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Portugal Ferroviário - Os Caminhos de Ferro na Internet

Edição n.º 35 | Junho de 2013

Encontros de
Modelismo
Spotting

Locomotiva 5606 à frente do


comboio Intercidades Lisboa -
Faro, Azinheira dos Barros em
Agosto de 2008

Nuno Morão

2
Editorial

Trainspotter n.º 35 - Junho 2013

Redacção

• Carlos Loução
Sumário • João Cunha
• João Joaquim

4
Editorial • João Lourenço
• Pedro André
• Pedro Mêda
Comboio Correio
5
• Ricardo Cruz
• Ricardo Ferreira
• Ricardo Monteiro
Bitola Ibérica
8
• Ricardo Quinas
• Tiago Ferreira

Comboios de Mercadorias
10
Colaboração
O cimento do Oeste
• Andrew Donnelly
Comboio Internacional
DF-100 - O ocaso de uma lenda 18 •


David Aguaded
José Sousa
Nuno Magalhães
Comboios com História
Linha de Lamego 21 •


Nuno Girão
Sérgio Santos
Victor de La Cruz
Siderodromofilia
Memória de Regionais: Covilhã - Guarda 29 Contribuições para:
trainspotter@portugalferroviario.net
Figura do Passado
CP 9100 33 Endereço:
www.portugalferroviario.net
Destaque Ferroviário
64132 Leandro (Cimpor) – Souselas 34
Modelismo - Exposições
Encontros de Modelismo 36
Modelismo - Exposições
Exposição de Modelismo Ferroviário no Barreiro 37
Modelismo - Exposições
Encontro Módulos Malta do Porto – Lousado 42
Modelismo - Exposições
Exposição “Linha da Beira Alta” 44
Figuras Ferroviárias
Graham Garnell (1947 – 2013) 48
Estação Terminal
51
Encontros de modelismo em
Descarrilamentos Lousado. Fotografias de Pedro
Mêda
Trainspotter nº34
• Página 16: No destaque da Última capa: Loc. 1943 em
“Vizinha Espanha” as fotos são da manobras em Elvas em Setembro
autoria de Víctor de la Cruz. de 2012, fotografia de João Cunha

3
Editorial

Trainspotter comemora o seu terceiro aniversário...

quantos, como eu, conviveram um ponto de partida para a revi-


João Cunha
com Graham Garnell. O Graham talização de um verdadeiro eixo
era um grande amigo dos ca- atlântico do Norte pensinular.

H
á três anos atrás, minhos-de-ferro portugueses,
lançávamos a primei- e deixou-nos no mês passado Para finalizar, uma nota pes-
ra Trainspotter. Um devido a doença. O Graham dis- soal sobre a recente reestrutu-
projecto despretensioso e cria- tinguiu-se também sempre pelo ração de serviços na CP Carga
do com a ideia de partilhar, em voluntarismo e entusiasmo pela – dificilmente a empresa não
maior escala, conteúdos que causa ferroviária, organizando e melhorará a sua eficiência com o
iam aparecendo no fórum do site patrocinando um sem fim de ac- novo esquema produtivo, olhan-
Portugal Ferroviário. tividades de Norte a Sul, muitos do aquele que era o padrão de
dos quais mereceram aliás des- tráfegos que a empresa já asse-
Desde então, a adesão da co- gurada. Mais, reduzindo os cus-
taque nesta revista. Em particu-
munidade à revista foi impressio- tos de estrutura que a diminuição
lar à sua família e amigos, mas
nante. A escala e o profissionalis- de manobras de assemblagem e
de modo geral a todos quantos
mo dos conteúdos melhorou de desassemblagem de comboios
com ele privaram, a Trainspotter
forma exponencial, e o projecto induz, a CP Carga estará melhor
endereça as suas condolências
ganhou visibilidade e reconheci- preparada para enfrentar novos
e presta-lhe a merecida homena-
mento. Nada seria possível sem mercados e exigências de novos
gem.
a contribuição descomprometida clientes. Pareceu-me, sem dúvi-
e voluntariosa de todos quan- A actualidade é marcada pela da, um sinal na direcção certa.
tos têm ajudado a Trainspotter a preparação da entrada em cena
crescer. E nada teria sido possí- de serviços directos entre Por- Desejo a todos os leitores
vel se o que está na raíz da revis- to e Vigo que prometem reduzir uma agradável leitura, e reforço
ta se tivesse alterado – continua drasticamente a distância entre o meu agradecimento a todos os
e continuará a ser um ponto de as duas cidades do Norte da pe- que têm ajudado a Trainspotter a
aglomeração de ideias e conte- nínsula. Não conhecemos ainda crescer. Todos são bem-vindos
údos que a comunidade elabora. os moldes do serviço, mas a con- para colaborar, este projecto e
cretizar-se a substancial redução estas páginas são vossas. Muito
Este aniversário é celebra- obrigado!
que está anunciada, poderá ser
do numa altura triste para todos

4
Comboio Correio

André Lourenço Breves

Ricardo Ferreira

Neves-Corvo testam
tracção eléctrica
Segunda LRV 2000 já chegou ao
Vouga O s comboios de Neves-Corvo
foram realizados no dia 11 de
Maio com tracção eléctrica no percur-

