao concreto 4.4 – Aspecto final
ra, é conduzido a ar comprimi do através projetado – o recomenda em muitos ca- O concreto projetado dá à superfície tra-
de mangotes de borracha até o local de sos como o único capaz de atender às balhada aparência idêntica à do chapis-
lançamento, propiciando uma pressão exigências do serviço. cado grosso, admitindo, entretanto, sar-

39
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

rafeado, alisado por desempenadeira de to projetado corresponde a um concreto 5.8 – Auto-Sustentação


madeira ou de aço e outros especiais. extremamente seco e, portanto, de alta É a auto-sustentação uma característica
resistência, enquanto que o concreto tra- exclusiva do concreto projetado. Isto faz
4.5 – Dos materiais componentes dicional, não projetado, em pregando es- com que o seu emprego se constitua na
Podem ser usados: ses mesmos agregados, e com o mesmo única solução exeqüível para determina-
4.5.1 – Cimento e areia – para revesti- fator água/cimento, seria tão seco que a dos problemas técnicos, especialmente
mento de pequenas espessuras, ge- sua aplicação seria impraticável, por total no revestimento de estruturas, concreta-
ralmente até 3 cm. ausência de trabalhabilidade. gem de formas especiais e outros.
4.5.2 – Cimento, areia e pedra (diâmetro Por outro lado, as excelentes qualidades É também particularmente recomenda-
de até 3/8” ou 1/2”), para emprego físicas do concreto projetado são devi do na concretagem de paredes verticais,
como concreto estrutural. das aos fatores: especialmente delgadas, onde o concre-
4.5.3 – Cimento e agregados especiais – 5.3.1 – Aplicação a alta velocidade re- to normal encontra dificuldades para
para utilização específica, como, por sultando na rejeição do partes do um perfeito enchimento das formas. Por
exemplo, isolamentos térmicos e material conhecido por “rebound”, ser auto sustentável, ele transmite o seu
acústicos e revestimentos impermeá- enquanto que o concreto normal é peso na vertical, reduzindo a necessida-
veis, refratários, antiabrasivos, resis- simplesmente despejado em formas. de e de escoramento e de formas. Esta
tentes a ácidos, etc. 5.3.2 – A quantidade de água se reduz à qualidade é assaz relevante em paredes
necessária para a hidratação, sem os de grande altura, onde o peso próprio do
5 – PRINCIPAIS QUALIDADES excessos normalmente exigidos para concreto normal gera dificuldades e obri-
a trabalhabilidade do concreto. ga a um escoramento reforçado.
DO CONCRETO PROJETADO
5.1 – Aderência 5.4 – Resistência 6. – ADITIVOS
Inúmeros testes mencionados na litera- Em função do baixo fator A/C, inerente
tura especializada demonstraram a per- ao processo e ao método de aplicação, o Em algumas obras, para atender a de-
feita aderência entre o concreto projeta- concreto projetado apresenta uma resis- terminadas finalidades, ou a condições
do e a superfície sobre a qual é lançado, tência à compressão bastante superior particulares de aplicação, poderá ser
evidenciando que a aderência ao concre- à do concreto normal. É importante as- indicada a inclusão de aditivos específi-
to antigo, alvenaria, revestimento etc., é sinalar a grande resistência do concreto cos do concreto projetado, não devendo,
maior geralmente que a resistência do projetado à tração do que resulta menor então, ser empregados os normalmen-
material sobre o qual se faz a projeção. possibilidade de fissuração. te utilizados no concreto tradicional. O
Assim, ao ser rompida uma peça sobre a mais conhecido, e praticamente o único
qual tenha sido aplicado o concreto pro- 5.5 – Resistência à percolação a ser usado, é o acelerador de pega. Este
jetado, a fratura se dará em outro local Graças ao seus atributos de densidade e aditivo é encontrado no mercado sob
que não o da superfície de contacto en- baixo fator A/C, o em prego do concreto diferentes marcas e, se empregado em
tre os dois materiais. projetado é especialmente indicado na condições corretas, oferece excelente
A aderência do concreto projetado ao percolação em estruturas sujeitas à ação desempenho.
concreto antigo se deve principalmente à de gases destrutivos, álcalis, ácidos ou
velocidade de seu lançamento e do impac- águas agressivas, podendo esta caracte- 7 – APLICAÇÕES
to sobre a superfície do concreto sobre o rística ser ampliada com o uso de aditivos
qual é lançado. Esta aderência também é ou cimentos especiais resistentes a am- O uso do concreto projetado se reco-
conseguida através de um perfeito pre- bientes adversos. menda nas seguintes obras:
paro da superfície sobre a qual ele será 7.1 – Concretagem de estruturas de pou-
projetado, incluindo o corte do concreto 5.6 – Expansão ca espessura.
esboroado ou fissurado e a aplicação de Os testes feitos com o concreto proje-
um jato de areia seguido de lavagem desta tado com provaram que a expansão do 7.2 – Recuperação de estruturas atingidas
mesma superfície, com jato de ar e água. concreto projetado é muito semelhante por incêndio, ou submetidas à ação
à do aço carbono, ensejando um mínimo de águas agressivas, ou expostas por
5.2 – Densidade de fissuração. longo tempo à ação das intempéries.
Devi do à força com que é aplicado, o
concreto projetado possui extrema den- 5.7 – Resistência ao fogo 7.3 – Reforços estruturais em geral.
sidade. Essa densidade lhe dá caracterís- Testes clássicos demonstraram a extraor-
ticas de grande impermeabilidade. dinária resistência do concreto projetado 7.4 – Concretagem de formas especiais:
em caso de incêndio. Ele se comporta cúpulas, superflcies reversas, pisci-
5.3 – Fator água/cimento de modo superior ao concreto conven- nas irregulares, cascas, etc ...
Possuindo o agregado de menor granu- cional, não só por estar menos sujeito à
lometria uma superfície “molhável” muito incidência da calcinação superficial, com 7.5 – Concretagem em locais de difícil
maior do que o agregado graúdo, o fator o por melhor proteger a armação contra acesso ou elevados: galerias, conten-
água/cimento de 0,35 a 0,55 do concre- os efeitos do fogo. ção de encostas, etc ...

40 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


7.6 – Revestimento de túneis. – Fissuras que podem ser estáveis ou 8.4 – Causa dos fenômenos e diagnós-
em desenvolvimento. Para análise de tico das anomalias constatadas
7.7 – Revestimentos protetores contra a uma fissura, é importante verificar Com os estudos feitos nas etapas ante-
propagação do calor e a ação do fogo. sua causa com base na sua posição riores, será emitido parecer indicando as
e na sua abertura. Este fenômeno re- causas dos fenômenos e as ações neces-
7.8 – Revestimento de canais e concreta- quer muita experiência da equipe de sárias para a recuperação. Este parecer
gem de reservatórios. observação. Em certos casos, é preci- conterá o diagnóstico das anormalidades
so pesquisar se a fissura está em de- constatadas.
7.9 – Revestimento em geral e proteção senvolvimento ou é estável, através
de taludes. de colocação de “selos” (chapas de 8.5 – Projeto de recuperação
vidro presas nos extremos com ges- Os serviços de recuperação de uma es-
7.10 – Capeamento protetor e de reforço so). Quando a fissura for capilar (da trutura, para serem eficientes dentro do
de estruturas metálicas. grossura de um cabelo), deve-se me- menor custo possível, devem ser objeto
dir sua abertura com régua graduada de um projeto de que fazem parte:
7.11 – Concretagem de piscinas e reser- de plástico transparente.
vatórios internos ou elevados. – Desagregação ou segregação do – Plano geral dos serviços, sua localiza-
concreto, que pode ocorrer por ção e seus detalhes.
8 – TAREFAS defeito de construção, ou ser prove- – Dimensionamento dos serviços e seus
niente de expansão e esmagamento quantitativos.
INERENTES AO PROJETO devidos a esforços imprevistos, ou
E EXECUÇÃO DE em virtude de oxidação ou dilatação 8.6 – Plano de execução
RECUPERAÇÃO DE da armadura. O plano de execução indicará a natureza
– Deformações anormais, tais como de cada serviço, os equipamentos a se-
ESTUTURAS flechas, recalques e dilatação pro- rem usados e suas especificações.
As tarefas relativas à recuperação de uma veniente de retração ou variação de
estrutura, inclusive consertos e reforços, temperatura. 9 – TECNOLOGIA DE
devem obedecer à seguintes etapas:
1) Vistorias e pesquisas iniciais. 8.3 – Verificação da segurança da obra EXECUÇÃO DO CONCRETO
2) Análise dos fenômenos. existente ARMADO COM O EMPREGO DE
3) Verificação da segurança da obra É importante – antes de iniciar os estu- CONCRETO PROJETADO
existente. dos para determinação das causas dos
4) Causas dos fenômenos e diagnóstico fenômenos e da indicação do diagnóstico O roteiro de execução dos serviços de
das normal idades constatadas. definitivo das anormal idades – estudar a recuperação estrutural é o que se segue:
5) Projeto de recuperação. segurança da obra existente para julgar a
6) Plano de execução e especificações. necessidade de obras de reforços e emi- 9.1 – Identificação das zonas de concreto
tir parecer sobre os perigos a que a obra calcinado, desagregado, segregado ou
8.1 – Vistoria e pesquisas iniciais pode estar sujeita. afetado pela oxidação da armadura.
A vistoria da obra tem por objetivo o le- A verificação da segurança da obra exis-
vantamento das anomalias com a inspe- tente deve ser feita por processos espe- 9.2 – Identificação das zonas fissuradas.
ção visual e com a realização de pesquisas ciais diferentes daqueles que servem de
complementares para um perfeito levan- base para o projeto. 9.3 – Recuperação por meio de solda-
tamento da estrutura existente, inclusive É necessário levar em conta que a obra gem, colagem ou justa posição da fer-
através de sondagens para verificar os existente pode ter sofrido a influência ragem deformada ou oxidada; a fim
diâmetros e posição das armaduras. dos fenômenos de adaptação plástica de se reconstituir a seção original da
Nesta etapa, recorre-se aos projetos da devidos a seu estado anormal, o que armadura.
obra original sempre que possível. leva a estudar a segurança através de
métodos especiais com base na segu- 9.4 – Aplicação de jato de areia de alta
8.2 – Analise dos fenômenos rança global, levando-se em conta o intensidade, a fim de preparar as su-
É de suma importância uma análise dos funcionamento em regime plástico ou perfícies a serem recuperadas.
fenômenos e de suas causas por pessoal de ruptura.
técnico especializado e experiente. Nesta Estes estudos indicarão a necessidade ou 9.5 – Colagem das fissuras, inclusive com
etapa, é avaliada a gravidade de cada fe- não de reforços em cada um dos elemen- uso de injeção de resina epoxy.
nômeno e organizada uma planilha deta- tos da estrutura existente e podem re-
lhada indicando a natureza de cada ano- presentar um subsídio importante para o 9.6 – Aplicação de concreto projetado, a
malia constatada. projeto de recuperação, levando muitas fim de recompor a seção original das
vezes a um menor custo na execução dos peças estruturais com ou sem os re-
As anomalias mais comuns nas estru- reforços, que devem restringir-se àque- forços que forem indicadas no proje-
turas são: les absoluta mente necessários. to de recuperação.

41
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

10 – RECOMENDAÇÕES feitas após o endurecimento das ca- 12.3 – Execução de andaimes e escora-
madas principais, isto porque elas se- mento
ADICIONAIS rão submetidas ao desempeno, que, Por ser desnecessário o enchimento das
10.1 – Deve-se sempre empregar um tra- se aplicado a camadas ainda frescas, formas pela parte superior, grande par-
ço para o concreto de recuperação poderá provocar deslocamentos in- te dos andaimes pode ser eliminada. O
com qualidade compatível com a es- ternos do concreto não perceptíveis. peso próprio do concreto, projetado é re-
trutura original (mesma resistência). sistido principalmente pela armação. E o
11 – TECNICAS PARALELAS escoramento será bem mais leve do que
10.2 – Durante a execução, deverão ser o exigido pelo concreto comum.
retiradas todas as camadas porven- A EXECUÇÃO DA
tura existentes de concreto calcina- RECUPERAÇÃO COM 12.4 – Retirada das formas
do, segregado ou desagregado. CONCRETO PROJETADO A redução das formas acarreta logica-
mente a correspondente redução da
10.3 – A recomposição da armação deve Paralelamente à execução com concreto operação de desmontagem.
ser feita principalmente por solda- projetado, podem-se usar as seguintes
gem. Entretanto, nos casos de arma- técnicas: 12.5 – Chapisco e acabamento
ção com ferros encruados a frio, tipo O próprio acabamento do concreto pro-
TORSTHAL, o calor da solda pode re- 11.1 – Recuperação com colagem epó- jetado permite a aplicação do revesti-
duzir a resistência adicional devida ao xica. mento, sem necessidade de chapisco ou
encruamento a frio. Através de técnica emboço.
especial de soldagem, com baixa tem- 11.2 – Encamisamentos.
peratura, pode-se conseguir bons re- 12.6 – Encamisamento
sultados sem perda de resistência. Em 11.3 – Injeção de fissuras. Pela grande aderência entre o concreto
casos específicos, pode ser emprega- projetado e a superfície sobre a qual é
da também a colagem epóxica. 11.4 – Reforços diversos. lançado, dispensa-se na maioria das ve-
Quando se usa camada de concreto zes encamisamento, evitando aumento
adjacente ou encamisamento, as arma- 11.6 – Revestimentos de argamassa, de volume e peso. Encamisamentos de
duras previstas nestes reforços são in- capeamentos com concreto proje- pequena espessura podem ser usados
corporadas por aderência e, na maioria tado, revestimentos especiais. com muita eficiência na recuperação com
das vezes, não precisam ser soldadas ao concreto projetado.
concreto ou às armaduras existentes. 12 – VANTAGENS
12.7 – Impermeabilização
10.4 – A qualidade do jato de areia deve ECONÔMICAS NO EMPREGO A elevada densidade decorrente do pro-
ser comparável à que se utiliza numa DO CONCRETO PROJETADO cesso de aplicação faz com que se obte-
chapa para acabamento com jatea- nha, com menor espessura, um concreto
mento abrasivo no metal branco, afim A aplicação do concreto projetado permi- praticamente impermeável, dispensan-
de proporcionar uma perfeita ade- te a economia de custos e de prazos das do-se serviços especiais de impermeabi-
rência. A limpeza posterior ao jato de seguintes ações: lização, salvo em casos especiais.
areia também tem que ser feita com
jato de ar e água bastante intenso, ca- 12.1 – Transporte do concreto 12.8 – Energia elétrica
paz de retirar toda a camada “gomo- Com o concreto projetado vencem-se A instalação do equipamento no local da
sa” que fica sobre o concreto. distâncias de até 250 m na horizontal e obra independe de ligação de energia
desníveis de até 150 m, sem necessidade elétrica, o que possibilita o imediato iní-
10.5 – A aplicação do concreto projeta- de andaimes, rampas ou plataformas, fa- cio dos trabalhos.
do deve ser feita por um operador cilitando, assim, e tornando mais rápido o
altamente qualificado e utilizando trabalho em locais de difícil acesso. 13 – CONCLUSÕES
máquina capaz de lançar concreto de
quantidades variáveis, pois em geral 12.2 – Execução de formas Todas as vantagens que acabam de ser enu-
as peças têm pequenas espessuras. Devido à auto-sustentação do concre- meradas mostram que o uso do concreto
Assim, na maior parte das vezes, é to projetado, torna-se dispensável pelo projetado resulta em economia de tempo e
preciso lançar quantidade pequena menos um lado das formas, proporcio- de dinheiro, além das vantagens técnicas, já
de concreto. Somente uma máquina nando um mínimo de 50% de econo- consagradas na prática. Assim, temos a cer-
que permita variar a quantidade de mia. Em muitos casos, a forma pode teza de que, ao recomendarmos o emprego
material poderá executar satisfato- ser totalmente suprimida, como ocorre adequado do concreto projetado, estamos
riamente serviços de recuperação. na concretagem de paredes, nas recu- apresentando a solução mais econômica,
perações estruturais e principalmente mais rápida e eficaz aos técnicos e constru-
10.6 – As últimas camadas de revesti- em muros de arrimo e em reservatórios tores para os serviços de recuperação, con-
mento para acabamento deverão ser subterrâneos. serto e reforços de suas estruturas.

