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UNIVERSIDADE FEDERAL

DO TOCANTINS
Campus de Gurupi

Apostila Teórica da Disciplina:

FENÔMENOS DE TRANSPORTE
(QUANTIDADE DE MOVIMENO, CALOR E MASSA)

Curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia

Prof.ª Dra. Leandra Cristina Crema Cruz

Gurupi – TO
2024/1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
Campus Universitário de Gurupi

Disciplina: Fenômenos de Transporte

Ementa: Fenômenos de Transporte de Quantidade de Movimento, Calor e Massa e suas aplicações


em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia.

Procedimentos de Avaliação:

 Trabalho Escrito (T) e Seminário (S)


 Atividades Avaliativas em sala de aula semanalmente (∑Atotal = Atotal)
 Relatório(s) de Visita(s) técnica(s) (∑R = Rtotal)
 Listas de exercícios: Atividades extraclasse

A média semestral (MS) será obtida através da Equação (1):


MS = ((T+S+Atotal +Rtotal)/4) (Equação 1)

Datas importantes (verificar na ementa).

Temas para os Trabalhos Escritos e Apresentações:

Grupo 1: Modelos de transporte de massa.


Grupo 2: Transferência de gases em fermentadores.
Grupo 3: Medida do oxigênio dissolvido e consumo de oxigenação em cultivos celulares.
Grupo 4: Solubilidade dos gases em meios biológicos.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1. INTRODUÇÃO AOS FENÔMENOS DE TRANSPORTE
1.1. Transporte de Quantidade de Movimento
1.2. Transporte de Calor
1.3. Transporte de massa
2. INTRODUÇÃO GERAL
2.1. Definições Básicas
2.2. Métodos de Análises
2.3. “Leis” Fenomenológicas
2.4. “Leis” Complementares
3. UNIDADES E DIMENSÕES
4. PROPRIEDADES DOS FLUIDOS
4.1.Densidade
4.2.Viscosidade
4.3. Tensão superficial
4.4.Algumas propriedades da água e do ar em função da temperatura
5. CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS DOS FLUIDOS
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5.1. Introdução
5.2. Definição de Fluido
5.3. Análise do Movimento de um Fluido
5.4. Campo de Escoamento
5.5. Campo Vetorial de Velocidade
5.6. Escoamento em Regime Permanente/Estacionário e Transiente/Não Estacionário
5.7. Escoamento Interno e Externo
5.8. Escoamento Uniforme e Não Uniforme
5.9. Escoamento Uni, Bi e Tridimensionais e seus Balanços de Massa e Forças Atuantes
5.10. Linhas de Emissão
5.11. Trajetória e linhas de Correntes
5.12. Escoamentos Compressíveis e Incompressíveis
5.13. Escoamentos Viscosos e não Viscosos
5.14. Escoamento Laminar e Turbulento
5.15. Resumo da Descrição e Classificação dos Movimentos dos Fluidos
6. DEFORMAÇÃO E GRADIENTE DE VELOCIDADE
7. CLASSIFICAÇÃO REOLÓGICA DE FLUIDOS
7.1. Fluidos Newtonianos
7.2. Fluidos Não Newtonianos
7.2.1. Fluidos Viscoelásticos
7.2.2. Fluidos com Viscosidade Dependente do Tempo
- Fluidos Tixotrópicos
- Fluidos Reopéticos
7.2.3. Fluidos com Viscosidade Independente do Tempo
- Fluidos Pseudoplásticos
- Fluidos Dilatantes
- Fluidos Plástico de Bingham
7.3. Modelos para Fluidos não Newtonianos
7.3.1. Modelo Exponencial
7.3.2. Modelo da Lei da Potência (Modelo de Ostwald-de-Waele)
7.3.3. Modelo de Bingham
8.4. Aplicações
8. PRINCÍPIOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR
8.1. Introdução
8.2. Relação entre Transferência de Calor e Termodinâmica
8.3. Propriedades térmicas do transporte
8.3.1. Condutividade Térmica (k)
8.3.2. Calor Específico (Cp)
8.3.3. Difusividade Térmica (α)
8.4. Mecanismos de Transferência de Calor
8.4.1. Transferência de Calor por Condução
8.4.1.1. Lei de Fourier da Condução de Calor
8.4.1.2. Condução de Calor em Paredes/Sólidos Planos
8.4.1.3. Condução de Calor através de Paredes/Sólidos Cilíndricos
8.4.2. Transferência de Calor por Convecção
8.4.2.1. T. C. por Convecção natural e forçada

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CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO AOS FENÔMENOS DE TRANSPORTE

De modo geral, pode-se definir operação unitária como uma operação básica em um
(bio)processo. Inversamente, um (bio)processo pode ser entendido como um conjunto de
operações unitárias que, partindo de uma determinada matéria prima, resulta em um
(bio)produto específico. Dentro de qualquer equipamento que executa uma operação unitária
ocorrem vários fenômenos de transporte (ou fenômenos de transferência) de uma ou mais
propriedades (quantidade de movimento, calor, massa), na(s) qual(is) depende(m) de uma força
motriz para ocorrer (respectivamente, diferença de velocidade, diferença de temperatura e
diferença de concentração). Desta forma, os fenômenos de transporte só ocorrem quando há um
desequilíbrio no sistema, ou seja, os fenômenos atuam no sentido de alcançar o equilíbrio.
Na Figura 1.1 é apresentado um fluxograma da interdisciplinaridade da disciplina de
Fenômenos de Transporte.

Figura 1.1‒ Fluxograma da interdisciplinaridade de Fenômenos de Transporte.

Física Tecnologia dos


Experimental Processos
Fermentativos I e II
Geometria
Analítica
Biorreatores:
Cálculo Projetos e
Fenômenos de Operações Modelagem
Equações Transporte Unitárias
Diferenciais Projetos na Indústria
de Biotecnologia
Mecânica
Tecnologia da
Físico-química Produção de
Bioagrocombustíveis
Termodinâmica

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1.1. Transporte de quantidade de movimento (QM)

Sempre que um corpo ganha quantidade de movimento, outro corpo perde igual quantidade
de movimento. Essa é a “Lei da Conservação da Quantidade de Movimento (QM)”. A QM
nunca é criada ou destruída e é válida qualquer que seja o número de objetos, e independe de suas
dimensões. Ela se aplica tanto às partículas fundamentais (que são muito menores que o átomo)
quanto às colisões de veículos. Ela é válida quer os corpos permaneçam unidos após o choque,
quer saltem depois de se tocarem. Portanto, a força motriz para que ocorra o transporte de QM
é a diferença de velocidades. Em mecânica dos fluidos o estudo de QM é direcionado ao
comportamento dos fluidos (líquidos e gases).

Exemplo: Cálculo de força que um fluido exerce dentro de uma determinada tubulação ou
equipamento industrial. Permite o engenheiro projetar e adotar o material mais adequado para
construção de equipamentos (agitadores, bombas, centrífugas etc.) e tubulações.

Exemplos de operações unitárias de transporte de QM: bombeamento, agitação, separações


mecânicas (filtração convencional (direta), centrifugação, decantação e sedimentação).

1.2. Transporte de calor

A definição de transporte de calor (ou transferência de calor) é a energia transferida de uma


região à outra, tendo como força motriz a diferença de temperatura entre elas. Estas regiões
podem estar dentro de um meio (sólido, líquido ou gasoso) ou entre meios diferentes em contato
físico direto. Existem três mecanismos de Transporte de Calor:

(a) Transporte de Calor Condutivo (ou Transporte de Calor por Condução): atividade
atômica ou molecular entre dois corpos em contato (Figura 1.2).

