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ENTREVISTA
Hugo Corres, novo presidente
da fib, detalha seus planos
NOSSO CRAQUE
Professor Péricles Fusco relembra
sua trajetória profissional
Edifício
Vista
Guanabara
Projeto inovador se insere no conjunto de obras arrojadas
que modificou a região portuária do Rio de Janeiro
ÍNDICE | REVISTA ESTRUTURA
GUANABARA
05 | PALAVRA DO PRESIDENTE
MOMENTO EXIGE SUPERAÇÃO 52 | APRENDENDO COM O ERRO
ESQUECERAM A SUBPRESSÃO!
06 | ENTREVISTA
PRESIDENTE DA FIB CONCLAMA A UM 54 | MUSEU DO PROJETO
CONSTANTE RENOVAR DO CONHECIMENTO EDIFÍCIO SAN SIRO
EXPEDIENTE
A Revista Estrutura é uma publicação da ABECE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGE-
NHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL, dirigida aos escritórios de engenharia e enge-
nheiros projetistas, construtoras, arquitetos e demais profissionais do setor.
PRESIDENTE: Jefferson Dias de Souza Junior Aurélio Fortes da Silva, Ricardo Borges Kerr, REDAÇÃO: Lázaro Evair de Souza, Sylvia Mie
VICE-PRESIDENTE DE RELACIONAMENTO: Thomas Carmona, Túlio Nogueira Bittencourt PRODUÇÃO GRÁFICA: MGDesign
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Laginha Neto, Leonardo Braga Passos, Luiz Enio Campoi – MTB 19.194 receber a revista.
03
EDITORIAL
ENGENHARIA BRASILEIRA:
UMA NOVA ERA
Q
uando recebi o convite para rarmos ao nosso país? Seria extraor-
escrever este editorial fiquei dinário se tivéssemos uma tecla como
muito lisonjeado, mas ao esta, onde precisaríamos apenas aper-
mesmo tempo temeroso e me tá-la e, em questão de segundos, tudo
veio à mente aquela pergunta: “Sobre regressaria à normalidade, mas infeliz-
qual tema irei ortografar? ”, pois bem, mente ela não existe. E então, como de-
surgiu-me, de imediato, a idéia de gra- vemos proceder?
far sobre a atual situação em que nosso Na minha opinião, este dispositivo já foi
país, juntamente com a profissão a qual apertado, pois nunca na história desta
optei para atuar, A ENGENHARIA, en- nação tantos políticos e empresários
contram-se atualmente. foram presos e verbas provenientes de
Para iniciar minhas palavras retornemos corrupção foram devolvidas aos cofres
ao ano de 2013. Neste ano, iniciou-se públicos. A população passou a intera-
a chamada “Operação Lava Jato” e, em gir e cobrar mais de seus governantes.
2014, os primeiros mandados de pri- Entretanto, temos consciência de que
são, busca e apreensão foram emitidos a retomada a um Brasil melhor será a
para executivos de renomadas empre- longo prazo, mas o restart já foi dado e
sas de engenharia, na época, suposta- estamos no rumo certo para a melhoria
mente envolvidas no maior esquema do país.
de corrupção identificado nesta nação Precisamos direcionar nossos esforços
e justamente em um período em que o na educação das novas gerações, preci-
país se encontrava fragilizado pela crise samos reestabelecer nossos conceitos
econômica. LEONARDO BRAGA PASSOS, sobre o que é certo e o que é errado,
Desde então, a sensação que temos é DIRETOR DA ABECE sobre honestidade, cumplicidade, ami-
que nossa nação, nosso lar, se encontra zade e ajuda ao próximo. Não podemos
envolvido por uma nuvem negra, onde, abandonar os valores e bons ensina-
a cada dia, surgem raios e trovões dis- va” naquela situação que nem mesmo mentos que nos foram repassados pe-
parados progressivamente sobre nós: apertando as teclas “ctrl+alt+del” ele não las gerações anteriores devido a maus
Impeachment, construção civil em de- funciona. exemplos de pessoas de má índole que,
clínio, alta da inflação, demissões em A primeira situação podemos comparar com certeza, representam uma minoria
crescimento acentuado, prisões de em- com a que estamos vivendo, onde o país em nosso país.
presários do alto escalão e de políticos encontra-se “infectado” a décadas por Para finalizar, vocês devem estar se per-
considerados antes como “intocáveis”. atos ilícitos de instituições e pessoas. guntando: O que tem a ver o título “EN-
Entretanto, meu intuito não é desani- Para eliminar estes vírus, precisamos GENHARIA BRASILEIRA – UMA NOVA
má-los e sim, expor meu ponto de vista utilizar antivírus que, no caso brasileiro, ERA” com o exposto neste texto? Esta,
sobre os acontecimentos ocorridos nos podemos citar como exemplo a Polícia é fácil de responder. Sem a melhoria das
últimos anos no Brasil. Gostaria de fazer Federal que, juntamente com o judiciá- condições atuais de nosso país, econô-
uma breve reflexão: suponhamos que rio, está tratando e banindo gradativa- mica e principalmente de valores como
o Brasil é um computador, ok? Compu- mente os vírus que tanto mal fazem para ética e honestidade, a engenharia não
tadores apresentam problemas em sua a população. irá crescer e o inverso também é válido,
utilização, mas gostaria de citar em es- Já o segundo problema, quando ocor- sem engenharia nenhum país se desen-
pecial dois deles: o primeiro refere-se re em computadores, a única forma de volve, por isso, a nova era que iniciamos
a hipótese em que está infectado por saná-lo é apertando a tecla de “restart”, no país, será também, a NOVA ERA DA
malwares; e o segundo, quando ele “tra- mas como podemos tratá-lo se compa- ENGENHARIA.
MOMENTO EXIGE
SUPERAÇÃO
É
longa minha atuação na área da cons- Quanto à estrutura, poderemos imaginar
trução civil, mais especificamente, na que possa ser convencional, paredes de
engenharia estrutural. Agora, na con- concreto, pré-moldada, concreto protendi-
dição de atual presidente da ABECE, do, metálica, alvenaria, lajes nervuradas...
espero contribuir para unir os elos da cadeia Para isso, temos que participar do nasci-
produtiva. mento do projeto, tentando, desde o início,
Estamos vivenciando um período de sobre- harmonizar a solução estrutural adequada
vivência, tendo em vista a situação política e para cada arquitetura concebida. Ainda nos
econômica do país com a qual nos defron- dias de hoje, convivemos com construtoras
tamos. Nesse contexto, temos que, neces- de pequeno e médio porte nos consultando
sariamente, nos adequarmos, inovarmos, quando já têm um produto absolutamente
além de nos unirmos em prol do desenvolvi- definido. Concebem uma obra sem ao me-
mento e do crescimento do setor, nos preo- nos realizar uma sondagem para se avaliar o
cupando ainda mais com os custos finais das custo de um 2º, 3º ou 4º subsolos, do impac-
obras, uma vez que impactam diretamente to dos vizinhos/divisa, da interferência do
nos resultados almejados por nossos con- lançamento dos pilares nas garagens, sendo
tratantes, quer sejam eles incorporadores que inúmero deles e sua distribuição estão
imobiliários, investidores ou empresários. relacionados à solução adotada.
Somos todos parceiros: Sei que, para muitos, estou falando o óbvio,
• construtoras mas, como frisei, o Brasil tem dimensões
• incorporadoras e investidores continentais, e o que pode parecer evidente
• projetistas em uma região, pode muito bem não sê-lo
Juntos precisamos vencer esta etapa dura, em outra...
porém necessária, para a superação. Em função das dimensões continentais de Por isso, cabe a nós um importante desafio:
Quando digo projetistas, estou me referindo nosso país, internamente, temos culturas • Unirmo-nos em prol da geração de obras
aos profissionais que atuam nas áreas de: e conhecimentos diferentes, o que eu cha- projetadas com segurança, concebidas
• Arquitetura maria de “cultura regionalizada”, que muito com soluções construtivas mais adequa-
• Estrutura influencia na tomada de decisões. das, melhor custo/benefício, levando em
• Fundações Será que uma solução considerada ideal conta:
• Instalações para uma região pode não ser adequada o As diversas Normas vigentes
• Paisagismo para outra? o A qualidade e o conforto que o usuário
• Infraestrutura, etc... Sim, não há dúvidas quanto a isso. final exige
Nós, e os projetistas das demais áreas, te- Cabe a nós, profissionais do projeto, nos in- o Tudo com custos reduzidos ao máximo
mos que, literalmente, “tirar da manga” car- tegrarmos e nos inteirarmos sobre as técni- para o nosso contratante que atravessa
tas com as soluções mais adequadas para cas disponíveis, inovações e considerarmos, fase crítica em nossa área.
cada caso. Certamente é um grande desafio, com olhar crítico, as soluções viáveis a serem Para que a as parcerias sejam efetivas e con-
levando em conta: apresentadas ao nosso cliente, consideran- tinuem em constante evolução, os projetis-
• Localização da obra do todas as variáveis. tas de estrutura, assim como os demais par-
• Localização dos contratantes Temos que saber propor alternativas para ceiros de projetos, deveriam estar presentes
• Partido definido pela Arquitetura obtermos o melhor custo/benefício para e integrados, não apenas na concepção e no
• Técnicas disponíveis cada obra/projeto, contribuindo, desta for- desenvolvimento dos projetos, mas, na me-
• Cultura e expertise da contratante ma, como parceiros que somos, para o aten- dida do possível, durante todo o processo
• Qualidade e disponibilidade da mão de dimento da viabilidade financeira e da quali- produtivo no decorrer da obra.
obra local dade final esperadas. Mas isso já é assunto para outro dia...
05
ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI
PRESIDENTE DA FIB
CONCLAMA A UM
CONSTANTE RENOVAR
DO CONHECIMENTO
O ENGENHEIRO HUGO CORRES ENFATIZA A NECESSIDADE DE MELHOR
INTEGRAÇÃO ENTRE PROJETISTAS, CONSTRUTORES E ACADÊMICOS PARA O PLENO
DESENVOLVIMENTO DA ENGENHARIA. A SEU VER, É DIFÍCIL FORMAR ENGENHEIROS
NA UNIVERSIDADE, POIS A PROFISSÃO SE APRENDE COM EXPERIÊNCIA
“
tre outros, incluindo obras que levaram
a assinatura de consagrados arquitetos
como Santiago Calatrava, Renzo Piano,
Zaha Hadid, Norman Foster e Jean Nouvel. Não se pode avançar sem que
Bastante atuante também na esfera aca-
novos conhecimentos sejam
dêmica, pois é professor da Universida-
de Politécnica de Madri, Corres mantem
interpretados e possam ser
“
proximidade com instituições que atuam utilizados nos projetos
no estudo e estímulo à engenharia. Em
função disso, está sempre percorrendo o
mundo proferindo palestras, com cons-
tantes passagens também pelo Brasil a
convite de entidades como a ABECE, AB-
CIC e IBRACON, onde aliás também par-
ticipou da elaboração do projeto para a
construção da Arena Corinthians. A todas
essas atividades, ele acumulou mais uma, Iria Doniak, presidente executiva da Abcic. ABECE – Quais são as diretrizes para a
pois acaba de assumir a presidência da Em todos os órgãos de produção técnica, fib nos próximos anos?
fib (Federação Internacional do Concre- a presença de membros de todos os con- Hugo Corres – As diretrizes da fib são
to), a mais importante entidade técnica tinentes é um fato. É necessário fortalecer sempre as mesmas, definidas na missão
do concreto no mundo. Na entrevista a essa faceta da fib. da organização: desenvolver, em nível
seguir, Corres fala de seus planos à frente Os diversos agentes do mundo do con- internacional, estudo de matérias cientí-
da instituição e de sua avaliação sobre a creto estrutural atuam sem uma grande ficas e práticas, capazes de avançar o de-
necessidade de um permanente renovar integração. Os construtores, projetistas, sempenho técnico, econômico, estético e
do conhecimento sobre engenharia: acadêmicos e pesquisadores têm uma ambiental da construção em concreto. O
comunicação inadequada. Inclusive den- que evolui são as estratégias para fazer
ABECE – Quais serão suas prioridades tro do mundo acadêmico, os especialis- com que esses objetivos tornem-se rea-
e seus planos em sua gestão na fib? tas nas distintas disciplinas não estão lidade. Além disso, cada presidente, em
Hugo Corres – A fib inicia minha presi- conectados, não têm um léxico comum. função de sua experiência e especializa-
dência em um estado muito bom e com Isso não ajuda no desenvolvimento do ção, deve deixar seu legado específico,
projetos importantes que vamos realizar. concreto estrutural. Não se pode avan- transformando mais aqueles aspectos
O novo Model Code 2020 é, sem dúvida, çar sem que os novos conhecimentos se- que lhes são mais próximos e familiares.
um projeto importantíssimo que temos jam conhecidos e, também, que possam
em mãos. Acho que, não obstante, há ser interpretados adequadamente pelos ABECE – Qual é sua opinião sobre a
lugar para novos objetivos que podem agentes que têm a missão de utilizá-los participação dos representantes do
melhorar nossa organização. Nesse sen- tanto nos projetos como na construção. É Brasil na fib?
tido, eu me proponho a tentar uma maior necessário mudar essa tendência. É pre- Hugo Corres – Desde sua fundação, nos
integração de todas as contribuições que ciso integrar diversos agentes em comis- anos 1950, quando foram criados o CEB e
fazemos e, portanto, possivelmente um sões e grupos de trabalho liderados por a FIP, a fib foi considerada como uma fede-
melhor desenvolvimento e a difusão de especialistas, mas acompanhados por ração internacional de países, representa-
todos os resultados científicos e técnicos membros de outros setores. dos por suas respectivas associações ou
que são produzidos pela fib, que é uma A fib foi integrando, ao longo de sua histó- instituições vinculadas, de uma forma ou
associação internacional, aspecto que se ria, as novas gerações, geralmente a par- de outra, ao concreto estrutural. Embora
7
ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI
existam diferentes tipos de sócios, os só- pré-fabricação. Além disso, foi membro ma continuada, foi criada recentemente
cios estatutários, ou seja, os países repre- convidada do Presídium, o órgão de ges- a nova comissão 10, liderada por Gor-
sentados por suas associações locais são tão da fib, e recentemente foi eleita pela don Clark, ex-presidente da fib, que tem
realmente os que têm o protagonismo em assembleia geral por mais quatro anos por objetivo identificar e produzir Model
nossa associação. Essa estrutura, que é nessa função. Sua contribuição também Codes. Neste momento, foi criado o TG
única nesse tipo de instituições, e é inspi-
rada no principio de que os que conhecem
os problemas locais são as associações lo-
cais e, além disso, são as que conhecem
sua gente para poder propiciar a partici-
“
pação nos trabalhos técnicos da associa-
ção de pessoas mais preparadas de cada
estado membro. Portanto, o papel dos
países, das associações que representam
o Brasil, ou seja, ABECE e ABCIC, é funda-
Os Model Codes são documentos
mental. A participação do Brasil é muito pré-normativos que tiveram e terão
ativa. Sua contribuição é muito generosa
e importantíssima para a fib. As associa- uma grande influência nos códigos
“
ções brasileiras locais, ao que me consta,
servem de caixa de ressonância ativa de nacionais e regionais
tudo que acontece na fib. Por sua vez seus
representantes participam ativamente em
diferentes foros para transmitir os aspec-
tos que preocupam o país dentro da fib e
também exercem a responsabilidade de
identificar os melhores especialistas para
que contribuam, junto com outros colegas
internacionais, para o desenvolvimento neste importante fórum de decisões é 10.1, em cujo âmbito é produzido o Mode
do concreto estrutural. muito apreciada. Code 2010. Esse grupo é liderado por
Stuart Matthius que também é o presi-
ABECE – Qual é a contribuição que o gru- ABECE – O Model Code da fib avança dente da Comissão 3 Estruturas Existen-
po brasileiro, liderado pelo engenheiro cada vez mais como uma referência tes, que tem a seu cargo a produção do
Fernando Stucchi, traz para a fib? internacional para estruturas de con- Model Code 2020.
