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temas de reabilitação

agentes físicos
magnetoterapia
laserterapia
vibroterapia
ondas de choque
e colaboradores
Pedro Soares Branco
temas de reabilitação
agentes físicos
magnetoterapia
laserterapia
vibroterapia
ondas de choque

Pedro Soares Branco


Assistente Hospitalar do Serviço de Medicina Física e de
Reabilitação do Hospital de Curry Cabral.
Assistente Convidado da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Nova de Lisboa – Unidade de Ensino de Medicina
Física e de Reabilitação.

Duarte Martelo, Hugo Constantino, Marina Lopes, Ricardo José,


Rita Tomás e Tiago Carvalho
Internos do Internato Complementar de Medicina Física e de
Reabilitação – Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do
Hospital de Curry Cabral.
Ficha Técnica

temas de reabilitação
Agentes Físicos
Magnetoterapia
Laserterapia
Vibroterapia
Ondas de choque

Texto
© Pedro Soares Branco e colaboradores

Edição
© Medesign – Edições e Design de Comunicação, Lda
Rua Gonçalo Cristóvão, 347 (Centro Empresarial Mapfre) – s/217
4000-270 Porto · Portugal
Telf. 222001479 Fax. 222001490
medesign@netcabo.pt

Pré-Impressão
Medesign, Lda

Impressão
Inova – Artes gráficas

Depósito Legal
230779/05
Agosto 2005

Edição exclusiva para:


Sanofi Aventis / NIMED

5000 exemplares

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
armazenada em qualquer suporte ou transmitida por qualquer forma (electrónica, mecânica ou
outra) sem permissão expressa dos editores.

Os autores e editores fizeram todos os esforços para assegurar a exactidão da informação


presente neste livro, mas não se responsabilizam por quaisquer erros ou omissões. Assim, e
também porque a investigação médica avança constantemente a grande ritmo, recomenda-
se ao leitor que complemente a sua formação através de uma avaliação pessoal dos métodos
terapêuticos referidos e das respectivas condições de utilização.
Ao Professor Doutor Mário Moura, junto do qual dei os primeiros passos
na aprendizagem da especialidade e, mais tarde, no seu ensino.

Ao Dr. Luís Pires Gonçalves, médico, humanista e homem de invulgar


cultura, pelas suas qualidades tão raras quanto inspiradoras.
Índice

Temas de reabilitação
Agentes Físicos

Introdução ................................................................ 09

01 magnetoterapia ................................................... 11
Terapia por campos magnéticos

02 laserterapia ........................................................ 21
Terapia por laser

03 vibroterapia (ultrassonoterapia) .................... 33


Terapia por ultra-sons

04 ondas de choque .................................................. 45


Terapia por ondas de choque extra-corporais

Bibliografia ............................................................... 60

Agradecimentos ........................................................ 63
8·9
Introdução

Embora geralmente associada à Medicina Física e de Reabilitação, a uti-


lização de agentes físicos com fins terapêuticos transcende em muito o
âmbito desta especialidade, ocorrendo frequentemente quer noutras
áreas médicas, como a medicina geral e familiar, a orto-traumatologia,
a reumatologia ou a medicina desportiva, quer em áreas não médicas,
como a fisioterapia. No entanto, malgrado a crescente difusão destas
modalidades terapêuticas, os fundamentos teóricos que regem a sua
aplicação continuam a ser largamente desconhecidos. Muitos técnicos
de saúde envolvidos na prescrição e utilização de agentes físicos co-
nhecem mal, ou não conhecem de todo, as suas características, doses
e tempos de administração, indicações e contra-indicações. Tal facto
acarreta riscos para o doente, produz maus resultados e representa
uma sobrecarga inútil para o sistema de saúde. Prescrever “electrote-
rapia” ou “ultra-sons” é tão inútil e inconsistente como seria escrever
“antibiótico” numa receita.

A utilização terapêutica de agentes físicos perde-se na noite dos tem-


pos, existindo, por exemplo, descrições sobre a utilização, pelos anti-
gos egípcios, de enguias eléctricas no tratamento das crises de gota.
De Aristóteles a Einstein, a história dos agentes físicos está repleta de
nomes ilustres, como Galvani, Muller, Volta, Faraday e Duchenne, para
citar apenas alguns. É imperativo que a investigação continue, sistema-
tizando indicações, normalizando formas de actuação e rejeitando de-
finitivamente tudo o que se prove ineficaz. Mas para que isso aconteça,
a utilização dos agentes físicos segundo os princípios que hoje se consi-
deram mais adequados é uma condição fundamental. Este trabalho pre-
tende apenas alinhar, de forma tão clara quanto possível, um punhado
de noções básicas sobre alguns dos agentes físicos mais frequentemen-
te utilizados: campos magnéticos, lasers, ultra-sons e ondas de choque
extra-corporais. Noutro volume será tratada a utilização de frio, calor
superficial, calor profundo e correntes eléctricas. O seu objectivo não
é dispensar a leitura de outros textos, mas pelo contrário sublinhar a
importância dessas leituras, alertando para a enganosa simplicidade
dos agentes físicos e para a necessidade de basear a sua prescrição
nos princípios científicos que devem reger toda a actividade médica.
magnetoterapia
terapia por campos magnéticos

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magnetoterapia
terapia por campos magnéticos

Definição:

A magnetoterapia consiste na utilização de campos magnéticos


com fins terapêuticos, aproveitando a influência destes nas car-
gas eléctricas e iónicas do organismo. A primeira referência aos
efeitos terapêuticos dos campos magnéticos surgiu no início do
século XVI com Paracelsus, mas só recentemente se desenvolveu
um verdadeiro interesse quanto aos efeitos biológicos dos cam-
pos magnéticos e à sua utilização na prática clínica.

A magnetoterapia visa no essencial a estimulação metabólica


mediante aporte de energia magnética. Importa distinguir a
aplicação de campos magnéticos produzidos através da corren-
te eléctrica (magnetoterapia propriamente dita) dos obtidos
através de ímans (imanterapia) e ter presente que todos os se-
temas de reabilitação · magnetoterapia

res vivos se encontram sob a influência do campo magnético


terrestre, cuja intensidade média se situa actualmente entre 0,4
e 0,5 Gauss.
Propriedades físicas

O campo magnético estabelece-se entre dois pólos, norte e


sul, sob a forma de linhas. A intensidade do campo magnético
expressa-se em Oersteds. O campo magnético afecta de forma
distinta as diferentes substâncias, fenómeno denominado por
indução magnética e expresso em Tesla ou Gauss. A indução
magnética não é mais do que o produto da intensidade do
campo magnético pela “permeabilidade magnética” duma
substância.

Tesla (unidade do Sistema Internacional) e Gauss são medidas


de densidade de linhas magnéticas por unidade de superfície.
1 Tesla [T] equivale a 10.000 Gauss [Ga]. No organismo huma-
no a indução magnética é praticamente igual à intensidade do
campo magnético pelo que se generalizou, ainda que de forma
equívoca, o uso do termo intensidade para designar indução.

Os aparelhos disponíveis possuem geralmente um limite máxi-


mo de 100 Gauss, embora alguns possam atingir os 200 Gauss.
Importa ter em conta se a energia regulada se refere a um
campo contínuo ou pulsátil, pois neste último caso a energia
fornecida é consideravelmente menor. Aplicam-se intensida-
des médias nos casos em que se pretende obter um efeito anti-
edematoso e trófico. As intensidades baixas estão indicadas
nas situações em que se pretende um efeito analgésico, miore-
laxante e hiperémico. Idealmente dever-se-ia utilizar um medi-
dor de Gauss (gaussímetro) para aferir da quantidade efectiva
de energia aplicada e do correcto funcionamento do aparelho.