Figura 1.2‒ Condução de calor em uma parede/sólido plano.

T1 > T2

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(b) Transporte de Calor Convectivo (ou Transporte de Calor por Convecção): A convecção
consiste no transporte de energia térmica entre uma superfície de um sólido e um fluido. Na
Convecção Natural (Figura 1.3a), a movimentação das diferentes partes do fluido ocorre pela
diferença de densidade que surge em virtude do seu aquecimento ou resfriamento. Na
Convecção Forçada (Figura 1.3b), a movimentação do fluido gerada por uma bomba,
compressor, ventoinha ou agitador aumenta a transferência de calor entre a superfície sólida
e o fluido.

Figura 1.3‒ Transporte convectivo de calor. (a) Convecção Natural e (b) Convecção Forçada.

(a) (b)

(c) Transporte de Calor por Radiação: A radiação térmica é emitida por todo e qualquer corpo,
mas só haverá troca de calor radiante se as quantidades de calor emitido por dois corpos
distintos forem diferentes (Figura 1.4).

Figura 1.4‒ Radiação térmica entre dois corpos com temperaturas distintas.

T1

q1

T2
q2

Nota: Se T1 > T2, q1 > q2 e o corpo 2 receberá mais calor que perderá.

Exemplos de operações unitárias de transferência de calor: trocadores de calor (cascos e


tubos), evaporadores, condensadores, pasteurização, esterilização.

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1.3. Transporte de massa

O transporte de massa (ou transferência de massa) é a migração de uma ou mais espécies


químicas em um dado meio de alta concentração para outra de baixa concentração, podendo ser
sólido, líquido ou gasoso. Na Difusão (Transporte Molecular de Massa ou Transporte Difusivo
de Massa), há transporte de matéria devido às interações moleculares aleatórias que conduz à
completa mistura (Figura 1.5) e, na Convecção (Transporte Convectivo de Massa), há o auxílio
ao transporte de matéria em consequência do movimento do meio (Figura 1.6).

Figura 1.5‒ Difusão mássica entre duas espécies gasosas diferentes; (a) inicialmente separadas
por uma divisória; (b) após a remoção da divisória.

(a) (b)

Figura 1.6‒ Evaporação no seio de um fluido em movimento.

CA∞

CAsup > CA∞

CASup

Exemplos de operações unitárias de transferência de massa: contato gás-líquido (absorção,


destilação), contato gás-sólido (secagem), contato líquido-líquido (extração por solvente), contato
sólido-líquido (extração por solvente), filtração tangencial (membranas) (microfiltração,
ultrafiltração, nanofiltração, osmose reversa).

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CAPÍTULO 2
2. INTRODUÇÃO GERAL

2.1. Definições básicas

 Processos Industriais: é a sequência de transformações físicas e/ou químicas e/ou


bioquímicas que uma determinada matéria prima sofre na sua conversão a produto.

 Operações Unitárias: é a menor subdivisão de um processo industrial em termos de


modificação física. Na Tabela 2.1, estão apresentadas as principais operações unitárias
envolvidas no processo de fermentação.

Tabela 2.1‒ Operações Unitárias envolvidas em alguns (bio)processos industriais.

Processo Operações Unitárias

Alimentos em geral Filtração convencional (direta) e tangencial (membranas),


separação, mistura, destilação, esterilização, secagem.
Etanol Filtração convencional (direta) e tangencial (membranas),
destilação.
Aminoácidos L-lisina Separação de células, purificação cromatográfica, extração,
cristalização.
Ácido cítrico Separação, precipitação, purificação de carbono ativo.

Ácido Láctico Filtração tangencial (membranas), decantação, evaporação à


vácuo, centrifugação.
Vitamina B12 Tratamento com carvão ativado, extração, resinas de troca
iônica.
Biopolímeros Pasteurização, precipitação, decantação, secagem, moagem.

Tetraciclina Filtração tangencial (membranas), precipitação, adsorção,


cristalização, centrifugação, secagem à vácuo.
Bacitracina Filtração tangencial (membranas), extração, secagem à vácuo.
Esteroides Extração, cristalização.
Bioproteínas Filtração tangencial (membranas), centrifugação, secagem.

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 Reatores químicos e bioquímicos: não devem ser considerados como operações unitárias,
pois existem disciplinas específicas para cuidar desta matéria.

 Modelo: idealização física e matemática de um dado problema. Busca representar com


exatidão os mecanismos de transferência observados. Quanto mais completo o modelo físico,
mais complexa a solução matemática. O fluxograma apresentado na Figura 2.1 exemplifica
uma idealização física e matemática para a previsão do tempo.

Figura 2.1‒ Fluxograma simplificado para a previsão de tempo.

Radiação
dados reais.

Previsão do
Vento
Entradas:

Região

Saídas:

tempo.
MODELO Temperatura
Umidade
Temperatura Chuva

 Equações de Balanço: os fenômenos podem ser equacionados de uma forma geral através da
mecânica clássica. As equações gerais que descrevem os fenômenos são as Equações de
Balanço e quando estas equações forem aplicadas para situações específicas, são necessárias
informações acerca daquela situação, denominadas “Equações Constitutivas”. Equações
Constitutivas são relações entre variáveis de um sistema físico, por exemplo, pressão, volume,
tensão, deformação, temperatura, densidade, etc. São equações específicas para cada variável,
e algumas dessas equações estão exemplificadas à seguir.

(i) Balanço de Quantidade de Movimento (Geral)  Lei de Newton da Viscosidade.


(ii) Equação da Condução de Calor (Geral)  Lei de Fourier da Condução de Calor.
(iii) Balanço de Massa de Multicomponente (Geral)  Lei de Flick da Difusão Molecular.

Para que serve equações de balanço?

 checar dados de processo, aferir rendimentos e taxas de conversões;


 verificar vazamentos e perdas de materiais ou energia;
 projetar equipamentos (capacidade);
 projetar e especificar uma unidade de processamento.

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 Campo: região do espaço em que está sendo feita uma determinada análise. Dividem-se entre
campos escalares (temperatura, pressão); vetoriais (força, velocidade, calor, massa, fluxo) e;
tensoriais (tensor de tensões) (Figura 2.2).

Figura 2.2‒ Exemplos de campos escalares, vetoriais e tensoriais.

Campo Escalar Campo Vetorial Tensor de tensões

T1 T2
T3 Explosão
Expolsão

T4
T5 T6 Deslocamento
do ar

1 Ponto / 1 Valor Tamanho, direção e sentido Tensão (força tangencial)


(+ ou -) aplicada em uma face na
direção do escoamento.
τyx = atua na direção positiva
de x, numa área unitária
perpendicular à direção de y.

 Propriedade extensiva: são aquelas que dependem da massa (“extensão”) contida no sistema
e tem o mesmo valor em qualquer ponto do sistema.
Exemplo: pressão e energia interna.

 Propriedade intensiva: são aquelas que não dependem da massa e podem assumir vários
valores dentro do sistema.
Exemplo: temperatura, densidade, concentração.

 Regime Permanente/Estacionário e Regime Transiente/Não Estacionário: quando uma


grandeza varia com o tempo de análise, diz-se que o regime é transiente (ou não estacionário)
e quando não varia diz-se que é regime permanente (ou estacionário).

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2.2. Métodos de análises

 Sistema: é quando a análise é feita sobre a massa fixa e identificável que está sofrendo
transformação, separado do ambiente pelas fronteiras. A fronteira de um sistema é uma
superfície fechada que pode variar com o tempo; podem ser fixas ou móveis, contudo, a
quantidade de massa sempre deverá ser a mesma, independente da transformação.