Hugo Corres – O professor Stucchi junto creto. O senhor poderia descrever sua Foi estabelecido um rico debate nos dois
com Iria Doniak, tem sido os represen- importância e seus objetivos? E como últimos anos sobre o teor e a forma de
tantes do Brasil na fib. Ambos estão cum- o Model Code cobre o interesse dos 43 produção do novo Model Code. Ficou
prindo um papel importantíssimo e es- países que compõem a federação? decidido que o novo Model Code integra-
tão contribuindo de forma substancial. O Hugo Corres – Os Model Codes são do- ria em um mesmo documento e de uma
professor Stucchi, além de participar, a tí- cumentos pré-normativos que tiveram e forma uniforme, as novas estruturas, que
tulo individual, em diferentes TG, faz par- terão uma grande influência nos códigos tratam dos códigos atuais, e as estruturas
te do TG 6.5 pontes pré-fabricadas, que nacionais e regionais que se desenvol- existentes que exigem ser inspecionadas,
eu mesmo dirijo, por exemplo. Ele teve vem e se desenvolverão no futuro. Os mantidas, reparadas e relançadas para
uma participação relevante no último euro-códigos e outras normas se ba- seu uso nos próximos anos, ou demoli-
Model Code 2010, onde foi o porta-voz seiam nas diferentes versões do Model das. Embora o Model Code 2010 já trate
do trabalho de um grupo de engenheiros Code. Os Model Codes sempre foram das estruturas existentes, planeja-se um
brasileiros que analisaram e comentaram documentos que apresentaram soluções desenvolvimento no mesmo nível das es-
o documento antes de sua publicação e novas e criativas em diferentes campos. truturas novas. As estruturas existentes
permitiram a introdução de correções e A fib desenvolveu os Model Codes 1970, fazem parte de nossas infraestruturas e
melhorias. Espero que esse documento, 1990, 2010 e agora enfrenta este novo estão exigindo uma grande atividade no
de grande qualidade científica e técnica, desafio que espera estar terminado em mundo do concreto estrutural.
possa contribuir ainda mais para o país. 2020. A fib também produziu outros Mo- Ficou decidido que o tratamento seja inte-
Além disso, ele participa na TG10.1, onde del Codes complementares aos códigos grado. Não se pretende criar novas teorias
se elabora o novo Model Code 2020. Iria gerais, que tratam de temas específicos de comportamento. Desejamos apenas a
Doniak, participa ativamente na Comis- como o Model Code para estruturas sís- extensão das teorias atualmente válidas,
são 6 de Pré-fabricação e propiciou a micas ou o Model Code para a vida útil atualizadas e ampliadas, para o tratamen-
integração da industrialização com a en- das estruturas. Sendo consciente da to das estruturas. O Model Code 2010
genharia estrutural. Gerenciou brilhante- importância desse tipo de documentos fez um esforço importante para tratar de
mente a relação fib-Brasil no campo da e para garantir que se produzam de for- eliminar os modelos empíricos e estabe-
“
trabalhos realizados, e para obter infor- de envolvimento.
mações sobre necessidades e possíveis
contribuições. O primeiro workshop foi ABECE – Como o senhor compreende
promovido em Tóquio, e o segundo na
Cidade do Cabo. O próximo será em Mas-
A engenharia a ATP - Avaliação Técnica de Projetos
(CQP - Controle da Qualidade do Proje-
trich, em junho. O Brasil está organizando brasileira tem o to)? Quais são os benefícios? Como se
um workshop para a América Latina, que aplica na Espanha e em ouros países
será realizado em setembro deste ano, mais alto nível e da Europa?
em São Paulo. Imediatamente depois,
será realizado outro workshop nos Esta-
sempre esteve Hugo Corres – O controle de projetos é
uma atividade importante, complexa e
dos Unidos. Também está programado
para outubro um workshop na Austrália e
alinhada com que se realiza de forma mais ou menos
geral no mundo todo. É importante por-
na Índia. Por último, está previsto para o uma forma de que permite dar garantias aos projetos
próximo ano um workshop em Xangai, e que se realizam, em uma etapa em que
um evento de apresentação dos primeiros proceder da fib os custos das correções são razoáveis e
“
resultados no Congresso da fib em Mel- as garantias são maiores. É uma tarefa
borne. A engrenagem está em movimen- complexa porque exige pessoas expe-
to e todos nós estamos muito motivados rientes. Comprovar é verificar a idoneida-
com este projeto interessantíssimo e, ao de da solução, que é o mais importante.
mesmo tempo seguramente muito útil. Isso não pode ser feito por qualquer pes-
soa. Se a ideia for inadequada não há cál-
ABECE – O senhor esteve no Brasil al- culo justificativo que possa dar um jeito
gumas vezes e também participou de nela. Essa verificação não pode ser feita
obras aqui. Qual é sua avaliação do mos de subsistência e de manter capaci- no final do projeto. Deve ser realizada no
momento atual da engenharia estru- dades imprescindíveis para por o motor final da concepção. Em seguida, é preciso
tural no Brasil, comparado com a reali- em marcha quanto necessário. verificar o projeto em si mesmo, desde o
dade europeia? ponto de vista normativo e desde o pon-
Hugo Corres – Tive a possibilidade de ABECE – Do ponto de vista estrutural, to de vista quantitativo. Aqui, novamente,
visitar o Brasil em inúmeras ocasiões, e qual obra foi mais desafiadora? E em os cálculos são necessários, mas a cons-
pude trabalhar em alguns projetos bra- termos de inovação? tatação conceitual também é necessária,
sileiros, com FHECOR do Brasil e em co- Hugo Corres – Sinceramente acho que e muito. Em todos os projetos grandes do
laboração com outras engenharias. Em ninguém deve esperar enfrentar um gran- mundo é imprescindível fazer engenharia
9
ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI
de verificação. É um processo paralelo ao nas faculdades europeias e também ABECE – Que orientação geral o se-
projeto e que o segue nas diferentes eta- no Brasil? nhor pode dar aos jovens que expres-
pas. É um projeto que tem um alto custo, Hugo Corres – Esse é um assunto com- sam o desejo de seguir a carreira de
mas que é uma garantia de investimento plexo. Eu também sou professor na Uni- engenharia de projetos de estruturas?
muito importante. versidade Politécnica de Madri e me per- Hugo Corres – Que é uma grande esco-
Na Espanha existe essa supervisão para gunto sempre qual é a forma de contribuir lha; que é uma profissão com a qual se
muitas obras de infraestrutura propiciada mais para a formação das novas gera- pode criar. Que é preciso estar constante-
pelas administrações. Para evitar proble- ções. Creio que, neste momento, exis- mente aprendendo, que é preciso ter uma
mas nas construções e também para ad- te muito ruído e muita especialidade. A grande curiosidade, e que é necessário ter
vertir seus clientes sobre possíveis falhas universidade se debate entre investigar e uma grande paixão para entender e con-
de projeto, as construtoras espanholas projetar. Entre publicar ou ensinar. Há um tribuir. É preciso saber e digerir tudo. É um
realizam CQPs de todas as suas obras. Es- pouco de confusão. Em minha opinião, é mundo apaixonante, e é uma atividade na
ses trabalhos são mais conceituais, mas difícil fazer um engenheiro na universida- qual vale a pena investir uma vida.
muito importantes e devem ser realizados de. O compromisso da universidade deve
por pessoas de muita experiência. ser dar a ele uma boa formação; a melhor ABECE – Qual é a importância da siner-
gia entre projetistas de estruturas, en-
genheiros e arquitetos?
Hugo Corres – Nós, engenheiros e ar-
quitetos temos sido as mesmas pessoas,
cronologicamente, desde quase 300
“
anos. Os atores da engenharia/arquitetu-
ra/arte/construção eram uma só pessoa.
Apolodoro de Damasco, o arquiteto/en-
É difícil fazer um engenheiro na genheiro/construtor/artista do Panteão
de Roma, a obra de engenharia estrutu-
universidade. A profissão deve ser ral que, em minha opinião, é a mais inte-
“
ajuda de mestres pessoa. Era arquiteto, concebeu um tem-
plo para os deuses do céu e pensou um
óculo no centro de uma cúpula, que foi
recorde do mundo do concreto durante
quase 1800 anos, para prestar uma ho-
menagem ao sol. Era um excelente en-
genheiro estrutural porque idealizou as
formas com maestria, de acordo com as
proporções canônicas de seu tempo e
ABECE – Em sua opinião, quais são os possível. A profissão, a experiência, os utilizou como ninguém o concreto que
maiores desafios da engenharia no fu- mestres, muitos ou poucos que encon- podia ser produzido naquela época. Era
turo? tramos no caminho são importantes. A um construtor incrível porque estabele-
Hugo Corres – A formação. As novas tec- profissão deve ser aprendida com a expe- ceu um recorde. Era um artista porque
nologias devem ser aproveitadas como riência e com a ajuda de mestres adequa- imaginou cada um dos detalhes deco-
instrumento para o desenvolvimento dos. Precisamos ser humildes para poder rativos do templo porque nós nos es-
das ideias, mas as ideias são o motor, o aprender; temos que aprender fazendo. quecemos de nossas origens. Se nossa
primeiro passo. Devemos estar acostu- É preciso trabalhar infinitamente. E para formação agora não é tão geral porque
mados a engendrar ideias e, para isso, tudo isso é imprescindível uma formação não sabemos nos questionar e resolver
a formação é importantíssima. Precisa- básica boa, muito boa, de conceitos cla- conjuntamente nossos problemas co-
mos saber mais, mais que nunca e sobre ros, e equilíbrio e a compatibilidade elás- muns. É por falta de inteligência. Nós,
tudo. Saber profundamente. Entender, tica que é a formação básica. Conceitos os arquitetos e engenheiros, temos que
entender e entender. O trabalho de um totalmente claros. A universidade tem um colaborar de forma estreita e percorrer
engenheiro não é calcular, é gerar ideias papel que é formar-se, dotar-se e manter- juntos os problemas e as soluções dos
a partir do conhecimento e evitar proble- -se constantemente autocrítica. O mundo temas de arquitetura que são complexos
mas que nunca são solucionados com o em que vivemos muitas vezes não nos e que exigem o máximo de criatividade.
cálculo. Temos que ensinar/aprender a permite pensar nesses termos. Mesmo Para mim, um dos maiores prazeres foi e
fazer engenharia. assim, os bons engenheiros continuam continua sendo colaborar com bons ar-
aparecendo. Será que com mais ajuda quitetos. Sempre aprendi, sempre pude
ABECE – Como o senhor analisa o esta- eles seriam mais e melhores? Ninguém desempenhar minha parte de criativida-
do atual o ensinamento da engenharia sabe e nem saberá. de e sempre senti prazer com isso.
NASCIDO PARA
SER ENGENHEIRO
A TRAJETÓRIA VITORIOSA DO PROFESSOR PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO,
RESPONSÁVEL POR INÚMEROS PROJETOS E TAMBÉM POR UMA ATUAÇÃO INTENSA NAS
ATIVIDADES ACADÊMICAS LIGADAS A VÁRIOS SEGMENTOS DA ENGENHARIA BRASILEIRA
O
interesse por engenharia genheiros, um tema frequente em sua
surgiu muito cedo na vida do vida e que o tem preocupado bastante,
paulistano Péricles Brasilien- diante da situação atual do ensino no
se Fusco. “Eu nasci para ser Brasil, de maneira geral, mas especial-
engenheiro”, como ele mesmo gosta mente no campo da engenharia. Para-
de afirmar sobre sua opção pela pro- lelo ao trabalho de produção literária
fissão. Dono de uma capacidade impar voltada para o campo da engenharia,
para aprender, de forma rápida, os te- o professor Fusco ainda encontra tem-
mas mais complexos dos ensinamentos po para prestar serviços de consultoria
ministrados na Escola Politécnica da em estrutura para algumas empresas.
Universidade de São Paulo, na qual se Foi em meio a tantas atividades que ele
formou na turma de 1952, logo ele se concedeu, no final do ano passado, uma
tornaria professor, atividade que mar- entrevista à revista ESTRUTURA. Na se-
caria toda sua trajetória profissionais quência, confira os principais trechos
de mais 60 anos. da conversa:
O professor Fusco, como é mais conhe-
cido na engenharia brasileira, talvez ABECE – O que o levou a escolher
seja um dos engenheiros que melhor Engenharia?
conseguiu conciliar o ofício de proje- FUSCO – Acho que no meu caso foi
tistas de estrutura, pois assim que se uma questão de reencarnação ou
formou fez questão de já montar seu então genética distante, já que meu pai
pequeno escritório de projetos, com era médico e minha mãe professora. A
as inúmeras atividades acadêmicas, verdade é que nasci para ser engenheiro.
uma vez que manteve uma permanente Assim que terminei o colegial, fiz
atuação na cátedra das mais importan- um cursinho e entrei de primeira na
tes escolas de engenharia do País. Além Politécnica, onde me formei, em 1952.
PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO de dar aulas e acompanhar centenas Antes mesmo de concluir o curso,
de trabalhos de mestrado e doutorado comecei a trabalhar, como estagiário,
dos seus alunos, também se dedicou a num ótimo escritório de projetos de
produção de livros: foram 13 títulos, in- estrutura. Minha vontade de exercer a
cluindo um sobre “Técnicas de Armar as profissão era tamanha que, ainda sem
Estruturas de Concreto”, considerado a finalizar o curso, projetei meu primeiro
verdadeira “bíblia” dos projetistas brasi- arranha-céu. Além disso, no meio do
leiros. Dedicou-se também ao IPT - Ins- ano, fui convidado para trabalhar na
tituto de Pesquisas Tecnológicas, onde área de estruturas do IPT – Instituto de
entrou como assistente. Pesquisas Tecnológicas, onde fiquei até
E aos 87 anos, o professor Fusco não 1956, quando o professor Nilo Amaral,
dá sinais de que irá parar tão cedo, pois que era o catedrático de concreto
está trabalhando em mais um livro, que armado da Politécnica me convidou
terá com foco a formação dos jovens en- para ser seu assistente. No IPT aprendi
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NOSSO CRAQUE | PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO
tudo o que era possível aprender sobre sores Telêmaco Van Langendonck e Fer- tade dos anos de 1990, pela criação da
experimentos em estruturas. Já na Poli, nando Lobo. Faculdade de Tecnologia Termodinâmi-
passei a dar aulas de concreto armado. ABECE – Quais os fatos marcantes ca, uma instituição de formação técnica.
Paralelamente, montei meu escritório de dessa época? Acabei ficando dez anos lá.
projetos de estrutura. FUSCO – Uma das minhas realizações foi
a montagem de um laboratório de estru- ABECE – Com base em sua trajetória,
ABECE – O senhor também se formou turas para o curso de Engenharia da Poli, quais as principais mudanças ocorri-
em Engenharia Naval. O que o levou um antigo sonho meu. Lembro que o pro- das na área de projetos?
para esse caminho? fessor Décio de Zagottis tinha comprado FUSCO – No início da década de 1950
FUSCO – Em meados dos anos de 1950, alguns equipamentos de ensaios, que se projetava usando o regime elástico.
o governo decidiu criar no Brasil o pri- estavam encostados num canto. Então Quando comecei como estagiário no es-
meiro curso de engenharia naval. Como eu me propus a montar o laboratório. Fui critório do Paulo Franco Rocha, o concre-
faltava professor, foram chamados en- me encontrar com o governador, que na to armado era calculado em regime elás-
genheiros do exterior e o responsável época era o Paulo Maluf, um ex-aluno da tico e a resistência do concreto se admitia
pela coordenação foi o contra-almiran- Poli e lhe falei da minha ideia. Ele me ofe- como tensão de um pilar na faixa de 40
te reformado da Marinha dos Estados receu a doação de 80 toneladas de suca- kgf por cm2 que, com a mudança do siste-
Unidos, George Charles Manning. Fui ta de aço, que eram sobras das obras do ma internacional de medição, equivalia a
convidado para ser seu assistente, mas metrô. Com isso, mais a ajuda de algumas 4MPa. Eram valores básicos e com a evo-
pouco antes do início efetivo do curso, o empresas e também o apoio da Prefeitu- lução, deixou-se de lado o regime elásti-
professor Manning decidiu me incumbir ra da USP, consegui materializar o labo- co e se passou a calcular pelo regime de
de ministrar o curso, pois acreditava que ratório, que está em funcionamento até ruptura. Foi uma mudança da água para
eu tinha mais conhecimento de estru- hoje no campus. Uma das empresas que o vinho.
turas. Parti então para minha segunda
graduação e, num processo estranho, ABECE – E em relação à forma de pro-
eu fui, talvez, um caso único de, por dois jetar o que mudou?
semestres, ter sido ao mesmo tempo FUSCO – Quando comecei, se fazia os
aluno e professor de mim mesmo. No cálculos apenas com a régua de cálculo.
“
final do semestre, eu avaliava os meus Depois começaram a surgir as máquinas
colegas, enquanto meus exames vinham de calcular mecânicas. Depois vieram as
do MIT em envelopes lacrados. Em 1960 elétricas. Me recordo que, quando me
conclui o curso e em 1965 terminava O Brasil formei, fiz um trabalho que continha uma
também meu doutorado em Engenharia
Naval. Durante o período em que lecio-
sempre série de tabelas. Para fazer os cálculos,
pedi emprestada do escritório onde es-
nei no curso de Engenharia Naval, fui necessitará tagiava, uma máquina elétrica. Que coisa
responsável pela elaboração do projeto maravilhosa! As máquinas mecânicas da
de quatro navios, que, por problemas de de gente época faziam cálculos a + b, a x b e a:b. Já
orçamento, não saíram do papel. com as elétricas era uma maravilha, pois
competente você dava os parâmetros de a, x, y e b, e
ABECE – Então o senhor voltou para a
construção civil?
para projetar e ela fazia todo o cálculo.
