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INSTITUTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia

MATERIAL DE APOIO À
DISCIPLINA
OPERAÇÕES UNITÁRIAS I

(Matéria da P1)
Parte 1

Profa. Dra. Arlete Barbosa dos Reis


Instituto de Ciência e Tecnologia – ICT /UFVJM

Diamantina – 2018-1
Instituto de Ciência e Tecnologia ICT/UFVJM

Material de Apoio à Disciplina Operações Unitárias I

APRESENTAÇÃO

O “Material de Apoio à Disciplina Operações Unitárias I” é um compilado das


aulas ministradas nos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos,
na disciplina Operações Unitárias I. O presente material contém exercícios e textos
extraídos de livros sugeridos e utilizados como referência bibliográfica.

Diamantina, maio de 2018.


Profa. Dra. Arlete B. Reis

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Material de Apoio à Disciplina Operações Unitárias I

A confecção desta primeira versão do “Material de Apoio à Disciplina Operações


Unitárias I” corresponde aos tópicos a serem abordados até a realização da
primeira avaliação do segundo semestre de 2015.

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Definição

O que é uma "operação unitária"?

Em 1915, Arthur Little estabeleceu o conceito de "operação unitária",


segundo o qual um processo químico seria dividido em uma série de etapas
que podem incluir: transferência de massa, transporte de sólidos e líquidos,
destilação, filtração, cristalização, evaporação, secagem, etc. Cada uma das
etapas sequenciais numa linha de produção industrial é, portanto, uma
operação unitária. O conjunto de todas as etapas, compõe um processo
unitário.

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Introdução

Toda indústria química envolve um conjunto de processos: Processos Químicos,


Processo de Estocagem de materiais, Processos de compras, Processos de pagamentos,
etc.
As Operações Unitárias são importantes para execução dos processos químicos, físico-químicos,
petroquímicos, etc. Um processo químico é um conjunto executado em etapas, que
envolvem modificações da composição química, que geralmente são acompanhadas de
certas modificações físicas ou de outra natureza, no material que é o ponto de partida, a
matéria-prima para se obter o produto final.
As operações unitárias são os blocos individuais que compõem um processamento, que vai dar origem
a um produto final a partir de certa matéria-prima.
Cada uma possui técnicas comuns e está baseada nos mesmos princípios científicos
fundamentais independentes da substância ou matéria-prima, que está sendo operada e
de outras características do sistema, pode ser considerada uma operação unitária.
Desde 1915, depois da definição feita pelo engenheiro Arthur D. Little, foram
acrescentadas outras operações unitárias a lista de Little como transporte de fluídos,
transferência de calor, destilação, umidificação, absorção de gases, sedimentação,
classificação, centrifugação, hidrólise, digestão, evaporação, etc. As complexidades das
aplicações de engenharia provem da diversidade das condições, como temperatura,
pressão, concentração, pureza, etc.
Todas as operações unitárias estão baseadas em princípios da ciência que os traduzidos nas aplicações
industriais em diversos campos de engenharia. Encontram-se no setor da indústria exemplos de
maior parte das operações unitárias em aplicações mais variadas. Assim sendo, os
processos podem ser estudados sistematicamente, de forma unificada e simples,
podendo classificá-las em grupos de acordo com a sua finalidade dentro do processo
produtivo.

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O ENGENHEIRO QUÍMICO/ALIMENTOS
E AS OPERAÇÕES UNITÁRIAS

Toda indústria química ou correlata é uma série coordenada de OPERAÇÕES


INDIVIDUAIS que integram o processo produtivo. Este ponto de vista apareceu
em 1915 num relatório do professor e engenheiro Arthur D. Little dirigido à
direção do MIT (Massachusetts Institute of Technology), o que significou o
estudo da engenharia tendo como campo de atuação a indústria de processos
químicos. Assim estava criada a especialidade Engenharia Química.Essas
operações individuais foram chamadas e OPERAÇÕES UNITÁRIAS.
Fundamentalmente são operações físicas que independem praticamente do
que está sendo processado, mas que eventualmente podem envolver reações
químicas. O estudo das operações unitárias permitem ao engenheiro químico
ou engenheiro de alimentos atuar desempenhando basicamente tarefas de:
Escolher ou criar equipamentos que o processo precisa;
Dimensionar equipamentos para novas instalações;
Verificar capacidades e condições de operação de equipamentos
existentes quando submetidos a novas condições de processo;
Especificar esses equipamentos, quanto a materiais, sentidos de fluxo,
detalhes internos, meios de controle, localização na planta, etc;
Para a escolha e a criação dos equipamentos temos que conhecer como
funcionam, os diversos tipos e suas vantagens e desvantagens.
Para dimensionar ou verificar, temos que conhecer os princípios e cálculos da
física e da química capazes de quantificar dimensões e capacidades.
Para especificar precisamos conhecer a química e a dinâmica do processo
onde o equipamento vai funcionar, realizando ou sendo parte da realização de
uma operação unitária.
Finalmente como todo trabalho de engenharia a opção escolhida será
submetida a uma avaliação econômica.
Para os processos químicos o dimensionamento dos equipamentos tem papel
importantíssimo, são por exemplo:
Dimensões de um vaso; área de troca térmica de um aquecedor; altura;
diâmetro e número de estágios de uma torre; capacidade e potência de
bombas e compressores; velocidade de um agitador, etc.

Estes parâmetros, que resultam da engenharia química, são as causas muito


mais frequentes de insuficiências no processo do que problemas em solda ou
parafusos

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CAPÍTULO I
CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Alguns conhecimentos são fundamentais para que se possa estudar de forma


adequada a disciplina “Operações Unitárias I”, como conhecimentos sobre
conversão de unidades, unidades que podem ser medidas lineares, de área, de
volume, de massa, de pressão, de temperatura, de energia, de potência. Outro
conceito-base para “Operações Unitárias” é o de Balanço, tanto Material
quanto Energético. Neste primeiro capítulo iremos relembrar alguns conceitos
como conversão de unidades.

Conversão de unidades

É necessário conhecer as correlações existentes entre medidas muito


utilizadas na Indústria Química, como é o caso das medidas de temperatura, de
pressão, de energia, de massa, de área, de volume, de potência e outras que
estão sempre sendo correlacionadas.