42 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


NOTAS E EVENTOS

PRÊMIO TALENTO
COMPLETA 15 ANOS
PREMIAÇÃO SE CONSOLIDA COMO UMA DAS MAIS IMPORTANTES
DA ENGENHARIA BRASILEIRA

C
riado em 2003 na gestão do to, também a tecnologia aplicada e o alto
engenheiro Júlio Timerman à grau do desenvolvimento da engenharia
frente da ABECE, o Prêmio Ta- estrutural brasileira sem aferir a seguran-
lento se consolidou, ao longo ça da estrutura”, comenta o engenheiro
desses anos todos, como uma das mais João Alberto de Abreu Vendramini, vice-
importantes premiações da engenharia -presidente da ABECE.
brasileira, ao reconhecer e valorizar as O Gerente de Marketing Construção Ci-
realizações de dezenas de projetistas de vil da Gerdau, Marcelo Chang Baldino,
estruturas. Fruto de uma parceria entre considera a valorização do engenheiro
a Gerdau e a ABECE, o Prêmio tem como como um dos pilares de maior relevância
objetivo principal incentivar os profissio- para o sucesso da premiação. “O prêmio
nais que desenvolvem projetos de desta- reconhece e valoriza um profissional fun-
que na engenharia estrutural do País. damental na construção civil, que é o en-
Apesar de já existir no país vá- genheiro de estruturas. É ele quem con-
rias premiações na área cebe e estabelece o que a estrutura irá
da construção, ne- suportar em cada uma das construções,
nhuma era especifi- sendo responsável direto por sua segu-
camente focada no rança, viabilidade técnica e econômica.
trabalho do enge- Este é o reconhecimento que buscamos
nheiro de estruturas. alcançar com o prêmio, ao divulgar os
“O Prêmio confere profissionais e suas soluções criativas de
aos agraciados uma engenharia estrutural em obras de todos
valorização sem os portes e para todas as finalidades”, co-
igual em qualquer menta o executivo.
outra premiação No início, o objetivo era testar o concei-
assemelhada na to e a receptividade – o primeiro prêmio
construção civil contou com apenas 10 inscritos, porém
brasileira. Reco- já eram projetos de excelência e relevân-
nhece, além do mé- cia técnica. Com o passar do tempo, seu
rito do trabalho bem fei- formato foi sendo ampliado, com a cria-

43
NOTAS E EVENTOS

ção de novas categorias. Em toda sua


trajetória já avaliou, aproximadamente,
1.300 projetos, dos quais 40 foram pre-
miados. Os organizadores acreditam
que toda a longevidade da premiação,
assim como a credibilidade conquistada,
resulta da seriedade e do respeito pelos
trabalhos inscritos.
“Certamente que nessa caminhada tivemos
acertos e desacertos, e alguns profissionais
não ficaram satisfeitos com o resultado,
contudo a transparência e a retidão da
conduta de todos os envolvidos no proces-
so garantiram a possibilidade de termos
chegado a esta 15ª edição, a qual espera- ASPECTOS COMO CONCEPÇÃO ESTRUTURAL DAS OBRAS SÃO CONTEMPLADOS
PARA A ESCOLHA DOS PREMIADOS
mos, seja marcada por um sucesso”, con-
clui Vendramini.
Outro fator importantíssimo para a lon- categorias. Na de Infraestrutura, são Industrializada que considera estruturas
gevidade do Prêmio é a evolução do contemplados projetos estruturais volta- pré-fabricadas, estruturas pré-moldadas
profissional de engenharia de estrutura dos para a área pública (exceto edifícios), de canteiro, estruturas metálicas, etc.
brasileira, que é altamente qualificado, tais como aeroportos, cais, túneis, termi- Entre os aspectos avaliados em todas
com capacidade técnica, criatividade e nais, pontes, viadutos, passarelas, obras as categorias estão o uso adequado
uma resiliência espetacular. “O engenhei- de saneamento, portos, barragens, etc. de materiais, a economia de insumos,
ro de estruturas merecia uma ação à altura Em Edificações são consideradas as es- a concepção estrutural, a implantação
de suas realizações. Em todas as edições, truturas destinadas a utilização residen- harmônica em relação ao ambiente, os
demos o melhor na condução o Prêmio cial, comercial, escolar, industrial, entre processos construtivos, a originalida-
Talento Engenharia Estrutural. O resultado outras, com área construída maior que de, a beleza e a criatividade. Além dos
deste processo é o grande reconhecimento 3.000m2. Outra categoria é a de Obras de vencedores de cada categoria, são es-
do meio técnico, a importante representati- Pequeno Porte, que aprecia as estrutu- colhidas ainda o Destaque do Júri e um
vidade e a valorização que sempre busca- ras residenciais, com área construída de projeto no quesito Sustentabilidade,
mos para os profissionais. Esta é a missão até 3.000 m2. que recebem menções honrosas, assim
do Prêmio”, complementa Baldino. A quarta categoria do Prêmio Talento é a como uma obra escolhida pelo público
A qualidade desse profissional gera um de Obras Especiais, que engloba projetos na votação online.
dos maiores desafios do Prêmio e acen- estruturais com sistemas construtivos A solenidade de entrega da premiação,
tua o trabalho da comissão julgadora, específicos e diferenciados como antenas que em 2017 acontecerá no dia 28 de se-
composta por quatro membros indicados de telecomunicações, esculturas, monu- tembro, após o ciclo de palestras do ENE-
pela ABECE, três indicados pela Gerdau e mentos, reforços estruturais, obras de CE – Encontro Nacional de Engenharia e
um indicado pela Editora Pini. Atualmen- “retrofiting”, coberturas, etc. Por fim, te- Consultoria Estrutural, já se tornou um
te, a premiação está dividida em cinco mos a categoria denominada Construção evento anual incorporado ao calendário
de atividades. Um grande público, pro-
veniente de diferentes regiões do país, é
atraído pela cerimônia de premiação, que
acabou, ao longo dos anos, se transfor-
mando também num ponto de encontro
obrigatório de engenheiros, projetistas e
demais envolvidos com a engenharia bra-
sileira. Além dos profissionais da área de
estrutura, a solenidade também é presti-
giada pelas principais lideranças setoriais
da engenharia brasileira, como presiden-
tes e diretores das demais entidades re-
presentativas do setor.
As inscrições do Prêmio Talento Enge-
nharia Estrutural 2017 poderão ser fei-
tas a partir de 30 de abril.
Participe, inscreva seu projeto!!!
NOS SEUS 15 ANOS DE EXISTÊNCIA, PRÊMIO TALENTO AVALIOU CERCA DE 1.300 Maiores informações em:
PROJETOS, PREMIANDO 40 DELES www.abece.com.br

44 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


WORKSHOP MOMENTO ATUAL DO MERCADO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

ABECE DEBATE O CENÁRIO ECONÔMICO ATUAL


E SEUS IMPACTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
S
empre atenta à conjuntura eco- madores de opinião e profissionais da Brasil. O encontro, está agendado para
nômica e seus efeitos sobre a área para debater e detalhar aspectos dia 17 de maio de 2017, das 13h30 às
construção civil e a engenharia da visão atual do cenário econômico, 19h, no Milenium Centro de Conven-
brasileira, a ABECE decidiu promover o seus impactos na atividade da constru- ção, na rua Dr. Bacelar, 1040, em São
Workshop Momento Atual do Mercado ção e da engenharia, assim como tra- Paulo/SP.
da Construção Civil. Reunindo execu- çar algumas perspectivas para o curto, Informações e inscrições no
tivos do setor de construção civil, for- médio e longo prazos no segmento no www.abece.com.br

WORKSHOP fib MC2020

BRASIL SERÁ SEDE DE WORKSHOP SOBRE


O MODEL CODE 2020 DA FIB
O
20º ENECE – Encontro Nacio- a engenharia nacional, não só partici- Júnior; e o presidente da fib, Hugo Cor-
nal de Engenharia e Consulto- parmos de palestras de importantes res Peiretti. Também devem integrar a
ria Estrutural, a ser promovi- temas, mas também debatermos as programação, Stucchi, além de repre-
do pela Abece no dia 28 de setembro, principais questões que envolvem as sentantes da América Latina. Estão
terá um atrativo adicional neste ano. estruturas de concreto”, diz Íria Do- previstos temas como: Visão Geral do
O dia seguinte, 29 de setembro, foi niak, presidente-executiva da ABCIC, fibMC2020, que pretende integrar es-
reservado para o Workshop Model que acrescenta que o novo código en- truturas novas e já existentes; Concre-
Code 2020, uma iniciativa da fib (In- globará ainda as estruturas existentes, to de Ultra Alta Resistencia; Confiabili-
ternational Federation for Structural além da revisão e atualização do con- dade das estruturas Novas e para as
Concrete), em conjunto com a ABECE teúdo para novas estruturas. Existentes; Robustez e Resiliência; Pro-
– Associação Brasileira de Engenharia A programação final do Workshop jeto em áreas Sísmicas; Manutenção e
e Consultoria Estrutural e ABCIC – As- deverá ser submetida à direção da Intervenções ao longo da Vida Útil; e
sociação Brasileira da Construção In- fib. O Grupo brasileiro foi formalmen- Sustentabilidade, entre outros.
dustrializada de Concreto, entidades te constituído em reunião realizada O cronograma de desenvolvimento
que constituíram o Grupo Nacional na sede da ABECE, em São Paulo, no do Model Code 2020 também foi co-
especialmente para a realização do início de março, e a definição dos tó- mentado pelo presidente da fib, Hugo
Workshop. picos, assim como dos nomes dos Corres na longa entrevista concedida
“Como o Model Code 2020 é o docu- conferencistas, também conta com a à ESTRUTURA (página 6). Segundo
mento mais importante da fib e nós colaboração da engenheira Íria, que, Corres, o Workshop a ser realizado no
participaremos de sua elaboração, a assim como Stucchi, tem tido uma Brasil, faz parte de uma série de ou-
ideia é que se discuta as realidades atuação destacada na direção mun- tros, programados em diversos paí-
encontradas na engenharia do Brasil dial da fib. No caso de Íria, ela foi, in- ses, e deve culminar com o Congresso
e da América Latina”, explica Fernan- clusive eleita pela assembleia geral da da fib a ser promovido em Melborne,
do Stucchi, integrante da Comissão 10 fib para fazer parte do Presídium, o na Austrália, em 2018, onde deverão
da fib, grupo responsável pelo desen- órgão gestor da entidade, pelos pró- ser apresentados os primeiros resul-
volvimento do Código Modelo – FIB- ximos quatro anos. tados dos vários workshops.
MC-2020, além de ser o coordenador Embora ainda dependa de confirma- O Grupo Nacional conclama a que to-
do Grupo Nacional e representante da ção da disponibilidade das agendas dos os profissionais participem dos
América Latina na elaboração do MC dos convidados, alguns como nomes debates e espera receber comentários
2020. “É uma oportunidade ímpar de estão certos para a abertura do Work­ e sugestões para que, com represen-
termos no país renomados profissio- shop. Além da própria Íria, o presiden- tatividade nacional, possa levar as con-
nais internacionais e, juntamente com te da ABECE, Jefferson Dias de Souza tribuições brasileiras ao novo código.

45
O QUE ELES QUEREM DE NÓS | COMO É UM ENGENHEIRO DE SUCESSO

CARACTERÍSTICA
DE UM ENGENHEIRO
DE ESTRUTURAS DE
SUCESSO
Q
POR JOHN G. TAWRESEY S.E. (*) uando eu tinha 12 anos, tal- devemos ter algum consenso sobre
KPFF CONSULTING ENGINEERS
vez até antes, eu sabia que o significado do sucesso. Restringir o
SEATTLE, WASHINGTON USA
ia ser engenheiro estrutu- significado do sucesso ajudará signi-
ral. Não sei como isso acon- ficativamente a reduzir a discussão e
teceu. Não era a influência de meu pai, nos conduzirá por um caminho rela-
ele era um advogado e minha mãe tivamente bem marcado e percorri-
artista. Talvez fosse porque o pai de do, sendo objeto de muitos estudos e
meu pai era um arquiteto da marinha, artigos anteriores. Vamos tentar uma
uma profissão que exigia mais conhe- definição simples. Um engenheiro es-
cimento de engenharia estrutural do trutural bem-sucedido é um profissio-
que arquitetura. No entanto, ele fale- nal que projeta estruturas que não fa-
ceu antes de eu nascer. Considerando lham. Ou, expandindo a definição para
todos os fatores, devo concluir que o incluir alguns critérios adicionais, um
desejo de ser um engenheiro estru- engenheiro estrutural bem-sucedido
tural, de alguma forma, era inato. Eu é aquele que projeta estruturas custo
sempre tive a capacidade de entender efetivo que não falham ou, além disso,
a influência da gravidade sobre as coi- um engenheiro estrutural bem-su-
sas que resistem e eu poderia visuali- cedido é quem projeta estruturas
zar a estrutura por trás de uma pare- que são criativas e duradouras. Se-
de sem realmente vê-la. Talvez essas gue-se que as estruturas duradouras
habilidades são pontos essenciais na não falham.
construção de um engenheiro estru- Muitas vezes eu ouço, geralmente lá
tural bem-sucedido, mas agora, sendo do fundo da sala, que ser um enge-
mais velho, experiente e aposentado, nheiro estrutural bem-sucedido sig-
sei que vai além disso. A parte que não nifica ganhar muito dinheiro. Talvez
é inata é o assunto dos parágrafos a seja verdade, mas você pode fazer um
seguir. Exploraremos algumas das ca- monte de dinheiro gerenciando uma
racterísticas de um engenheiro estru- empresa de engenharia estrutural,
tural bem-sucedido, classificado em sem exercer engenharia. Você pode
categorias de conhecimento, habilida- ganhar muito dinheiro, aplicando prin-
de e posturas. cípios de engenharia estrutural para
Antes de navegar através do labirinto investir no mercado de ações, ou ou-
de conhecimentos necessários, ha- tros empreendimentos de negócios.
bilidades e posturas ligadas a ser um Em vez disso, gosto de pensar que o
engenheiro estrutural de sucesso, dinheiro é uma consequência de pro-