FUSCO – Sim. Voltei para o Departa- construir ABECE – E com a chegada gradual do
“
mento de Engenharia Civil. Como eu computador o que aconteceu?
havia feito o doutorado, fui escolhido FUSCO – Aí mudou tudo. Inclusive o mé-
para ser o chefe da disciplina. Foi muito todo de calcular. Antigamente as estrutu-
bom, pois isso coincidiu com uma gran- ras pesadas hiperestáticas eram calcu-
de movimentação mundial em torno do ladas, principalmente, com métodos de
estudo das estruturas de concreto, na esforços, que exigiam uma enorme tra-
qual eu estava muito interessado, que balheira. Hoje nem se usa mais os méto-
era a finalização de um trabalho iniciado dos dos esforços. Hoje se usa o método
após a Segunda Guerra Mundial e que contribuiu foi a Termomecânica, de outro das deformações e dos deslocamentos,
consistia na reavaliação da forma de ex-aluno da Poli, o empresário Salvador que já era conhecido na época, mas não
se conceber as estruturas de concreto Arena. Fui falar com ele, que forneceu era possível fazer o cálculo por falta de
em todo o mundo. Havia sido criado um uma ponte rolante para a instalação dos tecnologia. Atualmente, com os algorit-
grupo de estudo com a participação de equipamentos de teste do futuro labora- mos, basta alimentar com os dados que
todos os países europeus e que contava tório. Esse encontro com Salvador Arena tudo é calculado em segundos. Quando
também com representantes de países acabou gerando, um tempo depois, mais os computadores começaram a ser intro-
de outros continentes, incluindo o Bra- uma atividade na área acadêmica, quan- duzidos nos canteiros, em meados dos
sil, que era representado pelos profes- do fui ser responsável, na segunda me- anos de 1980, nós do Departamento de
“
menos uniforme de todas as áreas e é ne-
cessário que haja mesmo essa sincronia
na evolução, mas é bom saber também
de um detalhe importantíssimo: as nor- Tivemos uma evolução
mas técnicas formam a espinha dorsal da
engenharia de um país. uniforme em todas as áreas.
ABECE – Como tem sido sua participa- Mas as normas técnicas
ção na formulação das normas brasi-
leiras?
formam a espinha dorsal da
FUSCO – Tenho participado diretamente engenharia brasileira
“
dos trabalhos de elaboração das normas
técnicas voltadas à engenharia e constru-
ção civil da ABNT – Associação Brasileira
de Normas Técnicas desde o princípio
dos anos de 1970, quando o assunto co-
meçou a despertar atenção dos profis-
sionais brasileiros. Um exemplo disso foi
a Norma de Símbolos Gráficos para Pro-
jetos de Estruturas, que fiz praticamen- ABECE – E em relação às escolas de 2 – Só se aprende as coisas que são es-
te sozinho, tendo sido posteriormente engenharia? miuçadas;
submetida a uma comissão que a apro- FUSCO – A qualidade dos estudantes que 3 – Só se aprende quando não há lacunas
vou quase sem nenhuma alteração. Ou- chegam ao nível superior tem decaído no processo de aprendizagem anterior.
tra que também redigi foi a de Ações de muito nos últimos anos. As escolas de en- Além disso, para saber se as ideias que
Segurança nas Estruturas. Em ambas, as genharia fazem o que podem a partir de pretendia aprender foram inteiramente
mudanças nelas introduzidas ao longo do alunos do ensino médio que recebe e que entendidas, isto é, se foram efetivamente
tempo foram meramente formais. Atuei são horríveis. Temos um sério problema integradas nas suas estruturas mentais, o
por mais de dez anos na ABNT, tendo de educação básica no país. estudante deve se sentir capaz de expli-
participado nesse tempo da elaboração cá-las, em todos os seus detalhes, a outro
e também da revisão das principais nor- ABECE – A seu ver, como soluciona- estudante ou, o que é melhor, de explicá-
mas que regem o setor nos dias de hoje. mos isso? -las a si mesmo, como se ele tivesse sido o
FUSCO – Há muito tempo estou preo- idealizador dessas ideias. Esta é a melhor
ABECE – Qual sua avaliação sobre o cupado com o ensino de forma geral no forma de alguém julgar o próprio aprendi-
momento atual da engenharia brasi- país. Agora mesmo, estou concluindo zado. Por fim, para saber se um conheci-
leira? um livro com o título de “Introdução à mento foi efetivamente adquirido por ou-
FUSCO – Assim como o país, ela está toda Engenharia de Estruturas de Concreto” tros, deve haver uma avaliação. Eu termino
destruída. Apesar dos desacertos do perío- exatamente para auxiliar no equacio- o prefácio com uma recomendação: para
do militar, havia um projeto de país, incluin- namento dessa questão. E no prefácio o desenvolvimento do país, é fundamental
do as obras de infraestrutura. Com o fim do dele, coloco alguns aspectos sobre um que os estudantes aprendam a aprender.
regime militar, os que chegaram ao poder ponto que considero decisivo: que é a
começaram a desmontar o que havia sido falta de uma atenção especial sobre a ABECE – Que mensagem pode dar
criado pelos militares. Isso provocou a fuga “arte de aprender”. Coloco lá que, en- aos jovens que estão cursando en-
de profissionais capacitados para o exte- quanto ao longo do tempo, a arte de genharia?
rior ou para outras atividades. Um exemplo ensinar ganhou apoio científico e se FUSCO – O Brasil precisa ainda ser cons-
disso são os profissionais responsáveis por transformou na tecnologia do ensinar, o truído, então sempre vai necessitar de gen-
projetar a Usina de Itaipu. Toda essa equipe aprender continua ainda no artesanato te competente para projetar e construir
sumiu. Se o Brasil precisar hoje construir individual. É isso que precisa mudar. O tudo o que for necessário ser construído.
13
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL | FOCO NO PESSOAL DE PROJETO
ESTÃO OS
CONSTRUTORES
MATANDO SUA GALINHA
DOS OVOS DE OURO?
O
POR AUGUSTO CARLOS DE VASCONCELOS s construtores sabem, melhor a durabilidade, dificuldade de executar,
do que qualquer outro profis- falta de informação sobre escoramen-
sional, comprar os melhores tos essenciais, embalagem atraente com
materiais nas mais vantajosas apresentação artística escondendo de-
condições. Ninguém consegue igualá- feitos não visíveis.
-los. Eles sabem muito bem que, além O construtor, muito experiente, depois
do preço, existem outros fatores que de cometer muitos erros, acaba apren-
podem ser mais importantes: entrega dendo a comprar os melhores materiais,
com pontualidade, condições especiais a fugir dos fornecedores enganosos, a
de pagamento, garantia de qualidade, escolher os operários certos para cada
responsabilidade por quebras e defei- tarefa. No tocante ao projeto, ele não
tos. Enfim, mais capazes do que os pro- adquiriu a experiência necessária para
fissionais de projeto, os construtores perceber a falta de segurança. Delega tal
conseguem auferir melhores lucros sa- atividade para auxiliares geralmente não
bendo comprar, nem sempre, pelo me- muito competentes para tal tipo de tra-
nor preço. balho. Não tem condições de examinar
Fora do campo dos materiais de cons- detalhadamente o projeto recebido para
trução, parece que os construtores não julgar sobre os perigos de uma execução
conseguem raciocinar com a mesma muito rápida, sobre o aproveitamento
perícia. É somente o preço do projeto máximo dos escoramentos, sobre as di-
que entra em consideração. Às vezes, é ficuldades de uma execução sem falhas,
também computado o prazo de entrega, sobre a proteção das armaduras e sobre
que fica muito prejudicado, com suas os perigos da aplicação da protensão
próprias indecisões de escolha. Não fora do prazo oportuno.
existe uma forma de fazer o construtor Os efeitos de variações térmicas e de
entender que o projeto é semelhante a deformação lenta do concreto não são
um material de construção que pode ter analisados com a minúcia necessária
seus defeitos: resistência baixa, durabili- para evitar dissabores futuros. O cons-
dade precária, aplicação difícil, deterio- trutor não tem outra alternativa senão
ração em progresso, embalagem inefi- delegar tais tarefas para outros. Não
ciente. Os projetos também carregam chega a perceber que nem todos os en-
consigo muitos parâmetros escondidos: genheiros de projeto estão habilitados
segurança precária, pouca atenção com para essas funções. Sua sorte está lan-
“
tores com obras defeituosas decorrem
do projeto. Ou é o arquiteto, que conce-
beu uma obra difícil de ser executada, ou
um projetista, que aceitou as exigências
Quem faz a obra não é o dono
de arquitetos incapazes de perceber o da construtora. São seus
comportamento estrutural. Tal projetista
negligente, ganhando pouco, deixou de colaboradores. Sua má escolha
dar a atenção que o projeto mereceria. O
construtor não se detém a pensar nessas leva a maior probabilidade de
eventualidades. Uma trinca em alvenaria
aborrecimento
“
pode resultar de uma aplicação em épo-
ca errada (dias quentes no fechamento
de vãos), de uma deformabilidade exces-
siva do suporte, de erro de projeto ou
de retirada prematura de escoramentos.
Qualquer que seja a causa, o aborreci-
mento do construtor é o mesmo. Poderia
ter sido evitado? Uma escolha correta do
projetista, com preço justo do serviço, registrados sobre o imóvel, se existe al- Mas a realidade é diferente: o que se
teria como decorrência um projeto mais guma pendência judiciária. paga realmente, hoje, por um projeto de
perfeito? Um projeto de estrutura custa, segun- estrutura, não chega a 50% do valor de
As falhas, que ocorrem todos os dias, do a tabela de honorários do Institu- tabela. No exemplo citado, isto corres-
não são privilégio dos maus construto- to de Engenharia de São Paulo, cer- ponde a R$30.000, o que representa ape-
res. Acontecem com todos, bons e maus, ca de 6% sobre o valor da estrutura: nas 0,006 do custo da construção. Uma
honestos ou safados, sovinas ou esban- 0,06x1.000.000=60.000, isto é, 20% dos variação de 25% deste valor (7.500), que
jadores. Quem faz a obra não é o dono honorários do corretor. Sua responsa- deveria ser a dispersão normal de valo-
da construtora. São os seus colaborado- bilidade não se limita à segurança da res de diversas propostas, não represen-
res. Sua má escolha leva a maior proba- construção: ele é responsável pelas de- ta quase nada para o investimento total
bilidade de aborrecimento. Raramente formações excessivas das peças, pelas da construção. Tais diferenças, entretan-
resulta de falha de material de constru- agressões à arquitetura, pelas invasões to, podem representar a escolha entre
ção, tijolo ou concreto, aço ou vidro. O aos recintos de uso domiciliar, pela possi- uma obra bem concebida, segura e de
material pode ser ótimo, mas sua apli- bilidade de passagens de tubulações, pe- desempenho satisfatório e outra obra,
cação tem que ser correta. Um projeto las condições de uma boa execução, pelo mal concebida, mal detalhada, com segu-
pode ser correto, mas a execução preci- consumo de materiais. Depois de pronto rança precária, de durabilidade duvidosa,
sa corresponder à qualidade do que se e entregue o projeto, podem surgir mo- exigindo urna manutenção dispendiosa
deseja obter. Um projeto correto, porém dificações, porque o novo comprador para encobrir os defeitos. O significado
mal concebido, pode significar um de- tem ideias diferentes sobre a utilização disto representa para o proprietário ou
sastre. Um bom construtor deve dedicar do que lhe foi oferecido. O construtor ao construtor dezenas de vezes mais do
algum tempo para julgar se um projeto não pode perder uma oportunidade de que o valor pago pelo serviço mal feito.
foi mal concebido ou não, independen- venda e atende a qualquer alteração que Para o profissional, por outro lado, repre-
temente de estar corretamente calcu- o comprador exigir. Tais alterações são senta trabalhar ou ficar ocioso. Tive no-
lado. A má concepção não pode levar a gratuitas para o comprador e para o tícia de um profissional, meu amigo, que
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VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL | FOCO NO PESSOAL DE PROJETO
me respondeu: “Para trabalhar deste jei- as pessoas envolvidas: emprego públi- dência? Nossos construtores têm cons-
to, prefiro desistir da profissão. Se V. não co, venda de materiais, planejamento ciência do que estão fazendo com o sis-
aceitar esse preço, outro vai fazer!” industrial, auditoria, consultoria técnica, tema de “leilão de projetos” sem escolha
Assim, não valem nada a experiência criação de gado, montagem de restau- do profissional pelo seu valor? Quando
profissional, a dedicação, a ficha de ser- rantes, informática, publicidade, música menciono isto em nosso meio a respos-
viços bem sucedidos e o prestígio. Todos em boates. Em todos esses casos, fui in- ta é sempre a mesma: “É o mercado que
estão nivelados pelo preço. É o computa- formado de que os ganhos foram subs- domina o sistema, que torna impossível
dor que calcula: o projeto é um só, com tancialmente maiores do que em proje- qualquer alteração!”.
a mesma segurança. O engenheiro só tos. Já estão ocorrendo casos em São Ficaremos de braços cruzados, deixan-
aperta botões! A criatividade não existe Paulo – e eu tenho conhecimento direto do o pior acontecer? Sabemos que isto
mais. A apresentação é desenhada por de três casos – de projetos de arquitetu- já está acontecendo e não há meios de
computador. Não existem erros. As nor- ra e estrutura feitos nos Estados Unidos. alertar os construtores de que eles estão
mas são obedecidas. Não há diferenças São obras grandes, não habitacionais, “matando a sua galinha de ovos de ouro”,
entre os diversos profissionais. É assim de elevado investimento. Tais obras não e de que sua economia ao conseguir um
que pensam os construtores e proprie- têm permissão legal para serem execu- projeto mais barato corresponde a com-
tários... Mas a realidade é diferente: o tadas no Brasil. Para isso, é necessário prar algo que não é nenhuma Brastemp,
como diz a propaganda. Estão a par de
que eles estão sendo iludidos, compran-
do papel pintado ao invés de um proje-
to bem elaborado? Que pela metade do
preço eles não conseguem comprar um
“
bom azulejo, ou cimento confiável, ou aço
de características comprovadas ou ... um
projeto sensato e seguro?
Assumir a responsabilidade Já fiz anteriormente uma tentativa de
por um projeto que não fez, abrir os olhos dos proprietários e dos
construtores, com os seguintes 8 pon-
porque não foi pago para isso, tos para serem meditados, os quais ago-
ra repito:
é uma espécie de prostituição – Nem sempre o preço mais baixo de
projeto dá uma economia real.
– Pode acontecer de que a obra seja
mais econômica com maior consumo.
“
– É mais importante um projeto bem
detalhado do que um desenho bonito
– Poucos desenhos podem indicar gas-
to excessivo de materiais.
– Nunca haverá um projeto bom feito
num prazo inadequado.
– Não é somente a segurança que vale
que se paga realmente, hoje, por um que algum profissional, registrado em num projeto: o comportamento em
projeto de estrutura, não corresponde nosso país assuma a paternidade do serviço e a durabilidade são igual-
ao que se deveria obter. O construtor ou projeto e refaça os desenhos de acor- mente importantes.
o proprietário pensa que fez “um bom do com os modelos de apresentação – O que representa o preço de um pro-
negócio” sem perceber a diferença entre compreensíveis para nossos operários jeto de qualidade em confronto com
uma obra bem concebida, segura e de e em obediência às normas brasileiras. custo dos acabamentos, facilidade
desempenho satisfatório e outra obra, Por incrível que pareça, sempre existirá de execução, bom detalhamento,
mal projetada, mal detalhada, com se- alguém que aceite tal incumbência por tranquilidade e acompanhamento da
gurança precária, de durabilidade duvi- uma remuneração aviltante! Assumir as obra pelo projetista?
dosa, exigindo uma manutenção dispen- responsabilidades de um projeto que – Quem escreve isto só é beneficiado
diosa para encobrir os defeitos. não fez, porque não foi pago para isso, é com projetos ruins.
Tal situação tem causado uma deban- uma espécie de prostituição. No deses- Construtores e proprietários bem in-
dada dos projetistas. Aqueles que não pero de sobrevivência, sempre existirá tencionados: meditem profundamen-
são fanáticos pela profissão procuram alguém que faça isto! te sobre tudo isto, sem preconceito, e
outros meios de sobrevivência. Tenho O que está acontecendo com nossa pro- ganhem dinheiro procedendo com os
tido conhecimento de casos assombro- fissão? Isto tende a se alastrar? Nossas profissionais colaboradores como pro-
sos de desvio da profissão. Eis alguns entidades de classe estão a par desta cedem em suas compras de materiais,
de que tive conhecimento direto com situação? Elas tomarão alguma provi- escolhendo pela qualidade!
PROJETO ESTRUTURAL
ARROJADO E SOLUÇÕES
OUSADAS
EDIFÍCIO VISTA GUANABARA SE INSERE NO CONJUNTO DE OBRAS
ARROJADAS E DE GRANDE IMPACTO URBANÍSTICOS QUE VEM TRANSFORMANDO
O CENÁRIO DA ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO
A
POR AVILA ENGENHARIA DE ESTRUTURAS região portuária da cidade do
Rio de Janeiro passa por um
grande processo de reurba-
nização e modernização con-
templado sob a denominação de Porto
Maravilha, ação de iniciativa pública
que objetiva revitalizar a região, ante-
riormente degradada e hoje com obras
de grande impacto em andamento. É
neste contexto de modernização que
se insere o Edifício Vista Guanabara,
empreendimento localizado à Rua Ba-
rão de Tefé, 34 – no bairro Saúde e que
integra-se, de maneira positiva, aos de-
mais projetos em andamento.