A CP destacou no Vouga no
dia 24 de Maio uma segun-
da LRV 2000. A 9502 foi deslo-
apeadeiro de Figueiredo (sentido
Oliveira – Sernada). A automoto-
ra saltou por completo dos carris,
so entre Praias do Sado e Ourique.
Já aqui a atrasado tinha sucedido o
mesmo, também num fim-de-semana,
cada desde a Régua até Aveiro, não havendo, no entanto, registo quando existe um excedentário de lo-
numa composição composta pela de grandes prejuízos: a automo- comotivas eléctricas parqueadas. O
locomotiva 1437, zorra de via es- tora foi carrilada durante a noite e objectivo é, a curto prazo, operar to-
treita e duas CoRail para peso- seguiu por si até Sernada. dos os comboios com tracção eléctrica
-freio. Os ensaios até ao momento até Ourique. Uma locomotiva diesel da
Esta segunda unidade junta- colocam em causa a futura circu- série 1900 é colocada em Ourique e
-se no Vouga à 9507 para en- lação destas unidades no Vouga só recolhe a reboque a Praias do Sado
saios em unidade múltipla, uma nas condições atribuídas a outro quando necessitar de abastecer.
vez que foram detectados vários material circulante. A acontecer, Nos 170 quilómetros do percurso,
problemas com a circulação em as LRV 2000 vão circular em uni- os comboios de Neves-Corvo são ac-
unidade simples no percurso en- dade múltipla ou limitadas no tro- tualmente realizados com locomotivas
tre Águeda e Oliveira de Azeméis, ço Águeda – Oliveira de Azeméis. diesel, quando mais de 80% do per-
onde a Linha do Vouga se encon- Na transformação de Duro curso está electrificado.
tra muito degradada. Dakovic (unidades que andaram
No dia 28 de Maio, já perto das no Vouga durante alguns anos)
22h e num dos primeiros ensaios para LRV 2000, em 1995, o peso Transporte de Bicicletas
com a 9502 no Vouga em unida- por unidade ficou praticamente nos 592 foi proibido
de simples, foi mesmo registado o mesmo, estando portanto apa-
um descarrilamento à entrada
de uma curva a 400 metros do
rentemente em causa o seu com-
portamento em unidade simples. A CP proibiu desde Abril o trans-
porte de bicicletas nas automo-
toras espanholas que circulam nas li-
nhas do Minho e Douro, alegando falta
João Joaquim
de condições para o seu transporte. As
automotoras possuem dois pequenos
furgôes, um em cada ponta, que por
norma não são utilizados porque o seu
acesso pelo exterior está vedado. Até
aqui as bicicletas eram encaminhadas
para o furgão através dos corredores
ou transportavam-se junto dos aces-
sos de entrada e saída de passagei-
ros. É um assunto polémico quando
se discute o acesso das bicicletas ao
serviço Intercidades e Alfa Pendular.

5
Comboio Correio

Breves Ricardo Ferreira

Ricardo Ferreira

Ecopista do Tâmega
foi inaugurada

Cimeira Ibérica realizou-se em Maio


F oi inaugurado no dia 19 de Maio
um troço de 24 quilómetros da

R
ecopista que corre sobre a desactivada ealizou-se no passado dia 2017/18. Já a ligação entre o Por-
Linha do Tâmega, troço que atraves- 13 de Maio em Madrid a to e Vigo terá, a partir de Julho,
sa o concelho de Celorico de Basto. O XXVI Cimeira Ibérica, que juntou bilhete único (actualmente são
investimento totalizou mais de quatro para debate os governos de Pas- necessários dois bilhetes para a
milhões de euros e vem reaproveitar o sos Coelho e Mariano Rajoy. ligação, sendo a parte espanhola
canal de uma via ferroviária que esta- Sobre a ferrovia, a discussão cobrada à parte da portuguesa) e
va abandonada, preservando inclusivé habitual sobre a aposta na bitola prevê-se a redução dos tempos
o seu antigo património. A ecopista do europeia e um curioso destaque à de viagem para as 2h15, cerca de
Tâmega fica em condições de ser con- ligação entre o Porto e Vigo, que 45 minutos menos face à actuali-
siderada uma das melhores ecopistas há dois anos esteve para acabar. dade.
do país, percorrendo um total de 39 O projecto de Alta Velocidade en- Ficou por esclarecer se a
quilómetros sobre uma região de uma tre Poceirão e Caia, que inclui a aposta vai recorrer a novo mate-
beleza extraordinária. Só numa peque- linha de mercadorias entre Évora rial circulante da RENFE. A acon-
na zona em Codeçoso a ecopista não e Caia para bitola ibérica com tecer, a série 599 é uma das mais
está concluída, devido à construção travessas polivalentes (para futu- prováveis (apta a 160 km/h), ape-
de uma barragem no rio Tâmega. ra migração para bitola europeia), sar de ainda não homologada do
A estação de Celorico de Basto so- continua sem grandes alterações, lado Português.
freu uma completa reabilitação no seu prevendo-se a sua conclusão em
espaço, tendo sido mantidas parte das
vias férreas da estação e um pequeno
abrigo, onde está restaurada uma car-
ruagem de via estreita (que já lá se en- CTC em Alfarelos
contrava degradada há muitos anos).
De futuro, o concelho de Celorico de
Basto pretende ainda reabilitar outras
estações do seu concelho.
A Refer colocou em funcion-
amento, no passado dia 19
de Maio, a sinalização electrónica
No principal eixo ferroviário
do país, mantêm-se de fora do
comando centralizado os troços
na estação de Alfarelos. O tráfego entre Santana-Cartaxo Resguar-
que atravessa esta estação da do (exclusivé) e Entroncamento
Linha do Norte é agora integral- (inclusivé) e entre Ovar (inclusivé)
mente controlado pelo CCO de e Gaia (inclusivé), além também
Braço de Prata, incluindo a entra- das estações de Santa Apolónia e
da dos comboios provenientes do Pampilhosa. Apesar do Directório
Ramal de Alfarelos. Com esta in- da Rede de 2013 prever a substi-
tervenção, a Linha do Norte pas- tuição do sistema de sinalização
sou a contar com o troço desde a em ambos os troços, tal ainda
saída do Entroncamento à entra- não se verifica.
da da Pampilhosa integralmente
com CTC.