A frequência de pulso pode ser fixa (50 Hz, a mais utilizada,


ou 100 Hz) ou variável (entre 1 e 5000 Hz). Valores inferio-
res a 100 Hz são considerados frequências baixas. Os pulsos
magnéticos podem ser de três tipos: campo contínuo, campo
alterno ou campo pulsado. O campo contínuo comporta-se
14 · 15
como um íman clássico; mantém sempre a mesma polaridade e
é gerado por uma corrente contínua. Está indicado quando se
pretende uma acção anti-inflamatória ou trófica em patologia
crónica (norte: processos agudos; sul: processos crónicos).
O campo alterno é composto por ondas sinusoidais negati-
vas e positivas, com inversão constante da polaridade. Está
indicado em patologia crónica do foro reumatológico e em
contracturas musculares. O campo pulsado é composto por
impulsos triangulares, rectangulares ou sinusoidais e mantém
sempre a mesma polaridade.

Equipamento

O equipamento consiste num dispositivo gerador de um campo


preferencialmente magnético (superior a 90%), com possi-
bilidade de regulação da intensidade, frequência, forma da
onda e sentido do campo. Pode ter a forma de um gerador de
corrente, de bobinas ou solenóides de núcleo de ar de dife-
rentes tamanhos, geralmente 20 e 60 cm de diâmetro, de mar-
quesa com solenóide deslizante de grandes dimensões (figura
1), para varrimento de grandes regiões anatómicas (existem
unidades que apresentam dois solenóides colocados em série)
temas de reabilitação · magnetoterapia

Figura 1: Aparelho de magnetoterapia com solenóide deslizante.


Figura 2: Aparelho de magnetoterapia para aplicações localizadas.

ou de aplicadores em formas de placa (quadradas ou redondas)


situados sobre a região a tratar (figura 2). Permite, na maioria
dos casos, regular a forma da onda (modalidade contínua, pul-
sátil ou alterna), a polaridade magnética, o tempo da sessão,
a intensidade, a frequência e a posição do solenóide.

Formas de aplicação
O doente deve ser colocado em posição cómoda. O solenóide
deve envolver a zona a tratar. No caso dos solenóides cilín-
dricos, o membro deve situar-se o mais próximo possível da
superfície do solenóide. Os aplicadores em forma de placa,
reservados para tratamentos mais localizados, devem colocar-
se directamente sobre a pele ou através de gaze seca na zona
a tratar. As sessões devem ter duração de 30 a 60 minutos. A
excepção será o atraso de consolidação óssea, situação na qual
as sessões deverão ser mais prolongadas. O número de trata-
mentos a realizar varia consoante se trate de patologia aguda
ou crónica, com maior número de sessões neste último caso.

Mecanismo de acção e principais efeitos


Admite-se que o campo electromagnético induz uma deforma-
ção mecânica que provoca a reorientação mecânica de molécu-
las e átomos de determinadas estruturas, com a consequente
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alteração da sua configuração espacial. No caso do tecido ós-


seo, por exemplo, atribui-se ao campo electromagnético um
efeito de regeneração quando se consegue suficiente electro-
negatividade na proximidade da zona afectada por um atraso
de consolidação. Para tal aplicar-se-iam 2 bobinas polarizadas
de forma que o pólo norte obtenha a electronegatividade sufi-
ciente para estimular o crescimento do calo ósseo. De acordo
com o efeito Hall, as linhas de força magnética mobilizam os
electrões de forma que estes são atraídos pelo pólo norte e
repelidos pelo pólo sul. Os principais efeitos da magnetote-
rapia são os seguintes:

• Promoção de aporte energético à bomba de sódio-potássio.


• Restabelecimento do equilíbrio iónico da membrana celular,
normalizando o potencial de membrana alterado.
• Minimização do consumo de oxigénio.
• Estimulação da síntese de ATP, AMPc e ADN, favorecendo a sín-
tese proteica, a divisão celular e a produção de prostaglandinas.
• Orientação dos dipolos magnéticos.
• Produção de correntes induzidas intra e extra-celulares.
• Activação dos sistemas oxiredutores a nível dos ribossomas
e da cadeia enzimática da respiração celular.
• Promoção da libertação de substâncias anti-inflamatórias.
• Promoção da formação de calo ósseo por acção magnética
directa e por acção eléctrica do campo induzido, bem como
pelo estímulo das células produtoras de colagénio.
• Melhoria do ordenamento das fibras de colagénio a nível do
foco de fractura.
• Promoção da fixação de cálcio no osso.
temas de reabilitação · magnetoterapia

• Através de um mecanismo de iontoforese, produção de um


aumento de deposição mineral nas fibras de colagéneo, fa-
cilitando a ossificação.
• Estimulação da síntese de ácido hialurónico.
• Estimulação da formação de fibroblastos.
• Activação dos osteoblastos.
• Estimulação da actividade fagocitária dos leucócitos.
• Promoção da formação de novos vasos sanguíneos.
• Aumento da circulação periférica.
• Diminuição da viscosidade sanguínea.
• Estimulação do retorno venoso.
• Melhoria do metabolismo aeróbio.
• Aumento da pressão parcial de oxigénio nos tecidos.
• Aumento da libertação de endorfinas.

Principais efeitos com utilidade terapêutica

Os principais efeitos com utilidade terapêutica da magneto-


terapia incluem: efeito trófico sobre órgãos e tecidos (por au-
mento da pressão parcial de oxigénio e vasodilatação), efeito
anti-inflamatório (decorrente, entre outros, dos efeitos circu-
latórios), discreto efeito analgésico através da acção directa
nas terminações nervosas, libertação de endorfinas e da acção
anti-inflamatória, efeito descontracturante (músculo estria-
do) e anti-espasmódico (músculo liso) por diminuição do tó-
nus simpático, efeito piezoeléctrico com estimulação do calo
ósseo, efeito estimulante sobre a cicatrização de feridas (au-
mento da produção de colagénio), efeito sedativo (aumento
de endorfinas) e efeito relaxante generalizado (relaxamento
muscular e acção hipotensora).

