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NOTAS DE AULA DE ANÁLISE FUNCIONAL

OLIVAINE S. DE QUEIROZ
Departamento de Matemática
Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica
UNICAMP

Campinas
2013
Capítulo 1

Espaços normados e os fundamentos de


Análise Funcional

Neste capítulo introduziremos alguns dos principais conceitos a serem trabalhados no curso: espaços de Banach e
operadores lineares contínuos entre tais espaços. A exposição aqui segue as linhas, por exemplo, de [5].

Primeira aula↓

1.1 Espaços vetoriais normados e de Banach


Denotemos por F o corpo dos números reais R ou dos números complexos C e seja X um espaço vetorial sobre F.
Em boa parte do que estudaremos, não fará muita diferença se o corpo de escalares é real ou complexo. Quando
for necessário, deixaremos explícito em qual corpo estaremos trabalhando.
Uma semi norma em X é uma função x 7→ kxk, de X em [0, ∞), que satisfaz as seguintes propriedades:

• (desigualdade triangular) kx + yk ≤ kxk + kyk, para quaisquer x, y ∈ X;

• (homogeneidade) kλ xk = |λ |kxk, para qualquer x ∈ X e todo λ ∈ F.

Observemos que a homogeneidade da semi norma implica que k0k = 0, isto é, a norma do vetor nulo em X
é zero. Uma semi norma em um espaço vetorial é chamada de norma se kxk = 0 somente no caso em que x = 0.
Um espaço vetorial equipado com uma norma é chamado de espaço vetorial normado.
Um fato simples de se verificar é que, em um espaço vetorial normado X, a norma define uma métrica natural

ρ(x, y) := kx − yk.

A topologia induzida em X por esta métrica ρ é chamada de topologia da norma.


Um espaço normado X que é também um espaço métrico completo com a métrica induzida pela norma é
chamado de espaço de Banach. Dito de outra forma, X é um espaço de Banach se, e somente se, toda sequência
de Cauchy em X converge e seu limite ainda é um elemento de X.
É um fato básico de análise elementar que os espaços vetoriais Rn (sobre R) e Cn (sobre C) são espaços de
Banach (com a norma canônica euclidiana, no caso de Rn ). Daremos a seguir alguns exemplos importantes e mais
interessantes para o curso.

Exemplo 1.1.1 Dado um conjunto compacto A em um espaço métrico M, o espaço vetorial das funções contínuas
em A com valores em R é denotado por C(A). Tal espaço esquipado com a norma

k f k∞ := sup | f (x)|
x∈A

1
2 CAPÍTULO 1. FUNDAMENTOS

é completo. Isto é garantido pelo fato que limite uniforme de uma sequência de funções contínuas é ainda uma
função contínua.

Exemplo 1.1.2 Seja p ∈ [1, ∞) e definamos o espaço vetorial sobre R dado por:
n  ∞ p o
p
l p (N) := x = (xn )∞
n=1 | xn ∈ R e kxkl p = ∑ |xn | <∞ .
n=1

No caso p = ∞ definimos:
n o
l∞ (N) := x = (xn )∞
n=1 | x n ∈ R e kxk∞ = sup |xn | < ∞ .

É um exercício natural demonstrar que k · kl p é, de fato, uma norma em l p . Faremos isso em uma situação mais
geral adiante. Seja c0 ⊂ l∞ o subespaço vetorial definido por
n o
c0 (N) := x = (xn )∞n=1 | xn ∈ R e lim xn = 0 .

Um outro subespaço interessante de l∞ é


n o
c00 (N) := x = (xn )∞
n=1 | xn ∈ R, xn = 0 exceto para um número finito de valores de n ∈ N .

Observemos que, para 1 ≤ p < ∞,


c00 ⊂ l p ⊂ c0 ⊂ l∞ .
Com isso, a expressão k · k∞ também define uma norma no subespaço l p , 1 ≤ p < ∞. Porém, (l p , k · k∞ ), 1 ≤ p < ∞,
não é Banach. Consideremos, por exemplo, o caso p = 1 e a sequência em l1 definida por
 1 1 
yk := (ykj ) = 1, , . . . , , 0, 0, . . . , k = 1, 2, . . . .
2 k
Para cada m, n ∈ N, com m ≥ n, temos
n 1 1o 1
kym − yn kl∞ ≤ sup ,..., = .
n+1 m n+1
Segue que (yk ) é de Cauchy com a norma do sup . Se l1 fosse de Banach com esta norma, existiria y ∈ l1 tal que
kyk − yk∞ → 0, quando k → ∞.
Mas observe que, para cada j ≥ 1, certamente temos
|ykj − y j | ≤ kyk − yk∞ .
Fixando j e tomando o limite em k → ∞ vemos que
1
− y j ≤ lim kyk − yk∞ = 0,

j
ou seja, y j = 1/ j, j ≥ 1. Mas a sequência
 1 1 1 
y = 1, , . . . , , ,...
2 j j+1
não pertence a l1 , o que é uma contradição.

Duas normas k · k1 e k · k2 em um espaço normado X são chamadas de equivalentes se existirem duas


constantes positivas c1 , c2 > 0, tais que
c1 kxk1 ≤ kxk2 ≤ c2 kxk1 , para qualquer x ∈ X. (1.1)
Normas equivalentes em X fornecem métricas equivalentes e, consequentemente, dão origem à mesma topologia
(em particular, mesmas sequências de Cauchy). O Exemplo 1.1.2 nos diz que l1 é completo na norma k · kl1 mas
não é completo na norma k · k∞ . Assim, tais normas não são equivalentes. Observemos que a expressão (1.1) define
uma relação de equivalência no conujunto das normas de um espaço vetorial X. Em particular, temos que vale a
transitividade.
1.1. ESPAÇOS DE BANACH 3

Proposição 1.1.3 Se X é um espaço vetorial de dimensão finita, então todas as normas em X são equivalentes.

Demonstração. Seja {e1 , . . . , en } uma base do espaço vetorial X de dimensão finita. Para cada x ∈ X, existem
α1 , . . . αn ∈ F de tal sorte que
n
x = ∑ αi ei .
i=1

Definimos
n
kxk0 = ∑ |αi |.
i=1

Tal expressão define uma norma em X. Demonstremos que qualquer norma em X é equivalente à k · k0 .
Seja k · k qualquer outra norma em X. Então estimamos
n n n
kxk = ∑ αi ei ≤ ∑ |αi |kei k ≤ ( max ei ) ∑ kαi k = Ckxk0 .

i=1 i=1 1≤i≤n i=1

Suponhamos para efeito de contradição que a desigualdade reversa não é satisfeita, isto é, para cada constante
L > 0, existe xL ∈ X com
kxL k0 > LkxL k.
Obviamente devemos ter xL 6= 0 para esta desigualdade ocorrer. Dividimos ambos os lados por kxL k0 e definimos
yL = xL /kxL k0 obtendo
1 = kyL k0 > LkyL k.
Lembremos que a bola fechada B1 é compacta em dimensão finita. Segue que existe uma subsequência (yL j )
convergindo para y ∈ X na norma k · k0 . Segue da continuidade da norma que kyk0 = 1 e, usando a primeira parte
da demonstração, chegamos ao seguinte:

1
kyk ≤ ky − yL j k + kyL j k ≤ Cky − yL j k0 + .
Lj

Passando ao limite quando j → ∞ obtemos que kyk = 0 e portanto y = 0, o que é uma contradição com o fato de
kyk0 = 1.
Concluimos que k · k e k · k0 são equivalentes. Como a primeira norma é qualquer, o resultado segue por
transitividade. 

Observação 1.1.4 O fato de bolas fechadas serem compactas em espaços de dimensão finita foi essencial na
demonstração da Proposição 1.1.3.

Veremos mais adiante que todo espaço normado está de uma certa maneira “contido” em um espaço de
Banach (seu completamento). Por hora, apresentaremos um critério para completude de um espaço normado.
Antes porém, necessitamos de algumas definições.
Se (xn ) é uma sequência no espaço normado X, então dizemos que a série

∑ xn (1.2)
n=1

converge para x ∈ X na norma k · k se


N
lim ∑ xn − x = 0.

N→∞
n=1

Dizemos que série em (1.2) converge absolutamente, ou é absolutamente convergente, se



∑ kxn k < ∞.
n=1
4 CAPÍTULO 1. FUNDAMENTOS

Teorema 1.1.5 Um espaço vetorial normado X é de Banach se, e somente se, toda série absolutamente conver-
gente em X é uma série convergente.

Demonstração. Suponhamos incialmente que X é Banach e que (xn ) seja uma sequência tal que

∑ kxn k < ∞.
n=1

A N–ésima soma parcial desta sequência é dada por

N
SN = ∑ xn .
n=1

Para N, M ∈ N com N > M vemos que


N N
kSN − Sm k = xn ≤ kxn k → 0, quando M → ∞.

∑ ∑
n=M+1 n=M+1

Assim, (SN ) é uma sequência de Cauchy e, portanto, convergente em X. Equivalentemente, a série associada a
(xn ) converge em X.
Reciprocamente, suponhamos que toda série absolutamente convergente em X seja convergente e fixemos
uma sequência de Cauchy (xn ) ⊂ X qualquer. É possível selecionar

n1 < n2 < . . . ,

de maneira que
kxn − xm k < 2− j , para quaisquer n, m ≥ n j .
Agora, tomemos y1 = xn1 e, para j > 1,
y j = xn j − xn j−1 .
Então
k
∑ y j = xnk ,
j=1

e
∞ ∞ ∞
∑ ky j k ≤ ky1 k + ∑ kxn j − xn j−1 k ≤ ky1 k + ∑ 2− j = ky1 k + 1 < ∞.
j=1 j=2 j=1

Por hipótese, existe o limite



lim xnk = ∑ y j.
j=1

Assim, a sequência de Cauchy (xn ) possui uma subsequência que converge. Logo, (xn ) deve também convergir.
De fato: seja a = lim xnk ; dado ε > 0, tomemos n0 tal que

kxnk − xn j k < ε/2, para quaisquer j, k ≥ n0 ,

e também
kxnk − ak < ε/2, para qualquer k ≥ n0 .
Segue que, para n ≥ n0 ,
kxn − ak ≤ kxn − xn0 k + kxn0 − ak < ε.
Isto finaliza a demonstração. 
1.2. OPERADORES LIMITADOS 5

1.2 Operadores lineares limitados


Um operador linear T : X → Y entre dois espaços normados X e Y é chamado limitado se existe uma constante
C ≥ 0 tal que
kT xkY ≤ CkxkX , para todo x ∈ X.
Incluimos o sub índice na notação das normas para não criarmos confusão entre os espaços.

Teorema 1.2.1 Se X e Y são espaços vetoriais normados e T : X → Y é um operador linear, então as seguintes
afirmações são equivalentes:

a– T é contínuo;
b– T é contínuo em algum ponto x ∈ X;
c– T é limitado.

Demonstração. É trivial que a– implica em b–.


Suponhamos que T seja contínuo em algum x0 ∈ X e seja M um subconjunto limitado de X com M ⊂ BR (0)
para algum R > 0. Por continuidade em x0 , existe δ = δ (1, x0 ) tal que

kx − x0 kX ≤ δ implica em kT (x − x0 )k = kT x − T x0 k ≤ 1. (1.3)

Dito de outra forma, (1.3) nos diz que

kykX < δ implica em kTykY ≤ 1.

Consequentemente, se kykY ≤ R, então:


R  δ  R R
δ
 
kTykY = T y = T y ≤ ,

δ R Y δ R Y δ
pois
δ
y ≤ δ .

R
Conclusão:
T (M) ⊂ BR/δ (0).
Assim, b– implica em c–.
Agora verifiquemos que c– implica em a–. Suponhamos então que T aplica subconjuntos limitados de X em
limitados de Y. Em particular, existe R > 0 tal que

T (B1 (0)) ⊂ BR (0).

Seja ε > 0 qualquer e tomemos δ = ε/R. Suponhamos então que

kx − x0 kX ≤ δ .

Por homogeneidade,
1
(x − x0 ) ≤ 1,

δ X
o que nos dá
1 1 
kT x − T x0 kY = T (x − x0 ) ≤ R,

δ δ
ou seja,
kT x − T x0 kY ≤ ε.
Portanto, T é contínuo no ponto arbitrário x0 ∈ X, finalizando a demonstração. 
6 CAPÍTULO 1. FUNDAMENTOS

Denotamos por B(X,Y ) o conjunto dos operadores lineares limitados de X em Y. É um fato básico de
Álgebra Linear que B(X,Y ) é também um espaço vetorial com as operações de soma de operadores e produto de
um operador por um escalar em F usuais.
Será comum utilizarmos as seguintes notações:

B(X, X) = B(X), B(X, F) = X ∗ .

Observação 1.2.2 Como diriam as aeromoças da Azul, já sabemos, mas não custa lembrar que a limitação acima
definida é diferente da limitação de funções. De fato, se kT xk ≤ C para todo x ∈ X, então, para qualquer escalar
λ ∈ F, temos
|λ |kT xk = kT (λ x)k ≤ C.
Concluimos que T x = 0 dividindo a última desigualdade acima por |λ | e considerando o limite λ → ∞. Como x é
qualquer, T deve ser a aplicação nula. Na verdade, dizer que um operador linear T : X → Y é limitado significa
que ele aplica subconjuntos limitados de X em subconjuntos limitados de Y .

Segunda aula↓

Dado T ∈ B(X,Y ), a expressão

kT k = sup{kT xkY | kxk ≤ 1} (1.4)

esté bem definida pelo Teorema 1.2.1 e define uma norma em B(X,Y ).

Proposição 1.2.3 Sejam X e Y espaços normados. Então a expressão (1.4) define uma norma em B(X,Y ) que
ainda pode ser caracterizada por
kT xkY
kT k = sup kT xkY = sup . (1.5)
kxk=1 x6=0 kxkX

Além disso, se Y for Banach, então B(X,Y ) também será Banach com esta norma.

Demonstração. Faremos a demonstração do fato interessante que B(X,Y ) é Banach sempre que Y é Banach. Os
demais fatos ficam como exercício. É importante observar que a última caracterização da norma deixa claro que

kT xkY ≤ kT kkxkX .

Consideremos então uma sequência de Cauchy (Tn ) ⊂ B(X,Y ) e procedemos com a demonstração que esta se-
quência converge para um operador neste espaço.
Fixado x ∈ X e m, n ∈ N nós estimamos

kTn x − Tm xkY ≤ kTn − Tm kkxkX ,

o que nos diz que (Tn x) ⊂ Y é uma sequência de Cauchy em Y. Sendo Y Banach, existe um elemento que deno-
taremos por T x, tal que Tn x → T x. Assim, construimos uma aplicação de X em Y por

x 7→ T x.

Afirmação 1: T é linear. De fato, observe:


T (x + y) = lim(Tn (x + y)) = lim(Tn x + Tn y) = lim Tn x + lim Tn y = T x + Ty, x, y ∈ X,
T (λ x) = lim Tn (λ x) = λ lim Tn x = λ T x, x ∈ X, λ ∈ F.

Afirmação 2: T é limitado. Isto segue do fato de toda sequência de Cauchy ser limitada. Assim, existe C > 0 tal
que kT k ≤ C. Disso segue que:

kT xkY = lim kTn xkY ≤ lim sup kTn kkxkX ≤ Ckxk.


1.3. EXERCÍCIOS 7

Afirmação 3: kTn − T k → 0 em B(X,Y ). Dado ε > 0, seja n0 tal que kTn − Tm k ≤ ε sempre que n, m ≥ n0 . Para
x ∈ B1 (0) temos que

kT x − Tn xk = lim kTm x − Tn xk ≤ lim kTm − Tn kkxk ≤ εkxk ≤ ε.

Isto implica que Tn → T em B(X,Y ) e conclui a demonstração do resultado. 

1.3 Exercícios
Exercício 1 Seja X um espaço vetorial e lembremos que uma base algébrica (ou base de Hamel) de X é um
subconjunto (ei )i∈I , tal que todo x ∈ X pode ser escrito de maneira única como

x= ∑ x je j,
j∈J

para algum subconjunto finito J ⊂ I, onde x j ∈ F,, j ∈ J. Uma aplicação do Lema de Zorn (Lema 3.1.2) implica
que todo espaço vetorial E possui uma base de Hamel (ei )i∈I .
Toda base de Hamel de um espaço vetorial X fixado possui a mesma cardinalidade. No caso em que I é
finito, dizemos que X possui dimensão finita.
Demonstre que todo espaço vetorial pode ser normado.
Sugestão: demonstração da Proposição 1.1.3.

Exercício 2 Se uma métrica ρ em um espaço métrico X é induzida por uma norma, então

ρ(x + z, y + z) = ρ(x, y), para quaisquer x, y, z ∈ X,

e
ρ(λ x, λ y) = |λ |ρ(x, y), para quaisquer x, y ∈ X e todo λ ∈ F.

Exercício 3 Dado um espaço vetorial X, no qual está definida uma métrica d, é necessariamente verdade que
existe uma norma k · k1 em X tal que d(x, y) = kx − yk1 para quaisquer x, y ∈ X?

Exercício 4 Demonstre que todo espaço métrico M, com métrica d, é isométrico a um subconjunto de um espaço
normado. De fato, tal espaço normado pode ser tomado como sendo o conjunto das funções contínuas e limitadas
em M, denotado por CB (M), com a norma do sup .
Sugestão: fixe x ∈ M e considere a aplicação de M em CB (M), dada por y 7→ f , com f (z) = d(x, z) − d(y, z).

Exercício 5 Em um espaço normado X sobre F, as operações de adição e multiplicação por um escalar são
contínuas de X × X em X. Além disso, a norma k · k satisfaz:

|kxk − kyk| ≤ kx − yk,

isto é, a norma é uma função contínua de X em F.

Exercício 6 Seja Ω ⊂ Rn um subconjunto compacto. Demonstre que (C(Ω), k · k∞ ) é um espaço de Banach. Pelo
Teorema de Stone–Weierstrass, o espaço vetorial dos polinômios com coeficientes reais é denso em C([a, b]). Segue
que C(Ω) possui dimensão infinita.

Exercício 7 Verificaremos que, ao contrário do que diz a Proposição 1.1.3 para espaços normados de dimensão
finita, espaços normado de dimensão infinita nunca possuem uma única topologia induzida por norma. Seja X um
espaço normado com dim X = ∞ e com norma k · k.

a) construa um operador linear não limitado e injetivo T de (X, k · k) em si mesmo.


8 CAPÍTULO 1. FUNDAMENTOS

c) Seja kxk1 = kT xk para x ∈ X. Demonstre que k · k1 é uma norma, que T : (X, k · k1 ) → (X, k · k) é um
isomorfismo isométrico e que (X, k · k1 ) é Banach se, e somente se, (X, k · k) é Banach.
c) Demonstre que as topologias induzidas por k · k1 e por k · k são diferentes.

Exercício 8 Seja Ck ([0, 1]) o espaço das funções em [0, 1] possuindo derivadas contínuas até ordem k em [0, 1],
incluindo as derivadas laterais em 0 e em 1.

a– Se f ∈ C([0, 1]), então f ∈ Ck ([0, 1]) se, e somente se, f é k–vezes continuamente diferenciável em (0, 1) e
os limites
lim f ( j) (x) e lim f ( j) (x), j ≤ k,
x→0+ x→1−
existem (use o Teorema do Valor Médio).
b– A expressão
k
k f kk,∞ = ∑ k f ( j) k∞
j=0

define uma norma em Ck ([0, 1]) que faz deste um espaço de Banach.
0
Sugestão: use indução em k; o ponto essencial é que se ( fn ) ⊂ C1 ([0, 1]), fn → f uniformemente e fn → g
uniformemente, então f ∈ C1 ([0, 1]) e f 0 = g; para isto demonstre que
Z x
f (x) − f (0) = g(t)dt.
0

Exercício 9 Dado 0 < α ≤ 1, seja C0,α (Rn ) o espaço das funções limitadas em Rn tais que
| f (x) − f (y)|
sup < ∞.
x6=y |x − y|α

Observe que f é necessariamente contínua. Aliás, as funções de C0,α (Rn ) são chamadas de Hölder contínuas de
expoente α. O caso α = 1 é o das funções Lipschitz contínuas.
Uma norma em C0,α (Rn ) pode ser definida por
| f (x) − f (y)|
k f kC0,α = sup | f (x)| + sup .
x∈Rn x6=y |x − y|α

O espaço C0,α (Rn ) com a norma k · kC0,α é de Banach.

Exercício 10 Demonstre que, se α > 1, as únicas funções de C0,α (Rn ) são as constantes.
Motivados por este fato, definimos Ck,β (Rn ) como sendo a classe das funções f em Rn cujas as derivadas
parciais de ordem menor ou igual a k pertencem a C0,β (Rn ). Aqui, k ∈ N e 0 < β ≤ 1. Demonstre que Ck,β (Rn )
equipado com a norma
k f kCk,β := ∑ k∂ a f 0,β

C
|a|≤k

é um espaço de Banach.
Acima, a = (a1 , . . . , an ) é um multi índice com entradas inteiras e positivas e |a| = a1 + . . . + an . A expresão
∂ a f significa
∂ a1 +...+an f
.
∂ a1 x1 . . . ∂ an xn

Exercício 11 Demonstre que (l p , k · kl p ), 1 ≤ p ≤ ∞, é um espaço de Banach.

Exercício 12 Para i, j ∈ N, seja δi j o símbolo de Kronecker, isto é, δii = 1 e δi j = 0 se i 6= j. Defina uma sequência
em l p por yn = (δn j )∞j=1 . Use esta sequência para demonstrar que em l p , 1 ≤ p ≤ ∞, existem conjuntos fechados e
limitados que não são compactos.
1.3. EXERCÍCIOS 9

Exercício 13 Um conjunto C em um espaço vetorial sobre F é convexo se, sempre que x, y ∈ C, então

tx + (1 − t)y ∈ C, para qualquer t ∈ [0, 1].

Demonstre que se (X, k · k) é um espaço normado, então, para qualquer r > 0 e qualquer x ∈ X, a bola

Br (x) := {y ∈ X | kx − yk < r}

é convexa.

Exercício 14 Demonstre que, se 0 < p < 1, então k · k p não é uma norma em l p .

Exercício 15 Seja X um espaço de Banach e E ⊂ X um subespaço de dimensão finita. Demonstre que E é fechado.

Exercício 16 Demonstre que se X é um espaço normado , então o fecho de qualquer subespaço de X é ainda um
subespaço de X.

Exercício 17 Se X e Y são espaços normados. Então em X ×Y podemos definir a norma produto

k(x, y)k = max{kxkX , kykY },

que é equivalente às normas kxkX + kykY ou (kxk2X + kykY2 )1/2 .

Exercício 18 Se M é um subespaço vetorial de X, definimos uma relação de equivalência em X como segue: x ∼ y


se, e somente se, x − y ∈ M. A classe de equivalência de x ∈ X é denotada por x + M e o conjunto das classes de
equivalência, ou espaço quociente, é denotado por X/M. A estrutura de espaço vetorial vem das definições:

(x + M) + (y + M) = (x + y) + M e λ (x + M) = (λ x) + M, x, y ∈ X, λ ∈ F.

Suponhamos que X seja normado e que M seja um subespaço próprio fechado de X.

a– A expressão
kx + Mk = inf kx + yk
y∈M

define o que chamamos de norma do quociente em X/M.


b– Para qualquer ε > 0, existe x ∈ X com kxk = 1 e kx + Mk ≥ 1 − ε.
c– A projeção π(x) = x + M de X em X/M possui norma igual a 1.
d– Se X é Banach, então X/M também será Banach (use a caracterização por séries absolutamente conver-
gentes).

Exercício 19 Se k · k é uma semi norma no espaço vetorial X, definamos

M = {x ∈ X | kxk = 0}.

Demonstre que M é um subespaço de X e que a aplicação x + M 7→ kxk é uma norma em X/M.

Exercício 20 Suponha que X e Y sejam espaços vetoriais normados e T ∈ B(X,Y ). Consideremos o núcleo de
T:
ker T := {x ∈ X | T x = 0}.

a– ker T é um subespaço fechado de X.


b– Existe um único operador S ∈ B(X/ ker T,Y ) tal que T = Sπ, onde π é a projeção. Além disso, kT k = kSk.

Exercício 21 Sejam E um espaço vetorial normado de dimensão finita e X um espaço de Banach. Demonstre que
toda aplicação linear T : E → X é necessariamente contínua.
10 CAPÍTULO 1. FUNDAMENTOS

Exercício 22 Sejam X,Y e Z espaços vetoriais normados com T : X → Y e S : Y → Z operadores lineres limitados.
Então a composição de operadores ST é limitada e kST k ≤ kSkkT k.

Exercício 23 Seja Mn×m o conjunto das matrizes com coeficientes reais ai j , 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ m. Definamos

|Ax|
kAk := maxm .
x∈R |x|

Demonstre que (Mn×m , k · k) é um espaço vetorial normado. Além disso, demonstre que

kAk = max yt Ax.


|x|=|y|=1

Exercício 24 Se X e Y são espaços normados, demonstre que a aplicação (T, x) 7→ T x é contínua de B(X,Y ) × X
em Y, isto é, se Tn → T e xn → X, então Tn xn → T x.

Exercício 25 Seja λ = (λn )n∈N ∈ l∞ e defina o operador Tλ : l p → l p por

Tλ (xn ) = (λ1 x1 , λ2 x2 , . . .).

Demonstre que Tλ é um operador linear limitado e kT k = kλ kl∞ .


Verifique que se λ 6∈ l∞ então Tλ (xn ) 6∈ l p para alguma sequência (xn ) ∈ l p .

Exercício 26 Seja X um espaço de Banach.

a– Se T ∈ B(X, X) e kI − T k < 1, com I sendo a identidade, então T é inversível; de fato, a série



∑ (I − T )n
n=0

converge em B(X) para T −1 .

b– Se T ∈ B(X) é inversível e kS − T k < kT −1 k−1 , então S é inversível. Em particular, o conjunto dos opera-
dores lineares inversíveis é aberto em B(X).

Exercício 27 Sejam A ∈ R e k : [0, 1] × [0, 1] → R definida por

k(x, y) = A sen(x − y).

Demonstre que se |A| < 1, então, para qualquer f ∈ C([0, 1]), existe uma única g : C([0, 1]) tal que
Z 1
g(x) = f (x) + k(x, y)g(y)dy.
0

Exercício 28 Considere o espaço

C0 ([0, 1]) = {u : [0, 1] → R, | u contínua, u(0) = 0}

com a norma do sup . Definamos T : C0 ([0, 1]) → R por


Z 1
Tu := u(t)dt.
0

Demonstre que kT k = 1.
É possível encontrar u ∈ C0 ([0, 1]) com kuk = 1 e Tu = kT k?
1.3. EXERCÍCIOS 11

Exercício 29 Considere c0 (N) com a norma k · k∞ . Para cada y = (yn ) ∈ c0 (N) definamos

yn
F(y) = ∑ 2n .
n=1

Demonstre que F : c0 (N) → R é um elemento de B(c0 (N), R) e encontre kFk.


É possível encontrar y ∈ c0 (N) tal que F(y) = kFk?

Exercício 30 Seja X um espaço vetorial com duas normas k · k1 e k · k2 . Suponha ainda que estas duas normas
sejam equivalentes. Demonstre que (X, k · k1 ) é completo se, e somente se, (X, k · k2 ) é completo.

Exercício 31 Sejam ρ1 e ρ2 métricas em R definidas por


t
ρ1 (x, y) = |x − y|, ρ2 (x, y) = |φ (x) − φ (y)|, φ (t) = .
1 + |t|
Demonstre que estas métricas geram a mesma topologia em R. Entretanto, (R, ρ1 ) é completo e (R, ρ2 ) não é
completo.

Exercício 32 Seja a = (an ) uma sequência real e definamos para cada x = (xn ) ∈ c00 (N) a expressão:

kxka := ∑ |an ||xn |.
n=1

a– Demonstre que k · ka é uma norma em c00 (N) se, e somente se, an 6= 0 para todo n ∈ N.
b– Na notação anterior, demonstre que duas normas k · ka e k · kb em c00 (N) são equivalentes se, e somente se,
|an | |an |
0 < inf ≤ sup < ∞.
n∈N |bn | n∈N |bn |

Exercício 33 Sejam E, F e G espaços normados. Um operador bilinear R : E × F → G é chamado de conjunta-


mente limitado se
kRk := sup{kR(x, y)kG ; kxkE ≤ 1, kykF ≤ 1} < ∞,
e separadamente limitado se, para cada x ∈ E e cada y ∈ F, os operadores Rx : F → G e Ry : E → G dados por
y 7→ R(x, y) e x 7→ R(x, y) respectivamente, são limitados.

a) Demonstre que todo operador conjuntamente limitado é separadamente limitado.


b) Suponhamos que R : E × F → G é conjuntamente limitado e linear e que (xn ) ⊂ E e (yn ) ⊂ F são sequências
com xn → x e yn → y, então R(xn , yn ) → R(x, y).
c) Seja f : c00 × c00 → R o operador bilinear definido por

f (x, y) = ∑ nxn yn .
n=1

Demonstre que f é separadamente limitado mas não conjuntamente limitado.

Exercício 34 Seja ϕ : [0, 1] × [0, 1] → [0, ∞) uma função contínua tal que ∂1 ϕ existe e é contínua em [0, 1] × [0, 1].
Demonstre que o operador U : C([0, 1]) → C([0, 1]) definido por
Z 1
(U f )(x) = ϕ(x,t) f (t)dt
0

é linear e contínuo com Z 1


kUk = ϕ(1,t)dt.
0
12 CAPÍTULO 1. FUNDAMENTOS

Exercício 35 Demonstre que o operador U : C([0, 1]) → C([0, 1]) definido por
Z 1
(U f )(x) = ext f (t)dt
0

é linear e contínuo com


kUk = e − 1.

Sugestão: Exercício 34.

Exercício 36 Considere novamente o operador U : C([0, 1]) → C([0, 1]) definido por
Z 1
(U f )(x) = ext f (t)dt.
0

Demonstre que se Vn ,Un : C([0, 1]) → C([0, 1]) são definidos por
Z 1 n
(tx)k 
(Un f )(x) = ∑ f (t)dt, (1.6)
0 k=0 k!
Z 1−1/n
(Vn f )(x) = ext f (t)dt, (1.7)
1/n

então kU −Un k → 0 e kU −Vn k → 0.

Exercício 37 (Operadores de Hardy em l p ) a) Sejam 1 < p < ∞, n ∈ N, a1 ≥ 0, . . . an ≥ 0. Demonstre que


n  a + . . . + a p
1 k p  n  a1 + . . . + ak  p−1 
∑ ≤ ∑ ak
k=1 k p − 1 k=1 k

e que
n
  a + . . . + a  p 1/p
1 k p  n p 1/p
∑ ≤ ∑ ak .
k=1 k p − 1 k=1

b) Seja H : l p → l p o operador de Hardy definido por

H((xn )) = (yn ),

onde
x1 + . . . + xn
yn = .
n
Demonstre que H é linear e contínuo com
p
kHk = .
p−1
Capítulo 2

Espaços L p – definição e propriedades


básicas

Os espaços funções da forma L p têm um papel central em várias questões de Análise. Esta importância se deve ao
fato de eles serem uma generalização dos espaços L2 , de fundamental importância em Análise de Fourier. Vamos
nos concentrar neste capítulo nas propriedades estruturais básicas desses esoaços. Em particular, veremos que eles
são uma classe interessante de exemplos de espaços de Banach.

2.1 Resultados da Teoria de Integração


Nesta seção vamos recordar algumas definições e resultados de teoria da medida que serão essenciais no estudo
dos espaços L p .
A terna (X, M , µ) é chamada de espaço de medida σ –finito se X for um conjunto e tivermos:
i) M é uma σ –álgebra em X, isto é, uma sub coleção de subconjuntos de X tal que:
– 0/ ∈ M ;
– se a ∈ M então Ac ∈ M ;
– se Ai ∈ M , i ∈ N,, então ∪i∈N Ai ∈ M ;
ii) µ é uma medida, isto é, µ : M → [0, ∞] satisfaz o seguinte:
/ = 0;
– µ(0)
– se Ai ∈ M , i ∈ N,, então µ(∪ j∈J A j ) = ∑ j∈J µ(A j ) sempre que (A j ) j∈J ⊂ M for uma família enu-
merável;
iii) X é σ –finito, isto é, existe uma família enumerável (Xn ) ⊂ M tal que X = ∪Xn e µ(Xn ) < ∞ para todo n.
A propriedade iii) acima não é estritamente essencial, mas vamos assumi-la aqui.
Os elementos de M são chamados de conjuntos mensuráveis. Já os conjuntos E ∈ M tais que µ(E) = 0
são chamados de conjuntos nulos. Uma propriedade que vale em X exceto em um conjunto de medida nula é dita
valer em quase todo ponto (abrevidamente q.t.p. em X).
Denotamos por L1 (X, µ), ou somente L1 (X) quando a medida estiver clara no contexto, o espaço das funções
f : X → R que são µ–integráveis, isto é, Z
| f |dµ < ∞.
X
Lembremos que L1 (X, µ) é na verdade o conjunto das classes de funções que coincidem a menos de um conjunto
de medida µ–nula. Para a teoria de integração, sugerimos o Capítulo 2 de [5]. Usamos a notação
Z
k f kL1 = k f k1 = | f |dµ.
X

13
14 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS LP

Um exemplo básico de espaço de medida que pode ser fixado é quando X = Ω ⊂ Rn , M é formado pelos
subconjuntos Lebesgue mensuráveis de Ω e µ é a medida de Lebesgue.
Passamos agora a enunciar os resultados básicos de teoria da medida.

Teorema 2.1.1 (Convergência monótona de Beppo-Levi) Seja ( fn ) uma sequência de funções em L1 (X, µ) cres-
cente e limitada na norma k · kL1 , isto é,
Z
f1 ≤ f2 ≤ f3 ≤, . . . , sup fn dµ < ∞.
n∈N X

Então, para quase todo x ∈ X, fn (x) converge para um número finito f (x). Além disso, temos que f ∈ L1 (X, µ) e
k fn − f kL1 → 0, quando n → ∞.

Teorema 2.1.2 (Convergência dominada de Lebesgue) Seja ( fn ) uma sequência de funções em L1 (X, µ) que
satisfaz o seguinte:

• fn (x) → f (x) em quase todo ponto x ∈ X (convergẽncia pontual);


• existe uma função g ∈ L1 (X, µ) tal que | fn (x)| ≤ g(x) em quase todo ponto x ∈ X.

Então f ∈ L1 (X, µ) e k fn − f kL1 → 0 quando n → ∞.

Lema 2.1.3 (Lema de Fatou) Seja ( fn ) uma sequência de funções em L1 (X, µ) com fn ≥ 0 em quase todo ponto
de X e para todo n ∈ N. Suponha ainda que
Z
sup fn dµ < ∞.
n∈N X

Para quase todo x ∈ X podemos definir


f (x) := lim inf fn (x) ≤ ∞.
n→∞

Então f ∈ L1 (X, µ) e Z Z
f dµ ≤ lim inf fn dµ.
X n→∞ X

Teorema 2.1.4 (Teorema de Fubini–Tonelli) Suponhamos que (X, M , µ) e (Y, N , ν) sejam dois espaços de me-
dida σ – finitos.

a– (Tonelli) Se f : X ×Y → R é uma função mensurável satisfazendo


Z
| f (x, y)|dν < ∞ para quase todo x ∈ X,
Y
e Z Z
| f (x, y)|dνdµ < ∞,
X Y
então f ∈ L1 (X ×Y, λ ), onde λ é o completamento da medida produto µ × ν.
b– (Fubini) Suponha que f ∈ L1 (X ×Y, λ ). Então, para quase todo x ∈ X,
Z
f (x, ·) ∈ L1 (Y, ν), e f (x, y)dν ∈ L1 (X, µ).
Y

Similarmente, para quase todo y ∈ Y,


Z
f (·, y) ∈ L1 (X, µ), e f (x, y)dµ ∈ L1 (Y, ν).
X

Além disso, Z Z Z Z ZZ
f (x, y)dνdµ = f (x, y)dµdν = f (x, y)dλ .
X Y Y X X×Y
2.2. ESPAÇOS LP 15

2.2 Definição e propriedades elementares de L p


Com a notação da Seção anterior, seja (X, M , µ) um espaço de medida σ –finito. Para 1 ≤ p < ∞ definimos
n Z o
L (X, M , µ) := f : X → R mensuráveis com
p
| f (x)| p dν < ∞ .
X

Usamos novamente a notação simplificada: L p (X, µ) ou L p (X).


Se f ∈ L p (X, µ) definimos
Z 1/p
k f kL p := | f (x)| p dµ .
X

O caso em que X = Ω ⊂ Rn e µ é a medida de Lebesgue é comumente usado e convém mante-lo como


exemplo típico.
Se A é qualquer conjunto e se µ é a medida da contagem, denotamos L p (A, µ) por l p (A). Em particular,
quando A = N temos os espaços usuais do Exemplo 1.1.2.
Um resultado essencial da teoria do espaços L p é a desigualdade de Hölder. Para demonstrá-la, necessitamos
de uma generalização do fato simples que diz que a média geométrica de dois números positivos é majorada pela
média aritmética.

Lema 2.2.1 Se a, b, θ ∈ R com a, b ≥ 0 e 0 ≤ θ ≤ 1, então

aθ b1−θ ≤ θ a + (1 − θ )b.

Demonstração. Observe que podemos supor b 6= 0. Definamos

f (x) := xθ − θ x − (1 − θ ), x ≥ 0.

Então f 0 (x) = θ (xθ −1 − 1) e f é crescente em 0 ≤ x ≤ 1 e decrescente em x ≥ 1. Segue que x = 1 é ponto de


máximo da função contínua f . Assim, para qualquer A ≥ 0,

f (A) ≤ f (1) = 0,

ou seja,
Aθ ≤ θ A + (1 − θ ).
Tomando A = ab−1 vemos que
aθ b−θ ≤ θ ab−1 + (1 − θ )
e o resultado segue multiplicando esta desigualdade por b. 
Dois números p, q ∈ [0, ∞] são chamados de expoentes conjugados se tivermos o seguinte:
1 1
+ = 1,
p q
onde estamos assumindo que p = 1 quando q = ∞ e vice versa.

Teorema 2.2.2 (Desigualdade de Hölder) Suponha que p, q ∈ (1, ∞) são expoentes conjugados. Se f ∈ L p (X, µ)
e g ∈ Lq (X, µ), então f g ∈ L1 (X, µ) e
k f gkL1 ≤ k f kL p kgkLq .

Demonstração. Se k f kL p = 0 ou kgkLq = 0 então teremos que f = 0 ou g = 0 respectivamente. Sendo assim, em


qualquer um destes casos f g = 0 e a desigualdade é válida. Assim, suponhamos que nenhuma dessas normas se
anulam e, além disso, que k f kL p = kgkLq = 1. Então precisamos verificar que k f gkL1 ≤ 1. Para tanto, aplicamos
o Lema 2.2.1 com a = | f (x)| p , b = |g(x)|q e θ = 1/p. Segue que 1 − θ = 1/q e
1 1
| f (x)g(x)| ≤ | f (x)| p + |g(x)|q .
p q
16 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS LP

Intengrando esta desigualdade em X obtemos


k f gkL1 ≤ 1.

O caso geral segue aplicando este caso particular à f /k f kL p e g/kgkLq . 

Podemos agora demonstrar outra desigualdade importante que implica, em particular, que L p é um espaço
vetorial e que k · kL p é uma norma se p ≥ 1.

Teorema 2.2.3 (Desigualdade de Minkowski) Se 1 ≤ p < ∞ e f , g ∈ L p (X), então f + g ∈ L p (X) e

k f + gkL p ≤ k f kL p + kgkL p .

Demonstração. No caso p = 1 basta integramos a desigualdade

| f (x) + g(x)| ≤ | f (x)| + |g(x)|.

Se 1 < p < ∞, então verificamos inicialmente que

| f (x) + g(x)| p ≤ (2 max{| f (x)|, |g(x)|}) p ≤ 2 p (| f (x)| p + |g(x)| p ),

o que implica que f + g ∈ L p (X). À seguir, vemos que

| f (x) + g(x)| p = | f (x) + g(x)|| f (x) + g(x)| p−1 ≤ | f (x)|| f (x) + g(x)| p−1 + |g(x)|| f (x) + g(x)| p−1 . (2.1)

Como (p − 1)q = p, podemos aplicar a Desigualdade de Hölder e obter:


Z Z 1/p  Z 1/q
| f (x)|| f (x) + g(x)| p−1 dµ ≤ | f (x)| p dµ | f (x) + g(x)|(p−1)q dµ ,
X X X
Z Z 1/p  Z 1/q
|g(x)|| f (x) + g(x)| p−1 dµ ≤ |g(x)| p dµ | f (x) + g(x)|(p−1)q dµ .
X X X

Assim, integrando (2.1) obtemos

k f + gkLp p ≤ k f kL p k( f + g) p−1 kLq + kgkL p k( f + g) p−1 kLq . (2.2)

Observemos que
Z 1/q Z  p/pq
p/q
k( f + g) p−1 kLq = | f (x) + g(x)|(p−1)q dµ = | f (x) + g(x)| p dµ = k f + gkL p . (2.3)
X X

Podemos supor que k f + gkL p > 0 pois, caso contrário, o resultado é trivial. Logo, substituindo (2.3) em
p/q
(2.2) e dividindo a desigualdade resultante por k f + gkL p obtemos

k f + gkL p ≤ k f kL p + kgkL p ,

que finaliza a demonstração. 

O Teorema 2.2.3 implica que k · kL p satisfaz a desigualdade triangular na definição de norma. A homogenei-
dade dessa expressão é óbvia. Estamos a um passo de dizer que L p (X, µ) com k · kL p é um espaço normado.
Observemos porém que se f ∈ L p (X, µ) e k f kL p = 0, então f = 0 somente em quase todo ponto de X (para a
medida µ). Assim, introduzimos uma relação de equivalência nos espaços L p na qual f e g são equivalentes se
f = g em quase todo ponto de X. Com isso, a definição precisa de L p (X, µ) é que este é o conjunto das classes
de equivalência para esta relação. Na prática, entretanto, não perdemos muito em pensar que os elementos de
L p (X, µ) são funções ao invés de classe de equivalência de funções.
2.2. ESPAÇOS LP 17

Observação 2.2.4 Sejam a, b > 0 e 0 < p < 1. Daí, t p−1 > (a +t) p−1 para todo t > 0. Integrando de 0 a b obtemos
que
a p + b p > (a + b) p .
Por outro lado, se E e F são subconjuntos disjuntos de X de medida finita e se fixarmos

a = µ(E)1/p , b = µ(F)1/p ,

obtemos
kχE + χF kL p = (a p + b p )1/p > a + b = kχE kL p + kχF kL p ,
onde χA é a função característica de A : (
1 se x ∈ A,
χA (x) =
0 se x 6∈ A.
Isto implica que a desigualdade triangular não é válida em L p (X, µ) se 0 < p < 1.

Terceira aula↓

Teorema 2.2.5 (Riesz-Fischer) Para 1 ≤ p < ∞, L p (X, µ) é um espaço de Banach.

Demonstração. Vamos demonstrar que toda série absolutamente convergente em L p (X) converge na norma
k · kL p . Seja

( f j ) ⊂ L p (X), ∑ k f j kL p = A < ∞.
j=1

Definamos
n ∞
Gn (x) := ∑ | f j (x)|, G(x) := ∑ | f j (x)|.
j=1 j=1

Observemos que (Gn ) é uma sequência crescente e que, usando a desigualdade triangular,
n
kGn kL p ≤ ∑ k f j kL p ≤ A, para todo n ∈ N.
j=1

Segue do Teorema da Convergência Monótona (Teorema 2.1.1) que


Z Z
G p dµ = lim Gnp dµ ≤ A p .
X X

Assim, G ∈ L p (X) e, em particular, G(x) < ∞ para quase todo x ∈ X. Este último fato segue da Proposição 2.20 de
[5]. Segue que, para quase todo x ∈ X, a série de números reais

∑ f j (x)
j=1

converge, pois R é completo. Seja F(x) seu limite. Então

|F(x)| ≤ |G(x)|, para quase todo x ∈ X.

Com isso, F ∈ L p (X) e


n
|F − ∑ f j | p ≤ (2G) p ∈ L1 (X).
j=1

O Teorema da Convergência Dominada (Teorema 2.1.2) implica que


n p Z n p
− f = F − ∑ f j dµ → 0 quando j → ∞.

F ∑ j p
j=1 L X j=1
18 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS LP

Mas isso é o mesmo que dizer que a série associada à sequência ( f j ) converge na norma k · kL p . O resultado segue
do Teorema 1.1.5. 
p
É possível estudar as relações de inclusão entre os vários espaços L . O caso em que a medida do domínio é
finita segue da Desigualdade de Hölder.

Proposição 2.2.6 Suponhamos que µ(X) < ∞ e que p0 ≤ p1 . Então

L p1 (X) ⊂ L p0 (X).

Além disso, para toda f ∈ L p1 (X),


1 − p1
k f kL p0 ≤ µ(X) p0 1 k f kL p1 ,
ou seja, a inclusão de L p1 (X) em L p0 (X) é um operador limitado.

Demonstração. Podemos assumir que p1 > p0 . Suponhamos então que f ∈ L p1 (X) e definamos F := | f | p0 ∈
L p1 /p0 (X). Seja p = p1 /p0 > 1 e seu expoente conjugado, isto é,

1 p0 p1
= 1− , q= .
q p1 p1 − p0

Aplicamos a Desigualdade de Hölder:


Z Z 1/q  Z
1/p
F.1dµ ≤ 1dµ F p dµ
X X X
p Z  p0 /p1
1− p0
≤ µ(X) 1 | f | p1 dµ
X
p
1− p0 p
= µ(X) 1 k f kL0p1 .

Mas, por outro lado, Z Z


p
Fdµ = | f | p0 dµ = k f kL0p0 ,
X X
ou seja,
p
p 1− p0 p
k f kL0p0 ≤ µ(X) 1 k f kL0p1 .
O resultado segue ao elevarmos ambos os lados dessa desigualdade a 1/p0 . 

Se X não possuir medida finita a inclusão acima não é válida em geral. Na verdade, em um caso específico
vale a inclusão inversa.

Proposição 2.2.7 Seja X = N equipado com a medida da contagem µ. Se p0 ≤ p1 então

l p0 ⊂ l p1

e além disso,
k f kl p1 ≤ k f kl p0 .

Demonstração. Se f ∈ l p0 , então f = ( fn ) e

p
k f kl p0 =
0
∑ | fn | p0 .
n=1

Também temos que


sup | fn | ≤ k f kl p0 .
n∈N
2.2. ESPAÇOS LP 19

Observe que
∞ ∞
∑ | fn | p1 = ∑ | fn | p0 | fn | p1 −p0
n=1 n=1
p
≤ (sup | fn |) p1 −p0 k f kl p0
n∈N 0

≤ k f klpp1 .
0

Assim, f ∈ l p1 e a desigualdade enunciada é válida. 

Agora passamos a estudar o caso que nos resta: p = ∞. Se uma função f : X → R é mensurável, definimos:

k f kL∞ := inf a ≥ 0 | µ({x : | f (x)| > a}) = 0 ,

com a convenção de que inf 0/ = ∞. A expressão k f kL∞ é chamada de supremo essencial e às vezes escrevemos

k f kL∞ = esssupx∈X | f (x)|.

Definimos
L∞ (X, M , µ) = L∞ (X, µ) := { f : X → R | f é mensurável e k f kL∞ < ∞},
com a convenção de que duas funções que são iguais em quase todo ponto de X representam o mesmo elemento
de L∞ (X, µ).
Os resultados que foram demonstrados para 1 ≤ p < ∞ podem ser extendidos para p = ∞.

Teorema 2.2.8 L∞ (X, µ) é um espaço de Banach com a norma k · kL∞ . Além disso, se f , g : X → R são funções
mensuráveis, então
k f gkL1 ≤ k f kL1 kgkL∞ .
A igualdade k f gkL1 = k f kL1 kgkL∞ ocorre se, e somente se, |g(x)| = kgkL∞ em quase todo ponto no conjunto onde
f (x) 6= 0.