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Comboio Correio

Pedro Almeida Breves

Ricardo Ferreira

Comboio Histórico volta em 2013…


a diesel

Comboios regulares para Fontela


A CP anunciou a realização do Com-
boio Histórico do Douro para o cor-

D esde o passado dia 20


de Maio que se torna-
ram regulares as ligações da
-se relativamente estável já
há vários anos, mas tem sido
sempre operado em ligações
rente ano de 2013. O percurso de 36 quiló-
metros entre a Régua e a estação do Tua e
o respectivo regresso será percorrido todos
CP Carga entre o Entronca- especiais. Pelo meio, mais os sábados da parte da tarde, entre 13 de
mento e Fontela, e respectivo precisamente no início de Julho e 5 de Outubro, com tracção assegu-
regresso, responsáveis pelo 2012, passou de tracção die- rada pela locomotiva 1424. Recorde-se que
transporte de pasta de papel sel para tracção eléctrica, mas já no ano passado, foi esta mesma locomo-
para exportação, oriunda so- a composição manteve-se tiva que efectuou a totalidade dos comboios,
bretudo da fábrica da Celtejo inalterada, com os 21 vagões devido à greve dos maquinistas à tracção a
em Ródão. Foi assim criado His carregados a totalizarem vapor. Apesar da avaria registada recente-
o comboio nº 61360/1, com quase 800 toneladas. mente na 1424 quando deslocava o Com-
partida perto das 11h30 do En- No passado mês de Maio, boio Presidencial para o Entroncamento, a
troncamento e chegada pouco destaque ainda para o fim dos locomotiva já foi reparada no Barreiro e já
após as 14h. O regresso parte comboios entre Entroncamen- está em Contumil.
pelas 16h de Fontela, estação to e Ponte de Sor e Ponte de A partida da estação da Régua será pe-
que serve o porto da Figueira Sor e Mangualde, que circu- las 15h21, chegando pelas 16h31 ao Tua.
da Foz, e chega ao Entronca- lavam apenas aos sábados, No regresso, a composição de cinco carru-
mento próximo das 18h. para o transporte de madeira agens partirá às 17h15 e termina a viagem
Este tráfego clássico da de pinho. às 18h26. O custo será reduzido dos 45€ no
zona centro do país mantém- ano passado, para 35€ este ano.
Ficam assim desfeitas as dúvidas sobre a
continuidade deste serviço, que, apesar de
Linhado Oeste vai receber novo registar elevada ocupação, tem sido posta
em causa pela CP, que alega os 370 mil eu-
modelo de exploração ros de prejuízo resultantes da sua operação
e a falta de parceiros que ajudem no seu fi-

O presidente da CP,
Manuel Queiró,
adiantou recentemente que
o comboio, ao apostar na
fiabilidade e competitividade
do sector. Parte das câmaras
nanciamento.
Em 2014 a CP promete regressar à linha
com a locomotiva 0186, após convertê-la
a Linha do Oeste vai sofrer municipais da região para o funcionamento a fuel, ao invés de
no próximo mês de Julho garantiram que irão fornecer o carvão, com vista a reduzir os seus custos
uma completa remodelação transporte rodoviário entre as de exploração.
no conceito de exploração estações e os centros urbanos, Fonte: Público
Regional, com comboios mais de modo a ajudar a aumentar o
rápidos, directos e úteis à número de passageiros.
população. É um assunto a acompanhar
Este novo modelo pretende na próxima edição.
atrair a médio prazo as
populações novamente para Fonte: www.tvi24.iol.pt

7
Bitola Ibérica

Vizinha Espanha
David Aguaded

N o dia 1 de Maio, a APPFI (Associação


Para a Preservaçao do Material Ferroviá-
rio e Industrial) transferiu, desde Valência-Fuen-
te de San Luís até Mora La Nova, a locomotiva
250.029, que estava ao lado de outras locomo-
tivas da mesma série. Estas locomotivas perma-
necem no depósito desde que a Renfe Mercancí-
as abateu ao serviço toda a série no ano de 2010.
Uma curiosidade desta viagem foi o transporte da
Transporte da Locomotiva 250.029 locomotiva a cargo da empresa Continental Rail
em vez da Renfe Mercancías, como é habitual
noutros casos.

N a região da Galiza e de Aragão têm-se


efectuado comboios de deservagem,
mais conhecidos como o comboio “Herbicida” e
o comboio “Mata-Ervas”. As duas primeiras fo-
tos são do comboio “Mata-Ervas” a cargo das
locomotivas série 310 no trajecto entre Hesca e
Canfranc. As últimas duas fotos são do comboio
“Herbicida”, circulando entre Ourense e Vigo. A
destacar que este último circulou pelo ramal de
Tuy até junto da ponte internacional de Valença.

O comboio “Mata-Ervas” com as 310 e o “Herbicida” com as 311

8
Bitola Ibérica

Victor de La Cruz

N o passado dia 11 de Maio realizou-se o trans-


porte das locomotivas 308-025 e 140-2054
e da carruagem salão Z-203 desde Talleres Celada
la Fresa” entre Madrid e Aranjuez em 2010, 2011 e
2012.
A carruagem salão Z-203 foi construída pela So-
até Madrid. Os três veículos foram submetidos a uma ciedad Española de Construcción Naval (SECN) em
grande reparação na Talleres Celada e são propie- 1929 para a companhia de caminhos-de-ferro do
dade do CEHFE (Centro de Estudios Históricos del Oeste.
Ferrocarril Español).
A 308-025 (antigamente
10825) foi construída pela Ba-
bcock & Wilcox em 1965. Após
a sua retirada de serviço foi
cedida pela Renfe ao Museu
Ferroviário de Madrid e em
2011 foi cedida pelo referido
museu ao CEHFE.
A locomotiva de vapor 140-
2054 foi também construída
pela Babcock & Wilcox, mas
em 1928 e para a Compa-
nhia de Caminhos-de-Ferro
de Andaluces com o número
de série 4106. Já na Renfe foi
numerada como 140-2054. A
locomotiva é conhecida como
“Guadix” e rebocou o “Tren de
A composição nas imediações de Matapozuelos

9
Comboios de Mercadorias

João Joaquim

Vários
O cimento do

S
ituadas na zona
centro de Portugal, em
Pataias e em Maceira-
Oeste
Liz, as unidades de produção de
cimentos, argamassas e produtos
complementares da SECIL
asseguram o transporte de parte da
sua produção diária por caminho-
de-ferro. O transporte de cimento
por via ferroviária é feito a granel,
em pacotão ou em paletes com
destino a entrepostos comerciais
da empresa ou a seus clientes.
João Joaquim

N a produção de cimento são


utilizadas diversas matérias-
dependendo a escolha do meio de
transporte da quantidade a transpor-
O transporte ferroviário