Indicações
Em patologia do aparelho locomotor:
• Atrasos de consolidação de fracturas: maior eficácia no in-
divíduo jovem
• Pseudartroses congénitas e adquiridas
• Artroplastia total da anca: alívio da dor leve a moderada no
contexto de falência da prótese
• Artrodese vertebral
• Osteartrose
• Entorses
• Contusões
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• Tendinites
• Algoneurodistrofia
• Artrite reumatóide
• Osteoporose (eficácia duvidosa)

Em patologia vascular:
• Insuficiência venosa periférica
• Flebites, úlceras varicosas (utilizando intensidades elevadas)
• Doença obstrutiva arterial crónica

Em patologia dermatológica:
• Dermatite atrófica (intensidades baixas)
• Psoríase
• Úlceras de pressão (vantagens na associação com laserterapia)
• Queimaduras

Em patologia neurológica:
• Insuficiência vascular cerebral
• Acidente vascular cerebral
• Esclerose múltipla
• Neuropatias periféricas e lesão nervosa periférica (melhoria
da vascularização e condução nervosa e promoção do proces-
so de reinervação)
• Nevrites e nevralgias

Contra-indicações
Com excepção dos doentes portadores de “pacemaker”, não
existem contra-indicações absolutas. No entanto, deve ser
utilizada com precauções especiais durante a gravidez, bem
temas de reabilitação · magnetoterapia

como na presença de neoplasias e patologia cardíaca. Em orto-


traumatologia, deve ser utilizada com precaução na presença
material de osteossíntese e ainda em situações de pseudar-
trose, fracturas com imobilização deficiente, fracturas com
distância superior a 1 cm entre os topos ósseos e em fracturas
patológicas ou com interposição de tecidos moles. À excepção
de casos pontuais, desaconselha-se a aplicação em simultâneo
com outras modalidade de electroterapia.
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temas de reabilitação · magnetoterapia

terapia por laser


laserterapia

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laserterapia
terapia por laser

introdução:

O termo laser significa “Light Amplification by Stimulated Emis-


sion of Radiation”, ou seja, amplificação luminosa por emissão
estimulada de radiação. Em 1913, Bohr concebeu o modelo ató-
mico para a constituição da matéria, defendendo a existência
de estados energéticos estacionários quantificados. Segundo
este modelo, cada átomo é constituído por um núcleo central de
cargas eléctricas positivas, rodeado por igual número de cargas
eléctricas negativas, distribuídas em várias “camadas” corres-
pondentes a níveis energéticos precisos crescentes. A absorção
de energia por um átomo leva à sua excitação, com passagem de
um electrão para uma camada de energia superior. O regresso
ao estado fundamental, correspondente ao estado de menor
temas de reabilitação · laserterapia

energia de um átomo, faz-se com a libertação da energia ante-


riormente absorvida.

Em 1917, Einstein introduziu o conceito de emissão espontânea


de luz: quando um átomo num estado excitado (E1) regressa ao
estado fundamental (E0), liberta a energia previamente absor-
vida sob a forma de um fotão cuja emissão é espontânea e alea-
tória (figura 3). O efeito laser consiste numa emissão induzida
de luz na qual um átomo previamente excitado é atingido com
um fotão de uma radiação incidente cuja energia é exacta-
mente igual a aquela que foi necessária para excitar o átomo
inicialmente. Este átomo volta ao seu estado fundamental res-
tituindo um fotão que terá todos os parâmetros idênticos aos
do fotão incidente (mesma direcção, fase, polaridade e ener-
gia). Assim, é possível obter dois fotões (incidente e induzido)
a partir de um único fotão (figura 4). Estes vão estimular mais
dois átomos, e assim sucessivamente, numa reacção em cadeia
com amplificação considerável da energia inicial. A teoria da
emissão induzida de Einstein só foi demonstrada na prática em
1960 pelo físico norte-americano Theodor Maiman, responsá-
vel pela construção do primeiro aparelho de laser.

Um aparelho de laser apresenta três componentes básicos: o


material activo, a fonte de energia exterior e o oscilador óp-
tico (figura 5). O material activo, que pode ser sólido, gasoso
ou líquido, é composto por moléculas e átomos susceptíveis
de serem facilmente excitados, favorecendo os fenómenos de
emissão estimulada com o máximo rendimento. A fonte de
energia exterior serve para provocar o fenómeno de emissão
estimulada, ou seja, para realizar o “bombardeamento” que
leva à inversão da população (maior número de átomos exci-
tados do que no estado fundamental), indispensável para o
efeito que se pretende. O oscilador óptico ou cavidade oscila-
tória vai permitir a amplificação. É a parte mais complexa do
laser, sendo composta por dois espelhos paralelos, um opaco
e outro semi-transparente.

A emissão estimulada cria uma radiação, que por sua vez vai
estimular mais átomos e permitir um grande número de tran-
sições, levando à amplificação. Para que a amplificação seja
significativa, é necessário que o trajecto que a radiação faz
seja longo, o que se consegue pela utilização dos espelhos.
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Nestes, a radiação é reflectida a cada passagem, percorrendo


uma grande distância e aumentando o número de transições, o
que resulta num ganho energético significativo. O espelho se-
mitransparente permite que uma pequena proporção de fotões
saia para o exterior, formando um feixe com um determinado
comprimento de onda.

E1 E1 E1

ABSORÇÃO EMISSÃO ESPONTÂNEA


E0 E0 E0
Estado fundamental Estado excitado Estado fundamental

Figura 3: Emissão espontânea de luz.

E1 E1

FOTÃO INCIDENTE
E0 E0 EMISSÃO INDUZIDA
Estado excitado Estado fundamental

Figura 4: Emissão induzida de luz.

fonte de energia

“bombardeamento”
temas de reabilitação · laserterapia

feixe LASER

material activo

espelho opaco espelho semi-transparente

Figura 5: Esquema de um aparelho de laser.


Propriedades físicas

O laser apresenta ao seu nível fundamental o fotão, não di-


ferindo neste aspecto da luz “clássica”, mas caracteriza-se
pelo agrupamento de um número considerável de fotões com
o mesmo comprimento de onda. Portanto, mais do que um tipo
de luz, o laser é um efeito aplicável à luz. Todos os tipos de
laser apresentam quatro características comuns: a coerência,
a direcção, a monocromaticidade e a luminiscência. A coerên-
cia significa que todos os fotões se encontram na mesma fase,
isto é, todos oscilam na mesma cadência (ao mesmo tempo e
no mesmo plano). O feixe tem uma única direcção (feixe uni-
direccional), perpendicular aos espelhos. Todos os fotões são
paralelos e praticamente não se afastam no infinito, o que
permite a utilização do laser como ponteiro. A monocromati-
cidade significa que só um determinado comprimento de onda,
dependendo do meio utilizado, é amplificado. A luminiscência
corresponde à concentração de radiações fotónicas por uni-
dade de tempo e de superfície. A grande quantidade de ener-
gia focalizada numa superfície reduzida permite atingir uma
elevada intensidade, permitindo a utilização do laser como
instrumento terapêutico.

O comprimento de onda, inversamente proporcional à frequên-


cia, é específico de cada tipo de laser e serve habitualmente
de base à sua classificação. Outra característica específica, a
potência, reflecte o número de fotões e a energia de cada um
deles. O modo de emissão é determinado pelo tipo de substân-
cia activa. No caso dos sólidos, a emissão é pulsátil, porque
o “bombardeamento” prolongado provocaria um desarranjo
térmico severo, com destruição do material activo. No caso
dos gases, por outro lado, a emissão contínua é possível, e
até mesmo indispensável. Ambos os tipos de emissão permi-
tem modulação, ou seja, variação de intensidade ao longo do
tempo. Existem vários termos utilizados para quantificar e do-
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sear a radiação laser: potência, energia total de tratamento,
energia total por ponto de aplicação, densidade de energia e
densidade de potência.