46 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


jetar estruturas criativas, econômi-
cas e duradouras.
Outra frequente métrica utilizada para
o sucesso é ter clientes satisfeitos,
receber prêmios ou reconhecimen-
to de seus pares. Estes são objetivos
nobres, mas novamente eles são as-
pirações realizáveis como consequên-
cia de projetar estruturas criativas,
econômicas e duradouras.
Agora que o sucesso está definido, as
características dos engenheiros estru-
turais, relacionadas ao sucesso, e clas-
sificadas em conhecimento, habilidade
e posturas, podem ser discutidas.
Primeiro conhecimento. O conheci-
mento é em grande parte cognitivo,
da mente, e consiste de teorias, prin-
cípios e fundamentos. Exemplos de
conhecimentos necessários para um
engenheiro estrutural bem-sucedido
incluem o conhecimento de geome-
tria, cálculo, vetores, atrito, tensão e
deformação, energia, continuidade e
variabilidade.
O conhecimento da engenharia estru-
tural não é muito antigo. Apenas 250
anos atrás, com base no pressuposto
de que as seções planas permanecem
planas, Leonhard Euler e Jacob Ber-
noulli, acadêmicos que fizeram con-
tribuições consideráveis para o cam-
po da matemática, criaram a teoria
de viga de Euler-Bernoulli. Na época,
os engenheiros duvidavam da teoria.
Eles não acreditavam que os acadê-
micos pudessem contribuir para o
conhecimento dos engenheiros, parti-
cularmente os acadêmicos que traba-
lham no campo da matemática. Mas,
a teoria foi comprovada com o projeto
e construção da Torre Eiffel, e a enge-
nharia estrutural, como a conhecemos
hoje, nasceu.
A equação de Euler-Bernoulli, My/ I, é bem-sucedido precisa de habilidades, lidades necessárias de um engenheiro
bem conhecida e compreendida por além de conhecimento, para projetar estrutural bem-sucedido mudaram ra-
todos os engenheiros estruturais. Um estruturas. Por exemplo, os engenhei- pidamente nos últimos anos.
engenheiro estrutural bem-sucedido ros estruturais de hoje precisam da Por último: postura. Postura significa as
pode desenvolver ou derivar a equa- habilidade para executar programas maneiras que uma pessoa pensa e sen-
ção a partir dos pressupostos funda- de computador, converter conceitos te em resposta a um fato ou situação.
mentais. Essa não é uma habilidade de mecânica simples em planilhas fun- As posturas refletem os valores de um
ou uma postura. É conhecimento que cionais [substituindo a calculadora e indivíduo. Como ele “vê” o mundo, não
consiste em teorias, princípios e fun- a regra de cálculo] e desenvolver mo- em termos de visão, mas em termos de
damentos, e é aprendido. delos de elementos finitos para distri- percepção, interpretação e aproxima-
Próxima característica: habilidade. buir cargas globais. E, para comunicar ção. Exemplos de posturas são descri-
Habilidade é a capacidade de executar desenhos, eles precisam da habilidade tos usualmente por termos familiares à
tarefas. Não é cognitivo como o conhe- de usar programas de desenho auxi- maioria, como impetuoso, comprometi-
cimento. Um engenheiro estrutural liado por computador (CAD). As habi- do, persistente, arrogante, etc.

47
O QUE ELES QUEREM DE NÓS | COMO É UM ENGENHEIRO DE SUCESSO

Relacionar as posturas com o sucesso culo de engenharia como uma das Aprendizagem contínua e curiosidade
da engenharia estrutural não é fácil, ferramentas essenciais na caixa de proporcionam ao engenheiro o co-
provavelmente porque é o menos es- ferramentas de um engenheiro es- nhecimento para compreender o nível
tudado. Mas ter postura é provavel- trutural. No entanto, um engenheiro de qualidade e detalhe exigido para o
mente a característica mais importan- estrutural bem-sucedido precisa de projeto. Essa é uma parte crítica do
te a considerar. mais conhecimento para projetar com sucesso. O projeto de uma asa para
Ao contrário do conhecimento e das sucesso uma viga, ou mais apropriada- um avião comercial requer um nível
habilidades, as posturas de um enge- mente, precisa saber quando as equa- diferente de qualidade e detalhe do
nheiro não podem ser medidas con- ções de Euler-Bernoulli simplificadas que uma terça típica [exceto, talvez,
tra algum padrão definido. Qualquer não se aplicam mais. uma terça em forma de Z em um edi-
tentativa de fazê-lo provavelmente Em 1922, Stephen Timoshenko expan- fício em estruturas metálicas]. O nível
falhará, pois, qualquer padrão será diu a equação de Euler-Bernoulli para de qualidade e detalhe exigido para o
subjetivamente criado e levará consi- incluir deformação por cisalhamento. projeto determina as ferramentas a
go muitas ambiguidades. O comportamento de vigas curtas, vi- serem empregadas [Euler-Bernulli ou
As posturas podem ser ensinadas? gas compostas e vibrações de vigas, Timoshenko] e tomar a decisão corre-
Alguns respondem a esta pergunta, pode não ser adequadamente previs- ta é a chave para ser bem-sucedido.
“não” e outros respondem, “sim”. Mas, to sem a consideração da deformação Mais do que no passado, os engenhei-
podemos ensinar e orientar sobre por cisalhamento. No entanto, a ex- ros estruturais de hoje trabalham em
um ambiente nebuloso onde os princí-
pios fundamentais da mecânica estão
escondidos da vista. Eles estão ocultos
dentro das ferramentas codificadas que
estão sendo usadas, geralmente inten-


cionalmente ocultas à vista por razões
empresariais proprietárias. É quase im-
possível para um engenheiro extrair da
A característica que melhor documentação do software até mesmo
do código do programa as suposições
se correlaciona com ser necessárias para determinar o nível
um engenheiro estrutural apropriado de qualidade e detalhe.
Para não ser desencorajador, essa não
bem-sucedido é a curiosidade


é uma situação sem esperança. Os
engenheiros precisam fazer o que os
engenheiros de sucesso fazem, seja
curioso. Quando confrontado com
uma nova ferramenta de projeto, ex-
perimente. Crie modelos simples que
forneçam visibilidade nas suposições
fundamentais feitas. Experimente
os limites das entradas do progra-
posturas, assim como podemos ensi- pansão de Timoshenko na equação de ma. Encontre a fraqueza. Isso exigirá
nar e orientar sobre qualquer assun- viga de Euler-Bernoulli muitas vezes geralmente mais conhecimento dos
to. A questão essencial é: “As posturas não é ensinada no currículo de gradua- fundamentos da mecânica do que no
podem ser aprendidas?” A maioria, ção ou se ensinada não é lembrada. passado. Aplique os fundamentos e
particularmente os membros seniores A história da teoria de viga serve como observe a resposta. Isso pode ser de-
da profissão, observaram que as pos- exemplo. Observa-se que os enge- morado, mas se você é curioso, deve
turas mudam e acreditam que as pos- nheiros estruturais bem-sucedidos ser divertido.
turas podem ser aprendidas e evoluir exibem uma paixão pelo aprendiza- Em resumo, é minha opinião que a ca-
com a prática e a experiência. do contínuo e o aprendizado contí- racterística que melhor se correlacio-
Agora que temos um esqueleto con- nuo quase sempre se correlaciona na com ser um engenheiro estrutural
ceitual e algumas características iden- com uma postura de ser curioso. En- bem-sucedido é a curiosidade, levan-
tificadas, qual característica melhor se genheiros estruturais bem-sucedi- do a uma postura de aprendizagem
correlaciona ao sucesso como enge- dos querem saber por que e como, e contínua e experimentação.
nheiro estrutural? muitas vezes irritam os outros com a
Nós já reconhecemos que a compreen- sua persistência para expandir a dis- (*) Tradução: Guilherme Parsekian
são da equação de Euler-Bernoulli é cussão para questões, percebido pelo A versão em inglês do artigo está
conhecimento necessário, provavel- ouvinte como não relacionados com o disponível em
mente aprendido no início do currí- problema em questão. abece.com.br/pdf/JournalArticle-gap.pdf

48 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


NORMAS TÉCNICAS | NBR 6122

REVISÃO DA
ABNT NBR 6122:2010
PROJETO E EXECUÇÃO
DE FUNDAÇÕES

E
POR: FREDERICO F. FALCONI m 25 de outubro de 2016, com demanda pela incorporação das tecno-
TIAGO G. RODRIGUES
JAIME D. MARZIONNA orientação da ABNT, formou-se a logias e conhecimentos desenvolvidos
IVAN GRANDIS comissão CE-002:152.008 (Comis- nos últimos anos e alguns ajustes quanto
MARIO CEPOLLINA
são de Estudos de Obras Geotéc- aos critérios de projeto, principalmente
nicas e de Fundações) para o estudo e no que tange a fatores de segurança par-
revisão da NABNT NBR 6122:2010 – Pro- ciais, previsão de recalques e interação
jeto e Execução de Fundações. A insta- solo-estrutura.
lação dessa comissão foi iniciativa da Um dos aspectos que fomentou um novo
ABEF, com apoio das associações ABMS olhar sob os parâmetros de projeto, foi a
e ABEG, fruto do estímulo da ABNT para sistêmica avaliação do desempenho das
que cada cinco anos, se faça a revisão fundações por meio das provas de car-
das normas vigentes de maneira a atua- ga em estacas, que antes da revisão da
lizá-las técnica e cientificamente, aten- norma em 2010, restringia-se apenas às
dendo assim as demandas da sociedade, obras de grande vulto. A evidência deste
com a necessidade de revisão pontual de fato pode ser percebida nas pesquisas
aspectos da mencionada norma, após acadêmicas, congressos e simpósios de
seis anos de sua vigência e utilização pelo fundações. Somente no SEFE8, organiza-
meio técnico. do pela ABEF em 2014, aproximadamente
Participam da revisão da norma além das 70% dos trabalhos apresentaram provas
já mencionadas associações, represen- de carga estáticas e ensaios de carrega-
tantes da ABCP, da ABESC, do Ibracon, mento dinâmicos, seja na aplicação dos
além de instituições de ensino, empresas métodos de previsão de capacidade ou
de projeto e de execução de fundações em cases de obra, possibilitando um co-
e de ensaios geotécnicos e profissionais nhecimento mais apurado da qualidade e
liberais do segmento. Não há previsão do desempenho destas fundações.
para conclusão da revisão, mas se pre- Nas cinco reuniões de periodicidade
tende que seja rápido, tendo em vista quinzenais já realizadas foram abordadas
que a demanda é por alguns pontos bem uma série de questões, por exemplo, o
definidos, porém o prazo máximo de du- travamento de estacas isoladas, compa-
ração do processo de revisão é, em prin- tibilização das provas de carga sobre es-
cípio de dois anos. tacas com a necessidade de ensaio para
Dentre as motivações técnicas para a liberação de sapatas, entre outros. Este
revisão da norma podemos apontar a assunto será abordado mais à frente,

49
NORMAS TÉCNICAS | NBR 6122

mas parece consenso que é importante te a utilização do método de valores de não falamos em efeitos de 2ª ordem que
colocar a exigência em fundações diretas cálculo. A elaboração de um projeto to- vem se ouvindo regularmente em artigos
ou rasas no mesmo nível das estacas. talmente integrado de infra e superes- e seminários. Em recentes reuniões en-
Um importante ponto de discussão foi trutura ainda é complexa, segundo nos- tre a ABECE e a comunidade geotécnica,
o dimensionamento das fundações pelo so entendimento. É algo que exigirá mais representada pela ABMS e ABEG, ficou
método de valores admissíveis e de valo- tempo para a área de fundações. Em combinada uma apresentação única dos
res de cálculo. Enquanto que o primeiro 2010, pensou-se em deixar duas alter- esforços, mas que não vem sendo segui-
é o tradicional, larga e amplamente utili- nativas de dimensionamento para que a da por todos os projetistas.
zado, e que aplica um fator de segurança migração ocorresse gradativamente, até Parece que os seis anos decorridos da
global à carga de ruptura, o segundo tra- que se consagrasse o método de valores publicação não foram suficientes para a
ta de estados limites que aplica fatores de cálculo, entrando o método tradicio- consagração de um método sobre o ou-
de segurança parciais e é o utilizado nas nal em valores admissíveis em desuso. tro, ensejando mais tempo em vigor das
normas de estruturas. Há também a forma como se recebem duas possibilidades, até que no futuro
Acredito que devemos migrar para o cál- os esforços dos projetistas de estrutu- possa caminhar juntos: estrutura e fun-
culo por valores, visto que o problema ras. Alguns apresentam extensas com- dações. Existe também uma diferença
das fundações é antes de recalque do binações de cargas em estados limites entre definições que ocorreu pela não
que de ruptura. Independente do enten- últimos, outros apresentam esforços participação de projetistas estruturais
dimento do problema, não se dispõe de característicos totais na fundação, e ain- na elaboração da norma anterior. Hoje
uma ferramenta consistente, poderosa e da outros que apresentam as cargas em contamos com apoio por enquanto não
de domínio, como se tem na área de es- seus valores característicos, separadas presencial, de projetistas ajudando na
truturas, para que se possa levar adian- em permanente, acidental, vento, etc. E discussão.

PERMANENTE REVISÃO DAS NORMAS APERFEIÇOA A ENGENHARIA


Além do início dos trabalhos de revi- são e mais duas reuniões para a análise sobre a montagem de um plano de
são da ABNT NBR 6122:2010 – Projeto dos votos recebidos. O texto do projeto Rigging. Foi inserido ainda um assunto
e Execução de Fundações, analisado apresenta um conteúdo abrangente, que não havia sido abordado nas ver-
no artigo, existem outras normas em englobando aspectos de projeto, pro- sões anteriores da Norma: a avaliação
diferentes fases de revisão, seguindo dução e montagem. São 86 páginas de conformidade do projeto. A ideia,
a estratégia da ABNT – Associação Bra- – mais do que o dobro da revisão de segundo Melo, foi estabelecer os parâ-
sileira de Normas Técnicas e também 2006, que teve 42 páginas –, estrutura- metros para facilitar a avaliação do ATP.
das entidades setoriais de dotar a en- das em doze capítulos. Para itens mais específicos da norma
genharia brasileira dos mais rigorosos Para Melo, um dos pontos centrais da foram criados grupos de trabalho. Em
instrumentos técnicos necessários revisão foi a definição do conceito da relação a questões ligadas à estabilida-
para a atividade construtiva. Nesse rigidez secante das ligações para a per- de, por exemplo, o grupo foi liderado
sentido, vale lembrar que foi concluída feita estabilidade global da estrutura. pelo professor Marcelo Ferreira, do NE-
a revisão da ABNT NBR 9062 – Projeto Ele salienta que a definição do fator TPre da UFSCar. Já a parte de ligações
e Execução de Estruturas de Concreto de restrição da ligação viga-pilar, que de pilar com fundação por meio de cá-
Pré-moldado e está na etapa inicial a determina os coeficientes de mola e lice coube a um grupo conduzido pelo
revisão da ABNT NBR 6123:88 – Forças de rotação da viga em relação ao pilar, professor Mounir Khalil El Debs, do De-
Devidas ao Vento em Edificações. foi o ponto mais importante da revisão, partamento de Engenharia de Estrutu-
No caso da 9062, a revisão teve início no pois com isso é possível melhorar a ras, da USP de São Carlos.
final de 2012, com a formação de uma modelagem espacial que calcula o edi- A norma avançou significativamente
Comissão de Estudos, no âmbito do Co- fício como um todo. A partir de agora, também na questão de resistência ao
mitê Brasileiro da Construção Civil da o projetista passa a ter parâmetros e fogo. A proposta foi apresentada pelo
ABNT (ABNT/BR-02), que foi coordenada também valores que podem ser utili- professor Fernando Stucchi, da Escola
pelo engenheiro Carlos Melo e contou zados para o cálculo das ligações, pois Politécnica da Universidade de São Pau-
com a participação de 79 profissionais, há um critério normalizado. No caso da lo (Poli-USP), que conduziu uma avalia-
entre engenheiros, projetistas, empre- ligação semirrígida, na opinião do coor- ção baseada nos Eurocodigos, Normas
sários da indústria de pré-fabricado de denador, a norma brasileira represen- Europeias Específicas. Além de debater
concreto, integrantes da universidade e ta um avanço inclusive em relação ao o tema com especialistas no âmbito da
representantes de entidades setoriais. existente em outros países. fib (International Federation of Structu-
Durante os três anos e meio de traba- A questão da segurança foi outro fa- ral Concrete), Stucchi promoveu uma va-
lho, até a aprovação final da revisão, em tor que esteve em pauta na revisão lidação dos critérios propostos junto ao
setembro do ano passado, foram reali- da ABNT NBR 9062, por esse motivo coordenador da ABNT NBR 15200, o pro-
zadas 25 reuniões para tratar da revi- um dos temas incluídos foi a definição fessor Valdir Pignatta e Silva, da Poli/USP.

