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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DISCENTES: Ana Miriam da Silva Santos, Bianca Coradin Benedeti, Gabrielle Cristina
Neves Machado, Laura Duarte Ozelin, Luiz Fernando Costa Paixão e Maria Clara
Botelho dos Reis
RA: 171222296, 171224515, 171224825, 171222237, 171223845 e 171220481
DOCENTE: Prof. Dr. Marcos Alves de Souza
DISCIPLINA: História da América II
CURSO: História

Domingo Faustino Sarmiento – Facundo: Civilização e Barbárie

BIOGRAFIA E CONTEXTO

Nascido em San Juan, província argentina de Cuyo, no dia 15 de fevereiro de


1811, Domingo Faustino Sarmiento teve sua trajetória de vida interligada a vários
pontos marcantes da história de seu país e da América Latina. Filho de uma família
modesta e com pouca educação formal, seus pais incentivaram muito seus estudos,
porém estes foram barrados por eventos políticos e restou para o jovem Sarmiento a
alternativa do autodidatismo.
Tentou por duas vezes continuar seus estudos na cidade de Buenos Aires, mas
foi impedido primeiramente por não ganhar o sorteio de bolsa, e mais tarde pelas
tropas de Facundo Quiroga instaladas em sua cidade natal. Por conta desses
empecilhos para ingressar em escolas formais, sua educação manteve-se baseada
na educação religiosa da província.
Sarmiento tornou-se um dos grandes nomes argentinos como educador,
jornalista, diplomata e militar. É referência no desenvolvimento da educação e da
história argentina, além de, segundo Maria Lígia Coelho Prado, suas obras
“contribuírem para uma reflexão sobre a posição do Brasil na América Latina”.
O fato da influência indireta de Facundo na educação de Sarmiento, juntamente
com sua atuação política, motivou o livro “Facundo: Civilização e Barbárie”, escrito em
meio ao exílio no Chile. A obra polêmica traz uma reflexão sobre o Caudilhismo e é
uma afronta direta ao regime de Juan Manuel de Rosas.
Em sua vida política, criou meios para uma educação popular, mantendo por
questão principal a administração e financiamento, e revolucionou a política
educacional. Viajou o mundo em busca e análise de diversos modelos educacionais
e reflexões políticas que, graças a seus registros, trouxe significativas mudanças no
cenário político argentino. Escritor, publicou entre suas obras mais importantes
Facundo o Civilización y Barbarie, Recuerdos de Provincia e La Educación Popular.
Ainda sobre a obra de Sarmiento, cabe ressaltar a dificuldade de encaixá-la em
um gênero, pois trabalha uma biografia, questões políticas e também sociológicas.
Com a dualidade civilização x barbárie presente no subtítulo, o autor traz uma questão
central na construção da identidade e nação argentina. Mesmo sendo um marco para
a literatura argentina, a obra é bastante criticada por seus equívocos históricos, e o
Sarmiento mesmo os justifica, deixando claro seuas razões em cometê-los.
É irônico pensar que a obra de maior prestígio de Sarmiento seja focada em
um adversário, um homem que se opôs a aquilo que Sarmiento considerava nobre.
Entre a civilização e a barbárie, Facundo Quiroga era aquilo que melhor representava
um bárbaro. Sua história é retratada na segunda parte do livro – capítulo V a XIII.
Sarmiento o vê como um produto natural da sociedade argentina num determinado
ponto de sua evolução, devido às conjunturas e situações que se desenvolveram.
Como dito por Maria Ligia Coelho Prado em América Latina no século XIX”, “Seu “tipo
de primitivo barbarismo”, “seu instintivo ódio ás leis”, “sua vida de perigos”, sua
“ferocidade”, que o aproximavam de um animal selvagem, construíam os típicos
produtos do campo argentino, onde não havia associação nem espírito público.”. Aqui,
coloca em destaque a dicotomia que é trazida no título civilização e barbárie, que
marca a história da Argentina.