Exemplo: Conjunto cilindro-pistão da termodinâmica (Figura 2.3), onde o gás no cilindro é


o sistema. Se o gás for aquecido, o pistão levantará o peso, então a fronteira do sistema
moverá. Calor e trabalho (termodinâmica) poderão cruzar as fronteiras do sistema, mas a
quantidade de matéria dentro delas permanecerá constante. Portanto, nenhuma massa cruza as
fronteiras do sistema.

Figura 2.3‒ Conjunto cilindro-pistão.

 Superfície de Controle (SC): fronteira (real ou imaginária), fixa (em repouso) ou móvel (em
movimento), que limita o volume de controle (Figura 2.4).

Exemplo: Escoamento de fluido numa junção de tubos com uma superfície de controle (SC)
delimitada pela linha tracejada (Figura 2.4). Note que algumas regiões dessa superfície
correspondem a limites físicos (as paredes dos tubos) e em outras regiões (Pontos 1, 2 e 3 da
Figura 2.4b) imaginárias (entradas e saídas).

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Figura 2.4‒ Escoamento de fluido em um (a) tubo e (b) através de uma junção de tubos.

Entrada

Saída

Entrada Saída

Saída

(a) (b)

 Volume de Controle (VC) ou sistema aberto: em vez


da massa, um volume arbitrário de fluido escoando em
uma determinada região do espaço é focalizado na análise.
 Advecção: entendida
O VC é delimitado por uma superfície de controle (SC) como um movimento
horizontal do fluido,
através da qual massa pode passar (Figura 2.4). A massa resultando em transporte de
entrando ou saindo do VC, carrega energia com ela um lugar para outro devido a
diferença de densidades.
(processo chamado de advecção de energia), na qual
 Convecção: entendida
adiciona uma terceira forma na qual a energia pode cruzar
como um movimento vertical
a fronteira de um VC. Assim, a 1ª “Lei” da do fluido (mistura) devido a
diferença de densidades.
Termodinâmica poderá ser enunciada conforme
apresentado na Figura 2.5, tanto para um VC como para
um sistema fechado (uma região de massa fixa).

Figura 2.5‒ Conservação de energia em um volume de controle (VC) em um instante qualquer.

   
E entra E gerada , E acumulada E sai

• • •
onde: 𝐸 é a energia que entra no sistema ; 𝐸 é a energia gerada no sistema; 𝐸

é a energia acumulada (armazenada) no sistema; 𝐸 é a energia que sai do sistema.

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 Balanço ou Equações de Variações: toda grandeza fundamental deve ser conservada. “Na
natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma (Antoine Laurent Lavoisier, França
1773-1794). Estes balanços representam a soma de todas as contribuições (positivas e
negativas) que compõem o transporte de uma destas grandezas fundamentais.

[ENTRA] + [GERADA] = [SAI] + [ACUMULADA] Eq. (2.1)

E quando há reações químicas dentro do sistema, adiciona-se o termo “Consumido” na


Equação (2.1):

[ENTRA] + [GERADA] = [SAI] + [ACUMULADA] + [CONSUMIDA] Eq. (2.2)

 Método integral ou global: quando a análise é feita sobre efeitos macroscópicos de uma dada
grandeza. Só é observado o que entra e o que sai de uma propriedade, sem a preocupação do
que ocorre no interior do VC. É mais simples de ser aplicado do que o método diferencial,
mas é incompleto para determinadas situações de análise de um processo.

 Método diferencial: a análise é feita sobre a menor região do sistema ou do VC que ainda
seja representativa do todo. São regiões infinitesimais que focalizam particularidade de uma
dada grandeza. Ao final da abordagem, as equações diferenciais são integradas para
representar todo o VC. Assim, é mais detalhado e, consequentemente, mais difícil de ser
resolvido.

2.3. “Leis” Fenomenológicas

As “Leis” Fenomenológicas não são propriamente leis, mas comportamentos típicos de um


determinado fenômeno que ocorre num meio específico. O estabelecimento destas “Leis” é
consequência de observações experimentais e dependem do meio em que ocorrem, enquanto que
as leis de conservação valem sempre, independentes do meio.

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Toda e qualquer variação depende de uma força motriz para ocorrer. Assim, o fluxo (ψ) de
uma dada propriedade é diretamente proporcional à força motriz (φ) deste fluxo e inversamente
proporcional à distância (s) de aplicação (direção da variação) desta força motriz, ou seja:

ç ( )
𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜 𝑑𝑎 𝑃𝑟𝑜𝑝𝑟𝑖𝑒𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝜓) 𝛼 çã çã ( )
Eq. (2.3)

Para que esta proporcionalidade (Equação 2.3) torne-se uma igualdade, é necessário
introduzir uma informação do meio no qual ocorre o fluxo (ψ) de uma dada propriedade, ou seja,
necessita-se fornecer uma propriedade intrínseca (λ) do meio:

𝜓= −𝜆 Eq. (2.4)

𝜓⃗ = − 𝜆 ∇𝜑⃗ Eq. (2.5)

O sinal negativo das Equações (2.4) e (2.5) indicam que o fluxo (ψ) ocorre da maior para a
menor concentração da força motriz (φ) e é usado para respeitar a 2ª “Lei” da Termodinâmica.

Exemplos de “Leis” Fenomenológicas exemplificando as Equações (2.4) e (2.5):

 “Lei” de Newton da Viscosidade:

𝜏 = −𝜇 Eq. (2.6)

𝜏⃗ = −𝜇 ∇𝑉 Eq. (2.7)

onde: 𝜓 = 𝜏 (tensão de cisalhamento);


𝜑 = 𝑉 (velocidade);
𝜆 = 𝜇 (viscosidade);
∇𝑉 = operador laplaciano, é uma operação matemática de diferenciação em relação às
coordenadas espaciais na qual fornece a direção e o sentido da transformação:

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→ → →
∇𝑉 = 𝑖+ 𝑗+ 𝑘
.

 “Lei” de Fourier da Condução de Calor:

𝑞̇ = −𝑘 Eq. (2.8)

𝑞̇⃗ = −𝑘 ∇𝑇 Eq. (2.9)

onde: 𝜓 = 𝑞̇ (fluxo de calor condutivo);


𝜑 = 𝑇 (temperatura);
𝜆 = 𝑘 (condutividade térmica);
→ → →
∇𝑇 = operador laplaciano: ∇𝑇 = 𝑖+ 𝑗+ 𝑘
.

 “Lei” de Flick da Difusão Molecular de Massa em Sistemas Multicomponentes:

𝐽∗ = −𝐷 Eq. (2.10)

𝐽∗⃗ = −𝐷 ∇𝐶 Eq. (2.11)

onde: 𝜓 = 𝐽∗ (fluxo molar da espécie A);


𝜑 = 𝐶 (concentração molar de A);
𝜆= 𝐷 (difusividade molar de A numa mistura de A com B).
→ → →
∇𝐶 = operador laplaciano: ∇𝐶 = 𝑖+ 𝑗+ 𝑘
.

2.4. “Leis” complementares

Além das “Leis” Fenomenológicas, existem outras “Leis” que devemos sempre respeitar,
quais sejam:

(i) 2ª “Lei” da Termodinâmica: “os mais ricos dão aos mais pobres”.

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(ii) Homogeneidade dimensional (“Lei” da salada de fruta), ou seja, o sistema de


unidades usados numa equação deve ser sempre o mesmo para todas as variáveis e
constantes.