50 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


Outra questão bastante abordada em que do que um problema de capacidade é consequência de toda a necessidade
relação à execução de fundações foi à de carga de estacas, que não justificaria a de se ter concreto com os parâmetros
segurança em tubulões a céu aberto. redução da carga admissível na atual nor- necessários e lança-lo dentro de um flui-
As normas de segurança do Ministério ma. Foi mantido o texto atual. do estabilizante e abaixo do nível d´água
do Trabalho, em especial as NR’s 18, 33 Desde a vigência da norma de 2010, a es- e alturas de até 60m! Também na Euro-
e 35 que tratam dos equipamentos de pecificação do concreto para fundações é pa e EUA existe idêntica preocupação.
segurança (EPI’s), do trabalho em altura motivo de controvérsia. Atualmente vários Recentemente, em 2014 no 11th EFFC/
e em espaço confinado, devem ser ri- especialistas em concreto veem partici- DFI de Estocolmo, o engenheiro Karsten
gorosamente cumpridas para se evitar pando ativamente nas reuniões da norma. Beckhaus, “chairman of the Concrete
acidentes. É consenso que haverá mudanças signifi- Task Group for Deep Foundation of DFI/
A estaca trado vazado segmentado, co- cativas na atual especificação. EFFC” publicou o interessante artigo: “Are
nhecida como “hollow-auger”, foi ajus- specifications for deep foundation con-
tada para parâmetros mais atualizados, crete up-to-date?”


bem como foi introduzida a estaca héli- Pretende-se alterar a especificação prin-
ce-contínua com trado segmentado que cipalmente no que se refere aos controles
não fazia parte da edição de 2010. Esta A REVISÃO DA NORMA de recebimento da mistura no canteiro.
estaca vem sendo largamente utilizada, VEM DESPERTANDO Recentemente em resposta à pergunta
em especial em obras de pequeno por- ENORME INTERESSE da ABEF sobre quais as características do
te dada a limitação do equipamento em NA ENGENHARIA BRASILEIRA, concreto para as fundações profundas, o
profundidade, diâmetro e torque. Foi UMA VEZ QUE HÁ A Ibracon sugeriu:
amplamente discutido o comprimento Fck ≥ 20MPa (ABNT NBR 5738, NBR
EXPRESSIVA PARTICIPAÇÃO
mínimo para o qual se possa considerar 5739 e NBR 12655);
uma fundação profunda em estacas. A DE APROXIMADAMENTE Concreto autoadensável, com classifica-
profundidade crítica foi estabelecida em 40 ENGENHEIROS, ção SF2 na ABNT NBR 15823 e 600mm ≤
L ≥ oito ɸ e no mínimo 3 m, levando-se DE VÁRIAS PARTES Espalhamento (slump flow) ≤750mm;
em conta vários critérios técnicos. DO PAÍS, QUE ESTÃO Segregação estática, classificação SR2 na
Outro assunto debatido, mas ainda não CONTRIBUINDO PARA SEU ABNT NBR 15823 e coluna ≤ 15%;
levado adiante é a necessidade de uma Concreto autoadensável, classificação
BOM ANDAMENTO


especificação mais rigorosa para o con- PL2 na ABNT NBR 15823 – Caixa L ≥ 0,80
creto utilizado em obras de fundações. Exsudação total de água ≤ 2% (ABNT NM
Além da especificação mais rigorosa, o 102 – Concreto Fresco. Determinação da
controle em obra deve abranger um nú- exsudação de água. Método de Ensaio)
mero maior de ensaios, incluindo teor de Das principais alterações pretendidas, Para que se obtenha concreto com me-
exsudação, “slump-flow”, caixa L, ao lado uma delas é a especificação de acordo lhor desempenho, o caminho passa pelo
do fck e do “slump–test”. com as normas vigentes de concreto, melhor controle do recebimento do ma-
Uma discussão significativa ocorreu quan- porém sem dar conotação técnica a um terial especificando-se aquilo que se
do se falava de atrito negativo. Na norma concreto magro, por exemplo, que po- pode controlar, pois não há possibilidade
de 1996 o atrito negativo era considerado deria ser C10 ou C15, mas que esbarra de controle do consumo de cimento ou
da seguinte forma, com fator de seguran- em prazo, problema imperioso em obra. do fator água/cimento do concreto fresco
ça global: Onde se concentram o maior número de ou endurecido.
Padm = [(Pp + Pl) – 1,5 Pan] / FSg problemas e é de sobremaneira impor- Por fim e resumindo muito, esses são al-
que foi substituido na revisão de 2010 tante o concreto, são nas paredes-dia- guns tópicos importantes que foram ou
por fragma, estacas-barrete, estacas esca- serão discutidos durante o andamento
Padm = [(Pp + Pl) / FSg] – Pan vadas com fluido estabilizante e estacas dos trabalhos da comissão de revisão
Onde: hélice-contínua. da ABNT NBR 6122/2010. Deve-se sa-
Padm é a carga admissível A atual especificação apesar de ter solu- lientar o enorme interesse que a revisão
Pp é a parcela correspondente à resis- cionado várias ocorrências de obra, com vem despertando na engenharia com
tência de ponta na ruptura o passar do tempo ficou obsoleta ou, a expressiva participação de um grupo
Pl é a parcela correspondente à resis- dizendo de outra maneira, nem todos de aproximadamente 40 engenheiros,
tência por atrito lateral positivo, na os fornecedores de concreto usinado entre geotécnicos – projetistas, executo-
ruptura participavam das associações que indi- res, consultores e acadêmicos –, tecno-
Pan é a parcela correspondente ao atrito cavam as características necessárias ao logistas de concreto e projetistas de es-
lateral negativo na ruptura. O pon- concreto para as estacas mencionadas. truturas de vários estados do Brasil que
to onde ocorre a mudança de atrito Para tais estacas necessita-se muito mais vem contribuindo de maneira sensata,
negativo para positivo é chamado de um concreto com trabalhabilidade ade- propositiva, ponderada, compreensiva
ponto neutro. quada, com baixa segregação, auto-a- e principalmente com espírito e mente
A discussão se deu em função do atrito densável, alto consumo de finos, e muito aberta para contribuir com o bom anda-
negativo ser antes um problema de recal- mais. A resistência à compressão simples mento da revisão.

51
APRENDENDO COM O ERRO | ESQUECERAM A SUBPRESSÃO!

ESQUECERAM A
SUBPRESSÃO!

COLABORAÇÃO: DIONÍSIO AUGUSTO AMERICANO


DE NEVES E SOUZA “Uma pessoa inteligente aprende com os seus tendido, estruturas de aço, patologia das
RIO DE JANEIRO, JULHO DE 2015 erros, uma pessoa sábia aprende com os erros estruturas. Abordam problemas de estru-
dos outros”, escreveu o psiquiatra e escritor Au- turas sob ações estáticas, dinâmicas e si-
gusto Cury, contrapondo-se ao pensamento de tuações de incêndio. Falam das edificações,
Otto van Bismarck: “Os tolos dizem que apren- das pontes, das adutoras, dos reservató-
dem com os seus próprios erros; eu prefiro rios, da chaminé de equilíbrio, dos muros,
aprender com os erros dos outros”. da proteção costeira. Os casos referem-se
Ambos, no entanto, reconhecem que os er- à fissuração exagerada, à deformações in-
ros cometidos, por nós mesmos ou por ou- convenientes, à corrosão, à vibrações ex-
tros, podem nos servir de proveitosa lição. A cessivas e ao colapso.
condição necessária para que isso aconteça Os coautores impõem seu próprio estilo
é que nos aproximemos deles com humilda- de linguagem, de narrativa e diversificam
de, convencidos de que errar é humano e, o formato do texto, impedindo assim que
por isso, eles estão sempre presentes em a leitura se torne monótona ao passar de
todas as nossas atividades. um caso para outro.
Os engenheiros que se uniram para escre- Todos os coautores desejam que essa co-
ver essa coletânea de casos, em que apren- letânea de casos, rica em ensinamentos,
demos com erros dos outros, não são nem tenha divulgação tão ampla quanto as
sábios nem tolos, mas apenas conscientes virtudes que contém. Essa divulgação é
de que uma experiência adquirida, se parti- livre, mas deverá ser sempre gratuita. Se
lhada por muitos colegas, elevará a compe- alguma instituição desejar editar esse tra-
tência coletiva de sua profissão. balho, está autorizada a fazer, desde que
São ao todo 27 coautores engenheiros a mantenha integralmente a coletânea como
relatar 50 casos distintos, que pontificam, está e sem auferir benefícios financeiros.
justamente, por sua diversidade de assun- Se alguém desejar divulgar casos isolados
tos e de estilos. Os assuntos permeiam por que o faça, desde que forneça a referência.
erros em diversas áreas de conhecimento:
geotecnia, concreto armado, concreto pro- Boa leitura e bom aprendizado.

52 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


O CASO assentamento, uma pressão equivalente terreno compactado ao redor, externa-
Um belo condomínio de edificações mul- a aproximadamente 25,5 kN/m² (2,55 tf/ mente, das paredes.
tifamiliares de pequeno porte (3 pavi- m²) (Ver Anexo 01). Como demonstrado no Anexo 02, com
mentos) estava com data marcada, pela Considerando que as cisternas possuíam abas de apenas 50 cm, para as cister-
construtora, para entrega das unidades 1,80m de altura total externa e estavam nas com as dimensões consideradas,
aos novos felizes proprietários. totalmente enterradas, as lajes de fundo conseguiríamos um acréscimo de 65
As cisternas, projetadas de forma inde- ficaram recebendo uma subpressão de kN (6,50tf) no peso próprio da estrutu-
pendente, construídas sem interligações 15 kN/m² (1,50 tf/m²) (1,80m-0,30m), me- ra e de mais 299,2 kN (29,92 tf) devido
com as estruturas de concreto armado nor que o carregamento provocado pelo ao solo compactado colocado sobre as
das edificações, na véspera da entrega peso próprio da estrutura acrescido do abas, resultando em um carregamento
das unidades habitacionais, foram es- volume de água interno das cisternas. total de 20 kN/m² (2,0tf/m²), suficiente
vaziadas para limpeza. Algum tempo No entanto, ao esvaziarem as cisternas, para manter as cisternas enterradas,
depois, como que movidas por alguma o carregamento correspondente a apro- mesmo vazias.
força “extraterrestre”, sobem, sozinhas, ximadamente 28.000 litros de água foi Evidentemente as armações deverão ser
do solo onde estão enterradas, de for- suprimido e, assim, a subpressão ficou compatíveis com as hipóteses de cálculo
ma irregular, “adernando” e provocando numericamente maior que a carga resul- necessárias, mas isso é outra história...
grande susto nos presentes! tante da estrutura projetada, provocan- Para que possamos visualizar o ocorrido
A data da entrega das unidades habita- do a “subida” das cisternas... e testar algumas hipóteses de geometria
cionais foi adiada...

AS CAUSAS
Os estudos de sondagem relatavam,
para o terreno de implantação do con-
domínio, um solo composto por areia
muito compacta, com boa capacidade
de carga, porém com nível d’água quase
aflorando (30 cm de profundidade em
relação ao nível superior do terreno). FIG. 1 – CISTERNA ENTERRADA, PROJETADA COM ABAS EXTERNAS
O projetista da estrutura detalhou as
fundações das edificações em sapatas
isoladas, assentes em profundidades para as cisternas e soluções variando
variadas e compatíveis com as cargas; COMO EVITAR apenas a largura das abas externas para
foi necessário o rebaixamento do lençol A solução dada pela construtora foi de- uma mesma geometria, elaboramos uma
freático, durante os trabalhos de cons- molir as cisternas e construir castelos planilha Excel que está automatizada,
trução da infraestrutura. d’água maiores, agrupando a reserva de para “avisar” se a cisterna quiser “subir”.
Junto com as sapatas, ainda com o siste- consumo de algumas edificações. A entrada de dados está liberada apenas
ma de bombas para o rebaixamento do Mas, construindo cisternas, como isso para as células em amarelo na planilha.
lençol freático em funcionamento, foram poderia ter sido evitado? Os Anexos 01 e 02 citados acima, bem
construídas as cisternas, isoladas das Certamente existem várias soluções, como a planilha Excel automatizada ela-
estruturas das edificações, que depois mas uma delas, mantendo as geome- borada para os cálculos demonstrativos,
foram impermeabilizadas e cheias. trias internas, seria projetar prolon- poderão ser encontrados no endereço
Ocorreu que as cisternas, quando car- gamentos das lajes de fundo das cis- WEB abaixo:
regadas com o volume total de água ternas, de forma a criarmos abas que http://calculistas-ba.progerengenharia.
interna, distribuíam ao solo, na cota de estariam, então, sujeitas ao peso do com.br

53
MUSEU DO PROJETO | EDIFÍCIO SAN SIRO

EDIFÍCIO
SAN SIRO

P
POR MARIO FRANCO, or volta de 1962, o arquiteto Ale-
DA JKMF ENGENHEIROS CIVIS
xandre Danilovic tinha um grande
desafio: estacionar 300 carros
grandes num terreno com 9,35m
de frente e 26,06m de fundo no início da
Rua da Consolação. A solução arquitetô-
nica encontrada consistiu numa garagem
mecânica com 1 subsolo (9 carros) + tér-
reo (entrada + 3 carros) + 32 andares (32
x 9 carros) = 300 carros. Resolvido este
primeiro desafio, a grande altura (90,35m apenas esses pórticos, indicavam, para
acima do solo) e a esbeltez (1:10) do edi- as combinações das cargas gravitacio-
fício, bem como as dimensões reduzidas nais mais vento transversal (G ± V t) um
do terreno geraram outros desafios: esforço excessivo de compressão nos 2
- ao engenheiro de estruturas; pilares de sotavento, e um grande esfor-
- ao engenheiro de fundações; ço de tração nos dois pilares a barlaven-
- ao engenheiro construtor. to. Além disso resultavam deslocamen-
A estrutura do Edifício San Siro não tem tos horizontais excessivos. Ficou claro
núcleo central rígido, já que todo o es- então que seria preciso dimensionar a
paço interno é dedicado ao elevador e estrutura como uma caixa fechada for-
às vagas de garagem (3 no mada pelos 2 pórticos menores e pelos 2
fundo e 3 + 3 na frente). A maiores atuando em conjunto, de modo
estrutura resistente para o que parte das forças normais nos pila-
vento transversal V t (atuan- res de fachada fosse transferida para os
do perpendicularmente às pilares dos lados maiores da caixa. Não
fachadas maiores), é cons- existiam ainda programas capazes de
tituída unicamente pelos analisar pórticos, ainda mais tridimensio-
dois pórticos muito esbeltos nais. Recorreu-se portanto à análise dos
paralelos ao plano do vento, esforços pelo “método do meio elástico
situados nas fachadas me- contínuo”, que já havia sido utilizado em
nores. Os primeiros cálcu- outras estruturas, generalizando-o para
los, efetuados considerando estruturas tridimensionais simétricas.