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Alguns exemplos de correlações entre medidas lineares


1 ft =12 in
1 in =2,54 cm
1 m =3,28 ft
1 m =100 cm = 1.000 mm
1 milha =1,61 km
1 milha =5.280 ft
1 km =1.000 m

Alguns exemplos de correlações entre áreas


1 ft2 = 144 in2 1 m2 = 10,76 ft2
1 alqueire = 24.200 m2 1 km2 = 106 m2

Alguns exemplos de correlações entre volumes


1 ft3 = 28,32 L 1 ft3 = 7,481 gal
1 gal = 3,785 L 1 bbl = 42 gal
1 m3 = 35,31 ft3 1 bbl = 0,159 1 m3

Alguns exemplos de correlações entre massas


1 kg = 2,2 lb 1 lb = 454 g
1 kg = 1.000 g 1 t = 1.000 kg

Alguns exemplos de correlações entre pressões


1 atm = 1,033 kgf/cm2
1 atm = 14,7 psi (lbf/in2)
1 atm = 30 in Hg
1 atm = 10,3 m H2O
1 atm = 760 mm Hg
1 atm = 34 ft H2O
1 Kpa = 10–2 kgf/cm2

Algumas observações sobre medições de


pressão:
– Pressão Absoluta = Pressão Relativa + Pressão Atmosférica
– Pressão Barométrica = Pressão Atmosférica
– Pressão Manométrica = Pressão Relativa

Alguns exemplos de correlações entre temperaturas


tºC = (5/9)(tºF – 32)
tºC = (9/5)(tºC) + 32
tK = tºC + 273
tR = tºF + 460 (temperatures absolutas)

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Algumas observações sobre medições de temperatura:


Zero absoluto = –273ºC ou – 460ºF
(DºC/DºF) = 1,8
(DK/DR) = 1,8

Alguns exemplos de correlações entre potências


1 HP = 1,014 CV 1 HP = 42,44 BTU/min
1KW = 1,341 HP 1 HP = 550 ft.lbf/s
1KW = 1 KJ/s 1 KWh = 3.600 J
1KW = 1.248 KVA

Alguns exemplos de correlações de energia


1 Kcal = 3,97 BTU 1BTU = 252 cal
1BTU = 778 ft.lbf 1Kcal = 3,088 ft.lbf
1Kcal = 4,1868 KJ

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RECORDAR É VIVER...

UNIDADES E DIMENSÕES

A medida de qualquer grandeza física pode ser expressa como o produto de


dois valores, sendo um a grandeza da unidade escolhida e o outro o número
dessas unidades.
Assim, a distância entre dois pontos pode ser expressa com 1 m, ou como 100
cm ou então como 3,28 ft. O metro, o centímetro e o pé (foot) são
respectivamente as grandezas das unidades e 1, 100 e 3,28 são os
correspondentes números de unidades. Quando a magnitude da quantidade
medida depende da natureza da unidade escolhida para se efetuar a medida,
diz-se que a quantidade em questão possui dimensão.
Dimensões: são conceitos básicos de medidas tais como: comprimento (L),
massa (M), força (F), tempo (t) e temperatura (T).
Unidades: são as diversas maneiras através das quais se pode expressar as
dimensões.
Exs: Comprimento – centímetro (cm); pé (ft); polegada (in) Massa – grama (g);
libra massa (lbm); tonelada (ton); Força – dina (di); grama força (gf); libra força
(lbf); Tempo – hora (h), minuto (min), segundo (s).

• Regra para se trabalhar corretamente com as unidades: Tratar as


unidades como se fossem símbolos algébricos.
Não se pode somar, subtrair, multiplicar ou dividir unidades deferentes
entre si e depois cancelá-las. 1 cm + 1 s é 1 cm + 1s

No entanto, em se tratando de operações cujos termos apresentam unidades


diferentes, mas com as mesmas dimensões, a operação pode ser efetuada
mediante uma simples transformação de unidades.
1 m + 30 cm (dois termos com dimensões de comprimento)
1 m = 100 cm
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então, 1 m + 30 cm = 100 cm + 30 cm = 130 cm

SISTEMAS DE UNIDADES

As grandezas básicas e as derivadas podem ser expressas nos vários


sistemas de unidades

Dimensões Unidades básicas Comprimento Força Massa Tempo Temperatura

* Unidades derivadas pela lei de Newton.

Balanço Material

Como se sabe, “na natureza nada se cria, nada se destrói, tudo se transforma”,
ou seja, a matéria não é criada e muito menos destruída, e, portanto, num
balanço material envolvendo um certo sistema, a massa que neste entra
deverá ser a mesma que dele estará saindo. No processamento uma tonelada,
por exemplo, por hora de petróleo em uma refinaria, obtém-se exatamente uma
tonelada por hora de produtos derivados deste processo, como gás
combustível, GLP, gasolina, querosene, diesel e óleo combustível. A queima de
um combustível em um forno ou em uma caldeira é outro exemplo, porém
menos evidente em que ocorre o mesmo balanço de massa: pode-se citar que
durante a queima de 1 tonelada de um certo combustível em um forno ou uma
caldeira, considerando-se que são necessárias 13 toneladas de ar atmosférico,
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tem-se como resultado 14 toneladas de gases de combustão. Em um Balanço


Material, não se deve confundir massa com volume, pois as massas
específicas dos produtos são diferentes. Assim, um balanço material deverá
ser realizado sempre em massa, pois a massa de um certo produto que entra
em um certo sistema, mesmo que transformada em outros produtos, sempre
será a mesma que está saindo deste sistema, enquanto os volumes sofrem
variação conforme a densidade de cada produto.

Resumindo....
Balanço Material : se baseia na Lei de Lavoisier da Conservação das Massas ;
na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.

Massa que entra → PROCESSO → Massa que sai

Balanço Energético

Existem diversos tipos de energia, por exemplo, Calor, Trabalho, Energia de


um corpo em movimento, Energia Potencial (um corpo em posição elevada),
Energia elétrica e outras. Assim como a matéria, a energia de um sistema não
pode ser destruída, somente poderá ser transformada em outros tipos de
energia, como por exemplo, o motor de uma bomba que consome energia
elétrica e a transforma em energia de movimento do líquido, calor e energia de
pressão. A água, no alto de um reservatório, ao movimentar um gerador,
transforma sua energia potencial em energia elétrica, calor e energia de
movimento (energia cinética). Neste caso, o balanço de energia do sistema
poderia ser representado pela seguinte expressão: Energia Potencial da água
do reservatório = Energia elétrica fornecida pelo gerador + calor de
aquecimento do gerador + Energia de movimento da água após a turbina. No
caso de um forno ou uma caldeira que aquece um certo líquido, o balanço de
energia observado será:
Calor liberado pela queima do combustível =Calor contido nos gases de
combustão que saem do forno ou da caldeira + Calor contido nos produtos que
deixam o forno ou a caldeira. É importante ressaltar que, muito embora as

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diversas formas de energia sejam medidas em unidades diferentes, tais como,


energia elétrica em KWh, trabalho em HP . h, calor em caloria, em um balanço
energético é necessário que todas as formas de energia envolvidas no balanço
estejam expressas na mesma unidade de energia.

Resumindo...

Balanço Energético : se baseia nas Leis Termodinâmicas da Conservação de


Energia.

Energia que entra → PROCESSO → Energia que sai

Sugestão para aplicação nos cálculos de Balanços Mássicos e


Energéticos

Como regra geral, antes de iniciar cálculos que evolvam balanços mássicos
e/ou balanços energéticos, deve-se:

a) transformar todas as vazões volumétricas em vazões mássicas, pois o


balanço deve ser realizado sempre em massa, uma vez que a vazão em massa
não varia com a temperatura.
b) faça um esquema simplificado do processo em que serão realizados os
balanços;
c) identifique com símbolos, as vazões e as composições de todas as correntes
envolvidas nos processos em que estão sendo realizados os balanços;
d) anote, no esquema simplificado de processo, todos os dados de processo
disponíveis como vazões, composições, temperaturas, pressões, etc;
e) verificar que composições são conhecidas ou podem ser calculadas;
f) verificar quais vazões mássicas são conhecidas ou podem ser calculadas;
g) selecionar a base de cálculo conveniente a ser adotada para o início da
resolução do problema.