Demonstração. Verificaremos somente que L∞ (X) é um espaço completo. Os demais fatos ficam como exercício.
Seja ( f j ) ⊂ L∞ (X) uma sequência de Cauchy. Dado qualquer k ∈ N, existe nk ∈ N tal que
1
k f n − f m kL ∞ ≤ , para quaisquer m, n ≥ nk .
k
Consequentemente, existe Ek ⊂ X com µ(Ek ) = 0 tal que
1
| fn (x) − fm (x)| ≤ , para todo x ∈ X \ Ek , e para quaisquer m, n ≥ nk . (2.4)
k
Se considerarmos E = ∪k∈N Ek , teremos que µ(E) = 0 e que, para todo x ∈ X \ E, a sequência real ( f j (x)) será de
Cauchy em R. Assim, f j (x) → f (x) para todo x ∈ X \ E. Fazendo n → ∞ em (2.4) obtemos
1
| f (x) − fm (x)| ≤ , para todo x ∈ X \ E, e para qualquer m ≥ nk .
k
Segue que f ∈ L∞ (X) e que k f − fm kL∞ ≤ 1/k para todo m ≥ nk . Portanto, f j → f na norma k · kL ∞ . 

O espaço L∞ pode ser visto, a grosso modo, como o caso limite de L p , quando p → ∞. Para verificarmos este
fato necessitamos de um lema que possui outras aplicações.

Lema 2.2.9 (Desigualdade de Chebyshev) Se f ∈ L p (X, µ), 0 < p < ∞, então, para qualquer α > 0,
 k f k p p
L
µ({x : | f (x)| > α}) ≤
α
20 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS LP

Demonstração. Seja Eα = {x : | f (x)| > α}. Então,


Z Z Z
k f kLp p = | f | p dµ ≥ | f | p dµ ≥ α p dµ = α p µ(Eα ),
X Eα Eα

e o resultado segue. 

Proposição 2.2.10 Suponha que f ∈ L∞ (X, µ) seja tal que o suporte de f esteja contido em um conjunto de
medida finita. Então f ∈ L p (X, µ) para todo p < ∞ e

k f kL p → k f kL∞ , quando p → ∞.

Demonstração. Seja E um subconjunto mensurável de X com µ(E) < ∞ e tal que f se anula fora de E. Se
µ(E) = 0, então k f kL∞ = k f kL p = 0 e o resultado segue. Caso contrário:
Z 1/p Z 1/p
k f kL p = | f | p dµ ≤ k f kL∞ dµ = k f kL∞ µ(E)1/p .
X X

Como µ(E)1/p → 1 quando p → ∞, vemos que

lim sup k f kL p ≤ k f kL∞ .


p→∞

Por outro lado, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que

µ({x : | f (x)| ≥ k f kL∞ − ε}) ≥ δ .

Utilizando a Desigualdade de Chebyshev (Lema 2.2.9),


Z
| f | p dµ ≥ δ (k f kL∞ − ε) p .
X

Portanto,
lim inf k f kL p ≥ k f kL∞ − ε.
p→∞

Como ε > 0 é arbitrário, temos que o limite


lim k f kL p
p→∞

existe e é igual a k f kL∞ . 

Exemplo – Espaços de Hardy

Fixemos 1 ≤ p ≤ ∞ e seja T = {z ∈ C | |z| = 1}. Definamos X como sendo o conjunto das funções com valores
complexos definidas em T com a propriedade de que se g : [−π, π) → C é definida por g(t) = f (eit ), então g ∈
L p [−π, π). Duas funções f1 , f2 ∈ X são consideradas iguais se f1 (eit ) = f2 (eit ) para quase todo t ∈ [−π, π). Como
L p [−π, π) é um espaço de Banach, temos que X também será Banach com as operações óbvias que o tornam
espaço vetorial e com a norma
 1 Zπ 1/p
k f kp = | f (eit )| p dt , 1 ≤ p < ∞, k f k∞ = kgkL∞ ,
2π −π

para g como anteriormente. O espaço X com esta estrutura de espaço de Banach é denotado por L p (T). Essencial-
mente, L p (T) é o espaço L p [−π, π), exceto que [−π, π) está sendo identificado com T e a medida de Lebesgue dt
está sendo normalizada pela medida (2π)−1 dt, de maneira que a medida de T é 1.
Suponhamos que f ∈ L p (T). Para cada n ∈ Z, o n–ésimo coeficiente de Fourier de f , denotado por fˆ(n), é
definido pela fórmula
ˆf (n) = 1
Z π
f (eit )e−int dt.
2π −π
2.3. EXERCÍCIOS 21

Observemos que se n ∈ Z e se ( f j ) ⊂ L p (T) é uma sequência que converge para f ∈ L p (T), então

| fˆj (n) − fˆ(n)| ≤ k f j − f k1 ≤ k f j − f k p → 0, quando j → ∞.

Segue que o conjunto


{ f ∈ L p (T) | fˆ(n) = 0 sempre que n < 0}
é um subespaço fechado de L p (T) e, consequentemente, um espaço de Banach com a norma induzida. Este espaço
de Banach é chamado de espaço de Hardy H p .

2.3 Exercícios
Exercício 38 Consideremos os espaços L p (Rn ) com a medida de Lebesgue. Definamos

|x|−α se |x| < 1, |x|−α se |x| ≥ 1,


 
f0 (x) = f∞ (x) =
0 se |x| ≥ 1, 0 se |x| < 1.

a– Demonstre que f0 ∈ L p (Rn ) se, e somente se, pα < n.

b– Demonstre que f∞ ∈ L p (Rn ) se, e somente se, n < pα.

Exercício 39 Se f ∈ L p (X) e g ∈ Lq (X) são ambas não identicamente nulas, demonstre que a igualdade acontece
na Desigualdade de Hölder se, e somente se, existem constantes não nulas a, b > 0 tais que a| f (x)| = b|g(x)| para
quase todo x ∈ X.

Exercício 40 Demonstre que:

a– as funções simples são densas em L∞ (X) se µ(X) < ∞;

b– as funções simples são densas em L p (X), 1 ≤ p < ∞.

Observação: uma função simples em X é uma função da forma


d
f (x) = ∑ a j χE j ,
j=1

onde µ(E j ) < ∞ para i = 1, . . . , d e χA é a função característica do conjunto A.


Sugestão: para a– utilize
El j = {x ∈ X | Ml/ j ≤ f (x) ≤ M(l + 1)/ j},
onde − j ≤ l ≤ j e M = k f kL∞ . Então considere as funções f j que são iguais a Ml/ j em El j . Para b– use uma
construção análoga.

Exercício 41 Demonstre que, se 1 ≤ p < ∞:

a– o conjunto das funções contínuas com suporte compacto é denso em L p (Rn ) e que, de fato:

b– o conjunto das funções infinitamente diferenciáveis com suporte compacto é denso em L p (Rn ).

Exercício 42 Suponha que 1 ≤ p < ∞. Demonstre que se f ∈ L p (Rn ), então

k f (· + h) − f kL p → 0, quando |h| → 0.

Sugestão: use que as funções contínuas com suporte compacto são densas em L p (Rn ) para 1 ≤ p < ∞.
22 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS LP

Exercício 43 Seja

A = { f ∈ L2 ([0, 1]) | existe I f ⊂ [0, 1], 1/2 ∈ I f , f (x) = 0 para quase todo x ∈ I f }.

O conjunto A é fechado em L2 ([a, b])?

Exercício 44 Se 1 ≤ p < q < r ≤ ∞, demonstre que

Lq (X) ⊂ L p (X) + Lr (X),

isto é, cada função f ∈ Lq (X) é soma de uma função em L p (X) com um função em Lr (X).

Exercício 45 Se 1 ≤ p < q < r ≤ ∞, demonstre que

L p (X) ∩ Lr (X) ⊂ Lq (X)

e que
k f kLq ≤ k f kλL p k f kλLr−1 ,
onde λ ∈ (0, 1) satisfaz
q−1 = λ p−1 + (λ − 1)r−1 .

Exercício 46 Se 1 ≤ p < q ≤ ∞, demonstre que em L p (X) ∩ Lq (X) a expressão

k f kL p ∩Lq := k f kL p + k f kLq

define uma norma e que L p (X) ∩ Lq (X) equipado com esta norma é Banach.

Exercício 47 Seja ψn : R → R definida por


χ[0,n](t)
ψn (t) = ,
n
para cada n ∈ N. Demonstre que ψn → 0 uniformemente, mas ψn não converge em L1 (R). Adapte para o caso de
L p (R), 1 < p < ∞.

Exercício 48 O propósito desse exercício é demonstrar que, quando 1 ≤ p < ∞, temos que (L p )∗ = Lq , com q
sendo o conjugado de p.

a) Suponha que 1 ≤ p ≤ ∞ e seja q o conjugado de p, isto é,

1 1
+ = 1.
p q

Para cada g ∈ Lq (X, µ), defina Lg : L p (X, µ) → R por


Z
Lg ( f ) := f (x)g(x)dµ.
X

Demonstre que Lg é linear limitado e que


kLg k ≤ kgkLq .

b) Demonstre que, se 1 ≤ p ≤ ∞ e g ∈ Lq (X, µ), com q sendo o conjugado de p, então


Z
kgkLq = sup f (x)g(x)dµ = kLg k.

k f k≤1 X
2.3. EXERCÍCIOS 23

Sugestão: se q = 1 e p = ∞, considere f (x) = sgn(g(x)), onde



 1 se t > 0,
sgn(t) = −1 se t < 0,
0 se t = 0;

se 1 < p < ∞ (1 < q < ∞), considere f (x) = |g(x)|q−1 sgn(g(x))/kgkq−1


Lq ; finalmente, se p = 1 e q = ∞, considere
ε > 0 e E com 0 < µ(E) < ∞ tal que |g(x)| ≤ kgkL∞ − ε para então considerar f (x) = χE sgn(g(x))/µ(E).

c) Suponha que g seja integrável em qualquer subconjunto de X de medida finita e seja

S := { f : X → R | f é uma função simples}.

Suponha ainda que Z


sup f (x)g(x)dµ = M < ∞.

k f kL p ≤1, f ∈S X

Então g ∈ Lq (X, µ) e kgkLq = M.


Sugestão: considere uma sequência de funções simples (gn ) tais que |gn (x)| ≤ |g(x)| com gn → g pontualmente.
Daí, divida nos casos:

• se p > 1, defina fn (x) = |gn (x)|q−1 sgn(g(x))/kgn kq−1


Lq ;

• se p = 1, defina fn (x) = sgn(g(x))χEn (x), onde (En ) é uma sequência crescente de conjuntos com medida
finita e X = ∪En .

d) Suponha que µ(X) < ∞ e seja F ∈ (L p (X, µ))∗ . Defina

ν(E) = F(χE ),

onde E ⊂ X é um subconjunto mensurável. Demonstre que

|ν(E)| ≤ kFk(µ(E))1/p .

Demonstre ainda que ν é uma medida enumeravelmente finita e absolutamente contínua com relação a µ.

e) Supondo ainda µ(X) < ∞, use o Teorema de Lebesgue–Radon–Nykodim para garantir a existência de uma
função g integrável tal que Z
ν(E) = g(x)dµ.
E
Conclua que Z
F(χE ) = χE g(x)dµ
X
e que a representação Z
F( f ) = f (x)g(x)dµ
X
é válida para toda função simples f . Usando que as funções simples formam um conjunto denso em L p (X, µ),
demonstre que esta representação vale para toda f ∈ L p (X, µ), 1 ≤ p < ∞. Conclua ainda que kgkLq = kFk.

A conclusão é que, se µ(X) < ∞, então (L p (X, µ))∗ = Lq (X, µ) no seguinte sentido: para qualquer funcional
linear F em L p (X, µ), existe uma única função g ∈ Lq (X, µ) tal que
Z
F( f ) = f (x)g(x)dµ,
X
24 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS LP

para qualquer f ∈ L p (X, µ), e ainda kgkLq = kFk.

f) Demonstre que a caracterização anterior é válida mesmo se µ(X) = ∞. Para tanto, considere uma sequência
crescente (En ), com µ(En ) < ∞ e X = ∪En . Daí, para cada n, considere gn dada pela letra e) com En no lugar de
X e finalmente g = lim gn .

Exercício 49 (Desigualdade de Minkowski para integrais) Suponha que (X1 , µ1 ) e (X2 , µ2 ) sejam dois espaços
de medida e que 1 ≤ p ≤ ∞. Demosntre que se f (x1 , x2 ) é mensurável em X1 × X2 e não–negativa, então
Z Z
f (x1 , x2 )dµ2 p ≤ k f (x1 , x2 )kL p (X1 ) dµ2 .


X2 L (X1 ) X2

Exercício 50 Sejam f1 , . . . , fk funções com fi ∈ L pi (X), com 1 ≤ pi ≤ ∞ e


k
1 1
∑ pi = p ≤ 1.
i=1

Seja
k
f (x) = ∏ fi (x).
i=1
Demonstre que f ∈ L p (X) e que
k
k f kL p ≤ ∏ k fi kL pi .
i=1

Sugestão: indução finita.

Exercício 51 Seja (X, µ) um espaço de medida e suponha que φ : [0, ∞) seja uma função convexa, contínua e
crescente com φ (0) = 0. Definamos
n Z o
Lφ (X) := f : X → R | φ (| f (x)|/M)dµ < ∞, para algum M > 0 ,
X
e n Z o
k f kLφ := inf M > 0 | φ (| f (x)|/M)dµ ≤ 1 .
X
Demonstre que:

a– Lφ (X) é um espaço vetorial;


b– k · kLφ é uma norma;
c– Lφ (X) é Banach.

Os espaços Lφ (X) são chamados de espaços de Orlicz. Notemos que L p (X) = Lφ (X) se φ (t) = t p , 1 ≤ p < ∞.
Sugestão: talvez seja importante notar que se f ∈ Lφ (X), então
Z
lim φ (| f (x)|/N)dµ = 0.
N→∞ X

Além disso, existem A > 0 e ε > 0 tais que φ (t) ≥ At, para todo t ≥ ε.

Exercício 52 Seja C1 ([0, 1]) o conjunto das funções reais contiuamente diferenciáveis em [0, 1] (veja o Exercício
8). Note que C1 ([0, 1]) ⊂ L2 (0, 1). Assim, podemos restringir a norma de L2 (0, 1) a C1 ([0, 1]). Verifique o operador
D : C1 ([0, 1]) → L2 (0, 1) definido por
(D f )(t) = f 0 (t)
não é limitado quando a norma do primeiro espaço é k · kL2 .
Sugestão: considere fn (t) = sen(nπt).
2.3. EXERCÍCIOS 25

Exercício 53 Seja X = C([0, 1]) ou X = L1 ([0, 1]). Para cada f ∈ X, definimos T : X → X por
Z t
T ( f )(t) = f (s)ds.
0

Demonstre que tal operador é limitado de X em X e encontre sua norma.


Observação: tente resolver este exercício no caso em que X = L2 ([0, 1]) e verifique o que acontece.
26 CAPÍTULO 2. ESPAÇOS LP
Capítulo 3

Os Teoremas de Hahn–Banach e
aplicações

Quarta aula↓

Neste capítulo estudaremos os funcionais lineares e os Teoremas de Hahn–Banach tanto de uma maneira
analítica quanto suas formas geométricas.

3.1 Forma analítica do Teorema de Hahn-Banach


Seja X um espaço vetorial sobre um corpo F. Dizemos que p : X → [0, ∞) é sublinear se, para quaisquer x, y ∈ X
e todo λ ≥ 0, tivermos:
p(λ x) = λ p(x),
p(x + y) ≤ p(x) + p(y).
Observe que se um funcional sublinear satisfaz a propriedade que
p(λ x) = |λ |p(x), para todo λ ∈ F,
então p é uma semi norma.
Lembremos que, dado um subconjunto S do espaço vetorial X, o subespaço vetorial gerado por S, denotado
por [S], é a intersecção de todos os supespaços W de X tais que S ⊂ W. Equivalentemente,
n k o
[S] = ∑ λi xi | k ∈ N, λ i ∈ F, xi ∈ S .
i=1

O lema a seguir é o ponto chave em um processo indutivo que faremos para a demonstração da primeira
versão do Teorema de Hahn–Banach.

Lema 3.1.1 Seja X um espaço vetorial sobre R e F ⊂ X um subespaço com F 6= X. Seja p um funcional sublinear
em X e f : X → R um funcional linear tal que
f (x) ≤ p(x), para todo x ∈ F. (3.1)
Dado qualquer x0 ∈ X \ F, definamos
F̃ := [{F, x0 }] = F + Rx0 = {x + λ x0 | x ∈ F, λ ∈ R}.
Então, existe um funcional linear f˜ : F̃ → R tal que
f˜ F = f e − p(−x) ≤ f˜(x) ≤ p(x),

(3.2)
para todo x ∈ F̃.

27
28 CAPÍTULO 3. HAHN–BANACH

Demonstração. Observemos inicialmente que basta encontrarmos f˜ com f˜(x) ≤ p(x) pois

− f˜(x) = f˜(−x) ≤ p(−x).

Passo 1: suponhamos que um funcional f˜ como no enunciado do lema exista e verifiquemos como ele poderia ser
caracterizado. Para isso, seja ỹ = y + λ x0 ∈ F̃. Então, usando a linearidade:

f˜(ỹ) = f˜(y) + λ f˜(x0 ) = f (y) + λ α, onde α = f (x0 ). (3.3)

Sendo assim, um tal funcional f˜, quando existir, está completamente caracterizado pelo número real α.
Passo 2: Reciprocamente, a escolha de α ∈ R satisfazendo (3.3) determina um funcional linear bem definido. De
fato, observe que se tivermos
ỹ = y + λ x0 = y0 + λ 0 x0 ,
então
y − y0 = (λ 0 − λ )x0 ;
como y − y0 ∈ F e x0 6∈ F, devemos ter λ 0 − λ = 0. Assim, λ 0 = λ e y = y0 . Concluímos que a representação de ỹ na
forma y + λ x0 é única e, portanto, a escolha de α = f (x0 ) determina um único funcional linear usando a fórmula
(3.3).
Passo 3: nos resta verificar que podemos escolher α ∈ R de maneira que (3.2) seja satisfeita. Isto é o mesmo que
perguntar se a expressão
f (y) + λ α = f˜(y + λ x0 ) ≤ p(y + λ x0 ) (3.4)
é válida para quaisquer y ∈ F e λ ∈ R. Ora, se λ = 0 então (3.4) é válida por (3.1). Caso contrário, tomamos
x = −y/λ e (3.4) se torna  
−λ f (x) − α ≤ p − λ (x − x0 ) .
Usando as propriedades do funcional sublinear p devemos ter, para todo x ∈ F :

f (x) − α ≤ p(x − x0 ), se λ < 0,


 
− f (x) − α ≤ p − (x − x0 ) , se λ > 0.

Equivalentemente,
−p(x0 − x) ≤ f (x) − α ≤ p(x − x0 ), para todo x ∈ F,
ou ainda,
f (x) − p(x − x0 ) ≤ α ≤ f (x) + p(x0 − x), para todo x ∈ F. (3.5)
Assim, uma escolha de α ∈ R satisfazendo (3.5) nos dá, via (3.3), um funcional linear f˜ com a propriedade
desejada.
Passo 4: existe α satisfazendo (3.5)? Para responder a esta questão tomemos

a := sup f (x) − p(x − x0 ),


x∈F
b := inf f (x) + p(x0 − x).
x∈F

Se a ≤ b, então α poderá ser escolhido como qualquer elemento em [a, b]. Observe que, para quaisquer x, y ∈ F,

f (x) − f (y) = f (x − y) ≤ p(x − y) ≤ p(x − x0 ) + p(x0 − y).

Assim,
f (x) − p(x − x0 ) ≤ f (y) + p(x0 − y).
Fixando y ∈ F e usando que x ∈ F é qualquer obtemos

sup f (x) − p(x − x0 ) ≤ f (y) + p(x0 − y).


x∈F
3.1. FORMA ANALÍTICA 29

Agora tomamos o ínfimo em y ∈ F para obtermos

sup f (x) − p(x − x0 ) ≤ inf f (y) + p(x0 − y).


x∈F y∈F

Isto implica que a ≤ b e conlcui, finalmente, a demonstração. 

Gostaríamos agora de estender sucessivamente f , uma dimensão de cada vez, ao espaço X preservando a
propriedade (3.1). Se X \ F fosse de dimensão finita, então poderíamos proceder como no Lema 3.1.1. Se por outro
lado o espaço X \ F tivesse uma base enumerável, poderíamos usar indução finita e chegar no mesmo resultado.
Entretanto, existem espaços vetoriais normados que possuem base possivelmente não enumerável. Assim, para
demonstrarmos o resultado de uma maneira geral necessitamos de técnicas de indução transfinita.
Uma ordem parcial em um conjunto C 6= 0/ é uma relação R em C com as seguintes propriedades:

• reflexividade: xRx para todo x;

• anti simetria: se xRy e yRx, então x = y;

• transitividade: se xRy e yRz, então xRz.

Uma ordem linear ou total é uma ordem parcial R em C que satisfaz também o seguinte:

• se x, y ∈ C , então xRy ou yRx.

Um exemplo típico é o caso em que A é qualquer conjunto e consideramos E = P(A), que é o conjunto
das partes de A. Temos que P(A) é parcialmente ordenado pela inclusão de conjuntos. Um outro caso simples é
quando E = R e a relação é dada por ≤ . Note que R com a relação ≤ é linearmente ordenado.
Sendo este último caso o mais conhecido, adotamos ≤ como notação para uma relação de ordem geral R e
escrevemos x < y para indicar que x ≤ y e x 6= y.
Se E é parcialmente ordenado por ≤, um elemento maximal (resp. minimal) de E é um elemento x ∈ E tal
que o único y ∈ E satisfazendo x ≤ y (resp. y ≤ x) é o próprio x. Observe que elementos maximais ou minimais
podem não existir ou, quando existirem, não serem únicos, a menos que a ordem seja total.
Se F ⊂ E, um limite superior (resp. inferior) para F é um elemento x ∈ E tal que y ≤ x (resp. x ≤ y) para
todo y ∈ F. Um limite superior ou inferior para F não precisa pertencer a F e, a menos que F seja totalmente
ordenado, um elemento maximal de F não precisa ser um limite superior para F.
Se E é linearmente ordenado por ≤ e todo subconjunto não vazio de E possui um elemento minimal (não
necessariamente único), dizemos que E está bem ordenado por ≤ ou que ≤ é uma boa ordem em E.
A seguir apresentamos um princípio fundamental da teoria dos conjuntos.

Princípio maximal de Hausdorff. Todo conjunto parcialmente ordenado possui um subconjunto linearmente
ordenado maximal.
Assim, se E é parcialmente ordenado por ≤, existe F ⊂ E que é linearmente ordenado por ≤ e que nenhum
subconjunto de E que está contido propriamente em F é linearmente ordenado. A versão deste princípio que
utilizaremos será enunciada a seguir.

Lema 3.1.2 (de Zorn) Se E é um conjunto parcialmente ordenado e todo subconjunto de E linearmente ordenado
possui um limite superior, então E possui um elemento maximal.

Um estudo mais detalhado do Lema de Zorn e do Princípio Maximal de Hausdorff pode ser encontrado
em [5]. Estes dois resultados são, na verdade, equivalentes entre si e ao Axioma da Escolha. Um argumento
simplificado para se demonstrar esta última equivalência pode ser encontrado em [7].
Nosso intuito é demonstrar o teorema abaixo utilizando o Lema de Zorn.
30 CAPÍTULO 3. HAHN–BANACH

Teorema 3.1.3 (Hahn–Banach na forma analítica; Helly) Seja X um espaço vetorial sobre R, F ⊂ X um subes-
paço e p : X → R um funcional sublinear. Suponhamos que f : F → R seja um funcional linear tal que

f (x) ≤ p(x) para todo x ∈ F.

Então, existe um funcional linear f˜ : X → R que é uma extensão de f , isto é,

f˜ F = f ,

e que satisfaz
−p(−x) ≤ f˜(x) ≤ p(x) para todo x ∈ X.

Demonstração.
Seja S o conjunto de todos os funcionais lineares g : D(g) → R, com D(g) ⊂ X, satisfazendo
g F = f e g(x) ≤ p(x) para todo x ∈ D(g). Note que S 6= 0,
/ pois f ∈ S. Vamos definir uma ordem parcial em S.
Diremos que g ≤ h para g, h ∈ S se D(g) ⊂ D(h) e se g(x) = h(x) sempre que x ∈ D(g). Seja C ⊂ S linearmente
ordenado e definamos
D = ∪g∈C D(g).
Então, como C é linearmente ordenado, D é um subespaço vetorial de X. Definamos ainda gC : D → R por

gC (x) = g(x), x ∈ D(g).

Novamente o fato de C ser linearmente ordenado implica que gC está bem definido. Além disso, gC é linear.
Consequentemente, gC ∈ S e é um limite superior para C. Aplicando o Lema de Zorn (Lema 3.1.2) podemos
concluir que S possui um elemento maximal, o qual denotamos por f˜. Note que f˜ é uma extensão linear de f que
satisfaz f˜(x) ≤ p(x) para todo x ∈ D( f˜). Falta verificarmos que D( f˜) = E.
Suponhamos que x ∈ E \ D( f˜). Então, pelo Lema 3.1.1, podemos extender f˜ ao espaço F̃ = D( f˜) + Rx. Mas
isso contradiz a maximalidade de f˜ e finaliza a demonstração. 

Quinta aula↓

O Teorema de Hahn–Banach também possui uma versão para espaços vetoriais complexos.

Teorema 3.1.4 (Hahn–Banach na forma complexa) Suponhamos que X seja um espaço vetorial sobre F = R ou
F = C, que F seja um subespaço vetorial de X e que p seja uma semi norma em X. Se f : F → F é um funcional
linear tal que
| f (x)| ≤ p(x) para todo x ∈ F,
então existe um funcional linear f˜ : X → F com
f˜ F = f

e ainda
| f˜(x)| ≤ p(x) para todo x ∈ X.

Demonstração. Para f como na hipótese escrevemos f (x) = g(x) + ih(x), x ∈ F, isto é, escrevemos f em termos
de suas partes real e imaginária. Para quaisquer x, y ∈ F,

g(x) + ih(x) + g(y) + ih(y) = f (x) + f (y) = f (x + y) = g(x + y) + ih(x + y),

e para todo λ ∈ R,
g(λ x) + ih(λ x) = f (λ x) = λ f (x) = λ g(x) + iλ h(x).
Igualando a parte real e imaginária obtemos que g e h são lineares sobre R. Além disso,

g(ix) + ih(ix) = f (ix) = i f (x) = ig(x) − h(x) = −h(x) + ig(x).

Segue que
g(ix) = −h(x),
3.1. FORMA ANALÍTICA 31

o que nos dá
f (x) = g(x) − ig(ix), para todo x ∈ F. (3.6)
Como g é a parte real de f obtemos que, para todo x ∈ F,

|g(x)| ≤ | f (x)| ≤ p(x). (3.7)

Assim, estamos nas hipóteses do Teorema 3.1.3 quando consideramos X como um espaço sobre R. Segue que
existe uma extensão g̃ de g tal que g̃ é R–linear em X e satisfaz

|g̃(x)| ≤ p(x), para todo x ∈ X.

Definimos f˜ usando (3.6):


f˜(x) = g̃(x) − ig̃(ix).
Verifiquemos que f˜ é C–linear. Como ele é R–linear, basta mostrar que f˜(ix) = i f˜(x). Isto é verdade pois:

f˜(ix) = g̃(ix) − ig̃(−x) = g̃(ix) + ig̃(x) = i g̃(x) − ig̃(ix) = i f˜(x).




Por outro lado, para cada x ∈ X, podemos escrever f˜(x) = reiθ para algum r ≥ 0 e algum ângulo θ . Assim:

| f˜(x)| = r = e−iθ f˜(x) = f˜(e−iθ x).

Como f˜(e−iθ x) ∈ R, obtemos que

| f˜(x)| = f˜(e−iθ x) = g̃(e−iθ x) ≤ p(e−iθ x) = |e−iθ |p(x) = p(x),

pois p é uma semi norma. O resultado segue. 

Antes de passarmos a algumas consequências do Teorema de Hahn–Banach, lembremos que se X é normado,


B(X, F) é denotado por X ∗ e este espaço é de Banach. Além disso, uma norma em X ∗ pode ser definida por

k f kX ∗ = sup | f (x)|.
x∈X,kxkX ≤1

Corolário 3.1.5 (Hahn–Banach para espaços vetoriais normados) Seja X um espaço normado sobre F e Y um
subespaço de X. Seja ainda f ∈ Y ∗ um funcional linear contínuo. Então existe f˜ ∈ X ∗ tal que

f˜ Y = f e k f˜kX ∗ = k f kY ∗ .

Demonstração. Observando que


| f (x)| ≤ k f kY ∗ kxkY = p(x),
para todo x ∈ Y, basta aplicarmos o Teorema 3.1.4 ao funcional f usando a seminorma p(x) = k f kY ∗ kxkY . Daí
teremos que a extensão f˜
| f˜(x)| ≤ k f kY ∗ kxkX
para todo x ∈ X. Em particular,
sup | f˜(x)| ≤ k f kY ∗
x∈X,kxkX ≤1

Mas, usando que f˜ é uma extensão de f , obtemos

k f˜kX ≥ sup | f˜(x)| = k f kY ∗ ,


x∈Y,kxkX ≤1

e o resultado segue. 

Agora vamos apresentar algumas consequências interessantes do Teorema de Hahn–Banach.


32 CAPÍTULO 3. HAHN–BANACH

Corolário 3.1.6 Seja X um espaço normado e x0 ∈ X. Então existe f0 ∈ X ∗ tal que

k f0 kX ∗ = kx0 kX e f0 (x0 ) = kx0 k2X .

Demonstração. Basta aplicarmos o Corolário 3.1.5 com Y = [{x0 }] e f (λ x0 ) = λ kx0 k2 e observar que, para
x = λ x0 ∈ Y,
| f (x)| = | f (λ x0 )| = |λ kx0 k2X | = kx0 kX kλ x0 kX ,
o que implica que k f kY ∗ = kx0 k. 

Observação 3.1.7 O elemento f0 ∈ X ∗ do Corolário 3.1.6 não é único em geral.

Corolário 3.1.8 Seja X um espaço normado. Para todo x ∈ X, temos que

kxkX = sup | f (x)| = max | f (x)|.


f ∈X ∗ ,k f k≤1 f ∈X ∗ ,k f k≤1

Em particular, se x 6= 0, existe f ∈ X ∗ com k f kX ∗ = 1 e com f (x) = kxkX .

Demonstração. O resultado é óbvio se x = 0. Assumindo x 6= 0, obtemos

sup | f (x)| ≤ kxkX .


f ∈X ∗ ,k f k≤1

Por outro lado, pelo Corolário 3.1.6 existe f0 ∈ X ∗ tal que f0 (x) = kxk2X . Seja f1 = f0 /kxkX , de maneira que
k f1 k = 1 e f1 (x) = kxkX . Isto implica que

sup | f (x)| ≥ kxkX


f ∈X ∗ ,k f k≤1

e conclui a demonstração. 

Corolário 3.1.9 Seja X um espaço normado. Então X ∗ separa pontos de X.

Demonstração. Sejam x, x2 ∈ X com x1 − x2 6= 0. Então, pelo Corolário 3.1.8 existe f ∈ X ∗ tal que

f (x1 − x2 ) 6= 0.

Por linearidade, f (x1 ) 6= f (x2 ). 

Corolário 3.1.10 Seja X um espaço normado e x0 ∈ X tal que f (x0 ) = 0 para todo f ∈ X ∗ . Então x0 = 0.

Demonstração. Se x0 6= 0, então pelo Corolário 3.1.9 deveria existir f ∈ X ∗ com f (x0 ) 6= f (0) = 0. 

3.2 Completamento e reflexividade


Proposição 3.2.1 Seja X um espaço normado. Para x ∈ X definamos x̂ : X ∗ → F por

x̂( f ) := f (x).

Então a aplicação x 7→ x̂ é uma isometria linear de X em X ∗∗ (o dual de X ∗ ).

Demonstração. Inicialmente vemos que x̂ é de fato um funcional linear. Além disso, para qualquer f ∈ X ∗ ,

|x̂( f )| = | f (x)| ≤ kxkX k f kX ∗ .


3.3. FORMAS GEOMÉTRICAS 33

Segue que x̂ é limitado. Além disso, esta desigualdade também implica que kx̂kX ∗∗ ≤ kxkX . Por outro lado, pelo
Corolário 3.1.8, existe f ∈ X ∗ , k f kX ∗ = 1, tal que

kxkX = | f (x)| = |x̂( f )| ≤ kx̂kX ∗∗ k f kX ∗ = kx̂kX ∗∗ .

Segue que kx̂kX ∗∗ = kxkX e a aplicação x 7→ x̂ é uma isometria. 

A aplicação J : X → X ∗∗ definida na Proposição 3.2.1 e dada por Jx = x̂ é chamada de aplicação canônica


(ou imersão canônica) de X em X ∗∗ . Definamos

X̂ := J(X) = {x̂ : X ∗ → F | x̂ = Jx, x ∈ X}.

Como X ∗∗ é um espaço de Banach, temos que o fecho X̂ será também Banach, pois é fechado em X ∗∗ . Além disso,
J é uma imersão isométrica de X em X̂ como um subespaço denso. O espaço X̂ é chamado de completamento de
X. Em particular, se X já é Banach, temos que X̂ = X̂.
Dizemos que o espaço de Banach X é reflexivo se X̂ = X ∗∗ , isto é, se a aplicação canônica J é sobrejetora.
Usualmente, se identifica x e x̂ e, por abuso de linguagem, se considera X como subespaço de X ∗∗ .
Qualquer espaço vetorial de dimensão finita é reflexivo. Uma demonstração simples deste fato poderá ser
obtida quando definirmos espaços uniformente convexos.
Um exemplo mais interessante é o dos espaços L p , 1 < p < ∞. Voltaremos a falar deste exemplo mais à frente,
também após definirmos espaços uniformemente convexos. Por agora vamos deixar observado um fato importante.
É comum usar o seguinte argumento para dizer que L p é reflexivo: o Exercício 48 nos fornece um roteiro para
demonstrar que (L p )∗ = Lq , com 1/p + 1/q = 1; sendo assim, (L p )∗∗ = (Lq )∗ = L p . Mas este argumento só
demonstra que existe algum isomorfismo entre (L p )∗∗ e L p , e não que a imersão canônica J é sobrejetora. Existem
espaços X para os quais existe uma isometria entre X e X ∗∗ sem que J seja sobrejetora.

3.3 Formas geométricas do Teorema de Hahn–Banach


No que se seguirá, vamos sempre fixar X como sendo um espaço vetorial normado sobre R.
Um hiperplano (afim) em X é um conjunto da forma

H = {x ∈ X | f (x) = α},

onde f é um funcional não necessariamente contínuo, não identicamente nulo, e α ∈ R. Dizemos que H é o
hiperplano de equação [ f = α].

Proposição 3.3.1 O hiperplano de equação [ f = α] é fechado se, e somente se, f é contínuo.

Demonstração. Supondo que f seja contínuo, então H = f −1 ({α}), e portanto fechado.


Suponhamos reciprocamente que H seja fechado. Então X \ H é aberto.
Afirmação 1: X \ H 6= 0. / De fato, como f 6= 0, temops que f é sobrejetora, isto é, dado β ∈ R, β 6= α, existe
x ∈ X \ H tal que f (x) = β 6= α.
Seja x0 ∈ X \ H. Temos duas possibilidades:

f (x0 ) < α ou f (x0 ) > α.

Suponha que f (x0 ) < α e seja r > 0 tal que Br (x0 ) ⊂ E \ H.


Afirmação 2: f (x) < α para todo x ∈ Br (x0 ).
Para demonstrarmos esta afirmação, suponhamos o contrário, isto é, que existe x1 ∈ Br (x0 ) com f (x1 ) > α.
Observemos inicialmente que o conjunto

[x0 , x1 ] := {xt = (1 − t)x0 + tx1 | 0 ≤ t ≤ 1}


34 CAPÍTULO 3. HAHN–BANACH

está inteiramente contido em Br (x0 ). Consideremos então a função ψ : [0, 1] → R definida por
ψ(t) = f ((1 − t)x0 + tx1 ).
Observemos que ψ é contínua, pois
ψ(t) = (1 − t) f (x0 ) + t f (x1 ) = f (x0 ) + t( f (x1 ) − f (x0 )),
e ainda
ψ(0) = f (x0 ) < α e ψ(1) = f (x1 ) > α.
Segue do Teorema do Valor Intermediário que existe t1 ∈ [0, 1] tal que
ψ(t1 ) = α = f (xt1 ),
o que é absurdo pois xt1 ∈ Br (x0 ).
Tendo demonstrado a Afirmação 2, a reescrevemos como
f (x0 + rz) < α, para todo z ∈ B1 (0).

Afirmação 3: f é limitado (e portanto, contínuo) e


1
k f kX ∗ ≤ (α − f (x0 )).
r
Demonstremos esta afirmação. Para tanto, notemos que
f (x0 + rz) = f (x0 ) + r f (z) < α.
Por linearidade,
1
f (z) < (α − f (x0 )),
r
mas para z ∈ B1 (0), isto é, kzkX ≤ 1. Se kzkX = 1, procedemos da seguinte forma: tomamos 0 < λ < 1 e escrevemos
1 1
f (z) = f (λ z) < (α − f (x0 )).
λ λr
Tomando o limite λ → 1 obtemos
1
f (z) ≤ (α − f (x0 )), para todo z ∈ X, kzkX ≤ 1.
r
Mas, usando que − f (z) = f (−z), obtemos
1
k f kX ∗ = sup | f (z)| ≤ (α − f (x0 )), para todo z ∈ X, kzkX ≤ 1.
kzkX ≤1 r

Concluimos então que f é limitado e finalizamos a demonstração quando f (x0 ) < α. O caso em que f (x0 ) > α é
análogo. 

Sexta aula↓

Sejam A, B ⊂ X dois conjuntos. Dizemos que o hoperplano H de equação [ f = α] separa A e B no sentido


fraco se
f (x) ≤ α para todo x ∈ A e f (x) ≥ α para todo x ∈ B.
Dizemos que H separa A e B no sentido estrito se existe ε > 0 tal que
f (x) ≤ α − ε para todo x ∈ A e f (x) ≥ α + ε para todo x ∈ B.
Lembremos que um conjunto C ⊂ X é dito convexo se
tx + (1 − t)y ∈ C
sempre que x, y ∈ C e para todo t ∈ [0, 1]. Associado com um conjunto convexo em um espaço vetorial temos o
conceito de função calibre, que discutiremos com mais detalhes no próximo lema.
3.3. FORMAS GEOMÉTRICAS 35

Lema 3.3.2 Seja C ⊂ X um convexo aberto com 0 ∈ C. Para cada x ∈ X definimos

p(x) = inf{α > 0 | α −1 x ∈ C}.

Então p é um funcional sublinear e existe M > 0 tal que

0 ≤ p(x) ≤ MkxkX ,

para todo x ∈ X. Além disso,


C = {x ∈ X | p(x) < 1}.

Observação 3.3.3 O funcional p definido no Lema 3.3.2 é chamado de função calibre de Minkowski associada
ao convexo C.

Demonstração do Lema 3.3.2. Notemos inicialmente que, como estamos supondo que 0 ∈ C, para cada x ∈ X
existe α > 0 tal que α −1 x ∈ C. Consequentemente, p está bem definido.
Verifiquemos que p caracteriza C. Se x ∈ C, então x/(1 − ε) ∈ C para algum ε > 0, já que C é aberto. Isso
implica que p(x) < 1. Reciprocamente, se p(x) < 1, então x = (1 − ε)x0 para algum ε > 0 e algum x0 ∈ C. Mas
então x = (1 − ε)x0 + ε0, e x ∈ C por convexidade.
Para verificarmos a sublinearidade, notemos que (x1 + x2 )/(α1 + α2 ) pertence a C se x1 /α1 e x2 /α2 per-
tencem ambos a C. De fato, basta usarmos a definição de convexidade com t = α2 /(α1 + α2 ) e 1 − t = α1 /(α1 +
α2 ).
Por último, seja Br (0) ⊂ C. Então, se x ∈ X e x 6= 0, temos que
rx
∈ Br (0) ⊂ C.
2kxkX

Portanto, para todo x 6= 0, temos que


2
p(x) ≤ kxkX .
r
Como p(0) = 0, podemos tomar M = 2/r e seguirá que

p(x) ≤ MkxkX ,

para todo x ∈ X. 

Lema 3.3.4 Seja C ⊂ X um convexo, aberto, não vazio e x0 6∈ C. Então existe f ∈ X ∗ tal que f (x) < f (x0 ) para
todo x ∈ C. Em particular, o hiperplano de equação [ f = f (x0 )] separa {x0 } e C.

Demonstração. Suponhamos inicialmente que 0 ∈ C e seja p o funcional de Minkowski de C. Consideremos o


subespaço G ⊂ X gerado por x0 , isto é, G = Rx0 . Definamos um funcional g em G por

g(tx0 ) = t,t ∈ R.

Observemos que, se x = tx0 e t > 0,

p(x) = t p(x0 ) ≤ t1 = t = g(tx0 ) = g(x),

e se t ≤ 0,
p(x) = p(−t(−x0 )) = −t p(−x0 ) ≥ 0 ≥ t = g(tx0 ) = g(x).
Concluímos que
g(x) ≤ p(x), para todo x ∈ G.
Utilizando o Teorema 3.1.3 com g e p garantimos a existência de um funcional linear f em X que é uma extensão
de g e que ainda satisfaz
f (x) ≤ p(x), para todo x ∈ X.
36 CAPÍTULO 3. HAHN–BANACH

Em particular, f (x0 ) = g(1x0 ) = 1 e também

− f (x) = f (−x) ≤ p(−x), para todo x ∈ X.

Segue que
| f (x)| ≤ p(x) ≤ MkxkX ,
isto é, f é contínuo. Além disso, para todo x ∈ C,

f (x) ≤ p(x) < 1 = f (x0 ),

o que finaliza a demonstração do lema. 

Estamos em posição de demonstrar a primeira forma geométrica do Teorema de Hahn–Banach.

Teorema 3.3.5 (Hahn–Banach, primeira forma geométrica) Sejam A, B ⊂ X dois conjuntos convexos, não vazios
e disjuntos. Suponhamos que A seja aberto. Então existe um hiperplano fechado que separa A e B no sentido fraco.

Demonstração. Consideremos o conjunto C = A − B, de forma que 0 6∈ C, já que A ∩ B = 0. / Temos que C é aberto


pois C = ∪y∈B (A − y) e cada A − y é aberto. Além disso, C é convexo: se x1 , x2 ∈ A, y1 , y2 ∈ B e 0 ≤ t ≤ 1, então

t(x1 − y1 ) + (1 − t)(x2 − y2 ) = (tx1 + (1 − t)x2 ) − (ty1 + (1 − t)y2 ) ∈ A − B.

Pelo Lema 3.3.4 existe f linear em X, contínuo, tal que

f (z) < f (0) = 0, para todo z ∈ C.

Em particular,
f (x) < f (y),
para todo x ∈ A e todo y ∈ B. Segue que
sup f (x) ≤ inf f (y).
x∈A y∈B

Escolhemos α ∈ R tal que


sup f (x) ≤ α ≤ inf f (y).
x∈A y∈B

Portanto, o hiperplano de equação [ f = α] separa A e B no sentido fraco e é fechado pois f é contínuo. 

Se impormos mais condições nos convexos A e B obtemos que estes conjuntos podem ser separados no
sentido estrito. Este é o conteúdo da segunda forma geométrica do Teorema de Hahn–Banach.

Teorema 3.3.6 (Hahn–Banach, segunda forma geométrica) Sejam A, B ⊂ X dois convexos não vazios tais que
A ∩ B = 0.
/ Suponhamos que A seja fechado e que B seja compacto. Então existe um hiperplano fechado que separa
A e B no sentido estrito.

Demonstração. Para ε > 0 definamos

Aε = A + Bε (0) = ∪a∈A (Bε (0) + a),


Bε = B + Bε (0) = ∪b∈B (Bε (0) + b).

Temos que Aε e Bε são convexos, abertos e não vazios.


Afirmação: para ε > 0 suficientemente pequeno, Aε e Bε são disjuntos. De fato, se esta afirmação fosse falsa
existiria uma sequência εn → 0 com Aεn ∩ Bεn 6= 0/ para todo n ∈ N. Assim, para cada n ∈ N, existe zn ∈ Aεn ∩ Bεn
com
zn = xn + an = yn + bn , an ∈ A, bn ∈ B, xn , yn ∈ Bε (0).
3.4. ORTOGONALIDADE 37

Com isso,
kan − bn kE ≤ kan − zn kE + kbn − zn kE = kxn kE + kyn kE < 2εn .
Sendo B compacto, existe uma subsequência (bn j ) de (bn ) com bn j → b ∈ B. Mas dessa forma,

kan j − bn j kE < 2εn j ,

o que implica que an j → y. Como A é fechado, y ∈ A. Assim A ∩ B 6= 0/ e temos um absurdo. Isso demonstra a
afirmação.
Pelo Teorema 3.3.5, existe um hiperplano fechado de equação [ f = α] que separa Aε e Bε no sentido fraco,
isto é,
f (x + εz1 ) ≤ α ≤ f (y + εz2 ),
sempre que x ∈ A, y ∈ B, e para quaisquer z1 , z2 ∈ B1 (0). Por linearidade podemos escrever

f (x) + ε sup f (z) ≤ α ≤ f (y) + ε inf f (z).


kzke ≤1 kzkE ≤1

Segue que

f (x) ≤ α − εk f k, para todo x ∈ A,


f (y) ≥ α + εk f k, para todo y ∈ B,

ou seja, f separa A e B no sentido estrito. 

As formas geométricas do Teorema de Hahn–Banach possuem aplicações interessantes como o próximo


corolário. Ele nos diz que se F é um subespaço do espaço normado X e se o único funcional linear contínuo que
se anula em F é o funcional nulo em X, então F é denso em X.

Corolário 3.3.7 Seja F ⊂ X um subespaço vetorial tal que F 6= X. Então existe f ∈ X ∗ , f 6= 0, de forma que
f (x) = 0 para todo x ∈ F.

Demonstração. Seja x0 ∈ X \ F e consideremos o convexo fechado A = F e o convexo compacto B = {x0 }. Pelo


Teorema 3.3.6 existe f ∈ X ∗ e α ∈ R de maneira que o hiperplano de equação [ f = α] separa A e B no sentido
estrito. Portanto, existe ε > 0 tal que

f (x) + ε ≤ α ≤ f (x0 ) − ε, pata todo x ∈ F.

Em particular,
f (x) < α < f (x0 ), pata todo x ∈ F.
Mas daí f é um funcional linear limitado no espaço vetorial F, e portanto f (x) = 0 para todo x ∈ F. Consequente-
mente:
0 < α < f (x0 ).
Isto finaliza a demonstração. 

3.4 Ortogonalidade
Vamos introduzir nesta seção o conceito de ortogonalidade e utilizar os teoremas de Hahn–Banach para verificar
as primeiras propriedades relativas a este conceito.
Dado um espaço vetorial normado X e um subespaço M ⊂ X, definimos o conjunto

M ⊥ := { f ∈ X ∗ | f (x) = 0 para todo x ∈ M}.

Se N ⊂ X ∗ é um subespaço, definimos

N ⊥ := {x ∈ X | f (x) = 0 para todo f ∈ N}.


38 CAPÍTULO 3. HAHN–BANACH

Dizemos que M ⊥ e N ⊥ são os anuladores ou ortogonais de M e N respectivamente. Tanto M ⊥ quanto N ⊥


são subespaços fechados de X ∗ e X respectivamente. De fato, observe que se f ∈ M ⊥ , tomando uma sequência
( fn ) ⊂ M ⊥ com fn → f , teremos que 0 = lim fn (x) = f (x) para todo x ∈ M, ou seja, f ∈ M ⊥ . O raciocínio no caso
de N ⊥ é análogo.