-primas, uma vez que o cimento é tar e da distância a percorrer. Contu- O transporte ferroviário do pro-
constituído por uma mistura (em do, uma boa parte dos transportes é duto acabado das cimenteiras do
proporções bem determinadas) de combinado, recorrendo-se a mais do Oeste está entregue à CP Carga em
calcário, marga e argila, à qual se que um tipo de meio de transporte exclusivo, uma relação que dura já
adicionam, por vezes, materiais de para a entrega do produto acabado há longos anos. A única excepção a
correcção, tais como areia e minério ao cliente. esta relação de exclusividade ocor-
de ferro. reu quando foi recuperado e entre-

De forma a minimizar o custo do


transporte das principais matérias-
-primas, as unidades de produção
de cimentos são, por norma, instala-
das junto às pedreiras de onde é reti-
rado o minério utilizado no processo
de fabrico.
No entanto, esta escolha pela
proximidade para com a matéria-
-prima principal origina que a loca-
lização das unidades de produção
possa estar distante do destino do
produto acabado, o que implica obri-
gatoriamente o transporte do produ-
to acabado até ao consumidor final.
João Joaquim
O transporte de cimento e produ-
tos associados é realizado por via A locomotiva 1962 recua ao lado de uma composição de cimento em palete que
acabou de trazer da cimenteira da Maceira | Martingança, 26 de Março de 2013
rodoviária, ferroviária e marítima,

10
Comboios de Mercadorias

gue à Takargo Rail um antigo tráfe- Após cerca de nove anos a fun-
go de petcoke e clinker que servia cionar num esquema de distribuição,
as duas unidades do Oeste e que desde final de Abril deste ano a CP A Secil no Oeste
a CP assegurou até aos anos 90. Carga optou por realizar serviços
Contudo, este tráfego por intermédio directos entre as cimenteiras e os
Embora a Secil tenha
destinos finais do cimento através
da Takargo Rail, que se iniciou em sido fundada em 1930, ape-
de comboios-bloco ao invés de com-
2009, está novamente extinto, tendo nas em 1994 as unidades de
boios de distribuição, eixo e de volta.
o último comboio visitado as insta- Maceira-Liz e Pataias foram
lações da Maceira e de Pataias em Face à crise que se instalou em adquiridas por esta empresa
Outubro de 2012. Portugal nos últimos anos e à enor- (em consequência da reorga-
O petcoke que chegava por via me quebra registada na construção nização e controlo do mono-
marítima ao porto de Sines era car- civil, tanto em obras públicas como
pólio no sector cimenteiro).
regado em contentores abertos. Es- particulares, o mercado interno de
tes contentores eram posteriormente cimento verificou uma quebra de
carregados em vagões plataforma, proporções bastante significativas.
sendo realizada uma marcha com Esta situação levou a que a Secil
partida de Praias do Sado e com (à semelhança de outras empre-
sas nacionais) procurasse novos carga (Aveiro e Leixões) do que para
destino às cimenteiras do Oeste. O
mercados, em especial em países destinos do mercado nacional.
retorno desta marcha tinha como
emergentes e onde a produção de
destino Praias do Sado e transpor-
cimento não é suficiente para as As marchas
tava clinker cujo destino final era a
suas necessidades. E o resultado
exportação para países do Médio
desta pesquisa resultou em novos A reestruturação recente dos ho-
Oriente.
e importantes clientes! Actualmente rários dos comboios de mercadorias
a exportação de cimento representa ocorrida em todo o país não alterou
Actualmente a CP Carga está
uma importante parcela do negócio significativamente os horários pra-
encarregue do encaminhento de ci-
da empresa, reflectindo-se forte- ticados no Oeste. A diferença de
mento a granel e de cimento ensa-
mente esta situação no transporte
cado, tendo o tráfego do petcoke e maior destaque passa pela substitui-
ferroviário. Circulam mais toneladas
clinker voltado a ser assegurado por ção dos antigos comboios de distri-
de material entre as unidades da
via rodoviária. buição por comboios de transporte
Maceira e Pataias para os portos de

João Joaquim

Comboio de distribuição nº 57362 com destino a Pataias, aproximando-se da estação de Leiria onde, extraordinariamente, iria
realizar um cruzamento com um comboio de transporte de cimento para o porto de Aveiro | Leiria, 25 de Fevereiro de 2013

11
Comboios de Mercadorias

pressões durante os dias úteis, as-


sim como também foram realizados
comboios especiais aos sábados.
Houve, ainda, a alteração pontual do
destino dos comboios, trocando Pa-
taias pela Martingança (para a uni-
dade da Maceira) e vice-versa. Sem
dúvida, um indicativo de que a pro-
dução e venda das duas unidades
não é suficientemente significativa
que permita horários fixos, dando
origem a que a CP Carga os adapte
de forma a servir o cliente como ele
João Pedro Tavares
necessita.
A locomotiva 1901 conduz um pesado comboio de transporte de cimento com
destino à Pampilhosa | Leiria, 4 de Dezembro de 2012 Embora actualmente exista um
interessante movimento de transpor-
te de cimento no Oeste, em 2011 e
João Joaquim
2012 o tráfego regular contava ape-
nas com dois comboios diários, que
eram complementados com com-
boios especiais sempre que existia
um aumento da produção e vendas
das unidades de produção de cimen-
to. Com o aumento numa primeira
fase para três circulações diárias
e mais recentemente para quatro,
nota-se que a aposta da Secil em
procurar mercados exteriores está
a compensar e certamente ajudará
a equilibrar as contas da empresa
que não pode depender do merca-
Já perto do destino final na estação da Martingança, a 1943 rola paralela à N242 junto do nacional tal como se encontra no
à zona industrial | Marinha Grande, 8 de Novembro de 2012 presente. E em consequência deste
dinamismo empresarial, a CP Car-
de cimento e da alteração do destino mantêm o esquema anterior, apenas ga consegue também ganhar novos
regular da estação de concentração tendo sido ajustado o seu horário. serviços, assim como a Refer vê
da Pampilhosa pelo destino final da
mercadorias (Leixões, Irivo, Man- O tráfego de ci-
gualde e Gaia). Os horários sofre- mento do Oeste Os Ramais das Cimenteiras
ram alguns ajustes de pouco valor conta actualmente
A cimenteira da Maceira é servida por um ramal
(desde minutos até uma hora), com com quatro com-
próprio que inicia na estação da Martingança e
excepção de um horário criado re- boios diários (ape-
termina dentro da fábrica. Este ramal tem cerca de
centemente e que era realizado du- nas aos dias úteis)
3 km de comprimento.
rante a noite, passando a circular ao dedicados às duas
final da tarde (a marcha em vazio cimenteiras (um
A cimenteira de Pataias é também servida por
para a cimenteira da Maceira) e iní- para Pataias e três
um ramal próprio e que inicia na estação de Pataias.
cio da noite (a marcha carregada e para a Maceira). No
No entanto, uma vez que a estação se situa junto à
com destino ao porto de Aveiro). entanto, nos primei-
fábrica, o comprimento do ramal é muito reduzido,
Os, até há pouco tempo, com- ros dias dos novos
apenas de cerca de 20 metros até à entrada da
boios especiais com destino ao por- horários registaram-
fábrica.
to de Aveiro passaram a regulares e -se algumas su-

