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Artigo Regulacao Do Mercado Financeiro PDF
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1 INTRODUÇÃO
1
DUBEUX, Júlio Ramalho. A Comissão de Valores Mobiliários e os principais instrumentos regulatórios do
Mercado de Capitais brasileiro. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2006. p. 21/22.
2
Op. cit. p. 22.
3
Modelo consagrado na Revolução Soviética de 1917.
3
Como bem restou frisado por Júlio Ramalho Dubeux, baseando-se na obra de Luís
Roberto Barroso:
4
Op. cit. p. 23.
5
DUBEUX, Júlio Ramalho. A Comissão de Valores Mobiliários e os principais instrumentos regulatórios do
Mercado de Capitais brasileiro. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2006. p. 23.
4
[...] cumpre ao Estado dar eficácia ao princípio da função social e estabelecer limites à
atuação dos agentes econômicos privados, bem como gerar meios de uma melhor
distribuição de riqueza. Isso através de regulação normativa ou da gestão direta. O
texto constitucional prevê a integração da busca pelo lucro ao dever do atendimento a
interesses alheios àqueles dos detentores dos direitos em questão (propriedade, livre
6
ALBERGARIA, Bruno. A (muito) antiga re-discussão da atuação econômica do Estado. Uma visão histórica e
empírica da constelação do Direito e suas contribuições para o mundo da Economia. In: CORREA, Maria
Laetitia; DADALTO, Maria Cristina; PIMENTA, Solange Maria; VELOSO, Henrique Maia. Sociedade e
Consumo: Multiplas Dimensões na Contemporeneiadade. Curitiba: Juruá, 2010.
7
MOREIRA, Egon Bockmann. Reflexões a propósito dos princípios da livre iniciativa e da função social.
Revista de Direito Público da Economia. São Paulo, ano 4, n.16, out/dez, 2006, p.35.
5
8
Op. Cit. p. 36.
9
A CRFB estabelece, numerus clausus, o monopólio em favor da União de uma série de bens e atividades a eles
correlatas, a exemplo dos bens minerais e o petróleo (arts. 20, 21, XXIII, 176 e 177).
10
DUBEUX, Júlio Ramalho. A Comissão de Valores Mobiliários e os principais instrumentos regulatórios do
Mercado de Capitais brasileiro. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2006. p. 30.
11
ALBERGARIA, Bruno. A (muito) antiga re-discussão da atuação econômica do Estado. Uma visão histórica
e empírica da constelação do Direito e suas contribuições para o mundo da Economia. In: CORREA, Maria
6
análise, quais seriam os motivos (propósitos) que levam o Estado a tal intervenção na esfera
privada e os instrumentos e os limites utilizados para esta intervenção.
Pelo presente artigo, portanto, pretende-se fazer uma abordagem da atuação
regulatória do Estado no Mercado Financeiro, contrapondo-a ao princípio da autonomia
privada, discorrendo, para tanto, acerca das atuais estruturas existentes no Brasil para essa
regulação financeira e os principais agentes reguladores no mercado financeiro;
demonstrando-se, outrossim, a imprescindibilidade e eficácia da intervenção estatal no
mercado financeiro brasileiro, com vistas à proteção de condutas, sistêmica e prudencial,
garantindo-se eficiência, segurança e credibilidade.
Laetitia; DADALTO, Maria Cristina; PIMENTA, Solange Maria; VELOSO, Henrique Maia. Sociedade e
Consumo: Multiplas Dimensões na Contemporeneiadade. Curitiba: Juruá, 2010.
12
ANDREZO, Andréa Fernandes; LIMA, Iran Siqueira. Mercado Financeiro: aspectos históricos e conceituais.
São Paulo: Thompson Learning, 2002. p.01.
7
13
Op. Cit. p.03.
14
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.
125/126.
15
ANDREZO, Andréa Fernandes; LIMA, Iran Siqueira. Mercado Financeiro: aspectos históricos e conceituais.
São Paulo: Thompson Learning, 2002. p. 02/03.