Proposição 3.4.1 Sejam M ⊂ X e N ⊂ X ∗ subespaços vetoriais. Então

(M ⊥ )⊥ = M e N ⊂ (N ⊥ )⊥ .

Demonstração. Se x ∈ M, segue que f (x) = 0 para todo f ∈ M ⊥ . Mas isso é o mesmo que dizer que x ∈ (M ⊥ )⊥ .
Assim, M ⊂ (M ⊥ )⊥ e, como (M ⊥ )⊥ é fechado, M ⊂ (M ⊥ )⊥ . A inclusão inversa é demonstrada por contradição.
Suponhamos que exista x0 ∈ (M ⊥ )⊥ \ M. Podemos então separar {x0 } e M por um hiperplano de equação [ f = α]
no sentido estrito. Em particular,
f (x) < α < f (x0 ), para todo x ∈ M. (3.8)
A primeira desigualdade implica que f aplica o espaço vetorial M em um subconjunto limitado, o que nos dá
f M = 0. Em outras palavras, f ∈ M ⊥ . Como x0 ∈ (M ⊥ )⊥ , devemos ter f (x0 ) = 0. Estes últimos fatos nos dão
uma contradição com (3.8).
Finalmente, se f ∈ N, segue que f (x) = 0 para todo x ∈ N ⊥ . Dito de outra forma, f ∈ (N ⊥ )⊥ e, como
anteriormente, N ⊂ (N ⊥ )⊥ . 

3.5 Exercícios
Exercício 54 Demonstre que o Princípio Maximal de Hausdorff e o Lema de Zorn são equivalentes.

Exercício 55 Demonstre que todo conjunto não vazio C pode ser bem ordenado.

Exercício 56 Demonstre o Axioma da escolha: se {Xα }α∈A é uma coleção não vazia de conjuntos não vazios,
então
∏ Xα 6= 0./
α∈A

Em particular, demonstre que existe um conjunto Y ⊂ ∪α∈A Xα tal que Y ∩ Xα 6= 0/ contém precisamente um ele-
mento para cada α ∈ A.

Exercício 57 Demonstre, utilizando o Lema de Zorn, que todo espaço vetorial normado de dimensão infinita
possui uma base de Hamel {ei }i∈I com kei k = 1 para todo i ∈ I.

Exercício 58 Seja X um espaço vetorial normado de dimensão infinita. Construa um funcional linear f : X → R
que não seja contínuo.

Exercício 59 Seja X um espaço vetorial e Y ⊂ X um subespaço. Demonstre que todo funcional linear f : Y → F
possui uma extensão linear f˜ : X → F.
Observação: não precisa utilizar Hahn–Banach.

Exercício 60 Demonstre que um funcional linear f ∈ X ∗ fica completamente determinado por seus valores em um
subconjunto D denso em X.

Exercício 61 (Princípio de extensão) Demonstre que um funcional linear limitado em um espaço vetorial nor-
mado X pode ser estendido a um funcional linear limitado em X. Esta extensão é única e a norma é preservada
na extensão.

Exercício 62 Seja X um espaço normado e {x1 , . . . , xn } um subconjunto finito de X linearmente independente.


Demonstre que, para quaisquer α1 , . . . , αn ∈ F, existe f ∈ X ∗ tal que (xi ) = αi , 1 = 1, . . . , n.
3.5. EXERCÍCIOS 39

Exercício 63 Seja X um espaço normado, M ⊂ X um subespaço fechado e x ∈ X \ M. Demonstre que se

δ = inf kx − ykX ,
y∈M

então existe f ∈ X ∗ tal que k f kX ∗ = 1 e f (x) = δ . Em particular, f M = 0.


Exercício 64 Demonstre que um funcional f em um espaço normado é limitado se, e somente se, f −1 ({0}) é
fechado.
Observação: tente demonstrar este resultado utilizando o Exercício 18, letra b–, que seria uma alternativa à
demonstração feita na Proposição 3.3.1.

Exercício 65 Seja X um espaço normado.

a– Se M ⊂ X é um subespaço fechado e x ∈ X \ M, então M + Fx é fechado.


b– Todo subespaço de X de dimensão finita é fechado.

Exercício 66 Seja X um espaço normado de dimensão infinita.

a– Existe uma sequência (x j ) ⊂ X tal que


kx j kX = 1
para todo j e
1
kx j − xk kX ≥
2
para j 6= k
b– X não é localmente compacto.

Sugestão: construa (x j ) indutivamente usando o Exercício 18, letra b–, e o Exercício 65.

Exercício 67 Seja X um espaço normado e M ⊂ X um subespaço de dimensão finita. Então, existe um subespaço
fechado N ⊂ X tal que
M ∩ N = {0} e M + N = X.

Exercício 68 Seja X um espaço vetorial real e P ⊂ X um subconjunto satisfazendo o seguinte:

• se x, y ∈ P, então x + y ∈ P;
• se x ∈ P e λ ≥ 0, então λ x ∈ P;
• se x ∈ P e −x ∈ P, então x = 0.

a– Demonstre que a relação ≤ definida por x ≤ y se, e somente se, y − x ∈ P é uma ordem parcial em X.
b– Teorema da extensão de Krein– Suponha que M ⊂ X seja um subespaço tal que, para cada x ∈ X, existe
y ∈ M com x ≤ y. Se f é um funcional linear em M tal que f (x) ≥ 0 para x ∈ M ∩ P, existe um funcional
linear f˜ ∈ X ∗ tal que
f˜(x) ≥ 0 para todo x ∈ P e f˜ M = f .

Sugestão: considere p(x) = inf{ f (y) | y ∈ M e x ≤ y}.

Exercício 69 Seja E um espaço vetorial sobre C e B ⊂ X. Dizemos que B é balanceado se para todo x ∈ B, o disco
fechado {λ x | |λ | ≤ 1} está contido em B. Demonstre que um conjunto C é uma bola unitária fechada para alguma
semi norma em E se, e somente se, C é convexo, balanceado e, para todo x ∈ E, o conjunto {λ ∈ C | λ x ∈ C} é
fechado e contém uma vizinhança de zero em C.
Sugestão: nestas condições, o funcional de Minkowski de C é uma semi norma.
40 CAPÍTULO 3. HAHN–BANACH

Exercício 70 Demonstre que uma topologia em um espaço vetorial E é gerada por uma semi norma se, e somente
se, existe um conjunto U ⊂ E satisfazendo as seguintes condições:

• U é convexo, balanceado e todo supespaço unidimensional de E possui pelo menos um vetor não nulo de U;

• uma família de conjuntos Uxt = {x + ty | y ∈ U}, onde x ∈ E e t > 0, é uma base desta topologia.

Sugestão: procure por uma semi norma que é o funcional de Minkowski de U.

Exercício 71 Um espaço vetorial normado E é separável se, e somente se, existe um subespaço vetorial E0 ⊂ E
que possui base enumerável e que é denso em E. Demonstre o Teorema de Hahn–Banach para um espaço separável
E sem utilizar o Lema de Zorn.

Exercício 72 Consideremos em R2 as normas

k(x, y)k1 := |x| + |y|, k(x, y)k∞ := sup{|x|, |y|}, k(x, y)k p := (|x| p + |y| p )1/p ,

com 1 < p < ∞. Seja E0 um subespaço unidimensional de R2 e f0 um funcional em E0 com norma 1.

a) Se a norma for k · k1 e se E0 for um dos eixos coordenados, então f0 possui várias extensões que preservam
norma.

b) O mesmo acontece se a norma for k · k∞ e se E0 for uma das diagonais principais.

c) Se a norma for k · k p e se E0 for um subespaço arbitrário, então a extensão de f0 que preserva norma é
única.

Exercício 73 Seja E o espaço vetorial das funções (ou classe de funções) em [0, 1] que são Lebesgue mensuráveis.
Considere em E a métrica Z 1
|x(t) − y(t)|
d(x, y) := dt.
0 1 + |x(t) − y(t)|

Observe que a convergência com relação a esta métrica é a convergência em medida. Demonstre que não existe
funcional linear não nulo e contínuo em E com relação a esta métrica.

Exercício 74 Os espaços normados c0 , l1 e C([a, b]) não são reflexivos.

Exercício 75 Demonstre que se o espaço vetorial E é reflexivo, então E ∗ é reflexivo.

Exercício 76 Seja
M = { f ∈ L2 ([0, 1]) | f ([0, 1]) ⊂ [0, 1] quase sempre}.
Demonstre que M é um convexo fechado de L2 ([0, 1]).

Exercício 77 Sejam E um espaço vetorial normado, H ⊂ E um hiperplano e V ⊂ E um subespaço afim que contém
H. Demonstre que ou V = H ou V = E. Conclua que H ou é fechado ou é denso em E.

Exercício 78 Sejam E um espaço vetorial normado e C ⊂ E convexo.

a) Demonstre que C e IntC são convexos.

b) Dado x ∈ C e y ∈ IntC, demonstre que tx + (1 − t)y ∈ IntC, sempre que t ∈ (0, 1).

c) Deduza que C = IntC se IntC 6= 0.


/

Exercício 79 Seja E um espaço vetorial normado com norma k · kE . Demonstre que se C ⊂ E for aberto, convexo
e simétrico (−C = C) e se p for a função calibre de C, então p é uma norma equivalente à k · kE .
3.5. EXERCÍCIOS 41

Exercício 80 Considere C([0, 1]) com a norma k · k∞ e defina


n Z 1 o
C := u ∈ C([0, 1]); u(t)dt < 1
0

a) Verifique que C é convexo e simétrico com 0 ∈ C.

b) O conjunto C é limitado na norma k · k∞ ?


c) Encontre a função calibre p associada a C e demonstre que p é uma norma em C([0, 1]).
d) p é equivalente à k · k∞ ?

Exercício 81 Sejam X um espaço normado e I qualquer conjunto de índices. Considere dois conjuntos: (xi )i∈I ⊂
X e (αi )i∈I ⊂ R. Demonstre que as seguintes afirmações são equivalentes:

a) existe f ∈ X ∗ tal que f (xi ) = αi para todo i ∈ I;


b) existe uma constante M ≥ 0 tal que, para cada subconjunto finito J ⊂ I e toda escolha de números reais
(βi )i∈J , temos que
∑ βi αi ≤ M ∑ βi xi .

i∈J i∈J

Sugestão: defina f primeiro no espaço gerado por (xi )i∈I .

Exercício 82 Sejam X um espaço normado e M > 0 uma constante. Fixe n elementos f1 , . . . , fn ∈ X ∗ e n números
reais α1 , . . . , αn . Demonstre que as seguintes afirmações são equivalentes:

a) para todo ε > 0, existe xε ∈ X tal que

kxε k ≤ M + ε e fi (xε ) = αi , i = 1, . . . , n.

b) para quaisquer β1 , . . . , βn ∈ R temos que


n n
∑ βi αi ≤ M ∑ βi fi .

i=1 i=1

Exercício 83 Se A é um conjunto arbitrário, l∞ (A) denota o conjunto de todas as funções limitadas de A em R.


Neste espaço pode-se considerar a norma do sup . Demonstre que, para cada espaço vetorial normado E, existe
uma isometria J0 : E → l∞ (A), para algum conjunto A.
Sugestão: tome A como sendo a esfera unitária fechada em E ∗ e defina J0 (x) : A → R por J0 (x) f = f (x) e use
Hahn–Banach.

Exercício 84 Para todo espaço normado E existe uma isometria de E em B(l2 (A)), para algum conjunto A, onde
l2 (A) = L2 (A, µ), como µ sendo a medida da contagem.
Sugestão: para cada conjunto A, associe a cada x ∈ A o operador Tx : l2 (A) → l2 (A) por Tx (y)(t) = x(t)y(t);
verifique que kTx k = kxk∞ ; utilize o Exercício 83.

Exercício 85 Seja X = l1 de maneira que X ∗ = l∞ . Considere c0 como sendo um subespaço fechado de X ∗ .


Encontre N ⊥ e (N ⊥ )⊥ e verifique que (N ⊥ )⊥ 6= N.
42 CAPÍTULO 3. HAHN–BANACH
Capítulo 4

O teorema da categoria de Baire e


aplicações

Sétima aula↓

Neste capítulo apresentamos o importante Teorema da Categoria de Baire e então deduzimos os importantes
resultados: Teoremas da Aplicação Aberta e do Gráfico Fechado e o Princípio da Limitação Uniforme, conhecido
também como Teorema de Banach–Steinhaus.

4.1 O Teorema de Baire


Nesta seção apresentamos um importante teorema sobre espaços métricos completos demonstrado por Baire. No-
tavelmente, este teorema vem sido utilizado para demonstrar que certos fenômenos em análise, primeiramente
observados em certos exemplos específicos, são de fato ocorrências genéricas.
Para enunciar o resultado principal desta seção necessitamos antes uma lista de definições. O contexto é o
seguinte: consideraremos um espaço métrico M com métrica ρ e topologia induzida por esta métrica. Suponha
que E seja um subconjunto de M. Lembremos que E é denso em M se E = M. O conjunto E é nunca denso se o
interior de seu fecho é vazio, isto é, Int E = 0.
/
A união de um número finito de conjuntos nunca densos é um conjunto nunca denso. Contudo, a união
enumerável de conjuntos nunca denso não é necessariamente nunca denso. Um ponto em Rn é nunca denso em
Rn . Além disso, o conjunto de Cantor é nunca denso em R. Entretanto, os racionais Q não são nunca densos em R
já que Q = R. Em geral, E é fechado e nunca denso se, e somente se, O = M \ E é aberto e denso.
Um conjunto E ⊂ M é dito de primeira categoria em M se E é união enumerável de conjuntos nunca densos
em M. Um conjunto de primeira categoria é as vezes chamado de magro.
Um conjunto E ⊂ M que não é de primeira categoria em M é dito de segunda categoria em M.
Dizemos que E ⊂ M é genérico se seu complemento é de primeira categoria em M.
A ideia de categoria é a de descrever pequenês em termos puramente topológicos, isto é, envolvendo fecho,
interior, etc. Basicamente, um conjunto de primeira categoria deve ser pensado como excepcional, enquanto um
conjunto genérico deve ser considerado típico.
É bom observar que união enumerável de conjuntos de primeira categoria é de primeira categoria, enquanto
a intersecção enumerável de conjuntos genéricos é um conjunto genérico. Além disso, qualquer conjunto aberto e
denso é genérico.

Teorema 4.1.1 (O Teorema da Categoria de Baire) Todo espaço métrico completo M é de segunda categoria em
si mesmo, isto é, M não pode ser escrito como união enumerável de conjuntos nunca densos.

Demonstração. O argumento que apresentaremos é por contradição. Para tanto, suponhamos que M é a união

43
44 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

enumerável de conjuntos nunca densos Fn ,



[
M= Fn .
n=1

Trocando cada Fn pelo seu fecho, podemos assumir que cada Fn é fechado. Será então suficiente encontrar x ∈ M
com x 6∈ ∪Fn .
Sendo F1 fechado e nunca denso, temos que F1 6= M. Segue que existe uma bola aberta Br1 com Br1 ⊂ F1c .
Como F2 é fechado e nunca denso, a bola Br1 não pode estar contida inteiramente em F2 , caso contrário
F2 teria interior não vazio. Sendo ainda F2 fechado, podemos escolher uma bola Br2 de maneira que Br2 ⊂ Br1 e
também Br2 ⊂ F2c . Escolhemos ainda r2 < r1 /2.
Continuando desta maneira, obtemos uma sequência de bolas (Brn ) tais que

rn → 0, quando n → ∞, Brn+1 ⊂ Brn , Fn ∩ Brn = 0.


/

Para cada n ∈ N escolhemos qualquer ponto xn ∈ Brn e formamos a sequência (xn ), a qual é de Cauchy pelas
propriedades listadas. Como M é completo, existe x ∈ M com xn → x quando n → ∞. Observe que x ∈ Brn para
todo n e, consequentemente, para cada n, x 6∈ Fn . Isto nos dá a contradição e demonstra o Teorema da Categoria de
Baire. 

Corolário 4.1.2 Em um espaço métrico completo, um conjunto genérico é denso.

Demonstração. Suponha que E ⊂ M seja um subconjunto genérico que não é denso no espaço métrico M. Então,
existe uma bola fechada B que não intercepta E. Como E é genérico, podemos escrever

[
Ec = Fn ,
n=1

onde cada Fn é nunca denso em M. Consequentemente,



[
B= (Fn ∩ B).
n=1

Mas observemos que Fn ∩ B é nunca denso. Assim, aplicando o Teorema 4.1.1 ao espaço métrico completo B
chegamos a uma contradição. 

4.2 Princípio da Limitação Uniforme


Vamos nesta seção apresentar uma consequência importante do Teorema da Categoria de Baire. A conclusão prin-
cipal é que se uma sequência de operadores lineares contínuos é pontualmente limitada em um conjunto grande,
então esta sequência será, de fato, limitada. Este fato nos possibilita deduzir estimativas uniformes por meio de
estimativas pontuais em certas situações.

Teorema 4.2.1 (Princípio da Limitação Uniforme, Helly–Saks) Sejam X e Y dois espaços vetoriais normados
e A ⊂ B(X,Y ).

a) Se
sup kT xk < ∞
T ∈A

para todo x em um subconjunto não magro de X, então

sup kT k < ∞.
T ∈A
4.2. PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO UNIFORME 45

b) Se X for Banach e
sup kT xk < ∞
T ∈A
para todo x ∈ X, então
sup kT k < ∞.
T ∈A

Demonstração. a) Definamos, para cada n ∈ N,

An := {x ∈ X | kT xk ≤ n para todo T ∈ A }

e seja N ⊂ X o conjunto não magro da hipótese. Segue que cada x ∈ N pertence a algum An , de maneira que
N = ∪n∈N An . Como N é não magro, temos que ao menos um An é tal que An possui interior não vazio, isto é,
contém uma bola não trivial Br (x0 ). Observemos que An = An para cada n. De fato, suponha que (x j ) ⊂ An e que
x j → x; como kT x j k ≤ n para todo T ∈ A e cada T ∈ A é contínuo, temos T x j → T x e kT xk ≤ n.
Com as implicações do parágrafo anterior vemos que, na verdade, An contém uma bola Br (x0 ), para algum
n. Segue que, se x ∈ X e kxk ≤ r, então

kT xk = kT (x + x0 ) − T x0 k ≤ kT (x + x0 )k + kT xk ≤ 2n,

para todo T ∈ A . Mas daí, para todo y ∈ B1 (0),


1 2n
kTyk = kT (ry)k ≤ .
r r
Assim,
2n
sup kT k ≤ .
T ∈A r
b) Para este item, basta usar a mesma construção dos conjuntos An do item a), verificar que X = ∪n∈N An e usar o
Teorema da Categoria de Baire, já que X é completo. 

Uma outra maneira de enunciar o Princípio da Limitação Uniforme pode ser da seguinte maneira: ou
supT ∈A kT k < ∞ ou supT ∈A kT xk = ∞ para algum x.
A primeira demonstração do Teorema 4.2.1 foi dada por Helly para o espaço C([a, b]). Mais tarde, Saks
utilizou o Teorema da Categoria de Baire. Banach e Steinhaus utilizaram técnicas diferentes na demonstração
original.
Apresentamos a seguir um parente próximo do Princípio da Limitação Uniforme

Teorema 4.2.2 (Banach–Steinhaus) Suponhamos que (Tn ) seja uma sequência de operadores limitados de X em
Y, ambos espaços de Banach. Suponhamos que, para todo x ∈ X, lim Tn x existe. Então, se definirmos T x = lim Tn x
temos que T : X → Y é linear e limitado.

Demonstração. Deixaremos os detalhes de que T é linear como exercício. Como (Tn x) converge em X para cada
x e sequências convergentes são limitadas (em espaços métricos), temos que supn kTn xk < ∞ para cada x ∈ X. Pelo
Princípio da Limitação Uniforme, Teorema 4.2.1, temos que supn kTn k := M < ∞. Segue que

kT xk = k lim Tn xk ≤ Mkxk, para cada x ∈ X,

ou seja, T é limitado. 

Exemplo 4.2.3 O Teorema 4.2.2 não diz que Tn → T pontualmente implica que kTn k → kT k. De fato, seja
Tn : l p → R dado por
Tn (x) = xn , x = (x1 , x2 , . . . , x j , . . .).
Para cada x ∈ l p temos que Tn (x) = xn → 0 quando n → ∞. Assim, T ≡ 0 é o operador limite de (Tn ). Entretanto
kTn k = 1.
46 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

Exemplo 4.2.4 O Teorema 4.2.2 e o Princípio da Limitação Uniforme podem não valer se o domínio dos opera-
dores não for completo. De fato, seja Tn : c00 → l∞ dado por

Tn (x) = (0, . . . , 0, nxn , 0, . . .).

Para cada x ∈ c00 temos que Tn (x) → 0 quando n → ∞. Assim, T ≡ 0 é o operador limite de (Tn ). Entretanto
kTn k → ∞.

O próximo resultado é o dual do Princípio da Limitação Uniforme.

Teorema 4.2.5 Seja X um espaço linear normado e A ⊂ X. Se

sup | f (x)| < ∞,


x∈A

para cada f ∈ X ∗ fixado, então A é limitado.

Demonstração. Considere a aplicação canônica J : X → X ∗∗ que aplica x em x̂. Assim, J(A) é uma coleção de
funcionais lineares limitados em X ∗ . Definamos

A = {J(x) = x̂ | x ∈ A}.

Observemos que
sup |x̂( f )| = sup | f (x)| < ∞
x∈A x∈A

para cada f ∈ X ∗. Assim, pelo Teorema 4.2.1,

sup kx̂k < ∞.


x∈A

Entretanto, como J é uma isometria, concluimos que

sup kxk < ∞.


x∈A

Isto conclui a demonstração do teorema. 

Vamos dar um exemplo simples para ilustrar uma aplicação do Teorema 4.2.2.

Exemplo 4.2.6 Seja (an ) uma sequência de números reais tal que a série

∑ an bn
n=1

é convergente para toda sequência (bn ) ∈ c0 . Vamos demonstrar que



∑ |an | < ∞.
n=1

Para isso, definamos para cada k ∈ N o funcional linear Tk : c0 → R por


k
Tk (bn ) = ∑ a jb j.
j=1

Observemos que cada Tk é um funcional linear limitado em c0 com


k
kTk k ≤ ∑ |a j |.
j=1
4.2. PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO UNIFORME 47

Melhor ainda, se aplicarmos Tk no elemento


 
a1 /|a1 |, . . . , ak /|ak |, 0, . . . ∈ c0 ,

(com o ajuste óbvio se algum ak for zero), então veremos que


k
kTk k = ∑ |a j |.
j=1

Por hipótese, para cada (bn ) ∈ c0 , temos que

lim Tk (bn ) existe.


k→∞

Em particular,
sup |Tk (bn )| < ∞,
k
para cada (bn ) ∈ c0 . Pelo Teorema 4.2.2, supk kTk k < ∞, ou seja,

∑ |a j | < ∞.
j=1

Oitava aula↓

4.2.1 Divergência da série de Fourier


Nesta subseção apresentaremos uma aplicação do Princípio da Limitação Uniforme na teoria de séries de Fourier.
Uma função contínua no círculo unitário T pode ser identificada com uma função contínua em [−π, π] com
f (−π) = f (π) (veja a Subseção 2.2 para mais detalhes). Uma tal função possui série de Fourier

∑ ak eikx ,
k=−∞

onde
1
Z π
ak = fˆ(k) = f (t)e−ikt dt.
2π −π

É conhecido que a série de Fourier de f converge para f na norma de L2 (T). Assim, a menos de uma subsequência,
a convergência é pontual em quase todo ponto de T. Isto na verdade é válido para toda f ∈ L2 (T), não somente
aquelas contínuas. De fato, Carleson demonstrou o que era conhecido como conjectura de Lusin, que afirmava que
a série de Fourier de qualquer função em L2 (T) (portanto de uma função contínua) converge pontualmente para f
em quase todo ponto.
Definamos a soma parcial simétrica associada à série de Fourier de f por
N
sN ( f ,t) := ∑ fˆ(k)eikt .
k=−N

Utilizaremos o Princípio da Limitação Uniforme para demonstrar que existe f ∈ C(T) tal que sN ( f , 0) não converge
para f (0). Começamos com uma caracterização da soma parcial que será útil. Escrevemos:
N  1 Zπ 
sN ( f ,t) = ∑ f (x)e−ikx dx eikt
k=−N 2π −π
N
1
Z π
= f (x) ∑ eik(t−x) dx
2π −π k=−N
1
Z π
= f (x)DN (t − x)dx,
2π −π
48 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

onde
N
DN (s) := ∑ eiks
k=−N
é chamado de Núcleo de Dirichlet. Afirmamos agora que
sen(N + 1/2)s
DN (s) =
sen s/2
quando s 6= 0 e DN (0) = 2N + 1. No caso s = 0 este fato é claro. Caso contrário, temos que
N 2N
1 − ei(2N+1)s
∑ eiks = e−iNs ∑ eiks = e−iNs .
k=−N k=0 1 − eis

Multiplicando e dividindo por e−is/2 e usando a identidade


e−iy − eiy = 2i sen y
obtemos o resultado da afirmação.
O núcleo DN possui dois comportamentos ruins: não é positivo e kDN kL1 não é limitada em N. Para verifi-
carmos este último fato vamos estimar esta norma. Temos:
1 π | sen(N + 1/2)s|
Z
kDN kL1 = ds
2π −π | sen s/2|
1 π | sen(N + 1/2)s|
Z
= ds.
π 0 | sen s/2|
Usando que 0 ≤ sent ≤ t para 0 ≤ t ≤ π/2 e a substituição u = (N + 1/2)s obtemos
2 π | sen(N + 1/2)s|
Z
kDN kL1 ≥ ds
π 0 t
2 π(N+1/2) | sen u|
Z
= du
π 0 u
2 N kπ | sen u|
Z
≥ ∑ du
π k=1 (k−1)π kπ
4 N 1 4
= 2 ∑ ≥ 2 log(N + 1).
π k=1 k π

Lembremos agora que C(T) com a norma do sup é Banach. Definamos o funcional ΛN : C(T) → C por
1
Z π
ΛN ( f ) = sN ( f , 0) = f (x)DN (−x)dx.
2π −π
Observemos que cada ΛN é linear e
1
Z π
|ΛN ( f )| ≤ | f (x)||DN (−x)|dx ≤ k f k∞ kDN kL1 .
2π −π
Isto implica que kΛN k ≤ kDN kL1 . Afirmamos que, na verdade, kΛN k = kDN kL1 . Para verificar este fato fixamos N e
definamos g(x) = sgn(DN (x)). Então, existe uma sequência de funções contínuas ( f j ) ⊂ C(T) com −1 ≤ f j (x) ≤ 1
com f j → g pontualmente em T = [−π, π]. Pelo Teorema da Convergência Dominada,
1 1 1
Z π Z π Z π
lim f j (x)DN (−x)dx = g(x)DN (−x)dx = |DN (x)|dx = kDN kL1 .
j→∞ 2π −π 2π −π 2π −π
Como k f j k ≤ 1, isto nos mostra que kΛN k ≥ kDN kL1 .
Finalmente estamos em posição de aplicar o Princípio da Limitação Uniforme. Por este teorema, ou kΛN k ≤
M para alguma constante M > 0 e para todo N, ou existe f ∈ C(T) tal que supN |ΛN ( f )| = ∞. Como kΛN k =
kDN kL1 → ∞, obtemos então que existe f ∈ C(T) tal que
sup |ΛN f | = sup |sN ( f , 0)| = ∞
N N
e a série de Fourier de f diverge em 0.
4.3. TEOREMAS DA APLICAÇÃO ABERTA E DO GRÁFICO FECHADO 49

4.3 Teoremas da Aplicação Aberta e do Gráfico Fechado


Nesta seção vamos demonstrar o Teorema da Aplicação Aberta utilizando o Teorema da Categoria de Baire e
depois deuziremos o Teorema do Gráfico Fechado.
Sejam X e Y dois espaços de Banach com normas k · kX e k · kY respectivamente, e T : X → Y uma aplicação.
Lembremos que T é contínua se, esomente se, T −1 (O) é aberto em X sempre que O é aberto em Y. Isto é verdade
independente de T ser linear ou não. Em particular, se T possui uma inversa T −1 : Y → X que é contínua, então
temos que a imagem por T de qualquer conjunto aberto em X é aberto em Y. Dizemos que T é aberta se T aplica
abertos de X em aberttos de Y.
De uma maneira geral, se T : X → Y é linear e bijetiva, então existe T −1 e este operador é também linear,
mas não necessariamente contínuo.

Teorema 4.3.1 (Teorema da Aplicação Aberta) Sejam X e Y espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ). Se T é sobre-
jetiva, então T é aberta.

Antes de discutirmos a demonstração do Teorema da Aplicação Aberta, vamos apresentar uma importante
consequência deste resultado.

Corolário 4.3.2 (Teorema de Aplicação Inversa) Sejam X e Y espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ) bijetiva. Então
a aplicação T −1 linear e limitada, isto é, T −1 ∈ B(Y, X). Em particular, existem constantes c,C > 0 tais que
ckxkX ≤ kT xkY ≤ CkxkX .

Demonstração. Que T −1 é linear é um simples fato algébrico. A demonstração de que T −1 é linear segue da
discussão que precedeu o Teorema 4.3.1. 

Corolário 4.3.3 Seja V um espaço vetorial equipado com duas normas k · k1 e k · k2 . Se existe uma constante
C > 0 tal que
kvk1 ≤ Ckvk2
para todo v ∈ V e se V for completo com relação às duas normas, então estas normas são equivalentes.

Demonstração. Com essas hipóteses temos que a aplicação identidade I : (V, k · k2 ) → (V, k · k1 ) é contínua e,
como I é claramente bijetiva, sua inversa I : (V, k · k1 ) → (V, k · k2 ) é também contínua. Consequentemente, existe
c > 0 tal que
ckvk2 ≤ kvk1 ,
para todo v ∈ V. 

Agora nos concentraremos na demonstração do Teorema de Aplicação Aberta, a qual seguirá do teorema a
seguir.

Teorema 4.3.4 Sejam X e Y dois espaços de Banach e denotemos por BX e BY as bolas de centro zero e raio um
em X e Y respectivamente. Suponhamos que A ∈ B(X,Y ) seja sobrejetiva. Então, existe uma constante δ > 0 tal
que
δ BY ⊂ A(BX ),
ou seja, dado y ∈ Y com kykY < δ , existe x ∈ X, com kxkX < 1 e Ax = y.

Antes de demonstrarmos o Teorema 4.3.4, vamos mostrar como ele pode ser utilizado para se demonstrar o
Teorema da Aplicação Aberta.

Demonstração do Teorema 4.3.1. Seja G um subconjunto aberto de X e x0 ∈ G. Precisamos demonstrar que T (G)
contém uma bola aberta em torno de T x0 . Para isso, consideremos G0 = G − x0 . Então G0 é um aberto que contém
0. Podemos então encontrar t > 0 tal que tBX ⊂ G0 . Pelo Teorema 4.3.4, temos que
T (G0 ) ⊃ T (tBX ) = tT (BX ) ⊃ tδ BY ,
50 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

para alguma constante δ > 0. Por linearidade,

T (G) = T (G0 ) + T x0 ⊃ tδ BY + T x0 ,

ou seja, a bola de raio tδ centrada em T x0 está inteiramente contida em T (G), o que finaliza a demonstração. 

Nona aula↓

Para demonstrar o Teorema 4.3.4 daremos primeiramente um lema que é uma versão aproxiamada do teo-
rema. Ele nos diz que, dado y ∈ Y, podemos nos aproximar de y tão próximo quanto queiramos por um vetor da
forma Ax para algum x ∈ X, com norma controlada pela norma de y.

Lema 4.3.5 Suponhamos que X e Y sejam espaços de Banach e seja A ∈ B(X,Y ) sobrejetiva. Existe um número
positivo d > 0 com a seguinte propriedade: dado ε > 0 e z ∈ Y, existe x ∈ X tal que

kAx − zkY < ε e kxkX < d −1 kzkY .

Demonstração. Por sobrejetividade, dado y ∈ Y existe x̃ ∈ X tal que Ax̃ = y. Isto significa que podemos escrever

[
Y= A(kBX ).
k=1

Como Y é completo, o Teorema da Categoria de Baire nos diz que, para algum k ∈ N, A(kBX ) possui interior não
vazio. Digamos que
A(kBX ) ⊃ Br (y0 )
para algum r > 0 e algum y0 ∈ Y. Se kykY < r, então y + y0 ∈ Br (y0 ) e, consequentemente, em A(kBX ). Assim,
0 00
para qualquer y ∈ Y com kykY < r, podemos encontrar sequências (xn ) e (xn ) em kBX tais que
0 00
Axn → y0 e Axn → y0 + y.
00 0
Consideremos xn = xn − xn e notemos que Axn → y e kxn k < 2k.
A conclusão seguirá ao explorarmos a linearidade. Seja z 6= 0 com z ∈ Y arbitrário. Como (r/2)z/kzkY possui
norma menor que r, obtemos pela primeira parte que existe (xn ) ⊂ X tal que
r z
kxn kX < 2k e Axn → .
2 kzkY

Por linearidade, 
A (2/r)kzkY xn → z,
onde a norma de (2/r)kzkY xn é menor que (4k/r)kzkY . Esta é a conclusão desejada com d = r/(4k). 

Demonstraremos agora o Teorema 4.3.4 através de um processso iterativo utilizando o Lema 4.3.5.
Na notação do Lema 4.3.5, vamos nos referir a z como o alvo e a ε > 0 como sendo a tolerância.

Demonstração do Teorema 4.3.4. Sejam X, Y e A como nas hipóteses do teorema e d > 0 como no Lema 4.3.5.
Fixemos y ∈ dBY . Aplicamos o Lema 4.3.5 com alvo y e tolerância ε = d/2 para encontrar x1 ∈ X com norma
menor que d −1 kykY < 1 tal que ky − Ax1 kY < d/2. Aplicamos novamente o Lema 4.3.5 agora com alvo y − Ax1 e
tolerância ε = d/4 para encontrar x2 ∈ X com

k(y − Ax1 ) − Ax2 kY < d/4

e
kx2 kX < d −1 ky − Ax1 kY < 1/2.
4.3. TEOREMAS DA APLICAÇÃO ABERTA E DO GRÁFICO FECHADO 51

Continuamos indutivamemnte de maneira a determinar x1 , . . . , xn ∈ X com


d
ky − (Ax1 + . . . + Axn )kY < ,
2n
e
1
kxk kX < para k = 1, . . . , n.
2k−1
Para cada inteiro positivo n definamos vn = x1 + . . . xn e observemos que (vn ) é uma sequência de Cauchy em
X : quando m > n
m
1
kvm − vn kX = kxn+1 + . . . + xm kX < ∑ k−1 → 0
k=n+1 2
quando m, n → ∞. Como X é Banach, temos que vn → x, para algum x ∈ X. Além disso,
∞ ∞
1
kxkX ≤ ∑ kxk kX ≤ ∑ 2k−1 = 2,
k=1 k=1

de maneira que x ∈ 3BX . Como ky − Avn kY < d/2n , temos que Avn → y quando n → ∞. Por continuidade de
A, vemos que Avn → Ax = y. Lembrando que y ∈ dBY é arbitrário e que x ∈ 3BX , vemos que o que acabamos
de demonstrar é que A(3BX ) ⊃ dBY e, por linearidade, A(BX ) ⊃ (d/3)BY . Isto implica no Teorema 4.3.4 com
δ = d/3. 

Dados X e Y espaços normados e T : X → Y uma aplicação linear, definimos o gráfico de T como sendo o
subconjunto de X ×Y dado por
G(T ) := {(x, T x) ∈ X ×Y | x ∈ X}.
Dizemos que T é uma aplicação fechada se G(T ) é um subespaço fechado.
Podemos definir uma norma em X ×Y por
k(x, y)k = kxkX + kykY ,
chamada de norma produto. É possível demonstrar que, quando X e Y são Banach, então X ×Y equipado com esta
norma também será Banach. Observemos ainda que G(T ) é um subespaço vetorial não necessariamente fechado
de X × Y. O próximo resultado nos dá uma nova maneira de verificar se uma aplicação linear entre espaços de
Banach é limitada.

Teorema 4.3.6 (Teorema do Gráfico Fechado) Se X e Y são espaços de Banach e T : X → Y é uma aplicação
linear, então T é limitada se, e somente se, G(T ) é fechado em X × Y. Em outras palavras, T é limitado se, e
somente se, sempre que (xn , T xn ) convergir para (x, y) ∈ X ×Y, tivermos que T x = y.

Demonstração. Suponhamos que T seja um operador limitado e seja (xn , T xn ) uma sequência em G(T ) com
(xn , T xn ) → (x, y). Temos então que kxn − xkX → 0 e kT xn − ykY → 0. Por continuidade, kT xn − T xkY → 0 e assim
T x = y.
Suponhamos agora que G(T ) seja fechado. Então, G(T ) é um espaço de Banach para a norma produto.
Consideremos as projeções PX : G(T ) → X e PY : G(T ) → Y definidas por
PX (x, T x) = x e PY (x, T x) = T x.
Tanto PX quanto PY são lineares e contínuas. Além disso, PX é bijetiva e, pelo Teorema da Aplicação Inversa, PX−1
é contínua. Mas notemos que
T = PY PX−1 ,
e temos que T é contínua, o que conclui a demonstração. 

4.3.1 Alguns exemplos de aplicações e contra–exemplos


Nesta seção daremos alguns exemplos de aplicações dos teoremas da Seção 4.3 e alguns contra–exemplos que
mostram que as hipóteses não podem ser enfraquecidas.
52 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

Decaimento dos coeficientes de Fourier de funções em L1 .

Dada f ∈ L1 (T) podemos definir os coeficientes de Fourier de f da mesma forma que fizemos para funções
contínuas, isto é, temos associada a f a série

∑ ak eikx ,
k=−∞
onde
1
Z π
ak = fˆ(k) = f (t)e−ikt dt.
2π −π
O Lema de Riemann–Lebesgue (veja [4], Corolário 2.1) implica que, se f ∈ L1 ([−π, π]), então
lim | fˆ(k)| = 0.
|k|→∞

Uma questão natural que surge é a seguinte: dada uma sequência de números complexos (ak )k∈Z ∈ c0 , (que se
anulam no infinito), existe f ∈ L1 ([−π, π]) tal que fˆ(k) = ak para todo k ∈ Z?
Definamos T : L1 ([−π, π]) → c0 por
T ( f ) = ( fˆ(k))k∈Z .
A questão acima é então equivalente à pergunta: T é sobrejetora?
Observemos que
kT f k∞ = k( fˆ(k))k∈Z k∞ ≤ k f kL1 .
Além disso, se T f = 0 então fˆ(k) = 0 para todo k ∈ Z, o que implica que f = 0 em L1 ([−π, π]) (veja o Teorema
3.1, Capítulo 4 de [13]). Assim, T é injetiva. Se T fosse sobrejetiva, o Teorema da Aplicação Inversa nos daria a
existência de uma constante K > 0 tal que
Kk f kL1 ≤ kT f k∞ , para qualquer f ∈ L1 ([−π, π]). (4.1)
Tomemos então fn = DN , o n–ésimo núcleo de Dirichlet, que é dado por
N
DN (x) = ∑ eikx ,
k=−N

e lembremos que kDN kL1 → ∞ quando N → ∞. Se (4.1) fosse verdadeira teríamos


KkDN kL1 ≤ kT DN k∞ = 1,
o que é uma contradição.
Consluímos que existem sequências de números complexos que decaem a zero no infinito mas que não são
coeficientes de Fourier de nenhuma função em L1 ([−π, π]).

C([0, 1]) com a norma k · kL1 não é um espaço de Banach.

Como já sabemos, (C([0, 1]), k · k∞ ) é um espaço de Banach e, além disso, é fácil verificar que
k f kL1 ≤ k f k∞ , para qualquer f ∈ C([0, 1]).

Se (C([0, 1]), k · kL1 ) fosse um espaço de Banach, utilizando o Corolário 4.3.3, teríamos que existiria uma
constante K > 0 tal que
k f k∞ ≤ Kk f kL1 , para qualquer f ∈ C([0, 1]). (4.2)
Definamos para cada n ∈ N a função
(
n − (n2 /2)x se 0 ≤ x ≤ 2/n,
fn (x) =
0 se 2/n ≤ x ≤ 1.
Então
k f n kL 1 = 1 e k f k∞ = n.
Assim, a sequência ( fn ) não satisfaz (4.2) para qualquer constante K > 0 e (C([0, 1]), k · kL1 ) não é Banach.
4.3. TEOREMAS DA APLICAÇÃO ABERTA E DO GRÁFICO FECHADO 53

Um operador fechado e não limitado

Sejam Y = C([0, 1]) e X = C1 ([0, 1]), ambos equipados com a norma k · k∞ . Observemos que X não é completo já
que é um subespaço próprio e denso de Y com a norma k · k∞ . De fato, a primeira afirmação só nos diz que existem
funções contínuas que não são de classe C1 e a segunda afirmação segue do Teorema de Stone–Weierstrass1 .
Seja T : X → Y o operador derivada, isto é, T f = f 0 . Então T está bem definido e é linear.
Afirmação: T é fechado mas não é limitado.
De fato:
0
• T não é limitado pois se fn : [0, 1] → R é definida por fn (x) = xn , então fn (x) = nxn−1 , o que nos dá k fn k∞ = 1
0
mas kT fn k∞ = k fn k∞ = n;
0
• T é fechado, pois se ( fn ) ⊂ C1 ([0, 1]) é tal que fn → f e T fn = fn → g na norma do sup, então o Teorema
Fundamental do Cálculo implica que
Z t
0
fn (t) = fn (0) + fn (s)ds;
0

passando ao limite temos que Z t


f (t) = f (0) + g(s)ds;
0

novamente o Teorema Fundamental do Cálculo implica que f ∈ C1 ([0, 1]) e f 0 = g.

Concluímos que a hipótese de o domínio ser completo no Teorema do Gráfico Fechado é essencial para
obtermos a continuidade.

Décima aula↓

Subespaços fechados de C([0, 1]).

Nos dedicaremos nesta seção à demonstração de que qualquer subconjunto de C([0, 1]) que contém somente
funções diferenciáveis deve ser de dimensão finita. Iniciaremos com um resultado que será útil em outras situ-
ações.

Lema 4.3.7 (Lema de F. Riesz) Seja Eum espaço vetorial normado e M ⊂ E um subespaço fechado tal que M 6=
E. Então, dao ε > 0, existe x ∈ E tal que

kxk = 1 e dist(x, M) ≥ 1 − ε.

Demonstração. Seja y ∈ E \ M. Como M é fechado, a distância entre v e M é estritamente positiva, digamos que

d = dist(v, M) > 0.

Dado ε > 0, existe m0 ∈ M tal que


d
d ≤ kv − m0 k ≤ .
1−ε
Segue que, para todo m ∈ M,
v − m0 1
v − m0 − kv − m0 km ≥ 1
= ≥ 1 − ε,

kv − m0 k − m kv − m0 k kv − m0 k

pois m0 + kv − m0 km ∈ M. Assim, o vetor


v − m0
x=
kv − m0 k − m
1 Observe que aqui poderíamos ter utilizado o Exercício 91 para concluir que X não é fechado
54 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

satisfaz as propriedades requeridas. 

O Lema 4.3.7 possui várias aplicações interessantes. Dentre elas, utilizaremos o fato que um espaço normado
onde conjuntos limitados e fechados são compactos deve ser de dimensão finita.

Proposição 4.3.8 (F. Riesz) Seja E um espaço vetorial normado no qual a bola unitária fechada B = B1 (0) é
compacta. Então E possui dimensão finita.

Demonstração. Suponhamos que E não seja de dimensão finita. Então, seja x1 ∈ E com kx1 k = 1 e consideremos
E1 = [x1 ]. Pelo Lema 4.3.7 (com ε = 1/2), existe x2 ∈ E \ E1 com kx2 k = 1 e kx2 − x1 k ≥ 1/2. Definamos E2 =
[x1 , x2 ] e seja x3 ∈ E \ E2 com kx3 k = 1 e com dist(x3 , E2 ) ≥ 1/2. Procedendo indutivamente, temos uma sequência
(xn ) ⊂ E com kxn k = 1 para todo n ∈ N e com kxn − xm k ≥ 1/2 sempre que m 6= n. Esta é uma sequência em B
que não pode possuir uma subsequência convergente, contradizendo o fato de B ser compacta. 

A Proposição 4.3.8 juntamente com o Teorema da Aplicação Inversa implica no resultado a seguir.

Proposição 4.3.9 Todo subespaço vetorial fechado de C([0, 1]) que contém somente funções continuamente difer-
enciáveis deve ser de dimensão finita.

Demonstração. Seja E um subespaço fechado de C([0, 1]) formado somente por funções em C1 ([0, 1]). Então E
também será fechado na norma
k f k1,∞ = k f k∞ + k f 0 k∞ .
0
De fato, se ( fn ) ⊂ E é uma sequência de Cauchy com fn → f e fn → g, de maneira que, tomando o limite na
igualdade Z t
0
fn (t) = fn (0) + fn (s)ds
0
seguirá que Z t
f (t) = f (0) + g(s)ds,
0
ou seja, f é diferenciável e f 0 = g.
Como C1 ([0, 1]) é Banach na norma k · k1,∞ temos que E equipado com esta norma é também Banach.
Consideremos a identidade I : (E, k · k1,∞ ) → (E, k · k∞ ). Claramente esta aplicação é bijetiva e contínua. Pelo
Teorema da Aplicação Inversa temos que a inversa é também contínua.
Por outro lado, seja B a bola fechada unitária em (E, k · k1,∞ ). Então I(B) é limitado e fechado em (E, k · k∞ ).
Além disso, para cada f ∈ I(B),
Z t Zt
| f (t) − f (s)| = f 0 (τ)dτ ≤ | f 0 (τ)|dτ ≤ |t − s|,

s s

ou seja, I(B) é equicontínuo. Segue do Teorema de Ascoli-Arzelá que I(B) é compacto em (E, k · k∞ ). Sendo a
inversa de I limitada, temos que B é compacto em (E, k · k1,∞ ). Mas a bola unitária é compacta somente em espaços
de dimensão finita pela Proposição 4.3.8. 

Bases de Schauder em espaços de Banach.

Seja X um espaço normado. Dizemos que uma sequência (xi ) ⊂ X é uma base de Schauder de X se, para todo
x ∈ X, existe uma única sequência de escalares (ai ) ⊂ F tal que

x = ∑ ai xi ,
i=1

onde a convergência da série é na norma de X. A unicidade da sequência de escalares (ai ) para cada x implica que
uma base de Schauder é um subconjunto linearmente independente.
4.3. TEOREMAS DA APLICAÇÃO ABERTA E DO GRÁFICO FECHADO 55

Uma base de Schauder não deve ser confundida com uma base de Hamel. Enquanto uma base de Schauder
é sempre enumerável, o Teorema da Categoria de Baire implica que, sempre que um espaço de Banach for de
dimensão infinita, uma base de Hamel neste espaço deverá ser não enumerável.
Lembremos que um espaço métrico M é separável se existe um subconjunto de M que é enumerável e denso.
Dizemos ainda que um subconjunto A de um espaço normado X é total em X se o espaço gerado por A,
denotado por [A], é denso em X.
Vamos apresentar dois resultados básicos sobre espaços separáveis e suas relações com bases de Schauder.

Proposição 4.3.10 Todo espaço normado X que possui uma base de Schauder é separável.

Demonstração. Seja (xi ) uma base de Schauder de X. Então o conjunto

 n
S= ∑ ri xi | ri ∈ Q, n ∈ N
i=1

é enumerável e denso em X. Segue que X é separável. 

Proposição 4.3.11 Um espaço normado X é separável se, e somente se, existe um subconjunto enumerável total
e linearmente independente em X.