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TABELA DE UNIDADES E DIMENSÕES

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CONVERSÃO DE UNIDADES

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CAPÍTULO 2

ELEMENTOS DE MECÂNICA DOS FLUIDOS

Para introduzirmos o tópico “Transporte de Fluidos” será necessária a


abordagem das definições básicas, as propriedades dos fluidos e os conceitos
fundamentais da Mecânica dos Fluidos.
Estes temas serão abordados de forma objetiva e concisa, sem
desenvolvimentos teóricos, visando facilitar o estudo do comportamento dos
fluidos.

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RECORDAR É VIVER... Mecânica dos Fluidos

Fluido

Fluido é qualquer substância não sólida, capaz de escoar e assumir a


forma do recipiente que o contém.
Os fluidos podem ser divididos em líquidos e gases.
De uma forma prática, podemos distinguir os líquidos dos gases da
seguinte maneira: os líquidos quando colocados em um recipiente,
tomam o formato deste, apresentando porém, uma superfície livre,
enquanto que os gases, preenchem totalmente o recipiente, sem
apresentar qualquer superfície livre.

Em nossos estudos, daremos maior destaque às características dos líquidos.

Fluido Ideal

É aquele na qual a viscosidade é nula, isto é, entre suas moléculas não se


verificam forças tangenciais de atrito.

Fluido Incompressível

É aquele em que seu volume não varia em função da pressão. A maioria dos
líquidos tem um comportamento muito próximo a este, podendo, na prática,
serem considerados como fluidos incompressíveis.
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Líquido Perfeito

Em nossos estudos, consideraremos de uma forma geral os líquidos como


sendo líquidos perfeitos, isto é, um fluido ideal, incompressível, perfeitamente
móvel, contínuo e de propriedades homogêneas.
Outros aspectos e influências, como a viscosidade, por exemplo, serão
estudados à parte.

PESO ESPECÍFICO, MASSA ESPECÍFICA, DENSIDADE

Peso Específico

O peso específico de uma substância é o peso desta substância pela unidade


de volume que ela ocupa.

As unidades mais usuais são: kgf/m kgf/dm N/m (SI), lbf/ft .

Massa Específica

A massa específica de uma substância é a massa dessa substância pela


unidade de volume que ela ocupa.

As unidades mais usuais são: kg/m kg/dm lb/ft

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RELAÇÃO ENTRE PESO ESPECÍFICO E MASSA ESPECÍFICA

Como o peso de uma substância é o produto de sua massa pela constante


aceleração da gravidade, resulta a seguinte relação entre peso específico e
massa específica.

Densidade

Densidade de uma substância é a razão entre o peso específico ou massa


específica dessa substância e o peso específico ou massa específica de uma
substância de referência em condições padrão. Para substâncias em estado
líquido ou sólido, a substância de referência é a água. Para substâncias em
estado gasoso a substância de referência é o ar. Adotaremos a água a
temperatura de 15 °C (59 F), ao nível do mar*, como substância de referência.
* temperatura usada como padrão pelo API (American Petroleum Institute).

Obs.: A densidade é um índice adimensional.

Em alguns ramos da indústria, pode-se encontrar a densidade expressa em


graus, tais como os graus API (Indústria Petroquímica),os graus BAUMÉ
(Indústria Química) e o graus BRIX (Indústria de Açúcar e Álcool). Estes graus
podem ser convertidos em densidade, através de tabelas.

Obs.: Em algumas publicações, o termo densidade, pode ser encontrado com a


definição de massa específica

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Viscosidade

É a propriedade física de um fluido que exprime sua resistência ao


cisalhamento interno, isto é, a qualquer força que tenda a produzir o
escoamento entre suas camadas. A viscosidade tem uma importante influência
no fenômeno do escoamento, notadamente nas perdas de pressão dos fluidos.
A magnitude do efeito, depende principalmente da temperatura e da natureza
do fluido. Assim, qualquer valor indicado para a viscosidade de um fluido deve
sempre informar a temperatura, bem como a unidade que a mesma é
expressa.
Notar que nos líquidos, a viscosidade diminui com o aumento da temperatura.

LEI DE NEWTON

Newton descobriu que em muitos fluidos, a tensão de cisalhamento é


proporcional ao gradiente de velocidade, chegando a seguinte
formulação:

Os fluidos que obedecem esta lei, são os chamados fluidos Newtonianos e os


que não obedecem são os chamados não Newtonianos.
A maioria dos fluidos que são de nosso interesse, tais como água, vários óleos,
etc; comportam-se de forma a obedecer esta lei.

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Viscosidade Dinâmica Absoluta

A viscosidade dinâmica ou absoluta exprime a medida das forças internas de


atrito do fluido e é justamente o coeficiente de proporcionalidade entre a tensão
de cisalhamento e o gradiente de velocidade da Lei de Newton.
O símbolo normalmente utilizado para indicá-la é a letra " " (mü) .
As unidades mais usuais são o centiPóise (cP), o Póise (98,1P = 1 kgf.s/m ); o
Pascal Segundo (1 Pa.s = 1N.s/m ) (SI).

Viscosidade Cinemática

É definida como o quociente entre a viscosidade dinâmica e a massa


específica, ou seja :

O símbolo normalmente utilizado para indicá-la é letra " " (nü). As unidades
mais usuais são o centiStoke (cSt), o Stoke (1St = 1cm /s); om /s (SI)

Na prática, além das unidades usuais já vistas, a viscosidade pode ser


especificada de acordo com escalas arbitrárias, de um dos vários instrumentos
utilizados para medição (viscosímetros).
Algumas dessas escalas, tais como o e a, são baseadas no tempo em
segundos requerido para que uma certa quantidade de líquido passe através
de um orifício ou tubo padronizado e são dessa forma uma medida de
viscosidade cinemática.
O viscosímetro de expressa a viscosidade absoluta, enquanto o tem escala em
graus e indica o quociente entre o tempo de escoamento de um dado volume
de líquido e o tempo de escoamento de um mesmo volume de água.
As escalas mais usuais são:

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Alemanha - Engler (expressa em graus E);


Inglaterra - Redwood 1 e Redwood Admiralty (expressa em segundos);
Estados Unidos - Second Saybolt Universal "SSU" e Second Saybolt Furol
"SSF" (expressa em segundos);
França - Barbey (expressa em cm /h).

A viscosidade cinemática de um fluido, em pode ser obtida através da sua


viscosidade absoluta em , e da sua densidade , na temperatura em questão,
pela relação:

Pressão

É a força exercida por unidade de área.