Juan Facundo Quiroga (1788-1845) foi um caudilho, proveniente de La Rioja e


nascido em uma família de proprietários rurais. Teve pouca escolaridade formal,
aprendendo o básico de ler e escrever. Mostrando seu caminho, dito em “depois de
chegar à idade adulta, a vida dele se perde num intricado labirinto de voltas e revoltas;
oculto umas vezes, perseguido sempre, jogando, trabalhando como peão, dominando
tudo o que se aproxima dele e distribuindo punhaladas.”. Sarmiento salienta o
crescimento do poder de Facundo, os caminhos tomados, as barbaridades cometidas,
as batalhas travadas, que levaram o mesmo a se tornar o mais forte e poderoso
caudilho do interior. A exposição das batalhas é o meio pelo qual Sarmiento mostra
toda a ascensão de Facundo. Sobre o governo deste, diz: “o terror, a barbárie, o
sangue escorrendo todos os dias”.

Em Buenos Aires, Juan Manuel de Rosas mantinha influência e alianças com


diversos caudilhos por todo o território argentino; Sarmiento, ao tratar de Facundo e
Rosas, faz um comparativo entre Marco Aurélio e Otávio, notáveis que dividiam poder
e espaço no império romano.

Entre os dois caudilhos, Sarmiento caracteriza Rosas como alguém que nunca
se enfurece, um calculista, e do recolhimento de seu gabinete eram expedidas as
ordens aos seus sicários. Facundo era um homem temido pelos seus inimigos, por
civis, por seus comandados, que muitas vezes iam com intensa investida nas batalhas
menos por desejo de vencer o adversário do que medo de seu líder, além disso, pode
se dizer que Rosas e Quiroga eram temidos até por seus próprios companheiros.

No entanto, o autor ressalta que Quiroga não era cruel ou sanguinário, mas um
bárbaro somente, alguém que não sabe conter suas paixões. Este quadro traz a
dicotomia apresentada no título do livro, “civilização e barbárie”, os dois antagonismos
que se enfrentam na Argentina do período.

