Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA
BIOTECNOLÓGIA NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
PRODUÇÃO DE VINAGRE
SÃO CRISTÓVÃO
2019
INTRODUÇÃO
Assim como a cerveja, pão, queijo, iogurte e kefir, o vinagre é um produto obtido através de
processo fermentativo. Seu nome é originario da língua francesa, derivado dos termos "Vin" – vinho e
"Aigre" – amargo. Sugere-se que esse surgiu no mesmo período que o vinho, levando em consideração o
significado da palavra, apesar de não haver registros que comprovem a época de sua criação.
Originalmente era obtido pela fermentação acética espontânea de vinhos e cervejas na presença de ar
(AQUARONE et al., 2001).
No Brasil por definição o vinagre é caracterizado como um fermentado acético obtido da
fermentação acética do fermentado alcoólico de mosto de frutas, mel, cereais, vegetais, ou ainda de mistura
hidroalcoólica. Deve apresentar acidez volátil mínima de 4,00 (quatro) gramas por 100 mL, expressa em
ácido acético, podendo ainda ser adicionado com vegetais, partes de vegetais ou extratos vegetais
aromáticos ou de sucos, aromas naturais ou condimentos (BRASIL, 1999).
Ao longo da historia humana, o vinagre foi muito utilizado como condimento e conservante
alimentício, possui propriedades nutritivas e de regulação do intestino consideradas como complementos
indispensáveis à alimentação. Além do ácido acético, o produto apresenta outros constituintes como
aminoácidos, compostos fenólicos, ácidos orgânicos não voláteis, vitaminas e minerais (ABUD; SILVA;
ARAÚJO, 2012; JOHNSTON, 2006).
O vinagre é obtido através de um processo biotecnológico que compõe uma solução diluída de
ácido acético, elaborada por dois processos em sequencia: a fermentação alcoólica, quando o açúcar é
convertido em etanol; com a utilização da levedura, especialmente das espécies Saccharomyces, e a
segunda reação utiliza microrganismos da família Pseudomonodaceae, como bactérias do gênero
Acetobacter que produzem uma oxidação fermentativa, transformando álcool em ácido acético. A indústria
costuma utilizar culturas mistas dessas bactérias acéticas. No geral, elas são gram-negativas ou gram-
variáveis, são aeróbias, não esporulantes. Desenvolvem-se melhor em pH entre 5 e 6,5, mas podem
crescer em pH entre 3 e 4. Em contra partida ao seu uso na produção de vinagres, sua presença no
processamento de cervejas e vinhos causam a deterioração, por esse motivo é fundamental que a
produção dessas bebidas alcoólicas ocorra exclusivamente em anaerobiose (MARQUES, 2008 apud
SCHMOELLER, 2011; ZILIOLI, 2011).
OBJETIVO
Apresentar como é realizado o processo de criação do vinagre através dos fermentados acéticos,
abordando a legislação, a forma de obtenção e tipos de vinagre.
Existem regulamentações que deve ser seguidas para uma produção dos fermentados acéticos no
Brasil, e são respaldada pelas seguintes legislações:
Decreto n. 6871, 04 de junho de 2009, que conceitua o termo fermentado acético, lista quais são
as principais matérias primas utilizadas na produção de vinagre, a exemplo os cereais, permite aditivos e
estabelece a nomenclatura (BRASIL, 2009).
Instrução Normativa nº 55, de 18 de outubro de 2002 que vem tratar dos procedimentos técnicos
relacionados a nomenclatura nos rótulos na produção de bebidas, vinagres e vinhos. Traz consigo
definições das principais informações contidas nos rótulos, também uma série de normas de padronização
para denominação (nomenclatura), layout da embalagem, altura do recipiente entre outras exigências
(BRASIL, 2002).
CLASSIFICAÇÃO DO VINAGRE
A matéria-prima utilizada para a elaboração de um vinagre ira depender da disponibilidade que cada
país poderá oferecer. Como podemos observar que países ao redor do globo utilizam diferentes fontes de
matéria prima como na Itália, França, Espanha e Grécia predominam-se a produção de vinagres
provenientes de vinho. Na Ásia, o vinagre é produzido geralmente a partir do arroz, polido ou não (RIZZON;
MIELE, 1998), enquanto que nos no Norte da America e Inglaterra a partir da sidra e do malte já a
Alemanha do derivado do álcool. E aqui no Brasil, há uma grande produção de vinagres a partir do álcool de
cana-de-açúcar e vinho. Além da escolha da matéria-prima (Embrapa, 2006), a produção de um bom
vinagre depende de uma série de fatores como a seleção do microrganismo, a concentração do vinagre
colocado no mosto como veículo de bactérias acéticas, a concentração do álcool, a temperatura de
fermentação e a quantidade de oxigênio, dentre outros (SPINOSA, 2002).
