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Agitação e Propaganda No Processo de Transformação Social PDF
Agitação e Propaganda No Processo de Transformação Social PDF
Agitação e Propaganda
no Processo deTransformação Social
Expediente
A cartilha “Agitação e Propaganda no processo de transformação social”
é uma publicação do Coletivos de Comunicação, Cultura e Juventude da Via Campesina.
Contatos:
Alameda Barão de Limeira, 1232
01202-002 São Paulo - SP
Telefax: (11) 3361-3866
Correio eletrônico: cultura@mst.org.br / juventude@mst.org.br /viacampesinabrasil@gmail.com
junho de 2007
Agitação e Propaganda - 3
Sumário
Apresentação ................................................................................................................................................ 05
Introdução .................................................................................................................................................... 07
I. Agitação e propaganda no processo de transformação social ........................................................... 09
II. Aprenda com seu adversário! ............................................................................................................... 27
III. Poemas de Bertolt Brecht .................................................................................................................... 31
Dias da Comuna .................................................................................................................................. 32
Quem se defende ................................................................................................................................. 33
Aos que hesitam ................................................................................................................................... 34
Soube que vocês nada querem aprender ........................................................................................... 35
Não desperdicem um só pensamento .............................................................................................. 35
Sobre a atitude crítica ........................................................................................................................... 37
O governo como artista ...................................................................................................................... 37
IV. Registro de um agitador ...................................................................................................................... 39
V. Intervenções de agitprop ....................................................................................................................... 47
Eldorado dos Carajás ............................................................................................................................ 48
A luta do camponês contra o agronegócio .......................................................................................... 52
Agitação e Propaganda - 4
Agitação e Propaganda - 5
Apresentação
Introdução
I. Agitação e propaganda no
processo de transformação social
Por fim, atualmente contamos com os seguintes fatores que podem potencializar
as ações de agitprop:
a - A tecnologia nos deu condição de acesso aos meios de produção.O avanço
tecnológico na produção de equipamentos de filmagem, edição e gravação
audiovisuais e musicais tornou possível a popularização da produção de filmes,
músicas, fotografias, etc. Isso significa que linguagens como o cinema e a televisão,
até então monopolizados pela elite, poderão ser democratizadas, não mais apenas
pela perspectiva do consumo. Além disso, a tendência é que novas alternativas de
democratização da informação apareçam em ritmo crescente, também como
consequência do desenvolvimento tecnológico, o que facilitará a divulgação da
produção.
b - A construção de um calendário comum de lutas entre movimentos sociais e
centrais sindicais dá organicidade para as ações de agitprop, pois elas passam a
estar inseridas na vida política das organizações, como tática de ação contra-
hegemônica e fortalecimento do contato com a sociedade
9. A natureza política do trabalho de agitação e propaganda
Existem pelo menos quatro condições que compõem a natureza de nosso
trabalho:
a - O nível de formação política da militância envolvida no trabalho de agitação e
propaganda, ou seja, a ideologia de classe. Um grupo de militantes pode não ter
recursos financeiros para realizar o trabalho, mas a compreensão da necessidade
política estimula os militantes a agir, a criar ou adaptar métodos e formas, de
acordo com as condições e meios possíveis. A ideologia sustenta o trabalho nos
períodos de descenso da luta de classes.
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Este texto foi publicado sem assinatura no jornal O porta voz vermelho,
número 10, de outubro de 1930. O jornal era o orgão oficial do grupo
de agitprop de mesmo nome, cujo diretor – e também editor – chamava-se
Maxim Vallentin. Infere-se que seu autor seja o próprio
Max Valentim pelo tipo de preocupação que emerge do texto.
A tradução caseira que fizemos provém da tradução francesa.
Portanto, todo cuidado é pouco na leitura.
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Era uma vez uma trupe comunista de agitprop. Ela apresentava cenas contra o
SPD (Partido Social Democrata Alemão) e também contra os nazistas. Até aqui tudo
normal, pois ninguém pode ser contra isso. Mas eis que um dia apareceu uma trupe
social-democrata e viu a cena da trupe comunista contra os nazistas. Ela gostou da cena
e se apropriou dela para encená-la. Nenhum detalhe foi modificado, a não ser por duas
pequenas frases do final: “Só o SPD combate o fascismo; portanto filie-se ao SPD”.