As unidades mais usuais são: kgf/cm ; kgf/m ; bar (1bar = 1,02 kgf/cm ; psi (1
psi = 0,0689 kgf/cm ); Pascal (1 Pa (SI) = 1,02 x 10 kgf/cm ); atmosfera (1 atm
= 1,033 kgf/cm ); mmHg (1mmHg = 0,00136 kgf/cm ).

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LEI DE PASCAL

"A pressão aplicada sobre um fluido contido em um recipiente fechado age


igualmente em todas as direções do fluido e perpendicularmente às paredes do
recipiente"

TEOREMA DE STEVIN

"A diferença de pressão entre dois pontos de um fluido em equilíbrio é igual ao


produto do peso específico do fluido pela diferença de cota entre os dois
pontos", ou seja:

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Importante:
1) para determinar a diferença de pressão entre dois pontos, não importa a
distância entre eles, mas sim, a diferença de cotas entre eles;
2) a pressão de dois pontos em um mesmo nível, isto é, na mesma cota, é a
mesma;
3) a pressão independe do formato, do volume ou da área da base do
reservatório.

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CARGA DE PRESSÃO/ALTURA DE COLUNA DE LÍQUIDO

INFLUÊNCIA DO PESO ESPECÍFICO NA RELAÇÃO ENTRE


PRESSÃO E ALTURA DE COLUNA DE LÍQUIDO:

Importante: Multiplica-se a expressão acima por 10, para obtermos a carga de


pressão ou altura de coluna de líquido em metros, se utilizarmos as unidades
informadas.

a) para uma mesma altura de coluna de líquido, líquidos de pesos específicos


diferentes tem pressões diferentes.

b) para uma mesma pressão, atuando em líquidos com pesos específicos


diferentes, as colunas líquidas são diferentes.

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ESCALAS DE PRESSÃO

Pressão Absoluta (Pabs)

É a pressão medida em relação ao vácuo total ou zero absoluto. Todos os


valores que expressam pressão absoluta são positivos.

Pressão Atmosférica (Patm)

É a pressão exercida pelo peso da atmosfera.


A pressão atmosférica normalmente é medida por um instrumento chamado
barômetro , daí o nome pressão barométrica. A pressão atmosférica varia
com a altitude e depende ainda das condições meteorológicas, sendo que ao
nível do mar, em condições padronizadas, a pressão atmosférica tem o valor:

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Para simplificação de alguns problemas, estabeleceu-se a Atmosfera Técnica,


cuja pressão corresponde a 10m de coluna de líquido, o que corresponde a 1
kgf/cm.

Pressão Manométrica (Pman)

É a pressão medida, adotando-se como referência a pressão atmosférica.


Esta pressão é normalmente medida através de um instrumento chamado
manômetro, daí sua denominação manométrica, sendo também chamada de
pressão efetiva ou pressão relativa.
Quando a pressão é menor que a atmosférica, temos pressão manométrica
negativa, também denominada de vácuo (denominação não correta) ou
depressão.
O manômetro, registra valores de pressão manométrica positiva; o
vacuômetro registra valores de pressão manométrica negativa e o
manovacuômetro registra valores de pressão manométrica positiva e
negativa. Estes instrumentos, sempre registram zero quando abertos à
atmosfera, assim, tem como referência (zero da escala) a pressão atmosférica
do local onde está sendo realizada a medição, seja ela qual for.

RELAÇÃO ENTRE PRESSÕES

Pelas definições apresentadas, resulta a seguinte relação:

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ESCALAS DE REFERÊNCIA PARA MEDIDAS DE


PRESSÃO

Pressão de Vapor

Pressão de vapor de um fluido a uma determinada temperatura é aquela na


qual coexistem as fases líquido e vapor. Nessa mesma temperatura, quando
tivermos uma pressão maior que a pressão de vapor, haverá somente a fase
líquida e quando tivermos uma pressão menor que a pressão de vapor, haverá
somente a fase vapor.

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O gráfico abaixo, chamado isotérmico, ilustra o fenômeno

descrito:

Nota-se que a medida que aumenta a temperatura, a pressão de vapor


aumenta, assim, caso a temperatura seja elevada até um ponto em que a
pressão de vapor iguale, por exemplo, a pressão atmosférica, o líquido se
vaporiza, ocorrendo o fenômeno da ebulição.
A pressão de vapor tem importância fundamental no estudo das bombas,
principalmente nos cálculos de NPSH, como veremos adiante.

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ESCOAMENTO

Regime Permanente

Diz-se que um escoamento se dá em regime permanente, quando as


condições do fluido, tais como temperatura, peso específico, velocidade,
pressão, etc., são invariáveis em relação ao tempo.

Regime Laminar

É aquele no qual os filetes líquidos são paralelos entre si e as velocidades em


cada ponto são constantes em módulo e direção.

Regime Turbulento

É aquele no qual as partículas apresentam movimentos variáveis, com


diferentes velocidades em módulo e direção de um ponto para outro e no
mesmo ponto de um instante para outro.

EXPERIÊNCIA DE REYNOLDS

Osborne Reynolds, em 1833, realizou diversas experiências, onde pode


visualizar os tipos de escoamentos. Deixando a água escorrer pelo tubo
transparente juntamente com o líquido colorido, forma-se um filete desse
líquido. O movimento da água está em regime laminar. Aumentando a vazão
da água, abrindo-se a válvula, nota-se que o filete vai se alterando podendo

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chegar a difundir-se na massa líquida, nesse caso, o movimento está em


regime turbulento.

Estes regimes foram identificados por um número adimensional.

LIMITES DO NÚMERO DE REYNOLDS PARA TUBOS

Notar que o número de Reynolds é um número adimensional, independendo


portanto do sistema de unidades adotado, desde que coerente. De uma forma
geral, na prática, o escoamento se dá em regime turbulento, exceção feita a
escoamentos com velocidades muito reduzidas ou fluidos de alta viscosidade.

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VAZÃO E VELOCIDADE

Vazão Volumétrica

Vazão volumétrica é definida como sendo o volume de fluido que passa por
uma determinada secção por unidade de tempo.

As unidades mais usuais são: m /h; l/s; m /s; GPM(galões por minuto).

Vazão Mássica

Vazão mássica é a massa de fluido que passa por determinada seção , por
unidade de tempo.

As unidades mais usuais são: kg/h; kg/s; t/h; lb/h.

Vazão em Peso

Vazão em peso é o peso do fluido que passa por determinada seção, por
unidade de tempo.

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As unidades mais usuais são: kgf/h; kgf/s; tf/h; lbf/h.

RELAÇÃO ENTRE VAZÕES

Como existe uma relação entre volume, massa e peso, podemos escrever:

Em nossos estudos, utilizaremos principalmente a vazão volumétrica, a qual


designaremos apenas por vazão (Q).

Velocidade

Existe uma importante relação entre vazão, velocidade e área da seção


transversal de uma tubulação:

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EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE

Consideremos o seguinte trecho da tubulação:

Se tivermos um escoamento em regime permanente através da tubulação


indicada, a massa fluida que entra na seção 1 é igual a massa que sai na
seção 2, ou seja:

ComoQm=Q. , se tivermosumfluido incompressível, a vazão volumétrica que


entra na seção 1 também será igual a vazão que sai na seção 2, ou seja:

Coma relação entre vazão e velocidade,Q=v.A, podemos escrever:

Essa equação é valida para qualquer seção do escoamento, resultando assim


uma expressão geral que é a Equação da Continuidade para fluidos
incompressíveis.