54 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


uma grande estrutu-
ra de transição com
11,35m de altura,
formada por duas
vigas-paredes de
26,06m de compri-
mento sobre o apoio
elástico constituído
pelos balanços das
7 vigas-alavanca que
interligam os tubu-
lões; e mais dois
pórticos, perpendi-
culares às paredes,
também com altura
Para estruturas em pórtico plano simétri- Faltava ainda transmitir ao solo os gran- de 11,35m e com 9,35m de comprimento,
co de 2 ou 3 pilares a solução do método des esforços verticais resultantes da com- formando uma caixa rígida fechada. Foi
era conhecida, e conduzia a uma equação binação das cargas gravitacionais com as assim solucionado o desafio ao engenhei-
diferencial completa de 2ª ordem com cargas de vento. Em função das caracterís- ro de fundações.
coeficientes constantes. Para o caso em ticas do solo, a CONSULTRIX (Eng. Sigmun- As vigas-parede longitudinais têm 25cm
questão (estrutura tridimensional for- do Golombek), responsável pela concep- de espessura, e os pórticos menores
mada por 4 pórticos simétricos) a solu- ção e execução das fundações, projetou 36cm de espessura. Em função dos
ção levou a um sistema de 4 equações duas filas de 7 tubulões a céu aberto, com elevados esforços solicitantes esses
diferenciais de 2ª ordem a 4 incógnitas diâmetro de base Øb = 3,80m e diâmetro elementos estruturais resultaram forte-
que, resolvido, resultou numa equação do fuste Øf = 1,30m. A distância entre as mente armados em diversas camadas,
diferencial de 4ª ordem, completa, com duas filas de tubulões é de apenas 5,55m, com armaduras de comprimentos mui-
coeficientes constantes. A solução dessa valor muito pequeno para um edifício de to superiores aos 11m disponíveis. O
equação permitiu determinar os esfor- 94m acima das fundações (~ 1:17). As car- desafio ao engenheiro construtor foi a
ços internos (momentos fletores, forças gas verticais (G ± Vt) precisavam ser uni- montagem dessas armaduras, que pre-
normais, forças cortantes) em todos os formizadas, de modo a resultarem cargas cisaram ser soldadas de topo, “in loco”,
elementos da estrutura, bem como os iguais nos tubulões. Para tanto, criou-se com a forma aberta, seguida pelo lança-
deslocamentos de seus nós. Este mento do concreto em camadas.
estudo constituiu minha tese de Foi utilizado concreto com fck =
doutorado, defendida na Esco- 28MPa, o máximo que se conse-
la Politécnica em 1967, tese cujo guia na época.
exemplo numérico foi justamen- Excetuando-se a análise dos es-
te a estrutura do San Siro. Na forços solicitantes e deslocamen-
tese, apresentou-se um progra- tos dos pórticos da superestru-
ma em FORTRAN IV, e o exemplo tura, efetuados como vimos por
foi rodado no computador digi- meio de computador digital, to-
tal IBM-1620 da Poli. Através do dos os demais cálculos e dimen-
comportamento tridimensional sionamentos foram efetuados
da estrutura, verificou-se que, no com régua de cálculo mais calcu-
caso do San Siro, 40% das forças ladora elétrica.
normais nos pilares das fachadas Em 1973 o Council on Tall Buil-
menores migraram para os pilares dings and Urban Habitat in-
das fachadas maiores, tornando formou-me oficialmente que o
assim muito mais eficiente o siste- Edifício San Siro era a mais alta
ma estrutural, se comparado com garagem do mundo. Ainda é. Em
o que teríamos considerando ape- 1983 foi publicado pelo mes-
nas os pórticos menores. Também mo Council, em sua monogra-
os deslocamentos resultaram fia “Planning and Design of Tall
aceitáveis, com o que a superes- Buildings”, capítulo “Parking”, um
trutura ficou viabilizada e o pri- longo artigo dedicado à Garagem
meiro desafio posto ao engenhei- San Siro. A garagem continua em
ro de estruturas foi solucionado. pleno funcionamento até hoje.

55
INDUSTRIALIZAÇÃO | BUBBLEDECK COM PRÉ-FABRICADO DE CONCRETO

AMPLIAÇÃO
DE GARAGEM
DO GALEÃO:
SOLUÇÃO COM
BUBBLEDECK E
PRÉ-FABRICADO
A
POR BETON STAHL ENGENHARIA ampliação do edifício Gara-
AUTORA: TAMARA CARVALHO FREIRE
gem do Terminal de passagei-
(DIRETORA DA BETON STAHL ENGENHARIA) ros TPS2 requereu criatividade
e o emprego de novas solu-
ções no projeto e processo construtivo.
“O projeto foi originalmente concebido
em estrutura metálica, que além de
perfis de mercado possuía em grande
parte, peças usinadas que impactavam
FIG. 1 – FOTO DA VISTA GERAL DA OBRA CONCLUÍDA -
significativamente os custos e prazos
previstos. Adicionalmente por questões
normativas, seria necessário proteger
a estrutura com pintura intumescente Por tratar-se de uma ampliação de mais
ou técnica similar que representaria quatro pavimentos em dois existentes,
um acréscimo de 10 a 15% do custo da uma dificuldade adicional ao processo
estrutura.” {1} Assim a solução de pré- construtivo foi a limitação de execução
-moldados de concreto com o emprego de escoramentos nos dois pavimentos
da tecnologia BubbleDeck se apresen- inferiores existentes que permanece-
tou como uma alternativa diminuindo ram ao longo de toda a obra operando
os custos do projeto original, além de normalmente. A estrutura metálica do
garantir a exequibilidade da obra den- pavimento existente, com laje steel-deck,
tro do prazo previsto. A Figura 1 apre- não suportava o peso próprio da con-
senta a planta tipo do projeto. A Figura cretagem do pavimento superior. Para
2 apresenta a forma de um setor do pa- solucionar este inconveniente fizeram-se
vimento tipo. necessário o projeto e execução de esco-

56 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


EDG DO TPS2 – GALEÃO. FOTO: MÁRIO JR./AEROFOTO/R7/PASSAGEIRODEPRIMEIRA.COM

ramento com treliças vencendo os vãos


de 16m entre pilares, apoiadas em vigas
metálicas por sua vez apoiadas em con-
soles metálicos protendidos com barras
DYWIDAG. Para as passagens das barras
de protensão, furos passantes foram dei-
xados na concretagem dos pilares.
A primeira laje executada da ampliação, o
4° pavimento, foi projetada para receber
o escoramento necessário à concretagem
de cada um dos pavimentos posteriores.
Para este fim foi projetado um escora-
mento que era aliviado e reposicionado

FIG. 2 – FOTO DA ÁREA INTERNA DE UM DOS PAVIMENTOS.


57
INDUSTRIALIZAÇÃO | BUBBLEDECK COM PRÉ-FABRICADO DE CONCRETO

FIG. 3 – PLANTA DO PAVIMENTO TIPO.

FIG. 4 – ARRANJO DOS PRÉ-MOLDADOS – SETOR 3.

para cada concretagem, mantendo sempre as cargas de peso próprio, de cada concretagem dos
pavimentos superiores, suportadas pelo 4° pavimento.
A seguir apresentamos as diversas etapas da obra com fotos ilustrativas:

58 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


ETAPAS DE FABRICAÇÃO DOS MÓDULOS BUBBLEDECK PRÉ-FABRICADOS
Uma das vantagens do emprego de peças pré-fabricadas de concreto está na confiabilidade do orçamento e
cronograma da obra. A seguir fotos com as etapas de fabricação.

1.1 – FIXAÇÃO DAS TRELIÇAS NA TELA 1.3 – LIMPEZA, TRAVAMENTO E 1.4 – LANÇAMENTO DO CONCRETO.
INFERIOR E POSICIONAMENTO DAS APLICAÇÃO DE DESMOLDANTE NAS
ESFERAS. FORMAS.

1.2 – FIXAÇÃO DA TELA SUPERIOR.

1.5 – INTRODUÇÃO DOS MÓDULOS1 1.6 – DESFORMA DO PAINEL 1.7 – CARREGAMENTO DOS PAINÉIS.
NO CONCRETO. PRÉ-MOLDADO.

ETAPAS DE MONTAGEM E EXECUÇÃO DA OBRA.

2.1 – MONTAGEM E ESCORAMENTO. 2.2 – TRANSPORTE E LANÇAMENTO DOS PAINÉIS POR GRUA.

2.3 – COLOCAÇÃO DA ARMADURA 2.4 – COLOCAÇÃO DA ARMADURA 2.6 – CONCRETAGEM.


DOS CAPITÉIS. COMPLEMENTAR.

2.5 – MONTAGEM DAS FORMAS


LATERAIS.

59
INDUSTRIALIZAÇÃO | BUBBLEDECK COM PRÉ-FABRICADO DE CONCRETO

FOTO AÉREA – CONCRETAGEM DE UM SETOR. MONTAGEM DAS BARREIRAS PRÉ-MOLDADAS.

PRODUTIVIDADES a curva de aprendizagem. Foram executa- Adotou-se o padrão BUBBLEDECK


ALCANÇADAS dos 44.700m² de laje no total da obra. BD450, com 45 cm de espessura, com
A obra atingiu bom desempenho em pro- esferas plásticas com diâmetro de 36 cm.
dutividade, apesar de a tecnologia ser re- PROJETO ESTRUTURAL A espessura média da laje foi de 34 cm,
lativamente nova no Brasil. A seguir o grá- A solução estrutural adotada, em substi- utilizou-se um concreto com resistência
fico de áreas de laje concretadas por mês, tuição a estrutura metálica, foi em lajes fck de 30 MPa.
pode-se notar nos dois primeiros meses Planas tipo BUBBLEDECK. A retirada de escoramentos se deu atra-
vés de controle do valor do módulo de
elasticidade, de maneira a evitar defor-
{1}
mações excessivas ao longo do tempo.
A estrutura foi projetada atendendo as
normas da ABNT, além das recomenda-
ções do Manual de tecnologia da BUBB-
LEDECK.
Utilizamos o programa de análise estru-
tural SAP2000, para a modelagem nu-
mérica. Os elementos finitos de laje são
simulados como elementos de placa com
espessura de 45cm e fatores de redução
de 0,90 para a inércia à flexão e 0,60 para
a resistência ao cortante na região de em-
prego das esferas plásticas, em conformi-
dade com o recomendado pelas normas
internacionais e manual do fabricante.
A laje do 4° pavimento foi projetada para
uma sobrecarga construtiva de 1000
kgf/m² (para atender o escoramento dos
andares superiores). As demais lajes fo-
ram projetadas para uma sobrecarga de
300 kgf/m².

60 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


DETALHAMENTO DA ARMADURA E DISTRIBUIÇÃO DE ESFERAS EM UM PAINEL
TÍPICO DO 4° PAVIMENTO.

FICHA TÉCNICA

Concessionária: Rio Galeão


Arquitetura: Intertechne
Consultores S.A.
Projeto Estrutural: Beton Stahl
Engenharia S.A.
Contratante: Intertechne
Consultores S.A.
Construtora: Consórcio Construtor
Galeão.

{1} Prêmio Destaque da Construtora Norberto


Odebrecht – 2015 – Categoria: Reutilização
do Conhecimento.

61
ESPAÇO ABERTO | CBCA

CONSTRUÇÃO
EM AÇO
FIG. 1 – MONTAGEM DE TELHA ONDULADA – FONTE: ABCEM
PROJETO E CONTRATAÇÃO DE MONTAGEM DE
TELHAS E COBERTURAS METÁLICAS

E
FIG. 2 – MONTAGEM DE TELHA TRAPEZOIDAL – FONTE: ABCEM
ntre as vantagens das telhas e De acordo com as nor-
coberturas metálicas, além do mas brasileiras, a massa de revestimen- É muito importante atentar para a contra-
desempenho desejado, estão a to de zinco da telha usada sem pintura tação da montagem da cobertura. “Perce-
durabilidade, facilidade de manu- deve ser de, no mínimo, 275 g/m2. Se for bemos que, em muitos casos, se compra
tenção e principalmente peso reduzido, o utilizada com pintura, a massa de reves- um produto caro e se contrata mão de
que facilita a instalação e reduz as cargas timento poderá ser no mínimo de 225g/ obra barata, mas não é uma boa opção”,
da estrutura. Além disso, esse sistema se m2. Para Galvalume, para aplicações alerta Miranda. Para a escolha da empresa
associa facilmente a sistemas de geração com ou sem pintura, a massa mínima é montadora, é necessário analisar o currí-
de energia, como os painéis solares ou fo- de 150 g/m2. culo da empresa, referências de clientes
tovoltaicos. A escolha do tipo de telha deve O diálogo com o fornecedor é essencial anteriores, e, além disso, realizar um con-
atender aos aspectos arquitetônicos da não só para esses casos, mas para qual- trato especificando as obrigações do mon-
cobertura com relação a inclinações, raios quer projeto de cobertura metálica, para tador, as comprovações legais de registro
e geometria. O revestimento do aço base aumentar a eficiência do sistema e a ade- do pessoal e os equipamentos de seguran-
deve ser especificado em função da dura- quação na especificação do produto ou ça disponibilizados.
bilidade e do ambiente onde as telhas es- dos acessórios e vedações complemen-
tão inseridas, por exemplo: região costeira, tares. O grau de inclinação da telha deve REFERÊNCIAS
área industrial com emissão de partículas garantir o escoamento da água pluvial. Manual Técnico – Telhas de Aço (Abcem)
agressivas, área urbana ou rural. Normalmente, para as telhas com com- Manual CBCA – Treliças Tipo Steel Joist
Há dois tipos de telhas regidas pelas nor- primento de água inferior a 12 m e sem ABNT NBR 14.513:2008 – Telhas de aço re-
mas ABNT: onduladas e trapezoidais. As sobreposição, recomenda-se 5% de de- vestido de seção ondulada – Requisitos
normas determinam os parâmetros de clividade. O sistema zipado é ideal para ABNT NBR 14.514:2008 – Telhas de aço re-
tolerância dimensional e padronizam os coberturas de grande extensão e aceita vestido de seção trapezoidal – Requisitos
modelos mais utilizados, o que favorece a caimentos menores de 3%. www.cbca-acobrasil.org.br
especificação. Há, no entanto, outras te-
lhas não regidas por normas, como as zi- TIPOS DE AÇO USADOS EM TELHAS
padas, autoportantes, curvas (calandradas Zincados Apresentam grande resistência à corrosão atmosférica
e multidobra), entre outros sistemas de co- Devido à sua composição química (alumínio, zinco e silício), esse revestimento
bertura, como o roll-on. “O critério técnico Galvalume confere ao produto excelente proteção à corrosão atmosférica, alta refletividade,
depende do próprio fornecedor do siste- melhor conforto térmico, ótima aparência e manutenção do brilho
ma, que é o responsável por garantir es- As bobinas de aço zincado são pintadas antes de serem conformadas em telhas. Os
tanqueidade, resistência mecânica, e todos Pré-pintados pré-pintados, têm ampla gama de cores, oferecem grande durabilidade, facilidade
de manutenção e vantagens estéticas. O aço base pode ser zincado ou Galvalume
os critérios que seriam contemplados em
norma”, explica Edson de Miranda, gerente Aços Apresentam grande durabilidade, facilidade de manutenção e resistência a am-
inoxidáveis bientes altamente agressivos
geral da ArcelorMittal Perfilor.