E eis que uma trupe nazista viu a cena de agitprop comunista dirigida contra o
SPD. Eles também gostaram dela e a representaram. Só precisaram mudar um
pequeno detalhe – no final acrescentaram: “Filie-se ao NSDAP (Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães)! Heil Hitler!”
O caso não é para rir, camaradas! A questão não é, de maneira alguma, ridícula,
mas muito séria. A história não é lenda, ela se apóia em fatos. E estes fatos devem dar o
que pensar a todos os grupos de teatro. É evidente que cenas que possam ser apropriadas
com pequenas modificações por trupes social-democratas e nazistas são ruins.
Tais cenas não exprimem o ponto de vista revolucionário nem o método de
reflexão e de luta do proletariado revolucionário; elas nada mais são que uma
exposição inorgânica de nossa ideologia comunista. Tais cenas não são, portanto,
capazes de conquistar a massa dos trabalhadores para o comunismo. Nossas cenas
devem corresponder em cada período, cada frase, cada palavra, à ideologia comunista
revolucionária; elas devem ser construídas de modo a levar o espectador a uma só
conclusão: a luta da classe proletária contra o capitalismo!
Não há aqui algumas semelhanças? Esperamos que muitos grupos como o
nosso experimentem agora um temor salutar! Quantas de nossas trupes ainda
acreditam que podem representar o poder social do capitalismo e suas inumeráveis
relações com o proletariado simplesmente mostrando um homem de cartola, que
traz pendurado no pescoço um cartaz, onde se lê “Capital” e ele diz “Eu sou um
explorador”? Quantas de nossas trupes ainda acreditam ser possível dar uma imagem
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Dias da Comuna
Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.
Considerando que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.
Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos tomá-lo
Considerando que ele nos aquecerá
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Quem se defende
Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
Que diz: ele agiu em legitima defesa. Mas
O mesmo parágrafo silencia
Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.
E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente
Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre
Não lhe é permitido se defender.
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IV - Relato de um agitador
Registro das experiências desenvolvidas em Goiânia e Valparaíso de
Goiás na ocasião do trabalho de agitprop da Marcha Nacional pela
Reforma Agrária.
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aproveitamento foi tão bom que uma parte da brigada passou a utilizá-lo durante
todo o período de trabalho.
Os principais problemas citados foram: desemprego, transporte coletivo,
violência, drogas, analfabetismo, preconceito, moradia, etc. Partindo daí se dizia
que eles haviam desenhando o mapa social do Brasil e era para mudar esse quadro
que o MST se organizava e lutava para transformar o país. A música “Procissão dos
Retirantes” de autoria dos companheiros Pedro Munhoz e Martim César fazia parte
do estudo. Fazia-se uma diferenciação entre os diversos tipos de músicas. Há músicas
para dançar, para fazer ginástica na academia e exercitar os músculos, mas há também
músicas para exercitar o cérebro, refletir. Esse era o tipo de música que eu costumava
cantar.
Começava o estudo por um período da história do Brasil, de 1500 a 1850.
Foi nesse período que foram causados todos os problemas citados, depois apenas
foram se agravando. No caso da violência ela começou com a invasão dos
portugueses matando os índios e estuprando as índias, escravizando os negros e
também estuprando as escravas; a falta de escolas e o analfabetismo também se
mediam nesse período, para quem trabalhava não havia escolas e isso se reflete hoje
no pouco interesse que os brasileiros têm pelo estudo.