A obra em questão é uma torre em-
presarial que conta com: 4 subsolos;
pavimento de acesso; 4 pavimentos de
garagens elevadas; 17 pavimentos cor-
porativos; pavimento técnico e helipon-
to, com altura total de 107 m, sendo 93
m acima do nível da rua. A obra foi ven-
dedora do Prêmio Talento Engenharia
Estrutural 2016 - categoria Edificação.
Por estar localizado em área de con-
truções antigas e próximo do mar (com
lençol freático muito próximo ao nível
da rua), optou-se em todo perímetro
pela execução de paredes diafragma
como solução para contenção e funda-
ção de 14 dos 16 pilares que formam
a fachada e nascem no 1º pavimento
tipo. Com esta situação, era preciso re-
solver como seria feita a escavação do
terreno, pois uma lateral não poderia
17
ESTRUTURA EM DESTAQUE | EDIFÍCIO VISTA GUANABARA
19
ESTRUTURA EM DESTAQUE | EDIFÍCIO VISTA GUANABARA
FICHA TÉCNICA
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INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA
LUANDA
TOWERS:
3 TORRES E
MUITAS
HISTÓRIAS
ESTRUTURADAS EM CONCRETO E AÇO
23
INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA
diferentes partes do mundo resultou projeto original contava ainda com um de aceleração obtidos junto a esses ins-
em muitas viagens para três continen- heliponto, que foi suprimido ainda na tituto, foi possível definir as ações sís-
tes – Europa, África e Ásia –, além de fase inicial, por conta das legislações micas atuantes na estrutura.
centenas de reuniões e audioconfe- locais que proibem voo de helicópte- Para as ações de vento, na completa
rências que exigiram aprimorar um ros particulares. ausência de isopletas ou normas em
pouco mais o inglês, além de desen- Do ponto de vista arquitetônico, a con- Angola, fez-se um estudo a partir dos
volver um considerável aprendizado cepção previa plantas assimétricas e ventos em localidades próximas, com
sobre normas internacionais. diferentes entre si, com fachadas em na África do Sul e em outras regiões
A elaboração dos projetos seguiu si- vidro e caixas de escadas e elevadores do mundo com a mesma latitude e
multaneamente com o trabalho de bastante excêntricas, ou seja, distantes longitude, como o nordeste brasileiro,
verificação e, com o avanço dos traba- dos centros de massas das torres. Tam- aliado ainda às prescrições das nor-
lhos, foram-se revelando as necessida- bém foi colocado como desafio técnico mas ASCE e Eurocode. Essa avaliação
des e particularidades do empreendi- a proximidade entre as torres, princi- teve o respaldo e aprovação dos res-
mento como um todo. Primeiramente, palmente para as análises de segurança ponsável pela verificação de projeto,
o objetivo da edificação era o de abri- estrutural e de conforto humano quan- que colocaram suas opiniões e, no fim,
gar os colaboradores e funcionários to a ação dos ventos. validaram o trabalho de determinação
do cliente final, uma petrolífera fran- Do ponto de vista estrutural, algumas dos esforços.
cesa que residiam em Luanda ou nas necessidades de determinação das Na sequência, seguiu-se no conceito da
proximidades. A edificação deveria cargas na estrutura exigiram pesqui- edificação, que consistiu inicialmente
possuir infraestrutura capaz de ga- sas mais aprofundadas, especialmente no desenvolvimento de uma estrutura
rantir autossuficiência e segurança para levantamento de ações sísmicas e monolítica de concreto armado, abai-
para essas pessoas. Sob esse premis- de ventos. xo do nível +29,15m, onde se localizam
sa, Luanda Towers foi projetada para Como em Angola não há registros de as áreas comuns às três torres, como
comportar, além de dezenas de apar- históricos sismológicos nem normas por exemplo, o shopping center e as
tamentos, também shopping center, técnicas que compilem informações garagens. Essa estrutura contou com
hospital dia, academia, áreas para sobre as ações naturais em seu terri- paredes diafragma no perímetro dos
recreação, geradores e cisternas (que tório, foi necessário investigar a ativi- 130.000 m² de área construída, laje es-
garantirão o fornecimento de energia dade sísmica da região, com base em pessa sobre solo utilizando técnica de
elétrica e água potável mesmo que informações coletadas em órgãos inter- jet grouting, sete níveis de laje nervura-
haja suspensão da rede pública), além nacionais como a USGS (United States das, pilares e contrafortes. Tal premissa
de salas de pânico (denominadas Unit Geological Survey), um prestigiado ins- teve por objetivos a obtenção de um
Crisis, que nada mais são que bunkers tituto norte-americado especializado embasamento rígido capaz de controlar
totalmente seguros e com reservas em geologia, e que dispõe de bases de deformações diferenciais entre os pila-
de água e comida para abrigar seus dados de atividades sismológicas em res das torres e a contenção lateral dos
moradores por algumas semanas). O todo o mundo. Com base nos valores empuxos hidrostáticos oriundos dos
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INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA
ções tipo “H” conformados através de porte às lajes. Estas vigas foram ligadas mentos estruturais, foi definida pelo
chapas soldadas. às lajes através de conectores tipo “stud fornecedor das estruturas. Nessa obra,
A estabilidade horizontal do edifício, es- bolt”, criando assim um sistema misto portanto, não foram utilizados quais-
pecialmente para as cargas de vento, foi de concreto e aço. Este método cons- quer perfis laminados.
concebida para ser garantida exclusiva- trutivo contribuiu para o aumento da Para os pisos, utilizaram-se as fôrmas
mente pelos núcleos rígidos, tendo como rigidez de todo o conjunto estrutural. de aço incorporado tipo “steel deck”, que
premissa que os pilares metálicos funcio- Para otimizar o consumo de aço, consi- dentre várias vantagens construtivas,
nariam essencialmente a esforços axiais. derou-se que todas as vigas seriam es- também funcionam como armaduras
Para isso, as vigas e lajes foram devida- coradas e, portanto, trabalhariam com positivas para as lajes. A fim de garantir
mente ancoradas às paredes dos núcleos, a rigidez plena aço-concreto para 100% todas exigências de normas e do cader-
e os esforços foram transmitidos pelo dos esforços atuantes. no de especificações do cliente, a espes-
efeito diafragma das lajes, que tiveram As vigas metálicas, nesse caso, foram sura da laje foi definida não somente com
sua rigidez adequada para tal finalidade. concebidas como seções tipo “I” tam- base na rigidez desejada para questões
Os pisos foram compostos por vigas bém conformadas através de chapas de resistência e deformação, mas tam-
primárias e secundárias, essencialmen- soldadas. Essa condição inclusive, de bém para conceber conforto térmico e
te bi-apoiadas, responsáveis por dar su- se utilizar chapas para construir os ele- acústico. As armaduras negativas foram
projetadas para resistir ao momento ne-
gativo em balanços, assim como para evi-
tar fissuras devido a retração.
Previram-se, ainda, armaduras adicio-
nais para costurar pontos de tração na
laje, como por exemplo, no contorno de
pilares e em possíveis locais que ocasio-
nassem efeitos de continuidade em vi-
gas. Para essa análise, modelos de ele-
mentos finitos foram criados e diversas
hipóteses de carga foram consideradas,
de modo a cobrir diferentes possibilida-
des de uso e ocupação das unidades.
Para as situações de incêndio, previ-
ram-se armaduras positivas adicionais
nas lajes. Já os elementos metálicos
principais, como vigas e pilares, foram
protegidos passivamente com arga-
massa projetada.
Do ponto de vista de economicidade, o
empreendimento foi um sucesso. Além
de viabilizá-lo ao investidor, a solução
mista concreto e aço também conse-
guiu números muito interessantes. Foi
possível construir as edificações metá-
licas com consumo médio de 40 kg/m²
de aço. As cargas nas fundações tiveram
redução de 30% aproximadamente e a
mão de obra foi 20% menor que a pre-
vista inicialmente. Essas informações
foram repassadas pelos gerenciadores à
época, que se mostraram extremamen-
te satisfeitos com a performance obtida.
No entanto, dentre todas as atividades
acima citadas, a verificação de projeto
é a que merece destaque especial. Ao
contrário do que estamos habituados
no Brasil, esse empreendimento contou
com três diferentes escritórios dedicados
somente para a inspeção dos projetos
desenvolvidos, o que nos deixou igual-
FIG. 4 – PLANTA TIPO DAS GARAGENS – ÁREA COMUM
mente surpresos e um pouco apreensi-
vos no começo dos trabalhos, porém isso com esse escritório foi bastante positi- de que há muito espaço para que a en-
foi desmistificado ao longo do processo. va para entender as preocupações de genharia brasileira evolua, tanto em téc-
Em relação aos escritórios de verifica- uma seguradora internacional, muitas nica, quanto em produtividade. Primei-
ção, o primeiro contato foi feito com o vezes óbvias, como por exemplo, a ins- ro, é necessário valorizar o bom projeto
de Portugal, contratado pela constru- talação de sistemas contra fogo, po- e exigir uma verificação adequada, pau-
tora igualmente portuguesa. Essa em- rém outras não tão óbvias, como por tada na ética e visando a contribuição ao
presa tomou como base os eurocódigos exemplo, atingir acelerações de pico trabalho, para que possamos oferecer
para aferição dos dimensionamento e inferiores a determinado percentual produtos cada vez melhores ao cliente
imprimiu uma tendência mais conser- da aceleração da gravidade no topo do final. Cita-se, ainda, a necessidade de in-
vadora nas propostas de melhoria, com edifício, de modo a garantir conforto vestir em tecnologia e melhores técnicas
bastante foco na estabilidade das peças humano adequado. Todas essas e di- construtivas, aprimorar o conhecimento
de concreto armado, no embasamento versas outras análises foram realiza- técnico tendo como base a facilidade
e nos núcleos rígidos. das e devidamente verificadas. com que temos acesso à informação
O segundo escritório, israelense e con- É possível perceber, que a essa altura do após a globalização e a era digital.
tratado pelos investidores do edifício, projeto, a pluralidade de conhecimen- É preciso, ao invés de temer a globali-
aferiu o projeto com base nas normas tos, normas e escolas proporcionou ao zação e vê-la somente como ameaça,
americanas AISC e ASCE, e focou bas- trabalho uma riqueza ímpar de detalhes aprender a aproveitar as oportunida-
tante na otimização da estrutura. In- e uma segurança de suma importância a des que ela nos traz e aliar as novas
clusive, foi um dos maiores apoiadores nós projetistas, que nos sentimos mui- informações obtidas com nossa grande
e simpatizantes da idéia em se contar to confortáveis quanto ao produto final capacidade de solucionar problemas.
com estrutura mista concreto e aço que estávamos entregando ao cliente.
escorada contra núcleos rígidos, tendo Destaca-se, especialmente nesse caso, a FICHA TÉCNICA
em vista que sua experiência em edifí- grande importância e naturalidade com Engenheiro de estrutura:
cios de grandes alturas indicava essa que esses escritórios envolvidos lidaram André Luiz de Mattos Andrade
ser uma solução bastante competitiva. com a atividade de inspeção de projetos. Empresa responsável pelas
O terceiro verificador, agora francês A maturidade ética e profissional que to- fundações:
e contratado pela seguradora do em- dos demonstraram ao longo do proces- Tecnasol Fundações e Geotecnia
preendimento, fez suas análises pelo so, deveria servir de reflexão e inspira- Arquiteto: Manoel Doria, do
código internacional IBC (International ção a todos os nossos projetistas, para Escritório Doria Lopes e Fiuza
Building Code) e focou exclusivamen- que pudéssemos elevar, ainda mais, a Construtora: Consórcio
te na segurança do empreendimento, qualidade da engenharia brasileira. Soares da Costa/Mota Engil
especialmente nas redundâncias que A conclusão que pudemos tirar dessa (Construtoras Portuguesas)
o sistema estrutural previa em caso de experiência internacional, que muito en- Localização da obra: Luanda (Angola)
acidentes ou catástrofes. A experiência riqueceu os profissionais envolvidos, foi
27
ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL
ESTRUTURAS
METÁLICAS
E DE VIDRO –
UMA ABORDAGEM
NO CONCEITO BIM
POR: RAIMUNDO CALIXTO DE MELO NETO
1. INTRODUÇÃO cipalmente nos dias de hoje em que
No presente artigo, procuramos apre- os jovens profissionais, na sua grande
sentar as nossas experiências na tran- maioria, não tiveram a oportunidade de
sição da utilização da plataforma con- serem treinados e orientados por técni-
vencional, utilizando softwares como cos ou engenheiros experientes.
AutoCAD, no desenvolvimento de pro- Em outras palavras, a exaltação do soft-
jetos estruturais de aço e vidro, para ware ou o “culto à ferramenta” nunca
a revolucionária plataforma BIM (Buil- estará em nosso destaque.
ding Information Modeling).
Considerando a nossa experiência de- 2. APRESENTAÇÃO
senvolvendo projetos desenhados ma-
nualmente desde a década de 1980, Em 1990, iniciamos as atividades da
quando éramos engenheiros de proje- RCM - Estruturas Metálicas LTDA, em
tos da F.E.M. S.A. (Fábrica de Estruturas Fortaleza – CE, com o objetivo de de-
Metálicas) da Cia Siderúrgica Nacional, senvolver projetos de estruturas de
temos convicção de que os dias de hoje aço, principalmente na área industrial.
são incomparáveis quanto aos “ganhos” Com a nossa experiência como pro-
tão importantes na transição anterior: jetista de estruturas de aço da F.E.M
Desenho desenvolvido manualmente S.A. e da JAAKKO POYRY ENGENHARIA
(prancheta) Desenho desenvolvido ele- (empresa de consultoria na área de
tronicamente (AutoCAD). projetos), tínhamos a firme intenção de
É importante ressaltar que, de longe, implantar no nosso escritório os ensina-
vemos os desenhos ou croquis manuais mentos que recebemos de grandes pro-
como imprescindíveis na “alimentação” fissionais dessas duas empresas. Face
dos softwares, seja no sistema conven- nossa forte atuação como engenheiro
cional, seja na plataforma BIM, prin- de estruturas ter ocorrido na década de
29
ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL
ONDA CARIOCA
A cobertura envidraçada Onda Cario-
FIG. 4 – PROJETO EXECUTADO ÁRVORE EMBRAPA
ca, foi idealizada na expansão do centro
comercial “Casa Shopping”, implantada
na sua entrada principal, na Barra da Ti-
juca, na cidade do Rio de Janeiro. Inau-
gurada em 2013, a obra nos possibili-
tou um valioso aprendizado quanto à
utilização do conceito BIM em projetos
de alta complexidade, tanto estrutural
quanto de fabricação, montagem e de
interfaces com outros componentes.
Sob a responsabilidade da empresa
austríaca SEELE, dentro do conceito
BIM, as mais diversas disciplinas e for-
necedores foram competentemente
coordenados. Abaixo, resumimos em
FIG. 5 – PROJETO ÁRVORE EMBRAPA AUTOCAD uma ficha técnica as participantes:
• Construção – SEELE do Brasil;
• Arquitetura – Escritório Israelense NIR
SIVAN;
• Projetos de estruturas de aço e vidro
– Escritório Alemão KNIPPERS HELBIG
GMBH;
• Fabricação das estruturas de aço – Em-
presa Checa
• Fabricação dos painéis de vidro – Em-
presa Chinesa
• Montagem das estruturas de aço – Em-
presa Brasileira
A nossa participação na equipe, se deu
pela exigência de um escritório brasilei-
ro no processo, para validação de pro-
cedimentos e normas empregadas.
Nesse projeto, as interfaces entre os pai-
néis de vidro e as estruturas de aço foram
construídas virtualmente, possibilitando
FIG. 6 – MODELO ESTRUTURAL ÁRVORE EMBRAPA - CONCEITO BIM
uma discussão antecipada de questões
que só seriam apresentadas na ocasião
na plataforma BIM, percebemos clara- ÁRVORE EMBRAPA da construção propriamente dita.
mente as vantagens do referido conceito A “árvore” de aço com “copa” envidra- Foram utilizados quinhentos e três di-
para o tipo de estrutura referida. çada nos deu a possibilidade para nos mensões diferentes de painéis, com me-
4. FLUXOGRAMA DE
IMPLANTAÇÃO
Considerando que assumimos a utiliza-
FIG. 7 – ONDA CARIOCA - PROJETO EXECUTADO
ção do conceito BIM no nosso escritó-
rio, apresentamos abaixo a forma como
a nossa equipe de cinco engenheiros e
três projetistas passou a adotar o novo
conceito. No nosso entendimento essa
não é uma tarefa fácil, pois constata-
mos que, em muitos casos, diversas
empresas não lograram êxito. Isso se
deve a algo intrínseco ao ser humano,
muito bem resumido pela frase do cé-
lebre economista inglês John Maynard
Keynes – “A dificuldade reside não nas
novas idéias, mas em escapar das ve-
lhas idéias”. Na figura 10, é mostrada a
primeira etapa, em que os usuários são
apresentados à ferramenta:
FIG. 8 – ONDA CARIOCA - ETAPA DE CONSTRUÇÃO
5. TÓPICOS RELEVANTES
QUANTO A PLATAFORMA BIM:
FIG. 10 – FLUXOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO Após a utilização do conceito BIM, em
PARTE 2 diversos projetos, vemos de forma ine-
31
ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL
PROJETO EXECUTADO
PROJETO EXECUTADO
MODELO BIM
DETALHE BIM
MODELO BIM
6.2. Marquise Principal Shopping Iguatemi – Fortaleza/CE
DETALHE BIM
PROJETO EXECUTADO
PROJETO EXECUTADO
PROJETO EXECUTADO
PROJETO EXECUTADO
MODELO BIM
DETALHE BIM
PROJETO EXECUTADO
MODELO BIM
MODELO BIM
DETALHE BIM DETALHE BIM
33
ARTIGO TÉCNICO | COLAPSO PONTE SOBRE O MISSISSIPI
COLAPSO DE
PONTE SOBRE O
RIO MISSISSIPI
D
‘‘
POR ANTONIO CARLOS REIS LARANJEIRAS
ecifra-me ou devoro-te”, as- tarde tem três?” Os que não tinham habili-
COLABORAÇÃO DE ANTONIO CAPURUÇO
sim ameaçava a Esfinge, na dade em responder ela estrangulava.
peça de teatro Édipo Rei de Édipo resolveu o enigma: a resposta é
Sófocles, aos que à sua fren- o ser humano, que engatinha nas pri-
te passavam, antes de propor-lhes o seu meiras idades, anda sobre os dois pés
famoso enigma: “Que criatura pela manhã ao crescer, e se apoia em uma bengala,
tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à quando idoso.