Então, mais que a selvageria e barbárie, Facundo representa o retrocesso


contra o qual Sarmiento escrevia, representava os ideais que impediam o avanço da
civilização na Argentina, a imagem do bárbaro gaúcho deveria dar lugar ao homem
ilustrado aos moldes europeus com um fim comum de liberdade de pensamento,
igualdade perante a lei e zelo pelo bem comum.
Na parte a que se convencionou ser a terceira parte do livro, capítulos XIV e
XV, temos um breve apanhado do governo de Rosas e a constatação da necessidade
de se estabelecer um novo governo na Argentina.
Sobre o governo de Rosas, Sarmiento destaca suas atitudes deploráveis e
tiranas para com o povo argentino. Para sustentar seu poder, o caudilho utilizou
diversos artifícios, tais como a propaganda de si, a força policial (Mazorca) e a
proibição da atividade dos correios, de modo a evitar a difusão de ideias contrárias. A
ação de Rosas é associada à de um criador de gado, como se observa em “a faixa
colorada que crava em cada homem, mulher ou criança é a marca com que o
proprietário reconhece seu gado”. São denunciados, pois, todos os horrores levados
a cabo por Rosas.
No que diz respeito à administração, nota-se que Rosas, apesar de se
pretender federalista e incitar o ódio aos unitaristas, realizou certo movimento de
unificação no território argentino, assimilando cada vez mais províncias sob seu
poderio. Além disso, empreendeu um plano externo, buscando dominar regiões
vizinhas, envolvendo-se em diversas guerras.
Com o bloqueio continental realizado pela França a Buenos Aires, o sentimento
anti-estrangeiro, que já era forte, intensificou-se ainda mais. Rosas repudiava os
costumes, vestimentas e ideias vindas da Europa, o que fez de seu governo um tanto
quanto refratário às tendências intelectuais em voga.
Acerca da análise da situação política e proposição de uma nova forma de
governo, Sarmiento destaca que a dureza de Rosas fez com que vários segmentos
da população migrassem para outros países, notadamente para o Uruguai. Ali, novas
ideias e influências foram assimiladas, fazendo com que os argentinos expatriados
modificassem seu pensamento e visão de mundo. A ênfase, aqui, se dá ao novo grupo
de intelectuais unitários (entre os quais encontramos Sarmiento), cujos fundamentos
se centram principalmente em princípios iluministas, que prezam pela razão, cultura,
modernização e civilização. Esses jovens fazem frente ao regime e difundem seus
ideais.
Nas páginas finais do livro, Sarmiento nos recorda das posições de Rosas,
prejudiciais ao modelo civilizacional difundido, e oferece-nos as propostas do novo
governo ideal, as quais envolvem: expansão do comércio interno e indústria, incentivo
à imigração estrangeira, exploração dos rios, ampliação da educação, liberdade de
imprensa, apoio dos ilustrados ao governo, justiça, respeito a ideias divergentes,
harmonia com países vizinhos e estrangeiros, entre outras.
Conforme observamos no decorrer desse texto, podemos concluir que
Domingos Sarmiento foi um autor de grande importância, não só no âmbito da política,
mas também para a cultura argentina e dos países hispano-americanos. Como citado
no início do texto, com “Facundo: civilização e barbárie”, diversos aspectos da
modernidade americana foram idealizados, usando de influências iluministas para
essa análise que até hoje é referência se tratando desse debate.
Através das obras de Antonio Mitre e Maria Ligia Coelho Prado, podemos ver
outras possíveis analises dessa obra, como a visão historiográfica que pessoas a
favor e contra Facundo tinham ou mesmo como aspectos na vida de Sarmiento o
influenciaram na maneira de pensar e escrever. Mitre, por exemplo, apresenta as
diversas maneiras que se pode ler Facundo, seja como uma crônica, seja mostrando
faces autobiográficas e sociais para essa demonstração cultural e histórica de seu
país; Já Maria Ligia Coelho nos apresenta facetas de diversos autores
contemporâneos, incluindo pensadores brasileiros. Um exemplo de pensador que é a
favor de Sarmiento é Jorge Luis Borges, que escreveu um prefácio ao Facundo e
Recordações da Província, acredita que “Sarmiento é o homem mais importante que
este país produziu. Creio que é um homem de gênio, e creio que. se houvéssemos
decidido que nossa obra clássica seria o Facundo, nossa história haveria sido
diferente.”. Outros porém, não concordam, criticando-o por se parecer como um “[...]
romance biográfico, ora como panfleto político ou mesmo como estudo sociológico.
Em suma, vemos grande complexidade por parte das obras e do próprio
Sarmiento, ao ler Facundo e entender o contexto que se trata, devemos sim fazer
críticas, contudo, não podemos negar que a obra é extremamente importante para a
análise de um povo, de sua cultura, seus ideais e sua história.
O fato é que a figura de Sarmiento se tornou um dos símbolos nacionais
argentinos. Seus feitos durante o mandato como presidente alavancaram o país e
estiveram sintonizados com a bandeira levantada por ele até ali. Exemplo de sua
importância e de seu legado na História da Argentina é a existência de um hino em
sua homenagem, bem como a sua imagem estampada nas notas de cinquenta pesos
que circulam no país.

BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS

SARMIENTO, Domingo Faustino. Facundo: civilização e barbárie. Petrópolis: Vozes,


1997
COELHO, Maria Lígia Prado. Para Ler o Facundo de Sarmiento. In: América latina no
século XIX: tramas, telas e textos. São Paulo: Edusp; Bauru: Edusc, 1999.
MITRE, Antonio. A Parábola do Espelho: Identidade e Modernidade no Facundo de
Sarmiento. In: O dilema do centauro: ensaios de teoria da história e pensamento
latino-americano. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.
POMER, León (org.). Sarmiento. São Paulo: Ática, 1983.
https://www.youtube.com/watch?v=xXsSBuDxo1g acesso em 12/10/2018 às 20:10.
https://www.youtube.com/watch?v=4oqn8h1XXno acesso em 12/10/2018 às 12:50.
http://www.periodicos.ufc.br/amerindia/article/download/1567/1419 acesso em 14/10/2018
às 11:00.
http://www.scielo.br/pdf/nec/n89/11.pdf acesso em 14/10/2018 às 11:00.
https://www.youtube.com/watch?v=foHkw3GtBF4&index=1&list=PL3ADF4A91E480A611
acesso em 14/10/2018 às 15:00.
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/19336/19336_4.PDF
file:///C:/Documents%20and%20Settings/Administrador/Meus%20docume
ntos/Downloads/1568-2936-1-PB%20(1).pdf
www.ufjf.br/revistaipotesi/files/2011/05/10-Sarmiento-e-seu-livro-na-
travessia-americana.pdf

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