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CAPÍTULO 3
3. UNIDADES E DIMENSÕES

 Dimensão: conjunto de medidas básicas que compõem uma dada grandeza. Exemplo:
diâmetro tem dimensão de comprimento.

 Unidade: identificação numérica de uma dimensão. Exemplo: Diâmetro pode ser dado em
metros, centímetros, polegadas e pés. Área pode ser dada em m2, cm2, in2 e ft2.

 Dimensão Fundamental: A dimensão de uma grandeza não pode ser redefinida em termos
de outras dimensões.

Exemplos:
(a) Massa [=] M;
(b) Comprimento [=] L;
(c) Tempo [=] T;
(d) Temperatura [=] θ.

 Dimensões Secundárias ou Derivadas: A dimensão de uma grandeza é composta por


outras dimensões fundamentais.

Exemplo:

𝐹 = (𝑚)(𝑔) = (𝑚) ∆
(M) = (M)(L)(T ) Eq. (3.1)

onde:
 Fpeso é a força ou força peso [N] = [ (kg) (m) (s-2)];
 m é a massa [kg];
 g é a aceleração da gravidade [(m) (s-2)];
 ΔV é a variação da velocidade [(m) (s-1)];
 Δt é a variação do tempo [s-1].

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 Sistemas Dimensionais: Costuma-se agrupar as dimensões fundamentais em sistemas


dimensionais.

MLTθ: massa, comprimento, tempo e temperatura.


Os mais frequentes são:
FLTθ: Força, comprimento, tempo e temperatura.

No sistema MLTθ é dada por MLT-2.


Exemplo: Força
No sistema FLTθ é dada por F.

 Sistemas de Unidades: Dividem-se entre métricos e ingleses (Tabela 3.1).

(a) Métricos: CGS (comprimento, massa e tempo) e MKS (metro, quilograma, segundo). O
Sistema Internacional de Unidades (SI) é praticamente o MKS.

(b) Inglês: estabelecidos pelos reis ingleses.

Tabela 3.1‒ Sistemas de unidades métricos e Ingleses.

Unidade de Medida Sistema Métrico (MKS) Sistema Inglês

Massa kg (quilograma) lb ou lbm (libra massa)


Comprimento m (metro) ft (pé)
Tempo s (segundo) s (segundo)
Força N (Newton) lbf (libra força)

Nas Tabelas 3.2 e 3.3 são apresentadas algumas unidades de bases e derivadas do Sistema
Internacional de Medidas (SI).

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Tabela 3.2‒ Unidades de base e derivadas do Sistema Internacional (SI).

Grandeza Unidade de Base Símbolo


Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Intensidade de corrente elétrica ampère A
Temperatura kelvin K
Quantidade de matéria mole mol
Grandeza Unidades Derivadas Símbolo
Área/Superfície metro quadrado m2
Volume metro cúbico m3
Velocidade metro por segundo m/s = (m) (s-1)
quilograma por metro por
Força Peso kg m/s2 = (kg) (m) (s-2) = (N)
segundo ao quadrado
Aceleração metro por segundo quadrado m/s2 = (m) (s-2)
Massa específica quilograma por metro cúbico Kg/m3 = (kg) (m-3)
Volume mássico metro cúbico por quilograma m3/kg = (m3) (kg-1)
Densidade de corrente ampère por metro quadrado A/m2 = (A) (m-2)
Concentração
mole por metro cúbico mol/m3 = (mol) (m-3)
(quantidade de matéria)

Tabela 3.3‒ Unidades derivada de nome especial.

Outras Unidades SI
Grandeza Nome Símbolo
Unidades SI de base
Força Newton N - (kg) (m) (s-2)
Frequência Hertz Hz - (s-)
Pressão, Tensão Pascal Pa (N) (m-2) (kg) (m-1) (s-2)
Energia, Trabalho,
Joule J (N) (m) (kg) (m2) (s-2)
Quantidade de Calor
Potência, Fluxo
Watt W (J) (s-1) (kg) (m2) (s-3)
Energético

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Exercício 3.1 (Para o lar): Converter as seguintes unidades:

Volume:

a) 0,5 m3 = ____________ cm3 = ____________ l = ____________ ft3

b) 700 mm3 = ____________ l = ____________ m3 = ____________ ft3

c) 0,3 l = ____________ ft3 = ____________ m3 = ____________ cm3

d) 10 ft3 = ____________cm3 = ____________ m3 = ____________ l

Comprimento:

a) 69 m = ____________ cm = ____________ mm = ____________ ft

b) 35 mm = ____________ ft = ____________ m = ____________ cm

c) 9 polegadas = ____________ mm = ____________ cm = ____________ m

d) 0,1 cm = ____________m = ____________ cm = ____________ ft

Pressão:

a) 1000 Pa = ____________ atm = ____________ psi = ____________ (N) (m-2)

b) 10-5 Bar = ____________ (kgf) (cm-2) = ____________ atm = ____________Pa

c) 105 psi = ____________ atm = ____________ Pa = ____________ (kgf) (cm-2)

d) 1 (kgf) (cm-2) = ____________ mm Hg = ____________ atm = ____________ Pa

Força:

a) 0,5 N = ____________ (g) (cm) (s-2) = ____________ (kg) (m) (s-2)

b) 1000 (kg) (m) (s-2) = ____________ (g) (cm) (s-2) = ____________ N

c) 8 (g) (cm) (s-2) = ____________ N = ____________ (kg) (m) (s-2)

d) 2 N = ____________ (kg) (m) (s-2) = ____________ (g) (cm) (s-2)

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Energia/Trabalho:

a) 1 J = ____________ (kg) (m2) (s-2) = ____________ (g) (cm2) (s-2)

b) 1000 (g) (cm2) (s-2) = ____________ J = ____________ (kg) (m2) (s-2)

c) 0,001 (kg) (m2) (s-2) = ____________ J = ____________ (g) (cm2) (s-2)

d) 66 (g) (cm2) (s-2) = ____________ (kg) (m2) (s-2) = ____________ J

Difusividade Térmica:

a) 100 (m2) (s-1) = ____________ (cm2) (s-1) = ____________ (ft2) (h-1)

b) 0,4 (ft2) (h-1) = ____________ (cm2) (s-1) = ____________ (m2) (s-1)

c) 700 (cm2) (s-1) = ____________ (m2) (s-1) = ____________ (ft2) (h-1)

d) 5 (ft2) (h-1) = ____________ (m2) (s-1) = ____________ (cm2) (s-1)

Coeficiente de Transferência de Calor:

a) 1000 (W) (m-2) (K-1) = ____________ (kg) (s-3) (K-1) = ____________ (g) (s-3) (K-1)

b) 0,1 (W) (cm-2) (K-1) = ____________ (lbf) (ft-1) (s-1) (F-1) = ____________ (W) (m-2) (K-1)

c) 90 (g) (s-3) (K-1) = ____________ (g) (s-3) (K-1) = ____________ (Btu) (ft-2) (h-1) (F-1)

d) 3 (Btu) (ft-2) (h-1) (F-1) = ____________ (kg) (s-3) (K-1) = ____________ (lbf) (ft-1) (s-1) (F-1)

Exercício 3.2 (Para o lar): Calcule:


a) A área e o diâmetro do círculo de raio igual a 0,5 cm. Resultados para a área em m2 e mm2 e
para o diâmetro em m e mm.

b) A área do quadrado de lado igual a 70 mm. Resultado em m2 e cm2.

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c) O diâmetro, a área e o volume da esfera de raio igual a 3 cm. Resultados para o diâmetro em m
e mm, para a área em m2 e mm2 e para o volume em m3 e mm3.

d) A área total e o volume do cubo com 3 m de aresta. Resultados para a área em m2 e mm2 e para
o volume em m3 e mm3.

