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Reificação e linguagem em
Guy Debord
2 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
Reitor:
Jáder Onofre de Morais
Vice-Reitor:
João Nogueira Matos
Chanceler:
Airton José Vidal Queiroz
Reitor:
Carlos Alberto Batista Mendes de Sousa
Reificação e linguagem em
Guy Debord
Prefácio
Ilana Amaral
UNIFOR
ENSINANDO E APRENDENDO
Fortaleza - 2006
4 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
Revisão de texto:
Estenio Ericson Botelho de Azevedo
Roberto Robinson Bezerra Catunda
Editoração Eletrônica:
Antônio Franciel Muniz Feitosa
Capa:
João Emiliano Fortaleza de Aquino
Impressão:
Gráfica da Unifor
Tiragem:
500 exemplares
200p.
ISBN: 85-88544-10-5
Inclui bibliografia.
1. Filosofia. 2. Teoria Crítica. 3. Estética. 4. Comunicação.
5. Expressão. I. Título.
CDD: 100
R EIFICAÇÃO E LINGUAGEM EM GUY DEBORD 5
Agradecimentos
Sumário
Considerações introdutórias 23
Bibliografia 191
12 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
PARA ALÉM DO ESPETÁCULO 13
Ilana Amaral
Fortaleza, maio de 2006
R EIFICAÇÃO E LINGUAGEM EM GUY DEBORD 23
Considerações introdutórias
I
Este livro discute as reflexões de Guy Debord (1931-
1994) sobre a linguagem, com base na hipótese de que, no centro
do seu pensamento, se encontra um esforço de reflexão acerca
da linguagem em que estética e crítica social são inseparáveis.
Trata-se, portanto, de pensar a linguagem numa relação entre
estética e teoria crítica, já que as reflexões sobre a linguagem,
neste autor, são essencialmente conexas à práxis social e à sua
crítica.
Meu ponto de partida é justamente a relação prática e
teórica de Guy Debord com a experiência histórica da arte
moderna, particularmente a dos movimentos de vanguarda
estética. Em sua ruptura com as antigas linguagens artísticas,
os grupos de vanguarda do início do século passado –
especialmente o(s) futurismo(s), o dadaísmo e, por fim, o
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1 . Cf. G. Lukács, Teoria do romance [1916]. Tr. br. José Marcos Mariani de
Macedo. São Paulo: Duas Cidades-Editora 34, 2000, particularmente I, 3-
4, pp. 55 ss.
26 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
II
histórica” a p r e s e n t a d o e m s e u l i v r o s e r e f e r e à q u e l a s
experiências (o futurismo russo, o dadaísmo e o surrealismo
francês) que intentaram fazer a crítica da “instituição arte”,
buscando a superação de sua autonomia – em cujo centro se
encontra a determinação da forma estética – na “práxis vital”
(isto é, na vida cotidiana). As vanguardas históricas, diz Bürger,
“não se limitam a rechaçar um determinado procedimento
artístico, mas sim a arte de sua época em totalidade e, portanto,
verificam uma ruptura com a tradição. Suas manifestações
extremas se dirigem especialmente contra a instituição arte, tal
e como se formou no seio da sociedade burguesa”. 5
Esta demarcação conceitual ajuda a pensar o específico
da práxis das vanguardas históricas com relação ao conjunto
das experiências literárias que reinventaram a linguagem na
literatura modernista (Proust, Joyce, Kafka...) e que, baseando-
se em Bürger, o crítico inglês Terry Eagleton, justamente para
diferenciá-las das vanguardas históricas, nomeia de “alto
modernismo”. 6 É preciso notar que esta distinção proposta por
Bürger e Eagleton entre o modernismo e as vanguardas está
ausente não apenas nas formulações de Lukács, Adorno e
Benjamin, mas também nas de Guy Debord. Mas esta é uma
distinção capital, de um ponto de vista teórico e para a delimitação
do objeto deste livro, pois determina o terreno no qual se movem
a s r e f l e x õ e s d o a u t o r d e A sociedade do espetáculo.
Concretamente, ela indica um outro lugar experiencial e
conceitual de articulação entre teoria crítica e estética. Ou,
dizendo com mais precisão: ela indica um outro campo no qual
o momento reflexivo-conceitual de busca de superação das
fronteiras da filosofia e da estética filosófica tradicionais se
relaciona com um momento “destrutivo” da autonomia formal
da obra de arte.
8 . T. Adorno, Teoria estética. Tr. port. Artur Morão. Lisboa-São Paulo: Martins
Fontes, 1988; Ästhetische Theorie. Frankfurt am Main: Surkhamp Verlag,
1970, pp. 339-340.
32 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
III
12. Devo o uso deste termo a Paulo Eduardo Arantes, nos seus comentários à
tese de doutoramento, da qual este livro se serve como base.
38 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
Capítulo I
Espetáculo e linguagem
7 . Entre outros, cf. P. Vidal-Naquet, Temps des dieux et temps des hommes
(1960); J.-P. Vernant, Les origines de la pensée grecque (1962); F. Chatelet,
La naissance de l’histoire: la formation de la pensée historienne en Grèce
(1962). P. Vidal-Naquet defende que, entre os gregos, a representação do
tempo nunca foi única. Em Homero e Hesíodo, há uma representação dupla,
ora como tempo irreversível e linear, ora como tempo cíclico. Em Heródoto,
contudo, há uma representação do tempo hegemonicamente linear, um
“tempo histórico” distinto do “tempo mítico”. Nele, o “tempo dos homens”
52 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
16. K. Marx, O capital, t. I/1. Tr. br. R. Barbosa e F. R. Kothe. São Paulo: Nova
Cultural, 1985, p. 71.