35
ARTIGO TÉCNICO | COLAPSO PONTE SOBRE O MISSISSIPI
No dia do acidente, tinham lugar ser- O Conselho de Segurança do Transporte de projeto, das placas de ligação (gusset
viços de reparos nas pistas, estando Nacional (National Transportation Safety plates, ver foto 6) dos elementos da tre-
quatro das oito pistas fechadas ao trá- Board) determinou, após extensa e mi- liça que concorrem nos nós U10 (Leste
fego, com máquinas e areia e brita para nuciosa análise, que a provável causa do e Oeste), as quais se romperam sob a
concreto estocadas sobre as pistas blo- colapso da ponte I-35W foi a inadequa- combinação de (1) aumento substancial
queadas. da capacidade de carga, devida a erro do peso da ponte, resultante de modifi-
FOTO 6 – PLACA DE LIGAÇÃO DOS ELEMENTOS DA FOTO 7 – PLACA DE LIGAÇÃO DO NÓ U10W (OESTE) APRESENTANDO
TRELIÇA QUE CONCORREM EM UM NÓ (GUSSET PLATE) ENCURVAMENTOS SOB CARGA
37
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962
TECNOLOGIA DE
RECUPERACÃO
DE ESTRUTURAS 1
Com forma de rememorar alguns dos importantes temas tratados pela predecessora
da revista Estrutura, vamos reeditar alguns artigos publicado no passado. A ideia é
revisitar assuntos e conceitos técnicos, de forma a que o leitor possa ter uma noção da
situação existente no passado e também perceber as alterações ocorridas ao longo do
tempo. Vale observar que os conteúdos técnicos já sofreram alterações significativas ao
longo do tempo.
1 – APICOAMENTO
3 – DEFINIÇÃO 2 – ARMADURA DE REFORÇO
3 – EQUIPAMENTO PARA CONFECÇÃO DO
O CONCRETO PROJETADO é o concreto CONCRETO
projetado a ar comprimido através de 4 – COLOCAÇÃO DO CONCRETO PROJETADO
canhão próprio, sobre qualquer superfí-
cie de obra existente de concreto ou al-
venaria ou no interior de espaços vazios,
com objetivo de reforçar ou recuperar
estruturas de concreto armado ou outro
qualquer tipo de obra que necessite de
recuperação, consertos ou reforços.
4 – TECNOLOGIA
4.1 – Equipamento
O concreto projetado lança mão, para sua
aplicação, de um compressor de ar compri-
mido com capacidade variando entre 325 e
600 p.c.m., além dos seguintes equipamen-
tos próprios de projeção do concreto:
4.1.1 – Máquinas de câmara dupla para
operação contínua.
4.1.2 – Bomba d’água de alta pressão.
4.1.3 – Mangote de transportes de con-
creto, munido de canhão.
4.1.4 – Mangotes de ar comprimido.
4.1.5 – Mangueiras d’água. de até 60 lbs/pol² no bico de lançamen- Cabe ao operador uma tarefa importante
Embora preferível, pode ser dispen- to (canhão). E, então, adicionada a água do processo, qual seja o controle da água
sada energia elétrica no local da obra, por meio de uma bomba de alta pressão para obtenção correta do fator água/ci-
podendo todo o equipamento funcio- (90 lbs/pol²). Um dispositivo de controle mento (0,35 a 0,55), conforme o tipo de
nar somente a ar comprimido. permite manter um fator água/cimento serviço a executar. Água em excesso,
adequado. Um operador no extremo além de reduzir a resistência à compres-
4.2 – Equipe da linha maneja o canhão, projetando o são do concreto, daria margem ao seu
A equipe a ser utilizada é a que se segue: concreto de maneira contínua, em apli- escorrimento (sag). Água insuficiente, ao
4.2.1 – Operador de máquina. cações sucessivas, sem limite técnico contrário, provocaria excessiva reflexão
4.2.2 – Operador de canhão e ajudantes. de espessura, sobre a superfície que ou ricochete (rebound), acarretando per-
4.2.3 – Serventes para medição, traço e vai receber o concreto projetado. Esta da de material.
carregamento da máquina. aplicação pode ser feita em pisos, su- Durante a operação são importantes a
4.2.4 – Pedreiros e ajudantes para de- perfícies inclinadas ou verticais, ou até distância e o ângulo de incidência do jato,
sempenar as superfícies concreta- mesmo em tetos, onde o concreto adere de modo a assegurar a continuidade da
das, sempre que necessário. perfeitamente, em virtude do baixo fator concretagem e o perfeito envolvimento
água/cimento e da velocidade e pressão da ar mação.
4.3 – Operação com que é projetado.
O concreto, traçado a seco em betonei- Esta qualidade – inerente ao concreto 4.4 – Aspecto final
ra, é conduzido a ar comprimi do através projetado – o recomenda em muitos ca- O concreto projetado dá à superfície tra-
de mangotes de borracha até o local de sos como o único capaz de atender às balhada aparência idêntica à do chapis-
lançamento, propiciando uma pressão exigências do serviço. cado grosso, admitindo, entretanto, sar-
39
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962
41
ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962
10 – RECOMENDAÇÕES feitas após o endurecimento das ca- 12.3 – Execução de andaimes e escora-
madas principais, isto porque elas se- mento
ADICIONAIS rão submetidas ao desempeno, que, Por ser desnecessário o enchimento das
10.1 – Deve-se sempre empregar um tra- se aplicado a camadas ainda frescas, formas pela parte superior, grande par-
ço para o concreto de recuperação poderá provocar deslocamentos in- te dos andaimes pode ser eliminada. O
com qualidade compatível com a es- ternos do concreto não perceptíveis. peso próprio do concreto, projetado é re-
trutura original (mesma resistência). sistido principalmente pela armação. E o
11 – TECNICAS PARALELAS escoramento será bem mais leve do que
10.2 – Durante a execução, deverão ser o exigido pelo concreto comum.
retiradas todas as camadas porven- A EXECUÇÃO DA
tura existentes de concreto calcina- RECUPERAÇÃO COM 12.4 – Retirada das formas
do, segregado ou desagregado. CONCRETO PROJETADO A redução das formas acarreta logica-
mente a correspondente redução da
10.3 – A recomposição da armação deve Paralelamente à execução com concreto operação de desmontagem.
ser feita principalmente por solda- projetado, podem-se usar as seguintes
gem. Entretanto, nos casos de arma- técnicas: 12.5 – Chapisco e acabamento
ção com ferros encruados a frio, tipo O próprio acabamento do concreto pro-
TORSTHAL, o calor da solda pode re- 11.1 – Recuperação com colagem epó- jetado permite a aplicação do revesti-
duzir a resistência adicional devida ao xica. mento, sem necessidade de chapisco ou
encruamento a frio. Através de técnica emboço.
especial de soldagem, com baixa tem- 11.2 – Encamisamentos.
peratura, pode-se conseguir bons re- 12.6 – Encamisamento
sultados sem perda de resistência. Em 11.3 – Injeção de fissuras. Pela grande aderência entre o concreto
casos específicos, pode ser emprega- projetado e a superfície sobre a qual é
da também a colagem epóxica. 11.4 – Reforços diversos. lançado, dispensa-se na maioria das ve-
Quando se usa camada de concreto zes encamisamento, evitando aumento
adjacente ou encamisamento, as arma- 11.6 – Revestimentos de argamassa, de volume e peso. Encamisamentos de
duras previstas nestes reforços são in- capeamentos com concreto proje- pequena espessura podem ser usados
corporadas por aderência e, na maioria tado, revestimentos especiais. com muita eficiência na recuperação com
das vezes, não precisam ser soldadas ao concreto projetado.
concreto ou às armaduras existentes. 12 – VANTAGENS
12.7 – Impermeabilização
10.4 – A qualidade do jato de areia deve ECONÔMICAS NO EMPREGO A elevada densidade decorrente do pro-
ser comparável à que se utiliza numa DO CONCRETO PROJETADO cesso de aplicação faz com que se obte-
chapa para acabamento com jatea- nha, com menor espessura, um concreto
mento abrasivo no metal branco, afim A aplicação do concreto projetado permi- praticamente impermeável, dispensan-
de proporcionar uma perfeita ade- te a economia de custos e de prazos das do-se serviços especiais de impermeabi-
rência. A limpeza posterior ao jato de seguintes ações: lização, salvo em casos especiais.
areia também tem que ser feita com
jato de ar e água bastante intenso, ca- 12.1 – Transporte do concreto 12.8 – Energia elétrica
paz de retirar toda a camada “gomo- Com o concreto projetado vencem-se A instalação do equipamento no local da
sa” que fica sobre o concreto. distâncias de até 250 m na horizontal e obra independe de ligação de energia
desníveis de até 150 m, sem necessidade elétrica, o que possibilita o imediato iní-
10.5 – A aplicação do concreto projeta- de andaimes, rampas ou plataformas, fa- cio dos trabalhos.
do deve ser feita por um operador cilitando, assim, e tornando mais rápido o
altamente qualificado e utilizando trabalho em locais de difícil acesso. 13 – CONCLUSÕES
máquina capaz de lançar concreto de
quantidades variáveis, pois em geral 12.2 – Execução de formas Todas as vantagens que acabam de ser enu-
as peças têm pequenas espessuras. Devido à auto-sustentação do concre- meradas mostram que o uso do concreto
Assim, na maior parte das vezes, é to projetado, torna-se dispensável pelo projetado resulta em economia de tempo e
preciso lançar quantidade pequena menos um lado das formas, proporcio- de dinheiro, além das vantagens técnicas, já
de concreto. Somente uma máquina nando um mínimo de 50% de econo- consagradas na prática. Assim, temos a cer-
que permita variar a quantidade de mia. Em muitos casos, a forma pode teza de que, ao recomendarmos o emprego
material poderá executar satisfato- ser totalmente suprimida, como ocorre adequado do concreto projetado, estamos
riamente serviços de recuperação. na concretagem de paredes, nas recu- apresentando a solução mais econômica,
perações estruturais e principalmente mais rápida e eficaz aos técnicos e constru-
10.6 – As últimas camadas de revesti- em muros de arrimo e em reservatórios tores para os serviços de recuperação, con-
mento para acabamento deverão ser subterrâneos. serto e reforços de suas estruturas.
PRÊMIO TALENTO
COMPLETA 15 ANOS
PREMIAÇÃO SE CONSOLIDA COMO UMA DAS MAIS IMPORTANTES
DA ENGENHARIA BRASILEIRA
C
riado em 2003 na gestão do to, também a tecnologia aplicada e o alto
engenheiro Júlio Timerman à grau do desenvolvimento da engenharia
frente da ABECE, o Prêmio Ta- estrutural brasileira sem aferir a seguran-
lento se consolidou, ao longo ça da estrutura”, comenta o engenheiro
desses anos todos, como uma das mais João Alberto de Abreu Vendramini, vice-
importantes premiações da engenharia -presidente da ABECE.
brasileira, ao reconhecer e valorizar as O Gerente de Marketing Construção Ci-
realizações de dezenas de projetistas de vil da Gerdau, Marcelo Chang Baldino,
estruturas. Fruto de uma parceria entre considera a valorização do engenheiro
a Gerdau e a ABECE, o Prêmio tem como como um dos pilares de maior relevância
objetivo principal incentivar os profissio- para o sucesso da premiação. “O prêmio
nais que desenvolvem projetos de desta- reconhece e valoriza um profissional fun-
que na engenharia estrutural do País. damental na construção civil, que é o en-
Apesar de já existir no país vá- genheiro de estruturas. É ele quem con-
rias premiações na área cebe e estabelece o que a estrutura irá
da construção, ne- suportar em cada uma das construções,
nhuma era especifi- sendo responsável direto por sua segu-
camente focada no rança, viabilidade técnica e econômica.
trabalho do enge- Este é o reconhecimento que buscamos
nheiro de estruturas. alcançar com o prêmio, ao divulgar os
“O Prêmio confere profissionais e suas soluções criativas de
aos agraciados uma engenharia estrutural em obras de todos
valorização sem os portes e para todas as finalidades”, co-
igual em qualquer menta o executivo.
outra premiação No início, o objetivo era testar o concei-
assemelhada na to e a receptividade – o primeiro prêmio
construção civil contou com apenas 10 inscritos, porém
brasileira. Reco- já eram projetos de excelência e relevân-
nhece, além do mé- cia técnica. Com o passar do tempo, seu
rito do trabalho bem fei- formato foi sendo ampliado, com a cria-
43
NOTAS E EVENTOS
45
O QUE ELES QUEREM DE NÓS | COMO É UM ENGENHEIRO DE SUCESSO
CARACTERÍSTICA
DE UM ENGENHEIRO
DE ESTRUTURAS DE
SUCESSO
Q
POR JOHN G. TAWRESEY S.E. (*) uando eu tinha 12 anos, tal- devemos ter algum consenso sobre
KPFF CONSULTING ENGINEERS
vez até antes, eu sabia que o significado do sucesso. Restringir o
SEATTLE, WASHINGTON USA
ia ser engenheiro estrutu- significado do sucesso ajudará signi-
ral. Não sei como isso acon- ficativamente a reduzir a discussão e
teceu. Não era a influência de meu pai, nos conduzirá por um caminho rela-
ele era um advogado e minha mãe tivamente bem marcado e percorri-
artista. Talvez fosse porque o pai de do, sendo objeto de muitos estudos e
meu pai era um arquiteto da marinha, artigos anteriores. Vamos tentar uma
uma profissão que exigia mais conhe- definição simples. Um engenheiro es-
cimento de engenharia estrutural do trutural bem-sucedido é um profissio-
que arquitetura. No entanto, ele fale- nal que projeta estruturas que não fa-
ceu antes de eu nascer. Considerando lham. Ou, expandindo a definição para
todos os fatores, devo concluir que o incluir alguns critérios adicionais, um
desejo de ser um engenheiro estru- engenheiro estrutural bem-sucedido
tural, de alguma forma, era inato. Eu é aquele que projeta estruturas custo
sempre tive a capacidade de entender efetivo que não falham ou, além disso,
a influência da gravidade sobre as coi- um engenheiro estrutural bem-su-
sas que resistem e eu poderia visuali- cedido é quem projeta estruturas
zar a estrutura por trás de uma pare- que são criativas e duradouras. Se-
de sem realmente vê-la. Talvez essas gue-se que as estruturas duradouras
habilidades são pontos essenciais na não falham.
construção de um engenheiro estru- Muitas vezes eu ouço, geralmente lá
tural bem-sucedido, mas agora, sendo do fundo da sala, que ser um enge-
mais velho, experiente e aposentado, nheiro estrutural bem-sucedido sig-
sei que vai além disso. A parte que não nifica ganhar muito dinheiro. Talvez
é inata é o assunto dos parágrafos a seja verdade, mas você pode fazer um
seguir. Exploraremos algumas das ca- monte de dinheiro gerenciando uma
racterísticas de um engenheiro estru- empresa de engenharia estrutural,
tural bem-sucedido, classificado em sem exercer engenharia. Você pode
categorias de conhecimento, habilida- ganhar muito dinheiro, aplicando prin-
de e posturas. cípios de engenharia estrutural para
Antes de navegar através do labirinto investir no mercado de ações, ou ou-
de conhecimentos necessários, ha- tros empreendimentos de negócios.
bilidades e posturas ligadas a ser um Em vez disso, gosto de pensar que o
engenheiro estrutural de sucesso, dinheiro é uma consequência de pro-
47
O QUE ELES QUEREM DE NÓS | COMO É UM ENGENHEIRO DE SUCESSO
Relacionar as posturas com o sucesso culo de engenharia como uma das Aprendizagem contínua e curiosidade
da engenharia estrutural não é fácil, ferramentas essenciais na caixa de proporcionam ao engenheiro o co-
provavelmente porque é o menos es- ferramentas de um engenheiro es- nhecimento para compreender o nível
tudado. Mas ter postura é provavel- trutural. No entanto, um engenheiro de qualidade e detalhe exigido para o
mente a característica mais importan- estrutural bem-sucedido precisa de projeto. Essa é uma parte crítica do
te a considerar. mais conhecimento para projetar com sucesso. O projeto de uma asa para
Ao contrário do conhecimento e das sucesso uma viga, ou mais apropriada- um avião comercial requer um nível
habilidades, as posturas de um enge- mente, precisa saber quando as equa- diferente de qualidade e detalhe do
nheiro não podem ser medidas con- ções de Euler-Bernoulli simplificadas que uma terça típica [exceto, talvez,
tra algum padrão definido. Qualquer não se aplicam mais. uma terça em forma de Z em um edi-
tentativa de fazê-lo provavelmente Em 1922, Stephen Timoshenko expan- fício em estruturas metálicas]. O nível
falhará, pois, qualquer padrão será diu a equação de Euler-Bernoulli para de qualidade e detalhe exigido para o
subjetivamente criado e levará consi- incluir deformação por cisalhamento. projeto determina as ferramentas a
go muitas ambiguidades. O comportamento de vigas curtas, vi- serem empregadas [Euler-Bernulli ou
As posturas podem ser ensinadas? gas compostas e vibrações de vigas, Timoshenko] e tomar a decisão corre-
Alguns respondem a esta pergunta, pode não ser adequadamente previs- ta é a chave para ser bem-sucedido.