16
MILAGRES, Marcelo de Oliveira. Banco Central e Regulação: a mão invisível do Estado. In: OLIVEIRA,
Amanda Flávio de. Direito Econômico. Evolução e Institutos. Obra em homenagem ao prof. João Bosco
Leopoldino da Fonseca. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 380.
8
modo geral, à regulação financeira. A análise dessa regulação não pode restar
subsumida a um critério organizador tão pouco abrangente e tampouco a modelos
teóricos que tratam da atividade regulatória in abstracto (às modernas “teorias gerais
da regulação”). Impõe-se, para a sua compreensão, levar em conta as estruturas reais e
a sua complexidade.17
Citando Charles Goodhart, Otavio Yazbek preleciona com propriedade acerca das
justificativas para a regulação estatal das atividades desenvolvidas no mercado financeiro:
17
Op. Cit. p. 47.
18
Op. Cit. p. 188.
19
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.
183.
20
REIS, Elcio Fonseca. O Estado Democrático de Direito. Tipicidade Tributária. Conceitos indeterminados e
Segurança Jurídica. Revista Tributária e de Finanças Públicas, v. 34, p. 157-168, 2000.
9
21
Em suma, se trata a política do disclosure da obrigatoriedade de as Companhias disponibilizarem informações
precisas e concretas acerca dos valores mobiliários emitidos no mercado e de sua situação econômico-financeira,
seja quando da abertura de seu capital, seja quando da oferta pública de valores mobiliários.
22
DUBEUX, Júlio Ramalho. A Comissão de Valores Mobiliários e os principais instrumentos regulatórios do
Mercado de Capitais brasileiro. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2006. p. 38-40.
23
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p. 255.
10
E tal objetivo só poderá ser perseguido através da boa regulação advinda da atuação de
entidades reguladoras especializadas sobre a atividade econômica do Mercado Financeiro,
conforme veremos a seguir, mediante a análise das estruturas para a regulação financeira e os
agentes reguladores no Brasil.
Conselho Monetário
Nacional
(CMN)
Conselho Nacional
de Seguros Privados
(CNSP)
(apenas polítcas públicas
e diretrizes gerais)
25
PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito, Economia e Mercados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
p. 466.
26
Importante frisar que, seguindo a classificação proposta por Andréa Andrezo e Iran Lima (ANDREZO,
Andréa Fernandes; LIMA, Iran Siqueira. Mercado Financeiro: aspectos históricos e conceituais. São Paulo:
Thompson Learning, 2002. p. 03), o Mercado Securitário não integra propriamente o Mercado Financeiro e,
como tal, não será objeto de profunda análise.
12
a) Regulação de Condutas:
Assim, são exemplos dessas regras de proteção aos consumidores dos serviços
financeiros, incidindo sobre o próprio intermediário ou sua organização interna ou
sobre atos negociais diversos (as práticas adotadas na relação com terceiros),
mecanismos formais (como regras de qualificação técnica ou mesmo moral, aplicáveis
aos intermediários, seus administradores e representantes); a obrigação de uniformizar
procedimentos e modelos negociais, a obrigatoriedade de envio de informações para
os consumidores e também para os reguladores (o chamado “full disclosure”), pelo
intermediário, seus administradores ou controladores, conforme o caso, ou mesmo
pelos emissores dos títulos negociados (a vedação ao “insider trading”).29
27
Na opinião deste autor, a divisão em espécies dos tipos de regulação existentes – denominado de regulação
financeira em espécie – tem objetivo meramente acadêmico, uma vez que na prática se confundem, não se
podendo vislumbrar, pois, a aplicação de uma efetivamente dissociada da outra; ou melhor, a regulação de uma
espécie, necessariamente, traz consequências na regulação de outra. Por exemplo, a proteção do consumidor em
razão da instituição da política do disclosure, com o fim de assegurar a simetria de informações (regulação de
condutas) acaba por contribuir para a segurança e credibilidade de todo o sistema financeiro, auxiliando, assim,
os mecanismos de regulação sistêmica.