12
Comboios de Mercadorias

circular nas suas linhas mais com-


João Joaquim
posições. Sem dúvida uma situação
vantajosa para todos!

Abaixo da estação de Pataias não


existe hoje em dia qualquer tráfego
de transporte de cimento. Embora
exista um entreposto da Secil na ci-
dade de Torres Vedras que era abas-
tecido com alguma regularidade por
via ferroviária até ao ano passado,
o mesmo tem sido abastecido este
ano por via rodoviária, pois o volu-
me de vendas actual não justifica o
A iniciar a frenagem até à estação de Leiria, a 1908 tracciona a pesada composição transporte por caminho-de-ferro.
do comboio de cimento nº 64633 | Marinha Grande, 3 de Outubro de 2012

Fernando Joaquim
Material Circulante

A Linha do Oeste não se encon-


tra electrificada entre as estações do
Louriçal e de Mira Sintra-Meleças,
troço no qual estão situadas as duas
unidades da Secil no Oeste. Como
tal, a tracção utilizada para os com-
boios com destino às cimenteiras da
Maceira e de Pataias é assegurada
por locomotivas diesel. Actualmen-
teas locomotivas afectas a este trá-
fego são as locomotivas da séries
1900, 1930 ou 1960 (as únicas loco-
Locomotiva 1904 com um comboio de transporte de cimento para motivas diesel de linha e de grande
Torres Vedras | Pataias, 8 de Março de 2012
porte que a CP Carga tem ao seu

João Joaquim

Com a 1973 na tracção, o comboio de transporte de cimento nº 64633 percorre os pacatos campos de cultivo de milho de
Regueira de Pontes | Regueira de Pontes, 2 de Outubro de 2012

13
Comboios de Mercadorias

João Joaquim

João Joaquim

Uma composição de vagões Uacs da Transfesa aguarda na Em pleno ramal da Maceira, a 1902 encaminha vários vagões
linha do silo de carregamento | Maceira, 3 de Março de 2003 carregados até Martingança | 17 de Agosto de 2009

João Joaquim

MACEIRA-LIZ

A unidade de Maceira-Liz,
onde é produzido cimento do
tipo Portland, foi inaugurada a 3
de Maio de 1923. Actualmente
são produzidas 1.350.000 tone-
ladas/ano de cimento nesta uni-
dade, que são distribuídas por
via rodoviária e ferroviária. Em
Maceira-Liz existe, ainda, uma
unidade de produção de sacos
de papel para alimentação do
sector de embalagem da unida-
de de cimentos.
Uma composição carregada na Maceira chega à estação de Martingança, saíndo
da linha do ramal e entrando na principal | Martingança, 17 de Agosto de 2009

Fernando Joaquim João Joaquim

Vista geral da estação de Martingança com a chegada de uma A 1935 reboca várias toneladas de cimento no ramal
composição carregada proveniente da Maceira | 6 de Março de 2013 de Maceira | Martingança, 19 de Agosto de 2009

14
Comboios de Mercadorias

João Joaquim

Valério Santos

A 1963 à cabeça de uma composição já carregada e pronta Vista da cimenteira de Pataias do lado do portão de entrada
a expedir - Pataias, 16 de Agosto de 2011 do ramal ferroviário - Pataias, 14 de Maio de 2011

João Joaquim
CIBRA - PATAIAS

A unidade de Pataias,
também conhecida por Cibra-
-Pataias, foi inaugurada em 5
de Fevereiro de 1950, com uma
linha de produção dedicada à
produção de cimento branco.
Posteriormente esta unidade fa-
bril iniciou também a produção
de cimento cinzento, mantendo
o fabrico dos dois tipos de ci-
mento actual. A sua capacidade
de produção em 2010 era de
450.000 toneladas/ano de am-
bos os cimentos.
A 1935 descansa junto ao edifício principal da estação de Pataias com um
dos silos da cimenteira em plano de fundo | Pataias, 19 de Agosto de 2009

João Joaquim

Vista da entrada e de parte do pequeno ramal afecto à cimenteira de Pataias, ao lado uma 1960
aguarda autorização para entrar no perímetro da fábrica | Pataias, 7 de Outubro de 2005

15
Comboios de Mercadorias

serviço), sendo a sua rotação indi-


Fernando Joaquim
ferenciada dentro das unidades de
ambas as séries que estão afectas
ao depósito de Contumil (as loco-
motivas diesel que asseguram os
comboios de mercadorias na Li-
nha do Oeste estão actualmente
afectas ao depósito de Contumil).
De notar, ainda, que a maioria dos
comboios que circulam no Oeste
via Alfarelos são assegurados no
troço electrificado (até ao Louriçal)
por locomotivas eléctricas, nome-
adamente das séries 4700 e 5600.
Tal situação implica a mudança de
tracção na estação do Louriçal,
onde está afecta em permanência
uma locomotiva diesel (que tem A 1973 passa em boa velocidade pela estação da Marinha Grande traccionando
uma composição de cimento ensacado em big-bags | 11 de Março de 2013
como função diária assegurar os
comboios abaixo do Louriçal e os
comboios para as celuloses da
Leirosa).