62 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


ESPAÇO BIM | BIM BEM FEITO

BIM
BEM FEITO

O
PROF. DR. EDUARDO TOLEDO SANTOS BIM – Modelagem da Informa- Seminário Internacional BIM do Sindus-
ESCOLA POLITÉCNICA DA USP ção da Construção despon- Con/SP, inúmeras matérias publicadas
tou por volta do ano 2004 no nas revistas técnicas nacionais da área,
Brasil, tendo o próprio termo a edição no Brasil do “Manual de BIM”
“BIM – Building Information Modeling” (tradução do BIM Handbook – a “bíblia
se consolidado apenas dois anos antes do BIM”) e dos Guias BIM da AsBEA (2
no mundo. Desde volumes) e da CBIC (5 volumes) – ambos
então, nesses disponibilizados online gratuitamente
quase 13 anos, – além da instalação de uma Comissão
já tivemos de Estudo Especial na ABNT dedicada
sete edições ao tema e à produção de normas técni-
anuais do cas ligadas ao BIM. O Brasil se consolida
como um dos países onde mais são rea-
lizadas pesquisas acadêmicas sobre BIM
no mundo1. Isso para mencionar apenas
os desenvolvimentos brasileiros, em lín-
gua portuguesa. A internet dispõe de
larga quantidade de publicações, parti-
cularmente em inglês, abordando todos
os aspectos do BIM.
Este ano de 2017 traz gran-
des expectativas para o
avanço do BIM no Brasil:
a publicação de novas
normas BIM, a instalação
de um capítulo brasileiro
da buildingSMART 2, a im-
plementação do acordo
federal de cooperação
sobre BIM assinado em
dezembro passado com
o Reino Unido3, a inclu-
são da exigência de BIM
na atualização da Lei

63
ESPAÇO BIM | BIM BEM FEITO

8.666, o avanço nas licitações de obras um modelo BIM “em paralelo” ao proje- Um verdadeiro “projeto piloto” pode sim
demandando BIM nos estados do Sul e to convencional (2D). Na verdade, neste ser desenvolvido com um empreendi-
em São Paulo, o lançamento da versão caso, o modelo BIM vem sempre depois, mento em andamento (escolhido criterio-
em português do BIM Dictionary4, a pu- atrasado em relação ao projeto 2D, pois samente), porém executado da mesma
blicação de novos Guias BIM e da pla- os projetistas desenvolvem os projetos forma como se pretende que sejam todos
taforma de componentes BIM da ABDI, em CAD cujos documentos devem ser os demais: com projetistas modelando
além do lançamento de novos cursos de convertidos posteriormente para BIM (3D). diretamente em BIM e seguindo as dire-
especialização em BIM no Brasil. A correta acepção de “piloto” é “o primeiro trizes pré-estabelecidas num Plano de
Ainda assim, o conceito de BIM como pro- de uma série”. Como esse processo pode Execução BIM acordado por todos. Sim,
cesso ainda não foi completamente assi- ser considerado “piloto” de uma rotina fu- pode-se adotar com sucesso uma estra-
milado pelos empresários do setor da tura, se BIM não se faz junto com o CAD, tégia de treinamento da equipe durante o
construção. Com frequência ainda alta, mas sim o substitui? Este tipo de aborda- piloto (on-the-job training) especialmente
depara-se com casos falhos de implan- gem não agrega efetivamente nada para o com a aprendizagem just-in-time (p. ex.,
tação de BIM. O prognóstico de fracas- cliente – via de regra, o modelo BIM deve trabalho no projeto BIM pela manhã e
so, na maioria destes casos, é evidente ser desenvolvido diretamente pelo proje- treinamento com consultor/instrutor BIM
para os iniciados, mas certamente não tista, não convertido a partir de uma re- na parte da tarde, onde as dúvidas da ma-
era para aqueles que investiram tempo e presentação 2D. Por isso não serve para nhã são resolvidas na aula vespertina) que
recursos significativos na expectativa de treinar equipes, nem aferir ganhos ou evita afastamento do trabalho e motiva e
obter o salto qualitativo em seus resulta- produtividade. Ao contrário, atrasa o em- consolida a aprendizagem. Neste caso, ao
dos prometido pelo BIM. preendimento e aumenta seus custos e analisar métricas, é essencial considerar a
natural queda de produtividade durante a
fase de treinamento e de adaptação inicial
aos novos processos e ferramentas.
Outro erro muito comum é a compra de
software e treinamento antes de uma
etapa de diagnóstico e planejamento es-
tratégico. Isso geralmente ocorre quando
se adota o próprio representante/forne-
cedor de software como consultor BIM. A
meta deste é vender seus próprios soft-
wares e serviços, ligados a fabricantes
pré-determinados. Com raras exceções,
sua análise carece da isenção/neutralida-
de necessária neste momento preliminar.
As recomendações costumam não ser na
direção do que é melhor para o cliente,
que muitas vezes acaba por comprar
aplicativos de que não necessita e desen-
volver processos sem a visão estratégica
ampla e de longo prazo (e alinhada com
a missão da empresa) que o BIM requer.
Assim como a aquisição da última versão
do melhor processador de texto não ga-
rante a escrita de um best seller, a simples
Para esses, o prejuízo é duplo, já que BIM riscos. Modelo BIM desatualizado na obra compra dos melhores softwares BIM não
mal feito é muito pior que CAD mal feito: é também traz resultados desastrosos, ou assegura, por si só, resultados positivos
mais caro – altos custos em novo softwa- nem é usado. É comum as equipes saí- com o BIM no empreendimento. O plane-
re, em hardware mais potente, em novo rem traumatizadas deste processo equi- jamento – tanto da implantação dos no-
treinamento e consultoria –, mais demo- vocado, com total descrença “nesse tal de vos processos ligados ao BIM na empresa,
rado – modelagem, bibliotecas, busca de BIM”, resistindo a novas tentativas de ado- quanto da implementação do BIM num
informação, queda de produtividade pela tá-lo em empreendimentos futuros. Usar empreendimento específico – é essencial.
mudança –, e induz a mais erros – con- essa estratégia para a equipe “aprender A forma correta de se fazer isso está bem
fiança em informações erradas, quanti- a modelar em BIM” também não se justi- documentada em diversos guias, nacionais
tativos errados, representações erradas, fica – melhor usar um projeto anterior, já e internacionais, e inúmeros estudos de
interferências não detectadas, etc. encerrado, que já até disponha de dados caso de sucesso embasam esta estratégia.
Uma das armadilhas mais comuns é o para se confrontar alguns resultados, sem Em seu recentemente lançado Guia Na-
que os implantadores neófitos chamam atrapalhar o desenvolvimento de um pro- cional de BIM para Proprietários5 o NIBS6
de “projeto piloto”, onde se desenvolve jeto em execução. destaca aos proprietários a necessidade

64 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


de colaboração, bem como dos padrões jamento, construção, operação e manu-
(formatos, arquivos, bibliotecas, templa- tenção – o BIM é um processo complexo
tes, documentação, modelagem, etc.) a e de larga extensão. Um estudo apontou
serem adotados no empreendimento; mais de 70 usos diferentes para o BIM8. A
Execução: criação de um Plano de Execu- implantação “completa” do BIM demanda
ção BIM do Empreendimento (que inclui anos de desenvolvimento e maturidade
e detalha os dois itens anteriores) docu- em cada estágio. Não há quem desen-
mentando, em comum acordo entre o volva internamente BIM 5D se ainda não
proprietário e os demais participantes, dominou o 3D. Esta é outra razão para
o como, por quem, quando, por que, até começar a caminhada na implantação de
que nível e quais informações no modelo BIM o quanto antes. Também é a razão
serão usadas. por que é má ideia desestruturar equipes
Apesar do processo de implementação de BIM em razão da crise – quando mais se
BIM ser muito bem definido, como mos- precisa de eficiência e quando mais serão
trado acima, é essencial entender que o úteis na retomada dos negócios.
processo de execução de BIM em si é único Planejamento e capacitação (seja na
para cada empreendimento assim como forma de cursos formais ou educação
o de implantação em cada empresa. As informal – leitura de publicações técni-
variações nas respostas às perguntas cas, frequência a palestras e seminários,
de não exigir apenas BIM em suas obras, feitas no processo de implementação participação em comunidades de prá-
mas demandar o BIM BEM FEITO7 (“BIM levam a diferentes processos BIM a se- tica, etc.), com o apoio de consultores
DONE RIGHT”), se pretendem ter sucesso rem efetivamente executados. Isso traz especializados com comprovada expe-
em sua aplicação no empreendimento. A uma implicação importante: não adianta riência e preparação (neutros e isentos,
publicação destaca 3 áreas que o cliente esperar para ver o que dá certo e copiar na fase de planejamento estratégico e
deve entender para direcionar a equipe o concorrente. O que funcionou para ele, especializados nos processos e aplicati-
do empreendimento ao rumo certo: o provavelmente não funcionará para você vos específicos, na fase operacional) são
processo, a infraestrutura e padrões, e a (diferentes culturas, processos construti- ingredientes essenciais para a implanta-
execução. Nada de novo, por que, em es- vos, tipologia de empreendimentos, por- ção correta do BIM.
sência, é a mesma estratégia preconiza- te, parceiros, maturidade, etc.). Começar Frente às várias definições para o BIM
da pelos principais guias de implementa- a trilhar o próprio caminho é a melhor (processo, ferramenta, tecnologia, polí-
ção de BIM disponíveis em todo o mundo, maneira de auferir os benefícios do BIM. tica, software, metodologia, ...) a de pro-
mas vale a pena repassar: Para os que começam mais cedo, ele é fa- cesso é a que deixa mais clara a neces-
O processo: definição clara de requisitos tor de vantagem competitiva; para os re- sidade de implantação, de mudança, de
de usos de BIM – no caso do proprietá- tardatários, será fator de sobrevivência. capacitação, de ferramentas de suporte
rio, registrado nos contratos – incluindo Outro aspecto do BIM é sua complexida- e de planejamento, por isso é nesta que
responsabilidades pela modelagem das de. Por abarcar potencialmente todos os sempre insistimos. Quem pensa em BIM
informações; profissionais em todas as fases do ciclo como mera ferramenta começa errado e
Infraestrutura e padrões: definição de vida da construção – da viabilidade à termina errado. O BIM que funciona é o
de ferramentas, tanto de autoria quanto demolição, passando pelo projeto, plane- BIM BEM FEITO.

–––––––––––––––––
1 h t t p : // v i e j o u r n a l . s p r i n g e r o p e n . c o m /
articles/10.1186/s40327-016-0038-6
2 A buildingSMART (buildingsmart.org) é a
instituição internacional responsável pelo
desenvolvimento do IFC e outros padrões
neutros e abertos de interoperabilidade
para o BIM.
3 ht t p: // w w w.mdic .gov.br/not icias / 2157-
brasil-e-reino-unido-assinam-
memorandos-de-entendimento-nas-
areas-de-construcao-civil-e-propriedade-
intelectual
4 http://bimdictionary.com
5 NIBS, National BIM Guide for Owners,
2017. Disponível em: <https://www.nibs.
org/?nbgo>. Acesso em 27 jan 2017.
6 NIBS – National Institute for Building
Sciences (www.nibs.org) é o órgão
americano responsável pela Norma BIM
Americana (NBIMS-US National Building
Information Modeling Standard – USA).
7 Tradução livre
8 http://w w w.bimthinkspace.com/2015/09/
episode-24 -understanding-model-uses.
html

65
INOVAÇÃO | CASE DO EDIFÍCIO 432 PARK AVENUE

DESAFIOS
TECNOLÓGICOS DO
PRÉDIO MAIS ESBELTO
DE NEW YORK

A
POR ANDREAS TSELEBIDIS ndreas Tselebidis, diretor de não foi o fator principal requerido a este
Tecnologia do Concreto & So- concreto. Mais importante que a resis-
luções em Aditivos para Con- tência à compressão, foi o impacto do
creto da BASF fornece detalhes módulo de elasticidade. O concreto da
dos avanços tecnológicos em termos torre demandou uma alta rigidez para
do uso de materiais inovadores e dos eliminar qualquer possibilidade de ace-
desafios de engenharia estrutural na leração da torre, de modo que os mora-
construção do 432 Park Avenue, um dos dores não sintam movimentos. O módulo
edifícios mais delgados de New York, de elasticidade exigido desse concreto
cuja construção teve início em 2012 e foi foi da ordem de 51 GPa.
concluído no final de 2015. Com altura
de 425 metros, é considerado o edifí- IDADES ADOTADAS PARA O
cio residencial mais alto do hemisfério
ocidental. Tselebidis atua na BASF há CONTROLE DA RESISTÊNCIA
mais de 15 anos e sua função consiste DO CONCRETO
na avaliação e implementação de pro- A resistência à compressão foi verificada
jetos mundiais de pesquisa sobre con- em laboratório nas idades de 1, 2, 3, 7, 28
creto e argamassa, com foco no tema e 56 dias. Já, o módulo de elasticidade,
da sustentabilidade. Autor de mais de nas idades de 28 dias e 56 dias. A espe-
30 artigos técnicos em diversas revistas cificação de projeto para a resistência e
da indústria do concreto, é constante- módulo foi requerida para 56 dias.
mente convidado para proferir palestras
em eventos internacionais relativos ao MAIORES DESAFIOS DA
segmento de concreto. Possui nove pa-
tentes em tecnologia de concreto. Con- EXECUÇÃO DO PROJETO
fira na sequência, os principais tópicos Os desafios para o concreto do 432
destacados pelo executivo em relação Park Avenue foram enormes e sem pre-
ao projeto do 432 Park Avenue: cedentes:
• resistência à compressão (fck) de 100
RESISTÊNCIA DO MPa aos 56 dias – Alcançando 155 MPa
(Um recorde mundial até agora, para
CONCRETO UTILIZADO concreto entregue por caminhão be-
A resistência do concreto, especificada toneira e colocado em uma superes-
em projeto, foi de 100 MPa, porém este trutura);

66 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


CONCRETAGEM NO INVERNO E
AS MENORES TEMPERATURAS
ENFRENTADAS
Por estar localizada em Manhattan, a
obra não poderia parar. Dessa forma, o
processo de concretagem também foi
continuado durante o inverno. A tempe-
ratura ambiente mais baixa (se me re-
cordo bem) foi da ordem de -15º C ou um
pouco mais. A temperatura do concreto
fresco estava em torno de 13 a 15º C, de
modo a se conseguir aplicar o material.

