Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Estado do Piauí as seguintes informações referentes aos contratos: b.1) número do contrato,
empresa, valor, objeto, prazo de execução, medições realizadas, fonte dos recursos”.
Figura 1 – SINAPI_Custo_Ref_Composicoes_Sintetico_PI_201711_NaoDesonerado1
13- Assim, torna-se a registrar que a legenda da sigla “AS”, informada pelo
próprio SINAPI, corresponde ao “preço atribuído com base no preço do insumo para a localidade
do mercado de São Paulo (devido à impossibilidade de definição de preço para localidade em
função da insuficiência de dados coletados)”.
1 SINAPI_ref_Insumos_Composicoes_PI_07a122017.zip Disponível em
http://www.caixa.gov.br/site/Paginas/downloads.aspx#categoria_654 . Acesso em 23/08/2018.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
NÚCLEO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DA PROBIDADE
ADMINISTRATIVA
44ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA
Fonte: Fonte:http://g1.globo.com/sp/piracicaba-
http://www.pi.gov.br/album/governo/visita- regiao/noticia/2014/05/avenida-de-bairro-
as-obras-de-pavimentacao-poliedrica- historico-possui-de-buracos-ondulacoes-em-
cajueiro-da-praia-1337.html piracicaba.html
17- Constata-se, portanto, que o insumo referenciado no SINAPI, é diverso
daquele que, de fato, está sendo utilizado no Estado do Piauí.
18- A propósito, em auditoria realizada na Concorrência – Edital nº
006/2018, feita pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico do Estado do Piauí
– SEDET -, processo TC 011734/2018), a “Diretoria de Fiscalização de Obras e serviços de
Engenharia – DFENG, do Tribunal de Contas do Estado realizou pesquisa a respeito do
comportamento dos preços do referencial de preços do SINAPI ao longo do tempo (2009 a 2018),
donde se observou que há uma anomalia no custo do insumo “Paralelepípedo Granítico ou
Basáltico, Para Pavimentação, Sem Frete, *30 A 35* Peças Por m²”, no que diz respeito à
metodologia adotada pelo SINAPI, uma vez que não reflete o preço de mercado para a Praça
Teresina/Piauí, conforme ilustrado no gráfico da Figura, a seguir.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
NÚCLEO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DA PROBIDADE
ADMINISTRATIVA
44ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA
Figura 5 – Evolução do preço do insumo do código SINAPI 4385 entre os anos de 2009 e 2018.
21 – E alerta que
“o próprio SINAPI2 recomenda que o orçamentista, de posse de informações
sobre a origem dos preços e a metodologia de coleta empregada, deve promover
os ajustes eventualmente necessários nas referências para o caso específico que
quer orçar, providenciando avaliações de custos de boa qualidade, a fim de
garantir economia na consecução do bem público que se pretende construir,
reduzindo, por conseguinte, riscos em etapas futuras; e esse cuidado deve ser
tomado exatamente na fase de elaboração do Orçamento de Referência (fase
interna da licitação), peça integrante do Projeto Básico”.
22 – A DFENG foi além. Buscou aferir o real preço do insumo
paralelepípedo (pedra roxa, como assim o denominam), praticado no mercado de Teresina, para,
então, confrontá-lo com a tabela do SINAPI, para o Estado do Piauí (Tabela de Referência). No
caso, foi notório constatar que o Estado do Piauí, em municípios como Buriti dos Lopes, Lagoa do
Piauí, Teresina, Monsenhor Gil, Floriano e Picos, dentre outros, dispõe de várias minas e pedreiras
usadas para obtenção de britas e paralelepípedos, tornando tais materiais de grande disponibilidade
em todo o Estado.
23 -Na oportunidade, foram contactados três fornecedores do referido
insumo no município de Teresina, os quais informaram que a pedra roxa (entregue no local da
obra, zona urbana) é ofertada em lotes de 1000 unidades pelos preços de R$ 300,00 e R$ 350,00,
respectivamente. Assim, usando o valor mediano, adotou-se R$ 300,00 / 1000 unidades (milheiro).
24- Destaca-se que pouco é relevante se de fato o preço praticado em São
Paulo seria R$ 1.320,00 / 1000 unidades (milheiro), visto que o preço que se busca estimar é
aquele que de fato se pratica no mercado local.
2http://www.caixa.gov.br/Downloads/Livro_SINAPI_Metodologias_e_Conceitos_versao_digital
_4a_Edicao.pdf
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
NÚCLEO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DA PROBIDADE
ADMINISTRATIVA
44ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA
26 - Nos autos do inquérito civil que subsidia esta ação, como mencionado,
foram acostados (cópias em anexo) Relatórios e Acórdãos do TCE-PI (Tribunal de Contas do
Estado do Piauí), que identificam uma série de atuações do órgão quanto identificando estas
irregularidades. Dentre as atuações da Corte de Contas destaca,-se as seguintes.