28
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.
255.
29
Op. Cit. p. 225.
13
Com efeito, a decisão sobre o investimento e risco que deste decorre são do investidor
(ou consumidor ou poupador). Nesse caso, o papel principal da regulação de condutas é o de
garantir que os agentes envolvidos tenham acesso às informações em quantidade e qualidade
suficientes para poder analisar o investimento e tomar uma decisão racional, evitando-se,
assim, o oportunismo de alguns agentes e garantindo-se a eficiência do Mercado Financeiro 30.
O exercício da regulação de condutas, no Brasil, incumbe a cada regulador setorial,
retratado no quadro acima, conforme a sua competência. Perante o Mercado de Capitais, por
exemplo, compete à CVM a regulação de condutas de intermediários e emissores, ao passo
que às Bolsas e Mercado de Balcão Organizado incumbe a auto-regulação.
No que concerne às instituições financeiras e atuação do Banco Central do Brasil,
Otávio Yazbek enfatiza:
Com efeito, para lograr efetividade de proteção e confiabilidade, não basta ao Estado
determinar ou impedir certas condutas aos agentes do mercado, mas também, fiscalizar e
punir. A regulação exercida pela CVM e BCB, por exemplo, não se limita à normatização de
condutas, de acordo com a política e normas promulgadas pelo CMN; mas também,
pressupõe atividade de fiscalização e aplicação de sanção, mediante instauração de
procedimento administrativo próprio (com fulcro na Lei 9.457/1997).
Vê-se, assim, que no Brasil encontra-se organizado o regime de proteção dos agentes
pela regulação de condutas, com a correspondente distribuição originária das competências
específicas de regulamentação (normativa), fiscalização (e implementação) e punição; sempre
visando a simetria informacional e a proteção dos agentes do mercado.
b) Regulação Sistêmica:
30
PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito, Economia e Mercados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
p. 450.
31
Op. Cit. p. 226/227.
14
A regulação sistêmica, pois, visa impedir que a sociedade seja prejudicada em face dos
riscos resultantes da atividade financeira. Trata-se de uma rede de proteção cujo objetivo
principal consiste em “impedir a ocorrência daquelas externalidades relacionadas ao alto
grau de integração entre as instituições, sobretudo no caso das instituições bancárias”33.
Nesse sentido, a legislação brasileira34 instituiu regimes excepcionais aplicáveis às
instituições financeiras em crise, seja de intervenção e liquidação extrajudicial ou de
administração especial temporária (intervenção). Tal arcabouço legislativo permite a maior
maleabilidade no enfrentamento de eventuais irregularidades verificadas e possibilita a
reestruturação e fortalecimento da instituição financeira em crise, evitando-se, assim, o
contágio a outras instituições, gerando um “efeito dominó” ou risco sistêmico.
Outra medida de proteção sistêmica pode ser vislumbrada pela edição da Resolução
CMN n°. 39/1966 (e, posteriormente, regulada pela CVM por meio da Resolução CVM n°.
461/2007). Referido instrumento normativo foi o responsável pela instituição de fundos
garantidores de depósito, constituídos sob a forma de associação civil de natureza privada e
que abrange todas as instituições financeiras participantes do mercado em que se insere, a
quem incumbe (instituições financeiras) custeá-lo.
32
CARVALHO, Fernando J. Cardim de Carvalho. O Papel do Banco Central no Processo de Regulação
Financeira. In: CAMPILONGO, Celso Fernandes; ROCHA, Jean Paul Cabral Veiga da; MATTOS, Paulo
Todescan Lessa. Concorrência e Regulação no Sistema Financeiro. São Paulo: Max Limonad, 2002. p. 259.
33
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.
231.
34
Tal instituição se deu pela Lei 6.024/74 e Decreto-lei 2.321/87, modificados pela Lei 9.447/97.
15
35
EIZIRIK, Nelson et al. Mercado de Capitais e Regime Jurídico. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar,
2003. p. 222.