A partir da década de 1950 houve Grandes avanços na tecnologia do vinagre, porém, a partir de
1960, Heinrich Frings desenvolveu a tecnologia do fermentador Frings, onde a partir de então pode ser
produzindo vinagres pelo método submerso, com alta eficiência, possibilitando a utilização de diversas
matérias-primas, atingindo concentrações acéticas favoráveis em curto espaço de tempo e em grande
volume.
Segundo Tessaro et al. (2010), o vinagre pode também ser extraído de frutas, como a mangaba, e
mesmo assim irá ter características nutricionais superiores aos vinagres normais, além de ser mais
saboroso em comparação a outros tipos de vinagres. Muitas empresas produzem esse tipo de vinagre
aproveitando as frutas que seriam descartadas do mercado por não apresentarem qualidade ou aparência
compatível com a comercialização in natura, diminuindo assim o desperdício desnecessário e ainda obtendo
uma fonte de renda.
Fermentação Colocação da
Rotulagem
Acética Tampa
Estocagem/ Lavagem de
Expedição
Envelhecimento frascos
Filtragem Pasteurização
FERMENTAÇÃO ACÉTICA
Define-se por fermentação um processo de reações químicas controladas por enzimas, onde
acontece a quebra de moléculas orgânicas mais complexas em compostos mais simples, de modo a liberar
certa quantidade de energia (MENEGUZZO; RIZZON, 2006).
Já a fermentação acética ocorre quando o álcool é transformado, através da ação de bactérias
acéticas, em ácido acético, nesta fermentação as bactérias também chamadas por bactérias acetificadoras,
constituem um grupo de microrganismos de amplo interesse econômico, por dois aspectos, um, pela sua
função de produção de ácido acético e, outro, pelas alterações que causam em bebidas e alimentos
(HOFFMANN, 2006).
As principais espécies de Acetobacter, utilizadas na fabricação de vinagre, apresentam-se nas
formas de bastões e cocos, isolados ou formando correntes e cadeias.
Pesquisas revelam que o melhor rendimento dessas bactérias, com relação à temperatura, ocorre
entre 25°C e 30°C, embora sejam capazes de suportar temperatura mínima de 4°C a 5°C e máxima de
43°C. Entretanto, temperaturas abaixo de 15°C e maiores que a 35°C tornam mais lenta a fermentação
acética, pois nessas condições a atividade biológica bacteriana é reduzida (IVANOVI, 2011).
Em relação ao álcool, a maioria das espécies suportam teores de até 11,0% v/v. Já em relação ao
ácido acético, geralmente conseguem suportar até 10,0% v/v. Há necessidade estrita de oxigênio para que
o processo de acetificação ocorra, pois os microrganismos são aeróbia e multiplicam-se na parte superior
do líquido em fermentação (HOFFMANN, 2006).
Nesta etapa, além da formação do ácido acético, ocorrem outros processos bioquímicos como
formação de ligação éster e são produzidas outras substâncias em menor quantidade, como o furfural.
Esses processos e substâncias são subprodutos que auxiliam no sabor e odor característicos do vinagre
(DURÁN, 2010).
O processamento desse vinagre se dá por diversos métodos. Entre eles, os mais conhecidos são os
processos: lento, rápido e submerso.
PROCESSO LENTO
PROCESSO RÁPIDO
PROCESSO SUBMERSO
OUTROS TIPOS
Existem ainda outros métodos para a fabricação de vinagre como o de gerador por mergulho,
processo Bourgenois, processo Fardon, processo Mackin ou de gerador por sifonagem. Porém, não são tão
utilizados quanto os três descritos anteriormente, que são os principais e representam o desenvolvimento do
processo de fabricarão do vinagre, em escala semi-industrial e industrial (SPINOSA, 2002).
Segundo a EMBREPA (2006) o durante a produção do vinagre ele pode sofrer a alterações, que
têm como causa principal a falta de condições higiênicas durante o processo de elaboração.