R EIFICAÇÃO E LINGUAGEM EM GUY DEBORD 69
21. Sobre esta crítica, cf. entre outros, G. Dauvé, “Kritik der Situationistischen
Internationale”, em R. Ohrt (Hg.), Das grosse Spiel. Die Situationisten
zwischen Politik und Kunst. Hamburg: Nautilus, 1999; D. Blanc,
L’Internazionale situazionista e il suo tempo. Milano: Colibri, 1998; “Zur
Kraft der situationistischen Kritik und ihrer Rezeption in Deutschland”,
aparecido em Wildcat-Zirkular, Nº 62, fev/2002, pp. 32-36, http://
www.wildcat-www.de/zirkular/62/z62situa.htm.
22. K. Marx, O capital, I, p. 141, n. 41. Entre colchetes, uma passagem do
próprio Marx imediatamente anterior a esta que compõe a parte principal
da citação.
R EIFICAÇÃO E LINGUAGEM EM GUY DEBORD 73
23. Cf. L. Feuerbach, Princípios da filosofia do futuro. Tr. port. Artur Morão.
Lisboa: Edições 70, 2002; K. Marx, Manuscritos econômico-filosóficos.
Tr. br. Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004. Pelo que indica
a epígrafe do Capítulo II de A sociedade do espetáculo, esta relação é
sugerida a Debord também pelas análises de G. Lukács em História e
consciência de classe, no célebre ensaio sobre a reificação. A. Jappe faz
uma exaustiva aproximação entre estes dois textos no primeiro capítulo
de seu Guy Debord (edição citada, pp. 37-51).
74 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
31. Para toda esta sucinta retomada, cf. S. Freud, A interpretação dos sonhos,
pp. 489-502 ss; Die Traumdeutung, pp. 510-524 ss. Mais uma vez, trata-
se do subcapítulo “A regressão”, do capítulo VII.
R EIFICAÇÃO E LINGUAGEM EM GUY DEBORD 79
Capítulo II
O problema da expressão
35. L. Aragon, O camponês de Paris [1926]. Tr. br. Flávia Nascimento, Posfácio
de J.-M. Gagnebin. Rio de Janeiro: Imago, 1996, pp. 75-77.
110 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
45. O próprio Bataille nomeia sua reflexão de “psicológica”, num sentido muito
próximo do de Nietzsche, mediando-a com a psicanálise e os estudos de
antropologia social. Deste modo, o projeto de Bataille parece assumir a
ampla perspectiva de uma genealogia (no sentido nietzscheano) dos
processos de idealização e de uma interpretação (no sentido psicanalítico)
dos processos de simbolização social, tendo como ponto de fuga uma
crítica materialista do idealismo, na qual o materialismo é concebido
“fundado imediatamente nos fatos psicológicos ou sociais [...] a
interpretação direta, excluindo todo idealismo, dos fenômenos brutos”
(G. Bataille, “Matérialisme” (Documents, nº 3, junho, 1929), Oeuvres
complètes, t. I, p. 180).
R EIFICAÇÃO E LINGUAGEM EM GUY DEBORD 119
Capítulo III
Em A sociedade do espetáculo , D e b o r d c o n c e b e a
experiência histórica da cultura moderna estruturada pela divisão
e pelo antagonismo entre inovação e tradição, divisão e
antagonismo que constituiriam o próprio “princípio de
desenvolvimento interno da cultura das sociedades históricas”
(SdS, § 181). No capitalismo tardio, esta divisão e este
antagonismo se encontram repostos na oposição entre o projeto
de ultrapassagem da cultura separada na “história total” e sua
manutenção como “objeto morto”; ou ainda, entre “a
autodestruição crítica da antiga linguagem comum da sociedade
e sua recomposição artificial no espetáculo mercantil, a
122 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
Na análise d e A g a m b e n , c o n t u d o , a expressão
Gattungswesen, mesmo quando reiterada pelas expressões de
essere linguistico e natura linguistica, não constitui – como
tampouco, em Debord, a concepção da reificação, da alienação
e , n e l a , d o langage commun – qualquer determinação
Capítulo IV
5 . Idem, p. 103.
154 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
6 . Idem, p. 111.
R EIFICAÇÃO E LINGUAGEM EM GUY DEBORD 155
19. Idem, p. 9.
164 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
33. Não é demais lembrar, mais uma vez, que a obra de P. Bürger – que, no
prefácio à segunda edição, se manifesta teoricamente solidária à teoria da
“ação comunicativa” de J. Habermas – busca justamente concluir, “após
1968” (!), as categorias estéticas positivas que, passada a ilusão
vanguardista de “superação da arte”, se demonstrariam categorias
permanentes da arte na sociedade burguesa.
R EIFICAÇÃO E LINGUAGEM EM GUY DEBORD 173
34. Lautréamont, Poesias [1870], Parte II. Obra completa. Tr. br. C. Willer.
São Paulo: Iluminuras, 1997, p. 277.
35. Referindo-se ao desvio das noções oriundas da experiência artística
moderna para uma crítica teórica do capitalismo desenvolvido, Debord
amplia o seu uso do termo “arte moderna” para o de “cultura” (moderna):
“Com a ‘arte moderna’, a gente quer dizer a cultura – da poesia à psicanálise,
por exemplo. Mas o conjunto das experiências culturais da época deduz já
174 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
Considerações finais
5 . Idem, p. 21.
188 JOÃO EMILIANO FORTALEZA DE AQUINO
Bibliografia
II Bibliografia complementar
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