Após citar as diferenças entre uma pequena, média e grande propriedade se
trabalhava os quatro meios de se tornar latifundiário no Brasil: 1) capitanias
hereditárias, 2) concessão de sesmarias, 3) lei de terras/1850 e, 4) a grilagem. Depois
de uma rápida passagem pelas capitanias hereditárias (esmiuçando o que é hereditário
e se isso era justo: dividir o Brasil para apenas 15 famílias e as demais seriam sem-
terra) e sesmarias aprofundava o debate sobre a primeira lei de terras no Brasil. Esta
foi o primeiro golpe da classe dominante e que definiu o destino dos brasileiros. Foi
por conseqüência dela que hoje existem milhares de brasileiros sem ter onde morar,
que tomam o transporte coletivo lotado, sem escola para estudar, vítima dos
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preconceitos e violência enquanto que poucos seriam os “donos” das terras e das
riquezas, os exploradores.
O quarto jeito de se tornar fazendeiro(a) é através das quadrilhas de grilagem.
Alguns alunos que acompanharam na imprensa a CPI da terra relatavam como eram
feitas as falsificações das escrituras. O documento falsificado era posto em uma gaveta
com grilos. Esses roíam as bordas do papel e a urina do inseto deixava o papel com
a cor amarelada, com características de um documento antigo (envelhecido). O livro
“De Zé Porfírio ao MST” A Luta Pela Terra em Goiás, de autoria do jornalista
Sebastião de Abreu, relata a luta de resistência dos posseiros da região de Formoso,
norte daquele estado, contra uma quadrilha de grileiros formada por juízes,
advogados, comerciantes, fazendeiros e policiais comandantes de destacamentos.
Essa história é conhecida como a guerra de Trombas e Formoso, iniciada em 1954
e termina com o massacre dos posseiros e a tomada de suas terras em 1964 com a
participação dos militares. O Zé Porfírio foi um agricultor que se elegeu para
deputado, e seu corpo até hoje não foi encontrado.
No debate se falava mais do MST. Quando se referiam à imagem do MST na
mídia se trabalhava a ditadura eletrônica pelas “capitanias da mídia” onde apenas 4
famílias dominam o mercado eletrônico no Brasil, citando a fonte “Mídia e
Democracia” de Pedrinho A. Guareschi e Osvaldo Biz. A partir daí devolvia a
pergunta se referindo o que a imprensa fala de quem mora nas periferias (favelas)? A
conclusão era de que jamais a mídia, pertencente aos ricos, iria falar bem dos pobres
e muito menos dos pobres organizados.
Quando falavam que tinha Sem Terra que andava de carro novo a gente citava
as conquistas do MST em vinte anos. Antes fazia uma diferenciação entre acampados
e assentados. Se um acampado tiver um carro novo (o que não existe) é suspeito,
por outro lado um assentamento que vive e produz de modo cooperativo, como é
caso da Cooperoeste, em Santa Catarina que coloca no mercado 400 mil litros de
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leite em caixinha por dia, por que irão comprar carro velho? É claro que não vamos
comprar carros de luxos, mas para trabalhar. Citava outras conquistas e afirmava
que isso é uma prova concreta que a Reforma Agrária dá certo.
A venda de lotes foi citada em todos os debates. Falava-se das linhas aprovadas
pelo MST, desde os primeiros congressos, contra a venda de lotes pelos beneficiários.
As causas das desistências nas diversas regiões do país e o que o Movimento vem
fazendo para que isso não aconteça. Em SP já está sendo discutido sobre a carta de
concessão de uso da terra que seja expedida em nome do grupo de produção, assim
evitaria uma família efetuar uma venda ou troca individualmente. O percentual de
desistência também era citado, de acordo com a pesquisa feita pela USP, em novembro
de 2002, encomendada pelo governo FHC. Por essa pesquisa pode-se constatar que
na região amazônica, Pará e Maranhão o índice de desistência chega a 40% devido
às condições de abandono a que foram submetidas as famílias assentadas, sem infra-
estrutura. Já no sul, nordeste e sudeste esse índice cai para apenas 5%, considerado
baixo em relação à média mundial de assentamentos humanos, segundo a FAO é
natural até os 15%.
Outra colocação freqüente era a suposição de que se um trabalhador viesse a
se tornar um latifundiário com que direito nós (MST) invadiríamos a fazenda dele.
