Você está na página 1de 6

“O rio começa aqui e acaba ali”

Personagens:
-Alberto Caeiro;

-Fernando Pessoa;

-Faustino Antunes;

-Álvaro de Campos;

-Ricardo Reis.

Objetivos
-Definir porque é que Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Fernando Pessoa o consideravam o
mestre;

-Biografia da vida e da obra de Alberto Caeiro;

Coisas
Gosta de Cesário Verde (No entardecer (Alberto Caeiro));
Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa no dia 16 de abril de 1889. Órfão de pai e de
mãe, "só teve instrução primária" e viveu quase toda a vida no campo, sob a proteção
de uma tia.
Bucólico.
Caeiro é um poeta das sensações puras, naturalista e cético, hostil às regras métricas e
ao "vício de pensar
Acabar a citar o poema “Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia”
“Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.”

O GUIÃO
Ato primeiro
Cena I
Faustino Antunes e Fernando Pessoa
Numa sala parecida com um consultório encontra-se Faustino sentado com a revista Orpheu
II na mão, quando entra um sobressaltado Fernando Pessoa:

Fernando Pessoa- Faustino eu não sei o que se passa, (Retirando o chapéu de forma
efusiva) começou pelo Alberto, depois o Ricardo e agora o Álvaro, o Alberto é o mestre
dos outr…
Faustino- Calma Fernando calma, (levanta-se e aproxima-se de FP) não percebo nada do que
dizes Alberto? Mas quem é o Alberto tu só tens dois grandes amigos o Almada e o Mário, que
história é essa do Álvaro e do Ricardo?

Fernando Pessoa - O alberto é o bucólico, o “guardador de rebanhos”, mas como assim ele
se ele sou eu.

Faustino- Fernando tu não estás a fazer sentido.


Fernando Pessoa -(desesperado) Tu achas que sou louco não achas amigo Faustino?
Faustino - Não eu não acho Fernando, (pondo-lhe a mão no ombro) mas precisas de me
explicar isto com mais calma, senta-te nesta cadeira, (puxando a cadeira) e diz-me, quem são
essas pessoas?

Fernando Pessoa (Já mais calmo)- Eu não te sei explicar quem são, só sei que escrevo como
alguém que viveu sempre no campo, e vê a vida da forma mais simples possível, o Alberto, e
como o Ricardo que leva a vida de uma forma feliz, aproveita o momento, mas com ataraxia,
com calma, sem exageros, mas quando dou por mim escrevo de forma completamente
diferente com o Álvaro.

Faustino - E vivem todos dentro de ti? Como começaram?


Fernando Pessoa - Eu sou todos eles Faustino…Começou num jeito de brincadeira, com o
Mário, ia criar um heterónimo como o Alberto Caeiro, disse-o ao Adolfo, o Casais Monteiro,
(exaltando-se outra vez) que no dia mais triunfal da minha vida, após dias sucessivos a tentar
criar esta personalidade sem sucesso, numa noite o criei e assim nasceu o guardador de
rebanhos, o mestre de nós todos.

Faustino - Fernando isso é incrível tu achas que, com algum tipo de transe, alguma coisa
conseguiria falar com o Alberto, seria revolucionário.

Fernando Pessoa (levantando-se) - Não sei Faustino sinto que endoideci...


Faustino - O que tu sentes é normal mas não endoideceste, lembraste do teu tio-avô Cunha,
tinha uma imaginação fértil mas nunca o consideraste um louco.

Fernando Pessoa (animando-se e voltando a sentar-se)- Tens razão seria verdadeiramente


revolucionário, sabes como o fazer?

Faustino (num tom duvidoso) - Não te preocupes está tudo sob controlo, (retirando um colar
que transporta no bolso) vamos começar?

Fernando Pessoa (Num tom autoritário) - Não me faças arrepender disto Faustino
Faustino (começando a balançar o colar) - Agora fixa o teu olhar Fernando e não faças barulho
e quando eu estalar os dedos trarás Alberto Caeiro contigo (à parte) fechem os olhos.
Cena II
Faustino Antunes, Fernando Pessoa e Alberto Caeiro
AC (Entrando calmamente e vagueando pela sala) - Que lugar intrigante, tão pouco verde,
nenhuma árvore… nenhuma flor, vim preso?