36
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.
241.
16
e estabilidade ao sistema financeiro, em especial, quanto aos efeitos das crises no sistema
econômico.
c) Regulação Prudencial:
37
CARVALHO, Fernando J. Cardim de. O Papel do Banco Central no Processo de Regulação Financeira. In:
CAMPILONGO, Celso Fernandes; ROCHA, Jean Paul Cabral Veiga da; MATTOS, Paulo Todescan Lessa.
Concorrência e Regulação no Sistema Financeiro. São Paulo: Max Limonad, 2002. p. 327.
38
Op. cit. p. 328.
17
39
PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito, Economia e Mercados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
p. 464/465.
40
CARVALHO, Fernando J. Cardim de. O Papel do Banco Central no Processo de Regulação Financeira. In:
CAMPILONGO, Celso Fernandes; ROCHA, Jean Paul Cabral Veiga da; MATTOS, Paulo Todescan Lessa.
Concorrência e Regulação no Sistema Financeiro. São Paulo: Max Limonad, 2002. p. 322.
18
Embora a regulação prudencial tenha sido alterada nos últimos anos para aumentar as
exigências de capital e torná-las mais sensíveis ao risco de crédito, ela se manteve
dependente de informações passadas, na maioria obtidas dos balanços dos bancos e do
desempenho do devedor. Por exemplo, embora as provisões para perdas com
devedores duvidosos se baseiem em um sistema de pontuação que, em principio,
reflete as expectativas futuras do credor relativas ao risco de cada empréstimo, os
bancos tendem, na prática, a seguir os padrões mínimos exigidos pelo Banco Central,
que focam na duração da inadimplência e na existência de garantias. De forma geral,
poucas informações além daquelas coletadas de balanços, visitas de inspeção ou da
CRC são utilizadas na regulação e fiscalização dos bancos. A única exceção relevante
parece ser a utilização de informações negativas coletadas pelos BICs privados (isto é,
o cadastro de devedores), que o Banco Central leva em consideração quando da
análise da carteira de crédito do banco na fiscalização in loco.42
41
CARVALHO, Luís Paulo Figueiredo. Os Sistemas de Supervisão Prudencial na União Européia. Coimbra:
Almedina, 2003.
42
PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito, Economia e Mercados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
p. 470/471.
43
Op. Cit. p. 247.
19
O Conselho Monetário Nacional (CMN), criado pela Lei 4.595 de 1964, integra a
estrutura do Ministério da Fazenda, sendo o responsável pela fixação de diretrizes das
políticas monetária, creditícia e cambial do país. É composto pelo ministro da Fazenda (que é
o seu presidente) e pelos ministros do Planejamento, Orçamento e Gestão e pelo Presidente do
Banco Central do Brasil.
Conforme disposto no art. 3º da Lei 4.595/64, o Conselho Monetário Nacional tem por
objetivo: adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia
nacional e seu processo de desenvolvimento; regular o valor interno da moeda, prevenindo ou
corrigindo os surtos inflacionários ou deflacionários de origem interna ou externa, as
depressões econômicas e outros desequilíbrios oriundos de fenômenos conjunturais; regular o
valor externo da moeda e o equilíbrio no balanço de pagamento do País, tendo em vista a
melhor utilização dos recursos em moeda estrangeira; orientar a aplicação dos recursos das
instituições financeiras, públicas e privadas; propiciar o aperfeiçoamento das instituições e
dos instrumentos financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e de
mobilização de recursos; zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; bem
como coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária, fiscal e da dívida pública,
interna e externa.
20
Para tanto, estabelece o art. 4º do referido diploma legal um extenso rol de atribuições
do Conselho Monetário Nacional, que, conforme bem sintetizado por Otávio Yazbek, pode
ser assim compreendido:
Também criado pela Lei 4.595 de 1964, o Banco Central do Brasil é uma autarquia
federal vinculada ao Ministério da Fazenda, responsável pelo cumprimento das decisões e
normas emanadas pelo CMN. Encontram-se subordinados ao Banco Central do Brasil (BCB),
“além das instituições bancárias propriamente ditas e das demais instituições creditícias
anteriormente referidas, os administradores de consórcios (por força da Lei n°. 8.177/1991) e
as entidades que integram o Sistema Financeiro da Habitação (Decreto-Lei n°. 2.291/1986)45.