No que diz respeito ao material


Troca de tracção - Louriçal
rebocado, nos comboios de trans-
Desde 2009, embora não ocorra em todos os comboios, a CP Carga passou
porte de cimento do Oeste são a realizar os comboios do Oeste (cimenteiros ou outras mercadorias) com re-
utilizados vagões tremonha Uacs curso a tracção eléctrica no troço acima do Louriçal, aproveitando desta forma a
da Transfesa para o transporte de electrificação parcial da Linha do Oeste. Como tal, na estação do Louriçal pas-
cimento a granel e vagões plata- sou a ser realizada uma mudança do tipo de tracção sendo trocada a locomotiva
formas Rlps e Rgs e vagões fecha- eléctrica à cabeça da composição por uma diesel, ou vice-versa.
dos His e Gabs para o transporte
de cimento ensacado (em palete João Joaquim

ou em pacotão) e outros produtos A tracção desde a Martingança


até ao Louriçal a cargo da 1901
como argamassas.

comboio especial de transporte de


Ambas as cimenteiras rece- cimento Martingança - Louriçal
bem os vários tipos de vagões, no João Morgado
16 de Abril de 2013
entanto a cimenteira da Maceira Marinha das Ondas - Vieirinhos

recebe o grosso dos vagões pla-


taformas. A cimenteira de Pataias
apenas recebe vagões platafor-
mas esporadicamente, sendo o
mais habitual receber vagões fe-
chados, Gabs e His.
Após a mudança de tracção no
Louriçal, segue a 5625 na frente
até à plataforma de Cacia

comboio especial de transporte de


cimento Louriçal - Martingança
FOntes : 16 de Abril de 2013
- www.secil.pt Ribeira de Seiça João Joaquim
- www.cpcarga.pt

16
Comboios de Mercadorias

Fernando Joaquim

João Joaquim

A 1901 encabeça uma comprida composição de transporte de cimento Uma composição uniforme de cimento ensacado e embalado
com destino à Pampilhosa - Regueira de Pontes, 22 de Março de 2013 em paletes - Marinha Grande, 19 de Agosto de 2009

João Joaquim João Joaquim

Comboio de distribuição 57362 com vagões fechados para Pataias e


tremonhas para o Ramalhal | Telhada, 26 de Fevereiro de 2013

João Joaquim

Comboio de distribuição nº 57362


com vagões para Pataias e Maceira,
traccionado pela 1962 aproximando-se
Uma composição mista (vagões fechados e plataformas) num comboio da estação da Marinha Grande,
especial de transporte de cimento | Leiria, 25 de Fevereiro de 2013 26 de Março de 2013

17
Comboio Internacional

DF-100
O ocaso de uma lenda

A
bril, fotografias mil. Pelo menos assim foi em Marrocos,
onde me desloquei este ano para um safari fotográfico há
João Cunha
muito programado e finalmente realizado. O objectivo era
o de realizar algumas boas fotografias nas magníficas paisagens
João Cunha
Marroquinas dos belos e muito clássicos comboios da ONCF, a
empresa estatal que opera os serviços ferroviários no país.

M arrocos é o último bastião das prestigiadas CC


72000 francesas, construídas no final da déca-
da de 60 e que marcaram de forma muito notória a histó-
lendária que ainda circulam. Em França ainda existem
quase trinta locomotivas da mesma série, mas já remo-
torizadas e sem o seu característico motor AGO de 16
ria da tracção ferroviária na Europa. Um lote de catorze cilindros, que na sua época chegou a ser o mais potente
locomotivas muito similares, com algumas diferenças do mundo em aplicações ferroviárias.
apenas na afinação dos motores diesel e na desmulti- Com a entrada em serviço das DH-400, novas lo-
plicação das engrenagens, foi comprado pela ONCF em comotivas diesel compradas pela ONCF (ainda que em
1969, e já em 2006 receberam mais seis locomotivas, segunda mão), a série será provavelmente retirada de
em segunda mão, vindas da SNCF. serviço, o que pode acontecer já no final deste Verão.
São actualmente as últimas locomotivas desta série As DF-101 a 114 têm uma potência de cerca de

DF 104 com um Beni Nsar Port - Taourirt

18
Comboio Internacional

A sua presença diante dos com-


boios de mercadorias é hoje em dia
praticamente nula, se exceptuarmos
alguns serviços em ramais particulares,
como por exemplo no porto de Tanger
diante de comboios de automóveis. To-
dos esses serviços se caracterizam por
serem serviços quase só de manobras
em ramais não electrificados. Na linha
Fes – Oujda raramente marcam pre-
sença, visto que os comboios de mer-
cadorias da linha normalmente apelam
a toda a potência das DH-350, mais po-
tentes, sendo que para as substituírem
seria necessária uma dupla tracção (e,
portanto, duas tripulações). Dos anos
DF 106, em Taza mais recentes, apenas há registo de ter
acontecido por uma vez, nos regulares
2.200 kW, para uma velocidade máxima de 135 km/h Fes – Oujda.
ou 80 km/h (dependendo da redução de engrenagens Na linha de Nador, em direcção ao porto de Beni
escolhida), ao passo que as DF-115 a 120 têm uma po- Nsar, o fluorescente tráfego de mercadorias é também
tência de 2.600 kW, para uma
velocidade máxima de 160
km/h ou 85 km/h, dependendo
da redução escolhida.
Foram durante muitos
anos as grandes responsáveis
pelos tráfegos de passageiros
na linha Sidi Kacem – Tanger,
antes da electrificação (que
ocorreu em 2009). A linha é
uma das principais do reino,
e proporcionou durante mui-
tos anos intensivos tráfegos
de comboios rápidos de pas-
sageiros mas também alguns
dos mais pesados comboios
de mercadorias que a série
assegurou em solo marroqui-
no.
Com a electrificação, o DF 117, ex-SNCF, num Beni Nsar Port - Casablanca, perto deTaza
primeiro grande golpe nas
prestações da série foi dado,
responsabilidade das DH-350, muitas vezes com recur-
datando dessa altura as primeiras baixas na série moti-
so a dupla tracção pela cauda em comboios completos
vadas por falta de tráfegos para assegurar, sendo algu-
de carvão.
mas locomotivas encostadas no seu depósito de sem-
pre em Sidi Kacem. Assim sendo, as DF-100 estão hoje confinadas a al-
gumas manobras e a comboios de passageiros com epi-
A abertura da linha entre Beni Nsar (perto da cidade
centro em Nador / Beni Nsar. São apenas dois comboios
espanhola de Melilla) e Taourirt, constituiu uma oportu-
(ida e volta) entre Beni Nsar e a estação de Taourirt,
nidade para prolongar a vida destas locomotivas, e é
onde a linha encontra a linha Fes – Oujda, e ainda dois
nessa linha que as locomotivas se encontram hoje em
comboios Fes – Beni Nsar (provenientes de Casablanca
dia concentradas. O seu depósito é hoje em dia o de-
e que chegam a Fes com tracção eléctrica), um deles
pósito de Fes, estação onde a electrificação termina e
nocturno. É nestes comboios que as locomotivas rodam
a tracção autónoma reina ainda em direcção a Oujda e
para irem a Fes à oficina.
Beni Nsar.