A potência corresponde à energia libertada num segundo. A


unidade de potência é o watt, que corresponde a 1 joule/seg.
No caso dos aparelhos de emissão pulsátil é necessário calcu-
lar a potência média. A energia total de tratamento, expres-
sa em joules, depende do tempo e da potência de emissão. A
energia total por ponto de aplicação obtém-se ao dividir a
energia total de tratamento pelo número de pontos de apli-
cação. A densidade de energia (ou fluxo energético), expressa
em J/cm2 consiste na relação entre a energia administrada
por um laser e a área de superfície de um ponto (“spot”) de
aplicação. A densidade de potência é um dos parâmetros mais
importantes, porque se relaciona com os diferentes efeitos
sobre os tecidos. Refere-se à relação entre a potência e a área
de superfície de um “spot” e a sua unidade é o W/cm2. Os apa-
relhos de laser usados em Medicina Física e de Reabilitação
têm potências entre 5 e 60 mW, pelo que são considerados
de baixa potência. São essencialmente de dois tipos: os de
Arsénio-Gálio (As-Ga), que emitem, de forma pulsátil, radia-
ção invisível na banda dos infra-vermelhos (figura 6) e os de
Hélio-Néon (He-Ne), que emitem, de forma contínua, radia-
ção vermelha. Pela adaptação de um obturador especial, os
aparelhos de laser de Hélio-Néon podem também emitir de
forma pulsátil.

Ao incidir sobre a pele, a radiação laser está sujeita ao fenó-


temas de reabilitação · laserterapia

meno de reflexão, que é mínima para um ângulo de incidência


de 90°. A reflexão aumenta com a existência de substâncias,
como líquidos ou gordura, sobre a pele. Ao atravessar os vá-
rios tipos de tecidos, a radiação sofre diversos efeitos, que
incluem a refracção, transmissão e absorção. Ao incidir sobre
tecidos com diferentes índices de refracção, a trajectória do
Figura 6: Aparelho de laser de Arsénio-Gálio.

feixe varia, havendo várias reflexões internas, até que cada


fotão seja absorvido. Este conjunto de fenómenos é conhecido
por “scattering” ou dispersão (figura 7). A maior penetração
nos tecidos é obtida com radiação entre 600 e 1100 nm de
comprimento de onda, intervalo no qual emitem os aparelhos
de laser de baixa potência.

RAIO INCIDENTE
reflexo directo

reflexo dérmico
reflexo epidérmico

CAMADA CÓRNEA (10-20 �m)

EPIDERME (40-150 �m)

absorção
absorção epidérmica
epidérmica
“SCATTERING”

absorção dérmica
DERME (1000-4000 �m)

Figura 7: Fenómeno de “scattering” ou dispersão.


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Mecanismo de acção e principais efeitos

Os efeitos do laser sobre os tecidos variam com a densidade


de potência, sendo esta de 0,001-1 W/cm2 em reabilitação.
Nesse intervalo o efeito é atérmico existindo a conversão de
energia lumínica em energia bioquímica, capaz de gerar efeito
bio-estimulante ou analgésico. A pequena dissipação térmica
que necessariamente se produz, num tecido irradiado mais
de 10 minutos, não aumenta a temperatura mais de um grau
Celsius. Com densidades de potência crescentes vai havendo
elevação da temperatura, até se atingir a disrupção mecânica
dos tecidos.

O mecanismo de acção sobre os tecidos parece depender da


existência de foto-receptores, capazes de absorver a radiação
e induzir uma variação no metabolismo celular. A foto-esti-
mulação depende da monocromaticidade da emissão, actu-
ando sobre os vários tipos de foto-receptores dispersos no
organismo. Os efeitos biológicos do laser podem dividir-se em
primários ou directos e secundários ou indirectos. Os efeitos
primários correspondem aos efeitos da radiação a nível celu-
lar, incluindo efeitos bioquímicos, entre os quais o aumento
da síntese de ATP mitocondrial e efeitos bioeléctricos, com
regularização do potencial de membrana. Considerando que
nos processos inflamatórios existe um desequilíbrio iónico na
membrana celular, cuja normalização necessita de um grande
consumo de ATP, o laser poderá contribuir, através dos seus
efeitos primários, para a normalização do metabolismo celular.
temas de reabilitação · laserterapia

Os efeitos secundários decorrem dos efeitos primários, que


permitem aumentar o índice mitótico, activar a formação de
várias proteínas e estimular a micro-circulação. Quando não
existe lesão, não há lugar à produção de efeitos primários,
pelo que associa à radiação laser o chamado efeito eutrófico.
Os efeitos secundários incluem, a nível local, a melhoria na
qualidade e rapidez da cicatrização, a activação dos processos
de regeneração de fibras nervosas, a neoformação de vasos e
a regeneração do tecido ósseo.

As alterações biológicas induzidas pelo laser condicionam


efeitos terapêuticos. O efeito anti-inflamatório, que se en-
contra bem demonstrado, relaciona-se com a estimulação da
microcirculação e a regeneração dos linfáticos, melhorando
a drenagem da zona inflamada. Foi também demonstrado que
os lasers de Hélio-Néon activam defesas humorais específicas
e inespecíficas, modificando as concentrações de prostaglan-
dina E e a histamina. O laser tem uma acção bioestimulante
e trófica, nomeadamente em zonas com depleção celular por
perda de substância, como úlceras, queimaduras, fracturas
ou lesões nervosas. O efeito anti-álgico, demonstrado em
processos agudos e crónicos, relaciona-se com o aumento do
limiar doloroso, inibição da transmissão do estímulo doloroso
e aumento dos níveis de endorfinas.

Normas de aplicação

A aplicação terapêutica de laser deve respeitar um conjunto de


regras básicas. É indispensável a utilização de óculos de pro-
tecção específicos para o comprimento de onda usado, tanto
pelo doente como pelo técnico que efectua o tratamento (fi-
gura 8). A sala de tratamento não deve ter superfícies reflec-
toras (espelhos, vidros, superfícies metálicas). A pele da zona
de tratamento deve ser cuidadosamente limpa e a aplicação
deve ser perpendicular à pele, devendo os vários pontos de tra-
tamento distar 0,5 a 2 cm entre si. No final de cada tratamento
deve proceder-se à limpeza e verificação da ponteira laser.

A maior parte dos autores refere que a melhoria deve ser ve-
rificada por ocasião da sexta sessão de tratamento, devendo
o número total de sessões ser, em média, de dez. A escolha
do tipo de laser a utilizar deve ter em consideração o facto
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Figura 8: Óculos de protecção para aplicação terapêutica de laser.

dos aparelhos de Hélio-Néon produzirem efeitos mais super-


ficiais que os de Arsénio-Gálio. Alguns valores indicativos de
densidade de energia e frequência de emissão, em diversas
situações, são apresentados no quadro 1.

Efeito pretendido Densidade de energia (J/cm2)


Analgésico 2-4
Anti-inflamatório 1-3
Cicatricial 3-6
Frequência de emissão (Hz)
Analgésico e anti-espástico 10-100 Hz
Estimulação trófica 300-600 Hz
Anti-inflamatório 5000-10000 Hz

Quadro 1: Alguns valores indicativos de densidade de energia e


frequência de emissão na utilização terapêutica do laser.
temas de reabilitação · laserterapia

Indicações

As indicações terapêuticas do laser são vastas, incluindo pa-


tologias dermatológicas, neurológicas e músculo-esqueléti-
cas. Encontra-se indicado em traumatismos e contracturas
musculares, entorses, fracturas, cicatrizes, queimaduras e
úlceras, bem como nevralgias, algoneurodistrofias e patolo-
gia músculo-esquelética peri-articular. Está também indicado
nas raquialgias e artralgias periféricas associadas a diversas
patologias, designadamente osteoartrose e artropatias infla-
matórias.