O Banco Central do Brasil integra a administração pública indireta. Seu presidente é
indicado pelo Presidente da República, após aprovação pelo Senado Federal. Encontra-se
sediado na capital federal, com representações regionais em diversos Estados da Federação, a
exemplo de Minas Gerais, Pará, São Paulo e Rio de Janeiro.
A competência do Banco Central do Brasil está amplamente prescrita no extenso rol
constante nos arts. 10 e 11 da Lei 4.595/64, sendo principalmente responsável por garantir o
poder de compra da moeda nacional e por supervisionar o Sistema Financeiro Nacional, em
especial, no que concerne aos mercados monetário, de crédito e cambial e em face das
instituições financeiras que atuam em todo o Mercado Financeiro.
44
Op. Cit. p. 203.
45
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.
203.
21
46
Antes do surgimento da Lei 6.385/76 e criação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Mercado de
Capitais estava sujeito à regulação pelo Banco Central do Brasil. Atualmente, nesse mercado, com a criação da
CVM, ao Banco Central do Brasil compete apenas a regulação das instituições financeiras que nele atuam.
47
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 6.ed. rev. e atual. de acordo com o novo Código Civil e
alterações da LSA. São Paulo: Saraiva, 2003. v.2. p. 72.
22
48
EIZIRIK, N. L. Aspectos Modernos do Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 1992. p. 28.
49
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.
204.
50
FRANCO, Vera Helena de Mello; SZTAJN, Rachel. Direito Empresarial II: sociedade anônima, mercado de
valores mobiliários. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. v.2. p. 53.
23
Por fim, importa analisar a competência auto-regulatória das bolsas de valores e das
entidades de mercado de balcão organizado para “o estabelecimento de normas e
procedimentos aplicáveis aos seus membros e às operações nelas realizadas, bem como para
fiscalizar seu cumprimento”53.
Com efeito, o Conselho Monetário Nacional é o órgão competente para a fixação da
política e normas gerais sobre as bolsas de valores e mercado de balcão organizado, sendo que
compete à Comissão de Valores Mobiliários a implementação, fiscalização e controle da
política e normas emanadas pelo CMN, além de supervisionar, fiscalizar e autorizar
previamente o início das operações das bolsas de valores e mercado de balcão organizado.
Destaca-se, assim, que os referidos poderes de auto-regulação, por óbvio, não excluem
a atuação dos órgãos reguladores competentes. Sem prejuízo dessa estrutura regulatória,
51
Op. Cit. p. 204/205.
52
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.
206.
53
ANDREZO, Andréa Fernandes; LIMA, Iran Siqueira. Mercado Financeiro: aspectos históricos e conceituais.
São Paulo: Thompson Learning, 2002. p. 293.
24
54
Op. Cit. p. 293.
55
Op. Cit. p. 293.
25
com a atividade regulada, sendo ainda que seus instrumentos são distintos daqueles utilizados
pela regulação estatal, embora subordinados a esta56.
5 CONCLUSÃO
Conforme visto acima, o Mercado Financeiro se trata de alternativa válida e cabal para
o financiamento de empresas privadas, mediante a captação de recursos privados (poupança
popular) para financiamento de suas atividades. Com efeito, o mercado financeiro brasileiro
se mostra um importante mecanismo de financiamento das empresas nacionais e estrangeiras
e, via de consequência, um impulsionador da economia nacional.
Todavia, se trata de um investimento de risco, já que não se garante a obtenção de
lucros, podendo o investidor não só deixar de alcançar o resultado pretendido (retorno da
quantia investida), mas ainda, perder todo o seu investimento. Além disso, existem diversos
outros riscos, individuais e sistêmicos, que decorrem da dinamicidade do mercado e das
inovações que este proporciona.