Demonstração. Um argumento similar ao usado na demonstração da Proposição nos mostra que se existe um
subconjunto enumerável (xi ) total em X, então X é separável.
Suponhamos então que X é separável e seja (xi ) um subconjunto enumerável e denso em X. Defina uma se-
quência (yi ) através do seguinte processo indutivo: y1 é o primeiro elemento não nulo de (xi ); escolhidos y1 , . . . , y j ,
escolha y j+1 como sendo o primeiro elemento não nulo de (xi )∞ i= j+1 de modo que {y1 , . . . , y j+1 } seja linearmente
independente (e este elemento não existir, a sequência terina). Por construção, temos que (xi ) e (yi ) geram o
mesmo espaço vetorial, mas esta última sequência é linearmente independente. 

Dada uma base de Schauder (xi ) em um espaço normado X, definamos xi∗ : X → F por

xi∗ (x) = ai , onde x = ∑ ai xi .
i=1

Observemos que cada xi∗ é linear e xi∗ (xn ) = δin . Dizemos que a sequn̂cia (xi , xi∗ ) é biortogonal.
Definimos ainda a sequência de aplicações lineares (Pn ), onde Pn : X → X é dada por
n ∞
Pn (x) = ∑ ai xi , onde x = ∑ ai xi .
i=1 i=1

Segue que (Pn ) satisfaz


Pn Pm = Pmin{m,n}
Em particular, cada Pn é a projeção sobre o espaço [x1 , . . . , xn ]. Além disso, como (xi ) é uma base de Schauder,
segue que Pn x → x na norma de X. Como vale que

xn∗ = Pn − Pn−1 ,

temos que xn∗ é contínua sempre que cada Pn for contínua.

Teorema 4.3.12 Se (xi ) for uma base de Schauder para o espaço de Banach X, então cada Pn é contínua. Além
disso,
K = sup kPn k < ∞.
Em particular, cada xn∗ é contínua.
56 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

Demonstração. Seja (X, k · k) um espaço de Banach. Definamos uma segunda norma k · k1 em X por

kxk1 = sup kPn xk.


n

Como Pn x → x, temos que kxk1 < ∞ para qualquer x ∈ X, o que implica que k · k1 está bem definida. Os demais
detalhes da demonstração que k · k1 é uma norma ficam como um exercício simples.

Afirmação: (X, k · k1 ) é um espaço de Banach.


Esta afirmação é a chave da demonstração. De fato, se considerarmos a identidade I : (X, k · k1 ) → (X, k · k),
temos que I é contínua, pois

kxk = k lim Pn xk = lim kPn xk ≤ sup kPn xk = kxk1 ;


n→∞ n→∞ n

mas sendo I bijetora e contínua, o Teorema da Aplicação Inversa nos dá que I −1 é também contínua, ou seja,

kxk1 ≤ Kkxk,

para alguma constante K > 0, ou seja,


kPi xk ≤ sup kPn xk ≤ Kkxk,
n

e Pi é contínua.
Nos resta então demonstrar a Afirmação.
Seja (yk ) uma sequência de Cauchy em (X, k · k1 ). Então,

kPn yi − Pn y j k ≤ sup kPn yi − Pn y j k = kyi − y j k1 ,


n

ou seja, para cada n, (Pn yk ) é uma sequência de Cauchy em (X, k · k). Segue que Pn yk → zn quando k → ∞ na norma
de (X, k · k). Por outro lado,

kzn − zm k ≤ kzn − Pn yk k + kPn yk − Pm yk k + kPm yk − zm k.

Escolhemos k de maneira que o primeiro e o terceiro termo do lado direito sejam pequenos e depois escolhemos m
e n de maneira que o termo do meio seja pequeno (para est k fixado). Segue que (zn ) é uma sequência de Cauchy
em (X, k · k).
Seja z = limn→∞ zn na norma k · k. Vamos demonstrar que z = limn→∞ yk na norma k · k1 . Para tanto, observe-
mos inicialmente que cada Pn é contínua pois sua imagem é um espaço de dimensão finita. Assim,

Pn (zm ) = Pn ( lim Pm yk )
k→∞
= lim Pn Pm yk
k→∞
= lim Pmin{n,m} = zmin{n,m} .
k→∞

Segue que Pn z = zn . Finalmente,

kyk − zk1 = sup kPn yk − zn k → 0 quando k → ∞.


n

Isto finaliza a demonstração. 

A constante K = supn kPn k é chamada de da base de Schauder (xi ). Uma base em que K = 1 é chamada de
base monótona. Segue da demonstração do Teorema 4.3.12 que qualquer espaço de Banach com base de Schauder
possui uma norma equivalente à primeira de maneira que, nessa nova norma, a base de Schauder é monótona. De
fato, basta tomar a norma k · k1 .
4.4. EXERCÍCIOS 57

4.4 Exercícios
Exercício 86 O Teorema da categoria de Baire continua válido se ao invés de um espaço métrico completo tiver-
mos um espaço de Hausdorff localmente compacto.
Sugestão: um espaço topológico Z é compacto se, e somente se, para toda família de fechados para a qual qualquer
intersecção finita é não vazia, tivermos que a intersecção de todos os elementos da família é também não vazia.

Exercício 87 O Teorema da Categoria de Baire continua válido em um espaço métrico M0 que é um subconjunto
aberto de um espaço métrico completo M.
Sugestão: Aplique o Teorema da categoria de Baire ao fecho de M0 em M.

Exercício 88 Seja {x j } j∈N uma enumeração de Q em R e considere os conjuntos


∞ ∞
[ 1 1  \
Un = xj − j
,xj + j , U= Un .
j=1
n2 n2 n=1

Demonstre que U é genérico mas possui medida de Lebesgue zero.

Exercício 89 Sejam F um subconjunto fechado e O um subconjunto aberto de um espaço métrico completo M.

a) Demonstre que F é de primeira categoria se, e somente se, F possui interior vazio.
b) Demonstre que O é de primeira categoria se, e somente se, O é vazio.
c) Demonstre que F é genérico se, e somente se, F = M e que O é genérico se, e somente se, O c não possui
interior.

Sugestão: para a), argumente por contradição assumindo que uma bola fechada B esteja contida em F. Aplique o
Teorema da categoria de Baire ao espaço métrico completo B.

Exercício 90 Seja c = {(xn )n∈N | xn ∈ R e (xn ) converge}.

a) Demonstre que c0 ⊂ c é um subespaço fechado que é nunca denso.


b) Demonstre que c ⊂ l∞ é um subespaço fechado que é nunca denso.

Exercício 91 Se X é um espaço normado, demonstre que qualquer subespaço fechado próprio de X é um conjunto
nunca denso.

Exercício 92 Se X é um espaço normado de dimensão infinita, o qual pode ser escrito como união enumerável de
subespaços de dimensão finita, demonstre que X é de primeira categoria em si mesmo.

Exercício 93 Demonstre que se X é um espaço de Banach de dimensão infinita, então uma base de Hamel de X
não pode ser enumerável.

Exercício 94 Demonstre que não existe norma que torne c00 em um espaço completo.

Exercício 95 Considere o espaço C([0, 1]) equipado com a norma k · k∞ . O intuito desse exercício é demonstrar
que o subconjunto de C([0, 1]) formado pelas funções que não possuem derivadas em ponto algum de [0, 1] é
genérico em C([0, 1]).

a) Seja EN o conjunto das funções contínuas f : [0, 1] → R tais que existe x∗ ∈ [0, 1] com

| f (x) − f (x∗ )| ≤ N|x − x∗ |, para todo x ∈ [0, 1].

Demonstre que EN é fechado em C([0, 1]) para todo N ∈ N.


58 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

b) Seja P o subconjunto de C([0, 1]) formado pelas funções contínuas e lineares por parte. Demonstre que P é
denso em C([0, 1]).

c) Para cada M > 0, seja PM ⊂ P o conjunto das funções contínuas, lineares por parte, onde cada segmento
de reta possui inclinação sempre maior ou igual a M ou menor ou a −M. Demonstre que PM ∩ EN = 0/ se
M > N.

d) Fixe M > 0 e seja g(x) = ax + b uma função linear para x ∈ [0, 1/n]. Demonstre que, dado ε > 0, existe
h ∈ PM e n ∈ N grande tais que |h(x) − g(x)| ≤ ε, para todo x ∈ [0, 1/n].

e) Demonstre que PM é denso em P e, consequentemente, que PM é denso em C([0, 1]).

f) Demonstre que cada EN possui interior vazio.

g) Seja D o subconjunto das funções contínuas em [0, 1] que possui derivada em pelo menos um ponto. Veri-
fique que

D⊂
[
EN
N=1

e conclua que D é de primeira categoria.

Exercício 96 Seja X um espaço de Banach e B∗ ⊂ X ∗ . Suponha que para todo x ∈ X, o conjunto

{ f (x) | f ∈ B∗ }

é limitado. Demonstre que B∗ é limitado.

Exercício 97 Sejam X e Y dois espaços de Banach e a : X ×Y → R uma forma bilinear satisfazendo:

i) para cada x ∈ X fixado, y 7→ a(x, y) é contínua;

ii) para cada y ∈ Y fixado, x 7→ a(x, y) é contínua.

Demonstre que existe uma constante C > 0 tal que

|a(x, y)| ≤ Ckxkkyk,

para qualquer (x, y) ∈ X ×Y.


Sugestão: introduza um operador linear T : X → Y ∗ e demonstre que T é limitado através do Exercício 96.

Exercício 98 Seja X = C([0, π]) equipado com a norma k · kL1 . Considere a forma blinear a : X × X → R definida
por
Z π
a( f , g) = f (t)g(t)dt.
0

Utilizando a sequência
(√
n sen(nt) se 0 ≤ t ≤ π/n,
fn (t) =
0 se π/n ≤ t ≤ π,

verifique que a não é contínua. Este fato contradiz o Exercício 97?

Exercício 99 Nas hipóteses do Teorema de Banach–Steinhaus, demonstre que

kT k ≤ lim inf kTn k.


n→∞
4.4. EXERCÍCIOS 59

Exercício 100 (Princípio de Condensação de Singularidades) Sejam X e Y dois espaços de Banach e considere
o subconjunto {T jk | j, k ∈ N} ⊂ B(X,Y ). Suponha que para cada k ∈ N exista x ∈ X tal que

sup kT jk xk = ∞.
j∈N

Então existe um conjunto genérico A ⊂ X tal que

sup kT jk xk = ∞, para todo x ∈ A e para todo k ∈ N.


j∈N

Exercício 101 Seja (X, k · k) um espaço de Banach de dimensão infinita. Então, existe uma outra norma k · k1
tal que o operador identidade I : (X, k · k1 ) → (X, k · k) é limitado (até mesmo uma contração), mas não possui
inversa limitada.
Sugestão: existe uma base {eλ | λ ∈ Λ} tal que keλ k = 1 para todo λ ∈ Λ e inf{keµ − eλ k | λ , µ ∈ Λ} = 0; defina
a nova norma por
m m
∑ αk eλk = ∑ |αk |.

k=1 1 k=1

Exercício 102 Sejam X e Y espaços de Banach e T : X → Y linear e limitado com M = ker T. Demonstre que Y e
X/ ker T são isomorfos, isto é, existe um operador linear bijetivo de um espaço no outro com inversa limitada.

Exercício 103 O termo aplicação fechada é usado tanto para operadores lineares entre espaços de Banach que
satisfazem as hipóteses do Teorema do Gráfico Fechado quanto para aplicações entre espaços topológicos que
aplicam conjuntos fechados em conjuntos fechados. Estes dois conceitos não são equivalentes!

a) Suponha que X e Y sejam espaços normados e que T : X → Y é um operador linear que não é injetivo nem
o operador nulo. Encontre um subconjunto fechado F de X tal que T (F) não é fechado em Y.

b) Encontre um operador linear T que satisfaz todas as hipóteses do Teorema do Gráfico Fechado mas para o
qual existe um subconjunto fechado F do domínio de T tal que T (F) não é fechado na imagem de T.

Exercício 104 Sejam X e Y espaços de Banach e D ⊂ X um subespaço. Suponha que T : D → Y seja um operador
linear fechado. Demonstre que T é limitado se, e somente se, D é um subespaço fechado de X.

Exercício 105 Seja Y = l1 (N) e X = {y ∈ Y | ∑∞


n=1 nyn < ∞} equipado com a norma de l1 .

a) Demonstre que X é um subespaço próprio e denso de Y, consequentemente não completo.

b) Defina T : X → Y por T (y) = (nyn )n∈N . Demonstre que T é fechado mas não é limitado.

c) Seja S = T −1 . Demonstre que S é sobrejetiva e limitada, mas não é aberta.

Exercício 106 (Construção de um operador ilimitado entre espaços de Banach) Seja X0 um espaço normado
que não é completo e X seu completamento. Seja T : X0 → Y um operador ilimitado com Y Banach (existem vários
exemplos de operadores ilimitados com domínio não completo; veja, por exemplo o Exercício 105). Demonstre
que T possui uma extensão T̃ : X → Y linear e ilimitada.
Sugestão: escolha uma base de Hamel {eα }α∈A para X0 ; estenda esta base para uma base {eα }α∈B , B ⊃ A, para
X; seja M o subespaço gerado por {eα }α∈B\A , de maneira que cada x ∈ X pode ser escrito unicamente como
x = x1 + x2 ; x1 ∈ X0 , x2 ∈ M; defina T̃ x = T̃ (x1 + x2 ) = T x1 . Você utilizou o Lema de Zorn? Quando?

Exercício 107 Sejam X e Y espaços de Banach e T : X → Y um operador ilimitado.

a) Demonstre que o gráfico G(T ) não é completo.

b) Defina S : X → G(T ) por Sx = (x, T x). Demonstre que S é fechado mas ilimitado.
60 CAPÍTULO 4. CATEGORIA DE BAIRE E APLICAÇÕES

c) Demonstre que S−1 : G(T ) → X é limitado e sobrejetivo, mas não é aberto.

Exercício 108 Sejam X e Y espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ) sobrejetor. Demonstre que existe C > 0 tal que,
para todo y ∈ Y, a equação T x = y possui solução x(y) ∈ X com kx(y)k ≤ Ckyk.

Exercício 109 Seja T : D(T ) ⊂ X → Y um operador linear com X e Y Banach. Considere em D(T ) a norma do
gráfico:
kxkT := kxk + kT xk, x ∈ D(T ).
Demonstre que se T é fechado então (D(T ), k · kT ) é um espaço de Banach.

Exercício 110 Sejam T : D(T ) ⊂ X → Y e T : D(A) ⊂ X → Y dois operadores lineares com X e Y espaços de
Banach. Demonstre que se T é fechado e A é contínuo com D(T ) ⊂ D(A), então T + A é fechado (D(A + T ) =
D(A) ∩ D(T ) = D(T )).

Exercício 111 Sejam X e Y espaços vetoriais normados e T : X → Y um operador fechado. Demonstre que se
K ⊂ X é compacto então T (K) ⊂ Y é fechado.

Exercício 112 Seja X um espaço de Banach e considere um operador linear T : X → X ∗ tal que

T x(x) ≥ 0 para todo x ∈ X.

Demonstre que T é um operador limitado.


Sugestão: utilize o Teorema do Gráfico Fechado.

Exercício 113 Seja X um espaço de Banach e considere um operador linear T : X → X ∗ tal que

T x(y) = Ty(x) ≥ 0 para quaisquer x, y ∈ X.

Demonstre que T é um operador limitado.

Exercício 114 Sejam X e Y dois espaços de Banach e T : D(T ) ⊂ X → Y um operador linear. Dizemos que T
é fechável se T possui uma extensão para um operador fechado. Demonstre que as seguintes afirmações são
equivalentes:

a) T : D(T ) ⊂ X → Y é fechável;

b) o fecho G(T ) de G(T ) é um gráfico;


c) nenhum elemento da forma (0, v), v 6= 0, é limite de elementos da forma (u, Tu).

Exercício 115 Se T : D(T ) ⊂ X → Y é um operador fechável com X e Y espaços de Banach, existe um operador
fechado T̃ com gráfico G(T̃ ) = G(T ). Este operador é chamado de fecho de T. Demonstre que T̃ é a menor
extensão fechada de T. Demonstre ainda que um ponto u ∈ X pertence ao domínio D(T̃ ) se, e somente se, existe
uma sequência (un ) ⊂ D(T ) tal que u = lim un e (Tun ) é de Cauchy.

Exercício 116 Seja T ∈ B(X,Y ) com X e Y espaços de Banach e S : D(S) ⊂ Y → Z um operador fechável com
domínio satisfazendo D(S) ⊃ R(T ), onde Z é também Banach. Demonstre que ST ∈ B(X, Z).
Sugestão: ST é fechável com domínio X, consequentemente fechado.
Capítulo 5

Dualidade, complementos e operadores


lineares

Nossa tarefa neste capítulo é nos aprofundar um pouco mais na teoria de operadores lineares entre espaços de
Banach. Primeiramente, vamos estudar complementos topológicos para subespaços vetoriais e explorar a relação
deste conceito com resultados sobre invertibilidade de operadores limitados. Após isso, vamos retornar ao estudo
de ortogonalidade, definir o adjunto de um operador linear (como domínio não necessariamente sendo um espaço
de Banach) e caracterizar tais operadores através de relações de ortogonalidade.

Décima primeira aula↓

5.1 Complemento topológico e inversão de operadores


Iniciamos esta seção com um resultado geométrico sobre a soma de dois subespaços de um espaço de Banach.

Teorema 5.1.1 Sejam X um espaço de Banach e G e L dois subespaços fechados de X tais que G + L é também
fechado. Então existe uma constante C > 0 tal que todo z ∈ G + L admite uma decomposição da forma z = x + y,
x ∈ G, y ∈ L, e satisfaz as estimativas

kxk ≤ Ckzk e kyk ≤ Ckzk.

Demonstração. Consideremos o espaço G × L munido com a norma k(x, y)k = kxk + kyk e o espaço G + L
munido com a norma herdada de X. A aplicação T : G × L → G + L definida por T (x, y) = x + y é linear, contínua
e sobrejetora. Por hipótese, tanto G × L quanto G + L são espaços de Banach. Segue do Teorema 4.3.4 que existe
δ > 0 tal que
T (BG×L ) ⊃ δ BG+L .

Seja z ∈ G + L, z 6= 0, e definamos
δz
z̃ = .
2kzk
Então existe (x̃, ỹ) ∈ BG×L tal que T (x̃, ỹ) = z̃, isto é,
 2kzk 
T (x̃, ỹ) = z.
δ
Seja então
2kzk
(x, y) = (x̃, ỹ).
δ

61
62 CAPÍTULO 5. DUALIDADE, COMPLEMENTOS E OPERADORES LINEARES

Temos que
2kzk 2kzk
kxk + kyk = k(x, y)k = k(x̃, ỹ)k ≤ .
δ δ
Tomando C = 2/δ vemos que
z = T (x, y) = x + y ∈ G + L
e
kxk ≤ Ckzk, kyk ≤ Ckzk.
Isto conclui a demonstração. 

Como consequência podemos estimar a distância de um ponto ao espaço G ∩ L em função da distância desse
ponto aos espaços G e L.

Corolário 5.1.2 Com as mesmas hipóteses do Teorema 5.1.1, temos que existe C > 0 tal que

dist(x, G ∩ L) ≤ C dist(x, G) + dist(x, L) (5.1)

para todo x ∈ X.

Demonstração. Sejam x ∈ X e ε > 0. Por definição, existem a ∈ G e b ∈ L tais que

kx − ak ≤ dist(x, G) + ε e kx − bk ≤ dist(x, L) + ε.

Seja z = a − b ∈ G + L. Aplicando o Teorema 5.1.1 à z obtemos que existe a0 ∈ G e b0 ∈ L tais que

z = a − b − a0 + b0

e satisfazendo as estimativas
ka0 k ≤ Cka − bk, kb0 k ≤ Cka − bk.
Notando que a − a0 ∈ G ∩ L obtemos:

dist(x, G ∩ L) ≤ kx − (a − a0 )k ≤ kx − ak +Cka − bk
≤ kx − ak +C(kx − ak + kx − bk)
≤ dist(x, G) + ε +C(dist(x, G) + dist(x, L) + 2ε)
≤ C̃(dist(x, G) + dist(x, L)) + (1 + 2C)ε.

Passando ao limite quando ε → 0 obtemos o resultado. 

Seja G um subespaço fechado de um espaço de Banach X. Dizemos que um subespaço fechado L de X é um


complemento topológico de G se G ∩ L = {0} e se G + L = X. Neste caso dizemos ainda que G e L são subespaços
complementares em X.
No caso em que G e L são subespaços complementares em X temos que todo z ∈ X se escreve de maneira
única como z = x + y, com x ∈ G e y ∈ L. Resulta do Teorema 5.1.1 que as projeções z 7→ x e z 7→ y são operadores
lineares contínuos.
De uma maneira mais geral, um operador P ∈ B(X) em um espaço de Banach X é chamado de projeção se
ele é idempotente, ou seja, se P2 = P. Neste caso temos a decomposição em soma direta

X = M + N, M ∩ N = {0},

onde M = PX e N = (IX − P)X. Observe que estes espaços são fechados pois M = ker(IX − P) e N = ker P.
Não é sempre verdade que um subespaço fechado G de um espaço de Banach X possui complemento. Em
outras palavras, o espaço G não precisa ter uma projeção bem definida nele mesmo. Por outro lado, G pode possuir
mais que uma projeção.
5.1. COMPLEMENTO TOPOLÓGICO E INVERSÃO DE OPERADORES 63

O papel do Teorema da Aplicação Aberta na demonstração do Teorema 5.1.1 é essencial, e o fato de G, L


e G + L serem fechados é necessário para sua utilização. Se retirarmos a hipótese de que G e L são subespaços
fechados de X é possível que não tenhamos que a projeção seja contínua. Além disso, utilizando o Lema de Zorn
é possível demonstrar que, dado qualquer subespaço M de um espaço vetorial X, existe um subespaço N de X tal
que X = M + N e M ∩ M = {0}.

Exemplo 5.1.3 Sejam X = C([−a, a]), a > 0, M e N os subconjuntos de X consistindo das funções pares e ímpares
respectivamente. Vamos verificar que M e N são subespaços complementares em X. A projeção P de M ao longo
de N é dada por
1
Pu(x) = (u(x) − u(−x)).
2
Além disso, kPk = kIX − Pk = 1.

Teorema 5.1.4 (Phillips) O subespaço c0 (N) não possui complemento topológico em l∞ (N).

Demonstração. Para cada M ⊂ N, definamos

l∞ (M) := {x = (xn ) ∈ l∞ | xn = 0, n 6∈ M}.

Além disso, para cada f ∈ l∞∗ , definimos a restrição fM = f M .


Fato 1: se os subconjuntos Mk , k ∈ N, são mutuamente disjuntos, então segue da definição das normas em l∞ e l∞∗
que

∑ k fMk k ≤ k f k.
k=1

Suponhamos que c0 possui um complemento topológico em l∞ . Neste caso, existe uma projeção P : l∞ → l∞
com imagem c0 . Para cada k ∈ N, seja f k ∈ l∞∗ o funcional que associa a cada elemento x = (xn ) ∈ l∞ a k–ésima
componente de P(x) ∈ c0 . Denotando por en a sequência que contém 1 na n–ésima entrada e 0 nas demais, vemos
que f k (en ) = 1 se k = n e f k (en ) = 0 se n 6= k.
Vamos construir uma sequência de números naturais n0 < n1 < . . . , e uma sequência de conjuntos infinitos de
números M 0 ⊃ M 1 ⊃ . . . . Colocamos n0 = 1 e M 0 = N. Suponhamos que n0 , . . . , nk e M 0 , . . . , M k foram construí-
dos. Consideremos uma partição arbitrária de M k em conjuntos disjuntos infinitos Mmk+1 , m ∈ N, e os funcionais
n
corresponentes f nk e f kk+1 . Pela convergência da série de normas dos funcionais, temos que existe m ∈ N tal que
Mm
n
k f kk+1 k < 1/2 e n0 , . . . , nk 6∈ Mmk+1 . Tomamos M k+1 como sendo Mmk+1 , considere um N ∈ M k+1 arbitrário tal que
Mm
N > nk e tomamos nk+1 = N.
Denotemos por yk a sequência com 1 nas posições nk , nk+1 , . . . e 0 nas demais posições. Seja y = y1 . Observe-
mos que y = en1 + . . . + enk + yk+1 , yk+1 ∈ M k+1 , e kyk+1 k = 1 para todo k. Então, f nk (en1 ) = . . . = f nk (enk−1 ) = 0
e f nk (enk ) = 1. Dessa forma, pela escolha de cada M k+1 , temos que | f nk (y)| = |1 + f nk (yk+1 )| > 1/2. Mas f nk (y)
é a nk –ésimo termo da sequência P(y) ∈ c0 , e assim f nk (y) → 0 quando k → ∞. Isto nos dá uma contradição. 

É possível demonstrar que um subespaço fechado G de um espaço normado X possui complemento topológico
em X se, e somente se, todo operador limitado T0 : G → Y, onde Y é um espaço linear arbitrário, possui uma exten-
são a um operador limitado T : X → Y. O exemplo dado pelo Teorema 5.1.4 nos diz que mesmo no caso de espaços
de Banach, nem todo operador linear definido em um subespaço vetorial possui uma extensão limitada. Em outras
palavras, o espaço F no Teorema de Hahn–Banach não pode ser substituído por um espaço de Banach arbitrário.
Por outro lado, um resultado de Lindenstrauss e Tzafriri (veja [8]) nos diz que, se X for um espaço de Banach,
então todo subespaço fechado de X possui um complemento topológico se, e somente se, X é topologicamete
isomorfo a um espaço de Hilbert.
A noção de complemento em espaços de Banach está relacionada com inversão de operadores lineares con-
tínuos.
Sejam X e Y dois espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ). Dizemos que S ∈ B(Y, X) (respectivamente, S ∈
B(X,Y )) é o inverso a direita de T (respectivamente, inverso a esquerda de T ) se T S = IY (respectivamente,
ST = IX ). Denotamos por IX e IY o operador identidade em X e em Y.
64 CAPÍTULO 5. DUALIDADE, COMPLEMENTOS E OPERADORES LINEARES

Teorema 5.1.5 Sejam X e Y dois espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ) sobrejetivo. As seguintes afirmações são
equivalentes:

a) T admite inverso a direita;

b) ker T admite complemento topológico em X.

Demonstração. Suponhamos inicialmente que S ∈ B(Y, X) seja o inverso a direita de T. Como T é contínuo, o
espaço ker T é fechado em X. Vamos demonstrar que R(S) = S(Y ) é um complemento topológico de ker T.
Dado z ∈ X, podemos escrever
z = (z − ST z) + ST z,
com T (z − ST z) = T z − (T S)T z = 0, ou seja, z − ST z ∈ ker T e ST z ∈ R(S). Por outro lado, se x ∈ ker T ∩ R(S),
então existe y ∈ Y com Sy = x e T x = 0. Assim, y = T Sy = T x = 0, ou seja, 0 = Sy = x e ker T ∩ R(S) = {0}.
Falta demonstrar que R(S) é fechado. Seja x ∈ R(S) e (xn ) ⊂ R(S) uma sequência tal que xn → x quando
n → ∞. Existe uma sequência (yn ) ⊂ Y tal que Syn = xn para cada n. Por continuidade temos que yn = T Syn =
T xn → T x e Syn → x quando n → ∞. Portanto, Syn → ST x, o que implica em S(T x) = x. Mas daí x ∈ R(S).
Suponhamos agora que ker T possui complemento topológico em Y denotado por L. Pelo Teorema 5.1.1 a
projeção P de X sobre L é limitada. Dado w ∈ Y, seja x ∈ X uma solução de T x = w que satisfaz

kxk ≤ C1 kwk, (5.2)

o que é possível utilizando o Teorema da Aplicação Aberta como na demonstração do Teorema 5.1.1. Definamos
S : Y → X por Sw = Px. Verifiquemos que S está bem definida, isto é, independe da escolha de x. De fato, se
x = a + b e x0 = a0 + b0 são soluções de T x = w com a, a0 ∈ ker T e b, b0 ∈ L, então Sw = b e Sw = b0 ; mas
T x = Ta + T b = T b e T x0 = T b0 ; portnato, T b = T b0 = w e T (b − b0 ) = 0, ou seja, b − b0 ∈ ker T ∩ L = {0}; assim,
b = b0 e S está bem definido.
Verifiquemos a linearidade de S. Sejam w, v ∈ Y e x, y ∈ X com T x = w e Ty = v. Então

Sw + Sv = Px + Py = P(x + y).

Como T (x + y) = T x + Ty = w + v, temos que S(w + v) = P(x + y) = Sw + Sy.


Para demonstrar a continuidade de S usamos a continuidade de P e a desigualdade (5.2) para estimar:

kSwk = kPxk ≤ Ckxk ≤ CC1 kwk.

Finalmente, observemos que


T Sw = T (Px),
onde T x = w. Logo,
T Sw = T (Px) = T x = w,
já que, se x = a + b com a ∈ ker T e b ∈ L, então T (Px) = T x. Concluímos que T S = IY . 

Décima segunda aula↓

Teorema 5.1.6 Sejam X e Y dois espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ) injetivo. As seguintes afirmações são equiv-
alentes:

a) T admite inverso a esquerda;

b) R(T ) = T (X) é fechada e admite complemento topológico em Y.

Demonstração. Seja S ∈ B(Y, X) tal que ST = IX . Vamos demonstra que R(T ) é fechada. Seja y ∈ R(T ) e
(yn ) ⊂ R(T ) com yn → y quando n → ∞. Existe uma sequência (xn ) ⊂ X tal que T xn = yn para cada n ∈ N. Por
continuidade, xn = ST xn → Sy e T xn → T Sy. Assim, y = lim T xn = T (Sy) e y ∈ R(T ).
5.2. ORTOGONALIDADE REVISITADA 65

Verifiquemos agora que ker S, que é fechado pela continuidade de S, é o complemente topológico de R(T ).
Para cada y ∈ Y podemos escrever y = (y − T Sy) + T Sy e, notando que S(y − T Sy) = Sy − (ST )Sy = 0, vemos
que Y = ker S + R(T ). Mas se y ∈ ker S ∩ R(T ), então Sy = 0 e existe x ∈ X com T x = y, o que implica que
x = ST x = Sy = 0, ous eja, x = 0 e y = T x = 0. A conclusão é que ker S ∩ R(T ) = {0}.
Suponhamos agora que A = R(T ) seja fechado e que possui complemento topológico B. Seja P a projeção
sobre A ao longo de B. Então todo y ∈ Y se escreve de maneira única como y = a + b, a ∈ A, b ∈ B, e Py = a.
Definamos S : Y → X por Sy = x, onde x é a única solução de T x = Py. Notemos que, para todo x ∈ X, ST x = u,
onde Tu = P(T x). Como T x ∈ A, segue que P(T x) = T x, ou seja, Tu = T x. Segue da injetividade de T que
x = u = ST x, ou seja, ST = IX . Para obtermos a continuidade de S, observamos que, sendo R(T ) fechado em Y,
temos que R(T ) é Banach com a norma induzida. Como T pode ser visto como um operador bijetivo de X em
R(T ), vemos que T −1 : R(T ) → X é contínuo. Mas daí, kxk = kT −1 Pxk ≤ Ckyk. Isso implica que

kSyk = kxk ≤ Ckyk,

e S é limitado. 

5.2 Ortogonalidade revisitada


Necessitaremos de mais resultados sobre ortogonalidade entre subespaços de espaços de Banach.

Proposição 5.2.1 Sejam G e L dois subespaços fechados do espaço de Banach X. Então

G ∩ L = (G⊥ + L⊥ )⊥ ; (5.3)
⊥ ⊥ ⊥
G ∩ L = (G + L) . (5.4)

Demonstração. Seja f ∈ G⊥ + L⊥ . Então f = f1 + f2 , com f1 ∈ G⊥ , f2 ∈ L⊥ e, se x ∈ G ∩ L, teremos f (x) =


f2 (x) + f2 (x) = 0, ou seja, x ∈ (G⊥ + L⊥ )⊥ . Para ainclusão contrária, observemos inicialmente que se N1 ⊂ N2 ,
então N2⊥ ⊂ N1⊥ . Assim, como G⊥ ⊂ G⊥ + L⊥ , temos (G⊥ + L⊥ )⊥ ⊂ G⊥⊥ = G. Analogamente, (G⊥ + L⊥ )⊥ ⊂ L
e portanto (G⊥ + L⊥ )⊥ ⊂ G ∩ L. Isto demonstra (5.3).
Seja agora f ∈ (G + L)⊥ . Então f (x + y) = 0 sempre que x ∈ G e y ∈ L. Assim, f (x) = f (x + 0) = 0 =
f (0 + y) = f (y) se x ∈ G e y ∈ L. Segue que f ∈ G⊥ ∩ L⊥ . Reciprocamente, se f ∈ G⊥ ∩ L⊥ e tivermos x ∈ G e
y ∈ L,, então f (x + y) = 0 e f ∈ (G + L)⊥ . Assim, temos a validade de (5.4). 

Corolário 5.2.2 Sejam G e L dois subespaços do espaço de Banach X. Então:

(G ∩ L)⊥ ⊃ G⊥ + L⊥ ; (5.5)
⊥ ⊥ ⊥
(G ∩ L ) = G + L. (5.6)

Demonstração. Basta utilizar a Proposição 3.4.1 e as igualdades (5.5) e (5.6). 

Teorema 5.2.3 Sejam G e L dois subespaços fechados do espaço de Banach X. As seguintes afirmações ão equi-
valentes:

a) G + L é fechado em X;
b) G⊥ + L⊥ é fechado em X ∗ ;
c) G + L = (G⊥ ∩ L⊥ )⊥ ;
d) G⊥ + L⊥ = (G ∩ L)⊥ .

Demonstração. Demonstremos inicialmente que a) e c) são equivalentes. De fato, se tivermos que G + L é


fechado, então por (5.6):
(G⊥ ∩ L⊥ )⊥ = G + L = G + L;
66 CAPÍTULO 5. DUALIDADE, COMPLEMENTOS E OPERADORES LINEARES

reciprocamente, valendo c), como (G⊥ + L⊥ )⊥ é sempre fechado, temos que G + L = G + L.


Observemos agora que d) implica em b), já que se G⊥ + L⊥ = (G ∩ L)⊥ , então G⊥ + L⊥ é fechado em X ∗ .
Agora demonstraremos que a) implica em d), onde teremos que utilizar a estimativa do Teorema 5.1.1. A
igualdade (5.3) implica que (G ∩ L)⊥ ⊃ G⊥ + L⊥ . Precisamos então demonstrar a inclusão inversa. Para isso, seja
f ∈ (G ∩ L)⊥ . Definamos ϕ : G + L → R da seguinte maneira:

ϕ(x) = f (a), onde x = a + b, a ∈ G, b ∈ L.

Primeiro verifiquemos que ϕ independe da decompisção de x. De fato, se x = a + b = a0 + b0 , a, a0 ∈ G, b, b0 ∈ L,


então a − a0 , b − b0 ∈ G ∩ L e, como f ∈ (G ∩ L)⊥ , temos que f (a − a0 ) = 0, isto é, f (a) = f (a0 ). Além disso,
a linearidade de f implica na linearidade de ϕ. Pelo Teorema 5.1.1 podemos tomar uma decomposição de x de
maneira que kak ≤ Ckxk, ou seja,

kϕ(x)k ≤ Ckxk, para todo x ∈ G + L.

Assim, ϕ é contínua em G + L e, utilizando Hahn-Banacch, podemso estender ϕ a um funcional linear ϕ̃ ∈ X ∗ .


Escrevemos
f = ( f − ϕ̃) + ϕ̃.
Notemos que se x ∈ G, então x = x + 0 ∈ G + L e ( f − ϕ̃)(x) = f (x) − ϕ(x) = 0, ou seja, f − ϕ̃ ∈ G⊥ . Se y ∈ L,
então y = 0 + y ∈ G + L e ϕ̃(y) = ϕ(y) = f (0) = 0 e ϕ̃ ∈ L⊥ . Como f ∈ (G ∩ L)⊥ é arbitrário, temos que (G ∩ L)⊥ ⊂
G⊥ + L ⊥ .
Nos resta demonstrar que b) implica em a). Esta implicação será obtida em vários passos.

Passo 1. Como G⊥ + L⊥ é fechado em X ∗ , o Corolário 5.1.2 nos diz que existe uma constante C > 0 tal que

dist( f , G⊥ ∩ L⊥ ) ≤ C dist( f , G⊥ ) + dist( f , L⊥ ) , para qualquer f ∈ X ∗ .



(5.7)

Necessitaremos de um lema auxiliar que caracteriza a distância entre um funcional limitado e o ortogonal de
um subespaço fechado.

Lema 5.2.4 Seja M um subespaço fechado do espaço de Banach X. Então

dist( f , M ⊥ ) = sup{ f (x) | x ∈ M, kxk ≤ 1}, para qualquer f ∈ X ∗ .

Aplicando o Lema 5.2.4 aos espaços G, L, e G + L e usando que (G + L)⊥ = G⊥ ∩ L⊥ obtemos as seguintes
igualdades:

dist( f , G⊥ ) = sup{ f (x) | x ∈ G, kxk ≤ 1}, (5.8)


dist( f , L⊥ ) = sup{ f (x) | x ∈ L, kxk ≤ 1}, (5.9)
⊥ ⊥
dist( f , G ∩ L ) = sup{ f (x) | x ∈ G + L, kxk ≤ 1}, (5.10)

as quais são válidas para qualquer f ∈ X ∗ . Cominando (5.7)–(5.10) encontramos



sup{ f (x) | x ∈ G + L, kxk ≤ 1} ≤ C sup{ f (x) | x ∈ G, kxk ≤ 1} + sup{ f (x) | x ∈ L, kxk ≤ 1} , (5.11)

para qualquer f ∈ X ∗ .

Afirmação 1: denotando por BM a bola de centro 0 e raio 1 em um espaço vetorial normado M, se C > 0 é a
constante de (5.11), então
BG + BL ⊃ C−1 BG+L . (5.12)

Faremos a demonstração da Afirmação 1 logo adiante. Por enquano, consideremos o espaço E = G × L


munido com a norma
k(x, y)k := max{kxk, kyk},
5.2. ORTOGONALIDADE REVISITADA 67

e F = G + L com a norma induzida de X. A aplicação T : E → F definida por T (x, y) = x + y é linear e

kT (x, y)k ≤ kxk + kyk ≤ 2 max kxk, kyk = 2k(x, y)k,

ou seja, T é limitada. Além disso, por (5.12) temos que

T (BE ) = BG + BL ⊃ C−1 BF . (5.13)

Para finalizar, faremos mais uma afirmação.

Afirmação 2: com C sendo a constante de (5.13) temos que

T (BE ) ⊃ (2C)−1 BF .

Agora, pela Afirmação 2, para qualquer z ∈ F, z 6= 0, como (2Ckzk)z ∈ BF , temos que existe x ∈ BE tal que
z
Tx = ,
2Ckzk

ou seja, T (2Ckzkx) = z e T é sobrejetiva. Mas então

G + L = T (E) = F = G + L,

e G + L é fechado. Isto conclui a demontração do teorema, a menos das afirmações 1 e 2 e do Lema 5.2.4. 

Demonstração da Afirmação 2. Usaremos as ideias do Teorema 4.3.4. Suponhamos que T (BE ) ⊃ 2δ BF , para
algum δ > 0. Seja y ∈ F fixo com k2yk < 2δ . Dado ε > 0, existe z0 ∈ E com kz0 k < 1 e k2y − T z0 k < 2ε, isto é,
existe z ∈ E com kzk < 1/2 e ky − T zk < ε. Utilizando este fato podemos utilizarum processo indutivo:

• tomando ε = δ /2 temos que existe z1 ∈ E, kz1 k < 1/2 com ky − T z1 k < δ /2;
• aplicando o procedimento inicial a y − T z1 e tomando ε = δ /4 temos que existe z2 ∈ E, kz2 k < 1/4 com
k(y − T z1 ) − z2 k < δ /4;
• continuando este processo, obtemos uma sequência (zn ) ⊂ E tal que, para cada n ∈ N,

1 δ
kzn k < , ky − T (z1 + . . . + zn )k < .
2n 2n

Observemos que a sequência (xn ) definida por xn = z1 + . . . + zn é de Cauchy. Portanto, xn → x ∈ E e


n
1
kxk = lim kxn k ≤ kz1 k + lim ∑ kzi k ≤ kz1 k + < 1.
i=2 2

Segue que kxk < 1 e T x = y pela continuidade de T, ouse seja, δ BF ⊂ T (BE ). A Afirmação 2 segue se tomarmos
δ = 1/(2C). 

Décima terceira aula↓

Demonstração da Afirmação 1. Suponhamos por contradição que exista x0 ∈ G + L com kx0 k < 1/C mas x0 6∈
BG + BL . Dessa forma, poderíamos separar estritamente {x0 } e BG + BL com um hiperplano fechado em X. Dito
de outra forma, existiriam f ∈ X ∗ e α ∈ R tais que

f (x) < α < f (x0 ), para todo x ∈ BG + BL ,

ou seja,
f (a) + f (b) < α < f (x0 ), para quaisquer a ∈ BG , b ∈ BL .
68 CAPÍTULO 5. DUALIDADE, COMPLEMENTOS E OPERADORES LINEARES

Tomando o sup em a ∈ BG e depois em b ∈ BL encontramos

sup{ f (x) | x ∈ G, kxk < 1} + sup{ f (x) | x ∈ L, kxk < 1} ≤ α < f (x0 )

Multiplicando por C ambos os lados dessa desigualdade obtemos



C sup{ f (x) | x ∈ G, kxk < 1} + sup{ f (x) | x ∈ L, kxk < 1} < f (Cx0 ),

e Cx0 ∈ G + L com kCx0 k < 1, o que contradiz (5.11). 

Na demonstração do Lema 5.2.4 necessitaremos ainda de outro lema.

Lema 5.2.5 Seja M um subespaço fechado de um espaço de Banach X. Então

dist(x, M) = sup{ f (x) | f ∈ M ⊥ , k f k < 1},

para qualquer x ∈ X.

Demonstração. Por definição temos que

dist(x, M) = inf{kx − yk; y ∈ M}.

Se f ∈ M ⊥ e y ∈ M então f (x) = f (x − y), ou seja

| f (x)| ≤ k f kkx − yk,

ou seja, se k f k ≤ 1,
sup{| f (x)| | f ∈ M ⊥ , k f k ≤ 1} ≤ dist(x, M).
Vamos demonstrar que vale a igualdade.
Se dist(x, M) = 0 então x ∈ M = M e f (x) = 0 para qualquer f ∈ M ⊥ . Assim, podemos assumir que x ∈ X \M.
Definamos o funcional ϕ : [M ∪ {x}] → R por

ϕ(y + αx) = α dist(x, M).

Observemos que ϕ(x) = dist(x, M) e que ϕ é linear. Além disso, se y + αx ∈ [M ∪ {x}] e α 6= 0,

|α dist(x, M)| = | inf{k|α|x − |α|y0 k; y0 ∈ M}


|α|y
≤ |α|x +


α
|α|
= kαx + yk,
|α|
o que implica que ϕ é contínuo em M. Além disso, kϕk = 1.
Seja f ∈ X ∗ uma extensão de ϕ com k f k = kϕk = 1 dada pelo Teorema de Hahn–Banach. Notemos que
f (x) = dist(x, M) e f M = ϕ M = 0. Assim, a distância para algum f ∈ M ⊥ .



Finalmente podemos demonstrar o Lema 5.2.4.

Demonstração do Lema 5.2.4. Pelo Lema 5.2.5 podemos escrever

dist( f , M ⊥ ) = sup{x∗∗ ( f ) | x∗∗ ∈ M ⊥⊥ , kx∗∗ k ≤ 1} (5.14)

para qualquer f ∈ X ∗ . Seja J : X → X ∗∗ a imersão canônica e lembremos que kJxk = kxk. Usando em (5.14)
somente os x∗∗ da forma x∗∗ = Jx para algum x ∈ X vemos que

sup{ f (x) | x ∈ M; kxk ≤ 1} ≤ dist( f , M ⊥ ).


5.3. ADJUNTO DE OPERADORES LINEARES 69

Falta demonstrar a desigualdade inversa. Para tanto, vamos verificar que existe g ∈ M ⊥ tal que

k f − gk = k f kM∗ .

Disso seguirá que


dist( f , M ⊥ ) ≤ k f − gk = k f kM∗ = sup{ f (x) | x ∈ M; kxk ≤ 1}.
Fixado f ∈ X ∗ , definamos f1 = f M . Pelo Teorema de Hahn–Banach, existe uma extensão de f1 , denotada

por f2 ∈ X ∗ tal que


k f2 kX ∗ = k f kM∗ .
Definamos então g = f − f1 . 

Observação 5.2.6 Um caso particular do Lema 5.2.5 é quando M = {0}, o que nos dá

kxk = sup{ f (x) | f ∈ X ∗ , k f k ≤ 1}.

Já se aplicarmos o Lema 5.2.4 ao caso em que M = X obtemos

k f k = sup{ f (x) | x ∈ X, kxk ≤ 1}.

5.3 Adjunto de operadores lineares


Sejam X e Y espaços de Banach. Vamos considerar nesta seção operadores lineares A : D(A) ⊂ X → Y em que
D(A) é um subespaço de X, isto é, operadores lineares para os quais o domínio não é todo o espaço. Mesmo nesse
caso, diremos que A é limitado se existe uma constante C > 0 tal que

kAuk ≤ Ckuk, para todo u ∈ D(A).

Na maioria das situações teremos que A é um operador fechado com domínio denso, isto é, o gráfico de A, denotado
por G(A) ⊂ X ×Y é fechado e D(A) = X.
Seja A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear fechado com domínio denso. Vamos definir um opereador linear
A∗ : D(A∗ ) ⊂ Y ∗ → X ∗ associado à A da seguinte maneira:

• definimos o domínio de A∗ como sendo o subespaço

D(A∗ ) := {v ∈ Y ∗ | existe C > 0 tal que |v(Au)| ≤ Ckuk, para todo u ∈ D(A)};

• dado v ∈ D(A∗ ), consideremos o funcional linear g : D(A) → R definido por

g(u) = v(Au), u ∈ D(A),

e observemos que |g(u)| ≤ Ckuk;


• como D(A) é denso em X, existe uma única extensão linear f de g para todo X que satisfaz também

| f (u)| ≤ Ckuk, para todo u ∈ X,

ou seja, f ∈ X ∗ ;
• finalmente definimos
A∗ v = f .

Observemos que a linearidade de A∗ segue da unicidade da extensão de g. Além disso, vemos que não é
necessário utilizar o Teorema de Hahn–Banach para encontrar f extensão de g.
O operador A∗ : D(A∗ ) ⊂ Y ∗ → X ∗ é chamado de operador adjunto de A. Utilizando-nos da notação de
dualidade f (x) = h f , xi para a ação de um funcional em x ∈ X, temos a seguinte relação fundamental entre A e A∗ :

hv, Aui = hA∗ v, ui, sempre que u ∈ D(A), v ∈ D(A∗ ).


70 CAPÍTULO 5. DUALIDADE, COMPLEMENTOS E OPERADORES LINEARES

Proposição 5.3.1 Sejam X e Y espaços de Banach e A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear com domínio denso,
ou seja, D(A) = X. Então A∗ é fechado, isto é, G(A∗ ) é fechado em Y ∗ × X ∗ .

Demonstração. Seja (vn ) ⊂ D(A∗ ) tal que vn → v em Y ∗ e A∗ vn → f em X ∗ . Precisamos demonstrar que

v ∈ D(A∗ ) e A∗ v = f .

Notemos que
hvn , Aui = hA∗ vn , ui, para todo u ∈ D(A).
No limite obtemos
hv, Aui = h f , ui, para todo u ∈ D(A).
Como f ∈ X ∗ ,
|hv, Aui| = |h f , ui| ≤ Ckuk, para todo u ∈ D(A).
Segue que v ∈ D(A∗ ). Por outro lado,

hA∗ v, ui = hv, Aui = h f , ui, para todo u ∈ D(A),

e A∗ v = f , o que finaliza a demonstração. 