Precauções e contra-indicações

A irradiação da retina representa a única contra-indicação


absoluta em reabilitação. O tipo e grau das lesões na retina
dependem sobretudo do comprimento de onda; os feixes com
comprimento de onda na banda dos infra-vermelhos (As-Ga)
são absorvidos à superfície do olho. Os aparelhos de laser que
emitem radiação vermelha (He-Ne) são mais perigosos, uma
vez que atravessam sem absorção as diferentes estruturas do
olho, concentrando-se na retina. As lesões graves atribuídas
ao laser parecem resultar sobretudo a procedimentos incor-
rectos na sua aplicação. Danos mais ligeiros, causados por
fenómenos de reflexão do laser, só são detectáveis através
do controlo periódico dos técnicos sujeitos a exposições pro-
longadas.

Embora não se tenham demonstrado efeitos do laser de baixa


potência na proliferação de células neoplásicas ou dissemi-
nação de infecções, o laser não é utilizado na presença destas
patologias. No caso de doentes grávidas, os dados existentes
são contraditórios, mas embora possa não existir contra-in-
dicação, o método não é geralmente utilizado. A irradiação
da região tiroideia, pelo seu efeito na elevação dos níveis
hormonais, deve ser evitada. A utilização em doentes medi-
cados com fármacos fotossensíveis deve ser ponderada, pelo
risco de potenciação dos efeitos farmacológicos. A irradiação
sobre próteses metálicas é segura porque os lasers de baixa
potência não têm um efeito térmico significativo. Do mesmo
modo, a utilização em doentes portadores de “pace-makers”
não parece implicar precauções especiais.
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temas de reabilitação · laserterapia
vibroterapia
ultrassonoterapia
terapia por ultra-sons

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vibroterapia
ultrassonoterapia
terapia por ultra-sons

definição:

Os ultra-sons (US) são vibrações mecânicas da matéria seme-


lhantes ao som mas de frequência superior a 20.000 Hz. São
produzidos a partir de uma corrente eléctrica de alta frequência,
transformada em energia mecânica pela passagem através de
um cristal piezoeléctrico (figura 9). Para este efeito utilizou-
se inicialmente o quartzo, preferindo-se hoje em dia materiais
mais resistentes, como o titanato de bário e titanato de chum-
bo-zircónio.
temas de reabilitação · vibroterapia
Figura 9: Aparelho de ultra-sons.

Propriedades físicas dos ultra-sons

Os US propagam-se por fenómenos de dilatação e compressão


da matéria, com transmissão de energia mecânica através de
vibração molecular, podendo refractar-se e reflectir-se. A re-
flexão ocorre quando um feixe de US passa de um meio para
outro com diferente impedância acústica e é, no corpo huma-
no, significativa na transição entre os tecidos moles e o osso.

No feixe de ultra-sons podem considerar-se duas zonas: proxi-


mal e distal (figura 10). A zona proximal, ou zona de Fresnel,
é caracterizada por fenómenos interferenciais que levam à
existência de picos de intensidade superior à ajustada no apa-
relho. Este fenómeno é referido, na literatura anglo-saxónica,
como “Beam Non-uniformity Ratio” e corresponde à relação
entre o valor do ponto de intensidade máxima e da intensi-
dade média na superfície do transdutor. Deve ser tão baixo
quanto possível, aceitando-se valores entre 2 e 6.

Os efeitos terapêuticos dos US ocorrem essencialmente na


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zona proximal. Na zona distal, ou zona de Fraunhofer, o feixe


é divergente e caracteriza-se pela ausência de fenómenos in-
terferenciais, apresentando uma área progressivamente maior
e uma intensidade progressivamente menor com o aumento da
distância ao transdutor/cabeça emissora.

O meio de propagação dos US pode ser sólido ou líquido. O


ar não pode ser utilizado como meio de propagação porque
a interface ar/pele reflecte a quase totalidade do feixe. Na
propagação, as vibrações são difractadas, reflectidas, refrac-
tadas e absorvidas. A velocidade de propagação, que exprime
a distância percorrida por unidade de tempo, varia segundo o
meio de propagação, sendo tanto maior quanto mais densos
forem os tecidos. O comprimento de onda corresponde à dis-
tância entre dois picos consecutivos da onda de pressão e a
frequência, expressa em Hz ou ciclos por segundo, representa
o número de oscilações que uma molécula realiza em 1 segun-
do. Considerando que os US se propagam, nos tecidos moles, a
uma velocidade de 1540 metros por segundo, o comprimento
de onda será de 1,5 mm para uma frequência de 1 MHz.

A impedância acústica representa a resistência à propagação


do som num determinado meio de acordo com a maior ou me-
temas de reabilitação · vibroterapia

Zona proximal Zona distal

Figura 10: Feixe de ultra-sons.


nor capacidade de deformação deste. A absorção corresponde
à transferência de energia do feixe de US para os tecidos. A
absorção dos US aumenta à medida que a frequência aumenta,
devido à fricção interna entre as moléculas para permitir a
passagem do som. Devido à absorção, a intensidade do feixe
vai diminuindo progressivamente, sendo a sua capacidade de
penetração nos tecidos limitada.

O feixe de US transporta uma determinada quantidade de ener-


gia; a quantidade de energia por unidade de tempo equivale à
potência, cuja unidade é o Watt. A intensidade corresponde à
quantidade de energia por unidade de tempo dividida pela super-
fície do feixe e exprime-se em W/cm2. Habitualmente utilizam-
se intensidades entre os 0,5 e os 2,5 W/cm2 e a O.M.S. limita a in-
tensidade dos US, para fins médicos, a um máximo de 3,0 W/cm2.

Efeitos dos ultra-sons sobre os tecidos


orgânicos

Efeito termogénico: as moléculas dos tecidos são submetidas


a vibrações de elevada frequência sendo a energia mecânica
transformada em calor pelo processo de absorção. Os efeitos
biológicos do calor podem assim ser obtidos mediante a uti-
lização dos US, que podem elevar a temperatura tecidular até
profundidades de 5 cm ou mais.

Alguns dos efeitos dos US não podem ser explicados pela ter-
mogénese. Estes incluem a cavitação (efeito vibracional de
expansão e compressão de pequenas bolhas de gás presen-
tes nos tecidos), bem como alterações mecânicas e químicas.
Pode ocorrer aumento da permeabilidade celular, penetração
de água em colóides e transformação de géis em sóis. Em apli-
cações estacionárias de US na sua forma contínua, com inten-
sidades elevadas, pode ocorrer localmente lesão endotelial e
agregação plaquetária.
40 · 41
Como consequência dos efeitos termogénicos e não termogé-
nicos, podem observar-se, a nível dos tecidos, os seguintes
efeitos:

• Alteração do metabolismo local, com estimulação das fun-


ções celulares e da capacidade de regeneração celular, dis-
persão e reabsorção de edemas, aumento da permeabilidade
celular e aumento do pH tecidular.

• Extensibilidade do tecido rico em colagénio, por alteração


das propriedades visco-elásticas do colagénio, com aumen-
to da sua plasticidade. Os tecidos ricos em colagénio, como
tendões, cápsulas articulares e cartilagens, absorvem uma
percentagem do feixe de US 2 a 5 vezes maior do que os
restantes tecidos moles, o que torna esta terapêutica es-
pecialmente direccionada para essas estruturas.

• Alterações circulatórias, com vasodilatação decorrente


quer da libertação de mediadores vasoactivos, incluindo a
histamina, prostaglandinas e a bradicinina, quer de refle-
xos espinais com diminuição da actividade adrenérgica pós-
ganglionar. Ocorre vasodilatação dos vasos de resistência e
um aumento da permeabilidade capilar e das vénulas pós-
capilares.