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Pela equação acima, nota-se que para uma determinada vazão escoando
através de uma tubulação, uma redução de área acarretará um aumento de
velocidade e vice-versa.

ENERGIA

PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DE ENERGIA

A energia não pode ser criada nem destruída, mas apenas transformada, ou
seja, a energia total é constante.
Veremos que a energia pode apresentar-se em diversas formas, das quais
destacaremos as de maior interesse para nossos estudos.

Energia Potencial, de posição ou Geométrica (Hgeo)

A energia potencial de um ponto em um fluido por unidade de peso é definida


como a cota deste ponto em relação a um determinado plano de referência.

Energia de Pressão (Hpr)

A energia de pressão em um ponto de um determinado fluido, por unidade de


peso é definida como:

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Energia Cinética ou de Velocidade (Hv)

A energia cinética ou de velocidade de um ponto em um determinado fluido por


unidade de peso é definida como:

TEOREMA DE BERNOULLI

O teorema de Bernoulli é um dos mais importantes da hidráulica e representa


um caso particular do Princípio da Conservação de Energia. Considerando-se
como hipótese um escoamento em regime permanente de um líquido perfeito,
sem receber ou fornecer energia e sem troca de calor, a energia total, ou carga
dinâmica, que é a soma da energia de pressão, energia potencial e energia
cinética, em qualquer ponto do fluido é constante, ou seja:

Considerando a figura abaixo:

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A linha piezométrica....

ADAPTAÇÃO DO TEOREMA DE BERNOULLI PARALÍQUIDOS REAIS

No item anterior, consideramos a hipótese de um líquido perfeito, não levando


em conta o efeito das perdas de energia por atrito do líquido com a tubulação,
a viscosidade, etc. Considerando-se líquidos reais, faz-se necessária a
adaptação do Teorema de Bernoulli, introduzindo-se uma parcela
representativa destas perdas, como mostrado abaixo:

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O termo Hp é a energia perdida pelo líquido, por unidade de peso, no


escoamento do ponto 1 para o ponto 2.

Caracterização de partículas

6.1 Introdução

O conhecimento das características de uma partícula ou de uma


população de partículas é o coração da ciência de sistemas particulados, uma
vez que tais sistemas são regidos pela interação partícula/partícula (partículas
morfologicamente ou semelhantes ou distintas), partícula/fluido (gás e/ou
liquido) e a interação entre tais fases, como aquelas apresentadas no quadro
6.1. o estudo fenomenológico de tais interações caracteriza a ciência de
sistemas particulados; já a decorrência de aplicações de tais estudos diz
respeito a tecnologia de sistemas particulados.
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6.2 Características físicas de uma partícula isolada

As características físicas e morfológicas das partículas afetam desde


fenômenos moleculares (tais como a difusão mássica) que ocorre no interior
e/ou entre partículas, até o dimensionamento de uma coluna (seja no aspecto
construtivo, como diâmetro e altura útil, seja no aspecto operacional, como a
definição de vazão de operação e perda de carga). Os fenômenos de
transferência de massa, por exemplo, em conjunto ou não com reações
químicas, que ocorrem em sistemas particulados, estão presentes nos
processos de indústria química, de alimentos, agrícola, metalúrgica e
petroquímica. Pode-se citar, ainda, engenharia bioquímica, quando se deseja
recuperar fármacos utilizando-se resinas apropriadas no fenômeno da
adsorção. No que se refere a tipos de particulados, pode-se citar o emprego da
areia e do calcário em operações de combustão em leito fluidizado, sendo a
areia utilizada como material inerte e o calcário como adsorvente de SO2.
Existem as partículas de catalizadores FCC utilizadas no craqueamento
catalítico de petróleo, objetivando o seu refino para obtenção de gasolina. Cabe
mencionar, também, as aplicações relativas à engenharia ambiental em que se
utilizam materiais particulados como adsorventes nos processos que a
preservação e ao controle ambiental, tanto na purificação de gases poluentes
quanto no tratamento de efluentes industriais e domésticos. Neste ultimo caso,
um exemplo típico é o

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aproveitamento do produto resultante da secagem de biomassa residuária de


leveduras (Saccharomyces cerevisiae) como bioadsorvente de íons metálicos,
cujo exemplo de amostra está apresentado na figura 6.1a que a amostra
contém células e aglomerados de células de S. cerevisiae, as quais
denominaremos partículas, de diversos tamanhos e diferentes formatos. Já na
figura 6.1b uma dessas partículas é ampliada dez vezes em relação à figura
6.1a. Na figura 6.1b observa-se que tal partícula assemelha-se a uma
“esponja”, ou seja: são identificados vazios na sua estrutura, os quais são
conhecidos como poros da partícula. Do conhecimento da figura 6.1a obtêm-se
o diâmetro médio das partículas que compõe a amostra, denominado diâmetro
médio de partícula, assim como do formato médio dessa partícula. Tais
informações são importantes, por exemplo, quando do projeto de um
observador, em particular quanto ao conhecimento da perda de carga desse
equipamento. Da figura 6.1b obtêm-se informações sobre tamanho e
distribuição de poros, área superficial, que extremamente importantes no
estudo do fenômeno de transferência de massa e de afinidade entre o
bioadsorvente e o íon metálico que se deseja recuperar por adsorção.

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Independentemente do processo, o conhecimento minucioso das


propriedades físicas e morfológicas relacionadas à partícula como porosidade,
tamanho e distribuição de poros, ara superficial e específica é de suma
importância na compreensão de fenômenos que reagem uma determinada
operação unitária, além de permitir o aprimoramento de tecnologias envolvendo
sistemas particulados.

6.2.1 Porosidade da partícula

A porosidade é a medida da fração de espaços vazios de uma partícula


ou de um aglomerado de partículas. Taxas de corrosão, fraturas e resistência à
temperatura e a atividade catalítica são funções da geometria dos poros. Lã,
couro e até mesmo o osso humano tem sido estudados por meio da
classificação da sua porosidade. Pode-se citar o caso da osteoporose, em que
o conhecimento da medida do diâmetro dos poros traz informações sobre a
estrutura porosa dos ossos, sendo indispensável para o estudo e tratamento do
caso.

Qualquer material através do qual é possível encontrar uma “passagem”


contínua de um lado para o outro deste, objeto geralmente é dito poroso. Os
poros podem ser fechados, fechados em apenas uma extremidade (dead end
pore) e abertos ou vazios (figura 6.2). Os poros fechados não contribuem para
os fenômenos de transporte (matéria e/ou energia). Caso os poros abertos e/ou
dead end pore encontrem-se entre partículas, esses são denominados poros
interpartículas. Existem poros com passagens que começam em um lado da
partícula e nunca emergem, chamados poros obscuros (blind pores). Há poros
que emergem do mesmo lado da partícula que se iniciam. Embora os poros
possam constituir-se em “passagens” diretas, eles sofrem facilmente torções
em sua estrutura e tornam-se, em muitos materiais, passagens sinuosas com
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bifurcações e interligações entre si. Poros podem ter suas dimensões


gradativamente diminuídas com a profundidade, ou, em alguns casos,
aumentam suas dimensões com a profundidade, dando origem aos chamados
poros “gargalo de garrafa”.