Exemplo com um operador diferencial

Vamos apresentar as ideias gerais sobre um exmeplo interessante de operador linear e de seu adjunto. Para apre-
sentarmos este exemplo, lembremos que se uma função f é absolutamente contínua em um intervalo [a, b], então
a derivada f 0 existe em quase todo ponto de [a, b] e é uma função integrável, isto é, f 0 ∈ L1 [a, b]. Além disso,
Z x
f (x) = f (a) + f 0 (t)dt
a

para todo x ∈ [a, b]. Vale também a fórmula de integração por partes: sempre que f e g são absolutamente contínuas
em [a, b] vale
Z b Z b
f (t)g0 (t)dt + f 0 (t)dt = f (b)g(b) − f (a)g(a).
a a

Para definirmos o operador T, começamos pelo seu domínio. Definamos o subespaço de L2 [0, 2π] por

D(T ) = f ∈ L2 [0, 2π] | f é absolutamente contínua , f (0) = f (2π) = 0, f 0 ∈ L2 [0, 2π] .




O subespaço D(T ) é denso em L2 [0, 2π].1


Para cada f ∈ D(T ), definamos
T f = f 0.
Claramente T é um operador linear. Além disso, podemos adaptar o exemplo dado na Seção 4.3.1 para demons-
trarmos que T é fechado.
Agora, lembremos que o Exercício 48 nos diz que um funcional ϕ ∈ (L2 [0, 2π])∗ é caracterizado por
Z 2π
ϕ( f ) = f (t)h(t)dt,
0

para alguma h ∈ L2 [0, 2π]. Por outro lado, para encontrarmos T ∗ necessitamos estudar a relação fundamental

hg, T f i = hT ∗ g, f i

para f ∈ D(T ) e g ∈ D(T ∗ ). Suponhamos que g, g∗ ∈ L2 [0, 2π] são tais que

hg, T f i = hg∗ , f i
1 Este fato pode ser demonstrar utilizando-se a teoria de espaços de Hilbert que veremos adiante e escolhendo uma base de Schauder

específica para L2 [0, 2π] contida em D(T ), mas podemos também verificar de outras formas.
5.3. ADJUNTO DE OPERADORES LINEARES 71

para qualquer f ∈ D(T ). Temos por um lado que


Z 2π
hg∗ , f i = hg, T f i = hg, f 0 i = f 0 (t)g(t)dt,
0

e, por outro lado:


Z 2π
hg∗ , f i = f (t)g∗ (t)dt.
0
Se definirmos Z t
g∗∗ (t) = g∗ (s)ds,
0
usando integração por partes obtemos:
Z 2π 2π Z 2π
∗ ∗∗ 0 ∗∗
hg , f i = f (t)(g (t)) dt = f (t)g (t) − f 0 (t)g∗∗ (t)dt.

0 0 0

Como f ∈ D(T ), temos que f (0) = f (2π) = 0. Segue que


Z 2π
f 0 (t) g(t) + g∗∗ (t) dt = 0,

para qualquer f ∈ D(T ).
0

Lema 5.3.2 Suponha que


Z 2π
f 0 (t) g(t) + g∗∗ (t) dt = 0,

para qualquer f ∈ D(T ).
0

Então g(t) + g∗∗ (t) = c para alguma constante c em quase todo t ∈ [0, 2π].

Observemos agora que g∗ ∈ L2 [0, 2π] ⊂ L1 [0, 2π]. Como g∗∗ , é a integral de uma função em L1 [0, 2π], temos
que g∗∗é absolutamente contínua. Pelo Lema 5.3.2, g = c − g∗∗ , e portanto g também é absolutamente contínua.
Além disso,
g0 (t) + g∗ (t) = 0, para quase todo t ∈ [0, 2π].
Segue que g0 ∈ L2 [0, 2π].
Conclusão: se g, g∗ ∈ L2 [0, 2π] são tais que

hg, T f i = hg∗ , f i

para qualquer f ∈ D(T ), então g é absolutamente contínua e g0 ∈ L2 [0, 2π]. Definimos então

D(T ∗ ) = g ∈ L2 [0, 2π] | g é absolutamente contínua , g0 ∈ L2 [0, 2π] ,




e daí
T ∗ g = g∗ = −g0 , g ∈ D(T ∗ ).

Demonstração do Lema 5.3.2. Seja h(t) = g(t) + g∗∗ (t) e suponhamos que
Z 2π
f 0 (t)h(t)dt = 0, para qualquer f ∈ D(T ).
0

Observemos que h ∈ L2 [0, 2π] ⊂ L1 [0, 2π]. Seja f0 uma função definida em [0, 2π] tal que
0
f1 (t) = h(t) − c,
0
onde c é uma constante que ainda será determinada. Então f1 ∈ L2 [0, 2π] e
Z x Z x
f1 (x) = h(t)dt − cdt.
0 0
72 CAPÍTULO 5. DUALIDADE, COMPLEMENTOS E OPERADORES LINEARES

Segue que f é absolutamente contínua em [0, 2π] e, além disso, f1 (0) = 0. Escolhemos agora c de maneira que
f (2π) = 0. Assim, f1 ∈ D(T ). Por outro lado,
Z 2π Z 2π Z 2π
|h(t) − c|2 dt = (h(t) − c)h(t)dt − c h(t)dt + c2 2π
0 0 0
Z 2π Z 2π Z 2π 
0
= f (t)h(t)dt − c h(t)dt − cdt
0 0 0
= 0 − c f1 (2π) = 0.
Vemos então que
h(t) − c = 0, para quase todo t ∈ [0, 2π].
Isto finaliza a demonstração do lema. 

Décima quarta aula↓

Gostaríamos agora de investigar as relações de ortogonalidade entre a imagem e o núcleo dos operadores A
e A∗ . Para isto, definimos uma aplicação auxiliar I˜ : Y ∗ × X ∗ → X ∗ ×Y ∗ por
˜ f ) = (− f , v).
I(v,

Proposição 5.3.3 Seja A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear com domínio denso. Então temos que

˜
I(G(A )) = G(A)⊥ .

Demonstração. Seja (v, f ) ∈ Y ∗ ×X ∗ . Observe que (v, f ) ∈ G(A∗ ) se, e somente se, −h f , ui+hv, Aui = 0 para todo
u ∈ D(A). Mas isso é equivalente a dizer que (− f , v) ∈ G(A)⊥ , pois temos a caracterização (X ×Y )∗ = X ∗ ×Y ∗ .
Isso conclui a demonstração. 

Proposição 5.3.4 Seja A : D(A) ⊂ X → Y um operador fechado com domínio denso, onde X e Y são espaços de
Banach, e A∗ : D(A∗ ) ⊂ Y ∗ → X ∗ seu adjunto. Defina
G = G(A), L = X × {0}.
Então:
ker A × {0} = G ∩ L; (5.15)
X × R(A) = G + L; (5.16)
∗ ⊥ ⊥
{0} × ker A = G ∩ L ; (5.17)
R(A∗ ) ×Y ∗ = G⊥ + L⊥ . (5.18)

Demonstração. Para (5.15) temos:


G ∩ L = {(u, Au) | u ∈ D(A), Au − 0} = {(u, 0) | u ∈ D(A), A(u) = 0} = ker A × {0}.
Analogamente,
G + L = {(u, Au) + (w, 0) | u ∈ D(A), w ∈ X} = {(u + w, Au) | u ∈ D(A), w ∈ X} = X × R(A),
e segue (5.16). Notando que L⊥ = {0} ×Y ∗ que vale (5.17):
G⊥ ∩ L⊥ = {(− f , v) | A∗ v = f , f = 0} = {0} × ker A∗ .
Finalizando,
G⊥ + L⊥ = {(− f , v) + (0, m) | A∗ v = f , m ∈ Y ∗ } = {(−A∗ v, v + m) | m ∈ Y ∗ , v ∈ D(A∗ )} = R(A∗ ) ×Y ∗ ,
e vale (5.18). 

Como consequência da Proposição 5.3.4 temos as relações de ortogonalidade entre o núcleo e a imagem de
um operador e de seu adjunto.
5.3. ADJUNTO DE OPERADORES LINEARES 73

Corolário 5.3.5 Sejam X e Y espaços de Banach e A : D(A) ⊂ X → Y um operador fechado com domínio denso
sendo A∗ : D(A∗ ) ⊂ Y ∗ → X ∗ seu adjunto. Então se verifica:

a) ker A = R(A∗ )⊥ ;
b) ker A∗ = R(A)⊥ ;
c) (ker A)⊥ ⊃ R(A∗ );
d) (ker A∗ ) = R(A).

Demonstração. Por (5.18), (5.5) e (5.15) temos:


(R(A∗ ) ×Y ∗ )⊥ = R(A∗ )⊥ × {0} = (G⊥ + L⊥ )⊥ = G ∩ L = ker A × {0},
o que nos dá ker A = R(A∗ )⊥ , isto é, vale o item a).
Utilizando (5.16), (5.6) e (5.17) temos:
(X × R(A))⊥ = {0} × R(A)⊥ = (G + L)⊥ = G⊥ ∩ L⊥ = {0} × ker A∗ ,
de onde segue que o item b): ker A∗ = R(A)⊥ .
O item c) segue do item a), pois
(ker A)⊥ = (R(A∗ )⊥ )⊥ ⊃ R(A∗ ).

Já pelo item b) obtemos


(ker A∗ )⊥ = (R(A)⊥ )⊥ = R(A),
ou seja, obtemos o item d). 

Vejamos uma consequência importante dos resultados anteriores.

Teorema 5.3.6 Sejam X e Y dois espaços de Banach e A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear fechado com domínio
denso. Então as seguintes propriedades são equivalentes:

a) R(A) é fechado;
b) R(A∗ ) é fechado;
c) R(A) = (ker A∗ )⊥ ;
d) R(A∗ ) = (ker A)⊥ .

Demonstração. Continuemos com a notação G = G(A), L = X × {0} e lembremos que o produto cartesiano é
fechado se, e somente se, cada fator é fechado. Pelo que já vimos temos:

• R(A) é fechado se, e somente se, X × R(A) = G + L é fechado;


• R(A∗ ) é fechado se, e somente se, R(A∗ ) ×Y ∗ = G⊥ + L⊥ é fechado;
• R(A) = (ker A∗ )⊥ é equivalente a X × R(A) = X × (ker A∗ )⊥ , que por sua vez é equivalente a
G + L = (G⊥ + L⊥ )⊥ ,
já que X × (ker A∗ )⊥ = ({0} × ker A∗ )⊥ e G + L = X × R(A).
• R(A∗ ) = (ker A)⊥ é equivalente a R(A∗ ) ×Y ∗ = (ker A)⊥ ×Y ∗ , ou ainda, equivalentemente,
G⊥ + L⊥ = (G ∩ L)⊥ ,
uma vez que (ker A × {0})⊥ = (ker A)⊥ ×Y ∗ e G⊥ + L⊥ = R(A∗ ) ×Y ∗ .

Utilizando estas maneiras equivalentes de reescrevermos os itens a)–d) aplicamos o Teorema 5.2.3 para
concluir a demonstração. 
74 CAPÍTULO 5. DUALIDADE, COMPLEMENTOS E OPERADORES LINEARES

5.4 Operadores lineares sobrejetivos


O próximo resultado é importante em certas aplicações e caracteriza operadores lineares sobrejetivos.

Teorema 5.4.1 (Método de estimativas a priori) Sejam X e Y espaços de Banach e A : D(A) ⊂ X → Y um ope-
rador linear fechado com domínio denso. Então as seguintes propriedades são equivalentes:

a) A é sobrejetivo;

b) existe uma constante C > 0 tal que

kvk ≤ CkA∗ vk, para todo v ∈ D(A∗ );

c) ker A∗ = {0} e R(A∗ ) é fechado.

Demonstração. Verifiquemos que a) implica em c). De fato, se R(A) = Y, pelo Corolário 5.3.5 que ker A∗ =
Y ⊥ = {0}; mas daí, (ker A∗ )⊥ = Y = R(A) e pelo Teorema 5.3.6 temos que R(A∗ ) é fechado.
Agora vejamos que c) implica em a). Ora, sendo R(A∗ ) fechado, o Teorema 5.3.6 nos diz que R(A) =
(ker A∗ )⊥ , e portanto, se ker A∗ = {0}, vemos que R(A) = {0}⊥ = Y.
Demonstraremos a seguir que b) implica em c). Notemos inicialmente que se kvk ≤ CkA∗ vk = 0, então v = 0,
ou seja, ker A∗ = {0}. Para demonstrarmos que R(A∗ ) é fechado, tomemos (vn ) ⊂ R(A∗ ) com vn → v em X ∗ . Se
(un ) ⊂ Y ∗ é tal que A∗ un = vn , temos que

kun − um k ≤ CkA∗ un − A∗ um k → 0, quando n, m → ∞.

Portanto, (un ) é de Cauchy em Y ∗ , convergindo para u ∈ Y ∗ . Como A∗ é fechado (pois A é fechado com domínio
denso), obtemos que u ∈ D(A∗ ) e A∗ u = v. Portanto, v ∈ R(A∗ ) e assim R(A∗ ) é fechado.
Finalmente veremos que c) implica em b). Utilizando novamente a notação G = G(A) e L = X × {0} e as
igualdades (5.17) e (5.18) obtemos
G⊥ ∩ L⊥ = {0} × ker A∗ = {0}
e
G⊥ + L⊥ = R(A∗ ) ×Y ∗ ,
o que nos diz que G⊥ + L⊥ é fechado. Pelo Teorema 5.1.1, existe uma constante C > 0 tal que todo zinG⊥ + L⊥ se
decompõe de maneira única (pois G⊥ ∩ L⊥ = {0}) como

z = a + b, a ∈ G⊥ , b ∈ L ⊥ , a ≤ Ckzk, b ≤ Ckzk.

Em particular, seja v ∈ D(A∗ ) e consideremos z = (A∗ v, 0). Escrevemos,

z = a + b, a = (A∗ v, −v) ∈ G⊥ , b = (0, v) ∈ L⊥ .

pois L⊥ = {0} ×Y ∗ e h(A∗ v, −v), (u, Au)i = A∗ v(u) − v(Au) = 0. Segue que

kvk = kbk ≤ Ckzk = CkA∗ vk, para todo v ∈ D(A∗ ).

Isto conclui a demonstração do teorema. 

O Teorema 5.4.1 pode ser demonstrado també na sua versão adjunta.

Teorema 5.4.2 Sejam X e Y espaços de Banach e A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear fechado com domínio
denso. Então as seguintes propriedades são equivalentes:

a) A∗ é sobrejetivo;
5.5. EXERCÍCIOS 75

b) existe uma constante C > 0 tal que

kuk ≤ CkAuk, para todo u ∈ D(A);

c) ker A = {0} e R(A) é fechado.

Demonstração. Análoga à do Teorema 5.4.1. 

Observação 5.4.3 Na prática, estabelecer que um certo operador linear é sobrejetivo está associado com res-
olução de equações integrais ou diferenciais. Assim, podemos utilizar a equivalência entre os itens a) e b nos
Teoremas 5.4.1 ou 5.4.2 e seguir o seguinte roteiro: considera-se a equação A∗ v = f com f ∈ Y ∗ e se demonstra
que kvk ≤ Ck f k com C > 0 independente de f , ou seja, supõe-se a priori que a equação possui uma solução e se
estima a norma desta solução. Esta técnica é conhecida como método das estimativas a priori.

Observação 5.4.4 Suponhamos que dim X < ∞ e dimY < ∞ e seja A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear fechado
com domínio denso. Neste caso R(A) e R(A∗ ) são fechados. Assim, segue que

• A é sobrejetivo se, e somente se, A∗ é injetivo;

• A∗ é sobrejetivo se, e somente se, A é injetivo.

Os Teoremas 5.4.1 e 5.4.2 implicam que

• se A é sobrejetivo então A∗ é injetivo;

• se A∗ é sobrejetivo então A é injetivo.

Em dimensão infinita a recíproca nem sempre é verdade. De fato, consideremos A : l2 → l2 definido por
x 
n
A(xn ) = ;
n
então A é limitado, injetivo e A = A∗ , mas A não é sobrejetivo, pois a sequência (1/n) não é atingida.

5.5 Exercícios
Exercício 117 Demonstre que cada subespaço M de X com dimensão finita possui um complemento N. Dessa
forma, X pode ser decomposto em soma direta de M e N, isto é, X = M + N e M ∩ N = {0}.
Sugestão: considere o caso em que dim M = 1 e, para 0 6= u ∈ M escolha f ∈ X ∗ com f (u) = 1 e N = { f }⊥ .

Exercício 118 Seja X um espaço de Banach. Fixe v ∈ X e f ∈ X ∗ . Demonstre que o operador P : X → X definido
por Px = ( f (x))v é uma projeção (não identicamente nula) se, e somente se, f (v) = 1. Neste caso, demonstre que
PX = [v] e ker T é o subespaço fechado de X consistindo de todos x ∈ X com f (x) = 0, isto é, ker T = { f }⊥ . Além
disso, kPk ≤ k f kkvk.

Exercício 119 Seja X um espaço normado e A e B subconjuntos (não necessariamente subespaços) de X e de X ∗


respectivamente. Definamos

A⊥ := { f ∈ X ∗ | f (x) = 0, para cada x ∈ A},


B⊥ := {x ∈ X | f (x) = 0, para cada f ∈ b}.

Demonstre que A⊥ e B⊥ são subespaços fechados de X e X ∗ respectivamente. Além disso,

A⊥⊥ = [A].
76 CAPÍTULO 5. DUALIDADE, COMPLEMENTOS E OPERADORES LINEARES

Exercício 120 Seja M um subespaço do espaço normado X. Demonstre que existe um isomorfismo isométrico
que identifica M ∗ com X ∗ /M ⊥ de maneira que se um elemento de M ∗ é identificado com o elemento x∗ + M ⊥ ∈
X ∗ /M p erp, então (x∗ + M ⊥ )(u) = x∗ (u).

Exercício 121 Seja M um subespaço fechado de um espaço normado X. Demonstre que existe um isomorfismo
isométrico que identifica (X/M)∗ com M ⊥ de maneira que se um elemento de (X/M)∗ é identificado com x∗ ∈ M ⊥ ,
então x∗ (x + M) = x∗ (x).

Exercício 122 Seja M um subespaço fechado de um espaço normado X. Demonstre que o isomorfismo isométrico
do Exercício 121 que identifica (X/M)∗ com M ⊥ é o adjunto da projeção de X sobre X/M.

Exercício 123 Seja A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear fechado com domínio denso, onde X e Y são espaços
de Banach. Demonstre que são equivalentes:
a) D(A) = X;
b) A é limitado;
c) D(A∗ ) = Y ∗ ;
d) A∗ é limitado.
Nestas condições se verifica
kAkB(X,Y ) = kA∗ kB(Y ∗ ,X ∗ ) .

Exercício 124 Sejam X e Y espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ). Demonstre que R(T ) é fechado se, e somente se,
existe uma constante C > 0 tal que
dist(x, ker T ) ≤ CkT xk, para todo x ∈ X.

Sugestão: utilize espaços quociente.

Exercício 125 Sejam X e Y espaços de Banach e A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear fechado. Demonstre que
R(A) é fechado se, e somente se, existe uma constante C > 0 tal que
dist(u, ker A) ≤ CkAuk, para todo u ∈ D(A).

Sugestão: considere o operador T : D(A) → Y, D(A) com a norma do gráfico e T = A.

Exercício 126 Com relação à subseção Exemplo com um operador diferencial, estude o operador T ∗∗ e veri-
fique que D(T ∗∗ ) = D(T ) e T ∗∗ = T.

Exercício 127 Sejam X um espaço de Banach e A : D(A) ⊂ X → X ∗ um operador linear com domínio denso.
Suponha que existe C > 0 tal que
hAu, ui ≥ −CkAuk2 , para qualquer u ∈ D(A). (5.19)
Demonstre que ker A ⊂ ker A∗ .
Reciprocamente, suponha que ker A ⊂ ker A∗ , que A é fechado com domínio denso e que R(A) é fechado.
Demonstre que C > 0 tal que A satsifaz (5.19).

Exercício 128 Sejam X, Y e Z espaços de Banach e consideremos os operadores T ∈ B(X,Y ) e S ∈ B(Y, Z).
Demosntre que
(S ◦ T )∗ = T ∗ ◦ S∗ .
Além disso, supondo que T ∈ B(X,Y ) é bijetivo, demonstre que T ∗ é bijetivo e que (T ∗ )−1 = (T −1 )∗ .

Exercício 129 Seja T : l1 → l∞ (= l1∗ ) definido por


x 
n
T (xn ) = .
n
Verifique que T ∈ B(l1 , l∞ ) e determine ker T, (ker T )⊥ , T ∗ , R(T ∗ ) e R(T ∗ ).
Capítulo 6

Topologias fraca e fraca∗ e implicações

A topologia em um espaço normado induzida pela norma é muito forte no sentido de que possui muitos conjuntos
abertos. Por um lado, uma função definida neste espaço tem mais chances de ser contínua, por outro, subconjuntos
deste espaço têm menos chances de serem compactos. Por exemplo, vimos que a bola fechada em um espaço de di-
mensão infinita não é compacta na topologia induzida pela norma, ou seja, esta topologia não possui a propriedade
de Heine–Borel. Assim, muitas fatos conhecidos para espaços de dimensão finita que são demonstrados baseados
nessa propriedade não podem ser generalziados imediatamente para dimensão infinita.
Vamos estudar nesse capítulo topologias mais fracas que a topologia induzida pela norma em espaços nor-
mados. Estas topologias possuirão menos abertos que a topologia forte (da norma) mas serão fortes o suficiente
para ainda obtermos propriedades bastante úteis.

Décima quinta aula↓

6.1 Topologias fracas e espaço produto


Seja (Xα )α∈A uma família de conjuntos onde A é um conjunto de índices. O produto cartesiano dos conjuntos
Xα , α ∈ A, é o conjuntos definido por
 [
∏ Xα := x : A → Xα | x(α) = xα ∈ Xα , para cada α ∈ A .
α∈A α∈A

Denotamos também o produto cartesiano por ∏ Xα . O espaço Xα é o α–ésimo fator e xα = x(α) é a α–ésima
coordenada. Pelo Axioma da Escolha, se cada Xα 6= 0/ então ∏ Xα 6= 0.
/
A aplicação πβ : ∏ Xα → Xβ definida por πβ (x) = xβ é chamada de projeção ou β –ésima projeção.
Suponhamos agora que cada Xα , α ∈ A, seja um espaço topológico. Queremos definir uma topologia em
∏ Xα da maneira mais natural possível, no sentido que generalize a topologia produto em Rn e que conserve
certas propriedades de cada fator Xα . É bem sabido do curso de Topologia que essa naturalidade acontece ao
considerarmos a Topologia de Tychonoff.
A topologia de Tychonoff, ou a topologia produto em ∏ Xα é obtida tomando-se como base os conjuntos
da forma ∏ Uα , onde
• cada Uα é aberto em Xα ;
• a menos de uma quantidade finita de índices, Uα = Xα .
Observemos que o conjunto ∏ Uα , onde Uα = Xα exceto para α = α1 . . . , αn pode ser escrito como

∏ Uα = πα−11 (Uα1 ) ∩ . . . ∩ πα−1n (Uαn ).


Assim, a topologia produto é precisamente aquela que possui como sub base a coleção
{πα−1 (Uα ) | α ∈ A,Uα aberto em Xα }.

77
78 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

Teorema 6.1.1 A topologia de Tychonoff é a topologia mais fraca em ∏ Xα para a qual cada projeção πβ é
contínua.

Demonstração. Pelo que observamos anteriormente, se τ é qualquer topologia em ∏ Xα na qual cada projeção é
contínua, então πβ−1 (Uβ ) ∈ τ sempre que Uβ for aberto em Xβ . Consequentemente, os membros de uma sub base
para ao topologia de Tychonoff pertencem todos a τ, o que implica que τ contém a topologia de Tychonoff. 

Teorema 6.1.2 Seja X um espaço topológico. Então uma função f : X → ∏ Xα é contínua se, e somente se, cada
πα ◦ f : X → Xα é contínua.

Demonstração. A necessidade é clara, visto que composição de funções contínuas é uma função contínua.
Reciprocamente, suponhamos que π ◦ f é contínua para cada α ∈ A. Notemos que

f −1 (πα−1 (Uα )) = (πα ◦ f )−1 (Uα ).

Assim, a imagem inversa por f de qualquer elemento da sub base da topologia de Tychonoff é um conjunto aberto
em X. Isto nos diz que f é contínua. 

Consideremos agora uma situação a princípio mais geral que espaços produtos.
Sejam X um conjunto, (Xα )α∈A uma família de espaços topológicos e fα : X → Xα , α ∈ A, uma família de
funções. A topologia fraca em X induzida pela coleção de funções { fα | α ∈ A} é a menor topologia em X que
faz com que cada fα seja contínua.
A discussão prévia sobre topologia produto pode ser transferida para este caso, e temos que a topologia fraca
em X é aquela para a qual os conjuntos da forma fα−1 (Uα ), α ∈ A e Uα aberto em Xα , formam uma sub base.

Teorema 6.1.3 Se X está munido da topologia fraca induzida pela família de aplicação { fα : X → Xα | α ∈ A},
então uma função f : Y → X, Y espaço topológico, é contínua se, e somente se, fα ◦ f é contínua para cada α ∈ A.

Demonstração. Basta mimicar a demonstração do Teorema 6.1.2. 

O próximo resultado caracteriza convergência de sequências em espaços com a topologia fraca.

Proposição 6.1.4 Se X está munido da topologia fraca induzida pela família de aplicação { fα : X → Xα | α ∈ A}
e se (xn ) é uma sequência em X, então xn → x se, e somente se, fα (xn ) → fα (x), para todo α ∈ A.

Demonstração. Se xn → x na topologia fraca, então fα (xn ) → fα (x) para todo α ∈ A, já que cada uma dessas
funções é contínua.
Reciprocamente, lembremos que xn → x se, e somente se, dada uma vizinhança V de x, existe n0 ∈ N tal
que xn ∈ V para todo n ≥ n0 . Por outro lado, uma base de vizinhanças para x ∈ X na topologia fraca é da forma
∩β ∈B fβ−1 (Uβ ), onde B ⊂ A é finito e cada Uβ é aberto em Xβ . Assim, dada uma vizinhança V de x, podemos supor
que é dessa forma, isto é, V = ∩β ∈B fβ−1 (Uβ ). Para cada β ∈ B, existe um inteiro nβ tal que fβ (xn ) ∈ Uβ , para todo
n ≥ nβ . Tomando n0 = max{nβ | β ∈ B} obtemos que xn ∈ V para todo n ≥ n0 . 

6.2 A topologia fraca σ (X, X ∗ )


Tendo feito esta breve introdução sobre topologias induzidas por uma família de funções, podemos definir a
primeira das duas topologias que serão os objetos centrais desse capítulo.
Seja X um espaço normado (sobre R) e consideremos, para cada f ∈ X ∗ , a aplicação ϕ f : X → R definida
por ϕ f (x) = f (x). Quando f percorre X ∗ obtemos uma família de aplicações {ϕ f : X → R | f ∈ X ∗ }.
A topologia fraca σ (X, X ∗ ) sobre X é a topologia fraca induzida pela família {ϕ f : X → R | f ∈ X ∗ }. Assim,
a topologia fraca σ (X, X ∗ ) é a topologia menos fina (menor) sobre X que torna contínua qualquer aplicação ϕ f .
6.2. A TOPOLOGIA FRACA σ (X, X ∗ ) 79

A topologia fraca σ (X, X ∗ ) será as vezes chamada somente de topologia fraca, ou de σ (X, X ∗ ). A topologia
induzida pela norma será chamada de topologia forte.
Como primeiro resultado, vemos que o Teorema de Hahn–Banach implica que a topologia fraca em X é
Hausdorff.

Proposição 6.2.1 Se X é um espaço normado, então a topologia fraca em X é Hausdorff.

Demonstração. Sejam x1 , x2 ∈ X tais que x1 6= x2 . Pela segunda forma geométrica do Teorema de Hahn–Banach,
existe f ∈ X ∗ e α ∈ R tais que
f (x1 ) < α < f (x2 ).
Definamos

V1 = {x ∈ X | f (x) < α} = ϕ −1
f (−∞, α),
V2 = {x ∈ X | f (x) > α} = ϕ −1
f (α, ∞).

Os conjuntos V1 e V2 são abertos na topologia σ (X, X ∗ ) que verificam V1 ∩V2 = 0,


/ x1 ∈ V1 e x2 ∈ V2 . 

O resultado da Proposição 6.2.1 é válido mais geralmente para qualquer topologia fraca induzida por uma
família de funções que separa pontos nos conjunto.
Podemos caracterizar uma base de vizinhanças para um ponto x ∈ X na topologia fraca de uma maneira
utilizando a linearidade das aplicações f ∈ X ∗ .

Proposição 6.2.2 Os conjuntos da forma

V = VI,ε = {x ∈ X | | fi (x − x0 )| < ε, fi ∈ X ∗ , i ∈ I, onde I é finito}

formam uma base de vizinhanças de x0 ∈ X na topologia fraca σ (X, X ∗ ).

Demonstração. Notemos primeiramente que

V = VI,ε = ∩i∈I ϕ −1
fi (ai − ε, ai + ε),

onde ai = fi (x0 ) e I é um conjunto finito de índices. Escrito dessa forma é fácil ver que V é aberto na topologia
σ (X, X ∗ ).
Reciprocamente, seja U uma vizinhança aberta de x0 em σ (X, X ∗ ). Então existe um aberto W contendo x0 ,
W ⊂ U, da forma
W = ∩i∈I ϕ −1
fi (ωi ), I finito,
onde ωi é aberto em R vizinhança de fi (x0 ) = ai . Assim, existe ε > 0 tal que (ai − ε, ai + ε) ⊂ ωi para cada i ∈ I.
Segue que x0 ∈ V ⊂ W ⊂ U. 

Dada uma sequência (xn ) ⊂ X, denotamos por xn * x a convergência de (xn ) para x na topologia fraca
σ (X, X ∗ ).

Proposição 6.2.3 Seja (xn ) ⊂ X uma sequência. Então as seguintes implicações são válidas:

a) xn * x se, e somente se, f (xn ) → f (x) para qualquer f ∈ X ∗ ;

b) se xn → x na topologia forte, então xn * x;

c) se xn * x, então (xn ) é limitada na topologia forte, isto é, existe C > 0 tal que kxn k ≤ C para todo n ∈ N;

d) se xn * x fracamente e se fn → f na topologia forte, isto é, na topologia de X ∗ , então fn (xn ) → f (x).


80 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

Demonstração. O item a) resulta da Proposição 6.1.4 e da definição de σ (X, X ∗ ).


Demonstremos o item b). Temos

| f (xn ) − f (x)| ≤ k f kkxn − xk.

Segue que se xn → x então f (xn ) → f (x) para qualquer f ∈ X ∗ , o que implica, pelo item a), que xn * x.
Suponhamos agora que xn * x. Então f (xn ) → f (x) para qualquer f ∈ X ∗ . Segue que ( f (xn ))n∈N é limitada
em R. Consideremos a imersão canônica J : X → X ∗ e denotemos Jxn = xn∗∗ . Segue que (xn∗∗ ( f ))n∈N ⊂ R é limitada
para cada f ∈ X ∗ , ou seja, (xn∗∗ )n∈N é pontualemente limitada. Como X ∗∗ e R são espaços de Banach, podemos
aplicar o Teorema de Banach–Steinhauss e concluir que kxn∗∗ k ≤ C, para alguma constante C > 0. O item c) fica
demonstrado uma vez que J é uma isometria.
Vejamos agora o item d). Temos pelo item c) que

| fn (xn ) − f (x)| ≤ | fn (xn ) − f (xn )| + | f (xn ) − f (x)|


≤ k fn − f kkxn k + | f (xn − x)|
≤ Ck fn − f k + | f (xn − x)|.

A convergência fn (xn ) → f (x) segue do item a) e da convergência forte fn → f . 

No caso em que a dimensão do espaço normado é finita temos que a topologia forte e a fraca coincidem.

Proposição 6.2.4 Seja X um espaço normado de dimensão finita. Então a topologia forte e a topologia σ (X, X ∗ )
coincidem. Em particular, uma sequência (xn ) converge fracamente se, e somente se, converge fortemente.

Demonstração. Denotemos por τ a topologia forte, isto é, induzida pela norma. É claro que σ (X, X ∗ ) ⊂ τ.
Para demonstrarmos a inclusão inversa, seja U ∈ τ com x0 ∈ U e vamos verificar que existe V ∈ σ (X, X ∗ ) tal que
x0 ∈ V ⊂ U. Dito de outra forma, vamos encontrar f1 , . . . , fn ∈ X ∗ e ε > 0 tais que

V = {x ∈ X | | fi (x − x0 )| < ε, i = 1, . . . , n} ⊂ U.

Como U ∈ τ, existe r > 0 tal que Br (x0 ) ⊂ U. Escolhemos e1 , . . . , en base de X com kei k = 1, i = 1, . . . , n.
Para todo x ∈ X, temos que
n
x = ∑ xi ei .
i=1
As aplicações x 7→ xi definem funcionais lineares contínuos que denotaremos por fi , i = 1, . . . , n. Temos então que
n
kx − x0 k ≤ ∑ | fi (x − x0 )| < nε.
i=1

Escolhemos ε = r/n e temos que V ⊂ U. 

Décima sexta aula↓

Em dimensão infinita a topologia fraca está estritamente contida na topologia forte, isto é, sempre existem
abertos na topologia forte de um espaço normado de dimensão inifinta que não é aberto na topologia fraca.

Exemplo 6.2.5 Seja X um espaço normado com dim X = ∞. Então o conjunto S = {x ∈ X | kxk = 1} nunca é
fechado na topologia fraca σ (X, X ∗ ). Mais precisamente, o fecho de S na topologia σ (X, X ∗ ) é o conjunto
σ (X,X ∗ )
S = {x ∈ X | kxk ≤ 1}.

Demonstração. Seja x0 ∈ X com kx0 k < 1. Vamos demonstrar que, dada uma vizinhança V de x0 na topologia
σ (X,X ∗ )
σ (X, X ∗ ), então V ∩ S = 0,
/ ou seja, x0 ∈ S . Podemos supor sempre que V é da forma

V = {x ∈ X | | fi (x − x0 )| < ε, i = 1, . . . , n},
6.2. A TOPOLOGIA FRACA σ (X, X ∗ ) 81

onde ε > 0 e f1 , . . . , fn ∈ X ∗ .
Afirmação: existe y0 ∈ X, y0 6= 0, tal que y0 ∈ ∩ni=1 ker fi .
De fato, se tal y0 não existisse, então a aplicação ϕ : X → Rn definida por ϕ(z) = ( f1 (z), . . . , fn (z)) seria
injetiva e, portanto, um isomorfismo de X sobre ϕ(X) e daí dim X < ∞.
Fixemos então y0 6= 0 como na afirmação acima, isto é, fi (ty0 ) = 0, para i = 1, . . . , n e qualquer t ∈ R. Segue
que
fi (x0 + ty0 − x0 ) = 0, i = 1, . . . , n,
ou seja, x0 + ty0 ∈ V, para todo t ∈ R.
Definamos g(t) = kx0 + ty0 k, t ≥ 0. Então t é contínua, g(0) < 1 e limt→∞ g(t) = ∞. Segue que existe t0 ∈ R
tal que g(t0 ) = kx0 + t0 y0 k = 1. Assim, x0 + t0 y0 ∈ V ∩ S. Como isto fica estabelecido que
σ (X,X ∗ )
S ⊂ {x ∈ X | kxk ≤ 1} ⊂ S .

Para completar a demonstração basta observar que {x ∈ X | kxk ≤ 1} é fechado na topologia fraca. Mas

{x ∈ X | kxk ≤ 1} = ∩{x ∈ X | |h f , xi| ≤ 1, f ∈ X ∗ , k f k ≤ 1},

que é intersecção arbitrária de conjuntos fracamente fechados. 

Uma parte interessante da demonstração do Exemplo 6.2.5 é que em dimensão infinita toda vizinhança V de
um ponto x0 ∈ X para a topologia fraca contém uma reta que passa por x0 .

Exemplo 6.2.6 O conjunto U = {x ∈ X | kxk ≤ 1} nunca é aberto na topologia σ (X, X ∗ ). Mais precisamente, o
interior de U é vazio na topologia σ (X, X ∗ ).

Demonstração. Suponhamos que existe x0 ∈ U e uma vizinhança V de x0 em σ (X, X ∗ ) tal que V ⊂ U. Mas pelo
Exemplo 6.2.5, V contém uma reta que passa por x0 , o que contradiz o fato de V ⊂ U. 

Acabamos de verificar que em dimensão infinita existem conjuntos convexos abertos na topologia forte que
não é aberto na topologia fraca. No caso de convexos fechados temos outra situação.

Teorema 6.2.7 (Mazur) Sejam X um espaço normado e C ⊂ X um convexo. Então C é fracamente fechado se, e
somente se, é fortemente fechado.

Demonstração. Todo conjunto fechado na topologia fraca é fechado na topologia forte. Assim, nos resta demon-
strar que se o convexo C é fortemente fechado, então é fracamente fechado, ou seja, que Cc é aberto na topologia
fraca.
Dado x0 6∈ C, existe, pelo Teorema de Hahn–Banach um hiperplano fechado que separa {x0 } e C no sentido
estrito. Portanto, existe f ∈ X ∗ e α ∈ R tais que

f (x0 ) < α < f (x), para todo x ∈ C.

Definamos
V = {x ∈ X | f (x) < α}.
Então V é aberto na topologia fraca com V ∩C = 0/ e x0 ∈ V. 

Teorema 6.2.8 Sejam X e Y espaços de Banach e T : X → Y um operador linear. Então T : (X, k · k) → (Y, k · k) é
contínuo se, e somente se, T : (X, σ (X, X ∗ )) → (Y, σ (Y,Y ∗ )).

Demonstração. Supondo que T : (X, k · k) → (Y, k · k) é linear e contínuo, então a aplicação x 7→ f (T x) é um


funcional linear contínuo em X. Segue do Teorema 6.1.3 que T é contínua de (X, σ (X, X ∗ ) em (Y, σ (Y,Y ∗ ).
Reciprocamente, se T : (X, σ (X, X ∗ )) → (Y, σ (Y,Y ∗ )) é contínua, então o gráfico G(T ) é fechado em X ×Y
com a topologia fraca σ (X ×Y, X ∗ ×Y ∗ ), já que esta topologia é Hausdorff. A fortiori, o conjunto G(T ) é fechado
82 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

em (X × Y, k · kX + k · kY ). Pelo Teorema do Gráfico Fechado T é contínuo de X em Y, ambos com a topologia


forte. 

A demonstração do Teorema 6.2.8 utilizou o Teorema do Gráfico Fechado e por isso tivemos que assumir
que X e Y fossem Banach. É possível demonstrar este resultado sem este hipótese, como será visto nos exercícios.

6.3 A topologia fraca∗ σ (X ∗ , X)


Sejam X um espaço normado, X ∗ seu dual e X ∗∗ seu bidual. Temos em princípio duas topologias em X ∗ : a
topologia forrte gerada pela norma e a topologia fraca σ (X ∗ , X ∗∗ ). Por outro lado, podemos considerar a imersão
isométrica J : X → X ∗∗ dada por Jx = x∗∗ , onde x∗∗ ( f ) = f (x). Lembremos que J(X) ⊂ X ∗∗ e que nem sempre
esta aplicação é sobrejetora.
Para cada x ∈ X, definamos a aplicação ϕx : X ∗ → R definida por f 7→ ϕx ( f ) = f (x). Quando x percorre X
obtemos uma família de aplicações {ϕx }x∈X de X ∗ em R.
A topologia fraca∗ em X ∗ , designada também por σ (X ∗ , X), é a topologia menos fina que torna contínua
cada uma das aplicações ϕx , x ∈ X.
Observemos que, como X ⊂ X ∗∗ , a topologia σ (X ∗ , X) é menos fina que a topologia σ (X ∗ , X ∗∗ ), isto é,
σ (X , X) possui menos abertos que σ (X ∗ , X ∗∗ ).

Proposição 6.3.1 A topologia fraca∗ σ (X ∗ , X) é Hausdorff.

Demonstração. Se f1 , f2 ∈ X ∗ são tais que f1 6= f2 , é claro que existe x ∈ X de maneira que f1 (x) 6= f2 (x). Segue
que a família {ϕx }x∈X separa pontos em X ∗ . Assim, a topologia fraca gerada por esta família é Hausdorff. 

Proposição 6.3.2 Seja f0 ∈ X ∗ . Então os conjuntos da forma

V = { f ∈ X ∗ | |( f − f0 )(xi )| < ε, i ∈ I},

onde I é um conjunto finito, xi ∈ X, i ∈ I, e ε > 0, forma uma base de vizinhanças para f0 na topologia fraca∗ .

Demonstração. Análoga à da Proposição 6.2.2. 


Dada uma sequência ( fn ) ⊂ X ∗ , denotaremos por fn * f a convergência de fn para f na topologia fraca∗
σ (X ∗ , X).

Proposição 6.3.3 Seja ( fn ) ⊂ X ∗ uma sequência. Então as seguintes implicações são válidas:

a) fn * f se, e somente se, fn (x) → f (x) para qualquer x ∈ X;

b) se fn → x na topologia forte, então fn * f ;

se fn * f , então fn * f ;

c) se fn * f , então ( fn ) é limitada na topologia forte, isto é, existe C > 0 tal que k fn k ≤ C para todo n ∈ N e

k fn k ≤ lim inf k fn k;


d) se fn * f e se xn → x na topologia forte de X, então fn (xn ) → f (x).

Demonstração. Análoga à demonstração da Proposição 6.2.3. 


Se fn * f e se xn * x em X, não podemos concluir que fn (xn ) → f (x).
6.3. A TOPOLOGIA FRACA∗ σ (X ∗ , X) 83

Um dos resultados mais importantes da teoria de espaços normados é que a bola fechada BX é sempre
compacta na topologia fraca∗ . A forma geral deste resultado apareceu primeiramente em um trabalho de Leonidas
Alaoglu (em 1940) e na mesma época apareceram demonstrações alternativas, uma delas devida a N. Bourbaki.
Entretanto, um resultado devido a Banach implica em uma demonstração simples deste resultado no caso em que
o espaço normado é separável.

Teorema 6.3.4 (Alaoglu–Banach–Bourbaki) Seja X um espaço normado. Então o conjunto

BX ∗ = { f ∈ X ∗ | k f k ≤ 1}

é compacto na topologia fraca∗ .

Demonstração. Consideremos o espaço produto Y = RX , isto é, o conjunto de todas as aplicações de X em R.


Denotemos os elementos de Y por ω = (ωx )x∈X . A topologia natural em Y é a topologia produto de Thychonoff,
isot é, a menos fina que torna cada projeção πx : ω 7→ ωx . Consideremos a aplicação Φ : (X ∗ , σ (X ∗ , X)) → Y dada
por Φ( f ) = ( f (x))x∈X . Notemos que
πx ◦ Φ( f ) = f (x) = x∗∗ ( f ).

Portanto, πx ◦ Φ é contínuo para cara πx , o que nos dá que Φ é contínua. Vamos demonstrar que Φ é um homeo-
morfismo de X ∗ sobre sua imagem Φ(X ∗ ). Como Φ é claramente injetiva, nos resta demonstrar que Φ é contínua.
Pela Proposição 6.1.3 basta demonstrar que, para cada x ∈ X fixado, a aplicação ω 7→ (Φ−1 (ω))(x) é contínua em
Φ(X ∗ ). Mas isto é claro já que (Φ−1 (ω))(x) = ωx = πx (ω).
Para finalizarmos, precisamos verificar que Φ(BX ∗ ) =: K é compacto em Y. Notemos que

K = ω ∈ Y | |ωx | ≤ kxk, ωx+y = ωx + ωy , ωλ x = λ ωx , x, y ∈ X, e λ ∈ R quaisquer .

Para verificarmos que K é compacto, escrevemos

K = K1 ∩ K2 ,

onde

K1 = ω ∈ Y | |ωx | ≤ kxk, para qualquer x ∈ X ,

K2 = ω ∈ Y | ωx+y = ωx + ωy , ωλ x = λ ωx , x, y ∈ X, e λ ∈ R quaisquer .

A compacidade de K1 segue do Teorema de Tychonoff, pois


 
K1 = ∏ − kxk, kxk .
x∈X

Verifiquemos que K2 é fechado. Com efeito, os conjuntos



Ax,y = ω ∈ Y | ωx+y − ωx − ωy = 0 ,

Bλ ,x = ω ∈ Y | ωλ x − λ ωx = 0 ,

são fechados e  \ \ 


\
K2 = Ax,y Bλ ,x .
x,y∈X x∈X,λ ∈R

Segue que K = K1 ∩ K2 é compacto, o que finaliza a demonstração. 

Décima sétima aula↓


84 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

6.4 Espaços reflexivos


Nesta seção vamos estudar com mais detalhes certas propriedades dos espaços reflexivos. Lembremos que um
espaço normado X é reflexivo se a imersão canônica J : X → X ∗∗ é sobrejetora. Iniciamos com uma caracterização
de espaços reflexivos em termos de compacidade da bola unitária na topologia fraca.

Teorema 6.4.1 (Kakutani) Seja X um espaço de Banach. Então X é reflexivo se, e somente se, o conjunto BX é
compacto na topologia fraca.

A demonstração do Teorema 6.4.1 utiliza um lema que por si só já é importante.

Lema 6.4.2 (Goldstine) Seja X um espaço normado. Então o conjunto J(BX ) é denso em BX ∗∗ para a topologia
fraca∗ σ (X ∗∗ , X ∗ ).

Faremos a demonstração do Lema de Goldstine mais a frente. Por enquanto vamos assumi–lo e utilizar na
demonstração do Teorema de Kakutani.

Demonstração do Teorema 6.4.1. Suponhamos que X seja reflexivo. Então, como J é uma isometria, J(BX ) =
BX ∗∗ , o qual é compacto na topologia fraca∗ pelo Teorema 6.3.4. Devemos então demonstrar que J −1 é contínua de
(X ∗∗ , σ (X ∗∗ , X ∗ )) em (X, σ (X, X ∗ )). Para tanto, basta utilizar ao Teorema 6.1.3 e verificar que f ◦ J −1 é contínua
para cada f ∈ X ∗ , isto é, que a aplicação ξ 7→ h f , J −1 ξ i é contínua. Mas h f , J −1 ξ i = hξ , f i é contínua em X ∗∗
com a topologia fraca∗ .
Reciprocamente, supnhamos que BX seja compacto na topologia fraca de X. Pelo Teorema 6.2.8 temos a que
a imersão canônica J é contínua de (X, σ (X, X ∗ )) em (X ∗∗ , σ (X ∗∗ , X ∗∗∗ )). A fortiori, J é contínua de (X, σ (X, X ∗ ))
em (X ∗∗ , σ (X ∗∗ , X ∗ )). Segue que J(BX ) é compacto em X ∗∗ e denso em BX ∗∗ na topologia σ (X ∗∗ , X ∗ ). Concluímos
que
J(BX ) = J(BX ) = BX ∗∗ ,
de onde segue facilmente que J é sobrejetora. 

Observação 6.4.3 Utilizando o Exercício 132 podemos retirar a hipótese de X ser Banach no Teorema de Kaku-
tani.

Nos falta demonstrar o Lema de Goldstine. Entretanto, sua demonstração ainda necessita de outro resultado.