“não” e outros respondem, “sim”. Mas, to sem a consideração da deformação Mais do que no passado, os engenhei-
podemos ensinar e orientar sobre por cisalhamento. No entanto, a ex- ros estruturais de hoje trabalham em
um ambiente nebuloso onde os princí-
pios fundamentais da mecânica estão
escondidos da vista. Eles estão ocultos
dentro das ferramentas codificadas que
estão sendo usadas, geralmente inten-
“
cionalmente ocultas à vista por razões
empresariais proprietárias. É quase im-
possível para um engenheiro extrair da
A característica que melhor documentação do software até mesmo
do código do programa as suposições
se correlaciona com ser necessárias para determinar o nível
um engenheiro estrutural apropriado de qualidade e detalhe.
Para não ser desencorajador, essa não
bem-sucedido é a curiosidade
“
é uma situação sem esperança. Os
engenheiros precisam fazer o que os
engenheiros de sucesso fazem, seja
curioso. Quando confrontado com
uma nova ferramenta de projeto, ex-
perimente. Crie modelos simples que
forneçam visibilidade nas suposições
fundamentais feitas. Experimente
os limites das entradas do progra-
posturas, assim como podemos ensi- pansão de Timoshenko na equação de ma. Encontre a fraqueza. Isso exigirá
nar e orientar sobre qualquer assun- viga de Euler-Bernoulli muitas vezes geralmente mais conhecimento dos
to. A questão essencial é: “As posturas não é ensinada no currículo de gradua- fundamentos da mecânica do que no
podem ser aprendidas?” A maioria, ção ou se ensinada não é lembrada. passado. Aplique os fundamentos e
particularmente os membros seniores A história da teoria de viga serve como observe a resposta. Isso pode ser de-
da profissão, observaram que as pos- exemplo. Observa-se que os enge- morado, mas se você é curioso, deve
turas mudam e acreditam que as pos- nheiros estruturais bem-sucedidos ser divertido.
turas podem ser aprendidas e evoluir exibem uma paixão pelo aprendiza- Em resumo, é minha opinião que a ca-
com a prática e a experiência. do contínuo e o aprendizado contí- racterística que melhor se correlacio-
Agora que temos um esqueleto con- nuo quase sempre se correlaciona na com ser um engenheiro estrutural
ceitual e algumas características iden- com uma postura de ser curioso. En- bem-sucedido é a curiosidade, levan-
tificadas, qual característica melhor se genheiros estruturais bem-sucedi- do a uma postura de aprendizagem
correlaciona ao sucesso como enge- dos querem saber por que e como, e contínua e experimentação.
nheiro estrutural? muitas vezes irritam os outros com a
Nós já reconhecemos que a compreen- sua persistência para expandir a dis- (*) Tradução: Guilherme Parsekian
são da equação de Euler-Bernoulli é cussão para questões, percebido pelo A versão em inglês do artigo está
conhecimento necessário, provavel- ouvinte como não relacionados com o disponível em
mente aprendido no início do currí- problema em questão. abece.com.br/pdf/JournalArticle-gap.pdf
REVISÃO DA
ABNT NBR 6122:2010
PROJETO E EXECUÇÃO
DE FUNDAÇÕES
E
POR: FREDERICO F. FALCONI m 25 de outubro de 2016, com demanda pela incorporação das tecno-
TIAGO G. RODRIGUES
JAIME D. MARZIONNA orientação da ABNT, formou-se a logias e conhecimentos desenvolvidos
IVAN GRANDIS comissão CE-002:152.008 (Comis- nos últimos anos e alguns ajustes quanto
MARIO CEPOLLINA
são de Estudos de Obras Geotéc- aos critérios de projeto, principalmente
nicas e de Fundações) para o estudo e no que tange a fatores de segurança par-
revisão da NABNT NBR 6122:2010 – Pro- ciais, previsão de recalques e interação
jeto e Execução de Fundações. A insta- solo-estrutura.
lação dessa comissão foi iniciativa da Um dos aspectos que fomentou um novo
ABEF, com apoio das associações ABMS olhar sob os parâmetros de projeto, foi a
e ABEG, fruto do estímulo da ABNT para sistêmica avaliação do desempenho das
que cada cinco anos, se faça a revisão fundações por meio das provas de car-
das normas vigentes de maneira a atua- ga em estacas, que antes da revisão da
lizá-las técnica e cientificamente, aten- norma em 2010, restringia-se apenas às
dendo assim as demandas da sociedade, obras de grande vulto. A evidência deste
com a necessidade de revisão pontual de fato pode ser percebida nas pesquisas
aspectos da mencionada norma, após acadêmicas, congressos e simpósios de
seis anos de sua vigência e utilização pelo fundações. Somente no SEFE8, organiza-
meio técnico. do pela ABEF em 2014, aproximadamente
Participam da revisão da norma além das 70% dos trabalhos apresentaram provas
já mencionadas associações, represen- de carga estáticas e ensaios de carrega-
tantes da ABCP, da ABESC, do Ibracon, mento dinâmicos, seja na aplicação dos
além de instituições de ensino, empresas métodos de previsão de capacidade ou
de projeto e de execução de fundações em cases de obra, possibilitando um co-
e de ensaios geotécnicos e profissionais nhecimento mais apurado da qualidade e
liberais do segmento. Não há previsão do desempenho destas fundações.
para conclusão da revisão, mas se pre- Nas cinco reuniões de periodicidade
tende que seja rápido, tendo em vista quinzenais já realizadas foram abordadas
que a demanda é por alguns pontos bem uma série de questões, por exemplo, o
definidos, porém o prazo máximo de du- travamento de estacas isoladas, compa-
ração do processo de revisão é, em prin- tibilização das provas de carga sobre es-
cípio de dois anos. tacas com a necessidade de ensaio para
Dentre as motivações técnicas para a liberação de sapatas, entre outros. Este
revisão da norma podemos apontar a assunto será abordado mais à frente,
49
NORMAS TÉCNICAS | NBR 6122
mas parece consenso que é importante te a utilização do método de valores de não falamos em efeitos de 2ª ordem que
colocar a exigência em fundações diretas cálculo. A elaboração de um projeto to- vem se ouvindo regularmente em artigos
ou rasas no mesmo nível das estacas. talmente integrado de infra e superes- e seminários. Em recentes reuniões en-
Um importante ponto de discussão foi trutura ainda é complexa, segundo nos- tre a ABECE e a comunidade geotécnica,
o dimensionamento das fundações pelo so entendimento. É algo que exigirá mais representada pela ABMS e ABEG, ficou
método de valores admissíveis e de valo- tempo para a área de fundações. Em combinada uma apresentação única dos
res de cálculo. Enquanto que o primeiro 2010, pensou-se em deixar duas alter- esforços, mas que não vem sendo segui-
é o tradicional, larga e amplamente utili- nativas de dimensionamento para que a da por todos os projetistas.
zado, e que aplica um fator de segurança migração ocorresse gradativamente, até Parece que os seis anos decorridos da
global à carga de ruptura, o segundo tra- que se consagrasse o método de valores publicação não foram suficientes para a
ta de estados limites que aplica fatores de cálculo, entrando o método tradicio- consagração de um método sobre o ou-
de segurança parciais e é o utilizado nas nal em valores admissíveis em desuso. tro, ensejando mais tempo em vigor das
normas de estruturas. Há também a forma como se recebem duas possibilidades, até que no futuro
Acredito que devemos migrar para o cál- os esforços dos projetistas de estrutu- possa caminhar juntos: estrutura e fun-
culo por valores, visto que o problema ras. Alguns apresentam extensas com- dações. Existe também uma diferença
das fundações é antes de recalque do binações de cargas em estados limites entre definições que ocorreu pela não
que de ruptura. Independente do enten- últimos, outros apresentam esforços participação de projetistas estruturais
dimento do problema, não se dispõe de característicos totais na fundação, e ain- na elaboração da norma anterior. Hoje
uma ferramenta consistente, poderosa e da outros que apresentam as cargas em contamos com apoio por enquanto não
de domínio, como se tem na área de es- seus valores característicos, separadas presencial, de projetistas ajudando na
truturas, para que se possa levar adian- em permanente, acidental, vento, etc. E discussão.
“
bem como foi introduzida a estaca héli- Pretende-se alterar a especificação prin-
ce-contínua com trado segmentado que cipalmente no que se refere aos controles
não fazia parte da edição de 2010. Esta A REVISÃO DA NORMA de recebimento da mistura no canteiro.
estaca vem sendo largamente utilizada, VEM DESPERTANDO Recentemente em resposta à pergunta
em especial em obras de pequeno por- ENORME INTERESSE da ABEF sobre quais as características do
te dada a limitação do equipamento em NA ENGENHARIA BRASILEIRA, concreto para as fundações profundas, o
profundidade, diâmetro e torque. Foi UMA VEZ QUE HÁ A Ibracon sugeriu:
amplamente discutido o comprimento Fck ≥ 20MPa (ABNT NBR 5738, NBR
EXPRESSIVA PARTICIPAÇÃO
mínimo para o qual se possa considerar 5739 e NBR 12655);
uma fundação profunda em estacas. A DE APROXIMADAMENTE Concreto autoadensável, com classifica-
profundidade crítica foi estabelecida em 40 ENGENHEIROS, ção SF2 na ABNT NBR 15823 e 600mm ≤
L ≥ oito ɸ e no mínimo 3 m, levando-se DE VÁRIAS PARTES Espalhamento (slump flow) ≤750mm;
em conta vários critérios técnicos. DO PAÍS, QUE ESTÃO Segregação estática, classificação SR2 na
Outro assunto debatido, mas ainda não CONTRIBUINDO PARA SEU ABNT NBR 15823 e coluna ≤ 15%;
levado adiante é a necessidade de uma Concreto autoadensável, classificação
BOM ANDAMENTO
“
especificação mais rigorosa para o con- PL2 na ABNT NBR 15823 – Caixa L ≥ 0,80
creto utilizado em obras de fundações. Exsudação total de água ≤ 2% (ABNT NM
Além da especificação mais rigorosa, o 102 – Concreto Fresco. Determinação da
controle em obra deve abranger um nú- exsudação de água. Método de Ensaio)
mero maior de ensaios, incluindo teor de Das principais alterações pretendidas, Para que se obtenha concreto com me-
exsudação, “slump-flow”, caixa L, ao lado uma delas é a especificação de acordo lhor desempenho, o caminho passa pelo
do fck e do “slump–test”. com as normas vigentes de concreto, melhor controle do recebimento do ma-
Uma discussão significativa ocorreu quan- porém sem dar conotação técnica a um terial especificando-se aquilo que se
do se falava de atrito negativo. Na norma concreto magro, por exemplo, que po- pode controlar, pois não há possibilidade
de 1996 o atrito negativo era considerado deria ser C10 ou C15, mas que esbarra de controle do consumo de cimento ou
da seguinte forma, com fator de seguran- em prazo, problema imperioso em obra. do fator água/cimento do concreto fresco
ça global: Onde se concentram o maior número de ou endurecido.
Padm = [(Pp + Pl) – 1,5 Pan] / FSg problemas e é de sobremaneira impor- Por fim e resumindo muito, esses são al-
que foi substituido na revisão de 2010 tante o concreto, são nas paredes-dia- guns tópicos importantes que foram ou
por fragma, estacas-barrete, estacas esca- serão discutidos durante o andamento
Padm = [(Pp + Pl) / FSg] – Pan vadas com fluido estabilizante e estacas dos trabalhos da comissão de revisão
Onde: hélice-contínua. da ABNT NBR 6122/2010. Deve-se sa-
Padm é a carga admissível A atual especificação apesar de ter solu- lientar o enorme interesse que a revisão
Pp é a parcela correspondente à resis- cionado várias ocorrências de obra, com vem despertando na engenharia com
tência de ponta na ruptura o passar do tempo ficou obsoleta ou, a expressiva participação de um grupo
Pl é a parcela correspondente à resis- dizendo de outra maneira, nem todos de aproximadamente 40 engenheiros,
tência por atrito lateral positivo, na os fornecedores de concreto usinado entre geotécnicos – projetistas, executo-
ruptura participavam das associações que indi- res, consultores e acadêmicos –, tecno-
Pan é a parcela correspondente ao atrito cavam as características necessárias ao logistas de concreto e projetistas de es-
lateral negativo na ruptura. O pon- concreto para as estacas mencionadas. truturas de vários estados do Brasil que
to onde ocorre a mudança de atrito Para tais estacas necessita-se muito mais vem contribuindo de maneira sensata,
negativo para positivo é chamado de um concreto com trabalhabilidade ade- propositiva, ponderada, compreensiva
ponto neutro. quada, com baixa segregação, auto-a- e principalmente com espírito e mente
A discussão se deu em função do atrito densável, alto consumo de finos, e muito aberta para contribuir com o bom anda-
negativo ser antes um problema de recal- mais. A resistência à compressão simples mento da revisão.
51
APRENDENDO COM O ERRO | ESQUECERAM A SUBPRESSÃO!
ESQUECERAM A
SUBPRESSÃO!
AS CAUSAS
Os estudos de sondagem relatavam,
para o terreno de implantação do con-
domínio, um solo composto por areia
muito compacta, com boa capacidade
de carga, porém com nível d’água quase
aflorando (30 cm de profundidade em
relação ao nível superior do terreno). FIG. 1 – CISTERNA ENTERRADA, PROJETADA COM ABAS EXTERNAS
O projetista da estrutura detalhou as
fundações das edificações em sapatas
isoladas, assentes em profundidades para as cisternas e soluções variando
variadas e compatíveis com as cargas; COMO EVITAR apenas a largura das abas externas para
foi necessário o rebaixamento do lençol A solução dada pela construtora foi de- uma mesma geometria, elaboramos uma
freático, durante os trabalhos de cons- molir as cisternas e construir castelos planilha Excel que está automatizada,
trução da infraestrutura. d’água maiores, agrupando a reserva de para “avisar” se a cisterna quiser “subir”.
Junto com as sapatas, ainda com o siste- consumo de algumas edificações. A entrada de dados está liberada apenas
ma de bombas para o rebaixamento do Mas, construindo cisternas, como isso para as células em amarelo na planilha.
lençol freático em funcionamento, foram poderia ter sido evitado? Os Anexos 01 e 02 citados acima, bem
construídas as cisternas, isoladas das Certamente existem várias soluções, como a planilha Excel automatizada ela-
estruturas das edificações, que depois mas uma delas, mantendo as geome- borada para os cálculos demonstrativos,
foram impermeabilizadas e cheias. trias internas, seria projetar prolon- poderão ser encontrados no endereço
Ocorreu que as cisternas, quando car- gamentos das lajes de fundo das cis- WEB abaixo:
regadas com o volume total de água ternas, de forma a criarmos abas que http://calculistas-ba.progerengenharia.
interna, distribuíam ao solo, na cota de estariam, então, sujeitas ao peso do com.br
53
MUSEU DO PROJETO | EDIFÍCIO SAN SIRO
EDIFÍCIO
SAN SIRO
P
POR MARIO FRANCO, or volta de 1962, o arquiteto Ale-
DA JKMF ENGENHEIROS CIVIS
xandre Danilovic tinha um grande
desafio: estacionar 300 carros
grandes num terreno com 9,35m
de frente e 26,06m de fundo no início da
Rua da Consolação. A solução arquitetô-
nica encontrada consistiu numa garagem
mecânica com 1 subsolo (9 carros) + tér-
reo (entrada + 3 carros) + 32 andares (32
x 9 carros) = 300 carros. Resolvido este
primeiro desafio, a grande altura (90,35m apenas esses pórticos, indicavam, para
acima do solo) e a esbeltez (1:10) do edi- as combinações das cargas gravitacio-
fício, bem como as dimensões reduzidas nais mais vento transversal (G ± V t) um
do terreno geraram outros desafios: esforço excessivo de compressão nos 2
- ao engenheiro de estruturas; pilares de sotavento, e um grande esfor-
- ao engenheiro de fundações; ço de tração nos dois pilares a barlaven-
- ao engenheiro construtor. to. Além disso resultavam deslocamen-
A estrutura do Edifício San Siro não tem tos horizontais excessivos. Ficou claro
núcleo central rígido, já que todo o es- então que seria preciso dimensionar a
paço interno é dedicado ao elevador e estrutura como uma caixa fechada for-
às vagas de garagem (3 no mada pelos 2 pórticos menores e pelos 2
fundo e 3 + 3 na frente). A maiores atuando em conjunto, de modo
estrutura resistente para o que parte das forças normais nos pila-
vento transversal V t (atuan- res de fachada fosse transferida para os
do perpendicularmente às pilares dos lados maiores da caixa. Não
fachadas maiores), é cons- existiam ainda programas capazes de
tituída unicamente pelos analisar pórticos, ainda mais tridimensio-
dois pórticos muito esbeltos nais. Recorreu-se portanto à análise dos
paralelos ao plano do vento, esforços pelo “método do meio elástico
situados nas fachadas me- contínuo”, que já havia sido utilizado em
nores. Os primeiros cálcu- outras estruturas, generalizando-o para
los, efetuados considerando estruturas tridimensionais simétricas.
