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10 NOVAS COMPETÊNCIAS PARA ENSINAR – Philippe Perrenoud

CAPÍTULO 7 - “Informar e Envolver os Pais”

Informar e Envolver os Pais

Um acontecimento marcante da escola no século XX, foi a irrupção dos pais como
parceiros na educação escolar. Seria uma entrada brusca dos pais na escola, os notáveis
(burguesia) jamais se privaram de participar e de conservar uma escola de acordo com seus
desejos. Não que não houvesse uma participação antes dos mais humildes, mas somente pais
abastados participavam mais da vida escolar dos filhos e das escolas. As escolas mais ricas
eram as melhores e havia um investimento por parte dos pais, pois além da qualidade o
renome da escola também era muito importante
O Sistema unificado no final do século XIX, início século XX, todas as crianças
passam pela escola de ensino fundamental, em princípio “a mesma para todos”, é a
escolarização obrigatória. Constituiu em uma formidável máquina de privar os pais do seu
poder educativo. As crianças agora entram no molde de bons e fieis cidadãos, mais tarde bons
trabalhadores e bons consumidores. A criança deixou de pertencer a sua família. A lei obriga
os pais a cederem parte da educação de seus filhos a escola. As leis não impõem a
escolarização, mas a “instrução”. É uma ficção para os pais sem recurso, aqueles que não
podem pagar um ensino particular. As leis também dão mais direito aos pais, direito de entrar
na escola, de serem informados, consultados, direito de participar da administração.
Os textos mais hipócritas afirmam: A escola é a segunda família na educação de seus
filhos. Evitam dizer que esta “assistência” não é absolutamente uma resposta a uma
necessidade de ajuda. Os pais se adaptam, passam a ser atores que não tem escolha.
Por que a escolarização se tornou obrigatória? Ninguém pensaria em tornar obrigatória
a respiração. A escola se tornou obrigatória porque as crianças não tinham espontaneidade,
vontade de freqüentá-la, nem mesmo os pais a necessidade de confiar seus filhos a ela. Eles
preferiam mantê-los em casa, principalmente para fazê-los trabalhar desde a mais tenra idade.
A escolarização obrigatória arrancou as crianças de sua família, a partir dos seis anos de
idade, por razões mais ou menos confessáveis.
- Garantir a instrução;
- Protegê-las da exploração, dos maus-tratos, da dependência.
Por outro lado o objetivo era também moralizar sua educação por meio da disciplina,
da educação cívica, da higiene e também normatizá-la a começar a aprendizagem de uma
“língua escolar”, que não era a língua falada na família no dia-a-dia.
E nos dias atuais se a obrigação legal de frequentar a escola fosse suspensa? É
provável que a maioria dos pais mandaria assim mesmo seus filhos para a escola.. São vários
os fatores que implicam nesta afirmação;
- A maioria dos pais hoje trabalha;
- Muitos acham que a escola é responsável pela educação de seu filho.
- Os pais de hoje, inclusive os menos favorecidos, já freqüentaram a escola, mesmo
por alguns anos, nela aprenderam alguma coisa. “Sem instrução, nem diploma, não há
salvação”
E como se tornou a relação dos pais com os professores? Os pais não tendo
competência ou o tempo requerido para cuidar e educar seu próprio filho delega facilmente
esta tarefa para profissionais mais disponíveis ou qualificados. A relação dos pais com os
professores torna-se comum, como aqueles outros profissionais que ocupam de seus filhos,
cabeleireiro, dentista, treinador esportivo, professor de dança etc.
Nos dias de hoje, o dever de informar e envolver os pais nas escolas faz parte das
atribuições de um professor e requer competência para isso, é obrigação da escola informar os
pais em relação a educação de sues filhos. Mas fazer essa mediação não é fácil, os ministros
defendem o direito à diferença e a tolerância, mas eles não vivem em aglomerados,
apartamentos populares, não tem contato com outras culturas e outros modos de vida.
Na teoria dizer que ter dialogo com os pais, é fácil, mas na prática, quando não existe
confiança entre o professor e os pais, aparecem preconceitos, suspeitas, criticas, o dialogo
torna-se difícil de acontecer, os professores no seu cotidiano encaram uma série de coisas,
como: horários, disciplinas, normas, avaliação, e as vezes a família ainda acham que eles, é
que ainda são os responsáveis pelo que a escola fez ou não fez. Muitas vezes são recebidos
com agressividade, tanto pelo aluno, quanto ao pai, são questionados em tudo, por isso que o
dialogo com os pais na maioria das vezes não são agradáveis para alguns professores, porque
já não acreditam mais neles, estão magoados por palavras infelizes, por atitudes dissimuladas,
mesmo assim o professor precisa ser profissional e fazer com que esse diálogo flua de alguma
maneira.
Hoje, alguns pais tem poucos filhos e dedicam toda a sua atenção a eles, mas, ser pai
de aluno é algo novo, diferente e não tiveram tempo para refletir sobre essa etapa, seu filho
cresce, cada ano muda de turma, para esses pais essa adaptação se torna difícil, ainda surge
novos programas de ensino e outras maneiras de ensinar.
A escola quando for necessário, mesmo havendo diversidade tem a capacidade de
comunicação com os pais, deixando os cientes sobre os projetos de instrução que estão sendo
aplicados a seus filhos.
O diálogo com os pais, antes de ser um problema de competências é uma questão da
identidade de relação profissional. È importante informar e envolver os pais, é uma
competência fazer com que eles participem de reuniões e debates, os pais precisam se
envolver na construção dos saberes de seu filho, e saber fazer essa mediação é uma habilidade
e competência do professor.