O FUTURO DO
CONCRETO E SEU USO EM
EDIFÍCIOS ALTOS
Os desafios do crescimento populacional
e as mudanças na vida urbana, bem como
os riscos ambientais, são as principais va-
riáveis que determinam o modo como va-
mos construir nossas edificações.
O concreto, como o material feito pelo
homem mais usado, tem evoluído ao
longo dos últimos séculos e possibilitou
à humanidade, a capacidade de cons-
truir de forma mais eficiente e economi-
zar recursos.
No entanto, os recursos naturais estão se
esgotando e temos de nos certificar que,
sempre que construímos, devemos fazer
com a mentalidade de criar algo mais du-
rável do que era no passado.
No futuro, viveremos predominante-
mente em cidades, o que exigirá uma
construção focada no meio ambiente,
com estruturas de grande durabilidade.
• módulo de elasticidade alcançado de concreto continha apenas 29% de ci- Estruturas que devem ser capazes de
52,9 GPa; mento, o que o torna extremamente resistir a deterioração ambiental e me-
• bombeamento a altura de 425 m; sustentável, economizando toneladas lhorar sua resposta aos mecanismos de
• concreto branco; de CO2, água potável etc.) degradação como por exemplo RAS (rea-
• acabamento arquitetônico em con- • auto adensável, sem buracos, e uma ção álcali-silica), penetração de cloretos,
creto aparente (sem bolhas na super- forte aderência entre a armadura e o abrasão, ataque por sulfatos, carbona-
fície); concreto; tação etc., permitindo construirmos com
• baixo calor de hidratação (limitado ao • sem descoloração; materiais mais eficientes. A combinação
máx. de 71º C – atingido máx. de 64º C); • possui durabilidade de modo a supor- da eficiência dos materiais com soluções
• baixíssima retração; tar qualquer impacto do ambiente. para construções sustentáveis, resulta
• concreto com baixa fluência; numa redução do impacto humano so-
• necessário trabalhabilidade e capa- DESAFIOS NO bre o ambiente.
cidade de bombeamento por até 4 h O concreto como principal material de
(Autoadensável – SCC – com espalha- BOMBEAMENTO construção, passará por mudanças que
mento de 80 cm sem segregação); No caso específico do 432 Park Avenue, o permitirão aos engenheiros construir
• resistência inicial em um dia (fc,1dia concreto foi bombeado sem maiores di- e projetar em ambientes bastante de-
atingida de 37 MPa, em média); ficuldades, apesar de todas as restrições safiadores. Os concretos, em conjunto
• concreto sustentável (este concreto e requisitos exigidos sobre o concreto no com novas opções de aço tratado, serão
foi desenvolvido para atingir e supe- estado fresco, bem como suas proprie- utilizados na construção de novos edi-
rar esta exigência em específico. O dades no estado endurecido. fícios esbeltos, tendo, portanto, menor

67
INOVAÇÃO | CASE DO EDIFÍCIO 432 PARK AVENUE

consumo de concreto e aço, reduzindo


a logística da obra e acelerando a cons-
trução, além de reduzir as emissões am-
bientais e nos permitir construir o que,
hoje, parece impossível.
As tendências atuais preveem um gran-
de aumento da vida urbana, tornando-se
desafiador construir em pequenos es-
paços, de modo a permitir a um núme-
ro crescente de habitantes, desfrutar de
um determinado estilo de vida. A nova
geração é bastante cautelosa quando o
assunto é sustentabilidade e de como os
materiais de construção causam impacto
em suas vidas. Projetos de edifícios mais
altos e ambiciosos estarão disponíveis
para atender às demandas dos futuros
habitantes urbanos. cias que ultrapassam 150 MPa bem como são alcançadas graças aos últimos de-
Nova York tem atualmente um dos mer- módulos de elasticidade acima de 59 senvolvimentos do concreto.
cados mais desafiadores para o concreto. GPa, fazem do concreto um material de Vou destacar apenas algumas vanta-
As exigências por construções cada vez engenharia diferente do que se conhecia gens e melhorias em alguns pontos,
mais esguias, combinadas com maximi- no passado. pois seria muito longo entrar em deta-
zação de espaço para os usuários, leva Sua capacidade de ser autocompactante lhes neste artigo:
o desafio a limites sem precedentes para e autonivelante, bem como a facilidade • Módulo de elasticidade;
o material. Os desafios, entre outros, in- de se bombear horizontal e verticalmen- • Altas resistências (acima de 150 MPa);
cluem um alto módulo de elasticidade te a grandes distâncias, mudou o para- • Concreto de baixa retração (abaixo
(acima de 55 GPa), altas resistências à digma da construção em concreto além de 0,025 mm/m)
compressão (acima de 100 MPa), baixo de torna-la ainda mais segura. • Baixa fluência;
calor de hidratação, bombeamento de Os últimos desenvolvimentos na enge- • Zona de transição muito compacta
HSC a alturas superiores a 450 m, aca- nharia do concreto melhoraram significa- e forte na interface entre o aço e o
bamento arquitetônico em concreto apa- tivamente o modo de como um edifício é concreto (reduzindo o deslizamento e
rente, baixa retração, baixa fluência, zona construído, agregando um grande valor a aumentando a aderência);
de transição muito densa da interface cada membro envolvido na construção/ • Baixo calor de hidratação (abaixo de
entre a armadura e concreto. processo de planejamento, desde o em- 71º C);
preiteiro até o proprietário final. • Eliminação da necessidade de tubula-
OUTRAS INOVAÇÕES ALÉM A velocidade na construção, assim como ções de arrefecimento (pós-refrigera-
a combinação de múltiplas atividades no ção) do concreto;
DO CIMENTO processo construtivo, quase que ao mes- • Concreto bombeável;
Devido a um acordo de não-divulgação, mo tempo, são críticas para a eficiência • Manutenção da trabalhabilidade do
firmado entre os intervenientes do pro- do processo e o sucesso econômico, que concreto por até 4h, sem retardo na
jeto, alguns detalhes não podem ser pega.
completamente compartilhados. Mas • Alta resistência nas primeiras idades
podemos dizer que o concreto contém prevenindo impactos do ambiente
Metakaolin da BASF, em pequenas quan- (alta durabilidade);
tidades. • Concreto sustentável (superestrutu-
ras podem agora ser construídas com
VANTAGENS DAS INOVAÇÕES até 83% de substituição de cimento);
• Uso de materiais reciclados;
INTRODUZIDAS NO 432 • Acabamento arquitetônico em concreto
Uma compreensão cientifica mais pro- aparente, mesmo em grandes alturas;
funda do material concreto, da escala • Menor volume de concreto e aço uti-
Nano para a Macro, levou a grandes alte- lizado na obra, reduzindo a logística
rações de concepção e configuração de para o construtor e permitindo acele-
projeto, bem como em suas característi- rar a produção;
cas de engenharia. • Redução de esforços e tempo du-
O concreto no mundo atual pode facil- rante o processo de acabamento do
mente competir com o aço como material concreto;
construtivo para edifícios altos. Resistên- • Entre outros.

68 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | LAJES NERVURADAS

LAJES
NERVURADAS

POR VIRGILIO AUGUSTO RAMOS NORMATIVA A.1 da ABNT NBR 14432/2001 é de 120
CEC CIA DE ENGENHARIA CIVIL Item 14.7.7 da ABNT NBR 6118:2014: “La- minutos.
jes nervuradas são as lajes moldadas no Para um TRRF de 120 minutos, a espes-
local ou com nervuras pré-moldadas, cuja sura mínima da capa das lajes nervura-
zona de tração para momentos positivos das é de 12 cm e a espessura mínima das
está localizada nas nervuras entre as quais nervuras de 16 cm. Conforme tabela A.2
pode ser colocado material inerte”. da ABNT NBR 15200:2012, o TRRF pode
Neste texto vamos apenas nos referir às ser reduzido, no máximo, em 30 minutos,
lajes mais comumente usadas que são as desde que se faça o cálculo pelo tempo
lajes com formas de polipropileno. equivalente. Normalmente se consegue
Item 13.2.4.2 da ABNT NBR 6118:2014 “A essa redução.
espessura da mesa, quando não houver É muito importante observar que no
tubulações horizontais embutidas, deve ser valor da espessura mínima da capa, em
maior ou igual a 1/15 da distância entre ambientes compartimentados para in-
nervuras e não menor que 3 cm”. cêndio, pode se considerar os revesti-
mentos conforme o item 8.2 da ABNT
ESPESSURA DA MESA: NBR 15200:2012:
Em atendimento à Norma ABNT NBR Verificamos então, que para lajes nervu-
6118:2014 para as fôrmas mais comu- radas não revestidas a espessura mínima
mente usadas 800/800 com espessura de capa é de 10 cm (para esse edifício
de nervura de 12 cm a distância entre hipotético já com redução do TRRF para
faces de nervuras é de 68 cm que leva a 90 minutos) e a espessura mínima das
uma espessura da mesa de 4,53 cm. nervuras de 12 cm.
A Norma ABNT NBR 15200:2012 define Análise da espessura mínima de capa
as espessuras mínimas da mesa em am- para atender aos cobrimentos:
bientes em que se exija compartimen- O cobrimento exigido pela ABNT NBR
tação vertical, conforme o TRRF (Tempo 6118:2014 para classe de agressividade
Requerido de Resistência ao Fogo) da moderada é de 25 mm, considerando
construção, conforme tabelas apresen- uma tela Q92 cuja espessura mínima é de
tadas nas Tabelas 9 e 10: 2 x 4,2 mm = 8,4 mm e armadura nega-
Considerando um edifício comum com tiva de 20 mm numa direção, sendo que
50 m de altura entre a fuga e o último na outra direção armaduras negativas fi-
cômodo habitado, o TRRF pela tabela carão abaixo da tela e dentro da nervura.

69
BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | LAJES NERVURADAS

A espessura menor da capa será de 2 x


25 + 8,4 + 20 = 78,4 mm, ou seja 8 cm.
No entendimento do autor, não se devem
especificar capas com menos de 8 cm e
as exigências de atendimento ao TRRF
devem ser respeitadas.
Em regiões com classe de agressividade
III, o cobrimento é de 35 mm, o que equi-
vale a ter uma espessura de capa de 2x35
+ 8,4 + 20 = 98,4 cm, ou seja, 10 cm.
Eventualmente, podem ser especificadas
capas com menor espessura, no entanto,
deve ser corrigido o cobrimento com re-
vestimento, para a situação de incêndio em
regiões compartimentadas verticalmente.
Para o cálculo das armaduras quer posi-
tivas quer negativas devem ser conside-
radas as diferenças de cobrimento entre
direções.
A punção deve ser combatida com studs
ou com armaduras inclinadas a 60° con-
finando a direção das linhas de ruptura
da punção.
O uso das chamadas “minhocas” ou Us
contínuos não é recomendado porque é
muito difícil a montagem, dado que cada
U deve ter pelo menos uma armadura su-
perior e uma armadura inferior passan-
do dentro dele para confinar a seção e,
nesse caso, a montagem da armação se
torna quase impossível.
Recomendamos usar vergalhões conforme
desenho apresentado a seguir, colocados
após a montagem de todas as armaduras.

70 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


As armaduras de cisalhamento, quando
necessárias, devem ter o formato indica-
do na figura a seguir, para permitir a co-
locação dos vergalhões negativos dentro
deles e assim fechar a seção. As patas
superiores devem ser abertas.

No item 3 da sequência de montagem o uso de meias cubetas nas duas dire-


da armadura negativa vertical, a pata, é ções a não ser que nessa área seja criada
Abaixo a sequência de montagem sem apenas para facilitar a montagem e evitar uma fôrma convencional que não é do
a qual os cobrimentos não são respei- que o operário machuque a mão ao posi- sistema e, com certeza, é mais cara e de-
tados evitando o aumento da espessura cioná-la e ponteá-la na tela. morada sua montagem, não justificando
da capa. o volume de concreto gasto a mais.
ALINHAMENTO DAS CUBETAS A montagem das cubetas deve se iniciar
Para uma maior economia deve-se usar em torno do centro da laje para que os
um sistema adequado de escoramento erros provocados por diferenças de tem-
sem tablado de madeira. Esse sistema peratura e até dimensões das cubetas
tem réguas unidirecionais e não permite sejam minimizados.

71
BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA

PATOLOGIA EM PAREDES
DE ALVENARIA SOB
LAJES DE COBERTURA
DE EDIFÍCIOS

POR MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA


PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS DA
RESUMO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS - USP A fissuração de paredes localizadas logo abaixo da laje de cobertura é uma das patologias
mais comuns em paredes de edifícios de alvenaria estrutural. A ocorrência está relacionada,
de forma preponderante, com a variação dimensional da laje por efeitos térmicos e devidos
à retração. Este trabalho trata desse tema levando em conta as diferentes características
do fenômeno. São apresentados os tipos usuais de fissuras, suas causas, procedimentos de
prevenção e reparo, bem como um estudo de caso, em que o nível de solicitação tangencial
das paredes ultrapassa os limites estabelecidos pela normalização nacional. Por fim con-
clui-se sobre a necessidade de prevenção, ressaltando cuidados no projeto e na provisão de
detalhes construtivos que minimizem a ocorrência de tal patologia.
Palavras-chave: alvenaria, patologia, fissuração, efeitos térmicos.