55
INDUSTRIALIZAÇÃO | BUBBLEDECK COM PRÉ-FABRICADO DE CONCRETO
AMPLIAÇÃO
DE GARAGEM
DO GALEÃO:
SOLUÇÃO COM
BUBBLEDECK E
PRÉ-FABRICADO
A
POR BETON STAHL ENGENHARIA ampliação do edifício Gara-
AUTORA: TAMARA CARVALHO FREIRE
gem do Terminal de passagei-
(DIRETORA DA BETON STAHL ENGENHARIA) ros TPS2 requereu criatividade
e o emprego de novas solu-
ções no projeto e processo construtivo.
“O projeto foi originalmente concebido
em estrutura metálica, que além de
perfis de mercado possuía em grande
parte, peças usinadas que impactavam
FIG. 1 – FOTO DA VISTA GERAL DA OBRA CONCLUÍDA -
significativamente os custos e prazos
previstos. Adicionalmente por questões
normativas, seria necessário proteger
a estrutura com pintura intumescente Por tratar-se de uma ampliação de mais
ou técnica similar que representaria quatro pavimentos em dois existentes,
um acréscimo de 10 a 15% do custo da uma dificuldade adicional ao processo
estrutura.” {1} Assim a solução de pré- construtivo foi a limitação de execução
-moldados de concreto com o emprego de escoramentos nos dois pavimentos
da tecnologia BubbleDeck se apresen- inferiores existentes que permanece-
tou como uma alternativa diminuindo ram ao longo de toda a obra operando
os custos do projeto original, além de normalmente. A estrutura metálica do
garantir a exequibilidade da obra den- pavimento existente, com laje steel-deck,
tro do prazo previsto. A Figura 1 apre- não suportava o peso próprio da con-
senta a planta tipo do projeto. A Figura cretagem do pavimento superior. Para
2 apresenta a forma de um setor do pa- solucionar este inconveniente fizeram-se
vimento tipo. necessário o projeto e execução de esco-
para cada concretagem, mantendo sempre as cargas de peso próprio, de cada concretagem dos
pavimentos superiores, suportadas pelo 4° pavimento.
A seguir apresentamos as diversas etapas da obra com fotos ilustrativas:
1.1 – FIXAÇÃO DAS TRELIÇAS NA TELA 1.3 – LIMPEZA, TRAVAMENTO E 1.4 – LANÇAMENTO DO CONCRETO.
INFERIOR E POSICIONAMENTO DAS APLICAÇÃO DE DESMOLDANTE NAS
ESFERAS. FORMAS.
1.5 – INTRODUÇÃO DOS MÓDULOS1 1.6 – DESFORMA DO PAINEL 1.7 – CARREGAMENTO DOS PAINÉIS.
NO CONCRETO. PRÉ-MOLDADO.
2.1 – MONTAGEM E ESCORAMENTO. 2.2 – TRANSPORTE E LANÇAMENTO DOS PAINÉIS POR GRUA.
59
INDUSTRIALIZAÇÃO | BUBBLEDECK COM PRÉ-FABRICADO DE CONCRETO
FICHA TÉCNICA
61
ESPAÇO ABERTO | CBCA
CONSTRUÇÃO
EM AÇO
FIG. 1 – MONTAGEM DE TELHA ONDULADA – FONTE: ABCEM
PROJETO E CONTRATAÇÃO DE MONTAGEM DE
TELHAS E COBERTURAS METÁLICAS
E
FIG. 2 – MONTAGEM DE TELHA TRAPEZOIDAL – FONTE: ABCEM
ntre as vantagens das telhas e De acordo com as nor-
coberturas metálicas, além do mas brasileiras, a massa de revestimen- É muito importante atentar para a contra-
desempenho desejado, estão a to de zinco da telha usada sem pintura tação da montagem da cobertura. “Perce-
durabilidade, facilidade de manu- deve ser de, no mínimo, 275 g/m2. Se for bemos que, em muitos casos, se compra
tenção e principalmente peso reduzido, o utilizada com pintura, a massa de reves- um produto caro e se contrata mão de
que facilita a instalação e reduz as cargas timento poderá ser no mínimo de 225g/ obra barata, mas não é uma boa opção”,
da estrutura. Além disso, esse sistema se m2. Para Galvalume, para aplicações alerta Miranda. Para a escolha da empresa
associa facilmente a sistemas de geração com ou sem pintura, a massa mínima é montadora, é necessário analisar o currí-
de energia, como os painéis solares ou fo- de 150 g/m2. culo da empresa, referências de clientes
tovoltaicos. A escolha do tipo de telha deve O diálogo com o fornecedor é essencial anteriores, e, além disso, realizar um con-
atender aos aspectos arquitetônicos da não só para esses casos, mas para qual- trato especificando as obrigações do mon-
cobertura com relação a inclinações, raios quer projeto de cobertura metálica, para tador, as comprovações legais de registro
e geometria. O revestimento do aço base aumentar a eficiência do sistema e a ade- do pessoal e os equipamentos de seguran-
deve ser especificado em função da dura- quação na especificação do produto ou ça disponibilizados.
bilidade e do ambiente onde as telhas es- dos acessórios e vedações complemen-
tão inseridas, por exemplo: região costeira, tares. O grau de inclinação da telha deve REFERÊNCIAS
área industrial com emissão de partículas garantir o escoamento da água pluvial. Manual Técnico – Telhas de Aço (Abcem)
agressivas, área urbana ou rural. Normalmente, para as telhas com com- Manual CBCA – Treliças Tipo Steel Joist
Há dois tipos de telhas regidas pelas nor- primento de água inferior a 12 m e sem ABNT NBR 14.513:2008 – Telhas de aço re-
mas ABNT: onduladas e trapezoidais. As sobreposição, recomenda-se 5% de de- vestido de seção ondulada – Requisitos
normas determinam os parâmetros de clividade. O sistema zipado é ideal para ABNT NBR 14.514:2008 – Telhas de aço re-
tolerância dimensional e padronizam os coberturas de grande extensão e aceita vestido de seção trapezoidal – Requisitos
modelos mais utilizados, o que favorece a caimentos menores de 3%. www.cbca-acobrasil.org.br
especificação. Há, no entanto, outras te-
lhas não regidas por normas, como as zi- TIPOS DE AÇO USADOS EM TELHAS
padas, autoportantes, curvas (calandradas Zincados Apresentam grande resistência à corrosão atmosférica
e multidobra), entre outros sistemas de co- Devido à sua composição química (alumínio, zinco e silício), esse revestimento
bertura, como o roll-on. “O critério técnico Galvalume confere ao produto excelente proteção à corrosão atmosférica, alta refletividade,
depende do próprio fornecedor do siste- melhor conforto térmico, ótima aparência e manutenção do brilho
ma, que é o responsável por garantir es- As bobinas de aço zincado são pintadas antes de serem conformadas em telhas. Os
tanqueidade, resistência mecânica, e todos Pré-pintados pré-pintados, têm ampla gama de cores, oferecem grande durabilidade, facilidade
de manutenção e vantagens estéticas. O aço base pode ser zincado ou Galvalume
os critérios que seriam contemplados em
norma”, explica Edson de Miranda, gerente Aços Apresentam grande durabilidade, facilidade de manutenção e resistência a am-
inoxidáveis bientes altamente agressivos
geral da ArcelorMittal Perfilor.
BIM
BEM FEITO
O
PROF. DR. EDUARDO TOLEDO SANTOS BIM – Modelagem da Informa- Seminário Internacional BIM do Sindus-
ESCOLA POLITÉCNICA DA USP ção da Construção despon- Con/SP, inúmeras matérias publicadas
tou por volta do ano 2004 no nas revistas técnicas nacionais da área,
Brasil, tendo o próprio termo a edição no Brasil do “Manual de BIM”
“BIM – Building Information Modeling” (tradução do BIM Handbook – a “bíblia
se consolidado apenas dois anos antes do BIM”) e dos Guias BIM da AsBEA (2
no mundo. Desde volumes) e da CBIC (5 volumes) – ambos
então, nesses disponibilizados online gratuitamente
quase 13 anos, – além da instalação de uma Comissão
já tivemos de Estudo Especial na ABNT dedicada
sete edições ao tema e à produção de normas técni-
anuais do cas ligadas ao BIM. O Brasil se consolida
como um dos países onde mais são rea-
lizadas pesquisas acadêmicas sobre BIM
no mundo1. Isso para mencionar apenas
os desenvolvimentos brasileiros, em lín-
gua portuguesa. A internet dispõe de
larga quantidade de publicações, parti-
cularmente em inglês, abordando todos
os aspectos do BIM.
Este ano de 2017 traz gran-
des expectativas para o
avanço do BIM no Brasil:
a publicação de novas
normas BIM, a instalação
de um capítulo brasileiro
da buildingSMART 2, a im-
plementação do acordo
federal de cooperação
sobre BIM assinado em
dezembro passado com
o Reino Unido3, a inclu-
são da exigência de BIM
na atualização da Lei
63
ESPAÇO BIM | BIM BEM FEITO
8.666, o avanço nas licitações de obras um modelo BIM “em paralelo” ao proje- Um verdadeiro “projeto piloto” pode sim
demandando BIM nos estados do Sul e to convencional (2D). Na verdade, neste ser desenvolvido com um empreendi-
em São Paulo, o lançamento da versão caso, o modelo BIM vem sempre depois, mento em andamento (escolhido criterio-
em português do BIM Dictionary4, a pu- atrasado em relação ao projeto 2D, pois samente), porém executado da mesma
blicação de novos Guias BIM e da pla- os projetistas desenvolvem os projetos forma como se pretende que sejam todos
taforma de componentes BIM da ABDI, em CAD cujos documentos devem ser os demais: com projetistas modelando
além do lançamento de novos cursos de convertidos posteriormente para BIM (3D). diretamente em BIM e seguindo as dire-
especialização em BIM no Brasil. A correta acepção de “piloto” é “o primeiro trizes pré-estabelecidas num Plano de
Ainda assim, o conceito de BIM como pro- de uma série”. Como esse processo pode Execução BIM acordado por todos. Sim,
cesso ainda não foi completamente assi- ser considerado “piloto” de uma rotina fu- pode-se adotar com sucesso uma estra-
milado pelos empresários do setor da tura, se BIM não se faz junto com o CAD, tégia de treinamento da equipe durante o
construção. Com frequência ainda alta, mas sim o substitui? Este tipo de aborda- piloto (on-the-job training) especialmente
depara-se com casos falhos de implan- gem não agrega efetivamente nada para o com a aprendizagem just-in-time (p. ex.,
tação de BIM. O prognóstico de fracas- cliente – via de regra, o modelo BIM deve trabalho no projeto BIM pela manhã e
so, na maioria destes casos, é evidente ser desenvolvido diretamente pelo proje- treinamento com consultor/instrutor BIM
para os iniciados, mas certamente não tista, não convertido a partir de uma re- na parte da tarde, onde as dúvidas da ma-
era para aqueles que investiram tempo e presentação 2D. Por isso não serve para nhã são resolvidas na aula vespertina) que
recursos significativos na expectativa de treinar equipes, nem aferir ganhos ou evita afastamento do trabalho e motiva e
obter o salto qualitativo em seus resulta- produtividade. Ao contrário, atrasa o em- consolida a aprendizagem. Neste caso, ao
dos prometido pelo BIM. preendimento e aumenta seus custos e analisar métricas, é essencial considerar a
natural queda de produtividade durante a
fase de treinamento e de adaptação inicial
aos novos processos e ferramentas.
Outro erro muito comum é a compra de
software e treinamento antes de uma
etapa de diagnóstico e planejamento es-
tratégico. Isso geralmente ocorre quando
se adota o próprio representante/forne-
cedor de software como consultor BIM. A
meta deste é vender seus próprios soft-
wares e serviços, ligados a fabricantes
pré-determinados. Com raras exceções,
sua análise carece da isenção/neutralida-
de necessária neste momento preliminar.
As recomendações costumam não ser na
direção do que é melhor para o cliente,
que muitas vezes acaba por comprar
aplicativos de que não necessita e desen-
volver processos sem a visão estratégica
ampla e de longo prazo (e alinhada com
a missão da empresa) que o BIM requer.
Assim como a aquisição da última versão
do melhor processador de texto não ga-
rante a escrita de um best seller, a simples
Para esses, o prejuízo é duplo, já que BIM riscos. Modelo BIM desatualizado na obra compra dos melhores softwares BIM não
mal feito é muito pior que CAD mal feito: é também traz resultados desastrosos, ou assegura, por si só, resultados positivos
mais caro – altos custos em novo softwa- nem é usado. É comum as equipes saí- com o BIM no empreendimento. O plane-
re, em hardware mais potente, em novo rem traumatizadas deste processo equi- jamento – tanto da implantação dos no-
treinamento e consultoria –, mais demo- vocado, com total descrença “nesse tal de vos processos ligados ao BIM na empresa,
rado – modelagem, bibliotecas, busca de BIM”, resistindo a novas tentativas de ado- quanto da implementação do BIM num
informação, queda de produtividade pela tá-lo em empreendimentos futuros. Usar empreendimento específico – é essencial.
mudança –, e induz a mais erros – con- essa estratégia para a equipe “aprender A forma correta de se fazer isso está bem
fiança em informações erradas, quanti- a modelar em BIM” também não se justi- documentada em diversos guias, nacionais
tativos errados, representações erradas, fica – melhor usar um projeto anterior, já e internacionais, e inúmeros estudos de
interferências não detectadas, etc. encerrado, que já até disponha de dados caso de sucesso embasam esta estratégia.
Uma das armadilhas mais comuns é o para se confrontar alguns resultados, sem Em seu recentemente lançado Guia Na-
que os implantadores neófitos chamam atrapalhar o desenvolvimento de um pro- cional de BIM para Proprietários5 o NIBS6
de “projeto piloto”, onde se desenvolve jeto em execução. destaca aos proprietários a necessidade
–––––––––––––––––
1 h t t p : // v i e j o u r n a l . s p r i n g e r o p e n . c o m /
articles/10.1186/s40327-016-0038-6
2 A buildingSMART (buildingsmart.org) é a
instituição internacional responsável pelo
desenvolvimento do IFC e outros padrões
neutros e abertos de interoperabilidade
para o BIM.
3 ht t p: // w w w.mdic .gov.br/not icias / 2157-
brasil-e-reino-unido-assinam-
memorandos-de-entendimento-nas-
areas-de-construcao-civil-e-propriedade-
intelectual
4 http://bimdictionary.com
5 NIBS, National BIM Guide for Owners,
2017. Disponível em: <https://www.nibs.
org/?nbgo>. Acesso em 27 jan 2017.
6 NIBS – National Institute for Building
Sciences (www.nibs.org) é o órgão
americano responsável pela Norma BIM
Americana (NBIMS-US National Building
Information Modeling Standard – USA).
