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FANON, Frantz. Introdução. In: Pele negra, máscaras brancas.

De início Fanon deixa claro que a intenção não é provocar uma explosão instantânea com sua

obra. Ela se constitui como uma reflexão psicológica sobre as construções do colonialismo, com

sua visão racista e sobre a realidade do negro. Tem consciência disso inclusive pelo público alvo

de sua obra ser de intelectuais ou àqueles à sua volta falando em termos sociais (Fanon possuía

educação e ocupava um cargo de relevância no Hospital Blida-Joinville na Argélia).

Seu projeto se constitui como um projeto humanista ou universalista, ou seja, teria por objetivo

um mundo no qual as pessoas fossem vistas de forma igualitária e sem divisões ou valorações

baseadas em suas cores.

Essa visão se basearia na visão do homem negro somente como homem, assim como o branco. O

negro é marcado por essa diferenciação, o homem negro x homem (que seria branco, mas que não

é marcado por sua cor de forma epidérmica como o negro o é). O negro está preso em uma zona

de “não-ser”. Estar no papel de homem é poder ter recomeços, sendo assim, é preciso libertar o

homem negro do lugar de negro e torná-lo homem como todos, mas essa prisão é limitada por

outro signo muitas vezes implícito, o de branco. Tem-se assim o par: o negro e o branco.

Fanon afirma que qualquer operação que se baseie nesse maniqueísmo contribui para ela por mais

que possa primariamente ser considerado como ruptura, como por exemplo a valorização de

aspectos considerados pertencentes à “alma negro” (aquele que ama o preto – negritude?) ou o

ódio ao branco.

“Trata-se de deixar o homem livre”. Objetivo de tornar o homem livre das amarras, auxiliá-lo a

se tornar independente em pensamentos e visões de si.

No processo de o branco assumir para si a condição de ser humano, ele retira do negro a

humanidade, o negro por querer ser humano, tenta ser branco e recuperar assim a sua humanidade.

Esse processo aprisiona os dois sujeitos, o branco na sua brancura e o negro na sua negrura.
Para Fanon, é claro que o processo de alienação e assim também o de desalienação se dão no

âmbito econômico e pela interiorização da inferioridade através do processo epidérmico (cor da

pele). Esse processo não se dá somente no tempo de vida (ontogenia), nem em um processo

evolutivo como espécie (filogenia), mas em um plano social (sociogenia). O projeto de clínica

deve então se dar nesse espaço social, que envolve tanto negro, quanto branco. Sendo assim, “o

negro deve conduzir sua luta em dois planos”, pois “toda libertação unilateral seria imperfeita”.

Fanon se mostra disposto a fazer uma análise psicológica da sociedade, mas diz que não se aterá

aos métodos, que tal função não será assumida (ficaria então para “Os condenados da terra”?).

Sobre os capítulos:

1: Negro e linguagem, 2: Mulher de cor e o branco e 3: Homem negro e a branca – tentativa

de abordagem do negro atual e determinar suas atitudes no mundo branco.

4: Sobre o pretenso complexo de inferioridade do colonizado – crítica ao trabalho

“Psychologie de la colonisation” de O. Mannoni.

5: Experiência vivida do negro – preto diante de sua raça, aquele que tenta se encontrar na

identidade negra. A civilização branca impôs ao negro um desvio de existencial. Aqui, vemos o

negro “evoluído” (educado na cultura francesa) tentando se reinserir no seu povo. Processo

passível de rejeição da atualidade e valorização de um passado místico.

6: Preto e psicopatologia e 7: Preto e reconhecimento – tentativa de explicação psicopatológica

e filosófica do existir do negro.

Nota:

Nègre = nigger = preto: termos pejorativos (exceto em culture, poèsie e art nègre)

Noir = black man = negro: termos neutros

Fanon alterna entre esses, inclusive dentre frases e as vezes sem critério.

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