3m

e) A área do retângulo com base (b) de 200 mm e altura (h) de 100 mm. Resultado em m2 e cm2.

f) A área total do paralelepípido com as seguintes medidas: a= 5 cm, b = 2,5 cm, c = 3 cm.
Resultado em m2 e mm2.

g) A A área total de um cilindro de raio (r) igual a 4 cm e altura (h) igual a 10 cm. Resultado em
m2 e mm2.

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CAPÍTULO 4
4. PROPRIEDADES DOS FLUIDOS

4.1.Densidade

 Densidade (ou densidade absoluta) (ρ): é a grandeza que expressa a massa (m) por unidade
de volume ( V ).
𝜌= Eq. (4.1)

onde:
 ρ é a densidade [(kg) (m-3)];
 m é a massa [kg];
 V é o volume [m3].

Exemplo 4.1: Considere um corpo de massa (m) e volume (V). Pode-se definir a densidade desse
corpo através da Equação (4.1). O volume (V) é o volume total do corpo, podendo ser o volume
do corpo maciço (Figura 4.1a) ou oco (Figura 4.1b).

Figura 4.1‒ Exemplos de (a) corpo maciço e (b) corpo oco.

(a) (b)

 Densidade Específica ou Massa Específica: é representado pelo mesmo cálculo da


densidade absoluta para um corpo maciço (Figura 4.1a) e é específica para cada substância.
A densidade da água num sistema de aquecimento à 4ºC é 1,000 [(g) (cm-3)].

 Densidade Relativa: Relação entre duas densidades, ou seja, a densidade da substância de


interesse A, dividida pela densidade da substância de referência (normalmente a água). Assim,
a densidade relativa da substância A é dada por:

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𝜌 = = Eq. (4.2)
ê

4.2.Viscosidade

 Viscosidade (µ): é uma resistência que o fluido apresenta ao escoamento. Sendo que essa
resistência é definida como o atrito interno que é resultante do movimento de uma camada de
fluido em relação à outra (Figura 4.2). Veremos com mais detalhes nos próximos capítulos.

Figura 4.2‒ Resistência ao escoamento de um fluido.

 Viscosidade dinâmica (ou viscosidade absoluta) (µ): é a força requerida para mover uma
unidade de área a uma unidade de distância. Frequentemente utilizada para fluidos
Newtonianos pois é constante (exceto para efeitos da temperatura) em função da taxa de
cisalhamento (dV/dy). As unidades mais comuns no SI são: [(N) (s) (m-2)] = [(Pa) (s)] = [(kg)
(m-1) (s-1)].

 Viscosidade aparente (µa): a diferença da viscosidade aparente com a viscosidade dinâmica


é que a viscosidade dinâmica é constante (exceto para efeitos da temperatura) em função da
taxa de cisalhamento (dV/dy) e a viscosidade aparente (μa) depende da temperatura e também
da taxa de cisalhamento (dV/dy). A viscosidade aparente diminui com o aumento da
velocidade. Utilizada para fluidos não Newtonianos e veremos em detalhes no Capítulo 7. As
unidades no SI são: [(N) (s) (m-2)] = [(Pa) (s)] = [(kg) (m-1) (s-1)].

 Viscosidade cinemática (ν): é uma medida da resistência da viscosidade de fluidos e é


representada pela relação entre a viscosidade dinâmica (μ) pela densidade (ρ):

𝜈= Eq. (4.3)

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onde:
  é a viscosidade cinemática do fluido [(m2) (s-1)];
 µ é a viscosidade absoluta (ou dinâmica) do fluido [(N) (s) (m-2) = (Pa) (s) = (kg) (m-1) (s-1)];
 ρ é a densidade [(kg) (m-3)].

4.3. Algumas propriedades da água e do ar em função da temperatura

Tabela 4.1− Propriedades da água pura (Unidades SI).

Massa Viscosidade Viscosidade Tensão


Temperatura
Específica Dinâmica Cinemática Superficial*
T (ºC) ρ [(kg) (m-3)] μ [(N) (s) (m-2)] ν [(m2) (s-1)] σ [(N) (m-1)]
0 1000 1,76E-03 1,76E-06 0,0757
5 1000 1,51E-03 1,51E-06 0,9749
10 1000 1,30E-03 1,30E-06 0,0742
15 999 1,14E-03 1,14E-06 0,0735
20 998 1,01E-03 1,01E-06 0,0727
25 997 8,93E-04 8,96E-07 0,072
30 996 8,00E-04 8,03E-07 0,0712
35 994 7,21E-04 7,25E-07 0,0704
40 992 6,53E-04 6,59E-07 0,0696
45 990 5,95E-04 6,02E-07 0,0688
50 988 5,46E-04 5,52E-07 0,0679
55 986 5,02E-04 5,09E-07 0,0671
60 983 4,64E-04 4,72E-07 0,0662
65 980 4,31E-04 4,40E-07 0,0654
70 978 4,01E-04 4,10E-07 0,0645
75 975 3,75E-04 3,85E-07 0,0636
80 972 3,52E-04 3,62E-07 0,0627
85 969 3,31E-04 3,41E-07 0,0618
90 965 3,12E-04 3,23E-07 0,0608
95 962 2,95E-04 3,06E-07 0,599
100 958 2,79E-04 2,92E-07 0,0589
*Esta propriedade dos fluídos será estudada com mais detalhes no Capítulo 5 a seguir.
Fonte: FOX, 2010.

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Tabela 4.2− Propriedades do ar atmosférico (Unidades SI).


Massa Viscosidade Viscosidade
Temperatura
Específica Dinâmica Cinemática
T (ºC) ρ [(kg) (m-3)] μ [(N) (s) (m-2)] ν [(m2) (s-1)]
0 1,29 1,72E-05 1,33E-05
5 1,27 1,74E-05 1,37E-05
10 1,25 1,76E-05 1,41E-05
15 1,23 1,79E-05 1,45E-05
20 1,21 1,81E-05 1,50E-05
25 1,19 1,84E-05 1,54E-05
30 1,17 1,86E-05 1,59E-05
35 1,15 1,88E-05 1,64E-05
40 1,13 1,91E-05 1,69E-05
45 1,11 1,93E-05 1,74E-05
50 1,09 1,95E-05 1,79E-05
55 1,08 1,98E-05 1,83E-05
60 1,06 2,00E-05 1,89E-05
65 1,04 2,02E-05 1,94E-05
70 1,03 2,04E-05 1,98E-05
75 1,01 2,06E-05 2,04E-05
80 1,00 2,09E-05 2,09E-05
85 0,987 2,11E-05 2,14E-05
90 0,973 2,13E-05 2,19E-05
95 0,960 2,15E-05 2,24E-05
100 0,947 2,17E-05 2,29E-05
Fonte: FOX, 2010.

Exercício 4.1 (Para o lar): Determine a viscosidade cinemática do ar atmosférico nas seguintes
temperaturas. Utilizar interpolação linear para as temperaturas ausentes na Tabela 4.2.

a) 20ºC; b) 50ºC; c) 62ºC; d) 84ºC; e) 96ºC.

Exercício 4.2 (Para o lar): Determine a viscosidade cinemática da água nas seguintes
temperaturas. Utilizar interpolação linear para as temperaturas ausentes na Tabela 4.1.

a) 15ºC; b) 26ºC; c) 45ºC; d) 70ºC; e) 100ºC.