Dirigir Reuniões de Informações e de Debates

Os pais que assistem a uma reunião de pais sabem, ou descobrem que este não é o
momento apropriado para resolver os casos particulares. Mas, quando a situação do seu filho
realmente os preocupa, podem ficar tentados a falar disso no meio de um problema geral:
trabalhos de casa excessivos, insuficientes, disciplina, indisciplina, avaliação muito rigorosa,
generosa.
É por isso que o professor terá que adquirir a capacidade de decodificar, em declarações
aparentemente gerais, preocupações pessoais e tratá-las como tais. Terá de adquirir a
competência de não marcar reuniões gerais quando os pais têm preocupações particulares.
Marcando tais reuniões no inicio do ano letivo, para apresentar a sua metodologia de trabalho,
pois ainda os pais não têm razões de se preocuparem com os filhos ou mais tarde em reuniões
individuais, onde serão respondidas as questões preocupantes em relação à aprendizagem de
seus filhos.
Fica evidente que não há uma regra a ser seguida, mas sim que se deve procurar evitar em
reuniões que ocorra explosões angustiantes ou algum tipo de descontentamento particular que
venham a ser tratados nela. É necessário que se saiba que mesmo em encontros individuais as
reuniões continuam sendo um problema.
É raridade que em reuniões de pais exista uma relação serena entre esses e a escola, pois a
escolaridade dos filhos é entrecortada de inquietações, preocupações e muitas vezes de
esperanças, pois os mesmos temem pelo desenvolvimento, socialização e o que ocorre num
mundo que muitas vezes é desconhecido por eles, mas que na realidade é vivido pelos filhos,
sendo isso às vezes o causador de tumultos, portanto não é preciso grande coisa para acender
um pavio.
Uma das competências maiores é distinguir com clareza a sua autonomia profissional, a
política educativa, os programas, as normas e as orientações da instituição. Dissociar-se
totalmente da instituição que o emprega é tão desastroso quanto assumir categoricamente
todos os diplomas legais. O professor deve saber informar e envolver os pais com habilidade,
deixando espaços para debates, sendo sensato que lembrem o objetivo da reunião, dos
assuntos que serão tratados e outros que surgirão.
Antes de tudo o professor deve ser hábil e compreender que os pais não ocupam a mesma
posição deles (professores), têm outras preocupações, outra visão de escola e são diferentes
uns dos outros e como tais devem ser aceitos como são, em sua diversidade.

Fazer Entrevistas

A competência maior é, mais uma vez, saber situar-se claramente. As entrevistas


completam as reuniões. Por falta de tempo, na maioria das classes, os pais comparecem
somente quando surge um problema. Uma entrevista deve ser bem preparada, definir seu
objetivo, deixar os interlocutores a vontade. Convocar os pais com autoritarismo e tratá-los
como acusados no tribunal não vai possibilitar um diálogo de igual para igual. Existe uma
falta de habilidade, certos professores tratam os pais como alunos. O ideal seria pais e
professores se encontrarem regularmente, de preferência com a criança para acertarem
acordos, pelo simples fato que partilham uma responsabilidade educativa.
A competência consiste amplamente, neste caso, em não abusar de uma posição
dominante, em controlar a tentação de culpar e de julgar os pais. Os pais são responsáveis
direta ou indiretamente pelas dificuldades de sues filhos e mais ainda pela sua conduta. É
necessária uma grande sabedoria, o trabalho sobre si próprio e sua relação com ouro é, nesse
caso mais útil do que a habilidade de conduzir uma entrevista. Acontece dos pais solicitar a
entrevista e neste caso o professor encontra-se na posição de acusado, se ele não se apresentar
como um profissional competente, em plena posse de seus recursos certamente os pais o
acusaram de iniciante ou como se estivesse atravessando uma má fase.
Deixar passar a tempestade é uma forma de competência. As críticas geralmente são
feitas por pais mais instruídos, cientes de seus direitos de classe média ou alta. Eles atacam
violentamente e não é raro ouvir professores queixando-se da agressividade ou da arrogância
de certos pais que “acham que podem tudo”. Por outro lado, ambos se esforçam para delimitar
seu território. A experiência ensina uma certa humildade.
As competências requeridas de um verdadeiro profissional consistem de preferência,
em não gastar toda sua energia para se defender, para afastar o outro, mas ao contrário, aceitar
negociar ouvir e compreender o que os pais tem a dizer sem renunciar a defende suas próprias
convicções. Maia uma vez as competências nada são se não podem apoiar-se em uma
identidade, uma ética e uma forma de coragem...