Os poros considerados aqui são aberturas e/ou passagens em


(partículas) rígidos ou semirrígidos uma massa rígida gerada da compressão
de um pó é um típico material poroso. Os espaços entre as partículas do pó
(figura 6.3) são chamadas de volume de vazios. A porosidade, portanto,
corresponde a relação entre o volume ocupado pelos poros e/ou vazios e o
volume total da amostra. Neste caso, têm-se:

Porosidade da partícula (figura 6.2)

(6.1)

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Porosidade do pó (figura 6.3)

(6.2)

Dependendo do tipo do meio poroso, o valor da porosidade pode variar


de próximo de zero até próximo da unidade. Como exemplo pode-se citar que
alguns metais e tipos de pedras vulcânicas possuem porosidades muito baixas.
Já os filtros fibrosos e isolantes térmicos são materiais bastante porosos.
Desse modo, os poros podem ser classificados por tamanho, conforme
apresentado na Tabela 6.1. já as técnicas de medida estão associadas a
obtenção da massa especifica do material (material poroso e não poroso), as
quais serão discutidas no próximo item.

6.2.2 Massa específica da particula

A massa especifica de um material é definida como a massa desse


material dividida pelo volume ocupado por ele. As definições distintas para a
massa específica decorrem de como o volume da partícula é considerado. O
volume visível de uma amostra é composto pelo volume da matriz sólida e pelo
volume de vazios (poros). A massa do material é determinada facilmente por
uma balança analítica, enquanto o volume, em se tratando de sólidos de
geometria conhecida, é calculado diretamente da definição de seu volume
geométrico. Por exemplo: tendo-se uma partícula de esfera de vidro (de 2 mm
de diâmetro, cujo o valor é obtido diretamente por um paquímetro), obtém-se a
sua massa por meio de uma balança e a divide pelo volume dessa partícula
considerando-se o seu diâmetro.

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Quando o material em questão for pequeno o suficiente de modo a ser


praticamente impossível medir o seu diâmetro, e que, em vez de uma partícula,
tenha-se uma amostra desse material (ou seja, um número considerável de
partículas), pode-se recorrer à técnica denominada picnometria ou método de
Arquimedes. Essa técnica consiste na imersão da amostra de partículas em um
recipiente preenchido por, um líquido (usualmente água); o volume de líquido
deslocado corresponde ao volume ocupado pela amostra em tal recipiente. Um
roteiro para determinação da massa específica da partícula pode ser esse que
se segue:

a) Considere que se conheça a massa da amostra, a qual denominaremos


m1;
b) Toma-se, a seguir, um picnômetro de volume conhecido e insere-se
água, medindo-se a massa do conjunto (massa do picnômetro + massa
da água), a qual denominaremos m2;
c) Adiciona-se ao conjunto de massa m2 a massa conhecida da amostra
(m1) e pesa-se o conjunto (massa do picnômetro cheio de água + massa
da amostra), que denominaremos m3. A massa de água deslocada será:
.

O volume de água deslocada, que é igual ao volume da amostra, será:


, em que , é a massa específica da agua na
temperatura do ensaio. Assim, a massa específica da partícula advirá
de:

(6.3)

O método de Arquimedes é apropriado principalmente para sólidos não


porosos. Muitos sólidos – do interesse de engenharia química, por exemplo -
possuem, em suas estruturas (figura 6.1b). Para esses materiais, faz-se
necessário a medida de dois tipos diferentes de ,assa especifica: uma que
inclui os poros e outra que os exclui, o que reflete diretamente na obtenção do
volume considerado na definição de massa especifica ( e mesmo de
porosidade). Para tanto, considere que se conheça uma partícula de esfera de
carvão altamente porosa (de 2 mm de diâmetro, cujo valor é obtido diretamente
por um paquímetro); obtêm-se a sua massa por meio de uma balança e a

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divide pelo volume dessa partícula considerando-se o diâmetro dela. O


resultado advindo dessa divisão é a massa específica aparente, ou

(6.4)

Note que foi medido o volume da partícula independentemente dela ser


porosa ou não (desse modo, o valor da massa específica advém da Eq.(6.3) e
refere-se a aparente). Por outro lado, ao não considera a presença de poros,
ter-se-á apenas o volume de material (ou seja, de carvão); neste caso tem-se a
massa especifica real (ou absoluta), definida por

(6.5)

Observe que o valor da massa especifica real é maior do que o valor da


massa específica aparente (serão aproximadamente iguais na situação de
partículas de baixa porosidade). A partir, portanto, da relação entre as massas
especificas aparente e real obtem-se o valor da porosidade do material
segundo

(6.6)

Verifica-se que os valores das massas especificas real e aparente, para


micropartículas, dependem da porosidade do material. Dentre as técnicas
utilizadas para a sua determinação está a porosimetria por intrusão de
mercúrio, a qual é caracterizada por intrudir-se mercúrio líquido, sob pressão
de até 400 Mpa, em uma determinada amostra, forçando-se o mercúrio a
penetrar nos poros do material (utiliza-se uma pressão para cada diâmetro de
poro, permitindo, dessa maneira, uma ampla distribuição de tamanho de
poros), avaliando-se diâmetros de poros superiores a 0,03 μm. Para diâmetros

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de mesma ordem de grandeza e menores, pode-se utilizar a técnica da


picnometria gasosa, a qual baseada na difusão de um gás inerte no interior da
partícula. A escolha do gas inerte depende da relação entre o diâmetro da
molécula do gás e o diâmetro do poro, no que decorre o primeiro ser,
necessariamente, menor do que o segundo.

6.2.3 Área especifica superficial

A área específica ou superfície especifica é definida como a área


superficial da partícula na unidade de massa, aM , ou na unidade de volume, aV,
conforme ilustra a Figura 6.4.,

O conhecimento da área específica superficial é fundamental nos


estudos de fenômenos e operações de transferência de calor, de massa e
combinados, pois ela está associada à área disponível para a troca de energia
e/ou matéria, como são os casos da adsorção, secagem, bem como em
situações em que ocorrem reações químicas, como na situação de catalise
heterogênea e na combustão. Além disso, o conhecimento dessa propriedade
é essencial na indústria farmacêutica, principalmente em operações de
recobrimento de comprimidos ou revestimento de pellets. Existem diferente
métodos para a determinação do valor da área específica superficial. A
primeira delas é aquela que advém de cálculos dos valores do diâmetro da
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partícula ou da distribuição de diâmetros de partículas em um aglomerado (a


ser visto oportunamente). A segunda técnica, por meio da adsorção gasosa ou
líquida, baseia-se na quantidade em que a superfície da amostra, de modo a
formar uma monocamada desse soluto, que é proporcional a sua área
superficial. A quantidade de gravimetria, volumetria ou por técnica de fluxo
contínuo.