• Analgesia, com elevação do limiar doloroso das terminações


livres cutâneas e estimulação preferencial das fibras ner-
vosas de grande calibre e de condução rápida (activando o
mecanismo de “gate-control”) a nível medular e inibindo as
temas de reabilitação · vibroterapia

fibras desmielinizadas, mais pequenas.

• Alterações da actividade contráctil do músculo esquelético,


com efeito espasmolítico associado à redução da actividade
do fuso neuromuscular (inibindo o reflexo de estiramento) e
acção indirecta pela interrupção do ciclo dor-contração-dor.
Formas de aplicação

Na aplicação por contacto directo, com utilização de um meio


de interposição adequado (como um gel), a superfície da ca-
beça emissora deve manter um contacto perfeito com a su-
perfície a tratar, sem angulações, exercendo pressão suave
e evitando a interposição de ar de forma a assegurar a mini-
mização do fenómeno de reflexão na interface. A aplicação
subaquática utiliza-se quando a irregularidade da região a
tratar impede a coaptação perfeita entre a cabeça emissora e
a superfície cutânea. Neste modo de aplicação há tendência
para se formarem pequenas bolhas na superfície do transdu-
tor e da pele, devendo-se respeitar uma distância entre ambos
de 0,5 a 3 cm.

No que diz respeito ao movimento efectuado pela cabeça


emissora consideram-se três métodos: estacionário, semi-
estático e dinâmico. No método estacionário, não há mo-
vimento da cabeça emissora. Raramente é utilizado, pois o
rápido aumento da temperatura na área tratada acarreta um
grande risco de lesão. No método semi-estático produzem-
se movimentos rotativos sobre uma pequena superfície e no
método dinâmico, o mais usado, a cabeça emissora é movida
lenta e ritmicamente em amplos movimentos de rotação a uma
velocidade de cerca de 4 cm por segundo.

Modos de emissão

O modo de emissão pode ser contínuo ou pulsátil. O modo con-


tínuo é termogénico e consiste na produção constante de US
pelo transdutor, devendo este ser movimentado suave e lenta-
mente sobre a pele, com mudanças de direcção, de modo que a
energia se distribua de forma homogénea pela zona a tratar,
evitando assim a formação de “pontos quentes” (“hot spots”).
No modo pulsátil os US são emitidos sob a forma de impul-
42 · 43

sos, havendo entre cada impulso uma pausa que permite o


arrefecimento dos tecidos. É desta forma minimizado o efeito
termogénico, permitindo a utilização de potências maiores e a
aplicação, sob certas condições, em processos inflamatórios.

A fonoforese, método cuja validade tem sido questionada,


consiste num sistema de transporte transdérmico que utili-
za os efeitos mecânicos dos US para facilitar a penetração
de medicamentos aplicados topicamente sob a forma de gel.
Pode ser considerada uma variante do método contínuo. Foi
demonstrado em estudos laboratoriais que a transmissibili-
dade dos US através de preparados contendo hidrocortisona
é inferior ao verificado com outros meios de acoplamento. Os
fármacos mais utilizados são anestésicos, substâncias irri-
tantes como o mentol (aplicadas com intuitos analgésicos) e
anti-inflamatórios (esteróides e não esteróides).

Selecção da intensidade e frequência

A selecção da intensidade depende da natureza da afecção a


tratar, do tipo e profundidade do tecido e da modalidade de US
seleccionada. O objectivo terapêutico com US em modo contí-
nuo é elevar a temperatura tecidular numa determinada loca-
lização anatómica. O modo pulsátil ou mesmo o contínuo em
intensidades muito baixas podem ser selecionados quando se
pretende evitar um aumento significativo da temperatura.

Os músculos absorvem duas vezes mais US que o tecido adipo-


so e o osso dez vezes mais. Quanto maior for a atenuação do
feixe de US no tecido alvo menor será a intensidade requerida.
temas de reabilitação · vibroterapia

As altas frequências (3 MHz) são mais absorvidas que as baixas


frequências (1 MHz) pelo que a atenuação do feixe é maior e o
seu efeito ocorre preferencialmente sobre as estruturas mais
superficiais (entre 1 a 2 cm), enquanto as baixas frequências
atingem profundidades até 5 cm (figura 11). Se o objectivo
for o aquecimento de tecidos profundos, por exemplo na anca
ou na região lombar, devem utilizar-se baixas frequências em
Figura 11: Cabeças emissoras de 1 e 3 MHz.

modalidade contínua, com intensidades entre 1,5 e 2,0 W/cm2.


Se, pelo contrário, a região a tratar tiver menos tecidos moles
e tecido ósseo mais superficial, devem seleccionar-se frequên-
cias mais elevadas, com intensidades entre 0,5 e 1 W/cm2.

Número e duração das sessões

A duração da sessão depende da área a tratar e do efeito


pretendido, tendo em conta que em cada 5 minutos se deve
tratar 2 a 3 vezes a área da cabeça do transdutor. O número
e a frequência das sessões dependem da patologia em causa.
Nas situações agudas utiliza-se o modo pulsátil, durante 6 a
8 dias, em sessões diárias. Nas crónicas são necessárias 10 a
12 sessões em dias alternados.

Indicações

Na fase aguda da patologia traumática as indicações são limi-


tadas, pois a ultrassonoterapia, quando demasiado precoce,
pode aumentar a lesão tecidular. No entanto, o facto da acção
44 · 45

mecânica aumentar a estabilidade da membrana e iniciar a


reparação dos tecidos, permite ocasionalmente considerar a
utilização em modalidade pulsátil.

Nas fases subaguda e crónica são benéficos os efeitos térmi-


co, mecânico e coloidoquímico. A ultrassonoterapia melhora
a contractura muscular através da diminuição da actividade
do fuso neuromuscular e da redução da dor e da inflamação.
As patologias ligamentares e tendinosas, com alterações de-
generativas extensas beneficiam da acção trófica dos US, ve-
rificando-se não só um aumento da elasticidade do colagénio,
tornando os US ideais para potenciar o estiramento de retrac-
ções de tecidos moles, mas também para promover o aporte
sanguíneo, com maior disponibilidade celular e humoral e com
aumento da síntese do colagénio. As periostites beneficiam
igualmente do efeito anti-inflamatório e anti-álgico dos US.

A significativa reflexão dos US nas interfaces entre o osso e


os tecidos adjacentes (como ligamentos e músculos), conse-
quência das diferentes impedâncias acústicas dos meios, in-
duz um aumento electivo da intensidade nessas áreas, sendo
portanto mais efectiva a elevação térmica e o efeito terapêu-
tico. É assim legítima a afirmação, tantas vezes repetida, de
que os US são “a terapêutica das interfaces”. Curiosamente,
alguns trabalhos sugerem a possibilidade dos US no modo pul-
sátil, com intensidades na ordem de 0,1 W/cm2, estimularem
a consolidação óssea.