As principais alterações as quais o produto pode estar sujeito são devidas aos seguintes agentes:
Anguilula do vinagre (Anguillula aceti): nematóide de cerca 1 mm a 2 mm de comprimento
causador de odores desagradáveis e aspecto indesejável, no geral, são mais facilmente encontrados em
vinagres fracos, mesmo não causando prejuízo a saúde;
Mosquinha do vinagre (Drosophylla melanogaster): esse inseto é responsável pelo transporte
de vários agentes infectantes ao vinagre.
Elementos químicos: a quando em concentrações elevada de ferro e o cobre é responsável por
causar escurecimento e turvação, além de transmitirem sabor metálico ao vinagre;
Microrganismos diversos: vários podem ser os organismos causadores de alterações em
vinagres, capazes de tornando-o, em casos extremos, impróprio para o consumo, como bactérias, fungos
e alguns ácaros.
PROCESSOS COMPLEMENTARES
CLARIFICAÇÃO
A clarificação é uma etapa complementar na produção de vinagre que tem como objetivo tornar o
produto límpido e cristalino, retirando todas as substâncias em suspensão e em dissolução responsáveis
pelo escurecimento presentes na bebida. O processo lento dispensa a necessidade de clarificação, pois
devido o longo tempo de armazenamento já apresenta aspecto límpido. Por outro, o processo submerso
leva a obtenção de vinagres turvos devido à presença de substâncias e partículas em suspensão, desta
forma, se faz necessário passar pelas etapas de filtração e clarificação.
No Brasil a legislação informa que podem ser empregados métodos físicos ou químicos para
realização dessa etapa. O processo, segundo alguns autores, pode ser feito de forma natural ou com o
emprego de coadjuvantes. A primeira consiste em deixar o vinagre em repouso absoluto para sedimentação
de todas as impurezas em suspensão, o que pode levar alguns meses, e ao final é feita a trasfega. Podem
ser usadas argilas, como a Bentonita ou Caolin, para auxiliar o método (BRASIL, 1997; AQUARONE 1983;
PAZUCH, 2005).
ENVELHECIMENTO
O objetivo do envelhecimento é trazer ao vinagre sabor e aroma mais suave eliminando a aspereza
característica do produto. Esse processo é realizado, principalmente, com aqueles a base de malte ou
extrato de frutas, pois nos vinagres de álcool poucos benefícios são adquiridos nessa etapa. A depender da
matéria prima é necessário passar mais tempo envelhecendo, podendo durar de meses ate um ano
(AQUARONE 1983).
A bebida permanece em repouso em tonéis de madeira, onde ocorre a oxidação dos aldeídos,
principalmente do acetaldeído que confere aspereza ao produto, além da produção de ésteres aromáticos,
que mesmo após o engarrafamento continuam a serem formados (SACHS, 2001; AQUARONE 1983).
FILTRAÇÃO
PASTEURIZAÇÃO
AQUARONE, Eugênio. Alimentos e bebidas produzidos por fermentação. Edgard Blucher, 1983;
DURÁN, E.; PALMA, M.; NATERA, R.; CASTRO, R.; BARROSO, C. G. New FT-IR method to
control the evolution of the volatile constituents of vinegar during the acetic fermentation process.
Food Chemistry, v.121, n. 2 p. 575-579, 2010;
EBNER, H.; SELLMER, S.; FOLLMAN, H. H. Acetic acid. In: REHM, H.J, R. G (Eds.),
Biotechnology, Wiley-VCH, Weinheim. p. 381–401, 1996. V6;
Embrapa. Uva e Vinho. Sistemas de Produção, 13. ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica Dez./2006
GAVA, Altanir Jaime; DA SILVA, Carlos Alberto Bento; FRIAS, Jenifer Ribeiro Gava. Tecnologia de
alimentos. NBL Editora, 2009;
JOHNSTON, Carol S.; GAAS, Cindy A. Vinegar: medicinal uses and antiglycemic
effect. Medscape General Medicine, v. 8, n. 2, p. 61, 2006;
SOLIERI, L.; GIUDICI, P. Yeasts Associated To Traditional Balsamic Vinegar: Ecological And
Technological Features. International Journal of Food Microbiology, v. 125, n. 1, p. 36–45, 2008;
TESSARO, D. et al. Avaliação das fermentações alcoólica e acética para produção de vinagre a
partir de suco de laranja. Acta Scientiarum. Technology, Maringá, v. 32, n. 2, p. 201-205, 2010.
VELOSO, Camila Leão. Sistema de produção de vinagre. Instituto Euvaldo Lodi – IEL/BA
22/5/2013