Lema 6.4.4 (Helly) Sejam X um espaço normado e fixemos f1 , . . . , fn ∈ X ∗ e α1 , . . . , αn ∈ R. Então as afirmações


são equivalentes:

a) para todo ε > 0 dado, existe xε ∈ X, com kxε k ≤ 1, tal que

|h fi , xε i − αi | < ε, i = 1, . . . , n;

b) para qualquer n–úpla β1 , . . . , βn ∈ R,


n n
∑ βi αi ≤ ∑ βi fi .

i=1 i=1

Demonstração. Verfiquemos que a) implica em b). Fixemos então β1 , . . . βn ∈ R e seja


n
S = ∑ |βi |.
i=1

Multiplicando a desigualdade do item a) por |βi | para cada i = 1, . . . , n e depois somando obtemos a seguinte
desigualdade:
n n n
∑ βi h fi , xε i − ∑ βi αi ≤ ∑ |βi h fi , xε i − βi αi | < εS.

i=1 i=1 i=1
6.4. ESPAÇOS REFLEXIVOS 85

Pela continuidade do módulo, n


n
∑ βi h fi , xε i − ∑ βi αi < εS.

i=1 i=1
Segue que
n n
∑ βi αi < εS + ∑ βi h fi , xε i

i=1 i=1
n
≤ εS + ∑ βi fi

i=1

para todo ε > 0. Basta então tomarmos o limite ε → 0+ .


Para demonstrarmos que b) implica em a), consideremos α = (α1 , . . . , αn ) ∈ Rn e consideremos ϕ : X → Rn
definida por 
ϕ(x) = f1 (x), . . . , fn (x) .

Demonstrar a) é equivalente a demonstrarmos que α ∈ ϕ(BX ). Suponhamos então o contrário: α 6∈ ϕ(BX ). Neste
caso, podemos separar {α} e ϕ(BX ) no sentido estrito com um hiperplano fechado. Dessa forma, existem β =
(β1 , . . . , βn ) ∈ Rn e γ ∈ R tais que
hϕ(x), β i < γ < hα, β i,
para todo x ∈ BX . Escrito de outra forma,
D n E n
∑ βi fi , x < γ < ∑ αi βi , para qualquer x ∈ BX .
i=1 i=1

Mas como BX é simétrica com relação à origem,


D n E n
∑ βi fi , x < γ < ∑ αi βi , para qualquer x ∈ BX .

i=1 i=1

Esta última desigualdade contradiz o item b). 

Estamos em condições de demonstrar o Lema de Goldstine.

Demonstração do Lema 6.4.2. Sejam ξ ∈ BX ∗∗ e V uma vizinhança de ξ na topologia fraca∗ σ (X ∗∗ , X ∗ ). Devemos


demonstrar que J(BX ) ∩V 6= 0.
/ Podemos supor que V é da forma

V = {η ∈ X ∗∗ |hη − ξ , fi i| < ε, i = 1, . . . , n}.

Queremos demonstrar que existe x ∈ BX tal que

|h fi , xi − hξ , fi i| < ε, i = 1, . . . , n.

Se αi = hξ , fi i, temos que, para quaisquer β1 , . . . , βn ∈ R,


n n n
∑ βi αi = hξ , ∑ βi fi i ≤ ∑ βi fi ,

i=1 i=1 i=1

pois kξ k ≤ 1. Pelo Lema de Helly, existe xε ∈ BX tal que

|h fi , xε i − αi | < ε, i = 1, . . . , n

isot é, J(xε ) ∈ J(BX ) ∩V. 

Vamos verificar agora que subespaços fechados de espaços reflexivos são reflexivos.
86 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

Proposição 6.4.5 Sejam X um espaço normado reflexivo e M ⊂ X um subespaço fechado. Então M com a topolo-
gia induzida é também reflexivo.

Demonstração. Temos definidas em M, a princípio, duas topologias fracas: σ (M, M ∗ ) e σ (X, X ∗ ) M , onde esta

última é a restrição da topologia fraca de X à M.


Afirmação: σ (M, M ∗ ) e σ (X, X ∗ ) M coincidem.

De fato, usando o Teorema de Hahn–Banach temos que σ (M, M ∗ ) ⊂ σ (X, X ∗ ) M ; já restringindo funcionais

temos a inclusão inversa.


Por outro lado, BM = BX ∩ M. Mas BX é compacta para a topologia σ (X, X ∗ ) (pois X é reflexivo) e M é
fechado. Segue que BM é compacta na topologia σ (X, X ∗ ) e, portanto, na topologia σ (M, M ∗ ), o que implica que
M é reflexivo. 

Corolário 6.4.6 Seja X um espaço normado. Então X é reflexivo se, e somente se, X ∗ é reflexivo.

Demonstração. Suponhamos que X seja reflexivo. Lembremos que BX ∗ é compacta na topologia σ (X ∗ , X). Mas
pela reflexividade σ (X ∗ , X) = σ (X ∗ , X ∗∗ ). Assim, BX ∗ é compacta em σ (X ∗ , X ∗∗ ) e a reflexividade de X ∗ segue
do Teorema de Kakutani.
Reciprocamente, se X ∗ é reflexivo, então X ∗∗ será reflexivo pelo que acabamos de demonstrar. Daí J(X) será
reflexivo como subespaço fechado de um espaço reflexivo. Segue que X é reflexivo. 

Observe agora que, se C é um convexo, fechado e limitado em um espaço de Banach reflexivo, então ele
será fechado na topologia fraca e estará contido em alguma bola fechada com raio suficientemente grande, a qual
é compacta na topologia fraca. Assim, o convexo C será compacto na topologia fraca.

Corolário 6.4.7 Sejam X um espaço normado reflexivo e C ⊂ X um convexo, fechado e limitado. Então C é
compacto na topologia fraca.

Lema 6.4.8 Sejam X e Y espaços normados reflexivos e A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear fechado com
domínio denso. Então D(A∗ ) é denso em Y ∗ .

Demonstração. Seja ϕ ∈ Y ∗ de maneira que ϕ D(A∗ ) ≡ 0. Vamos verificar que isso implica que ϕ = 0 em todo Y ∗

e o resultado seguirá de um Corolário do Teorema de Hahn–Banach.


Sendo Y reflexivo, podemos supor que ϕ ∈ Y e

hw, ϕi = 0, para qualquer w ∈ D(A∗ ).

Se ϕ 6= 0, então (0, ϕ) 6∈ G(A) ⊂ X ×Y. Segue que existem ( f , g) ∈ X ∗ ×Y ∗ e α ∈ R de maneira que

f (u) + g(Au) < α < g(ϕ), para qualquer u ∈ D(A).

Como G(A) é um subespaço, devemos ter

f (u) + g(Au) = 0, para qualquer u ∈ D(A),

ou seja,
|g(Au)| = | f (u)| ≤ k f kkuk, para qualquer u ∈ D(A).
Segue que g(ϕ) 6= 0 e g ∈ D(A∗ ), o que é uma contradição. Logo, (0, ϕ) ∈ G(A) e ϕ = 0. Assim, D(A∗ ) é denso
em Y ∗ . 

Décima oitava aula↓

Pelo Lema 6.4.8, o operador adjunto de A∗ está bem definido, sendo ele denotado por A∗∗ : D(A∗∗ ) ⊂ X ∗∗ →
Y ∗∗ . Mas notemos que X ∗∗ = X e Y ∗∗ = Y.
6.5. ESPAÇOS SEPARÁVEIS 87

Teorema 6.4.9 Sejam X e Y espaços reflexivos e A : D(A) ⊂ X → Y um operador linear fechado com domínio
denso. Então o operador A∗∗ : D(A∗∗ ) ⊂ X ∗∗ → Y ∗∗ satisfaz

A∗∗ = A.

Demonstração. Seja I˜ : Y ∗ × X ∗ → X ∗ ×Y ∗ definida por


˜ f ) = (− f , g).
I(g,

Já vimos que

˜
I(G(A )) = G(A)⊥ , ˜
I(G(A∗∗
)) = G(A∗ )⊥ .
Por outro lado,

˜ )))⊥ = (x, y) ∈ X ×Y | h−A∗ v, xi + hv, yi = 0, v ∈ D(A∗ )

(I(G(A
= (Jx, Jy) ∈ X ∗∗ ×Y ∗∗ | hJx, A∗ vi = hJy, vi, v ∈ D(A∗ )


= (Jx, Jy) ∈ X ∗∗ ×Y ∗∗ | hA∗∗ Jx, vi = hJy, vi, v ∈ D(A∗ )




= (Jx, Jy) ∈ X ∗∗ ×Y ∗∗ | A∗∗ Jx = Jy




= G(A∗∗ ).

Mas,

˜
(I(G(A )))⊥ = G(A)⊥⊥ = G(A).
Como A é fechado, G(A) = G(A) e assim G(A∗∗ ) = G(A), ou seja, A = A∗∗ . 

6.5 Espaços separáveis


Passamos agora ao estudo de espaços separáveis. Lembremos que a definição e algumas propriedades elementares
desses espaços já foram apresentadas na Seção 4.3.1. Nosso principal intuito nesta seção é demonstrar uma carac-
terização de espaços separáveis em termos de metrizabilidade da bola na topologia fraca∗ .
Iniciamos com um propriedade elementar: separabilidade é uma propriedade hereditária, isto é, subconjuntos
de espaços separáveis são separáveis.

Proposição 6.5.1 Sejam X um espaço métrico separável e M ⊂ X um subconjunto. Então M é separável.

Demonstração. Fixamos um conjunto enumerável {un } ⊂ X e denso em X. Seja (rm ) um sequência de números
reais positivos com rm → 0+ e consideremos, para quaisquer m, n ∈ N, as bolas Brm (un ). Quando tivermos que
Brm (un ) ∩ M 6= 0,
/ escolhemos am,n nesta intersecção e formamos o conjunto enumerável {am,n }. Vamos verificar
que este conjunto é denso em M.
Sejam x ∈ M arbitrário, V uma vizinhaça de x em M e fixemos ε > 0 tal que Bε (x) ∩ M ⊂ V. Segue que existe
rm com 0 < rm < ε. Sendo d a métrica de X, existe un tal que d(x, un ) < rm . Mas isso implica que x ∈ Brm (un ) ∩ M,
ou seja, esta intersecção é não vazia. Podemos então tomar am,n como anteriormente e assim obtemos:

d(am,n , x) ≤ d(am,n , un ) + d(un , x) ≤ rm + rm < ε.

Portanto, am,n ∈ Bε (x) ∩ M ⊂ V e {am,n } é denso em M. 

Teorema 6.5.2 Seja X um espaço normado tal que X ∗ é separável. Então X é separável.

Demonstração. Seja { fn } ⊂ X ∗ um conjunto enumerável e denso em X ∗ . Lembremos que, para cada n ∈ N,

k fn k = sup{ fn (x) | s ∈ X, kxk ≤ 1}.

Segue que, para cada n, existe xn ∈ X com


k fn k
kxn k = 1 e fn (xn ) ≥ .
2
88 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

Caso contrário, teríamos que, para todo x ∈ X com kxk ≤ 1, valeria fn (x/kxk) < 1/2k fn k, ou seja,

1
sup{ fn (x) | x ∈ X, kxk ≤ 1} ≤ k fn k < k fn k,
2
que é uma contradição.
Seja L0 o espaço vetorial sobre Q gerado por {xn }. Então L0 é enumerável. De fato, temos que

[
L0 = Λn ,
n=1

sendo que
Λn = [x1 , . . . , xn ],
onde estamos tomando apenas combinações lineares sobre Q. Como cada Λn está em correspondência biunívoca
com Qn , a união L0 será enumerável.
Agora definimos L como sendo o espaço vetorial sobre R gerado por {xn }. Então L0 é um subconjunto denso
de L. Mas em L podemos utilizar um argumento baseado no Teorema de Hahn-Banach para demonstra densidade.
De fato, vamos demonstrar que L é denso em X, o que implica em L0 ser denso em X e segue a separabilidade.
Seja f ∈ X ∗ um funcional contínuo com f L ≡ 0. Dado ε > 0, existe n tal que k f − fn k < ε. Portanto,

1
k fn k ≤ fn (xn ) = ( fn − f )(xn ) ≤ k fn − f kkxn k = k fn − f k < ε.
2
Assim,
k f k ≤ k f − fn k + k fn k ≤ 3ε.
Como ε > 0 é qualquer, k f k = 0. 

A recíproca do Teorema 6.5.2 não é verdadeira. Por exemplo, L1 é separável mas (L1 )∗ = L∞ não é separável.
Entretanto esta situação muda se X for reflexivo.

Corolário 6.5.3 Seja X um espaço normado. Então X é reflexivo e separável se, e somente se, X ∗ é reflexivo e
separável.

Demonstração. Se X ∗ é reflexivo e separável, então o Teorema 6.5.2 implica que X é separável enquanto o
Corolário 6.4.6 nos diz que X é reflexivo.
Reciprocamente, Se X é reflexivo e separável, então (X ∗ )∗ = J(X) é reflexivo e separável, e pela primeira
parte da demonstração X ∗ é reflexivo e separável. 

Estamos em posição de apresentar o principal resultado desta seção.

Teorema 6.5.4 Seja X um espaço normado. Então X é separável se, e somente se, BX ∗ é metrizável para a
topologia σ (X ∗ , X).

Podemos também enunciar (não demonstraremos) a versão dual do Teorema 6.5.4.

Teorema 6.5.5 Seja X um espaço de Banach. Então X ∗ é separável se, e somente se, BX é metrizável para a
topologia σ (X, X ∗ ).

O Teorema 6.5.4 possui uma aplicação interessante.

Corolário 6.5.6 Sejam X um espaço de Banach separável e ( fn ) ⊂ X ∗ uma sequência limitada. Então existe uma
subsequência ( fnk ) de ( fn ) que converge na topologia fraca∗ σ (X ∗ , X).
6.5. ESPAÇOS SEPARÁVEIS 89

Demonstração. Podemos supor que k fn k ≤ 1 para todo n pois, caso contrário, como k fn k ≤ M, consideramos
gn = fn /M. Nas daí, ( fn ) ⊂ BX ∗ , que, para a topologia σ (X ∗ , X), é compacto pelo Teoremade Alaoglu–Banach–
Bourbaki e metrizável pelo Teorema 6.5.4. O resultado segue. 

Demonstração do Teorema 6.5.4. Suponhamos que X seja separável. Fixemos então {un } um subconjunto
enumerável e denso em BX , já que este conjunto também será separável. Para f , g ∈ BX ∗ definimos

1
d( f , g) := ∑ 2n |h f − g, un i|.
n=1

Observemos que d( f , g) ≥ 0 e d( f , f ) = 0 para quaisquer f , f ∈ BX ∗ . Além disso, se d( f , g) = 0 então cadatermo


da série é zero, ou seja, h f − g, un i = 0 para todo n ∈ N. Como {un } é denso em BX , segue que h f − g, xi = 0 para
qualquer x ∈ BX , e, por linearidade, h f − g, xi = 0 para todo x ∈ X. Claramente d( f , g) = d(g, f ). Sejam ainda
f , g, h ∈ BX ∗ . Então,

1
d( f , g) = ∑ 2n |h f − g, un i|
n=1

1 
≤ ∑ 2n |h f − h, un i| + |hh − g, un i|
n=1
∞ ∞
1 1
= ∑ 2n |h f − h, un i| + ∑ 2n |hh − g, un i|
n=1 n=1
= d( f , h) + d(h, g),

onde utilizamos que a série é absolutamente convergente na penúltima desigualdade. Concluímos que d é uma
métrica e vamos verificar que a topologia induzida por d em BX ∗ coincide com σ (X ∗ , X).
Sejam f0 ∈ BX ∗ e V uma vizinhança de f0 em σ (X ∗ , X). Demonstremos que existe r > 0 tal que

U = { f ∈ BX ∗ | d( f , f0 ) < r} ⊂ V.

Podemos supor que V é da forma

V = { f ∈ BX ∗ | |h f − f0 , yi i| < ε, i = 1, . . . , k}.

Podemos supor, sem perda de generalidade, que kyi k ≤ 1. De fato, se kyi k > 1, tomamos zi = yi /kyi k e

V 0 = { f ∈ BX ∗ | |h f − f0 , yi i| < ε 0 , i = 1, . . . , k},

onde
ε 0 = min{ε, ε1 }, ε1 = min{ε/kyi k, kyi k > 1}.

Agora, como {un } é denso em BX , podemos encontrar ni , para cada i, tal que kyi − xni k < ε/4. Fixemos r > 0
tal que
2ni r < ε/2, i = 1, . . . , k.
Suponhamos que d( f , f0 ) < r. Em particular,

1
|h f − f0 , uni i| < r, i = 1, . . . , k.
2ni
Assim,

|h f − f0 , yi i| ≤ |h f − f0 , yi − uni i| + |h f − f0 , uni i|
< k f − f0 kkyi − uni k + 2ni r
ε ε
≤ (k f k + k f0 k) + ≤ ε,
4 2
90 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

para i = 1, . . . , k. Concluímos que se f ∈ U então f ∈ V.


Por outro lado, suponhamos que f0 ∈ BX ∗ , fixemos r > 0 e consideremos U como definido acima. Agora
vamos verificar que existe uma vizinhaça V de f0 na topologia σ (X ∗ , X) tal que V ⊂ U. Dessa forma, precisamos
tomar V da forma
V = { f ∈ BX ∗ | |h f − f0 , yi i| < ε, i = 1, . . . , k}
e determinar ε > 0 e k de maneira que V ⊂ U. Para f ∈ V temos

1
d( f , f0 ) = ∑ 2n |h f − f0 , un i|
n=1
k ∞
1 1
= ∑ 2n |h f − f 0 , un i| + ∑ 2n |h f − f0 , un i|
n=1 n=k
∞ ∞
1
<ε ∑ 2−n + 2 ∑ 2−n = ε +
2k−1
.
n=1 n=k+1

Escolhemos então ε < r/2 e k de maneira que 1/2k−1 < r/2 e segue que d( f , f0 ) < r, ou seja, f ∈ U.

Décima nona aula↓

Continuando a demonstração do Teorema 6.5.4, vamos supor agora que BX ∗ é metrizável para σ (X ∗ , X) e
então verificar que X é separável.
Sejam
Un = { f ∈ BX ∗ | d( f , 0) < 1/n}
e Vn uma vizinhança de 0 na topologia σ (X ∗ , X) tal que Vn ⊂ Un . Podemos supor que Vn é da forma,
Vn = { f ∈ BX ∗ | |h f , xi| < εn , x ∈ Φn },
onde Φn ⊂ X é um conjunto finito. Formamos o conjunto

[
D= Φn .
n=1

Então D é enumerável. Se f ∈ Vn ⊂ Un para todo n, então f = 0, ou seja,



\
Vn = {0}.
n=1

Dito de outra forma, se h f , xi = 0 para todo x ∈ D, então f = 0. Gostaríamos de aplicar Hahn–Banach e concluir
que D é denso em X. Mas D não é um subespaço de X. Tomamos então L0 como sendo o espaço vetorial sobre Q
gerado por D, o qual será enumerável, e L o subespaço vetorial sobre R gerado por D. Daí, como f se anula em
todo L, então f se anula em todo D e será o funcional nulo. Segue que L e L0 são denso em X. Finalmente, como
L0 é enumerável, X é separável. 

Utilizando o Teorema 6.5.5 podemos demonstrar um resultado dual ao Corolário 6.5.6.

Teorema 6.5.7 Sejam X um espaço reflexivo e (xn ) ⊂ X uma sequência limitada. Então existe uma subsequência
(xnk ) de (xn ) que converge na topologia σ (X, X ∗ ).

Demonstração. Seja M0 o subespaço vetorial de X gerado por (xn ) e consideremos M = M0 . Notemos que M
é separável. De fato, se N é gerado por (xn ) com coeficientes em Q, então N é enumerável e denso em M0 . M
também é reflexivo pois é um subespaço fechado de um espaço reflexivo.
Sendo M reflexivo e separável, temos que M ∗ é reflexivo e separável. Daí, pelo Teorema 6.5.5, BM é
metrizável para a topologia σ (X, X ∗ ) e compacta para esta topologia pelo Teorema 6.4.1. Sendo assim, nor-
malizando (xn ) se preciso, podemos extrair uma subsequência (xnk ) de (xn ) que converge na topologia σ (M, M ∗ ).
Restringindo os funcionais de X ∗ à M obtemos que (xnk ) converge na topologia σ (X, X ∗ ). 
6.6. ESPAÇOS UNIFORMEMENTE CONVEXOS 91

6.6 Espaços uniformemente convexos


Nesta seção trataremos de espaços de Banach que possuem uma certa propriedade de convexidade da norma.
Expressa em termo geométricos, essa propriedade nos diz que o ponto médio de qualquer segmento que une dois
pontos na esfera unitária não pode tender à superfície, a menos que o comprimento do segmento tenda a zero.
Dizemos que um espaço de Banach X é uniformemente convexo se, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que,
x+y
se kxk ≤ 1, kyk ≤ 1 e kx − yk > ε, então < 1−δ.

2

Teorema 6.6.1 (Milman–Pettis) Se X é um espaço de Banach uniformemente convexo, então X é reflexivo.

Demonstração. Seja ξ ∈ X ∗∗ um elemento com kξ k = 1. Vamos verificar que ξ ∈ J(BX ) se X for uniformemente
convexo. Isso implica facilmente que a imersão canônica é sobrejetora. Mas inicialmente, vamos mostrar que,
para todo ε > 0, existe x ∈ BX tal que kξ − J(x)k < ε.
Dado ε > 0, tomemos δ > 0 como na definição de convexidade uniforme. Seja f ∈ X ∗ tal que k f k = 1 e

δ
hξ , f i > 1 − . (6.1)
2
Notemos que (6.1) é possível pois, caso contrário,

δ
hξ , f i ≤ 1 − ,
2
para todo f ∈ X ∗ com k f k = 1, e assim,

δ
kξ k = sup{hξ , f /k f ki | k f k ≤ 1} ≤ 1 − < 1,
2
de onde segue que kξ k < 1, o que é absurdo.
Fixemos uma vizinhança V de ξ para a topologia σ (X ∗∗ , X ∗ ) da forma

δ
V = η ∈ X ∗∗ | |hη − ξ , f i| <

.
2
Pelo Lema de Goldstine, V ∩ J(BX ) 6= 0.
/ Tomemos ξ ∈ BX tal que J(x) ∈ V. Vamos demonstrar que

ξ ∈ J(x) + εBX ∗∗ .
c
Suponhamos por absurdo que ξ ∈ J(x) + εBX ∗∗ = W. Observemos que W é uma vizinhança de ξ na
topologia σ (X ∗∗ , X ∗ ) e, consequentemente, V ∩W também o é. APlicando novamente o Lema de Goldstine vemos
que V ∩W ∩ J(BX ) 6= 0. / Assim, existe x ∈ BX tal que J(x) ∈ | ∩W. Resulta que

δ δ
|hJ(x) − ξ , f i| < , |hJ(x) − ξ , f i| < .
2 2
Escrevendo de outra forma,
δ δ δ δ
− < h f , xi − hξ , f i < , − < h f , xi − hξ , f i < .
2 2 2 2
Somando,
−δ < h f , x + xi − 2hξ , f i < δ .
Isso implica no seguinte:

2hξ , f i < |h f , x + xi| + δ ≤ k f kkx + xk + δ ≤ kx + xk + δ .


92 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

Utilizando (6.1),
 δ
2 1− < 2hξ , f i ≤ kx + xk + δ .
2
Assim, x+x
1−δ <

2
.
Sendo X uniformemente convexo, devemos ter
kx − xk ≤ ε,
pois kxk ≤ 1 e kxk ≤ 1.
c
Por outro lado, como J(x) ∈ W = J(x) + εBX ∗∗ , temos que J(x) − J(x) 6∈ BX ∗∗ . Em particular,
kx − xk = kJ(x − x)k > kεηk = εkηk = ε,
para todo η ∈ X ∗∗ com kηk = 1. Contradizendo a convexidade uniforme.
Segue do que demonstramos que existe uma sequência (xn ) ⊂ BX tal que J(xn ) → ξ . Daí, (J(xn )) é de Cauchy.
Como J é uma isometria, (xn ) também será de Cauchy em X e, portanto, convergente, já que este espaço é Banach.
Assim, xn → x0 ∈ BX e J(x0 ) = ξ . Isto conclui a demonstração. 

Proposição 6.6.2 Sejam X um espaço de Banach uniformemente convexo e (xn ) ⊂ X uma sequência que converge
fracamente para x ∈ X, isto é, xn * x ∈ X. Suponhamos ainda que
lim sup kxn k ≤ kxk.
Então xn → x.

Demonstração. Podemos supor, sem perda de generalidade que x 6= 0. Caso contrário xn = 0 para todo n.
Definamos 
λn = max kxn k, kxk .
Observemos que 
kxk ≤ lim inf λn ≤ lim sup λn ≤ max lim sup kxn k, kxk ≤ kxk.
Segue dessas desigualdades que λn → kxk. Sejam
yn = λn−1 xn , y = xkxk−1 .
Se f ∈ X ∗ , vemos que
1 1 1 1
| f (yn ) − f (y)| = f (xn ) − f (x) + f (x) − f (x)

λn λn λn kxk
1 1 1
≤ f (xn ) − f (x) + − | f (x)|.

λn λn kxk
Consequentemente, f (yn ) → f (y) para qualquer f ∈ X ∗ , ou seja, yn * y. MAs daí,
yn + y
* y.
2
Além disso, pela Proposição 6.2.3, y +y
n
lim inf ≥ kyk.

2
Por outro lado, como lim sup kxn k ≤ kxk,
y +y
n kyn k + kyk
1 = kyk ≤ lim inf ≤ lim sup ≤1

2 2
Concluímos que y +y
n
kyk = 1, kyn k ≤ 1, → 1.

2

Pela convexidade uniforme temos que kyn − yk → 0. Daí, xn = λn yn → kxky = x, ou seja, (xn ) converge para x
fortemente. 
6.7. EXERCÍCIOS 93

6.7 Exercícios
Exercício 130 Seja X um espaço normado. Dizemos que um subconjunto A ⊂ X é fracamente limitado se f (A) ⊂
R é limitado para qualquer f ∈ X ∗ . Demonstre que um subconjunto A de X é limitado se, e somente se, é fracamente
limitado. Em particular, se B ⊂ X é um subcobjunto tal que f (B) ćompacto para todo f ∈ X ∗ , então B é limitado.
Dizemos que B com esta propriedade é fracamente compacto.
Sugestão: Princípio da Limitação Uniforme.

Exercício 131 Uma sequência (xn ) ⊂ X é fracamente de Cauchy se ( f (xn )) ⊂ R é de Cauchy para qualquer
f ∈ X ∗ . Demonstre que toda sequência fracamente de Cauchy (e consequentemente toda sequência fracamente
convergente) são limitadas.

Exercício 132 Sejam X e Y espaços normados. Então um operador linear T : (X, k · k) → (Y, k · k) é contínuo se,
e somente se, T : (X, σ (X, X ∗ )) → (Y, σ (Y,Y ∗ )) é contínuo.

Exercício 133 Sejam X um espaço de Banach e (xn ) ⊂ X uma sequência com xn * x. Defina

1
σn = (x1 , . . . , xn ), n ∈ N.
n
Demonstre que σn * x.

Exercício 134 Seja X um espaço de Banach e (xn ) ⊂ X uma sequência com xn * x.

i) Demonstre que existe uma sequência (yn ) ⊂ X tal que



(yn ) ⊂ conv {xi }i∈N , yn → x fortemente.

ii) Demonstre que existe uma sequência (zn ) ⊂ X tal que



zn ∈ conv {x1 , . . . , xn } , zn → x fortemente.

Exercício 135 Sejam X um espaço de Banach e C ⊂ X um subconjunto convexo. Demonstre que o fecho de C na
topologia forte e o fecho de C na topologia fraca coincidem.

Exercício 136 Sejam X um espaço de Banach e K ⊂ X um subconjunto compacto na topologia forte. Suponha
que (xn ) ⊂ K seja uma sequência que converge na topologia fraca para x. Demonstre que xn → x.
Sugestão: argumente por contradição.

Exercício 137 Dizemos que um espaço normado X possui a propriedade de Radon–Riesz se ele satisfaz o
seguinte: sempre que (xn ) ⊂ X é uma sequência e x ∈ X são tais que xn * x e kxn k → kxk, segue que xn → x.
Demonstre que l2 (N) possui a propriedade de Radon–Riesz.

Exercício 138 Sejam X um espaço de Banach e A ⊂ X um subconjunto fechado na topologia fraca. Suponha que
B ⊂ X seja compacto na topologia fraca.

a) Demonstre que A + B é fechado na topologia fraca.


b) Supondo adicionalmente que A e B sejam convexos, não–vazios e disjuntos, demonstre que existe um hiper-
plano fechado que separa A e B.

Exercício 139 Sejam X um espaço de Banach, M ⊂ X um subespaço e f0 ∈ X ∗ . Demonstre, utilizando a topologia


σ (X ∗ , X), que existe g0 ∈ M ⊥ tal que
inf k f0 − gk = k f0 − g0 k.
g∈M ⊥
94 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES

Exercício 140 Sejam X e Y espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ) de maneira que T ∗ ∈ B(Y ∗ , X ∗ ). Demonstre que
T ∗ : (Y ∗ , σ (Y ∗ ,Y )) → (X ∗ , σ (X ∗ , X)) é contínuo.

Exercício 141 Demonstre que, para cada espaço normado X, existe um isomorfismo isométrico de X em um
subconjunto de C(K), onde K é um espaço métrico de Hausdorff compacto.
Sugestão: tome K = BX ∗ e associe a cada x ∈ X a restrição à K de Jx.

Exercício 142 Seja X um espaço normado separável. Demonstre que existe um isorfismo isométrico de X em um
subespaço de l∞ .
Sugestão: existe um conjunto ( fi ) enumerável e denso em BX ∗ para a topologia σ (X ∗ , X); a aplicação j : C(BX ∗ ) →
l∞ , dada por x 7→ (x( fi )) é uma isometria.

Exercício 143 Seja X um espaço de Banach de dimensão infinita tal que X ∗ é separável. Demonstre que existe
uma sequência (xn ) ⊂ X tal que kxn k = 1 para todo n ∈ N e com xn * 0.
Demonstre o mesmo fato supondo agora que X é reflexivo, ao invés de supor que X ∗ é separável.

Exercício 144 Seja K um espaço métrico compacto não finito. Demonstre que C(K) não é reflexivo.
Sugestão: seja (an ) ⊂ K com an → a e an 6= a para todo n; considere o funcional linear

u(an )
f (u) = ∑ n
, u ∈ C(K).
n=1 2

Exercício 145 Sejam x ∈ c0 e (xn ) ⊂ c0 . Demonstre que xn * x se, e somente se, a sequência (xn ) é limitada na
norma em c0 e pk (xn ) → pk (x), para qualquer k ∈ N, onde pk é a projeção na k–ésima coordenada.

Exercício 146 Seja ϕ : [1, 2] → R uma função contínua e considere as sequências


    
xn := 0, . . . , 0, ϕ n/n , ϕ (n + 1)/n . . . , ϕ (n + n)/n , 0, . . . ,

onde ϕ n/n está na n–ésima posição. Demonstre que xn * 0 e que (xn ) converge na topologia forte se, e somente
se, ϕ ≡ 0.

Exercício 147 Sejam X e Y espaços normados e S : Y ∗ → X ∗ um operador linear. Demonstre que

S : (Y ∗ , σ (Y ∗ ,Y )) → (X ∗ , σ (X ∗ , X))

é contínua se, e somente se, existe T : X → Y tal que T ∗ = S.

Exercício 148 Seja X um espaço de Banach. Considere a afirmação: um subconjunto convexo de X ∗ é fechado
na topologia forte se, e somente se, é fechado na topologia fraca∗ . Esta afirmação é verdadeira ou falsa?

Exercício 149 Dizemos que um espaço normado é estritamente convexo se ktx1 + (1 − t)x2 k < 1 sempre que
x1 , x2 ∈ X são pontos distintos com kx1 k = kx2 k = 1 e 0 < t < 1.
Demonstre que o espaço normado X é estritamente convexo se, e somente se,
x +x
1 2
<1
2

sempre que x1 , x2 ∈ X são pontos distintos com kx1 k = kx2 k = 1.

Exercício 150 Demonstre que c0 e l∞ não são estritamente convexos.

Exercício 151 Seja K um espaço métrico de Hausdorff compacto que possui mais que um elemento. Demonstre
que C(K) com a norma k · k∞ não é estritamente convexo.
Sugestão: Lema de Urysohn.
6.7. EXERCÍCIOS 95

Exercício 152 Seja X um espaço normado. Demonstre que as seguintes afirmações são equivalentes:

a) o espaço X é uniformemente convexo;


b) sempre que (xn ) e (yn ) são sequências com kxn k = kyn k = 1 para todo n e com k(xn + yn )/2k → 1, segue
que kxn − yn k → 0;
c) sempre que (xn ) e (yn ) são sequências em BX e com k(xn + yn )/2k → 1, segue que kxn − yn k → 0;

d) sempre que (xn ) e (yn ) são sequências em X com kxn k, kyn k e k(xn + yn )/2k todas tendeno a 1, segue que
kxn − yn k → 0;

Sugestão: b) implica em d) e d) implica em c; disso segue que b), c) e d) são equivalentes; a) implica em b); b)
implica em a).

Exercício 153 Um espaço normado de dimensão finita é uniformemente convexo se, e somente se, é estritamente
convexo.
96 CAPÍTULO 6. TOPOLOGIAS FRACA E FRACA∗ E IMPLICAÇÕES
Capítulo 7

Espaços L p revisitados

Vamos estudar neste breve capítulo mais algumas propriedades do espaços L p , tais como reflexividade e separa-
bilidade. Estes resultados completam os que já foram visto no Capítulo 2, mas estão longe de serem completos.
Sugerimos o Capítulo 4 de [1] ou o Capítulo 6 de [5]. Vamos usar a notação L p (Ω) = L p (Ω, µ), onde µ é uma
medida como nas hipóteses no início do Capítulo 2.

Vigésima aula↓

7.1 Reflexividade dos espaços L p , 1 < p < ∞


Lembremos que os espaços L p são espaços de Banach. Sendo assim, se demonstrarmos que estes espaços são
uniformemente convexos, sua reflexividade seguirá do Teorema de Milman–Pettis. A convexividade uniforme, por
sua vez, foi estabelecida em 1936 por J. Clarkson. Normalmente, as demonstrações seguem das desigualdades de
Clarkson, que devem ser divididas nos casos 1 < p < 2 e 2 ≤ p < ∞.
Seja ε ∈ [0, 2]. Dado um espaço normado X, definimos o módulo de convexidade de X por

δ = δX (ε) = inf 1 − k(x + y)/2k | kxk = kyk = 1, kx − yk ≥ ε .

Observemos que X 6= {0} é uniformemente convexo se, e somente se, δX (ε) > 0 para todo ε ∈ (0, 2].

Lema 7.1.1 (McShane) Para cada p ∈ (1, ∞) e cada função λ : (0, 2] → (0, 1], existe uma função γ p,λ : (0, 2] →
(0, 1] tal que, se X é um espaço uniformemente convexo cujo módulo de convexidade δ (ε) satisfaz λ (ε) ≤ δ (ε),
ε ∈ (0, 2], então
x + y p  kxk p + kyk p 
≤ (1 − γ p,λ (t)) ,

2 2

sempre que 0 < t ≤ 2 e x, y ∈ X são tais que

kx − yk ≥ t max{kxk, kyk}.

Demonstração. Suponhamos, para efeitos de contradição, que existam p ∈ (1, ∞) e uma função λ como nas
hipóteses mas que não exista a função γ p,λ como afirmado. Consideremos a função
p
(1 + t)/2
f (t) = , 0 ≤ t ≤ 1.
(1 + t p )/2

Então f é estritamente crescente em [0, 1] e, portanto, atinge o máximo em t = 1. Segue que, se kxk = 1 e kyk ≤ 1,
então
(x + y)/2 p
p
(1 + kyk)/2
 ≤  ≤ 1.
kxk p + kyk p /2 1 + kyk p /2

97
98 CAPÍTULO 7. ESPAÇOS LP REVISITADOS

Como estamos supondo que não existe a função γ p,λ com as propriedades sugeridas, existem t ∈ (0, 2], um
sequência de espaços (Xn ) uniformemente convexos tais que o módulo de convexividade de Xn tem a propriedade
que λ (ε) ≤ δXn (ε), 0 < ε ≤ 2, e sequências (xn ) e yn tais que, para cada n ∈ N :

1) xn , yn ∈ Xn ;

2) kxn k = 1 e kxn k ≤ 1;

3) kxn − yn k ≤ t max{kxn k, kyn k} = t;


x + y p  1  kxk p + kyk p 
4) > 1− .

2 n 2
Notemos ainda que
k(xn + yn )/2k p
lim = 1. (7.1)
n→∞ (kxk p + kyk p )/2

Estamos usando aqui um abuso de notação para as normas, já que cada para xn e yn está em um espaço Xn .
Pelas propriedades da função f temos que kyn k → 1. Logo, podemos assumir que y6 = 0, para todo n. Seja
zn = kyn k−1 yn . Então kzn − yn k → 0 quando n → ∞. Logo, podemos assumir que kxn − zn k ≥ t/2 para cada n.
Segue disso que
x +z
n n
≤ 1 − δXn (t/2) ≤ 1 − λ (t/2) < 1.
2

Entretanto, utilizando (7.1) obtemos que


x +z x +y
n n n n
lim = lim = 1,
n→∞ 2 n→∞ 2
o que é uma contradição. 

Com as notações do Lema 7.1.1, se λ é a restrição do módulo de convexividade de F à (0, 2], temos o lema
a seguir que será utilizado na demonstração da convexividade uniforme de L p .

Lema 7.1.2 Suponhamos que p ∈ (1, ∞). Então existe uma função γ p : (0, 2] → (0, 1] tal que
a + b p  |a| p + |b| p 
≤ (1 − γ p (t)) ,

2 2

quando 0 < t ≤ 2 e a, b ∈ F são tais que |a − b| ≤ t max{|a|, |b|}.

Teorema 7.1.3 (Clarkson) Os espaços L p (Ω, µ), 1 < p < ∞, com µ sendo uma medida positiva, são uniforme-
mente convexos.

Demonstração. Suponhamos que f , g ∈ LP (Ω) sejam tais que k f k = kgk = 1 e k f − gk ≥ ε > 0 (estamos
denotando k · kL p = k · k). Definamos

A = x ∈ Ω | | f (x) − g(x)| p ≥ ε p /4 | f (x)| p + |g(x)| p


 

e observemos que
ε
| f (x) + g(x)| ≥ max{| f (x)|, |g(x)|}, quando x ∈ A.
41/p
Sendo γ p como no Lema 7.1.2, segue que
f (x) + g(x) p   | f (x)| p + |g(x)| p 
≤ 1 − γ ε/41/p , quando x ∈ A.

2 2

7.1. REFLEXIVIDADE DOS ESPAÇOS LP , 1 < P < ∞ 99

Portanto,
f + g Z  | f | p + |g| p f + g p 
1− = − dµ

2 Ω 2 2
Z  p
| f | + |g| p f + g p 
≥ − dµ
A 2 2
 Z | f | p + |g| p
≥ γ p ε/41/p dµ
A 2
Assim, sendo χA função característica de A, temos que
Z
p p
k f χa − gχA k = k f − gk − | f − g| p dµ
Ω\A
εp
Z
≥ εp − | f | p + |g| p dµ

4 Ω\A
ε p  εp
≥ εp − k f k p + kgk p =
4 2
Segue que max{k f χA k, kgχA k} ≥ ε/(21+1/p ). Portanto,
f +g  k f χA k p + kgχA k p  εp
1− ≥ γ p ε/41/p ≥ γ p ε/41/p 1+1/p ,

2 2 2
o que implica em
f +g   ε p 1/p
≤ 1 − γ p ε/41/p p+2 < 1.

2 2

Tomando   ε p 1/p
δ (ε) = 1 − 1 − γ p ε/41/p p+2
2
a demonstramos a uniforme convexividade. 

Corolário 7.1.4 Os espaços L p (Ω, µ), 1 < p < ∞, com µ uma medida positiva, são reflexivos.

Concretamente, o próximo resultado já foi considerado no Exercício 48 e vamos revisita–lo aqui.

Teorema 7.1.5 (Representação de Riesz) Sejam p, q ∈ (1, ∞) com 1/p+1/q = 1 e φ ∈ (L p (Ω, µ))∗ . Então, existe
u ∈ Lq (Ω, µ) tal que Z
φ( f ) = u f dµ,

para qualquer f ∈ L p (Ω, µ). Além disso,
kφ k(L p )∗ = kukLq .

Demonstração. Consideremoso operador T : Lq (Ω, µ) → (L p (Ω, µ))∗ definido por


Z
(Tu)( f ) = u f dµ.

Pela Desigualdade de Hölder,


|(Tu)( f )| ≤ kukLq k f kL p ,
o que nos dá kTuk(L p )∗ ≤ kukLq . Tomando f = |u|q−2 u ∈ L p vemos que (Tu)( f /k f kL p ) = kukLq . Portanto, T é
uma isometria.
Para verificar que T é sobrejetora, seja ξ ∈ (L p (Ω, µ))∗∗ tal que ξ (Tu) = 0 para todo u ∈ Lq (Ω, µ). Como
L (Ω, µ) é reflexivo, podemos assumir que ξ ∈ L p (Ω, µ). Em particular, se u = |ξ | p−2 ξ ,
p
Z Z
0= uξ dµ = |ξ | p dµ,
Ω Ω

ou seja, ξ = 0. Segue que T (Lq (Ω, µ)) é denso em (L p (Ω, µ))∗ . Como estes espaços são Banach, a imagem de T
é fechada e o resultado segue. 
100 CAPÍTULO 7. ESPAÇOS LP REVISITADOS

7.2 Separabilidade dos espaços L p , 1 ≤ p < ∞


Vamos nos sestringir nesta seção, por simplicidade, ao caso em que Ω ⊂ Rn . O próximo resultado foi apresentado
no Exercício 41 e a sua demonstração será omitida.

Teorema 7.2.1 O espaço Cc (Rn ), das funções contínuas com suporte compacto em Rn , é denso em L p (Rn ) quando
1 ≤ p < ∞.

O Teorema 7.2.1 implica na separabilidade de L p , 1 ≤ p < ∞.

Teorema 7.2.2 Se 1 ≤ p < ∞, então L p (Ω) é um espaço separável.

Demonstração. Suponhamos inicialmente que Ω = RN . Definamos a família


N
R := R = ∏ (ak , bk ) | ak , bk ∈ Q .

k=1

Em palavras, R é a família de todos os retângulos em RN nos quais os extremos dos intervalos são números
racionais. Esta família é obviamente enumerável. Consideremos agora o espaço vetorial E sobre Q gerado pelas
funções características de elementos de R, isto é,

E = [{χR | R ∈ R}]Q .

Já vimos que E definido dessa forma é enumerável. Vamos verificar que E é denso em L p (Ω, µ), 1 ≤ p < ∞.
Dado f ∈ L p (Ω, µ) e ε > 0, seja g1 ∈ Cc (RN ) tal que k f − g1 kL p < ε. Fixemos R ∈ R de forma que supp g1 ⊂
R. Pela continuidade uniforme de g1 , dado δ > 0, podemos dividir R em subretângulos de R disjuntos de maneira
que a oscilação de g1 é menor que δ em cada um desses retêngulos. Lembremos que a oscilação de g1 é sup g1 −
inf g1 . Definimos g2 como sendo combinação linear finita de funções características desses retêngulos, onde os
coeficientes da combinação sejam escolhidos de maneira que kg1 − g2 k∞ < δ . Assim, estimamos,

kg1 − g2 kL p ≤ kg1 − g2 k∞ |R|1/p < δ |R|1/p .

Escolhendo δ > 0 de maneira que δ |R|1/p < ε obtemos

k f − g2 kL p ≤ 2ε.

Isto conclui a demonstração no caso Ω = RN .


Nocaso geral, vemos que podemos estender cada função de L p (Ω) como sendo zero fora de Ω. Dessa forma,
vemos que L p (Ω) pode ser visto com um subespaço fechado de L p (RN ). Isto é suficiente para concluirmos que
este espaço também é separável. 

7.3 Comentários sobre L∞


Novamente vamos nos sestringir, por simplicidade, ao caso em que Ω ⊂ Rn .
Pelo Exercício 48, (L1 (Ω))∗ = L∞ (Ω). Segue que (L∞ (Ω))∗ contém L1 (Ω). Veremos que agora que esta
inclusão é estrita.

Teorema 7.3.1 O espaço L∞ (Ω) não é reflexivo.

Demonstração. Faremos o caso Ω = RN . Seja φ0 dado por

φ0 ( f ) = f (0), f ∈ Cc (RN ).
7.4. EXERCÍCIOS 101

Observemos que φ0 é linear e contínuo em Cc (RN ) para a norma k · k∞ . Por Hahn–Banach, podemos estender φ0 a
um funcional φ ∈ (L∞ (RN ))∗ . Suponhamos que exista u ∈ L1 (RN ) tal que
Z
φ( f ) = u f dµ.
RN

Consideremos uma sequência de funções em ( fn ) ⊂ L∞ (RN ) dadas por

1 1
fn (x) = 1 se |x| ≤ , fn (x) = 0 se |x| >
n n
Segue que φ ( fn ) = 1 para todo n ∈ N mas u fn → 0 quase sempre e |u fn | ≤ |u| ∈ L1 (RN ). Segue do Teorema da
Convergência Dominada que Z
u f dx → 0 quando n → ∞.
RN

Assim, não existe uma tal u ∈ L1 (RN ). 

Vamos agora verificar que L∞ (Ω) não é separável.

Teorema 7.3.2 O espaço L∞ (Ω) não é separável.

Demonstração. Seja Ω ⊂ RN um aberto. Escolhemos agora um aberto Ω̃ ⊂⊂ Ω de maneira que a projeção de


Ω̃ sobre a primeira coordenada contenha um intervalo do tipo [a, b]. Definimos um subconjunto de Ω̃ da seguinte
maneira:
Ωt := {(x, y) ∈ Ω̃ | 0 ≤ x ≤ t} a ≤ t ≤ b.
Se t, s ∈ [0, 1] são tais que t 6= s, então kχΩt − χΩs k∞ = 1. Definamos

Ot = { f ∈ L∞ (Ω) | k f − χΩt k∞ < 1/2}.

Então temos que cada Ot é aberto e Ot ∩ Os = 0. / Além disso, existe uma quantidade não enumerável de aberto do
tipo Ot , já que o intervalo [a, b] é não enumerável.
Seja {uα }α∈A qualquer subconjunto denso em L∞ (Ω). Então, para cada t ∈ [a, b] podemos escolher uαt ∈ Ot .
A aplicação t 7→ αt é injetiva. De fato, se αt = αs , então uαt = uαs ∈ Ot ∩ Os e assim, t = s. Segue que o conjunto
A não pode ser enumerável. Isto finaliza a demonstração. 

Observação 7.3.3 O espaço L1 (Ω) não é reflexivo. Caso fosse, teríamos então que ele seria reflexivo e separável.
Consequentemente, (L1 (Ω))∗ = L∞ (Ω) seria separável, o que é um absurdo.

7.4 Exercícios
Exercício 154 Seja Ω = (0, 1) e considere a sequência ( fn ) de funções definidas por fn (x) = ne−nx . Demonstre
as seguintes afirmações:

i) fn → 0 em quase todo ponto;


ii) ( fn ) é limitada em L1 (Ω);
iii) ( fn ) não converge em L1 (Ω) para 0;
iv) ( fn ) não converge para 0 na topologia fraca σ (L1 , L∞ ).
Mais precisamente, ( fn ) não possui subsequência que converge na topologia fraca σ (L1 , L∞ ).

Exercício 155 Seja Ω = (0, 1) e considere agora a sequência (gn ) de funções definidas por gn (x) = n1/p e−nx ,
p > 1. Demonstre as seguintes afirmações:
102 CAPÍTULO 7. ESPAÇOS LP REVISITADOS

i) gn → 0 em quase todo ponto;


ii) (gn ) é limitada em L p (Ω);
iii) (gn ) não converge em L p (Ω) para 0;
iv) (gn ) converge para 0 na topologia fraca σ (L p , Lq ), onde 1/p + 1/q = 1.