Nas sequelas de luxação e nos entorses, os efeitos anti-infla-


matório e fibrolítico são de grande utilidade, em especial se
temas de reabilitação · vibroterapia

associados a outras modalidades de electroterapia. A remo-


delação cicatricial é estimulada e a extensão dos processos
fibrosantes limitada, daí resultando cicatrizes mais elásticas e
consequentemente um melhor desempenho gestual. Também
no tratamento de úlceras crónicas, os US têm demonstrado
potenciar a taxa de cicatrização, quando aplicados à periferia
e com intensidades reduzidas.
Contra-indicações absolutas

São classicamente referidas as aplicações na região ocular,


pré-cordial, grandes vasos, gânglios simpáticos, ouvidos, gó-
nadas e útero grávido. Os US não devem ser aplicados em áreas
com insuficiência vascular, pelo risco de ocorrer necrose. A
existência de neoplasias, infecções, tromboflebites, coagu-
lopatias, hematomas recentes e “pace-maker” constituem
igualmente contra-indicações absolutas.

Contra-indicações relativas

A ultrassonoterapia deve ser empregue com prudência em zo-


nas anestesiadas, privilegiando o modo pulsátil e as baixas
intensidades, de modo a não produzir efeitos lesivos. A exis-
tência de material de osteossíntese, próteses e “cimentos”
obriga igualmente a cuidados especiais pelos riscos de aque-
cimento ou descolamento do material. O seu uso em cartila-
gens de crescimento deve ser minimizado, pelo risco de lesão
epifisária e atraso do crescimento ósseo mas poderá, dentro
de certos limites, ser viável.

Outros riscos associados à


ultrassonoterapia

Mesmo quando indicada, a ultrassonoterapia pode acarretar


lesões relacionadas com o aumento de temperatura tecidular.
Existe assim a possibilidade de ocorrerem queimaduras, quer
por deficiente mobilização da cabeça emissora, quer por uti-
lização de intensidades excessivas. É também classicamente
referido o risco de embolização associado à aplicação sobre
meios líquidos, pela formação de bolhas gasosas.
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temas de reabilitação · vibroterapia
ondas de choque
terapia por ondas de choque
extra-corporais

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ondas de choque
terapia por ondas de choque extra-corporais

Introdução:

As ondas de choque extra-corporais foram utilizadas na década


de 1980 para o tratamento de cálculos renais (litotrícia). Foi
no decurso desses tratamentos que se perceberam os efeitos
terapêuticos da técnica em patologia do aparelho locomotor
(“extracorporeal shock wave therapy” ou ESWT).

Durante a década de 1990 começou a desenvolver-se a utiliza-


ção das ondas de choque extra-corporais na desintegração dos
depósitos cálcicos de tendinites e aproveitando os seus efeitos
anti-inflamatório e trófico. Finalmente, em 1999, foram criadas
as ondas de choque radiais. Há, portanto, que distinguir ondas
de choque extra-corporais convencionais e ondas de choque ex-
tra-corporais radiais.
temas de reabilitação · ondas de choque

As ondas de choque extra-corporais convencionais assentam


nos princípios da litotrícia, cujos aparelhos geradores podem
ser electrohidráulicos, electromagnéticos ou piezoeléctricos. A
localização da zona de acção deve ser determinada com preci-
são, pelo que exige um aparelho de imagiologia acoplado. O
procedimento é, pelas suas características, dispendioso.
As ondas de choque extra corporais radiais são ondas balísticas
criadas por um percutor propulsionado por ar comprimido, que
se aplica sobre a superfície cutânea, penetrando para tecidos
mais profundos, transmitindo-se radialmente. Os aparelhos
usados (figura 12) são mais baratos e a sua utilização é mais
fácil.

Figura 12: Aparelho de ondas de choque extra-corporais radiais.


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Propriedades físicas das ondas de choque
extra-corporais convencionais

As ondas de choque convencionais são impulsos de pressão


mecânica de muito curta duração (5-10 microsegundos) com
um tempo de instalação de 10 nanosegundos e com uma ener-
gia compreendida entre 0,07 e 1,2 mJ/mm2. Existem três ti-
pos diferentes de geradores: electrohidraúlicos, electromag-
néticos e piezoeléctricos.

Nos geradores electrohidráulicos, coloca-se um eléctrodo


no primeiro ponto focal de um semi-elipsóide e faz-se pas-
sar uma corrente de alta voltagem. Entre as extremidades
do eléctrodo é gerada uma descarga, que leva à vaporização
de água, gerando uma onda de choque. As ondas de choque
são reflectidas por um metal elipsóide e focadas no segundo
ponto focal.

Nos geradores electromagnéticos utiliza-se uma bobine elec-


tromagnética com uma membrana metálica sobreposta. Ao
fazer-se passar uma corrente de alta intensidade pela bobine
gera-se um campo magnético, que por sua vez induz um outro
campo magnético na membrana metálica. Estes campos repe-
lem-se mutuamente criando ondas acústicas de baixa pres-
são. Estas ondas, inicialmente divergentes, são focalizadas
na área de tratamento mediante lentes acústicas.

Os geradores piezoeléctricos são formados por centenas a mi-


temas de reabilitação · ondas de choque

lhares de cilindros piezocerâmicos colocados em duas cama-


das sobre a superfície côncava de uma semi-esfera. Quando
se faz passar uma corrente de alta voltagem pelos cristais, es-
tes contraem-se e expandem-se gerando uma onda de baixa
pressão no meio aquoso envolvente. Esta passa pela segunda
camada piezocerâmica que nesse instante se activa com ou-
tro impulso de alta voltagem. A onda de pressão acumulada
emite-se através da água. Este sistema é auto-focável pela
forma geométrica da esfera.

As ondas produzidas são dirigidas para o corpo do doente


através de um cilindro de ligação flexível preenchido com
água. Um gel comum de ultrassonografia é utilizado como
meio de contacto entre o cilindro e a pele, para minimizar
a perda de energia por reflexão. Para obter a fragmentação
de corpos sólidos, o ponto focal deve coincidir exactamen-
te com o alvo, daí a necessidade do aparelho de imagiologia
(fluoroscopia ou ecografia) para localizar o ponto a tratar.
A libertação de energia é máxima na área focal mas actua
também nos tecidos adjacentes.

Propriedades físicas das ondas de choque


radiais

Este sistema utiliza energia pneumática e balística para a


produção de ondas de choque. As ondas de choque são gera-
das pneumaticamente. Um projéctil situado no cabo é subme-
tido a aceleração com alta velocidade mediante um impulso
de ar comprimido. Quando este projéctil embate contra o
aplicador instalado no cabo, a sua energia cinética conver-
te-se em energia mecânica e é transmitida ao longo da cabeça
emissora, que se aplica sobre a superfície cutânea. A zona
de acção tem a forma de cone, cujo vértice corresponde ao
ponto de impacto (no qual a energia é máxima) e cuja base se
localiza a cerca de 35 mm (e na qual a energia se esgota). Esta
técnica não necessita de controlo imagiológico, uma vez que
o ponto de impacto se faz coincidir com o ponto de máxima
dor descrito pelo doente (figura 13). A superfície de desloca-
ção à volta do ponto doloroso deve ser a menor possível, no
sentido de aumentar a eficácia. O aplicador deve ser aplicado
perpendicularmente à superfície e o tratamento deve ser fei-
to com movimentos circulares.
54 · 55
Figura 13: Aparelho de ondas de choque extra-corporais radiais.

Efeitos biológicos das ondas de choque


extra-corporais convencionais

A pressão positiva da onda de choque e o curto tempo de


instalação são os responsáveis pelo efeito directo das ondas
de choque. A onda de tensão, correspondente à fase de pres-
são negativa, é responsável pelos efeitos indirectos, através
de um efeito de cavitação (formação de cavidades ocas nos
líquidos). O efeito directo é uma consequência da conversão
da onda de choque em energia cinética. Os tecidos contra-
em-se e expandem-se com a mesma frequência que as ondas.
As ondas transmitidas aos tecidos biológicos resultam num
movimento oscilatório das moléculas nos tecidos.