19
Comboio Internacional

As grandes reparações destas locomotivas estão comotiva de reserva em Taza, a cerca de duas horas
paradas há alguns anos, sendo a sua manutenção mais de viagem de Fes, reserva essa que é habitualmente
complexa e onerosa que a manutenção das outras loco- assegurada por uma DF-100.
motivas de fabrico americano em serviço no país. Algu- As fantásticas paisagens da linha Taourirt – Beni
mas circulam num estado de conservação que anuncia Nsar prestam-se na perfeição a imortalizar pela última
claramente o fim de linha para a série.

As locomotivas compradas em segunda mão à vez estas locomotivas lendárias, sobretudo se na deco-
SNCF apresentam desgastes muito mais controlados, ração sumptuosa da ONCF, com as cores creme e ver-
essencialmente imputáveis à melhor manutenção que melha a dominarem a decoração, em perfeita sintonia
tiveram até migrar para Marrocos, e é possível que se- com as paisagens áridas que os comboios atravessam
jam ainda conservadas alguns meses após a entrada na região.
das DH-400, sobretudo para assegurar os comboios de Será o fim de linha para uma lenda que começou
passageiros na linha de Nador, visto que são as únicas em França com as CC 72000, e que se fecha agora em
locomotivas diesel bi-cabine da ONCF – em Marrocos Marrocos, com produção de mais algumas derivações
as DH-350 circulam sempre com o nariz pequeno para das quais as portuguesas 1900 e 1930 são o exemplo
a frente, sendo viradas nos seus términus com o auxílio mais próximo.
de triângulos (que não existem ainda na linha de Nador).
Na linha Fes – Oujda existe habitualmente uma lo-

DF 109 com o Beni Nsar Port – Casablanca diurno

20
Comboios com História

Linha de Lamego
Pedro André / Pedro Mêda

P ortugal entre o
final do século
XIX e o início do século
Emilio Biel

XX vivia a loucura da
construção de novas
vias ferroviárias. Ideias
de novos traçados
de caminhos-de-
ferro surgiam a cada
momento. Muitas delas
não chegaram sequer
a sair do papel onde
foram planeadas. Logo,
as únicas memórias
que restam são
páginas de antigas
publicações com
Diligência fotografada em Lamego, no final do século XIX
referência às mesmas.
No entanto, e para
além das linhas efectivamente construídas e onde circulam ou circularam comboios, outros traçados
ferroviários tiveram obras no terreno sem nunca terem tido a devida utilização. Em algumas situações
nos dias de hoje é ainda possível descortinar vestígios existentes no terreno dos traçados. Na edição
deste mês vamos revisitar um pouco da história do que devia ter sido a linha entre a Régua e Lamego.

A
história do caminho-de- níveis na diligência, frequentemente de Emídio Navarro (responsável
-ferro até Lamego tem eram até obrigados a viajar em cima pelas Obras Públicas) e de Maria-
início no ano de 1873. dos volumes, agarrados aos varões no Carvalho (ministro da Fazenda)
Enquanto se construía a Linha do do tejadilho. O percurso era horrível, tendo em vista a construção desse
Douro, a Câmara de Lamego fazia tendo a diligência (e outros meios caminho-de-ferro.
pressão para que a via férrea pas- de transporte) de percorrer a antiga A proposta de lei autorizava a
sasse pela margem esquerda do rio estrada real, passando pela ponte que o Governo, após um período de
de modo a servir as populações da medieval da Varosa e subindo vaga- sessenta dias (onde se iria proceder
zona. Tal não aconteceu e a 15 de rosamente a caminho de Lamego. a um concurso público) pudesse ad-
Julho de 1879 é inaugurada a esta- Tornava-se, assim, cada vez mais judicar a construção e exploração
ção da Régua, seguindo a linha em necessária a tão desejada ligação desse caminho-de-ferro. Este traça-
direção a Espanha pela margem di- ferroviária. Se para os passageiros do, segundo a proposta de lei, seria
reita do rio. É já em pleno alto Dou- era um martírio, o transporte de mer- construído em via reduzida, ou seja
ro, pouco antes do apeadeiro da cadorias também não era fácil, aten- com bitola métrica, e o seu percur-
Ferradosa, que a linha muda para o dendo ao recurso da tracção animal. so teria início em Vidago, passando
lado esquerdo onde se mantém até É em 1886 que Emídio Navarro depois por Pedras Salgadas, Vila
à fronteira. apresenta os primeiros estudos pre- Pouca de Aguiar, Vila Real, Régua,
Nesta altura, o transporte de liminares sobre a ligação ferroviária Lamego, Vila da Ponte, Moimenta da
passageiros era efectuado por uma que haveria de servir esta localida- Beira e Trancoso, tendo o seu térmi-
diligência que assegurava a ligação de. Estes estudos ficaram concluí- no em Vila Franca das Naves, onde
entre Lamego e a estação da Régua. dos em 1888 e foi assim apresenta- entroncaria com a Linha da Beira
Como normalmente os passageiros da, no dia 1 de Junho desse mesmo Alta, numa extensão aproximada
eram mais do que os lugares dispo- ano, uma proposta de lei da autoria de 193 quilómetros. O estudo em