Deste modo, na medida em que almeja a captação de poupança pública para
financiamento de atividades empresariais privadas, o Mercado Financeiro “depende
primordialmente da regulação não somente como condição de funcionalidade, mas como
garantia dos próprios interesses sociais”57, com vistas a assegurar o funcionamento a
contento do próprio mercado e de proteger o interesse público e social.
Como visto, a intervenção estatal – órgãos reguladores – no Mercado Financeiro, a
despeito de se tratar de esfera privada, justifica-se na necessidade de redução da assimetria de
informações e, com isso, trazer maior racionalidade quando da opção de investimento. Além
disso, torna-se indispensável para estimular a formação e proteção da poupança popular,
provendo competitividade e desenvolvimento do mercado financeiro, zelando pela liquidez,
transparência e tratamento equitativo a todos os participantes do mercado. Possibilita, dessa
maneira, assegurar a adequada avaliação e controle de riscos, além de coibir fraude; e, assim,
assegura a eficiência e credibilidade do mercado.
56
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. P.
212/213.
57
MILAGRES, Marcelo de Oliveira. Banco Central e Regulação: a mão invisível do Estado. In: OLIVEIRA,
Amanda Flávio de. Direito Econômico. Evolução e Institutos. Obra em homenagem ao prof. João Bosco
Leopoldino da Fonseca. Rio de Janeiro: Forense, 2009. P. 380.
26
Com efeito, a proteção dos agentes contra os citados riscos e as possíveis falhas de
mercado, bem como a proteção de terceiros e da sociedade como um todo (possibilidade de
alastramento de uma crise no sistema financeiro, como a quebra de bancos e aumento da
inflação), só poderá ser alcançada através da boa regulação advinda da atuação de entidades
reguladoras especializadas sobre a atividade econômica do Mercado Financeiro. E é
exatamente nesse sentido que a regulação financeira brasileira se apóia.
Como visto acima, a estrutura brasileira para regulação financeira, através dos órgãos
reguladores especializados, pauta-se na regulação de condutas, traçando regras e
procedimentos especiais e visando assegurar simetria de informações e racionalidade aos
participantes do mercado; na regulação sistêmica, mediante a criação de redes de proteção do
mercado, evitando-se crises e externalidades; e na regulação prudencial, “que serve de suporte
para as outras duas, ao voltar-se para as instituições em si, sua estrutura, capacidade
financeira, etc”60.
Desse modo, no contexto do Estado Democrático de Direito, a instituição do Estado-
Regulador e a intervenção deste na autonomia privada no âmbito do Mercado Financeiro visa
justamente assegurar a racionalidade econômica acima retratada, com a atuação principal de
agentes reguladores especializados: atuando o Banco Central do Brasil como órgão regulador
sistêmico e prudencial; e a Comissão de Valores Mobiliários e as bolsas de valores e mercado
58
Op. Cit. p. 255.
59
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. P.
287.
60
YAZBEK, Otávio. Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. P.
287/288.
27
6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 6.ed. rev. e atual. de acordo com o novo
Código Civil e alterações da LSA. São Paulo: Saraiva, 2003. v.2.
EIZIRIK, Nelson. Aspectos Modernos do Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 1992.
EIZIRIK, Nelson; GAAL, Ariádna B.; HENRIQUES, Marcus de Freitas; PARENTE, Flávia.
Mercado de Capitais e Regime Jurídico. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
FRANCO, Vera Helena de Mello; SZTAJN, Rachel. Direito Empresarial II: sociedade
anônima, mercado de valores mobiliários. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009. v.2.
MILAGRES, Marcelo de Oliveira. Banco Central e Regulação: a mão invisível do Estado. In:
OLIVEIRA, Amanda Flávio de. Direito Econômico. Evolução e Institutos. Obra em
homenagem ao prof. João Bosco Leopoldino da Fonseca. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
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