Fernando Pessoa (incrédulo)- Não acredito no que vejo, Caeiro? És tu Alberto Caeiro? Tal qual
como te criei, os olhos azuis, os cabelos louros, (desconfiado) para confirmar, quando
nascestes?

Alberto Caeiro- 16 de abril de 1889


Fernando Pessoa - Onde?
Alberto Caeiro - Nascido em Lisboa, criado no ribatejo senhor Pessoa
Fernando Pessoa - (começando a acreditar) E foste criado pela tu tia?
Alberto Caeiro - Exatamente após a morte dos meus pais
Fernando Pessoa - (Abraçando-o) Meu mestre és mesmo tu!
Alberto Caeiro - Em carne e osso senhor Pessoa
Faustino (Deslumbrado)- Isto é revolucionário, majestoso, sem precedentes
Alberto Caeiro - Da forma como fala acho que ia gostar do meu amigo Álvaro de Campos
Fernando Pessoa - Mas é claro que se conhecem. O poeta futurista que escreve sobre tudo o
que a civilização tem e o poeta bucólico que idealiza a natureza, e o campo que fabuloso.

Alberto Caeiro (estranhado)- Bucólico? Sabes melhor que ninguém que eu apenas escrevo o
que sinto, nem sabia o que bucólico significava, e muitas vezes o que escrevo se contradiz, mas
como disse ao Álvaro ‘se eu a mim não me contradigo o que importa se o que escrevo o faz’ e
falei também disso no meu poema ‘Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.’:

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.

Mudo, mas não mudo muito.

A cor das flores não é a mesma ao sol

De que quando uma nuvem passa

Ou quando entra a noite

E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.

Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:


Se estava virado para a direita,

Voltei-me agora para a esquerda,

Mas sou sempre eu, assente sobre os meus pés —

O mesmo sempre, graças ao céu e à terra

E aos meus olhos e ouvidos atentos

E à minha clara simplicidade de alma...

Fernando Pessoa (admirado)- Meu mestre, como é bom ouvir-te, boculismo, o ser bucólico é
o idealizar da vida campestre, é o que tu fazes quando escreves por exemplo o poema “aquela
senhora tem um piano” em que dizes:

Aquela senhora tem um piano

Que é agradável mas não é o correr dos rios

Nem o murmúrio que as árvores fazem …

Para que é preciso ter um piano?

o melhor é ter ouvidos

E amar a Natureza

Alberto Caeiro - Era apenas o que sentia no momento, não pensei, como escrevi no passado:
O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Prefiro absorver tudo com os meus sentidos, ver com as mãos e com todo o meu corpo, mas
também com os meus olhos, e como te digo Fernando nunca procuro pensar, novamente como
eu disse no poema “Leve”

Fernando Pessoa e Alberto Caeiro (em coro) - Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,

E vai-se, sempre muito leve.

E eu não sei o que penso

Nem procuro sabê-lo.

Faustino (Interrogativo) - Isto é tudo fascinante, a vossa interação, o quão diferentes são e o
quanto tu Caeiro és tudo o que o Fernando quis ser, sem racionalizar a toda a hora, não
racionalizando nunca são quase antíteses, mas eu ainda me questiono, se conseguimos trazer
alberto Caeiro não conseguiríamos trazer também o Ricardo e o Álvaro? Acham que vale a
pena?
Fernando Pessoa (sentando-se) – Tudo vale a pena se a alma não é pequena Faustino, se
conseguimos trazer o Alberto, não vejo porque não conseguiríamos trazer os outros dois, vais
adorar conhecê-los, vamos à hipnotização

Faustino (Retirando de novo o colar do bolso e começando a baloiçar) - Vamos lá Fernando


fixa o olhar no colar (à parte) já sabem como é fechem os olhos.

Cena III
Faustino Antunes, Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro
de Campos
Álvaro de Campos (Em êxtase) - Máquinas, Máquinas, Máquinas, o que é isto? E isto? Vê
Alberto, vê Ricardo, Fernando, também cá estás? Vejam isto tudo, o que é que é isto? Quero
absorver tudo, TUDO.