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CAPÍTULO 5
5. CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS DOS FLUIDOS

5.1. Introdução

A mecânica de fluidos é a ciência que tem por objetivo o estudo do comportamento físico
dos fluidos em repouso e em movimento e das leis que regem este comportamento. O
conhecimento e entendimento dos princípios e conceitos básicos da mecânica dos fluidos são
essenciais na análise e projeto de qualquer sistema industrial no qual um fluido é o meio atuante.
As aplicações são diversificadas e entre elas estão o estudo do fluxo de fluidos através de uma
tubulação, ações de fluidos sobre superfícies submersas (barragens, pontes), ação do vendo sobre
construções civis, características aerodinâmicas de um avião supersônico, entre outros. Em
bioprocessos e biotecnologia, as operações unitárias mais comuns são a agitação e mistura, o
bombeamento e separações mecânicas (filtração convencional (direta), centrifugação, decantação
e sedimentação).

5.2. Definição de fluido

De acordo com os estados físicos da matéria, são reconhecidas três fases: sólida, líquida e
gasosa (ou vapor). Os fluidos compreendem as fases líquida e gasosa e é composto de moléculas
em movimento constante. Nas aplicações em engenharia, o que interessa são os efeitos globais ou
médios das moléculas, pois são esses efeitos macroscópicos que podemos perceber e medir.
Portanto, o fluido será tratado como uma substância infinitamente divisível, ou seja, como um
meio contínuo e não será estudado o comportamento individual das moléculas. Este conceito de
continuum é a base da mecânica dos fluidos clássica.
Um fluido é uma substância que se deforma continuamente sob a aplicação de uma tensão
de cisalhamento (força tangencial) por menor que seja esta tensão. Assim, o fluido escoa com uma
velocidade que aumenta com o aumento da intensidade da força aplicada. Ao contrário de um
sólido, que sofre deformação proporcional à tensão de cisalhamento, e não continua a se deformar.
Na Figura 5.1, o comportamento de um sólido (Fig. 5.1a) e o de um fluido (Fig. 5.1b) sob
a ação de uma força de cisalhamento constante são contrastados. A força de cisalhamento é
aplicada através de duas placas paralelas infinitas, separadas por uma pequena distância (h), com
escoamento unidimensional, e o espaço entre as placas é ocupado por um sólido (Fig. 5.1a) e um

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fluido (Fig. 5.1b). No caso dos sólidos (Fig. 5.1a) têm a propriedade de resistir à deformação (linha
pontilhada), ou seja, a tensão de cisalhamento (τ) exercida sobre a placa superior pode causar
alguma deformação ou deslocamento (∆α), contudo este não continuará a deformar-se. No caso
dos fluidos (Fig. 5.1b), quando esta força tangencial é exercida constantemente sobre a placa
superior, o fluido escoa, ou seja, continua a se deformar (∆α não é fixo), durante todo o tempo (t)
em que a força é aplicada, ou seja, t2 > t1 > t0.

Figura 5.1‒ Comportamento de (a) sólido e (b) fluido (líquido e gasoso), sob a ação de uma
força de cisalhamento constante.

V F V
Placa Móvel
t0 t1 t2
∆α
h h y
x
Placa Fixa
t2 > t1 > t0

(a) (b)

5.3. Análise do Movimento de um Fluido

Um fluido pode ser analisado segundo duas descrições:

A. Função de Lagrange: é a descrição do movimento na qual as partículas individuais são


observadas em função do tempo. Neste caso, torna-se uma tarefa muito difícil quando o
número de partículas é muito grande, como no escoamento de um fluido.

B. Função Euleriana: é a descrição do movimento na qual as propriedades do fluido, como por


exemplo, a velocidade, são funções do espaço e tempo. Neste caso, a análise da descrição do
fluido é mais fácil.

A região de escoamento considerada para as duas descrições é o campo de escoamento.

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5.4. Campo de Escoamento

Campo de escoamento é uma representação do movimento de um fluido no espaço (nas


três coordenadas cartesianas x, y, z) em diferentes instantes , ou seja, em função do tempo (t). A
propriedade que descreve o campo de escoamento é a velocidade (V).

5.5. Campo Vetorial de Velocidade

Ao tratar de fluidos em movimento, a descrição do campo de velocidade deste fluido é um


fator de grande importância. A velocidade num ponto qualquer do campo de escoamento se define
como, em um dado instante de tempo (t) e o campo vetorial de velocidade (𝑉⃗ ) é uma função das
coordenadas espaciais x, y e z. A velocidade num dado ponto do campo vetorial de escoamento
pode variar de um instante de tempo para o outro. Assim, a caracterização completa do campo de
velocidade é dada por:

y
→ →
z x 𝑉 = 𝑉(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) Eq. (5.1)

A velocidade é uma quantidade vetorial, exigindo um módulo, um sentido e uma direção


para uma completa descrição, por conseguinte, o campo vetorial analisará a velocidade em um
dado ponto do campo de escoamento (Equação 5.1).
O vetor velocidade (𝑉⃗ ) também pode ser escrito em termos de suas três componentes
escalares. Assim, a função vetorial 𝑉⃗ é dada por:

→ → → →
𝑉( , , , ) = 𝑉 𝑖 +𝑉 𝑗 +𝑉𝑘 Eq. (5.2)

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Em resumo, a Equação (5.2) indica a velocidade de uma partícula fluída que está passando
através do ponto x, y, z, no instante de tempo (t), num dado ponto fixo do escoamento no espaço
(Análise Euleriana). “Mas podemos também continuar a medir a velocidade no mesmo ponto ou
escolher qualquer outro ponto x, y, z no próximo instante de tempo. O ponto x, y, z não é a
posição em curso de uma partícula individual, mas um ponto que escolhemos para olhar, por
isso, x, y, z são variáveis independentes. Assim, pode-se observar que a Equação (5.2) deve ser
pensada como um campo vetorial de velocidade de todas as partículas, e não somente a
velocidade se uma partícula individual”.

5.6. Escoamento em Regime Permanente/Estacionário e Regime Transiente/Não


Estacionário

Quando as propriedades do fluido não variam no tempo, diz-se que o regime de


escoamento é permanente (RP) ou estacionário (RE). No escoamento em RP, as propriedades
podem variar de ponto para ponto no campo, mas devem permanecer constantes com relação ao

tempo para um dado ponto qualquer. Assim, em RP teremos = constante , onde η representa
uma propriedade qualquer do fluido (Exemplo: densidade, velocidade, etc.) (Figura 5.2).

Figura 5.2‒ Escoamento permanente/estacionário: (a) instante inicial e (b) instante qualquer.

Instante inicial (t = 0) Instante qualquer (t = t)

Entrada Saída Entrada Saída

1 (m)(s-1) 1 (m)(s-1)
3 (m)(s-1) 3 (m)(s-1)
5 (m)(s-1) 5 (m)(s-1)

(a) (b)

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Quando as propriedades do fluido variam no tempo, diz-se que o regime é transiente


(RT). No escoamento em RT, as propriedades do fluido em um ponto do campo vetorial de
escoamento variam com o tempo (“escoamento instável”) (Figura 5.3).

Figura 5.3‒ Escoamento transiente/não estacionário: (a) instante inicial e (b) instante qualquer.

Instante inicial (t = 0) Instante qualquer (t = t)

Entrada Saída Entrada Saída

1 (m)(s-1) 2 (m)(s-1)
3 (m)(s-1) 4 (m)(s-1)
-1
5 (m)(s ) 6 (m)(s-1)

(a) (b)

5.7. Escoamento interno e externo

No escoamento interno o fluido escoa completamente envolto por superfícies sólidas.