Exercício 156 Suponha que 1 < p < ∞, 1/p + 1/q = 1, e considere uma sequência ( fn ) ⊂ L p (Ω) limitada em
L p (Ω) com fn → f em quase todo ponto de Ω.

i) Demonstre que fn * f em σ (L p , Lq ).
Sugestão: primeiro demonstre que se fn * f˜ e fn → f em quase todo ponto, então f = f˜ em quase todo
ponto (use o Exercício 134).
ii) Suponha que fn → f em L1 (Ω) ao invés de fn → f em quase todo ponto. Demonstre que fn * f em
σ (L p , Lq ).
iii) Com as hipóteses iniciais e supondo que Ω seja limitado, demonstre que fn → f em Lr (Ω) para todo
r ∈ [1, p).
Sugestão: considere as funções truncadas Tk fn , onde

ku
Tk (u) = u se |u| ≤ k, Tk (u) = se |u| < k.
|u|

Exercício 157 (Lema de Brezis–Lieb) Suponha que 1 < p < ∞.

i) Demonstre que existe uma constante C = C(p) > 0 tal que


|a + b| p − |a| p − |b| p ≤ C |a| p−1 |b| + |a||b| p−1 , para quaisquer a, b ∈ R.


ii) Seja ( fn ) ⊂ L p (Ω) uma sequência limitada com fn → f em quase todo ponto de Ω. Demonstre que f ∈ L p (Ω)
e que Z Z
| fn | p − | fn − f | p dµ = | f | p dµ.

lim
n→∞ Ω Ω
(Compare com o Lema de Fatou).
Sugestão: use o item i) com a = fn (x) − f (x) e b = f (x); note que, pelo Exercício 156, | fn − f | * 0 em
L p (Ω) e | fn − f | p−1 * 0 em Lq (Ω), 1/p + 1/q = 1.
iii) Deduza que se ( fn ) ⊂ L p (Ω) converge em quase todo ponto de Ω para f ∈ L p (Ω) e k fn kL p → k f kL p , então
fn → f fortemente em L p (Ω).
Capítulo 8

Espaços de Hilbert

Espaços de Hilbert, apesar de serem um caso especial de espaços de Banach, merecem um tratamento separado
pela sua importância em aplicações. O ponto principal nesses espaços é a existência de um produto interno, que
traz consigo a noção de ortogonalidade e os tornam a generalização natural dos espaços Euclidianos em dimensão
infinita. Em termos dos operadores lineares, pelo fato desses espaços prossuirem mais estruturas, podemos também
introduzir a noções de operadores simétricos, autoadjuntos, etc.
Este capítulo tratará somente dos fatos básicos sobre os espaços de Hilbert.

Vigésima primeira aula↓

8.1 Espaços de Hilbert: noções básicas


Seja H um espaço normado sobre um corpo F = C ou R. Uma aplicação h·, ·i : H × H → F é chamada de produto
interno se satsifaz as seguintes propriedades:

• para quaisquer α, β ∈ F e quaisquer x, y, z ∈ H :

hαx + β y, zi = αhx, zi + β hy, zi;

• para quaisquer x, y ∈ H :
hx, yi = hy, xi,

onde a barra representa o conjugado de um número complexo;

• parta qualquer x ∈ H, hx, xi ≥ 0 e hx, xi = 0 somente se x = 0.

Se H é um espaço normado onde temos definido um produto interno h·, ·i, dizemos que H é um espaço com
produto interno.
É fácil verificar que, se H é um espaço com produto interno, então

hz, αx + β yi = αhz, xi + β hz, yi,

para quaisquer x, y, z ∈ H e quaisquer α, β ∈ F.


O exemplo mais clássico de espaços com produto interno são os espaços CN , nos quais o produto interno é
dado por
N
hx, yi := x · y = ∑ xyi .
i=1

103
104 CAPÍTULO 8. ESPAÇOS DE HILBERT

Exemplo 8.1.1 Seja Ω um subconjunto mensurável de RN com µ(Ω) > 0. Então L2 (Ω, µ) é um espaço com
produto interno, onde Z
h f , giL2 := f (x)g(x)dx.

Analogamente, l2 (Z) é um espaço com produto interno, onde



hx, yil2 := ∑ xn yn .
−∞

Dado um espaço com produto interno (H, h·, ·i), definimos kxk = (hx, xi)1/2 , x ∈ H. A expressão k · k é,
de fato, uma norma em H, a qual dizemos que foi induzida pelo produto interno. A demonstração desse fato é
razoavelmente simples. O único ponto mais trabalhos é a desigualdade triangular, que utiliza o próximo lema.

Lema 8.1.2 (Desigualdade de Cauchy–Schwarz) Se (H, h·, ·i)é um espaço com produto interno com a norma
induzida k · k, então, para quaisquer x, y ∈ H,

|hx, yi| ≤ kxkkyk,

onde a igualdade ocorre se, e somente se, x e y são linearmente dependentes.

Demonstração. Se y = 0 então nada temos a demonstrar. Assumiremos y 6= 0. Para x, y ∈ H e λ ∈ F,

0 ≤ kx − λ yk2
= hx, xi − λ hx, yi − λ hy, xi + |λ |2 hy, yi
= kxk2 − λ hy, xi + λ hy, xi + |λ |2 kyk2


= kxk2 − 2ℜ λ hy, xi + |λ |2 kyk2 ,




onde ℜ denota a parte real de um número complexo. Basta agora tomarmos


hx, yi
λ= .
kyk2
Daí,
hx, yihy, xi |hx, yi|2 |hx, yi|2
0 ≤ kxk2 − 2ℜ + kyk2
= kxk2
− ,
kyk2 kyk4 kyk2
já que hx, yihy, xi = |hx, yi|2 é real. Isso demonstra o resultado, com igualdade se, e somente se, x − λ y = 0. 
1/2
Proposição 8.1.3 A função x 7→ kxk = hx, xi é uma norma em H.

Demonstração. Que kxk = 0 se, e somente se, x = 0 e que kλ xk = |λ |kxk para cada λ ∈ F são consequências
óbvias da definição. Para a desigualdade triangular temos:

kx + yk2 = hx + y, x + yi
= kxk2 + 2ℜhx, yi + kyk2
≤ kxk2 + 2kxkkyk + kyk2
2
= kxk + kyk ,

como desejado. 

Um espaço H com produto interno h·, ·i que é completo com a norma induzida por este produto interno é
chamado de espaço de Hilbert.
Observemos que os exemplos L2 (Ω, µ) e l2 (Z) são espaços de Hilbert, pois a norma induzida é justamente a
norma que já havíamos definidos nesses espaços anteriormente.
8.2. PROJEÇÕES ORTOGONAIS 105

Proposição 8.1.4 Seja H um espaço de Hilbert e suponhamos que xn → x e yn → y na norma induzida. Então
hxn , yn i → hx, yi.

Demonstração. Utilizando a Desigualdade de Cauchy–Schwarz,

|hxn , yn i − hx, yi| = |hxn − x, yn i + hx, yn − yi|


≤ kxn − xkkyn k + kxkkyn − yk.

O resultado desejado segue uma vez que a sequência (yn ) é limitada. 

Corolário 8.1.5 Se λn → λ ∈ F e µn → µ ∈ F, e ainda, xn → x e yn → y na norma induzida, então hλn xn , µn yn i →


hλ x, µyi.

Proposição 8.1.6 (Lei do Paralelogramo) Para quaisquer x, y ∈ H,

kx + yk2 + kx − yk2 = 2 kxk2 + kyk2 .




Demonstração. Para quaisquer x, y ∈ H,

kx ± yk2 = kxk2 ± ℜhx, yi + kyk2 .

Somando as duas fórmula obtemos a identidade. 

Apesar de simples, a identidade do Paralelogramo tem uma aplicação importante.

Teorema 8.1.7 Todo espaço de Hilbert H é uniformemente convexo e, portanto, reflexivo.

Demonstração. Seja ε > 0 e x, y ∈ H com kxk ≤ 1, kyk ≤ 1 e kx − yk > ε. Pela identidade do paralelogramo,
x + y 2 ε2
< 1− ,

2 4

o que nos dá,


x+y   ε 2 1/2 
< 1− 1− 1− = 1−δ,

2 4

com δ > 0 se ε > 0 é pequeno. A conclusão segue do Teorema de Milman–Pettis. 

8.2 Projeções ortogonais


À seguir apresentamos uma importante propriedade geométrica dos espaços com produto interno.

Teorema 8.2.1 (Melhor aproximação) Suponhamos que H seja um espaço com produto interno e seja M ⊂ H
um convexo completo e não vazio. Se x ∈ H, então existe y = y(x) ∈ M tal que

dist(x, M) = inf{kx − zk | z ∈ M} = kx − yk.

O elemento y é chamado de melhor aproximação de x em M.

Demonstração. Seja
δ = inf{kx − zk | z ∈ M}.
Se δ = 0 então tomamos y = x, pois M é completo.
Suponhamos então que δ > 0. Então x 6∈ M e existe uma sequência (yn ) ⊂ M tal que

kx − yn k = δn → δ .
106 CAPÍTULO 8. ESPAÇOS DE HILBERT

Afirmamos que (yn ) é uma sequência de Cauchy. Pela lei do paralelogramo,

k(yn − x) + (x − ym )k2 + k(yn − x) − (x − ym )k = 2 kyn − xk2 + kx − ym k2 ,




ou seja,

kyn − ym k2 = 2 kyn − xk2 + kx − ym k2 − kyn + ym − 2xk2



y +y 2
n m
= 2(δn2 + δm2 ) − 4 − x

2
≤ 2(δn2 + δm2 ) − 4δ 2 ,

já que, pela convexividade, (yn + ym )/2 ∈ M. Assim, quando n, m → ∞, temos que kyn − ym k → 0. Como M é
completo, yn → y ∈ M. Como a norma k · k é contínua, kx − yk = δ .
Vejamos agora que y é único. Se z ∈ M é tal que kx − zk = δ , então, novamente pela identidade do paralelo-
gramo,

ky − zk2 = 2 ky − xk2 + kx − zk2 − ky + z − 2xk2



y+z 2
= 4δ 2 − 4 − x

2
= 4δ 2 − 4δ 2 = 0.

Assim, y = z. 

Dizemos que x e y em H são ortogonais se hx, yi = 0. Neste caso denotamos x ⊥ y. No caso em que x é
ortogonal a todo elemento de um conjunto M ⊂ H, denotamos x ⊥ M.

Corolário 8.2.2 Suponhamos que H seja um espaço com produto interno e seja M um subespaço completo de H.
Se x ∈ H e y ∈ M é a melhor aproximação de de x em M, então

x − y ⊥ M.

Demonstração. Seja m ∈ M, m 6= 0. Para qualquer λ ∈ F, pela melhor aproximação temos

kx − yk2 ≤ kx − y + λ mk2 = kx − yk2 + λ hx − y, mi + λ hm, x − yi + |λ |2 kmk2 .

Tomando
hx − y, mi
λ =− ,
kmk2
temos que
0 ≤ −λ λ kmk2 = λ λ kmk2 + |λ |2 kmk2 = −|λ |2 kmk2 ,
o que nos dá que λ = 0, ou seja,
hx − y, mi = 0 para qualquer m ∈ M.
Segue que x − y ⊥ M. 

Dado um subconjunto M de um espaço com produto interno, definimos

M ⊥ = {x ∈ H | hx, mi = 0 para todo m ∈ M}.

Veremos mais adiante que esta notação não entra em conflito com a que já utilizamos nestas notas para subconjun-
tos de espaços de Banach.

Proposição 8.2.3 Suponhamos que H seja um espaço com produto interno e seja M ⊂ H. Então M ⊥ é um subes-
paço de H com M ⊥ M ⊥ e M ∩ M ⊥ sendo {0} ou o conjunto vazio.
8.2. PROJEÇÕES ORTOGONAIS 107

Vigésima segunda aula↓

Teorema 8.2.4 (Teorema da Projeção) Suponhamos que (H, h·, ·i) seja um espaço com produto interno e seja
M ⊂ H um subespaço completo. Então, existem dois operadores lineares limitados e sobrejetivos

P : H → M, P⊥ : H → M ⊥ ,

definidos da seguinte forma:

a) kx − Pxk = inf{kx − yk | y ∈ M};

b) x = Px + P⊥ x, isto é, P⊥ = IH − P.

Os operadores P e P⊥ são únicos e satisfazem as seguintes propriedades:

i) (Teorema de Pitágoras) kxk2 = kPxk2 + kP⊥ xk2 ;

ii) x ∈ M se, e somente se, P⊥ x = 0;

iii) x ∈ M ⊥ se, e somente se, Px = 0;

iv) kPk = 1 a menos que M = {0} e kP⊥ k = 1 a menos que M = H;

v) PP⊥ = P⊥ P = 0, P2 = P e (P⊥ )2 = P⊥ .

Dizemos que P e P⊥ são as projeções ortogonais de H sobre M e M ⊥ , respectivamente.

Demonstração. Pelo Teorema de melhor aproximação, temos que i) define P unicamente e, consequentemente,
P⊥ também está unicamente determinada. Se x ∈ H, então, para m ∈ M,

hP⊥ x, mi = hx − Px, mi = 0,

pelo Corolário 8.2.2. Assim, a imagem de P⊥ é M ⊥ .


Verifiquemos agora que P e P⊥ são lineares. Sejam α, β ∈ F e x, y ∈ H. Então,

αx + β y = P(αx + β y) + P⊥ (αx + β y),

e também,

αx + β y = α(Px + P⊥ x) + β (Py + P⊥ y)
= αPx + β Py + αP⊥ x + β P⊥ y.

Segue que
αPx + β Py − P(αx + β y) = P⊥ (αx + β y) − αP⊥ x − β P⊥ y.
Como M e M ⊥ são espaços vetoriais, vemos que o lado direito na igualdade acima pertence a M ⊥ e o lado esquerdo
a M. Mas M ∩ M ⊥ = {0}, o que nos dá

P(αx + β y) = αPx + β Py,


P⊥ (αx + β y) = αP⊥ x + β P⊥ y.

Da demonstração do Teorema de Melhor Aproximação temos que, se x ∈ M, então Px = x. Reciprocamente,


se x = Px então x ∈ M. Isso demonstra ii). Analogamente demonstramos iii).
Se x ∈ H, então ii) e iii) implicam que PP⊥ x = 0, já que P⊥ x ∈ M ⊥ e P⊥ Px = 0 uma vez que Px ∈ M. Logo,
0 = PP⊥ = P(I − P) = P − P2 e 0 = P⊥ P = P⊥ (I − P⊥ ) = P⊥ − (P⊥ )2 . Assim, segue o item v).
108 CAPÍTULO 8. ESPAÇOS DE HILBERT

O item i) segue por um cálculo direto:

kxk2 = kPx + P⊥ xk2 = hPx + P⊥ x, Px + P⊥ xi


= kPxk2 + hPx, P⊥ xi + hP⊥ x, Pxi + kP⊥ xk2
= kPxk2 + kP⊥ xk2 ,

já que M ⊥ M ⊥ .
Finalmente, pelo item i),
kPxk2 = kxk2 − kP⊥ xk2 ≤ kxk2 ,
e kPk ≤ 1. Mas se M 6= {0}, existe x ∈ M \ {0} para o qual kPxk = kxk. Assim, kPk = 1. Observações similares
valem para P⊥ e temos que kP⊥ k = 1. 

Corolário 8.2.5 Se H é um espaço de Hilbert e M ⊂ H é um subespaço fechado, então P⊥ é a melhor aproximação


para M ⊥ .

8.3 Dualidade
Já vimos que os espaços de Hilbert são reflexivos. Verficaremos nesta seção um resultado ainda mais forte, que
nos diz que todo funcional contínuo pode ser visto como o produto interno de um vetor fixo em H com os demais
elementos de H.
Fixemos um espaço de Hilbert H com produto interno h·, ·i e seu dual H ∗ . Se f ∈ H, então podemos associar
a f o funcional ϕ f da seguinte maneira:
ϕ f (x) = hx, f i.
O funcional ϕ f é claramente linear e é contínuo pela Desigualdade de Cauchy–Schwarz. Além disso,

kϕ f k ≤ k f k.

Mas, se f 6= 0, então 
ϕ f f /k f k = k f k.
Assim, kϕ f k = k f k. Concluímos que a aplicação f 7→ ϕ f é uma isometria de H em H ∗ .

Teorema 8.3.1 (Riesz–Fréchet) Seja H um espaço de Hilbert com produto interno h·, ·i e ϕ ∈ H ∗ . Então existe
um único f ∈ H tal que
ϕ(x) = hx, f i, para qualquer x ∈ H.
Além disso, kϕk = k f k.

Demonstração. Se ϕ = 0 então basta tomarmos f = 0.


Para demonstrarmos a unicidade notemos que se ϕ(x) = hx, gi e ϕ(x) = hx, f i para qualquer x ∈ H, então

hx, g − f i = 0 para qualquer x ∈ H.

Em pasrticular, substituindo x = f − g temos que k f − gk = 0, ou seja, f = g.


Consideremos
M = ker ϕ = ϕ −1 ({0}).
Segue que M é um subespaço fechado de H. Pelos comentários iniciais, podemos assumir que ϕ 6= 0. Dessa forma,
M 6= H e M ⊥ 6= {0}.
Fixemos z ∈ M ⊥ \ {0} normalizado de maneira que kzk = 1. Para x ∈ H definamos

u = (ϕx)z − (ϕz)x.
8.4. SUBCONJUNTOS ORTONORMAIS 109

Assim,
ϕ(u) = (ϕx)(ϕz) − (ϕz)(ϕx) = 0.
Dito de outra forma, u ∈ M, ou seja, u ⊥ z. Segue que

0 = hu, zi = ϕ(x)hz, zi − ϕ(z)hx, zi = ϕ(x) − ϕ(z)hx, zi,

e portanto,
ϕ(x) = hx, ϕ(z)zi.
O resultado segue se tomarmos f = ϕ(z)z. Que a aplicação f 7→ ϕ f é uma isometria já foi visto no início desta
seção. 

A aplicação R : H → H ∗ dada por R( f ) = ϕ na notação da demonstração do Teorema de Riesz-Fréchet é


chamada de aplicação de Riesz. Observe que, apesar de R ser uma isometria bijetora, R não é linear quando
F = C. Na verdade temos
R(x + λ y) = R(x) + λ R(y),
para quaisquer x, y ∈ H e qualquer λ ∈ F.

8.4 Subconjuntos ortonormais


Suponhamos que H seja um espaço com produto interno e que I seja um conjunto de índices. Um conjunto
A = {xα , α ∈ I} d́ito ortogonal se xα 6= 0 para todo α ∈ I e se xα ⊥ xβ para quaisquer α, β ∈ I, α 6= β , ou seja,

hxα , xβ i = 0, para quaisquer α, β ∈ I, α 6= β .

Além disso, se kxα k = 1 para todo α ∈ I, dizemos que A é ortonormal.


Dizemos que A ⊂ H é linearmente independente se todo subconjunto finito de A é lienarmente indepen-
dente, isto é, dada qualquer coleção finita {xi }ni=1 ⊂ A, se tivermos
n
∑ ci xi = 0
i=1

para ci ∈ F, i = 1, . . . , n, então ci = 0 para cada i = 1, . . . , n.

Proposição 8.4.1 Se um subconjunto A de um espaço de Hilbert H é ortogonal,então A é linearmente indepen-


dente.

Exemplo 8.4.2 Seja {x1 , . . . , xn } um conjunto linearmente independente em um espaço de Hilbert H e


 
M = {x1 , . . . , xn } .

Por ser de dimensão finita, M é um subespaço fechado de H. Seja PM a projeção sobre H. Para cada x ∈ H, existem
c1 , . . . , cn ∈ F tais que
n
PM x = ∑ c j xi ,
j=1

e PM x − x ⊥ M. Segue que
hPM x, x j i = hx, x j i, j = 1, . . . , n.
Dessa forma,
n
hPM x, xi i = ∑ c j hx j , xi i,
j=1

e se colocarmos
ai j = hxi , x j i e bi = hx, xi i
110 CAPÍTULO 8. ESPAÇOS DE HILBERT

teremos que a matriz n × n dada por A = (ai j ) e os n vetores b = (b1 , . . . , bn ) e c = (c1 , . . . , cn ) satisfazem

Ac = b.

Como já sabemos que a projeção é única, temos que uma solução c existe, de maneira que A é inversível e podemos
encontrar uma expressão para PM x.

Teorema 8.4.3 Suponhamos que H seja um espaço de Hilbert e que {u1 , . . . , un } ⊂ H seja um conjunto ortonor-
mal. Seja x ∈ H. Então, a projeção ortogonal de x sobre
 
M = x1 , . . . , xn

é dada por
n
PM x = ∑ hx, ui iui .
i=1
Além disso,
n
∑ |hx, ui i|2 ≤ kxk2 .
i=1

Demonstração. Neste caso, usamos o que já fizemos no Exemplo 8.4.2. Observemos que a matriz A = hui , u j i é
a identidade, uma vez que o conjunto {u1 , . . . , u j } é ortonormal. Segue que cada o vetor c é justamente b = hx, ui i .
Finalmente, como kPM xk ≤ kxk. Mas um exercício simples nos dá
n
kPM k2 = ∑ |hx, ui i|2 .
i=1

Assim, segue o resultado. 

Gostaríamos de estudar agora conjuntos ortonormais mais gerais, que não necessariamente são finitos ou
enumeráveis.
Seja I um conjunto de índices (possivelmente não enumeráveis) e {xα }α∈I um conjunto de números reais
não negativos. Definimos n o
∑ xα = sup ∑ xα | J ⊂ I finito .
α∈I α∈J

Se I = N então a definiçãoa cima coincide com a usual, isto é,


n
∑ xi = n→∞
lim ∑ xi .
i∈N i=1

Lema 8.4.4 Suponhamos que I seja não enumerável e que

∑ xα < ∞.
α∈I

Então xα é diferente de zero somente para uma quantidade enumerável de índices α ∈ I.

Teorema 8.4.5 (Desigualdade de Bessel) Seja H um espaço de Hilbert e {uα }α∈I ⊂ H um conjunto ortonormal.
Então, para x ∈ H,
∑ |hx, xα i|2 ≤ kxk2 .
α∈I

Demonstração. Pelo Teorema 8.4.3, para qualquer conjunto finito J ⊂ I temos que

∑ |hx, uα i|2 ≤ kxk2 .


α∈J

O resultado segue tomando o sup nesse desigualdade. 


8.4. SUBCONJUNTOS ORTONORMAIS 111

Corolário 8.4.6 Com as hipóteses do Teorema 8.4.5, temos que no máximo uma quantidade enumerável de hx, uα i
são não nulos.

Em um certo sentido que será enunciado no Teorema de Riesz–Fischer, temos que cada x ∈ H pode ser
associado aos coeficientes hx, uα i para cada α ∈ I.
Fixemos I um conjunto de índices. Denotamos por l2 (I) o conjunto
l2 (I) = f : I → F | ∑ | f (α)|2 < ∞ .

α∈I

No caso em que I = N temos que l2 (I) é o espaço l2 usual que é um espaço de Hilbert. Em geral, l2 (I) é um espaço
de Hilbert com produto interno definido por
h f , gi = ∑ f (α)g(α).
α∈I

Vigésima terceira aula↓

Teorema 8.4.7 (Riesz–Fischer) Seja H um espaço de Hilbert e {uα }α∈I qualquer conjunto ortonormal em H.
Definamos a aplicação F : H → l2 (I) por F(x) = fx , onde
fx (α) = xα = hx, uα i, α ∈ I.
Então F é uma aplicação linear sobrejetiva e limitada, a qual é chamada de aplicação de Riesz–Fischer.

Demonstração. Denotemos a aplicação fx por {xα }α∈I . Temos


 
F(x + y) = (x + y)α α∈I = hx + y, uα i α∈I

= hx, uα i + hy, uα i α∈I
 
= hx, uα i α∈I + hy, uα i α∈I
= F(x) + F(y),
e similarmente F(λ x) = λ F(x) para qualquer λ ∈ F e qualquer x ∈ H. A limitação (continuidade) de F segue da
Desigualdade de Bessel. De fato,
kF(x)k2l2 (I) = ∑ |xα |2 ≤ kxk2 .
α∈I
Assim, não só Fé limitada, mas também kFk ≤ 1.
Vamos verificar agora que F é sobrejetiva. Seja f ∈ l2 (I) e n ∈ N. Tomemos
In = {α ∈ I | | f (α)| > 1/n}.
Então cada In é finito. Definindo J = ∪∞
n=1 In temos que J é enumerável e, se β 6∈ J, então f (β ) = 0. Em H
definamos
xn = ∑ f (α)uα .
α∈In

Como In é um conjunto finito, xn está bem definido. Verfiquemos que (xn ) é uma sequência de Cauchy. Para
n > m ≥ 1 calculamos
2
kxn − xm k2 = ∑ f (α)uα = ∑ | f (α)|2 ≤ ∑ | f (α)|2 ,

α∈In \Im α∈In \Im α∈I\Im

e esse ú́ltimo termo tende a zero pois a série toda converge, e portanto é pequena se tomarmos m grande. Como
H é Hilbert, existe x ∈ H tal que xn → x. Como F é contíua, F(xn ) → F(x). Vamos verificar que F(x) = f . Pela
continuidade do produto interno, temos que, para cada α ∈ I,
F(x)(α) = hx, uα i = lim hxn , uα i = lim ∑ f (β )huβ , uα i = f (α).
n→∞ n→∞
β ∈In

Isto finaliza a demonstração. 


112 CAPÍTULO 8. ESPAÇOS DE HILBERT

Teorema 8.4.8 Seja H um espaço de Hilbert. As seguintes afirmações a respeito de um conjunto ortonormal
{uα }α∈I ⊂ H são equivalentes:

i) {uα }α∈I é ortonormal maximal (também chamado de base ortonormal para H);
 
ii) {uα , α ∈ I} é denso em H;

iii) (Identidade de Parseval) kxk2 = ∑ |hx, uα i|2 para todo x ∈ H;


α∈I

iv) hx, yi = ∑ hx, uα ihy, uα i para quaisquer x, y ∈ H.


α∈I

 
Demonstração. Iniciamos verificando que i) implica em ii). Seja M = {uα } . Então M é um subespaço fechado
de H. Se M 6= H, então M ⊥ 6= {0} uma vez que H = M + M ⊥ . Seja x ∈ M ⊥ , x 6= 0, kxk = 1. Então o conjunto
{uα | α ∈ I} ∪ {x} seria um conjunto ortonormal, o que implica que {uα }α∈I não seria maximal ortonormal.
Verifiquemos agora que ii) implica em iii). Suponhamos então que, na notação do último parágrafo, M = H
e seja x ∈ H. Pela Desigualdade de Bessel,
kxk2 ≥ ∑ |xα |2 ,
α∈I

onde xα = hx, uα i para α ∈ I. Como [{uα }] é denso em H, dado ε > 0, existe um conjunto finito α1 , . . . , αn e
constantes c1 , . . . , cn tais que
n
x − ∑ ci uαi ≤ ε.

i=1

Pelo Teorema de Melhor Aproximação,


n n
x − ∑ xαi uαi ≤ x − ∑ ci uαi .

i=1 i=1

Segue da ortonormalidade que


n 2 n
ε 2 ≥ x − ∑ xαi uαi = kxk2 − ∑ |xαi |2 ≥ kxk2 − ∑ |xα |2 .

i=1 i=1 α∈I

Sendo assim,
kxk2 ≤ ∑ |xα |2 + ε 2 ,
α∈I

e ε > 0 é arbitrário. Assim, a igualdade é válida na Desigualdade de Bessel.


Suponhamos agora que a Identidade de Parseval seja válida e demonstremos o item iv. Sejam x, y ∈ H. Então
pelo item iii),

kxk2 + kyk2 + hx, yi + hy, xi = kx + yk2


= ∑ |xα + yα |2
α∈I
= ∑ |xα |2 + ∑ |yα |2 + ∑ xα yα + ∑ xα yα ,
α∈I α∈I α∈I α∈I

enquanto

kxk2 + kyk2 + ihx, yi − ihy, xi = kx + iyk2


= ∑ |xα + iyα |2
α∈I
= ∑ |xα |2 + ∑ |yα |2 − i ∑ xα yα + i ∑ xα yα .
α∈I α∈I α∈I α∈I
8.4. SUBCONJUNTOS ORTONORMAIS 113

Desde que
kxk2 = ∑ |xα |2 e kyk2 = ∑ |yα |2 ,
α∈I α∈I
podemos afirmar que
hx, yi + hx, yi = ∑ xα yα + ∑ xα yα
α∈I α∈I
e
hx, yi − hx, yi = ∑ xα yα − ∑ xα yα ,
α∈I α∈I
e o resultado desejado segue se somarmos estas duas igualdades.
Finalmente verfiquemos que iv) implica em i). Supondo que {uα }α∈I não é maximal, podemos tomar u ∈ H,
u ⊥ uα para todo α ∈ I e com kuk = 1. Então, pelo item iv),
1 = kuk2 = ∑ |hu, uα i|2 = 0,
α∈I

que é uma contradição. 

Do Teorema 8.4.8 temos que um conjunto ortonormal maximal é, em um certo sentido, uma base para o
espaço de Hilbert H.

Corolário 8.4.9 Se {uα }α∈I é maximal ortonormal e se x ∈ H é de dimensão infinita, então existem α1 ∈ I,
i = 1, 2, . . . tais que

x = ∑ hx, uαi iuαi .
i=1

Corolário 8.4.10 Se {uα }α∈I é um conjunto ortonormal maximal no espaço de Hilbert H, então a aplicação de
Riesz–Fischer F : → l2 (I) é um isomorfismo de espaços de Hilbert.

Teorema 8.4.11 Sejam H um espaço de Hilbert e {uα }α∈I qualquer conjunto ortonormal em H. Então {uα }α∈I ⊂
{uβ }β ∈J , onde este último é ortonormal maximal.

Demonstração. O caso geral segue por indução transfinita. Faremos a demonstração no caso em que H é
separável. Portanto, seja {x̃ j }∞j=1 um conjunto enumerável e denso em H. Definamos

M = [{uα }α∈I ].
Definamos
x̂ j := x̃ j − PM x̃ j ∈ M ⊥ ,
onde PM é a projeção ortogonal sobre M. Então o gerado por
{uα }α∈I ∪ {x̂ j }∞j=1
é denso em H. Definamos sucessivamente para j = 1, 2, . . . (com x1 = x̂1 )
N j := [{x1 , . . . , x j }],
onde
x j+1 = x̂ j+1 − PN j x̂ j+1 ∈ N ⊥
j .
O gerado por
{uα }α∈I ∪ {x j }∞j=1
é denso em H e qualquer dois elementos são ortogonais. Removendo qualquer vetor não nulo e normalizando os
demais a demonstração fica finalizada utilizando a equivalência entre ii) e iii) no Teorema 8.4.8. 

Corolário 8.4.12 Todo espaço de Hilbert H é isomorfo à l2 (I) para algum I. Além disso, H é de dimensão infinita
e separável se, e somente se, H é isomorfo à l2 (N).
114 CAPÍTULO 8. ESPAÇOS DE HILBERT

8.5 Os Teoremas de Stampacchia e de Lax–Milgram


Nesta seção vamos assumir que H é um espaço de Hilbert sobre R. Neste contexto, uma forma bilinear em H é
uma aplicação bilinear a : H × H → R. Dizemos que a(·, ·) é contínua se existir uma constante C > 0 tal que

|a(u, v)| ≤ Ckukkvk, para quaisquer u, v ∈ H.

A forma bilinear a(·, ·) é dita coerciva se existe uma constante α > 0 tal que

a(v, v) ≥ αkvk2 , para qualquer v ∈ H.

Nosso intuito nesta seção é apresentar os teoremas de Stampacchia e de Lax–Milgram, que representam
uma ferramenta abstrata importante em aplicações, principalmente no estudo de problemas de minimização em
subconjuntos de espaços de Hilbert. Em particular, no estudo de vários problemas lineares elípticos. De uma certa
maneira, estes resultados representam uma generalização do Teorema de Riesz–Fréchet.

Teorema 8.5.1 (Stampacchia) Suponhamos que a(·, ·) seja uma forma bilinear contínua e coerciva no espaço de
Hilbert H. Seja K ⊂ H um subconjunto convexo fechado e não vazio. Então, dado qualquer ϕ ∈ H ∗ , existe um
único elemento u ∈ K tal que

a(u, v − u) ≥ ϕ(v − u), para qualquer v ∈ K. (8.1)

Além disso, se a(·, ·) for simétrica, isto é, a(u, v) = a(v, u) para quaisquer u, v ∈ H, então u pode ser caracterizado
pela seguinte propriedade: u ∈ K e
1 n1 o
a(u, u) − ϕ(u) = min a(v, v) − ϕ(v) .
2 v∈K 2

Uma consequência do Teorema de Stampacchia é o resultado conhecido como Lema de Lax–Milgram.

Corolário 8.5.2 (Lax–Milgram) Suponhamos que a(·, ·) seja uma forma bilinear contínua e coerciva no espaço
de Hilbert H. Então, dado qualquer ϕ ∈ H ∗ , existe um único elemento u ∈ H tal que

a(u, v) = ϕ(v), para qualquer v ∈ H.

Além disso, se a(·, ·) for simétrica, então u pode ser caracterizado pela seguinte propriedade: u ∈ H e
1 n1 o
a(u, u) − ϕ(u) = min a(v, v) − ϕ(v) .
2 v∈H 2

Para demonstrarmos o Teorema de Stampacchia necessitamos de verificar alguns fatos adicionais sobre pro-
jeções.

Lema 8.5.3 Sejam H um espaço de Hilbert sobre R e K ⊂ H um convexo fechado não vazio. Então a projeção
u = PK f é caracterizada por
h f − u, v − ui ≤ 0, para qualquer v ∈ K. (8.2)

Demonstração. Suponhamos que u = PK f seja a pojeção em K de f . Já sabemos que

k f − uk = min k f − vk = dist( f , K).


v∈K

Para w ∈ K temos que


v = (1 − t)u + tw ∈ K, para todo t ∈ [0, 1].
Assim, 
k f − uk ≤ k f − (1 − t)u + tw k = k( f − u) − t(w − u)k.
Portanto,
k f − uk2 ≤ k f − uk2 − 2th f − u, w − ui + t 2 kw − uk2 .
8.5. OS TEOREMAS DE STAMPACCHIA E DE LAX–MILGRAM 115

Logo, para qualquer t ∈ (0, 1),


2h f − u, w − ui ≤ tkw − uk2 .
Fazendo t → 0+ obtemos
h f − u, w − ui ≤ 0.
Reciprocamente, se u satisfaz (8.2), então

ku − f k2 − kv − f k2 = 2h f − u, v − ui − ku − vk2 ≤ 0,

para qualquer v ∈ K. Isto implica que u = PK f . 

Já sabemos que se K for um subespaço fechado do espaço de Hilbert H, então a projeção sobre este espaço
possui norma 1. O próximo resultado é um substituto deste fato quando K é um convexo fechado não vazio.

Lema 8.5.4 Sejam H um espaço de Hilbert e K ⊂ H um convexo fechado não vazio. Então Pk satisfaz,

kPK f − PK gk ≤ k f − gk,

para quaisquer f , g ∈ H.

Demonstração. Tomemos u1 = PK f e u2 = Pk g. Então,

h f − u1 , v − u1 i ≤ 0, (8.3)
hg − u2 , v − u2 i ≤ 0, (8.4)

para qualquer v ∈ K. Tomando v = u2 em (8.3) e v = u1 em (8.4) e somando obtemos

h( f − g) + (u2 − u1 ), u2 − u1 i ≤ 0,

ou seja,
ku2 − u1 k2 ≤ h f − g, u1 − u2 i ≤ ku2 − u1 kk f − gk,
de onde segue o resultado. 

Vigésima quarta aula↓

Demonstração do Teorema 8.5.1. Sabemos do Teorema de Riesz–Fréchet que existe um único f ∈ H tal que

ϕ(v) = h f , vi, para qualquer v ∈ H.

Por outro lado, para u ∈ H fixado, a aplicação v 7→ a(u, v) é um funcional linear contínuo em H. Assim, existe um
único elemento Au ∈ H tal que
a(u, v) = hAu, vi, para qualquer v ∈ H.
Pela unicidade temos que A é linear. Além disso, A é contínuo. De fato, temos que existe ϕu ∈ H ∗ tal que, para
qualquer v ∈ H,
ϕu (v) = a(u, v) = hAu, vi;
segue que, por isometria,

kAuk = kϕu k = sup |a(u, v)| ≤ sup Ckukkvk ≤ Ckuk.


kvk≤1 kvk≤1

Com estas observações, o problema (8.1) é equivalente ao seguinte:

hAu, v − ui ≥ h f , v − ui, para qualquer v ∈ K,

ou seja, queremos demonstrar que

h f − Au, v − ui ≤ 0, para qualquer v ∈ K. (8.5)


116 CAPÍTULO 8. ESPAÇOS DE HILBERT

Dado ρ > 0, consideremos o problema

hρ f − ρAu, v − ui ≤ 0, para qualquer v ∈ K,

ou ainda,
hρ f − ρAu + u − u, v − ui ≤ 0, para qualquer v ∈ K.
Assim, queremos encontrar u ∈ K tal que u = PK (ρ f − ρAu + u).
Definamos S : K → K por S(w) = PK (ρ f − ρAw + w). Lembremos do Lema 8.5.4 que

kPK u1 − PK u2 k ≤ ku1 − u2 k, para quaisquer u1 , u2 ∈ H.

Portanto,

kSw1 − Sw2 k2 ≤ k(−ρAw1 + w1 ) − (−ρAw2 + w2 )k


= kw1 − w2 k2 − 2ρhAw1 − Aw2 , w1 − w2 i + ρ 2 kAw1 − Aw2 k2
≤ kw1 − w2 k2 − 2ραkw1 − w2 k2 + ρ 2Ckw1 − w2 k2
= kw1 − w2 k2 (1 − 2ρα + ρ 2C).

Escolhendo ρ > 0 de maneira que


k2 = 1 − 2ρα + ρ 2C < 1,
chegamos à conclusão que S é uma contração no convexo fechado e não vazio K. Sendo assim, pelo Teorema do
Ponto Fixo de Banach, S possui um ponto fixo u = Su ∈ K, o que finaliza a demonstração de (8.1).
Suponhamos agora que a forma bilinear a seja simétrica. Assim, a(·, ·) define um novo produto interno em
1/2
H e uma nova norma kuk1 = a(u, u) . Notemos que esta nova norma é equivalente à primeira com constantes
de equivalência C e α. Segue que (H, k · k1 ) é um espaço de Hilbert. Pelo Teorema de Riesz–Fréchet, para cada
ϕ ∈ H ∗ existe um único g ∈ H tal que

ϕ(v) = a(g, v), para todo v ∈ H.

Assim, queremos resolver


a(g − u, v − u) ≤ 0, para todo v ∈ K. (8.6)
Novamente, a solução de (8.6) é a projeção sobre K (relativa ao produto interno a(·, ·)). Já sabemos que u é
caracerizado por minimizar
min(a(g − v, g − v))1/2 .
v∈K
Assim, u minimiza a função

v 7→ a(g − v, g − v) = a(v, v) − 2a(g, v) + a(g, g) = a(v, v) − 2ϕ(v) + a(g, g).

Concluímos que u satisfaz


1 1
a(u, u) − ϕ(u) ≤ a(v, v) − ϕ(v), para qualquer v ∈ K.
2 2
Com isto concluímos a demonstração do Teorema de Stampacchia. 

8.6 Exercícios
Exercício 158 Demonstre a Proposição 8.2.3.

Exercício 159 Demonstre o Lema 8.4.4.

Exercício 160 Seja {ϕk }∞ 2 N


k=1 um conjunto ortonormal maximal de L (R ). Demonstre que a coleção {ϕk j }k, j=1

com ϕk j (x, y) = ϕk (x)ϕ j (y), (x, y) ∈ R2N , é um conjunto ortonormal maximal de L2 (R2N ).
8.6. EXERCÍCIOS 117

Exercício 161 (Processo de Gram–Schmidt) Seja x1 , x2 , . . . uma sequência de vetores linearmente independentes
em um espaço com produto interno. Defina indutivamente os vetores

e1 = x1 /kx1 k,
n−1
fn = xn − ∑ hxn , e j ie j para n ≥ 2,
j=1

en = fn /k fn k.

Demonstre que {e1 , e2 , . . .} é um conjunto ortonormal e que este conjunto gera o mesmo espaço que {x1 , x2 , . . .}.

Exercício 162 Aplique o processo de Gram–Schmidt aos vetores {1, x, x2 } ⊂ L2 ([−1, 1], dx). Utilize sua resposta
para calcular a distância de x3 ao espaço [{1, x, x2 }], isot é, encontre
Z 1
min |x3 − a − bx − cx2 |2 dx.
a,b,c∈C −1

Exercício 163 Seja Ω ⊂ RN um subconjunto mensurável e suponha que M ⊂ L2 (RN ) seja formado pela funções
f ∈ L2 (RN ) tais que f (x) = 0 para quase todo x 6∈ Ω. Demonstre que a projeções ortogonal P sobre M é dada por
P f = χΩ f .

Exercício 164 Demonstre que o conjunto {eikx | k ∈ Z} é ortonormal e maximal em L2 ([−π, π]), com [−π, π)
identificado com o círculo unitário.
Sugestão: usando a densidade de C([−π, π]) em L2 ([−π, π]), basta demonstrar que qualquer função contínua em
[−π, π] é limite de funções em [{eikx | k ∈ Z}]; para qualquer inteiro m ≥ 0, seja
 1 + cos x m
km (x) = cm , x ∈ [−π, π],
2
onde cm é escolhido de forma que
1
Z π
km (x)dx = 1.;
2π −π
verifique que
2 + eix + e−ix
km (x) = cm ∈ [{eikx | k ∈ Z}];
4
defina ainda
1
Z π
fm (x) = km (x − y) f (y)dy
2π −π

e demonstre que fm → f uniformemente na norma L∞ e portanto em L2 ([−π, π]).

Exercício 165 Seja H = L2 ([−π, π]) com [−π, π) identificado com o círculo unitário. Fixe uma sequência limi-
k=−∞ ⊂ C e defina o operador T : H → H por
tada (λk )∞
∞ ∞
T f (x) = ∑ λk ak eikx sempre que f (x) = ∑ ak eikx .
k=−∞ k=−∞

Tal operador é chamado de multiplicador de Fourier e a sequência (λk )∞


k=−∞ é chamada de multiplicadores.

i) Demonstre que T é limitado e kT k = sup{|λk | | k ∈ Z}.


ii) Verifique que T comuta com translações, isto é, se τh f (x) = f (x − h), então

T ◦ τh = τh ◦ T, para todo h ∈ R.

iii) Reciprocamente, se T é qualquer operador limitado em H que comuta com translações, então T é um
multiplicador de Fourier.
118 CAPÍTULO 8. ESPAÇOS DE HILBERT

Exercício 166 Seja P : H → M a projeção ortogonal em um espaço de Hilbert H sobre o subespaço fechado M
de H. Demonstre que
hPx, yi = hx, Pyi, para quaisquer x, y ∈ H.

Exercício 167 Suponha que X seja um espaço vetorial equipado com uma norma k · k que satisfaz a identidade
do paralelogramo:
ku + vk2 + ku − vk2 = 2 kuk2 + kvk2 .


Demonstre que
1
ku + vk2 − kuk2 − kvk2

hu, vi :=
2
define um produto interno em X que induz a norma k · k.

Exercício 168 Demonstre que se Ω ⊂ Rn for um aberto, então L p (Ω), 1 ≤ p ≤ ∞, p 6= 2, com a norma usual não
é um espaço de Hilbert.

Exercício 169 Seja H um espaço de Hilbert com base ortonormal {eα }α∈I . Demonstre que uma sequência (xn ) ⊂
H converge fracamente para x ∈ H se, e somente se,

hxn , eα i → hx, eα i, para qualquer α ∈ I.

Exercício 170 Seja H um espaço de Hilbert e (xn ) ⊂ H tal xn * x ∈ H e lim sup kun k ≤ kuk. Demonstre que
un → u (fortemente).

Exercício 171 Demonstre que um espaço de Hilbert H é fracamente completo, isto é, se (xn ) ⊂ H é fracamente
de Cauchy, então xn * x, para algum x ∈ H.
Sugestão: fixado v ∈ H, considere f (v) := limhxn , vi; verifique que f está bem definido, é linear e limitado; use o
Teorema de Riesz–Fréchet.

Exercício 172 Demonstre que todo espaço de Hilbert é sequencialmente fracamente compacto. Em outras
palavras, demonstre que se (xn ) ⊂ H for uma sequência limitada, então existe uma subseqência (xnk ) de (xn ) que
converge fracamente.
Sugestão: comece verficando que |hxn , x1 i| ≤ kxn kkx1 k e conclua que (hxn , x1 i) é limitada e portanto possui uma
sub que converge; proceda indutivamente para construir uma sequência de subsequências (xnm ) tais que (xnm+1 )∞ n=1
é uma subequência de (xnm )∞ m n
n=1 e limn→∞ hxn i existe; agora considera a diagonal (xn ); considere M como sendo o
fecho do espaço gerado por (xn ) e verifique que limhxn , ui e limhxn , vi existe para quaisquer u ∈ M e v ∈ M ⊥ .
Capítulo 9

Operadores compactos e auto adjuntos

Na primeira parte deste capítulo vamos estudar os adjuntos de operadores entre espaços de Hilbert. Veremos que
nesse contexto podemos definir os operadores auto adjuntos e estudaremos as suas propriedades básicas.
Em uma segunda parte, a ideia que nos motivará é a de encontrar um subespaço de B(X,Y ) consistindo de
operadores que se comportam como aplicações lineares entre espaços de dimensão finita. Inicialmente podemos
pensar que este subespaço seria o dos operadores com imagem de dimensão finita. Entretanto, veremos que os
exemplos mais interessantes pertencem a uma classe um pouco mais geral.

9.1 Operadores auto adjuntos


Seja T ∈ B(H, K) um operador limitado entre dois espaços de Hilbert H e K. Então, com relação ao seu adjunto
T ∗ temos:

D(T ∗ ) = ϕ ∈ K ∗ | |ϕ(Tu)| ≤ Ckuk para alguma constante C > 0, para qualquer u ∈ H = K ∗ .




Além disso, como T é limitado, temos então T ∗ ∈ B(K ∗ , H ∗ ). Pelo Teorema de Riesz–Fréchet, para cada L ∈ K ∗ ,
existe y ∈ K tal que, se x ∈ H,
(T ∗ L)(x) = L(T x) = hT x, yiK .
Por outro lado, existe z ∈ H tal que
hx, ziH = (T ∗ L)(x) = hT x, yiK .
Se F = h·, ziH temos
F(x) = hx, ziH = (T ∗ L)(x),
ou seja, T ∗ L = F. Assim, como pelo Teorema da representação de Riesz–Fréchet temos H ∗ = H e K ∗ = K, obtemos
a relação,
hx, T ∗ yiH = hT x, yiK sempre que x ∈ H, y ∈ K.

No caso em que H = K e T = T ∗ dizemos que T é um operador auto adjunto ou hermitiano.

Exemplo 9.1.1 Seja Sd : l2 → l2 o operador shift à direita definido por

Sd (x1 , x2 , x3 , . . .) = (0, x1 , x2 , . . .),

e seja Se : l2 → l2 o operador shift à esquerda que é definido por

Se (x1 , x2 , x3 , . . .) = (x2 , x3 , . . .).

Então
(Sd )∗ = Se

119
120 CAPÍTULO 9. OPERADORES COMPACTOS E AUTO ADJUNTOS

Exemplo 9.1.2 Consideremos o espaço L2 (X, µ) com as hipóteses usuais e ϕ ∈ L∞ (X, µ). O operador de multi-
plicação Mϕ : L2 (X, µ) → L2 (X, µ) é definido por Mϕ ( f ) = ϕ f . Temos:
Z Z
hMϕ f , gi = ϕ f gdµ = f ϕgdµ = h f , ϕgi = h f , Mϕ gi.
X X

Segue que Mϕ é auto adjunto se, e somente se, ϕ é uma função real em quase todo ponto de X.

Além das propriedades que já estudamos sobre adjuntos de operadores entre espaços de Banach, no caso de
espaços de Hilbert temos algumas propriedades adicionais.

Proposição 9.1.3 Sejam H um espaço de Hilbert e T ∈ B(H). Então T ∗∗ = T e (αT )∗ = αT ∗ para qualquer
α ∈ C.