A interface entre dois materiais com diferente impedância


temas de reabilitação · ondas de choque

acústica influencia a onda de choque que sofre fenómenos de


reflexão e refracção. Quando as ondas de choque encontram
um obstáculo difícil de atravessar (como uma calcificação),
grande parte da energia é libertada nesse local. A transição
rápida de pressões causa grande “stress” a nível das interfa-
ces, o que pode causar micro-lesões nas diferentes estrutu-
ras (este efeito é dependente da sua plasticidade). Durante a
fase de tensão ocorre uma diminuição da pressão local, o que
leva à cavitação. As cavidades formadas são microscópicas e
desaparecem durante a fase de compressão, concentrando na
zona grande quantidade de energia.

Quando a onda de choque se utiliza em litotrícia, é a soma


destes dois efeitos que provoca a desintegração do cálculo. Da
interacção das ondas de choque com as calcificações resulta
a produção de pequenas fissuras, cuja desintegração é depois
causada pela enorme violência da explosão das bolhas de ca-
vitação que entretanto se formaram nas referidas fissuras. O
mecanismo de acção exacto sobre as calcificações tendinosas
está ainda por esclarecer. Admite-se que é o aumento de pres-
são e o fenómeno de cavitação dentro dos depósitos cálcicos
que produz a sua desintegração, sendo o volume de material
desintegrado directamente proporcional à energia total liber-
tada na região (representada pelo número de impulsos multi-
plicado pela energia de cada impulso).

As ondas de choque estimulam e/ou reactivam o processo de


cicatrização, provavelmente por microdisrupção dos tecidos
pouco vascularizados, levando à libertação local de factores
de crescimento relacionados com a angiogénese e estimulan-
do desse modo a neovascularização, com proliferação celular
e regeneração tecidular.

O mecanismo exacto que leva à analgesia poderá estar rela-


cionado com a despolarização das fibras nervosas de maior
diâmetro, favorecendo o bloqueio dos impulsos nociceptivos
a nível medular. Os estímulos intensos poderão iniciar um con-
trolo descendente inibitório da transmissão da dor através
das raízes dorsais. Estes estímulos poderão também, segundo
alguns autores, provocar a destruição dos receptores da dor
impedindo a transmissão da mensagem nociceptiva.
56 · 57
Efeitos biológicos das ondas de choque
radiais

Existem diversas teorias que procuram explicar o mecanismo


de acção das ondas de choque radiais:
• Teoria do “gate control”: estimulação das fibras aferentes
cutâneas dos nervos periféricos com activação de meca-
nismos inibidores da transmissão da mensagem dolorosa a
nível das raízes posteriores da medula.
• Teoria Química: indução da libertação de endorfinas e ou-
tras substâncias analgésicas.
• Teoria Mecânica: destruição dos receptores da dor, acção
desfibrosante, neovascularização e estimulação do metabo-
lismo local, com melhoria da qualidade do tecido cicatricial.

Indicações das ondas de choque ≠ extra-


corporais convencionais

A técnica está indicada em três grupos de patologias: grupo I


(pseudartroses), grupo II (tendinopatias com ou sem calcifi-
cações) e grupo III (tendinopatias com indicação cirúrgica).
O grupo de patologias deve condicionar a selecção dos parâ-
metros, designadamente da energia e do número de sessões.
A energia pode ser baixa (inferior a 0,2 mJ/mm2), média (0,2 a
0,4 mJ/mm2) ou alta (superior a 0,4 mJ/mm2). A energia deve
ser média ou alta no grupo I e média ou baixa nos grupos II
e III. O número de sessões também varia: normalmente no
temas de reabilitação · ondas de choque

grupo I realiza-se uma única sessão enquanto no grupo II e III


se realizam 3 e 5 sessões respectivamente. O grupo I requer
anestesia geral ou troncular, enquanto que nos grupos II e III
o tratamento se pode realizar sob anestesia local.
Indicações das ondas de choque radiais

As ondas de choque radiais têm uma densidade energética de


0,16 mJ/mm2, penetrando no corpo humano a uma profundi-
dade de 35 mm. Os estudos realizados sugerem a utilidade des-
te tratamento em diversas patologias, incluindo epicondilite,
fasceíte plantar, tendinites (calcificadas ou não) do ombro,
tendinite rotuliana e tendinite do Aquiles. Os parâmetros a
definir para o tratamento dependem da patologia em questão
e incluem o número de impulsos (1500-4000), a frequência
de impulsos (1-15 Hz, sendo mais frequente entre 6 e 10 Hz),
o tamanho da sonda de percussão (6 ou 15 mm), a pressão
exercida sobre a sonda, o número de sessões de tratamento
(1 a 5) e o intervalo entre sessões.

Em pacientes muito sensíveis à dor, o tratamento pode iniciar-


se com frequências e pressões operacionais baixas. Depois da
aplicação de cerca de 500 impulsos produz-se um efeito anal-
gésico que permite modificar aqueles parâmetros até alcançar
os valores recomendados. Se mesmo assim a sensibilidade do-
lorosa do paciente não permitir a realização do tratamento,
deve-se recorrer à administração local de um anestésico.

Efeitos secundários

Os efeitos secundários observados são semelhantes em am-


bos os tipos de ondas de choque extra-corporais, mas mais
frequentes nas radiais onde têm uma frequência de cerca
de 10%. Incluem edema, hiperémia, petéquias, hematoma,
lesões cutâneas (especialmente em pacientes submetidos a
corticoterapia) e aumento da dor. Estes efeitos, em regra,
agravam-se ao longo dos primeiros três dias e desaparecem
progressivamente em cerca de uma semana. Devem ter de-
saparecido completamente antes de se iniciar o tratamento
seguinte.
58 · 59
Contra-indicações

As contra-indicações gerais incluem a existência de “pace-


maker”, alterações da coagulação ou medicação anticoagu-
lante, gravidez, infecções ou feridas na área de tratamento,
patologia vascular local, polineuropatias, neoplasias, ma-
terial de osteossíntese, mau estado geral e dor associada a
doença sistémica. Não se realizam estes tratamentos sobre as
regiões pulmonares, sistema nervoso central e cartilagens de
crescimento. Para além das contra-indicações gerais existem
diversas contra-indicações específicas.
temas de reabilitação · ondas de choque
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Agradecimentos:
À Sanofi Aventis, por todo o apoio prestado de forma ética,
profissional e cortês à especialidade de Medicina Física e de
Reabilitação, em especial à Inês Souto, que encaminhou este
projecto, e ao Jorge Feio, que o recebeu, avaliou e permitiu que
se tornasse uma realidade.

À Enraf Nonius I. Portugal e ao seu Director Comercial, Sr. Pedro


Coelho, pelas facilidades concedidas na utilização das imagens
de alguns dos seus tão conceituados produtos.

Aos meus colegas de Serviço, entre os quais me permito destacar


o Director, Dr. José Capitão, que me passou o “bichinho álacre”
da electroterapia, e os internos que trabalharam árdua e
diligentemente neste manual.

À Medesign e em particular ao Nuno Almeida, pela grande


disponibilidade, invulgar simpatia e rigoroso profissionalismo
que empenhou, durante muitas e longas horas, na estruturação
deste trabalho.

A todos, muito obrigado!


© 2005

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