Exemplo: escoamento de fluidos em tubos e dutos (Figuras 5.4a e 5.4b).

Figura 5.4‒ (a) Escoamento de água e (b) de ar em tubos e dutos e, (c) escoamento interno de ar
sobre um veículo em movimento.

(a) (b) (c)

Não escoamento interno (Figuras 5.4a e 5.4b), os efeitos viscosos causam perdas de energia
substanciais e são responsáveis por grande parte da energia necessária para transportar líquidos
altamente viscosos e gases no geral. Veja o princípio desses efeitos viscosos dentro de uma
tubulação (Figura 5.5).

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Figura 5.5‒ Desenvolvimento do gradiente de velocidades de fluidos escoando em tubos e dutos


(escoamento interno).

r
Escoamento na
região de entrada Perfil de velocidade em desenvolvimento
Perfil de velocidade
Camada viscosa completamente
desenvolvido

V =f (x, r) V =f (y) x

Região invícida
(sem viscosidade)
Ltotal

No escoamento externo o fluido escoa ao redor de corpos imersos. Exemplo: escoamento


de água ao redor do pilar de uma ponte, escoamento do ar em torno da asa de um avião, veículos,
edifícios, etc. (Figuras 5.4c).

5.8. Escoamento uniforme e não uniforme

Um escoamento uniforme em uma dada seção transversal é caracterizado pela velocidade


constante em qualquer seção normal ao escoamento, ou seja, não sofre variação em nenhuma

direção = constante . Um exemplo de escoamento uniforme é percebido em tubulações

longas com diâmetro constante. Portanto, o termo de escoamento uniforme é usado para descrever
um escoamento no qual a magnitude e a direção do vetor velocidade são constantes, isto é,
independentes de todas coordenadas espaciais em todo campo de escoamento.
Um escoamento não uniforme é quando as velocidades variam em cada seção transversal
ao longo do escoamento. Um exemplo de escoamento não uniforme é percebido nas correntes
convergentes, originárias de orifícios, como esguichos de chuveiro, ou esvaziamento de um
recipiente, pois à medida que o fluxo total avança, perdem velocidade no tempo.

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5.9. Escoamentos Uni, Bi e Tridimensionais e seus Balanços de Massa e Forças Atuantes

Um escoamento pode ser classificado em função do número de coordenadas espaciais


requerida na especificação do campo de velocidades, ou seja, unidimensional (Figura 5.5),
bidimensional (Figura 5.6) ou tridimensional (Figura 5.7). Quando analisamos um escoamento
de um fluido qualquer devemos pensar em qual direção a velocidade varia e não na direção e
sentido que o fluido escoa. Assim, a direção de escoamento do fluido representada nas Figuras
5.5 a 5.7 é na horizontal (direção x) e no sentido da esquerda para a direita com velocidades
variando na direção radial (direção r) com um valor mínimo nas paredes (considera-se V = 0) a
um valor máximo no centro (V = Vmáx).

 Escoamento Unidimensional (ou Uniforme na Seção): a velocidade do fluido varia em uma


direção (Figura 5.5).

Figura 5.5‒ Escoamento unidimensional.


r
A1 A2
V1, P1, A1 V2, P2, A2

x1 x2 x
Direção do escoamento: x.
Direção em que a velocidade varia: x, assim V = f (x).
Balanço de massa: V1 A1 = V2 A2.
Balanço das forças atuantes: Forças de pressão = Forças associadas ao cisalhamento
(P1 π r2) – (P2 π r2) = (2π r L τParede)

ΔP (π r2)

onde: V1 e V2 são as velocidades na entrada (1) e na saída (2) da tubulação, respectivamente [(m) (s-2)]; P1 e P2 são
as pressões na entrada (1) e na saída (2), respectivamente [Pa]; r é o raio do cilindro (m); L é o comprimento do
cilindro (m); τParede é a tensão de cisalhamento nas paredes [Pa] = [(N) (m-2)] = [(kg) (m-1) (s-2)].

 Escoamento Bidimensional (ou Não Uniforme na Seção): a velocidade do fluido varia em


duas dimensões (Figura 5.6). A distribuição de velocidades é representada para um escoamento
entre paredes retas divergentes (não são paralelas) que se imagina serem infinitamente longas
(na direção x). Já que o canal é considerado infinito na direção x, o campo de velocidades será

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idêntico em todos os planos perpendiculares ao eixo dos x, desta forma, o campo de velocidades
é uma função apenas das coordenadas espaciais x e y. Exemplo: vertedor de uma barragem.

Figura 5.6‒ Escoamento bidimensional.


y
V1, P1, A1
A2 V2, P2, A2
y1 A1
y2

x
x1 x2
Direção do escoamento: x.
Direção em que a velocidade varia: x e r, assim V = f (x, r).
Balanço de massa: V1 A1 = V2 A2. Como A2 > A1, então V2 > V1.
Balanço das forças atuantes: Forças de pressão = Forças associadas ao cisalhamento
(P1 π r2) – (P2 π r2) = (2π r L τParede)
ΔP (π r2)

 Escoamento tridimensional (ou Não Uniforme na Seção): a velocidade do fluido varia em


três dimensões (Figura 5.7). A Equação (5.1) dada anteriormente mostra que o campo de
velocidades é uma função de três coordenadas espaciais (x, y, z) e do tempo (t). Este tipo de
campo de escoamento é chamado tridimensional e regime transiente (RT) porque a
velocidade em qualquer um de seus pontos depende das três coordenadas requeridas para
localizar o ponto no espaço. A maioria dos escoamentos externos é tridimensional. Exemplos:
ar sobre a asa de um avião, de um edifício e de pontes.

Figura 5.7‒ Escoamento tridimensional.

V2, P2, A2

V1, P1, A1

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Para muitos problemas encontrados em engenharia, uma análise unidimensional revela-se


adequada para fornecer soluções aproximadas com exatidão em nível de engenharia. Desta forma,
estuda-se o escoamento em tubulações utilizando o valor da velocidade média da seção transversal,
no qual se trata o escoamento como um escoamento uniforme (Figura 5.5).

5.10. Linhas de Emissão

Linhas de emissão são “trajetórias” formadas por um conjunto de partículas adjacentes em


um dado instante do tempo. Observações subsequentes das linhas de emissão fornecem
informações a respeito do escoamento do fluido em função do tempo (Figura 5.8).

Figura 5.8‒ Linhas de emissão.

t0 t1 t0 t1

5.11. Trajetória e linhas de correntes

Na análise de problemas em mecânica dos fluidos, é muitas vezes vantajoso obter uma
representação visual de um campo de escoamento e tal representação é fornecida através de
trajetórias (caminhos) e linhas de corrente (ou linhas de fluxo). Uma trajetória consiste no
caminho/percurso traçado por uma partícula em movimento, como por exemplo, um corante se
difundindo em água escoando. A linha traçada pelo corante consiste na trajetória.
Uma linha de corrente são linhas contínuas traçadas no campo de escoamento que
representam as trajetórias das partículas em cada ponto, ou seja, em um dado instante de tempo,
elas são tangentes à direção do escoamento em todos os pontos no campo de velocidade. O formato
de linhas de corrente pode variar de instante para instante se a velocidade do escoamento for uma
função do tempo (regime transiente) (Figura 5.9).

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Figura 5.9‒ Linha de corrente em um fluido escoando.