Demonstração. Notemos incialmente que, por definição,

hT ∗ x, yi = hx, T ∗∗ yi, para quaisquer x, y ∈ H.

Por outro lado,


hTy, xi = hy, T ∗ xi, para quaisquer x, y ∈ H.
Tomando o conjugado vemos que

hT ∗ x, yi = hx, Tyi, para quaisquer x, y ∈ H,

ou seja,
hx, Ty − T ∗∗ yi = 0, para quaisquer x, y ∈ H.
Isto nos força Ty = T ∗∗ y para qualquer y ∈ H. Analogamente temos (αT )∗ = αT ∗ . 

Dizemos que um operador T ∈ B(H) é normal se T ∗ T = T T ∗ .


Apesar de estarmos primariamente interessados em operadores em B(H), aspectos interessantes ocorrem
quando temos operadores em B(H, K), H e K espaços de Hilbert, que preservam produto interno. Um isomor-
fismo de espaços de Hilbert é um operador u : H → K linear e sobrejetivo tal que hUh1 ,Uh2 iK = hh1 , h2 iH , para
quaisquer h1 , h2 ∈ H.

Proposição 9.1.4 Se U : H → K é um isomorfismo entre espaços de Hilbert, então U ∗U = IH e UU ∗ = IK .

Demonstração. Sejam h1 , h2 ∈ H. Então

hU ∗Uh1 , h2 i = hUh1 ,Uh2 i = hh1 , h2 i.

Como h1 e h2 são quaisquer, U ∗U = IH .


Por outro lado, seja k ∈ H. Como U é sobrejetivo, existe h ∈ H tal que Uh = k. Assim,

UU ∗ k = UU ∗ (Uh) = Uh = k,

o que implica na afirmação referente ao operador UU ∗ . 

Proposição 9.1.5 Seja H um espaço de Hilbert e T ∈ B(H).

i) Se T é auto adjunto, então


hT x, xi ∈ R, para todo x ∈ H.

ii) Se H é um espaço de Hilbert complexo, então T é auto adjunto se, e somente se,

hT x, xi ∈ R, para todo x ∈ H.
9.2. OPERADORES COMPACTOS 121

Demonstração. i). Para x ∈ H, como T = T ∗ , calculamos

hT x, xi = hx, T xi = hx, T ∗ xi = hT x, xi.

Dessa forma, hT x, xi ∈ R.
ii). Pelo item i), basta demonstrarmos a recícproca. Queremos então demonstrar que

hT x, yi = hT ∗ x, yi, para quaisquer x, y ∈ H.

Seja α ∈ C e calculemos

T (x + αy), x + αy = hT x, xi + |α|2 hTy, yi + αhTy, xi + αhT x, yi.



O termo do lado esquerdo e os dois primeiros termos da direita na igualdade acima são reais. Assim

αhTy, xi + αhT x, yi = αhT x, yi + αhx, Tyi = αhT x, yi + αhT ∗ x, yi ∈ R.

Tomando α = 1 vemos que as partes complexas de hT x, yi e hT ∗ x, yi coincidem. Tomando α = i temos que as


partes reais destes números coincidem. Segue então o resultado. 

Vigésima quinta aula↓

9.2 Operadores compactos


Sejam X e Y espaços de Banach e T : X → Y um operador linear. Dizemos que T é compacto se T (M) ⊂ Y é
compacto sempre que M ⊂ X for limitado.

Proposição 9.2.1 Se X e Y são espaços de Banach e T : X → Y é linear e compacto, então T é limitado.

Demonstração. Se B é a bola unitária em X, então T (B) é um compacto em Y. Como todo compacto é limitado,
existe R > 0 tal que T (B) ⊂ BR . Segue que T é limitado e que kT k ≤ R. 

Uma maneira equivalente de definirmos operadores compactos é dizer que a imagem de uma sequência
limitada por tais operadores possui uma subsequência convergente. Este fato segue de uma resultado básico sobre
espaços métricos.

Lema 9.2.2 Seja (X, d) um espaço métrico. Então X é compacto se, e somente se, toda sequência limitada (xn ) ⊂
X possui uma subsequência convergente.

Proposição 9.2.3 Sejam X e Y espaços de Banach e T : X → Y um operador linear. Então T é compacto se, e
somente se, T aplica toda sequência limitada (xn ) ⊂ X em uma sequência (T xn ) ⊂ Y que possui uma subsequência
convergente.

Demonstração. Se T é compacto e (xn )é limitada, então (T xn ) é um subconjunto compacto. Como Y é mmétrico,


o Lema 9.2.2 implica que (T xn ) possui uma subsequência convergente.
Reciprocamente, suponhamos que toda sequência limitada (xn ) ⊂ X é aplicada por T em uma sequência que
possui sub convergente. Seja A ⊂ X um conjunto limitado e consideremos o conjunto T (A). Pelo Lema 9.2.2, este
conjunto é compacto se toda sequência (yn ) ⊂ T (A) possuir uma subsequência convergente. Para cada yn ∈ T (A),
m=1 ⊂ T (A) tal que
escolhemos (ynm )∞
1
kynm − yn k ≤
m
e tomamos xnm ∈ A com ynm = T xnm . Segue que (xnn ) é limitada e existe uma subsequência (ynk nk ) tal que

ynk nk = T xnk nk → y ∈ T (A)


122 CAPÍTULO 9. OPERADORES COMPACTOS E AUTO ADJUNTOS

quando k → ∞. Mas então,


1
kynk − yk ≤ kynk nk − yk + kynk − ynk nk k ≤ kynk nk − yk + ,
nk
que tende a zero quando k → ∞. 

O próximo resultado nos dá uma classe bem geral de exemplos de operadores compactos.

Proposição 9.2.4 Sejam X e Y espaços de Banach e T : X → Y um operador linear.

i) Se dim X < ∞ então T é compacto.

ii) Se T é limitado e dimY < ∞ então T é compacto.

iii) Se dim X = ∞ então a identidade IX : X → X não é compacta.

O subconjunto de B(X,Y ) formado pelos operadores compactos será denotado por C (X,Y ). Claramente
este conjunto é um sbubespaço vetorial de B(X,Y ). O próximo resultado nos diz que este subespaço é fechado.

Teorema 9.2.5 Suponhamos que X seja um espaço normado e que Y seja um espaço de Banach. Seja (Tn ) ⊂
C (X,Y ) uma sequência de operadores compactos com kTn − T k → 0 para algum T ∈ B(X,Y ). Então T é com-
pacto.

Demonstração. O argumento que utilizaremos é comumente chamado de truque da diagonal de cantor.


Seja (xn ) uma sequência limitada em X. Vamos verificar que (T xn ) possui uma subsequência convergente.
Na verdade, basta verificarmos que (T xn ) possui uma subsequência de Cauchy, e o resultado seguirá do fato de Y
ser Banach.

Como T1 é compacto, podemos encontrar uma subsequência (x1,n )∞ n=1 de (xn ) tal que T1 (x1,n ) converge
em Y. Agora (x1,n )∞ n=1 é limitada
 em X e T2 é compacto, o que implica que existe uma subsequência (x2,n )∞ n=1 de

(x1,n )n=1 tal que T2 (x2,n ) converge em Y. Pela continuidade, T1 (x2,n ) também converge.
Indutivamente, construimos uma subsequência (xk,n )∞ ∞
n=1 de (xk−1,n )n=1 com Tk (xk,n ) convergindo, bem como
T j (xk,n ) para j = 1, . . . , k − 1.
Consideremos agora a sequência diagonal (xn,n ) e notamos os seguintes fatos:

• esta é uma subsequência da sequência original (xn );


∞
• para cada k ∈ N, a sequência Tk (xn,n ) n=1 converge quando n → ∞, já que (xn,n )∞
n=k é uma subsequência de
(xk,n )∞
n=1 .

Afirmamos que T (xn,n ) é de Cauchy. Sabemos que kxn k ≤ M para alguma constante M > 0. Seja ε > 0
dado. Por hipótese, existe K ∈ N tal que
ε
kT − TK k < .
3M
∞
Fixando K dessa forma, temos que TK (xn,n ) n=1 converge e, portanto, é de Cauchy. Assim, existe N ∈ N tal que,
se n, m ≥ N,
ε
kTK (xn,n ) − TK (xm,m )k < .
3
Nessas condições,

kT xn,n − T xm,m k ≤ kT xn,n − TK xn,n k + kTK xn,n − TK xm,m k + kTK xm,m − T xm,m k
ε ε ε
≤ M+ + M = ε.
3M 3 3M
Isto conclui a demonstração. 
9.2. OPERADORES COMPACTOS 123

Exemplo 9.2.6 Seja H um espaço de Hilbert com um conjunto ortonormal maximal enumerável {e j }. Definamos
o operador diagonal D : H → H por D(e j ) = α j e j , onde (α j ) é uma sequência de escalares com α j → 0. Seja
ADn o operador em H definido por Dn e j = α j e j se 1 ≤ j ≤ n e Dn e j = 0 se j > n. Então a imagem de cada Dn
possui dimensão finita, o que implica cada Dn é compacto. Observemos ainda que

kD − Dn k = sup |α j | → 0, quando n → ∞.
j>n

Segue do Teorema 9.2.5 que D é compacto.

O próximo resultado, apesar de ser válido em contextos mais gerais, será demonstrado no caso de espaços de
Hilbert separáveis.
Dizemos que um operador linear T : X → Y entre esoaços normados é de posto finito se sua imagem possui
dimensão finita.

Teorema 9.2.7 Se T ∈ C (H, H) é um operador compacto, onde H é um espaço de Hilbert separável, então existe
uma sequência (Tn ) ⊂ C (H, H) de operadores de posto finito tal que Tn → T.

Demonstração. Iniciamos com a construção dos candidatos aos operadores Tn . Seja então {e1 , e2 , . . .} uma base
ortonormal para ImT , que é um subespaço fechado de H. Consideremos a projeção Pn sobre o espaço gerado pelos
primeiros n vetores e1 , . . . , en , o qual é fechado, pois é de dimensão finita. Definamos então Tn := Pn T, de maneira
que Tn é de posto finito.
Agora vamos verificar que Tn converge pontualmente para T. Seja h ∈ H qualquer e k = T h. Então,
n
Tn h = Pn T h = Pn k = ∑ hk, e j ie j ,
j=1

e também,

Th = k = ∑ hk, e j ie j ,
j=1

já que {ei , e2 , . . .} é uma base ortonornaml para o fecha da imagem de T. Segue que

kTn h − T hk2 = ∑ |hk, e j i|2 ,
j=n+1

que tende a 0 quando n → ∞ já que



∑ |hk, e j i|2 = kT hk2 < ∞.
j=1

Agora vamos demonstrar a convergência na norma de B(H). Seja B a bola unitária fechada em H. Pela
compacidade de T, vemos que T (B) é compacto em H. Assim, dado ε > 0, a coleção de bolas Bε (T h) centradas
em T h, h ∈ B, formam um acobertura aberta de T (B). Logo, existe uma subcobertura tal que
m
[
T (B) ⊂ Bε (T h j ),
j=1

para algum m ∈ N e h j ∈ B. Pela estimativa pontual, para cada j = 1, . . . , m, existe um inteiro N( j) tal que

kTn h j − T h j k < ε, para qualquer n ≤ N( j).

Coloquemos
N = max N( j).
1≤ j≤M

Para um h ∈ H arbitrário podemos encontrar j, 1 ≤ j ≤ m, tal que

kT h − T h j k < ε.
124 CAPÍTULO 9. OPERADORES COMPACTOS E AUTO ADJUNTOS

Dessa forma, para n ≥ N obtemos:

kTn h − T hk ≤ kTn h − Tn h j k + kTn h j − T h j k + kT h j − T hk


= kPn T (h − h j )k + kTn h j − T h j k + kT (h j − h)k
≤ 2kT (h − h j )k + kTn h j − T h j k
≤ 2kT (h − h j )k + ε
≤ 3ε,

onde usamos que kPn k = 1. Sendo h arbitrário, podmeos tomar o sup na desigualdade acima com khk ≤ 1 e
obtermos que kTn − T k ≤ 3ε para todo n ≥ N. O resultado segue. 

Observação 9.2.8 Mais geralmente, se T ∈ C (X,Y ), onde X e Y são espaços de Banach com Y possuindo uma
base de Schauder, então T pode ser aproximado por operadores de posto finito (veja [1] para mais referências e
[2] para mais detalhes).

Proposição 9.2.9 (Schauder) Se T ∈ B(H) com H sendo um espaço de Hilbert separável, então T é compacto
se, e somente se, T ∗ é compacto.

Demonstração. Como T ∗∗ = T, basta verificarmos que T compacto implica em T ∗ compacto. Ora, se T é


compacto, então podemos, neste contexto, aproxima-lo por uma sequência de operadores de posto finito (Tn ). Mas

kTn − T k = kTn∗ − T ∗ k.

Assim, se demonstrarmos que cada Tn∗ é de posto finito teremos o resultado.


Seja Pn a projeção em H sobre a imagem de Tn , que é um subespaço fechado de H sendo de dimensão finita.
Cada Pn é de posto finito e Pn Tn = Tn . Assim, Tn∗ Pn∗ = (Pn Tn )∗ = Tn∗ . Mas como projeções são operadores auto
adjuntos (veja o Exercício 166), segue que Tn∗ = Tn∗ Pn . Mas daí, sendo Pn de posto finito, Tn∗ Pn também será de
posto finito. 

Como o Teorema 9.2.7 vale em um contexto mais geral, o mesmo é válido para a Proposição 9.2.9.

Vigésima sexta aula↓

9.3 Operadores de Hilbert–Schmidt


Consideremos um espaço de Hilbert H com base ortonormal enumerável e seja T ∈ B(H). Dizemos que T é
Hilbert–Schmidt se existe uma base ortonormal {en }∞
n=1 de H tal que


∑ kTen k2 < ∞.
n=1

Proposição 9.3.1 Suponhamos que T seja um operador linear limitado em um espaço de Hilbert separável H e
seja {en } um conjunto ortonormal maximal de H tal que

∑ kTen k2 < ∞.
n=1

Então, para qualquer outro conjunto ortonormal maximal { fn } temos que


∞ ∞
∑ kT fn k2 < ∞ = ∑ kTen k2 < ∞.
n=1 n=1
9.3. OPERADORES DE HILBERT–SCHMIDT 125

Demonstração. Vamos aplicar a Identidade de Parseval várias vezes para obtermos o resultado. Para cada n
temos

T fn = ∑ hT fn , f j i f j
j=1

e pela Identidade de Parseval:



kT fn k2 = ∑ |hT fn , f j i|2 .
j=1

Similirarmente, para cada n e cada j,



kTen k2 = ∑ |hTen , f j i|2 ,
j=1

kT ∗ f j k2 = ∑ |hT ∗ f j , en i|2 ,
n=1

kT ∗ f j k2 = ∑ |hT ∗ f j , fn i|2 .
n=1

Portanto, temos por um lado que


∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞
∑ kT fn k2 = ∑ ∑ |hT fn , f j i|2 = ∑ ∑ |hT ∗ f j , fn i|2 = ∑ kT ∗ f j k2 ,
n=1 n=1 j=1 j=1 n=1 j=1

e por outro,
∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞
∑ kTen k2 = ∑ ∑ |hTen , f j i|2 = ∑ ∑ |hT ∗ f j , en i|2 = ∑ kT ∗ f j k2 .
n=1 n=1 j=1 j=1 n=1 j=1

Sendo assim,
∞ ∞
∑ kT fn k2 = ∑ kTen k2 ,
n=1 n=1

como desejado. 

Observemos que, incidentalmente, a demonstração da Proposição 9.3.1 nos diz que se T é Hilbert–Schmidt
então T ∗ também será.

Teorema 9.3.2 Todo operador de Hilbert–Schmidt em um espaço de Hilbert separável é compacto.

Demonstração. Seja T um operador de Hilbert–Schmidt em um espaço de Hilbert separável H e {ek } um


conjunto maximal ortonormal enumerável tal que

∑ kTek k2 < ∞.
k=1

Vamos demonstrar que T pode ser aproximado por uma sequência de operadores de posto finito. Para cada n ≥ 1
definamos
 ∞  n
Tn h = Tn ∑ hh, ek iek = ∑ hh, ek iTek .
k=1 k=1

Observemos que Tn é linear e, além disso, de posto finito, uma vez que sua imagem está contida no subespaço
gerado por {Te1 , . . . , Ten }. Ademais, pela Desigualdade de Cauchy–Schwarz,
∞  ∞ 1/2  ∞ 1/2
k(Tn − T )hk = hh, ek iTek ≤ |hh, ek i|2 kTek k2 .

∑ ∑ ∑
k=n+1 k=n+1 k=n+1
126 CAPÍTULO 9. OPERADORES COMPACTOS E AUTO ADJUNTOS

Tomando o sup com khk ≤ 1 e usando a Identidade de Parseval obtemos


 ∞ 1/2
kTn − T k ≤ ∑ kTek k2 ,
k=n+1

que tende a 0 quando n → ∞, uma vez que T é Hilbert–Schmidt. 

Os operadores de Hilbert–Schmidt são, dessa forma, uma classe de exemplos de operadores compactos.
Além disso, operadores integrais lineares em L2 formam uma classe interessante de exemplos de operadores dessa
forma.

Exemplo 9.3.3 Suponhamos que L2 (X, µ) seja um espaço de Hilbert separável e que K seja um operador integral
em L2 (X, µ), o que significa que existe um núcleo k ∈ L2 (X × X, µ × µ) tal que
Z
(K f )(x) = k(x, y) f (y)dµy .
X

Vamos verificar que todo operador dessa forma é Hilbert–Schmidt.


Seja {en } um conjunto ortonormal maximal de L2 (X, µ) e denotemos kx = k(x, ·), para cada x ∈ X. Então
kx ∈ L2 (X, µ) para quase todo x ∈ X. DAlém disso,
Z Z
(Ken )(x) = k(x, y)en (y)dµy = kx (y)en (y)dµy = hkx , en i.
X X

Sendo assim, Z Z
kKen k2L2 = |Ken (x)|2 dµx = |hkx , en i|2 dµx ,
X X
Dessa forma, usando que

∑ |hkx , en i|2 = kkx k2L2 = kkx k2L2 ,
n=1
obtemos
∞ Z ∞
∑ kKen k2L2 = X
∑ |hkx , en i|2 dµx
n=1 n=1
Z
= kkx k2L2 dµx
X
Z Z
= |k(x, y)|2 dµy dµx < ∞,
X X

já que k ∈ L2 (X × X, µ × µ).

9.4 Exercícios
Exercício 173 Demonstre que toda projeção ortogonal sobre subespaços fechados de um espaço de Hilbert é um
operador auto adjunto.

Exercício 174 Demonstre que o operador Sd satisfaz kSd k = 1 e é uma isometria. Entretanto, Se também tem
norma unitária mas não é uma isometria.

Exercício 175 Demonstre a Proposição 9.2.4.

Exercício 176 Seja D : H → H um operador diagonal dado por D(e j ) = α j e j , onde {e j } é um conjunto maximal
ortonormal do espaço de Hilbert H e (α j ) é uma sequência de escalares. Demonstre que se D é compacto então
α j → 0.
9.4. EXERCÍCIOS 127

Exercício 177 Dê um exemplo de um operador compacto em um espaço de Hilbert que não é Hilbert–Schmidt.
Sugestão: operador diagonal.

Exercício 178 Seja T ∈ B(H) um operador de Hilbert–Schmidt no espaço de Hilbert separável H e defina
 ∞ 1/2
kT ks := ∑ kTek k2 ,
k=1

onde {ek }k∈N é um conjunto ortonormal maximal. Defina Bs (H) o subconjunto de B(H) formado pelos oper-
adores de Hilbert–Schmidt, isto é, T ∈ Bs (H) se, e somente se, kT ks < ∞.

i) Demonstre que se T ∈ Bs (H) e S ∈ B(H), então ST, T S ∈ Bs (H) com


kST ks ≤ kSkkT ks e kT Sks ≤ kSkkT ks .
Além disso, verfique também se T ∈ Bs (H), então T ∗ ∈ Bs (H) e kT ks = kT ∗ ks .
ii) Demonstre que B(H) é um espaço vetorial.
iii) Demonstre que kT k ≤ kT ks .
iv) Defina um produto interno em Bs (H) por

hT, Sis := ∑ hTek , Sek i.
k=1

Então demonstre que


kT k2s = hT, T is .
v) Demonstre que Bs (H) com a norma k · ks é completo.

Exercício 179 Sejam X e Y espaços de Banach e T ∈ B(X,Y ).

i) Supondo que X é reflexivo, demonstre que T (BX ) é fortemente fechado em Y.


ii) Supondo que X é reflexivo e que T é compacto, demonstre que T (BX ) é compacto em Y.
iii) Seja X = Y = C([0, 1]) e considere o operador de Volterra V definido por
Z t
(Vu)(t) := u(s)ds.
0

Demonstre que V é compacto e que V (BX ) não é fechado.

Exercício 180 Demonstre que o operador de Volterra definido em L2 ([0, 1]) é compacto.

Exercício 181 Demonstre que se {e j } é uma sequência ortonormal em um espaço de Hilbert H e se T ∈ C (H, H),
então (Te j ) converge para zero.

Exercício 182 (P.L. Lions) Sejam X, Y e Z espaços de Banach. Suponha que X ⊂ Y com a inclusão compacta e
Y ⊂ Z com inclusão contínua. Demonstre que, para todo ε > 0, existe Cε > 0 tal que
kukY ≤ εkukX +Cε kukZ ,
para qualquer u ∈ X.
Conclua que, dado ε > 0, existe Cε > 0 tal que
max |u(x)| ≤ ε max |u0 (x)| +Cε kukL1 ,
0≤x≤1 0≤x≤1]

para todo u ∈ C1 ([0, 1]).


Sugestão para a primeira parte: argumente por contradição.
128 CAPÍTULO 9. OPERADORES COMPACTOS E AUTO ADJUNTOS
Capítulo 10

Teoria espectral básica

“A palavra latina spectrum significa fantasma, alma, espírito. Neste capítulo veremos que operadores possuem es-
píritos. Entretanto, eles vivem não em castelos em ruínas, mas no plano complexo. É sabido que espíritos, quando
perguntados corretamente, podem nos contar várias coisas importantes. Para ter certeza disso, não precisaremos
repetir a experiência de Hamlet ou Macbeth; ao invés disso, olharemos para o Teorema Espectral...”
A. Ya. Helemskii

10.1 Espectro e sua classificação


Seja X um espaço de Banach complexo (sobre C) e T ∈ B(X). Para λ ∈ C consideraremos

Tλ = T − λ I,

onde I é o operador identidade em X. Existem duas possibilidades: Tλ é bijetivo, que é o mesmo que dizer que este
operador é inversível, ou Tλ não é inversível.
Se Tλ é inversível, dizemos que λ está no resolvente de T, que é denotado por ρ(T ) ⊂ C. Assim,

ρ(T ) = {λ ∈ C | Tλ = Tλ I é bijetivo}.

Uma aplicação imediata do Teorema da Aplicação Aberta implica que Tλ−1 é limitado. O operador Tλ−1 é chamado
de operador resolvente e é também denotado por R(T, λ ).
Se λ ∈ C mas λ 6∈ C, dizemos que λ está no espectro de T. Denotamos o espectro de T por

σ (T ) = C \ ρ(T ).

Se o espaço de Banach é de dimensão finita, então um resultado de Álgebra Linear nos diz que um operador
linear é inversível se, e somente se, se núcleo é formado somente pelo vetor nulo. Dessa forma, em dimensão
finita, se λ ∈ σ (T ), então existe x ∈ X, x 6= 0, tal que T x = λ x. Entretanto, em dimensão infinita podemos ter
outras situação envolvendo Tλ com λ ∈ σ (T ).
De uma maneira geral, definimos os seguintes subconjuntos do espectro σ (T ) :

• o espectro pontual de T é o conjunto



σ p (T ) := λ ∈ C | ker(Tλ ) 6= {0} ;

• o espectro contínuo de T é o conjunto

σc (T ) := λ ∈ C | ker(T ) = {0}, Im(Tλ ) é denso em X, Tλ−1 não é limitado ;




129
130 CAPÍTULO 10. TEORIA ESPECTRAL BÁSICA

• o espectro residual de T é o conjunto



σr (T ) := λ ∈ C | ker(T ) = {0}, Im(Tλ ) não é denso em X .

Proposição 10.1.1 Os conjuntos σ p (T ), σc (T ) e σr (T ) são dois a dois disjuntos e a união dos três é σ (T ).

Demonstração. É claro que estes três conjuntos são dois a dois disjuntos. Suponhamos que λ ∈ C seja tal
que: Tλ é injetivo, Im(Tλ ) é denso em X e Tλ−1 é limitado. Vamos demonstrar que λ ∈ ρ(T ), o que implicará na
proposição.
Seja S = Tλ−1 : Im(Tλ ) → X, que é um operador limitado. Pela densidade da imagem de Tλ em X e pelo fato
de X ser completo, S pode ser estendido a um operador S̃ : X → X da seguinte forma:

S̃(y) = lim S(yn ),


n→∞

onde (yn ) ⊂ Im(Tλ ) e yn → y. Dessa maneira S̃ ∈ B(X). Se y e (yn ) são escolhidos dessa forma, temos que

S̃yn = Syn = Tλ−1 yn =: xn ∈ X,

mas daí, xn = S̃yn → S̃y =: x ∈ X. Logo, como Tλ é limitado,

yn = Tλ xn → Tλ x.

Segue que Tλ x = y e Tλ é sobrejetivo. 

No caso em que λ ∈ σ p (T ), dizemos que λ é um autovalor de T. Neste caso, existe x ∈ X, x 6= 0, tal que

T x = λ x.

Qualquer vetor x dessa forma é chamado de autovetor ou autofunção, associada ao autovalor λ .

Lema 10.1.2 Seja X um espaço de Banach e V ∈ B(X) com kV k < 1. Então I − V ∈ B(X) e é um operador
inversível com inversa limitada.

Demonstração. Este resultado segue do Exercício 26 e de uma aplicação do Teorema da Aplicação Aberta. 

Corolário 10.1.3 Seja X um espaço de Banach. Então o conjunto dos operadores inversíveis é aberto em B(X).

Demonstração. Exercício 26. 

Corolário 10.1.4 Seja T ∈ B(X). Então ρ(T ) é um sunconjunto aberto em C e, consequentemente, σ (T ) é


fechado.

Demonstração. Suponhamos que λ ∈ ρ(T ). Então T − λ I é inversível e, se kBk é pequeno, T − λ I + B será


também inversível. Em particular,
T − λ I − µI
é inversível de |µ| é pequeno. Assim, se λ ∈ ρ(T ), então λ + µ ∈ ρ(T ) se |µ| for pequeno. 

Corolário 10.1.5 Suponhamos que T ∈ B(X) e seja R = kT k. Então

σ (T ) ⊂ BR .

Em particular, σ (T ) é compacto em C.
10.2. ESPECTRO DE OPERADORES AUTO ADJUNTOS 131

Demonstração. Suponhamos que |λ | > R. Então,


 1 
T − λ I = −λ I − T
λ
com kλ −1 T k = |λ |−1 kT k < 1. Segue do Lema 10.1.2 que T − λ I é inversível, ou seja, λ ∈ ρ(T ). Com isso,
σ (T ) ⊂ BR , o que implica que o espectro é limitado e fechado (pelo Corolário 10.1.4) e portanto compacto. 

Observação 10.1.6 A teoria espectral pode ser desenvolvida para operadores não limitados com domínio denso
em um espaço de Banach X. Entretanto, vejamos ocaso em que X = L2 (−1, 1) e que
d
T= , Dom(T ) = C1 (−1, 1).
dx
Então T é um operador não limitado (verifique) com domínio denso. Se λ ∈ C, então
d λx
(T − λ I)eλ x = e − eλ x = 0.
dx
Consequentemente, λ ∈ σ p (T ). Como λ ∈ C é qualquer, temos σ (T ) = σ p (T ) e ρ(T ) = 0.
/

Observação 10.1.7 Dado T ∈ B(X), os pontos λ ∈ σ (T ) podem ser classificados de outras maneiras. Por exem-
plo, um ponto λ ∈ σ (T ) é chamado essencialmente singular para o operador T se Tλ é não bijetivo e Tλ não é um
operador de Fredholm. Um operador de Fredholm é aquele que ker(Tλ ) possui dimensão finita e Im(Tλ ) possui
codimensão finita (a codimensão de um subespaço Y de X é definida como sendo dim X/Y ). O subconjunto de
σ (T ) consistindo dos pontos essencialmente singulares é chamado de espectro essencial e é denotado por σe (T ).

Vigésima sétima aula↓

10.2 Espectro de operadores auto adjuntos


Nesta seção vamos ser mais específicos e considerar operadores auto adjuntos em espaços de Hilbert. Neste caso
uma descrição mais detalhada pode ser dada. Iniciamos com um lema geral.

Lema 10.2.1 Suponhamos que X e Y sejam espaços de Banach e que T ∈ B(X,Y ). Se T é limitado inferiormente,
isto é, se existe uma constante γ > 0 tal que

kT xk ≥ γkxk, para todo x ∈ X,

então T é injetivo e sua imagem é fechada.

Demonstração. É claro que T é injetivo. Seja então (yn ) ⊂ Y com yn = T xn , (xn ) ⊂ X. Suponhamos que
yn → y ∈ Y. Então (yn ) é de Cauchy em Y e, por ser T limitado inferiormente, (xn ) também será de Cauchy em X,
que é Banach. Logo, existe x ∈ X com xn → x. Pela continuidade de T, y = T x = lim T xn = lim yn = y e Im(T ) é
fechada. 

Teorema 10.2.2 Sejam H um espaço de Hilbert e T ∈ B(H) um operador auto adjunto. Então σ p (T ) ⊂ R. Além
disso, λ ∈ ρ(T ) se, e somente se, Tλ é limitado inferiormente.

Demonstração. Se λ ∈ σ p (T ) e T x = λ x para x 6= 0, então

λ hx, xi = hT x, xi = hx, T xi = hx, λ xi = λ hx, xi,

e λ = λ ∈ R.
Suponhamos agora que λ ∈ ρ(T ) e observemos que, como Tλ−1 é limitado,

kxk = kTλ−1 Tλ xk ≤ kTλ−1 kkTλ xk,


132 CAPÍTULO 10. TEORIA ESPECTRAL BÁSICA

o que nos dá que Tλ é limitado inferiormente.


Finalmente, supondo que Tλ seja limitado inferiormente, temos pelo Lema 10.2.1 que Tλ é limitado inferior-
mente e que Im(Tλ ) é fechado em H. Se Im(Tλ ) 6= H, então existiria x0 ∈ (Im(Tλ ))⊥ e, para qualquer x ∈ H,

0 = hTλ x, x0 i = hT x, x0 i − λ hx, x0 i
= hx, T x0 i − λ hx, x0 i
= hx, Tλ x0 i.

Segue que Tλ x0 = 0, ou seja, T x0 = λ x0 e λ ∈ σ p (T ). Mas daí, pela primeira parte, λ = λ ∈ σ p (T ) e T não seria
injetivo.
Assim, Im(Tλ ) = H e λ ∈ ρ(T ). 

Corolário 10.2.3 O espectro σ (T ) de um operador limitado e auto adjunto T em um espaço de Hilbert H é real.

Demonstração. Seja λ = α + iβ ∈ σ (T ). Então, para qualquer x ∈ H, x 6= 0,

hTλ x, xi = hT x, xi − λ hx, xi

e
hTλ x, xi = hT x, xi − λ hx, xi,
já que hT x, xi ∈ R. Dessa forma,
hTλ x, xi − hTλ x, xi = 2iβ hx, xi.
Portanto,
1  1
β kxk2 = hTλ x, xi − hTλ x, xi = (2iℑhTλ x, xi) ≤ kTλ xkkxk,
2i 2i
onde ℑ denota a parte imaginária de um número complexa. Sendo x 6= 0, vemos que β 6= 0 então Tλ seria limitado
inferiormente e λ ∈ ρ(T ), uma contradição. 

Corolário 10.2.4 Se λ , µ ∈ σ p (T ), onde T é um operador limitado, auto adjunto em um espaço de Hilbert H,


com λ 6= µ, então dois auto vetores x e y associados a λ e µ, respectivamente, são ortogonais.

Demonstração. Como hT x, yi = hx, Tyi, então

0 = hT x, yi − hx, Tyi = λ hx, yi − µhx, yi = (λ − µ)hx, yi.

Como λ 6= µ, necessariamente temos hx, yi = 0. 

Corolário 10.2.5 O espectro residual σr (T ) de um operador limitado, auto adjunto em um espaço de Hilbert H é
vazio.

Demonstração. Suponhamos, para efeitos de contradição, que λ ∈ σr (T ). Então Tλ é inversível em sua imagem,
isto é, existe
Tλ−1 : Im(Tλ ) → H,
mas
Im(Tλ ) 6= H.
Se y ∈ (Im(Tλ ))⊥ e y 6= 0, então, para todo x ∈ H,

0 = hTλ x, yi = hx, Tλ yi,

pois λ ∈ R. Mas daí, tomando x = Tλ y, concluímos que Tλ y = 0, isto é, λ ∈ σ p (T ) ∩ σr (T ), que é uma contradição.


Vimos que o espectro de um operador limitado e auto adjunto em um espaço de Hilbert é real e consiste
apenas de autovalores e de pontos no espectro contínuo. Vamos verificar agora que podemos limitar σ (T ).
10.2. ESPECTRO DE OPERADORES AUTO ADJUNTOS 133

Teorema 10.2.6 Sejam H um espaço de Hilbert e T ∈ B(H) um operador auto adjunto. Então

σ (T ) ⊂ [r, R],

onde
r = inf hT x, xi, R = sup hT x, xi.
kxk=1 kxk=1

Demonstração. Seja δ > 0 e λ = R + δ > R. Vamos verificar que λ ∈ ρ(T ). Por um lado calculamos, se x 6= 0,
 
hT x, xi = kxk2 T x/kxk , x/kxk ≤ kxk2 R.


Por outro lado,


−hT x − λ x, xi = −hTλ x, xi ≤ kTλ xkkxk,
e também,
−hT x − λ x, xi = −hT x, xi + λ kxk2 ≥ −kxk2 R + λ kxk2 = δ kxk2
Dessa forma,
kTλ xk ≥ δ λ kxk,
e λ ∈ ρ(T ).
Consideremos agora λ = r − δ < r. Para x 6= 0 escrevemos
 
hT x, xi = kxk2 T x/kxk , x/kxk ≥ kxk2 r.


Além disso,
hT x − λ x, xi = hTλ x, xi ≤ kTλ xkkxk,
e
hT x − λ x, xi = hT x, xi − λ kxk2 ≥ (r − λ )kxk2 = δ kxk2 ,
o que implica que λ ∈ ρ(T ). 

Chamamos a expressão
hT x, xi
q(x) := , x 6= 0,
hx, xi
de quociente de Rayleigh de T. em x. Dessa forma, no caso de um operador auto adjunto limitado em um espaço
de Hilbert,  
σ (T ) ⊂ inf q(x), sup q(x) .
x6=0 x6=0

Proposição 10.2.7 Sejam H um espaço de Hilbert e T ∈ B(H) um operador auto adjunto. Então,

kT k = sup |hT x, xi|.


kxk=1

Demonstração. Seja M = supkxk=1 |hT x, xi|. Então claramente temos

M ≤ kT k.

Se T ≡ 0 nada temos a fazer. Dessa forma, tomemos z ∈ H com T z 6= 0 e normalizamos para kzk = 1. Definamos

v = kT zk1/2 z w = kT zk−1/2 T z.

Então,
kvk2 = kwk2 = kT zk.
134 CAPÍTULO 10. TEORIA ESPECTRAL BÁSICA

Além disso, como T é auto adjunto,


hT (v + w), v + wi − hT (v − w), v − wi = hT v, wi + hTw, vi = 4kT zk2 .


Por outro lado, multiplicando e dividindo por kv + wk2 e kv − wk2 , estimamos,



|hT (v + w), v + wi − hT (v − w), v − wi| ≤ hT (v + w), v + wi + hT (v − w), v − wi
≤ M kv + wk2 + kv − wk2


= 2M(kvk2 + kwk2 )
= 4MkT zk,
onde utilizamos também a identidade do paralelogramo. Obtemos então que
kT zk ≤ M.
Tomando o supremo em z concluímos a demonstração. 

Podemos agora demonstrar que o sup e o inf do quociente de Rayleigh não só são atingidos, mas pertencem
ao espectro de T se T for limitado e auto adjunto.

Teorema 10.2.8 Sejam H um espaço de Hilbert e T ∈ B(H) um operador auto adjunto. Então,
r = inf hT x, xi ∈ σ (T ), R = sup hT x, xi ∈ σ (T ).
kxk=1 kxk=1

Demonstração. Observemos inicialmente que


T − λ I = (T − µI) − (λ − µ)I,
e λ ∈ σ (T ) se, e somente se, λ − µ ∈ σ (Tµ ). Logo, podemos assumir que 0 ≤ r ≤ R. Sendo assim, kT k = R e
existe uma sequência (xn ) ⊂ X com kxn k = 1 e com
1
hT xn , xn i ≥ R − .
n
Neste caso,
kTR xn k2 = kTR xn − Rxn k2
= kT xn k2 − 2RhT xn , xn i + R2
 1  2R
≤ 2R2 − 2R R − = → 0,
n n
quando n → ∞. Assim, TR não é limitado inferiormente e, cosequentemente, R 6∈ ρ(T ). Um argumento similar
mostra que r ∈ σ (T ). 

Se T ∈ B(H) é um operador limitado e auto adjunto em um espaço de Hilbert H, então hT x, xi ∈ R para


todo x ∈ H e esta expressão é importante para o desenvolvimento da teoria espectral desses operadores. Dizemos
que T ∈ B(H) é um operador positivo se
hT x, xi ≥ 0, para qualquer x ∈ H.
Neste caso, podemos sumarizar com esta nomenclatura alguns resultados que vimos até o momento.

Proposição 10.2.9 Suponhamos que H seja um espaço de Hilbert complexo e que T ∈ B(H). Então T é um
operador positivo se, e somente se, σ (T ) ≥ 0. Além disso, se T é positivo, então T é auto adjunto.

Operadores positivos possuem propriedades interessantes. Por exemplo, é sabido que todo operador positivo
T ∈ B(H) em um espaço de Hilbert possui uma única raiz quadrada, isto é, existe um único operador positivo
S ∈ B(H) tal que
S2 = T.

Vigésima oitava aula↓


10.3. ESPECTRO DE OPERADORES COMPACTOS 135

10.3 Espectro de operadores compactos


Passamos agora à discussão do espectro de operadores compactos em espaços em espaços vetoriais normados ou
de Banach.

Proposição 10.3.1 Seja X um espaço vetorial normado e T C (X, X). Então σ p (T ) é enumerável (podendo ser
vazio) e u único ponto de acumulação possível para este conjunto é o zero.

Demonstração. Seja r > 0 dado e vamos demonstrar que o conjunto

σ p (T ) ∩ {λ ∈ C | |λ | ≥ r}

é finito, e isto é suficiente para concluirmos.


Suponhamos por contradição que exista r > 0 e uma sequência de autovalores distintos (λn )∞ n=1 de T com
|λn | ≥ r > 0, para todo n. Seja (xn )∞ n=1 a sequência de autovetores associada, com xn 6
= 0 para todo n. Notemos
inicialmente que o conjunto {xn | n ∈ N} é linearmente independente. De fato, suponhamos que N seja escolhido
como sendo o menor natural tal que podemos ter
N
∑ αn xn = 0
n=1

com nem todos αn ’s sendo nulos; ao aplicarmos TλN nessa combinação linear vemos que
N N N−1
0= ∑ αn TλN xn = ∑ αn (λn − λN )xn = ∑ αn (λn − λN )xn ;
n=1 n=1 n=1

pela minimalidade de N devemos ter αn (λn − λN ) = 0, n = 1, . . . , N − 1, e como os autovalores são distintos,


αn = 0, n = 1, . . . , N − 1, o que implica também que αN = 0, atingindo uma contradição.
Definamos
Mn = [{x1 , . . . , xn }],
e seja x ∈ Mn . Então
n
x= ∑ α jx j,
j=1
e, portanto,
n
Tx = ∑ λ jα jx j,
j=1

ou seja, T : Mn → Mn . Além disso,


n−1
Tλn x = ∑ α j (λ j λn )x j ,
j=1

e Tλn : Mn → Mn−1 .
Seja yn ∈ Mn \ Mn−1 com yn 6= 0, o qual existe pois o conjunto {xn | n ∈ N} é linearmente independente.
Definamos
d = dist(yn , Mn−1 ) > 0.
Existe y0 ∈ Mn−1 tal que
d ≤ kyn − y0 k ≤ 2d.
Se w ∈ Mn−1 é qualquer, estimamos
y −y 1
n 0
− w = yn − y0 − kyn − y0 kw

kyn − y0 k kyn − y0 k

d 1
≥ ≥ .
kyn − y0 k 2
136 CAPÍTULO 10. TEORIA ESPECTRAL BÁSICA

Definamos
yn − y0
zn := .
kyn − y0 k
A sequência (zn ) é limitada, zn ∈ Mn e, para n > m, consideremos a diferença T zn − T zm . Observemos que

T zn − T zm = λn zn − (T zm − T zn + λn zn ) = λn zn − (−Tλn zn + T zm ) = λn zn − x̃.

Como n > m, vemos que x̃ ∈ Mn−1 e, portanto,


x= ∈ Mn−1 .
|λn |

Portanto,
|λn | r
kT zn − T zm k = |λn |kzn − xk ≥ ≥ .
2 2
Assim, (T zn ) não pode possuir ums subsequência convergente, contradizendo o fato de T ser compacto e (zn ) ser
limitada. Isto finaliza a demonstração. 

Proposição 10.3.2 Seja X um espaço normado e T ∈ C (X, X). Se λ 6= 0 o núcleo ker Tλ possui dimensão finita.

Demonstração. Se λ 6∈ σ p (T ), então ker Tλ = {0}. Assim, vamos estudar somente o caso em que λ ∈ σ p (T ).
Vamos demonstrar que a bola fechada em ker Tλ definida por

B = B1 (0) ∩ ker Tλ

possui dimensão finita, e o resultado seguirá da Proposição 4.3.8.


Seja (xn ) ⊂ B um sequência, que é limitada já que B é limitado. Logo, existe uma subsequência (xnk ) tal que
(T xnk ) converge em X. Digamos que T xnk → z ∈ X. Dessa forma, como T xnk = λ xnk ,
z
xnk → = w.
λ
Como B é fechado, w ∈ B. Assim, B é sequencialmente compacto e, sendo métrico, B é compacto. Dessa forma,
dim Tλ < ∞. 

Teorema 10.3.3 Sejam X um espaço de Banach e T ∈ C (X, X). Se λ ∈ σ (T ) e λ 6= 0, então λ ∈ σ p (T ), ou seja,


todos os valores espectrais não nulos de T são autovalores.

Demonstração. Seja λ ∈ C com λ 6= 0 e suponhamos que λ 6∈ σ p (T ). Vamos demonstrar que λ ∈ ρ(T ), o que
implica no resultado. Observemos que, neste caso, Tλ é injetivo. Consideremos os subespaços

Im(Tλ ) ⊃ Im(Tλ2 ) ⊃ Im(Tλ3 ) ⊃ . . . .

Afirmamos que esta sequência se estabiliza em algum n ∈ N, isto é,

Im(Tλn ) = Im(Tλn+1 ),

para algum n ∈ N. Supondo que não, procedemos como na demonstração da Proposição 10.3.1 para encontrarmos
uma sequência (xn ) onde cada xn satisfaz o seguinte: xn ∈ Im(Tλn ), kxn k = 1 e

1
kxn − xk ≥ , para qualquer x ∈ Im(Tλn+1 ).
2
Uma vez que obtemos (xn ), tomamos n > m e escrevemos

T xm − T xn = λ xm − (−Tλ xm + Tλ xn + λ xn ) = λ xm − x̃.
10.4. EXERCÍCIOS 137

Mas xn ∈ Im(Tλn ), Tλ xn ∈ Im(Tλn+1 ) ⊂ Im(Tλn ) e Tλ xm ∈ Im(Tλm+1 ). Segue que x̃ ∈ Im(Tλm+1 ) e

|λ |
kλ xm − x̃k = |λ |kxm − xk ≥ .
2
Segue que (xn ) é uma sequência limitada mas (T xn ) não possui uma subsequência convergente, contradizendo o
fato de T ser compacto.
Dessa forma, existe n ∈ N tal que
Im(Tλn ) = Im(Tλn+1 ).

Seja y ∈ X qualquer. Então Tλn y ∈ Im(Tλn ) = Im(Tλn+1 ). Segue que existe x ∈ X tal que

Tλn+1 x = Tλn y,

ou seja,
Tλn (y − Tλ )x = 0,
e como Tλ é injetivo,
y − Tλ x = 0.
Concluímos que Tλ é sobrejetivo e λ ∈ ρ(T ), como queríamos demonstrar. 

O próximo resultado resume o que vimos nesta seção.

Teorema 10.3.4 (Alternativa de Fredholm) Seja T ∈ C (X, X) um operador compacto em um espaço de Banach
e λ ∈ C, λ 6= 0.

a) Se T − λ I é injetivo, então T − λ I é inversível.

b) Se T − λ I é sobrejetivo, então T − λ I é inversível.

Demonstração. A afirmação em a) segue diretamente do Teorema 10.3.3. Para b) tomamos o adjunto (T −λ I)∗ =
T ∗ − λ I, que será injetivo. Aplicando a) vemos que T ∗ − λ I será inversível. Mas daí o adjunto de sua inversa será
a inversa de T − λ I. 

Observação 10.3.5 A alternativa de Fredholm nos diz que, com X Banach e T compacto, dado y ∈ X, a equação

(T − λ )x = y

tem a seguinte propriedade: se ela possui uma solução para todo y ∈ X então a solução é única; por outro lado,
se a solução de (T − λ I)x = 0 é única, então a equação não homogênea possui solução única para todo y ∈ X.

10.4 Exercícios
Exercício 183 Dê os detalhes da demonstração do Lema 10.1.2 usando o Exercício 26.

Exercício 184 Sejam µ = (µ j ) um sequência limitada e Tµ : l p → l p um operador diagonal em l p , 1 ≤ p ≤ ∞, isto


é,
Tµ (ξ ) = (µ j ξ j ), ξ = (ξ j ).
Demonstre que
σ (T ) = {µ1 , µ2 , . . .}, σ p (T ) = {µ1 , µ2 , . . .}.

Exercício 185 Considere o espaço L2 ([0, 1], dx) e ϕ ∈ L∞ ([0, 1], dx) dada por ϕ(x) = x. Seja Mϕ : L2 ([0, 1], dx) →
L2 ([0, 1], dx) o operador de multiplicação definido no Exemplo 185.
138 CAPÍTULO 10. TEORIA ESPECTRAL BÁSICA

a) Demonstre que σ p (Mϕ ) = 0.


/
b) Demonstre que se 0 ≤ λ ≤ 1, então λ ∈ σ (Mϕ ).
Sugestão: fixe λ ∈ (0, 1) e n ∈ N com En := [λ − n−1 , λ + n−1 ] ⊂ [0, 1]; daí tome
r
n
gn = χE
2 n

e veja que k(Mϕ − λ I)gn k → 0, o que implica que este operador não pode ser inversível; se λ = 0 ou λ = 1
tome En = [0, 1/n] ou En = [1 − 1/n, 1].

c) Demonstre que se λ ∈ C \ [0, 1] λ ∈ ρ(T ).

Exercício 186 Considere o operador T : l2 → l2 dado por


 x2 x3 
T (x) = 0, x1 , , , . . . , x = (x j ).
2 3
Demonstre que T é compacto e que σ p (T ) = 0.
/

Exercício 187 Demonstre que se T ∈ B(X), com X Banach, e se S ∈ B(X) é inversível, então σ (T ) = σ (S−1 T S).
Referências Bibliográficas

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