INTRODUÇÃO geralmente com melhores propriedades


A alvenaria é um sistema estrutural lar- de isolamento acústico e térmico.
gamente utilizado no Brasil, competindo Em um país como o Brasil, com enorme
com outros sistemas que utilizam mate- déficit habitacional e uma população su-
riais como o concreto armado, protendi- perior a 200 milhões de habitantes, o se-
do, aço e madeira. As unidades básicas tor da construção civil representa cerca
de um elemento de alvenaria são os ti- de 16% do produto interno bruto, sendo
jolos e os blocos, de material cerâmico, que a participação da alvenaria estrutu-
concreto, sílico-calcários, dentre outros. ral está estimada em torno de 20% desse
A alvenaria estrutural é utilizada na cons- mercado [1].
trução de edifícios, tipicamente com pa- Roman e Antunes Silva [2] sumarizaram
redes simples de espessura de 140mm. os resultados de um vasto número de
A alvenaria também é largamente em- pesquisas realizadas no Brasil, mostran-
pregada em paredes de vedação, compe- do as causas usuais de defeitos na alve-
tindo, por exemplo, com as dry-walls, e, naria, durante todo o seu processo de

72 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


em contato com as paredes sobre as
quais se apoiam.
Execução
8% O presente artigo trata das fissuras que
Projeto costumam aparecer em paredes sob la-
11%
jes de cobertura, que estão relacionadas
Planejamento
44% aos dois últimos subgrupos assinalados
no parágrafo anterior.
Tecnologia
17%
FISSURAS JUNTO À LAJE DE
Gestão
8% COBERTURA
Esse processo de fissuração geralmente
não compromete a segurança estrutural.
Ainda assim, são enormes os prejuízos
causados, por serem fissuras de difícil
reparação e que acarretam problemas
FIG. 1 – CAUSAS DE DEFEITOS NAS CONSTRUÇÕES BRASILEIRAS.
estéticos e de permeabilidade de água.
Como as juntas de argamassa constituem
construção. A Figura 1 resume as prin- venção pode e deve ser feita, conce- os planos de fraqueza da alvenaria, o pro-
cipais causas de problemas em constru- bendo-se todo o processo de constru- cesso de fissuração costuma ocorrer se-
ções em alvenaria no país. ção, começando pelo planejamento e gundo as duas configurações geométricas
terminando pela manutenção. Thomaz esquematizadas na figura 3. A primeira,
FISSURAS NA ALVENARIA [4] assinala que a prevenção está rela- constituída por fissuras horizontais, cos-
cionada com muitos aspectos, como os tuma acompanhar a junta de assenta-
O aparecimento de fissuras na superfície resumidos na figura 2. mento localizada logo abaixo da laje de
da alvenaria é uma indicação visual da Como o problema da fissuração é com- cobertura. A segunda é constituída por
existência de defeitos que prejudicam plexo, podendo-se identificar várias e fissuras que acompanham juntas verticais
o seu desempenho. Grimm[3] ressalta simultâneas causas, diferentes aspectos e horizontais, produzindo uma configura-
que as fissuras são a primeira causa de da prevenção e do reparo da alvenaria ção inclinada em formato de escada.
três ocorrências: penetração de água, podem ser considerados, como assina- A ocorrência dessas fissuras está relacio-
inconveniências estéticas, problemas lado por Souza et al [5]. Os problemas nada à deficiência de resistência ao cisa-
estruturais. Além dessas implicações, mais comuns observados no Brasil são lhamento, o que pode ser entendido com
ocorrem ainda prejuízos significativos causados por: a) recalques diferenciais base no critério de Coulomb. Segundo
ao isolamento acústico, à durabilidade e de fundações; b) deformações de ele- esse critério, adotado pelas atuais nor-
à resistência ao fogo das alvenarias em mentos estruturais que servem de apoio mas brasileiras de alvenaria estrutural
situação de incêndio. para paredes ou que com elas intera- [7] [8], a resistência ao cisalhamento da
A prevenção do processo de fissuração gem; c) deficiências de projeto ou proce- interface junta/unidade está associada a
é certamente a atitude mais indicada dimentos de execução inadequados; d) uma aderência inicial e ao atrito mobili-
para enfrentar o problema. Essa pre- movimentações das lajes de cobertura zado por pré-compressão. A pior conju-
gação desses fatores ocorre logo abaixo
da cobertura, uma vez que as paredes
estão sujeitas a baixas compressões e
a laje está submetida à maior tendência
de variação dimensional. Essa tendência
ocorre por efeito da retração adicionado
à variação de temperatura, o que é um
problema bastante acentuado em países
tropicais como o nosso.
Como destacado por Corrêa e Ramalho
[6], as paredes que apresentam a maior
tendência à fissuração são: a) as que se
encontram mais afastadas das regiões
centrais do pavimento, por serem maiores
os deslocamentos dos pontos da laje loca-
lizados junto às suas bordas; b) as paredes
que chegam de topo na fachada, por apre-
sentarem variações de temperatura muito
FIG. 2 – PREVENÇÃO DE FISSURAS [4].
diferentes das que ocorrem nas lajes.

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BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA

(a) Configurações típicas [6]. (b) Parede fissurada (Cortesia do Eng. Márcio Faria)

FIG. 3 – TIPOS BÁSICOS DE FISSURAS.

PREVENÇÃO
DAS FISSURAS
Algumas medidas podem ser tomadas
para prevenir a ocorrência de fissuras
na região em análise. Quanto à retração
da laje, além de um adequado proces-
so de cura, podem ser inseridas juntas
permanentes ou temporárias, para a
redução de seus efeitos. As juntas tem-
porárias devem ser concretadas poste-
riormente em prazo não inferior a uma
semana, observando-se a necessidade
de promover a emenda das armaduras
da laje por traspasse (Figura 4). Quanto
à movimentação térmica das lajes, po-
dem ser tomados cuidados para mini-
mizar as causas tais como: ventilação
do telhado, sombreamento da laje, pin-
tura da face superior do telhado com
tinta branca ou reflexiva, isolamento
térmico sobre a laje de cobertura (Fi-
gura 6). Pode-se também minimizar os
seus efeitos com as seguintes providên-
cias: disposição de juntas de dilatação
na laje, lançamento de juntas deslizan-
tes na interface laje/parede (teflon, pa-
pel betumado, neoprene, camada dupla
de mantas de PVC ou tiras de material
melamínico, etc., (Figura 5). O uso de
armaduras nas fiadas superiores das FIG. 4 – JUNTA DE CONCRETAGEM TEMPORÁRIA. ADAPTADA DE [4].

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FIG. 5 – JUNTA DESLIZANTE ABAIXO FIG. 6 – DETALHES PARA A MINIMIZAÇÃO DE FISSURAS NAS PAREDES SOB LAJE DE
DA LAJE. COBERTURA. ADAPTADA DE [9].

paredes também constitui um procedi- mento) e a sua armação com tela metá- intensidade das tensões de cisalhamen-
mento que reduz a ocorrência dessas lica ou de material geotêxtil. A figura 8 to despertadas nas paredes. A figura 9
fissuras. Tais armaduras podem estar ilustra essa recuperação. apresenta a forma do referido pavimen-
localizadas em cintas de respaldo e/ou to, bem como as principais característi-
juntas horizontais. Observe-se que elas ESTUDO DE CASO cas dos elementos estruturais.
são mais eficientes quando dispostas Corrêa e Ramalho[6] apresentaram um As paredes dispostas na direção da
na horizontal, direção de atuação da estudo de caso em que um pavimen- maior dimensão do pavimento foram
força cortante na parede induzida por to de cobertura e as paredes sobre as analisadas com base nos critérios es-
movimentação da laje. Já as armaduras quais ele se apoia foram representados tabelecidos em [7]. Considerando-se o
verticais contribuem apenas de forma por modelos alternativos em elemen- modelo mais refinado dentre os utiliza-
marginal por efeito pino. tos finitos, considerando simplificada- dos, no qual as paredes foram discretiza-
mente o comportamento elástico-linear das em elementos finitos de membrana
REPARO DAS FISSURAS para os materiais. O pavimento em laje e as lajes em elementos de casca, todas
Observada a ocorrência de fissuração de concreto de 0,09m de espessura foi as paredes, exceto a P3, apresentaram
na região em estudo, algumas provi- submetido a uma variação uniforme de tensões de cisalhamento superiores aos
dências podem ser tomadas, como as temperatura de 20º C, analisando-se a valores máximos normalizados, indican-
resumidas na figura 7.
O processo de recuperação das fis-
suras pode ser feito basicamente de
duas formas: a) remoção e substitui-
ção da alvenaria danificada; b) retira-
da e substituição do revestimento na
região fissurada. Em geral, o primeiro
procedimento é caro e pode ser até
mesmo ineficiente se as causas do pro-
blema não forem sanadas. O segundo
procedimento é o mais utilizado e tem
como fundamento a separação entre
a alvenaria e o revestimento, mediante
a colocação de um material liso e neu-
tro (bandagem, fita adesiva, etc.), bem
como o aumento da elasticidade do re-
vestimento (por exemplo com a adição
FIG. 7 – PROCEDIMENTOS DE REPARO [9].
de cola PVA na argamassa de revesti-

75
BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA

FIG. 8 – RECUPERAÇÃO DE FISSURAS [5].

do a provável ocorrência de fissuração, os efeitos das variações dimensionais da [2] ROMAN, H.; ANTUNES SILVA, D. (2007)
na ausência de providências como as laje, cuja movimentação horizontal induz - “Typical Masonry Wall Enclosures in
indicadas no item 3. Maiores detalhes o aparecimento de cisalhamento nas pa- Brazil”, In: CIB (2007) - “Enclosure ma-
podem ser obtidos em [6]. redes, em nível superior à sua resistência sonry walls worldwide”, S. Pompeu
nominal, caso seja impedido o movimen- Santos (ed), Taylor & Francis/Balkema,
CONCLUSÃO to relativo laje/topo da parede. Sendo um London, UK.
Embora a fissuração de paredes de alve- problema grave e que pode gerar eleva- [3] GRIMM, C. (1988) - “Masonry Cracks:
naria localizadas logo abaixo da laje de dos custos de reparação, os procedimen- A Review of the Literature”, ASTM STP
cobertura não comprometa a segurança tos de prevenção devem ser observados 992, American Society for Testing and
estrutural, é essencial a adoção de pro- de forma cuidadosa, buscando minimizar Materials, Philadelphia.
vidências que minimizem a sua ocorrên- a ocorrência dessa patologia. [4] THOMAZ, E. (1998) - “Prevenção e re-
cia devido ao comprometimento de sua cuperação de fissuras em alvenaria –
utilização. Procedimentos simples, como REFERÊNCIAS parte 2”, Techne, 37, pp.48-52.
os aqui brevemente discutidos, podem [1] CORREA, M. (2012) - “The Evolution of [5] SOUSA, H., THOMAZ, E., CORRÊA,
ser adotados tanto na fase de desenvol- the Design and Construction of Ma- M.R.S, ROMAN, H. (2015) – “Defects in
vimento do projeto como durante a sua sonry Buildings in Brazil”. Design Man- Masonry Walls. Guidance on cracking:
execução. Tais procedimentos buscam re- agement and Technology, São Carlos, Identification, prevention and repair –
duzir as suas causas, bem como atenuar 2012, V.7, N.2, p. 3-11. Introduction”. CIB W023 – Wall Struc-
tures, pp 1-6, International Council for
Research and Innovation in Building
and Construction, Rotterdam.
[6] CORREA, M. R. S.; RAMALHO, M. A.
(2012) - “Fissuras em paredes de al-
venaria estrutural sob lajes de cober-
tura de edifícios”. Cadernos de Enge-
nharia de Estruturas (Online), v. 14, n.
62, p. 71-80.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. “NBR 15961-1:2011. Alve-
naria estrutural – Blocos de concreto.
Parte 1: Projeto”. Rio de Janeiro, Brasil.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. “NBR 15812-1:2010. Alve-
naria estrutural – Blocos cerâmicos.
Parte 1: Projeto”. Rio de Janeiro, Brasil.
[9] I.P.T. (2009) - “Alvenaria de vedação em
blocos cerâmicos – Código de práticas
No 1”, Instituto de Pesquisas Tecnológi-
FIG. 9 – ESTUDO DE CASO – LAJE DE COBERTURA (DIMENSÕES EM CM).
cas de São Paulo S.A., Brasil.

76 REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017


AGENDA

CALENDÁRIO DE
CURSOS
5 e 6 MAIO PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO COM AUXÍLIO DE MODELOS DE BIELAS E TIRANTES
Local: Recife/PE

CÁLCULO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO


Local: Salvador/BA

MODELAGEM DE ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS


Local: Natal/RN

12 e 13 MAIO PROJETO E EXECUÇÃO DE LAJES PROTENDIDAS: CONCEITOS, APLICAÇÃO E PRÁTICA


Local: Fortaleza/CE

Local:
13 MAIO PROJETO ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS DE ALVENARIA
Porto Alegre/RS

17 MAIO WORKSHOP MOMENTO ATUAL DO MERCADO DE CONSTRUÇÃO CIVIL


Local: São Paulo/SP

18 e 19 MAIO PROJETO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO


Local: São Paulo/SP

26 e 27 MAIO DISTRIBUIÇÃO TRANSVERSAL DE CARGAS EM PONTES COM VIGAS MÚLTIPLAS


Local: São Paulo/SP

26 a 28 MAIO CÁLCULO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO


Local: Manaus/AM

2 e 3 JUNHO PROJETO E EXECUÇÃO DE LAJES PROTENDIDAS: CONCEITOS, APLICAÇÃO E PRÁTICA


Local: Rio de Janeiro/RJ

CÁLCULO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO


Local: Curitiba/PR

9 JUNHO DIMENSIONAMENTO À PUNÇÃO EM LAJES PELA NBR 6118/2014


Local: São Paulo/SP

10 JUNHO ESPECIFICAÇÃO, GERENCIAMENTO E CONTROLE DE CONCRETO


Local: Blumenau/SC

23 e 24 JUNHO INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA: CONCEITOS E APLICAÇÕES EM PROJETOS ESTRUTURAIS


Local: São Paulo/SP

PROJETO DE ESTRUTURAS METÁLICAS


Local: Rio de Janeiro/RJ

7 e 8 JULHO PROJETO DE ESTRUTURAS METÁLICAS


Local: Rio de Janeiro/RJ

14 e 15 JULHO PROJETO E EXECUÇÃO DE LAJES PROTENDIDAS: CONCEITOS, APLICAÇÕES E PRÁTICA


Local: Curitiba/PR

20 e 21 JULHO PROJETO DE REFORÇO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO


Local: Salvador/BA

Outras informações: http://site.abece.com.br/index.php/eventos | abece@abece.com.br | (11) 3938-9400

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REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017 78
RESPOSTAS
1 – Diâmetros das barras longitudinais igual a 4 – Espaçamento entre estribos igual a 25 cm 6 – Pilar com dimensões de 15x15cm (Pilar 01):
8mm (Pilar 01): (Pilar 02): Comentário: pilares em concreto armado, segundo
Comentário: Segundo o item 18.4.2.1 da ABNT NBR Comentário: Segundo o item 18.4.3 da ABNT NBR o item 13.2.3 da ABNT NBR 6118:2014, não podem
6118:2014, “o diâmetro das barras longitudinais não 6118:2014, “o espaçamento longitudinal entre estri- apresentar seção transversal com área inferior a
pode ser inferior a 10 mm”. bos, medido na direção do eixo do pilar, para garan- 360 cm2;
2 – Diâmetros das barras longitudinais igual a tir o posicionamento, impedir a flambagem das bar- 7 – Cobrimento da armadura igual a 10 mm (Pi-
25 mm (Pilar 02): ras longitudinais e garantir a costura das emendas lar 02):
Comentário: Segundo o item 18.4.2.1 da ABNT NBR de barras longitudinais nos pilares usuais, deve ser Comentário: segundo a tabela 7.2 da ABNT NBR
6118:2014, o diâmetro das barras longitudinais não igual ou inferior ao menor dos seguintes valores: 6118:2014, o menor cobrimento nominal da arma-
pode ser “superior a 1/8 da menor dimensão trans- 200 mm; menor dimensão da seção; 24 φ para ca- dura para pilares deve ser de 25 mm podendo ser
versal”. 25, 12 φ para ca-50”. reduzido em 5 mm em algumas situações.
3 – Diâmetro dos estribos igual a 4.2 mm (Pilar 5 – As,máx superior a 0.08 ac (Pilar 02) na
01): emenda: Observação: Como se trata de um exemplo e não
Comentário: Segundo o item 18.4.3 da ABNT NBR Comentário: Segundo o item 17.3.5.3.2 da ABNT um projeto completo, diversos outros itens (carim-
6118:2014, “o diâmetro dos estribos em pilares não NBR 6118:2014, “a máxima armadura permitida em bo, notas mais completas, legendas, etc...) e dese-
pode ser inferior a 5 mm nem a ¼ do diâmetro da pilares” (as,máx = 0.08 ac) “deve considerar inclusive nhos (cortes, detalhes construtivos, etc...) devem
barra isolada ou do diâmetro equivalente do feixe a sobreposição de armadura existente em regiões fazer parte de um projeto estrutural adequado as
que constitui a armadura longitudinal”. de emenda”. normas técnicas.
DIRETOR DA ABECE
POR LEONARDO BRAGA PASSOS
FALHAS
DETECTE AS
JOGO DE SETE ERROS

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