6.2.4 Morfologia das partículas

A forma das partículas desempenha papel essencial em vários aspectos


envolvendo sistemas particulados, influenciando, por exemplo, o valor da
velocidade terminal, bem como na superfície de contato das partículas.

Existem diversas definições para representar a forma de partículas, que


são baseadas nas razões entre os eixos ortogonais, no volume do solido, na
área do sólido e na área superficial. Entretanto, a maioria dessas
representações é baseada nas dimensões características de uma partícula (a,
b, c), conforme ilustra a Figura 6.5.

Dentre os diversos fatores de forma, destacam-se:

a) Arredondamento, Ar; e circularidade, C. a circularidade e o


arredondamento comparam a superfície do objeto com a superfície do
disco do mesmo perímetro, ou

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(6.7)

em que Pe é o perímetro de SP , área superficial da partícula,


respectivamente. Encontra-se, também, a seguinte definição para o
arredondamento

(6.8)

sendo Ac , área relativa ao menor ao menor diâmetro de uma esfera


circunscrita, dpI (Figura 6.6), e Ap, área projetada da partícula em
posição de repouso, ou seja, é como se deixasse tal partícula repousar
sobre uma determinada superfície e nela deixasse grafadas as suas
dimensões bidimensionais (estáveis), conforme ilustra a Figura 6.6,
podendo ser as partículas classificadas conforme a tabela 6.2.

A forma da partícula, do grão ou do aglomerado pode ser avaliada por


análise de imagens (fotografias, microfotografias ou, ainda, visualmente,
na dependência da dimensão da partícula) e comparada com uma figura
contendo formas padrões, conforme ilustra a Figura 6.7. O resultado é
obtido de acordo com o grau de esfericidade e o grau de
arredondamento.

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b) Alongamento, Aℓ. O alongamento mede a razão entre o maior e o menor


eixo do objeto, ou

(6.9)

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Em que a é o raio da maior dimensão da partícula; b, raio da menor


dimensão. Caso o alongamento for igual a 1, o objeto é circular ou
quadrático; para os valores superiores a 1, o objeto se torna mais
alongado (ARAÚJO, 2001).

A partir da analise da Figura 6.6 e da definição de alongamento, esta


grandeza também pode ser definida a partir do conhecimento dos
diâmetros inscrito e circunscrito de uma partícula, à semelhança de uma
daquelas imagens ilustradas na Figura 6.7, obtida por meio da projeção
da sombra dessa partícula sobre um plano em repouso. A partir da
Figura 6.6, o grau de alongamento é definido por

(6.10)

c) Esfericamente, φ. No estudo das formulas das partículas, observa-se


uma tendência em considera-las esféricas para simplificar cálculos.
Dificilmente tais partículas apresentar-se-ão nesse formato, fazendo-se
necessário, portanto, conceituar um índice que traduz o quão o formato
da partícula se aproxima ao formato de uma esfera. Tal índice é o grau
de esfericidade, . A definição clássica de esfericidade é atribuída a
Wadell (1932), que a estabelece como a razão entre o diâmetro de uma
esfera igual de igual volume ao volume da partícula e o diâmetro da
menor esfera circunscrita de diâmetro dpI (Figura 6.6). Assim,
considerando-se Vp como o volume da partícula, tem-se

(6.11)

ou

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(6.12)

que é o diâmetro da esfera de igual volume ao da partícula. Da Figura


6.6 verfica-se que o menor diâmetro de uma esfera circunscrita é dpI , de
onde é possível escrever

(6.13)

Como decorrência dessa definição, há outra que estabelece esfericidade


como a relação entre o diâmetro do circulo com área igual à projeção da
partícula e o diâmetro do menor circulo circunscrito à partícula, sendo que na
prática o intervalo para a esfericidade é de 0,45 (partícula alongada) a 0,97
(muito esférica). Assim, considerando-se Ap como a área projetada da
partícula, tem-se

(6.14)

ou

(6.15)

que é o diâmetro da esfera de área igual a área da partícula. Por inspeção da


Figura 6.6, observa-se que o menor diâmetro da esfera circunscrita é dpI..
Desse modo,

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(6.16)

Todavia, uma das definições mais empregadas, junto com a Eq.(6.13), é


aquela que estabelece o quociente entre a área superficial da esfera com o
mesmo volume que a partícula Sp, sendo que, numericamente, tal medida
indica o quanto se aproxima o formato de uma esfera, em que os valores de x,
y e z nos eixos ortogonais são iguais,

(6.17)

ou

(6.18)

ressaltando que o diâmetro dp presente na Eq. (6.18) refere-se àquele de igual


volume ao da partícula. Neste caso, uma das maneiras para obtê-lo
experimentalmente, quando se procura o diâmetro médio de partículas contida
em uma dada amostra, é por picnometria (Método de Arquimedes) a partir do
volume da partícula Vp, que originou a eq. (6.17),

(6.19)

em que NO é o numero de partículas.

É importante mencionar que os diâmetros obtidos por meio das Eqs.


(6.12) e (6.15) são reconhecidas como diâmetros equivalentes ao formato
esférico, os quais consideram as diferentes formas em que as partículas
podem apresentar-se. Existem outras definições para esfericidade tendo como

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base as dimensões características de uma partícula (a, b, c), ilustradas na


Figura 6.5, sendo elas

(6.20)

(6.21)

Uma aproximação empregada para a obtenção do valor da esfericidade,


principalmente quando se utiliza a técnica da análise de imagens
bidimensionais, é a de relacionar o grau de alongamento, definido pela eq.
(6.10), com o grau de esfericidade na forma (PEÇANHA E MASSARANI, 1986)

(6.22)

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Exemplo 6.1

6.3 Tamanho de partículas

Verifica-se, por inspeção do Exemplo 6.1, que a técnica para a


determinação do diâmetro de partícula é bastante simples: basta um
paquímetro. O mesmo não acontece quando se deseja obter um diâmetro de
partícula representativo da amostra ilustrada na Figura 6.1ª, por exemplo.
Nesse caso, existem diversas maneiras para representar o tamanho das
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partículas ou mesmo de aglomerados. Essa representação, por sua vez, pode


ser expressa em função da massa, volume ou numero de partículas na
dependência da técnica utilizada. O Quadro 6.2 apresenta outras técnicas
empregadas para análise de tamanho de partículas, para diversas faixas de
tamanho.

6.3.1 Peneiramento

No caso de peneiramento, a base de representação de distribuição de


tamanho de partícula é a massa da partícula, mais especificamente pela fração
mássica, na qual a distribuição de tamanho de partículas é associada à fração
mássica dentro de cada intervalo de tamanho. Na técnica de peneiramento faz-
se passar uma quantidade de material através de uma serie de peneiras,
conforme ilustrado na Figura 6.8, pesando-se o material retido em cada
peneira, uma certa quantidade da amostra poder enquanto em boa parte a
atravessa e se deposita na segunda peneira, a qual, por sua vez, poderá reter
uma boa quantidade do material remanescente oriunda da primeira peneira,
enquanto uma outra parte atravessará para, a seguir, alimentar a terceira
peneira e assim por diante. Trata-se, portanto, de um processo do tipo
“passa/não passa”, e as barreiras são constituídas pelos fios de malha.