Ricardo Reis - Tem calma Álvaro, aproveita as coisas com mais descontração estás tão focado
nas máquinas e no progresso que nem cumprimentaste o nosso mestre Caeiro

Alberto Caeiro - Eu já conheço bem o Álvaro, o crónico doente dos olhos não me sinto
ofendido

Álvaro de Campos (Continuando sem foco) - Sim, sim tu e a tua ataraxia Ricardo, olá mestre
Caeiro já não o via há tanto tempo.

Faustino - Estão todos reunidos, isto é espantoso, tenho milhares de perguntas (à parte) não
sei é que como é que vou conseguir que o Álvaro se abstraia das máquinas.

Faustino - Então se eu percebi bem, o Caeiro é o poeta bucólico, Caeiro tu achas que és uma
extensão da personalidade do Fernando?

Alberto Caeiro - Sabe Faustino em primeiro lugar eu não me sinto poeta, ‘ser poeta não é
uma ambição minha, é a minha maneira de estar sozinho’, e em segundo lugar Faustino eu ‘Sou
um guardador de rebanhos, o rebanho é os meus pensamentos, e os meus pensamentos são
todos sensações.’, por isso limito-me apenas a guardar o meu rebanho e não penso nisso.

Fernando Pessoa - Mas Caeiro como é que não pensas nisto? É um verdadeiro mistério.
Alberto Caeiro - ‘O único mistério é haver quem pense no mistério’ meu caro Pessoa, daí que
eu acho que ‘o meu único misticismo é não querer saber. É viver e não pensar nisso’.

Álvaro de Campos (Com ar de quem não compreende) - Compreendo que não queiras pensar
Caeiro, mas não te faz confusão que sejamos tão falíveis? Olha para as máquinas nunca falham,
não querias ser como uma? Eu apenas conseguiria ser feliz se nunca falhasse.

Alberto Caeiro - Álvaro ‘mas eu nem sempre quero ser feliz, é preciso ser de vez em quando
infeliz, para se poder ser natural...’, ‘O que é preciso é ser-se natural e calmo, na felicidade ou
na infelicidade.’

Álvaro de Campos- Mas com tanta máquina nunca se criou uma máquina que faça felicidade.
Alberto Caeiro - ‘Aí de ti e de todos que levam a vida, a querer inventar a máquina de fazer
felicidade!’

Ricardo Reis (assertivo)- Eu tenho de concordar com o Alberto acho que as coisas devem ser
todas vividas, de forma calma, aproveitar o momento mas sem exageros.

Faustino - É impressionante são todos tu mas ao mesmo tempo são todos tão diferentes de ti
Fernando já percebo o rebuliço com que entraste aqui, e já percebi porque é que vocês
consideram Alberto o mestre, és tão simples Alberto mas a tua simplicidade é a mais difícil de
se conseguir, tenho tantas perguntas sobre tantos assuntos, por exemplo… Deus, o que achas
do conceito Alberto?

Alberto Caeiro - Sabes Faustino, (tirando as flores do bolso) ‘Quem precisa de Deus quando
tem flores’, e ainda ‘Todas as opiniões que existem sobre a natureza, nunca fizeram crescer
uma ou nascer uma flor’, por isso porque haveria eu de me preocupar com isso caro Faustino,
ocupo-me apenas a ser guardador de rebanhos, acho até que ‘Pensar em Deus é desobedecer
a Deus, porque Deus quis que o não conhecêssemos, por isso se nos não mostrou...’

Ricardo Reis - Mas que ideia tens tu das coisas mestre?


Alberto Caeiro -Que ideia tenho eu das cousas?
Álvaro de Campos- E que opinião tem sobre as causas e os efeitos?
Alberto Caeiro - que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Faustino- E sobre a criação do mundo o que tem a dizer?
Alberto Caeiro - E sobre a criação do Mundo?
‘Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos

E não pensar. É correr as cortinas

Da minha janela (mas ela não tem cortinas).’

Em coro- Tu és mesmo o nosso mestre Alberto

Álvaro de Campos - Tens de vir para a cidade Alberto para conversarmos mais vezes, para
termos mais tempo juntos.

Ricardo Reis- Concordo com o Álvaro vem connosco para a cidade Alberto
Alberto Caeiro - Incluir o da minha aldeia e o rio

Você também pode gostar