Esta colocação foi feita também por uma professora de matemática. Como se trata
de uma suposição então vamos fazer os cálculos para ver se há uma possibilidade
real de isso acontecer: vamos supor que você ganha um salário de 5 mil reais mensal,
desses tira 2 mil para as despesas do mês, e 3 mil para comprar terra (acima de 2 mil
ha.). Por esses números compraria mais ou menos 2 ha. por ano. Sendo assim levaria
mil anos para se tornar um latifundiário. Também está excluída a possibilidade de
um pobre fazer parte de uma quadrilha de grilagem de terra. Só participam os
“graúdos”. É como um cachorrinho da raça pincher sonhar um dia virar lobo.
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Junho de 2005.
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V . Intervenção de agitprop
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Os três coros entram juntos tocando instrumentos, o coro dos soldados com tambores, zabumba,
pandeiros, e outros instrumentos musicais de percussão; o coro dos trabalhadores entra com enxada,
pás, foices e demais instrumentos de trabalho, batem com ferro nos metais dos instrumentos. Os
dois coros param, um de frente para o outro, como em um tribunal, ou campo de batalhas. Os
juízes intermediam o conflito.
Narrador 1 – (Saindo do coro dos trabalhadores) – 17 de abril de 1996: Eldorado dos
Carajás, Pará. Neste dia, por “competência do estado” foram assassinados
cruelmente pela polícia 21 trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra, e mais
de 60 pessoas foram feridas.
Coro dos trabalhadores – E até hoje não se sabe quantos desaparecidos.
Que estado é esse, em que a vida não tem valor?
Onde mandam policiais pra matar trabalhador!
(Batem as ferramentas umas nas outras)
Nós viemos pra lutar,
Mudaremos essa história de Eldorado dos Carajás!
Coro dos soldados – (Tocando os instrumentos) – Combater é uma forma de viver!
Coro dos trabalhadores – (Batendo e mostrando os instrumentos) – Eis as nossas
armas!
Coro dos soldados e juízes – Vejam o que fez esse bando de sem terra,
Estragaram as nossas balas!
Isso é um absurdo!
Coro dos trabalhadores – (Batendo os ferros nas ferramentas) – O julgamento dos
assassinos.
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Personagens:
Camponês
Grande fazendeiro
Juiz / grande imprensa
Coro
Policial 1
Policial 2
* Fonte pesquisada: Cartilha “O agronegócio X agricultura familiar e reforma agrária”. Brasília: Concrab, 2004.
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Juiz – Venham, venham, venham todos! Vamos se aproximando minha gente! Vai
começar a luta do ano! A luta mais esperada! Vamos se aproximar! Pode chegar
perto que não paga nada! Desse lado do ringue temos um lutador espetacular, a
quem muito devemos agradecer e nos orgulhar, o Grande Fazendeiro! Aplausos
para ele!
Coro do agronegócio – Terra, Terra
Nós queremos terra! (2X)
Acumular, acumular, acumular, acumulaaaar
Monopolizar
Pra poder melhor lucrar (2X)
Juiz (Mudando o tom de voz) – E desse outro lado temos o desafiante, um lutador
desconhecido, o Camponês.
Coro do MST – MST! Essa luta é pra valer! (3X)
Juiz (Para o público) – Essa luta vai ser fichinha! Façam suas apostas! Vamos começar
o massacre, quero dizer, a luta. Se aproximem os dois lutadores. Quero que a luta
seja limpa (pisca para o público) sem nenhum golpe baixo (pega a mão do Grande
Fazendeiro e atinge o saco do Camponês) e sem nenhuma ofensa, afinal, isso aqui é uma
casa de respeito!
1° Assalto – A COOPTAÇÃO
Juiz – E tem início o primeiro assalto!
Grande Fazendeiro – Ei, venha aqui, eu tenho uma proposta para lhe fazer. (O
Camponês fica receoso mas decide escutar a proposta) – Olha, eu sei que você está passando
por dificuldades, o crédito não saiu na hora certa mais uma vez, suas crianças
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estão com fome, é época de natal... (O Camponês concorda com tudo) – Pois então, eu
tenho uma proposta para lhe fazer. Você passa a trabalhar pra mim, operando a
colheitadeira, e em troca eu lhe dou um salário de R$ 1000 e folga aos domingos.