7 Tradução livre
8 http://w w w.bimthinkspace.com/2015/09/
episode-24 -understanding-model-uses.
html
65
INOVAÇÃO | CASE DO EDIFÍCIO 432 PARK AVENUE
DESAFIOS
TECNOLÓGICOS DO
PRÉDIO MAIS ESBELTO
DE NEW YORK
A
POR ANDREAS TSELEBIDIS ndreas Tselebidis, diretor de não foi o fator principal requerido a este
Tecnologia do Concreto & So- concreto. Mais importante que a resis-
luções em Aditivos para Con- tência à compressão, foi o impacto do
creto da BASF fornece detalhes módulo de elasticidade. O concreto da
dos avanços tecnológicos em termos torre demandou uma alta rigidez para
do uso de materiais inovadores e dos eliminar qualquer possibilidade de ace-
desafios de engenharia estrutural na leração da torre, de modo que os mora-
construção do 432 Park Avenue, um dos dores não sintam movimentos. O módulo
edifícios mais delgados de New York, de elasticidade exigido desse concreto
cuja construção teve início em 2012 e foi foi da ordem de 51 GPa.
concluído no final de 2015. Com altura
de 425 metros, é considerado o edifí- IDADES ADOTADAS PARA O
cio residencial mais alto do hemisfério
ocidental. Tselebidis atua na BASF há CONTROLE DA RESISTÊNCIA
mais de 15 anos e sua função consiste DO CONCRETO
na avaliação e implementação de pro- A resistência à compressão foi verificada
jetos mundiais de pesquisa sobre con- em laboratório nas idades de 1, 2, 3, 7, 28
creto e argamassa, com foco no tema e 56 dias. Já, o módulo de elasticidade,
da sustentabilidade. Autor de mais de nas idades de 28 dias e 56 dias. A espe-
30 artigos técnicos em diversas revistas cificação de projeto para a resistência e
da indústria do concreto, é constante- módulo foi requerida para 56 dias.
mente convidado para proferir palestras
em eventos internacionais relativos ao MAIORES DESAFIOS DA
segmento de concreto. Possui nove pa-
tentes em tecnologia de concreto. Con- EXECUÇÃO DO PROJETO
fira na sequência, os principais tópicos Os desafios para o concreto do 432
destacados pelo executivo em relação Park Avenue foram enormes e sem pre-
ao projeto do 432 Park Avenue: cedentes:
• resistência à compressão (fck) de 100
RESISTÊNCIA DO MPa aos 56 dias – Alcançando 155 MPa
(Um recorde mundial até agora, para
CONCRETO UTILIZADO concreto entregue por caminhão be-
A resistência do concreto, especificada toneira e colocado em uma superes-
em projeto, foi de 100 MPa, porém este trutura);
O FUTURO DO
CONCRETO E SEU USO EM
EDIFÍCIOS ALTOS
Os desafios do crescimento populacional
e as mudanças na vida urbana, bem como
os riscos ambientais, são as principais va-
riáveis que determinam o modo como va-
mos construir nossas edificações.
O concreto, como o material feito pelo
homem mais usado, tem evoluído ao
longo dos últimos séculos e possibilitou
à humanidade, a capacidade de cons-
truir de forma mais eficiente e economi-
zar recursos.
No entanto, os recursos naturais estão se
esgotando e temos de nos certificar que,
sempre que construímos, devemos fazer
com a mentalidade de criar algo mais du-
rável do que era no passado.
No futuro, viveremos predominante-
mente em cidades, o que exigirá uma
construção focada no meio ambiente,
com estruturas de grande durabilidade.
• módulo de elasticidade alcançado de concreto continha apenas 29% de ci- Estruturas que devem ser capazes de
52,9 GPa; mento, o que o torna extremamente resistir a deterioração ambiental e me-
• bombeamento a altura de 425 m; sustentável, economizando toneladas lhorar sua resposta aos mecanismos de
• concreto branco; de CO2, água potável etc.) degradação como por exemplo RAS (rea-
• acabamento arquitetônico em con- • auto adensável, sem buracos, e uma ção álcali-silica), penetração de cloretos,
creto aparente (sem bolhas na super- forte aderência entre a armadura e o abrasão, ataque por sulfatos, carbona-
fície); concreto; tação etc., permitindo construirmos com
• baixo calor de hidratação (limitado ao • sem descoloração; materiais mais eficientes. A combinação
máx. de 71º C – atingido máx. de 64º C); • possui durabilidade de modo a supor- da eficiência dos materiais com soluções
• baixíssima retração; tar qualquer impacto do ambiente. para construções sustentáveis, resulta
• concreto com baixa fluência; numa redução do impacto humano so-
• necessário trabalhabilidade e capa- DESAFIOS NO bre o ambiente.
cidade de bombeamento por até 4 h O concreto como principal material de
(Autoadensável – SCC – com espalha- BOMBEAMENTO construção, passará por mudanças que
mento de 80 cm sem segregação); No caso específico do 432 Park Avenue, o permitirão aos engenheiros construir
• resistência inicial em um dia (fc,1dia concreto foi bombeado sem maiores di- e projetar em ambientes bastante de-
atingida de 37 MPa, em média); ficuldades, apesar de todas as restrições safiadores. Os concretos, em conjunto
• concreto sustentável (este concreto e requisitos exigidos sobre o concreto no com novas opções de aço tratado, serão
foi desenvolvido para atingir e supe- estado fresco, bem como suas proprie- utilizados na construção de novos edi-
rar esta exigência em específico. O dades no estado endurecido. fícios esbeltos, tendo, portanto, menor
67
INOVAÇÃO | CASE DO EDIFÍCIO 432 PARK AVENUE
LAJES
NERVURADAS
POR VIRGILIO AUGUSTO RAMOS NORMATIVA A.1 da ABNT NBR 14432/2001 é de 120
CEC CIA DE ENGENHARIA CIVIL Item 14.7.7 da ABNT NBR 6118:2014: “La- minutos.
jes nervuradas são as lajes moldadas no Para um TRRF de 120 minutos, a espes-
local ou com nervuras pré-moldadas, cuja sura mínima da capa das lajes nervura-
zona de tração para momentos positivos das é de 12 cm e a espessura mínima das
está localizada nas nervuras entre as quais nervuras de 16 cm. Conforme tabela A.2
pode ser colocado material inerte”. da ABNT NBR 15200:2012, o TRRF pode
Neste texto vamos apenas nos referir às ser reduzido, no máximo, em 30 minutos,
lajes mais comumente usadas que são as desde que se faça o cálculo pelo tempo
lajes com formas de polipropileno. equivalente. Normalmente se consegue
Item 13.2.4.2 da ABNT NBR 6118:2014 “A essa redução.
espessura da mesa, quando não houver É muito importante observar que no
tubulações horizontais embutidas, deve ser valor da espessura mínima da capa, em
maior ou igual a 1/15 da distância entre ambientes compartimentados para in-
nervuras e não menor que 3 cm”. cêndio, pode se considerar os revesti-
mentos conforme o item 8.2 da ABNT
ESPESSURA DA MESA: NBR 15200:2012:
Em atendimento à Norma ABNT NBR Verificamos então, que para lajes nervu-
6118:2014 para as fôrmas mais comu- radas não revestidas a espessura mínima
mente usadas 800/800 com espessura de capa é de 10 cm (para esse edifício
de nervura de 12 cm a distância entre hipotético já com redução do TRRF para
faces de nervuras é de 68 cm que leva a 90 minutos) e a espessura mínima das
uma espessura da mesa de 4,53 cm. nervuras de 12 cm.
A Norma ABNT NBR 15200:2012 define Análise da espessura mínima de capa
as espessuras mínimas da mesa em am- para atender aos cobrimentos:
bientes em que se exija compartimen- O cobrimento exigido pela ABNT NBR
tação vertical, conforme o TRRF (Tempo 6118:2014 para classe de agressividade
Requerido de Resistência ao Fogo) da moderada é de 25 mm, considerando
construção, conforme tabelas apresen- uma tela Q92 cuja espessura mínima é de
tadas nas Tabelas 9 e 10: 2 x 4,2 mm = 8,4 mm e armadura nega-
Considerando um edifício comum com tiva de 20 mm numa direção, sendo que
50 m de altura entre a fuga e o último na outra direção armaduras negativas fi-
cômodo habitado, o TRRF pela tabela carão abaixo da tela e dentro da nervura.
69
BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | LAJES NERVURADAS
71
BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA
PATOLOGIA EM PAREDES
DE ALVENARIA SOB
LAJES DE COBERTURA
DE EDIFÍCIOS
73
BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA
(a) Configurações típicas [6]. (b) Parede fissurada (Cortesia do Eng. Márcio Faria)
PREVENÇÃO
DAS FISSURAS
Algumas medidas podem ser tomadas
para prevenir a ocorrência de fissuras
na região em análise. Quanto à retração
da laje, além de um adequado proces-
so de cura, podem ser inseridas juntas
permanentes ou temporárias, para a
redução de seus efeitos. As juntas tem-
porárias devem ser concretadas poste-
riormente em prazo não inferior a uma
semana, observando-se a necessidade
de promover a emenda das armaduras
da laje por traspasse (Figura 4). Quanto
à movimentação térmica das lajes, po-
dem ser tomados cuidados para mini-
mizar as causas tais como: ventilação
do telhado, sombreamento da laje, pin-
tura da face superior do telhado com
tinta branca ou reflexiva, isolamento
térmico sobre a laje de cobertura (Fi-
gura 6). Pode-se também minimizar os
seus efeitos com as seguintes providên-
cias: disposição de juntas de dilatação
na laje, lançamento de juntas deslizan-
tes na interface laje/parede (teflon, pa-
pel betumado, neoprene, camada dupla
de mantas de PVC ou tiras de material
melamínico, etc., (Figura 5). O uso de
armaduras nas fiadas superiores das FIG. 4 – JUNTA DE CONCRETAGEM TEMPORÁRIA. ADAPTADA DE [4].
paredes também constitui um procedi- mento) e a sua armação com tela metá- intensidade das tensões de cisalhamen-
mento que reduz a ocorrência dessas lica ou de material geotêxtil. A figura 8 to despertadas nas paredes. A figura 9
fissuras. Tais armaduras podem estar ilustra essa recuperação. apresenta a forma do referido pavimen-
localizadas em cintas de respaldo e/ou to, bem como as principais característi-
juntas horizontais. Observe-se que elas ESTUDO DE CASO cas dos elementos estruturais.
são mais eficientes quando dispostas Corrêa e Ramalho[6] apresentaram um As paredes dispostas na direção da
na horizontal, direção de atuação da estudo de caso em que um pavimen- maior dimensão do pavimento foram
força cortante na parede induzida por to de cobertura e as paredes sobre as analisadas com base nos critérios es-
movimentação da laje. Já as armaduras quais ele se apoia foram representados tabelecidos em [7]. Considerando-se o
verticais contribuem apenas de forma por modelos alternativos em elemen- modelo mais refinado dentre os utiliza-
marginal por efeito pino. tos finitos, considerando simplificada- dos, no qual as paredes foram discretiza-
mente o comportamento elástico-linear das em elementos finitos de membrana
REPARO DAS FISSURAS para os materiais. O pavimento em laje e as lajes em elementos de casca, todas
Observada a ocorrência de fissuração de concreto de 0,09m de espessura foi as paredes, exceto a P3, apresentaram
na região em estudo, algumas provi- submetido a uma variação uniforme de tensões de cisalhamento superiores aos
dências podem ser tomadas, como as temperatura de 20º C, analisando-se a valores máximos normalizados, indican-
resumidas na figura 7.
O processo de recuperação das fis-
suras pode ser feito basicamente de
duas formas: a) remoção e substitui-
ção da alvenaria danificada; b) retira-
da e substituição do revestimento na
região fissurada. Em geral, o primeiro
procedimento é caro e pode ser até
mesmo ineficiente se as causas do pro-
blema não forem sanadas. O segundo
procedimento é o mais utilizado e tem
como fundamento a separação entre
a alvenaria e o revestimento, mediante
a colocação de um material liso e neu-
tro (bandagem, fita adesiva, etc.), bem
como o aumento da elasticidade do re-
vestimento (por exemplo com a adição
FIG. 7 – PROCEDIMENTOS DE REPARO [9].
de cola PVA na argamassa de revesti-
75
BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA
do a provável ocorrência de fissuração, os efeitos das variações dimensionais da [2] ROMAN, H.; ANTUNES SILVA, D. (2007)
na ausência de providências como as laje, cuja movimentação horizontal induz - “Typical Masonry Wall Enclosures in
indicadas no item 3. Maiores detalhes o aparecimento de cisalhamento nas pa- Brazil”, In: CIB (2007) - “Enclosure ma-
podem ser obtidos em [6]. redes, em nível superior à sua resistência sonry walls worldwide”, S. Pompeu
nominal, caso seja impedido o movimen- Santos (ed), Taylor & Francis/Balkema,
CONCLUSÃO to relativo laje/topo da parede. Sendo um London, UK.
Embora a fissuração de paredes de alve- problema grave e que pode gerar eleva- [3] GRIMM, C. (1988) - “Masonry Cracks:
naria localizadas logo abaixo da laje de dos custos de reparação, os procedimen- A Review of the Literature”, ASTM STP
cobertura não comprometa a segurança tos de prevenção devem ser observados 992, American Society for Testing and
estrutural, é essencial a adoção de pro- de forma cuidadosa, buscando minimizar Materials, Philadelphia.
vidências que minimizem a sua ocorrên- a ocorrência dessa patologia. [4] THOMAZ, E. (1998) - “Prevenção e re-
cia devido ao comprometimento de sua cuperação de fissuras em alvenaria –
utilização. Procedimentos simples, como REFERÊNCIAS parte 2”, Techne, 37, pp.48-52.
os aqui brevemente discutidos, podem [1] CORREA, M. (2012) - “The Evolution of [5] SOUSA, H., THOMAZ, E., CORRÊA,
ser adotados tanto na fase de desenvol- the Design and Construction of Ma- M.R.S, ROMAN, H. (2015) – “Defects in
vimento do projeto como durante a sua sonry Buildings in Brazil”. Design Man- Masonry Walls. Guidance on cracking:
execução. Tais procedimentos buscam re- agement and Technology, São Carlos, Identification, prevention and repair –
duzir as suas causas, bem como atenuar 2012, V.7, N.2, p. 3-11. Introduction”. CIB W023 – Wall Struc-
tures, pp 1-6, International Council for
Research and Innovation in Building
and Construction, Rotterdam.
[6] CORREA, M. R. S.; RAMALHO, M. A.
(2012) - “Fissuras em paredes de al-
venaria estrutural sob lajes de cober-
tura de edifícios”. Cadernos de Enge-
nharia de Estruturas (Online), v. 14, n.
62, p. 71-80.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. “NBR 15961-1:2011. Alve-
naria estrutural – Blocos de concreto.
Parte 1: Projeto”. Rio de Janeiro, Brasil.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. “NBR 15812-1:2010. Alve-
naria estrutural – Blocos cerâmicos.
Parte 1: Projeto”. Rio de Janeiro, Brasil.
[9] I.P.T. (2009) - “Alvenaria de vedação em
blocos cerâmicos – Código de práticas
No 1”, Instituto de Pesquisas Tecnológi-
FIG. 9 – ESTUDO DE CASO – LAJE DE COBERTURA (DIMENSÕES EM CM).
cas de São Paulo S.A., Brasil.
CALENDÁRIO DE
CURSOS
5 e 6 MAIO PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO COM AUXÍLIO DE MODELOS DE BIELAS E TIRANTES
Local: Recife/PE
Local:
13 MAIO PROJETO ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS DE ALVENARIA
Porto Alegre/RS
77
REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017 78
RESPOSTAS
1 – Diâmetros das barras longitudinais igual a 4 – Espaçamento entre estribos igual a 25 cm 6 – Pilar com dimensões de 15x15cm (Pilar 01):
8mm (Pilar 01): (Pilar 02): Comentário: pilares em concreto armado, segundo
Comentário: Segundo o item 18.4.2.1 da ABNT NBR Comentário: Segundo o item 18.4.3 da ABNT NBR o item 13.2.3 da ABNT NBR 6118:2014, não podem
6118:2014, “o diâmetro das barras longitudinais não 6118:2014, “o espaçamento longitudinal entre estri- apresentar seção transversal com área inferior a
pode ser inferior a 10 mm”. bos, medido na direção do eixo do pilar, para garan- 360 cm2;
2 – Diâmetros das barras longitudinais igual a tir o posicionamento, impedir a flambagem das bar- 7 – Cobrimento da armadura igual a 10 mm (Pi-
25 mm (Pilar 02): ras longitudinais e garantir a costura das emendas lar 02):
Comentário: Segundo o item 18.4.2.1 da ABNT NBR de barras longitudinais nos pilares usuais, deve ser Comentário: segundo a tabela 7.2 da ABNT NBR
6118:2014, o diâmetro das barras longitudinais não igual ou inferior ao menor dos seguintes valores: 6118:2014, o menor cobrimento nominal da arma-
pode ser “superior a 1/8 da menor dimensão trans- 200 mm; menor dimensão da seção; 24 φ para ca- dura para pilares deve ser de 25 mm podendo ser
versal”. 25, 12 φ para ca-50”. reduzido em 5 mm em algumas situações.
3 – Diâmetro dos estribos igual a 4.2 mm (Pilar 5 – As,máx superior a 0.08 ac (Pilar 02) na
01): emenda: Observação: Como se trata de um exemplo e não
Comentário: Segundo o item 18.4.3 da ABNT NBR Comentário: Segundo o item 17.3.5.3.2 da ABNT um projeto completo, diversos outros itens (carim-
6118:2014, “o diâmetro dos estribos em pilares não NBR 6118:2014, “a máxima armadura permitida em bo, notas mais completas, legendas, etc...) e dese-
pode ser inferior a 5 mm nem a ¼ do diâmetro da pilares” (as,máx = 0.08 ac) “deve considerar inclusive nhos (cortes, detalhes construtivos, etc...) devem
barra isolada ou do diâmetro equivalente do feixe a sobreposição de armadura existente em regiões fazer parte de um projeto estrutural adequado as
que constitui a armadura longitudinal”. de emenda”. normas técnicas.
DIRETOR DA ABECE
POR LEONARDO BRAGA PASSOS
FALHAS
DETECTE AS
JOGO DE SETE ERROS