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MODERNIDADE X MODERNISMO

O timbre deste texto tem mais a ver com a exploração de experiências teóricas, fluídos
de conhecimento e perspectivas críticas do que aportar em uma plataforma segura de um
teórico ou recorte bibliográfico, pelos ombros de outros autores. Desta forma e tônica, o
presente texto tem a pretensa vontade de dissociar os termos Modernismo e Modernidade,
mesmo sabendo que esta tarefa pode estar incorrendo em posicionamentos contundentes.
Assim, ao estudar o Modernismo Brasileiro, principalmente seus antecedentes e sua
fase heróica, monumento erigido pela semana de arte moderna, o termo modernismo parece
saltar aos olhos como uma característica inerente ao processo de nacionalização, mudança de
paradigmas e divergências críticas que eclodiu nos idos de 1922.
No entanto, o Modenismo, especificamente o Brasileiro, foi um movimento cultural e
literário, demarcado por uma cronologia específica e crítica própria (que se amplia e diversifica
no passar do tempo), bem como movimentos políticos próprios. Enquanto unidade teve sua
égide sobre o experimentalismo, convergência de vanguarda e crítica literária, bem como o
Nacionalismo. A propositura do moderno teve formas multifacetadas, por influir em um
movimento de resistência, mas adequação aos movimentos rápidos e vanguardísticos que
vociferavam no mundo inteiro. Também por transigir a crítica histórico / bibliográfica que
predominou em nossa literatura, em busca de uma crítica mais apropriada ao discurso poético.
Os poetas modernistas, da alçada de Mário de Andrade e Oswald, deixaram um legado
do pensamento modernista que mais influenciou o futuro da nossa poesia. O atuar sobre a
literatura, agir sobre ela, para e com ela, provocaram os primeiros impulsos rumo à literatura
de maior valor, com maior conteúdo teórico / canônico agregado.
Uma característica própria do Modernismo é ser encarado enquanto período
delimitado cronologicamente e politicamente, dentro de um circuito de produção, crítica e
leitor. Economicamente, a história literária e a teoria literária enquadram o modernismo
conectado ao desenvolvimento econômico e urbano que o Brasil experimentou a partir de
1910 até a era Getúlio. Neste processo de produção inclui a “Paulicéia Desvairada” e o
simulacro de uma sociedade urbana em consolidação. Um processo interessante de dilatação
e decantação do Modernismo de 1922 foi a perspectiva tradicional que se assomou nas
gerações modernas posteriores, culminando no verso de João Cabral, em passagem por Murilo
Mendes e Jorge de Lima.
Tratando agora da modernidade, ela nasce do espírito de ruptura, de negação da
tradição, da implantação de um cânone futuro repensado. É energia que se move pelos
degraus da história literária, mola que impulsiona repelindo. A modernidade trafega pelo
século XX, lançada que foi por autores como Baudelaire e Mallarmé. Os primeiros passos rumo
a um verso mais elaborado, que encontre respaldo somente em sua estrutura rítmica e visual,
foram alargadas pelas teorias modernas, como a Semiótica, que propôs a inauguração do signo
poético. Recolhido pelos críticos concretistas, movimento que sofisticou e aparelhou a crítica
literária brasileira, o signo deflagrou uma perfeita intersemiose entre o espaço branco do
papel e a escrita, inscrição, sinal, signo, povoado de elementos verbivocovisuais. A
modernidade, ao mesmo tempo que se lança inovadora frente á tradição, ao estratificado e
canônico, se vendendo nova, tem que viver pouco. Manter-se nova é ter ciclo de vida, é ser
vanguarda. A obra, enquanto objeto de consumo, mesmo que “moderna”, é refém de sua
própria natureza de objeto de consumo estético. Pode e deve ser substituída enquanto
proposta. A modernidade lança o contundente e inusitado para frente, tentando voltar ao
presente explicando, via de teorias, formas, manifestos e discussões. A modernidade é
caminho fértil da crítica. Em seus buracos, ditos e desditos o discurso crítico sobrevive, como
corais, tornando a literatura povoada de cores e formas.
Como um fazer / querer / poder a modernidade se apropria das tecnologias da
linguagem e das novas técnicas de comunicação. Pelo desgaste que a língua sofre durante seus
séculos de existência, a busca por novos suportes e a mistura do procedimento com o fazer
inauguram as modernidades pós 80 e do porvir. Assim como os blogs buscam na textualidade
simultânea, no intimismo a subversão das antigas crônicas, os relatos e aforismos poéticos das
redes sociais culminam na busca do alicerce de uma nova lírica. Uma suposta “lírica social?”;
uma suposta teoria lírica vai ser desconstruída e outra será construída, à mercê do novo.
Por fim, a modernidade tem que conviver com a crise da poesia. A crise da poesia que
reivindica uma “pedagogia da poesia”, uma práxis da poesia, um ativismo da poesia; um
“colegiado” da poesia?
Em suma, o modernismo é um marco de formas diversas, conclusões teóricas díspares,
mas um momento literário que se propagou e é estudado desde 1922 até 1950.
Já a modernidade é um espírito, uma práxis dentro do processo literário de produzir,
recepcionar, publicar e estudar a literatura, levando em conta sua evolução.
O modernismo é possível ver no passado. A modernidade ainda está acontecendo.

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