Linhas de correntes

Em regime permanente (RP), a velocidade em cada ponto no campo de escoamento


permanece constante em relação ao tempo, e, consequentemente, as linhas de corrente não variam
de um instante para outro. Isto implica que uma partícula localizada em uma dada linha de corrente
permanecerá nesta mesma linha de corrente. Assim, em um RP, trajetórias e linhas de correntes
são linhas idênticas no campo de escoamento. No caso de escoamento em regime transiente (RT),
as trajetórias e linhas de corrente não coincidem.

5.12. Escoamentos compressíveis e incompressíveis

Escoamento compressível é quando em um escoamento as variações de densidade não


são depressíveis, ou seja, apresenta variação de densidade quando escoa. “Lembrando que,
quando temos redução de densidade em um fluido escoando, consequentemente teremos um
aumento de volume, resultando em compressão” (Equação 4.1):

𝜌= Eq. (4.1)

Escoamento incompressível é quando em um escoamento as variações de densidade são


desprezíveis, ou seja, não apresenta variação de densidade quando escoa (ρ = 0).
Um conceito generalizado é de que todos os escoamentos líquidos são incompressíveis e
que todos os escoamentos gasosos são compressíveis. Para muitos casos práticos, a primeira parte
do conceito é correta, ou seja, a maioria dos escoamentos líquidos é essencialmente
incompressível. Escoamentos gasosos podem ser considerados incompressíveis desde que as
velocidades de escoamento sejam pequenas em relação à velocidade do som no fluido.

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5.13. Escoamentos viscosos e não viscosos

Em um escoamento não viscoso (fluido ideal), a viscosidade do fluido, é suposta nula


(µ = 0). Evidentemente, tais escoamentos não existem, entretanto, há muitos problemas onde tal
suposição simplificará a análise e, ao mesmo tempo, conduzirá a resultados significativos.
Dentro da área de escoamentos não viscosos, podem-se considerar dois fatores:

(i) a variação de densidade (∆ρ) do fluido é muito pequena e relativamente sem importância
(fluidos incompressíveis);

(ii) escoamentos nos quais as variações de densidade desempenham um papel importante, tais
como em escoamentos de gás sob altas velocidades (fluidos compressíveis).

Todos os fluidos possuem viscosidade e, consequentemente, escoamentos viscosos são de


suma importância no estudo da mecânica dos fluidos, e serão estudados com mais detalhes no
Capítulo 7.

5.14. Escoamento laminar e turbulento

Os escoamentos viscosos são classificados em regimes laminar e turbulento com base na


estrutura interna do escoamento. No regime laminar, a estrutura do escoamento é caracterizada
pelo movimento de lâminas ou camadas sem que ocorra mistura, isto é, não há mistura
macroscópica de camadas adjacentes do fluido (Figura 5.10a e 5.11a). A estrutura do escoamento
no regime turbulento é caracterizada pelo movimento tridimensional aleatório das partículas do
fluido sobreposto ao movimento de corrente, ocorrendo a mistura macroscópica do fluido (Figuras
5.10b e 5.11b).

Figura 5.10‒ Escoamento (a) laminar e (b) turbulento através de uma esfera
(escoamento externo).

(a) (b)
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Figura 5.11‒ Escoamento (a) laminar, (b) turbulento através em tubos fechados
(escoamento interno) e (c) exemplo de balanceamento de fluxo.

(a) (b)

(c)

No caso de um fluido escoando através de uma tubulação, a natureza do escoamento


(laminar ou turbulento) é denominada pelo valor de um parâmetro adimensional denominado como
Número de Reynolds (NRe), dada pela Equação (5.3).

𝑁 = = Eq. (5.3)

Lembrando que a viscosidade cinemática (𝜈) é dada por: 𝜈 = μρ Eq. (4.3)

onde:
 NRe é o número de Reynolds [adimensional];
 ρ é a densidade ou massa específica do fluido [(kg) (m-3)];
 V é a velocidade média do fluido [(m) (s-1)];
 d é o diâmetro da tubulação [m];
 µ é a viscosidade absoluta (ou dinâmica) do fluido [(N) (s) (m-2) = (Pa) (s) = (kg) (m-1) (s-1)];
 𝜈 é a viscosidade cinemática [(m2) (s-1)].

A viscosidade é a propriedade dos fluidos que correspondem ao Transporte Microscópico


de Quantidade de Movimento (QM) por difusão molecular (Transporte de Massa Difusiva, que
veremos mais adiante). Fluidos com baixa viscosidade (µ) e alta densidade (ρ) tendem a fornecer
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turbulência, assim, o número de Reynolds pode ser expresso em termos de viscosidade cinemática
( ).

As faixas de NRe que definem o escoamento são dadas na Tabela 5.1.

Tabela 5.1‒ Tipos de escoamentos em função do número de Reynolds (NRe).

Tipo de escoamento Faixa de Re


Laminar NRe < 2.100
Transição 2.100 < NRe < 4.000
Turbulento NRe > 4.000

Muito embora existam faixas de NRe (Tabela 5.1), não há, na verdade, um valor definido
para o número de Reynolds (NRe) no qual o escoamento muda de laminar para turbulento. Há uma
gama de valores de NRe na qual o escoamento irá mudar de laminar para turbulento. Seria de esperar
que as condições de escoamento na entrada do cano afetassem o valor do NRe no qual ocorreria a
transição de escoamento laminar para turbulento, isto é exatamente o que acontece. Assim faz
sentido falar em um limite inferior de NRe, abaixo do qual o escoamento será sempre laminar, e um
limite superior, acima do qual o escoamento será sempre turbulento. Quando este perfil de
velocidade encontra-se ainda em transição, ou seja, em mudanças, é denominado de Escoamento
em Regime Transiente (RT) (Figura 5.12).

Figura 5.12‒ Variação temporal da velocidade do fluido em um ponto.

z x

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5.15. Resumo da Descrição e Classificação dos Movimentos Dos Fluidos

Mecânica dos Fluidos

Não Viscoso (Fluido Ideal) Viscoso


Lei da Viscosidade
μ=0 de Newton

Laminar Transição Turbulento


NRe < 2.100 2.100 ≤ NRe ≤ 4.000 NRe > 4.000

Interno Externo
Compressíveis Incompressíveis (água ao redor de pontes; ar
(Tubulações
(gases) (líquidos) ao redor da asa de um avião,
e dutos) veículos, edifícios).

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Exercício 5.1 (Para o lar): Água a 15 ºC flui num tubo de diâmetro interno de 50 mm. Determine
o valor máximo da velocidade média para qual o escoamento seria laminar?
Dados:  = 1,25 x 10-5 [(m2) (s-1)].

Resposta: V = 0,525 [(m) (s-1)].

Exercício 5.2 (Para o lar): A água à 25ºC, escoa através de uma tubulação de 5 mm de diâmetro.
A velocidade média é de 0,1 [(m) (s-1)]. O escoamento é em regime laminar ou em regime
turbulento?
Resposta: NRe = 558 (NRe < 2100 o escoamento é em regime laminar).

Exercício 5.3 (Para o lar): A distribuição de velocidades para o escoamento laminar através de
uma tubulação reta, longa e de seção transversal constante é dada por:
V 2y
=1−
V h

onde v é a velocidade do fluxo na direção do escoamento; Vmáx é a velocidade máxima do fluxo


na direção do escoamento; h é a distância separando as placas.

A origem do eixo é colocada na metade da distribuição entre elas (no meio entre as placas),
conforme apresentado a seguir:

água 0,25 mm
h = 0,50 mm
0,25 mm

Considerar escoamento de água à 15 ºC, com Vmáx = 0,30 [(m) (s-1)] e h = 0,50 mm.
Calcular a variação da velocidade em função do escoamento (dV/dy).

Resposta: dV/dy = −2400 (s-1).

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