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Não Tenho Pressa

Não tenho pressa. Pressa de quê?


Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"


Heterónimo de Fernando Pessoa

Estrutura interna
O sujeito poético encara o tempo de forma simples e despreocupada.
Observa os elementos da natureza “sol e a lua” e aceita a realidade tal como ela e de forma
tranquila.
Deixa o dia-a-dia correr naturalmente, sem preocupações, vivendo cada segundo a um ritmo
próprio.
O sujeito poético admite não gostar de pensar no que pode ou não acontecer no futuro, no
amanhã.
Para ele só existe a realidade e deixar-se viver nela, tal como é.

Recursos expressivos:
Repetição do "toco"- (verso 8) – significa que as coisas são como são
Comparação (verso 10) - que significa somos felizes só ao pensar no que realmente vemos.

Estrutura externa
Este poema tem 13 versos
1 estrofe irregular
Esquema rimático: versos soltos

Fernando Pessoa - é o mais universal poeta português.


Alberto Caeiro da Silva foi uma figura (heterónimo) criada por Fernando Pessoa.
Um heterónimo é um autor fictício que possui personalidade.
Alberto Caeiro - foi um poeta ligado à natureza, apresentando-se como um simples "guardador
de rebanhos" que só se importava em ver de forma objetiva e natural a realidade. Foi um poeta
de completa simplicidade, e considerava que a sensação era a única realidade.
refém

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