Deve-se entender um pensar assim elaborado como uma atividade puramente espiritual. O
pensar claro ilumina o mundo observado. Esta qualidade do pensar espiritual passa a ser
compreendida como a presença de Deus em nós: Deus e eu somos um. Ao mesmo tempo
em que Deus abraça o Universo com seu pensamento, ele se pulveriza em todas as suas
criaturas. Ele é ora uma coisa, ora pluralidade. Deus é espírito puro, bem aventurado,
contínuo, não pode ter extensão nem magnitude! É uma unidade indivisível, impassível,
imutável, eterno e imóvel” (Aristóteles).
Escreveu Goethe em seu diário: “O Uno extrai de si a multiplicidade”.
R. Steiner resgatou de fontes essenciais, tais como essas, uma autêntica sabedoria sobre o
homem (antroposofia). A partir desse ponto, Steiner tornou acessível a qualquer homem
sadio, por meio de uma linguagem apropriada, percorrer o mesmo caminho de conhecimento
inaugurado por Goethe. Um caminho que permite a vivencia própria das experiências.
Dois séculos anteriores a Goethe, a história colocou no palco universal a personalidade
Francis Bacon e, mais tarde, Adam Smith, este ultimo contemporâneo de Goethe. Ambos,
cada qual em seu campo (ciência e economia), deixaram um legado cuja influência não será
discutida aqui, mas que fundamentam parte significativa da atitude do homem moderno
diante da natureza, bem como as relações socio-econômicas, nos dias de hoje.
Quando no início do século XX Steiner trouxe suas contribuições, o materialismo científico-
econômico já havia se instalado profundamente, porém, suas conseqüências ainda não eram
totalmente conhecidas como começa a ser hoje. Steiner alertou naquela época que uma
nova consciência passaria a ser requerida: “No desenvolvimento da Humanidade, cada um
não tem o direito de se sentir individualidade se não se sentir ao mesmo tempo parte de
toda a Humanidade”.
Ao se percorrer o caminho de conhecimento alinhado a partir de Aristóteles, passando por
Goethe e chegando a Steiner conclui-se que a excepcional maneira de pensar que está
contida alí aponta um caminho validado pelo senso humano e necessário em nossa época. É
um pensar que vem do coração.
Com o desenvolvimento individual e livre deste novo pensar, os „olhos‟ se abrirão para a
„sabedoria‟ que vige por detrás da natureza, ou seja, os arquétipos (modelo primordial a
partir do qual todos os seres foram criados), seres espirituais hierárquicos que estão por
detrás da materialidade revelada. Neste contexto passamos a entender a natureza como
uma revelação a ser reconhecida, surgindo um profundo sentimento de gratidão pelo
fenômeno da vida. Assim poderá surgir uma nova sabedoria como base para uma nova ética
individual e, ao mesmo tempo universal.
Prosseguindo nesta direção não tardará emergir a compreensão de que o ser humano, como
ser natural criado, passa de criatura a criador ao projetar sua auto-imagem em tudo que ele
próprio cria. As organizações são a rigor a derradeira criação humana. As instituições são em
síntese um processo em permanente desenvolvimento tal como nós próprios. Este fenômeno
ocorre em tal ordem que as organizações assumem papel central nos processos de
degradação socio-ambiental que alcançamos em nossos tempos. Neste contexto as
organizações são como seres individuais que possuem uma identidade autônoma e atuam no
mundo criando novas realidades.
Segundo Steiner, com o pensar racional não é possível construir estruturas sociais
saudáveis, exceto se modelarmos as pessoas, gerarmos padrões. As instituições são antes
de tudo estruturas sociais.
Diante desse drama universal e humano, qual é o papel central da nossa época.
Harmonia
Igualdade de direitos e obrigações.
Arbitrariedade
Vida Econômica Harmonia
Produtos e serviços
Em acordo com necessidades reais.
Desperdício e desabastecimento
Liberalismo indômito
Tal imagem apela para a compreensão de que tudo que fazemos no mundo, especialmente
no âmbito social gera conseqüência. A apropriação desta consciência trás responsabilidades.
O homem está continuamente se reproduzindo no mundo, o ser humano está em processo.
Assim eu reproduzo fora o que tenho em minha mente. Mentes perturbadas produzem
perturbação no ambiente e um ambiente em desordem produz desordem sobre as mentes.
A liberdade passa a ser compreendida como o único fundamento humano. E isto tem um
preço.