(1) Preço de Referencia para o insumo “paralelepípedo para pavimentação” das contratações do
Estado/PI
(2) Preço estimado para o insumo “paralelepípedo para pavimentação” pela DFENG-TCE/PI
(3) Custo de Referencia para a composição de serviço (CÓDIGO 72799) das contratações do
Estado/PI
(4) Preço estimado para a composição de serviço (CÓDIGO 72799) pela DFENG-TCE/PI
(5) Sobrepreço estimado no valor global das contratações pela DFENG-TCE/PI
(6) Superfaturamento efetivado estimado pela DFENG-TCE/PI
(7) Distorção em relação aos demais em virtude da inclusão do custo do frete a composição do
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
NÚCLEO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DA PROBIDADE
ADMINISTRATIVA
44ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA
32- Ocorre que a Nota Técnica da CGE nº 03/2017 não guarda qualquer
nexo com a constatação do superfaturamento intrínseco, detectado pela DFENG-TCE/PI.
Com efeito, a jusrisprudência do TCU, que permite o uso de um BDI (Bonificações e Despesas
Indiretas) diferenciado (Sumula 253/2010), de maneira análoga a Nota Técnica 03/2017 da CGE,
possui como fundamento a redução dos encargos sociais nas composições de serviços nos quais o
custo dos insumos ou de determinado insumo é significativamente superior ao custo da mão de
obra, o que justamente reduz o preço do BDI das referidas pavimentações, bem como foca na
questão do fracionamento da prestação de mão de obra e fornecimento de bens. Assim, a
mencionada Nota Técnica da CGE não guarda relação com a situação apontada, qual seja o
sobrepreço do insumo “paralelepípedo granítico ou basáltico para pavimentação, sem frete, 30 a
35 peças por m2”, sendo esta causa de sobrepreço completamente distinta e independente da
apontada.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
NÚCLEO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DA PROBIDADE
ADMINISTRATIVA
44ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA
33- Ainda que as causas fossem relacionadas, pensar deste modo é supor que
uma redução de R$ 4,60/m2 (Sumula 253/2010) poderia compensar um aumento de R$ 40,0/m 2
(conforme as estimativas da DFENG-TCE/PI).
http://www.pi.gov.br/materia/segov/governador-e-gestores-do-estado-
discutem-retomada-de-obras-do-finisa-7911.html
43 - Destaca-se por fim, que apesar de não ser de pouca monta, trata-se de
mera estimativa, visto que ao longo da execução do FINISA II (Contrato nº 0477608-24), parte
substancial do objeto do empréstimo foi aditivado para a execução das referidas pavimentações
poliédricas (os iniciais R$ 15.402.487,84 previsto para tal finalidade, ao final resultaram em R$
179.778.507,47).
47- Ainda que o preço orçado pela administração esteja acima dos valores
passíveis de serem praticados no mercado, têm as empresas liberdade para oferecerem propostas
que sabem estar de acordo com os preços de mercado. Não devem as empresas tirar proveito de
orçamentos superestimados, elaborados por órgãos públicos contratantes, haja vista que o regime
jurídico-administrativo a que estão sujeitos os particulares contratantes com a Administração não
lhes dá direito adquirido à manutenção de erros de preços unitários, precipuamente quando em
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
NÚCLEO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DA PROBIDADE
ADMINISTRATIVA
44ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA
razão de tais falhas estiver ocorrendo o pagamento de serviços acima dos valores de mercado. O
regime de contratação administrativa possui regras próprias de Direito Público, mais rígidas,
sujeitas a aferição de legalidade, legitimidade e economicidade por órgãos de controle interno ou
externo da Administração Pública. Portanto, a responsabilização solidária do particular pelo dano
resta sempre evidenciada quando, recebedor de pagamentos por serviços superfaturados, contribui
de qualquer forma para o cometimento do dano.
49- Destaca-se, por fim, que a situação analisada nos autos não trata da
aplicação retroativa de novos preços referenciais ao contrato. Trata-se de evitar o enriquecimento
sem causa do particular em detrimento da Administração, nos termos dos princípios da boa-fé
contratual e probidade administrativa. Não vislumbrando qualquer violação ao princípio da
segurança jurídica.
52- Com efeito, o artigo 12 da Lei de Ação Civil Pública (Lei n° 7.347/85)
estabelece a possibilidade de concessão de liminar, nos casos de risco de dano irreparável ao
direito em conflito, em virtude do tempo decorrido até a solução final da lide, requisitos previstos
no arts. 300 e 303 do CPC, de aplicação subsidiária:
56- Por sua vez, o periculum in mora justifica-se seja pelo fato de existir
contratações e execuções de serviços de pavimentação em paralelepípedo em curso, sendo a
obtenção de ressarcimento extremamente custosa e muitas vezes pouco efetiva, seja pela
noticia que já foi liberado segunda parcela do contrato de empréstimo relativo ao FINISA I
(CONTRATO Nº 0482405-71), bem como consta na listagem novos serviços de pavimentação
em paralelepípedo.
Promotor de Justiça
Promotor de Justiça