O que acha? Você nunca teve isso na vida, homem! (O Camponês fica feliz com a
proposta) – E como você vai trabalhar pra mim o tempo todo, você me empresta
sua terra para eu poder estender a minha plantação e nós dois lucramos com isso.
Camponês – Êpa, mas o senhor quer que eu deixe minhas terras em suas mãos?!
Grande Fazendeiro – Mas é você mesmo quem vai cuidar dela homem!
(O Camponês fica pensativo. Ele conversa consigo mesmo e decide aceitar a proposta. Enquanto
ele pensa o Grande Fazendeiro arma um soco, em câmera lenta. No momento em que o Camponês
se vira para aceitar a proposta ele toma o soco.)
Juiz – Fim do primeiro assalto! Com vitória para nosso grande lutador! (Uma atriz
sai do coro e anda desfilando até o Grande Fazendeiro, carregando um garrafão de água com um
lado escrito 2° Assalto e o outro escrito Randap) – Durante o intervalo o glorioso Grande
Fazendeiro se fortalece com Randap, o agrotóxico dos grandes fazendeiros! Vamos
direto para o segundo assalto, sem descanso pra não perdermos tempo, pois o
nosso negócio é assaltar o Camponês. Começa o segundo assalto!
2° Assalto: A VERDADE
Coro do agronegócio – O agronegócio é o responsável por mais de 30% das
exportações brasileiras (o Grande Fazendeiro acerta um golpe).
Coro do MST – Monocultura (o Camponês acerta um golpe), desemprego (o Camponês
acerta outro golpe), depredação da natureza: (mais um golpe do Camponês) são as
conseqüências do agronegócio.
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Coro do agronegócio – Mas que ousadia! (Mudando a voz para o tom de narrador de
telejornal) – O agronegócio é a continuidade da Revolução Verde, é o atual
responsável pelo progresso do nosso país, e é um grande empregador! (O Grande
Fazendeiro arma um soco, em câmera lenta).
Coro do MST – Mentira! (O Camponês se esquiva do soco e arma o contra-ataque) – As
pequenas unidades empregam 87% da mão-de-obra do campo. (Primeiro soco. Em
seguida, a cada dado o Camponês acerta um soco no Grande Fazendeiro) – As pequenas
unidades de produção são os responsáveis por 70% da produção de café, 71% da
produção de leite, 87% da criação de suínos, 87% da criação de aves, 79% da
produção de ovos, 77% da produção de feijão, 92% da produção de mandioca,
76% da produção do tomate, 85% da produção de banana, quer mais?!!!
Grande fazendeiro – Não! Pára! Pára! Não agüento mais! (Desmaia)
(O Grande Fazendeiro é sustentado por membros de sua torcida. O juiz chama os lutadores até
o centro do ringue, segura as mãos dos dois e faz o gesto de que vai anunciar o vencedor. A cena
é congelada. Entra a moça com o cartaz “Veredicto: a mentira”. Quando ela sai o juiz anuncia
que o Fazendeiro é o vencedor).
Veredicto: A MENTIRA
Juiz – Tenho o orgulho de declarar como vencedor dessa grande batalha o nosso
querido Grande Fazendeiro! (O Juiz segura o Grande Fazendeiro, que continua desmaiado.
O Camponês protesta.) – Sim, ele foi o vencedor porque lutou com elegância, e não
com brutalidade. Isso é uma casa de respeito, e não posso admitir a sua violência
aqui dentro. Você nada mais é do que um brigão de rua!
Coro do agronegócio – Isso prova que Reforma Agrária é caso de justiça!
(Barulho de sirene. Entram dois policiais).
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Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. O autor como produtor. In Magia e técnica, arte e política: ensaios
sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BERLINCK, Manuel T. CPC-UNE. Campinas: Papirus, 1984.
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1991.
BRECHT, Bertolt. O popular e o realista. In Teatro dialético. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1967.
COLETIVO Nacional de Cultura do MST. Caderno das Artes n° 01: Teatro. São Paulo:
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