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Se todas as partículas que constituem a amostra apresentassem a forma


de esferas perfeitas, a classificação por meio da análise granulométrica por
peneiramento seria simples, pois as aberturas das malhas das peneiras
corresponderiam ao diâmetro mínimo dos grãos retidos e ao diâmetro máximo
dos grãos que passam por ela (ARAÚJO, 2001). Além disso, essa técnica é
indicada para partícula com diâmetro médio superior a 75 micra.

Em uma análise granulométrica, o usuário refere-se a ela, usualmente,


em termos de diâmetro máximo e o mínimo (abertura da maior e da menor
peneira em análise), dimensão máxima característica (abertura de malha cuja
porcentagem retida acumulada é igual ou imediatamente inferior a 5% em
massa). As dimensões de tais aberturas são dadas em milímetro ou em mesh,
o qual se refere ao número de aberturas por polegada linear. A relação entre
mesh e milímetro pode ser encontrada na Tabela 6.3.

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De acordo com International Standard Organization, tem-se a


padronização de tipos de sólidos segundo o sistema Tyler. È importante
mencionar que, a partir do sistema Tyler, é possível a classificação conforme a
abertura da peneira, Quadro 6.3.

6.3.2 Difração de luz

Dentre as técnicas destinadas à obtenção de diâmetros médios de


partícula inferiores a 75micra, destaca-se aquela que se baseia na difração a
laser. Utiliza-se, nesta técnica, o volume como referencia de representação da
distribuição de tamanho de partículas.

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Nos instrumentos que se utilizam do princípio da difração da luz


(Mastersizer, por exemplo), um feixe de laser é enviado em direção à amostra
a ser analisada. Quando o feixe colimado encontra as partículas, parte do laser
é difratado e, em sequencia, focado, por meio de lentes, no detector (Figura
6.9). o diâmetro das partículas é inversamente proporcional ao ângulo do
desvio sofrido pelo raio laser; quanto menor o tamanho da partícula, maior será
o ângulo de difração.

6.3.3 Análise de imagens

A técnica da análise de imagens refere-se à análise computacional de


imagens digitalizadas (ARAÚJO, 2001), de modo a ser o número de (imagens)
de partículas a base de representação da distribuição de tamanho de
partículas. Nesta técnica existe a aquisição da imagem, que diz respeito ao
processo no qual a imagem real da amostra é transformada em uma matriz
numérica que é processada pelo computador. Cada ponto de imagem ou
elemento de imagem é chamado de pixel, podendo ser definido como menor
unidade de resolução, sendo usualmente quadrado e possuindo um valor
numérico que representa o brilho e as cores da imagem. Obtida a imagem
digitalizada é possível obter medições relativas ao diâmetro, normalmente
conhecidos como diâmetros de Feret, que são as distancias entre duas
tangentes em lados opostos da feição em direções fixas (Figura 6.10b). ao se
comparar a Figura 6.6, e identificar Fmax a dpi, e Fmin a dpii, torna-se possível
obter o diâmetro equivalente conforme apresentado na Seção 6.2.4.

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Laitinen et al. (2002) compararam os diâmetros de partículas obtidas por


análises de imagens com aquelas advindas de peneiramento e difração a laser.
Esses autores concluíram que as imagens digitais obtidas da superfície de pós
contêm todas as informações necessárias para a análise da distribuição de
tamanho de partículas. Entretanto, a análise de imagens apresenta um
problema-chave que é a determinação do número mínimo de partículas a
serem analisadas, cujo valor varia entre 100 e 2000.

6.4 Análise granulométrica

Independentemente da técnica de medida do tamanho de partícula, a


distribuição estatística de tamanho ou granulometria é expressa, usualmente,
em função da frequência relativa das partículas que detêm certo diâmetro
(Figura 6.11ª). Essa função pode ser expressa em função da massa (no caso
do peneiramento), volume (difração a laser) e número de partículas (análise de
imagens). Além da distribuição de frequência, a distribuição de tamanho de
partículas também pode ser representada pela fração cumulativa de partículas
que possuem diâmetro menor e maior que um valor médio de partícula em um
intervalo de 0 a 100% da grandeza acumulada (Figura 6.11b). As figuras 6.11
apresentam uma situação típica de análise granulométrica. Enquanto na
abscissa encontra-se o diâmetro de partícula, observa-se, na ordenada, que a
distribuição de frequência é representada pela letra x (xis minúsculo), e a
distribuição cumulativa é representada pela letra X (xis maiúsculo).

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Exemplo 6.2

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6.5 Diâmetro médio de partícula

A definição de diâmetro médio de partícula decorre do conhecimento da


distribuição da frequência de tamanhos de uma determinada amostra (ou seja,
Figura 6.11ª). Dessa maneira, têm-se as seguintes definições:

a) Diâmetro da partícula cujo volume é igual ao volume médio de todas as


partículas presentes em uma amostra:

(6.23)

b) diâmetro da partícula em que a área superficial é igual a media das áreas


superficiais de todas as partículas presentes em uma amostra:

(6.24)

c) diâmetro da partícula cuja relação volume/superfície, , é a mesma

para todas as partículas presentes em uma certa amostra. Desse modo, a


partir as Eqs. (6.23) e (6.24):

(6.25)

Que é o diâmetro médio de Sauter, sendo este o diâmetro médio de


partícula mais utilizado em sistemas particulados, transferência de calor e
de massa, cinética e catálise. Este diâmetro normalmente é utilizado em
estudos relacionados a fenômenos interfaciais (RAMALHO e OLIVEIRA,
1999; CÂMARA et al., 2008).

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Exemplo 6.3

Considere o enunciado apresentado no exercício 6.2 e obtenha:

a) O valor do diâmetro médio de Sauter;


b) O valor do diâmetro médio de partícula cujo volume é igual ao volume
médio das partículas presentes na amostra;
c) O valor do diâmetro médio de partícula em que a área superficial é igual
à media das partículas presentes na amostra.

6.6 Modelos para a distribuição granulométrica

Qualquer que seja a distribuição granulométrica, torna-se possível


descreve-la por modelos matemáticos na forma X = X (D). Existem,
classicamente, três modelos: o de Gates, Gaudin e Schumann (GGS), o de
Rosin, Rammler e Bennet (RRB), e o modelo que estabelece a função X=X(D)
no formato log-normal. O quadro 6.4 sintetiza a apresentação de tais modelos
(MASSARANI, 1984). A partir desses modelos e de seus parâmetros
associados é possível estabelecer equações para o calculo do diâmetro médio
de Sauter, conforme apresentado na ultima coluna do quadro 6.4.

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Exemplo 6.4

Considere o enunciado apresentado no Exercício 6.2 e verifique qual modelo


mais bem descreve a distribuição granulométrica entre os modelos GGS e
RRB. A partir da identificação do modelo, escreva a sua equação
característica.

Elutriação

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