Envolver os pais na construção dos saberes

Quando se diz “envolver os pais na construção dos saberes”, não se limita apenas a
convidá-los para participarem ativamente nos papeis que a escola desempenha. Isso pode até
favorecer o diálogo entre alguns pais e professores, mas nem todos os pais tem a mesma visão
que é obrigação e dever da parte deles, mandar seus filhos para a escola. Há pais que ao invés
de mandar o filho para a escola, convênce-o a ficar em casa, porque não vêem interesse nos
estudos e ainda não encontram justificativas para que o filho fique passe tantos anos
estudando. Ao mesmo tempo, há outros pais que ficam aterrorizados em pensar que seu filho
por um motivo ou outro não chegará ao ensino superior, e fazem de tudo para que o menino
seja instruído. Para os professores, alguns pais são seus aliados incondicionais e outros são
declarados como adversários. É preciso que haja mais democratização no ensino para que
possa defender uma pedagogia ativa e diferenciada.
Seja qual for a pedagogia que o professor utiliza é necessário que tanto os alunos quanto
aos pais compreendam e assimilem a ela, isso é a nível do ensino e aprendizagem, para que a
didática aplicada consiga envolver os pais e não se tornem angustiante para aqueles que
apostam na autonomia da aprendizagem de seu filho.
A competência de um professor consiste em conseguir a adesão dos pais em sua
pedagogia, mas sem abandonar aqueles que não se aderiram. Alguns alunos constroem desde
cedo uma relação autônoma com o saber, e isso o ajuda a passar por todo tipo de pedagogia
tanto educacional quanto familiar. Outros alunos já possuem menos recursos para pensar por
si próprio, principalmente quando se encontram em razões contraditórias.
Geralmente o professor se vê como um profissional qualificado, informado e que sabe o
que ele faz, assim esperam dos pais maior confiança, mesmo sabendo que nem sempre vai
obtê-la, e quando conseguem essa confiança ela é frágil. O professor precisa ganhar a
confiança dos pais, explicando sobre o seu trabalho e como o faz, para poder tentar envolvê-
los em seu método de ensino, para que os mesmos tenham uma participação mais ativa na
vida escolar de seus filho. È difícil para o professor envolver os pais em sua concepção de
ensino, quando o próprio não tem uma referência, um projeto, não tem espírito de equipe, fica
isolado dos colegas.
O professor pode exercer grande influência sobre os pais sim, desde que tenha um diálogo
entre a equipe pedagógica e os pais, deixando-os cientes que os mesmos conteúdos serão
trabalhados em várias turmas, que a pedagogia trabalhada é coerente e continua, mesmo que
os conteúdos mudem de um ano para o outro, não dificultará a aprendizagem dos alunos, que
os mesmo vão se adaptar com facilidade.

Enrolar

Dirigir reuniões de informação e de debate: fazer entrevistas e envolver os pais, não esgota
a forma de relacionamento entre família e escola, pois a criança torna-se intermediaria entre
as mesmas, pois ela transita entre esses dois pólos. Através da vivência na escola, leva aos
pais e comenta o seu dia a dia e vice-versa. Se quisermos a democratização do ensino, só nos
resta defender uma pedagogia ativa e diferenciada, explicando-a aos pais e tentando
conquistar os mais renitentes.
Nas relações com os pais devem-se evitar algumas tentações:
o Negar fatos.
o Insistir no seu caráter excepcional.
o Admitir que haja pessoas indesejáveis na turma.
o Distanciar-se dos colegas.
o Invocar falta de autoridade do EE.
o Afirmar que o interlocutor não é representativo.
o Referir as dificuldades das condições de trabalho ou de funcionamento.
o Lembrar o respeito aos territórios, etc.
Compreendeu-se que ser competente não significa dominar todas as formas de contatos, mas
construir um espaço, uma relação baseada em estima onde a recíproca entre pais e professores
seja verdadeira.
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