21
Comboios com História

incluído no Plano Nacional decreta-


do a 15 de Fevereiro de 1900. No
entanto, logo aqui surgiram as pri-
meiras dúvidas que punham em cau-
sa o projecto inicial, já que a ligação
entre a Régua e Lamego seria de
difícil concretização, tendo em con-
sideração o enorme desnível exis-
tente entre as duas localidades (para
além de ser necessária a construção
de uma ponte sobre o rio Douro). É
então que se põe em cima da mesa
a possibilidade de empregar raios
de curva mais pequenos da ordem
dos 75 metros, podendo até chegar
aos 60 metros para que os custos da
obra fossem reduzidos significativa-
mente. Surge inclusivé a possibilida-
de de usar o sistema de cremalheira
para facilitar a tracção. Entre avan-
ços e recuos, é no entanto autoriza-
da a sua construção.

Em 1903, com o Conde Paçô


Vieira como Ministro das Obras Pú-
blicas, a ligação ferroviária a Lame-
go volta a ser inscrita na listagem de
linhas que o estado deveria cons-
truir. O facto é que já se haviam pas-
sado quinze anos desde a primeira
proposta de lei e o projecto continu-
que esta proposta de lei se basea- Na altura os caminhos-de-ferro ava nos gabinetes à espera de ser
va, para além do tamanho da bitola eram vistos como a única alternati- concretizado.
e extensão do projecto, referia ainda va viável ao transporte de pessoas Se a ligação entre a Régua e
que as curvas deveriam cumprir os e mercadorias, e o facto da ligação Vila Franca da Naves (com passa-
150 metros de raio e as rampas no estudada permitir a conecção entre gem em Lamego) não havia manei-
máximo de 25/1000. a Linha do Douro e a Linha da Beira ra de sair do papel, a ligação a Vila
Alta, levou a que o projecto ficasse Real começava a tomar forma, com
as obras a bom ritmo. Em
Março de 1909 é pedida
permissão ao estado para
avançar com as obras entre
a estação da Régua e La-
mego - o terreno destinado
à estação de Lamego ficou
desde logo reservado em
Maio desse mesmo ano.
No dia 1 de Abril de 1906 já
o comboio apitava em Vila
Real. Só em 1911 é dada
ordem para que se avan-
çassem com as obras em
direcção a Lamego. No en-
tanto o eclodir da I Guerra
Mundial leva mais uma vez
a que nada seja feito no ter-

22
Comboios com História

reno.
Gazeta dos Caminhos de Ferro

No dia 25 de Março de 1920 a


Repartição Central do Ministério do
Comércio e Comunicações, através
do Congresso da República promul-
ga a lei nº 975 que referia o seguinte:

“É autorizada a Câmara Mu-


nicipal de Lamego directamente ou
por empresa que constitua, a cons-
truir um caminho-de-ferro eléctrico
que ligue a cidade de Lamego com
o caminho-de-ferro do Douro, na es-
tação da Régua, bem como qualquer
outro caminho de ferro, em estação
conveniente”.
Obras da construcção da ponte do Varosa

Esta lei permitia ainda que a


linha pudesse utilizar as estradas Gazeta dos Caminhos de Ferro

existentes e permitia a expropria-


ção de quaisquer terrenos necessá-
rios para o pleno funcionamento do
caminho-de-ferro. Nota ainda para o
facto de “se nos próximos seis anos
não fossem realizadas obras, os ter-
renos expropriados voltariam à pos-
se dos anteriores donos”.

Com mais esta discussão nos


corredores do Governo, a juntar
a tantas outras, facto é que foi já
perto do fim da década de 20 que
finalmente começam as obras. O
percurso do caminho-de-ferro teria
Obras da construcção da ponte do Varosa
início na estação da Régua na saída

para Barca d’ Alva, onde a linha iria quer trabalhos no terreno tendo em
curvar à direita num ângulo de 90º, vista o prolongamento da linha em
passando depois sobre uma nova direcção a Moimenta e Vila Franca
ponte que haveria de ser constru- das Naves.
ída sobre o rio Douro a caminho
da margem esquerda do mesmo. A orografia no terreno entre a
A partir daí começavam as dificul- Régua e Lamego impunha desde
dades, com a subida em direção a logo que o traçado da linha fosse
Lamego pela margem direita do rio bastante sinuoso, tendo um compri-
Varosa até perto de Quintão, onde mento a rondar os 19 quilómetros
haveria a necessidade de construir (tal como já tinha sido referido nos
uma outra ponte para passar para diversos projectos anteriores), com
a margem esquerda. Já com a li- inúmeras curvas (bastante aperta-
nha implantada nessa margem, o das) e pendentes bastante eleva-
percurso iria servir as localidades das. No entanto e como já referido
de Cambres, Portelo, Souto Couvo a primeira dificuldade estava logo no
e Sandes, antes de chegar a La- atravessamento do rio Douro.
mego. Segundo o que foi possível
Arco da ponte do Varosa
apurar, nunca se fizeram quais- A construção da ponte sobre o

23
Comboios com História

António Pombo Rio Douro começa em 1927 com


projecto do Engenheiro Avelar Ruas,
tendo as obras sido conduzidas pelo
Engenheiro Maçã Fernandes. Em
1933 a ponte e os acessos à mes-
ma estavam finalizados. Esta im-
pressionante obra de arte é uma das
mais extensas do seu tipo em Por-
tugal. Não sendo tão densa como
outras realizadas no mesmo mate-
rial (como por exemplo o viaduto do
Tâmega), apresenta uma esbelteza
e outros atributos que em muito en-
grandecem a engenharia nacional.
A opção pelos materiais utilizados
Onde seria uma passagem de nível para a construção das pontes era,
assim como hoje, alvo de discussão.
António Pombo A Gazeta dos Caminhos de Ferro
de 1917 apresenta um artigo extre-
mamente interessante sobre esta
temática, tendo como base a op-
ção da Companhia do Vale do Vou-
ga pela construção de pontes em
cantaria. Transcrevem-se algumas
partes desse artigo, que poderá ter
estado na base da opção pelo modo
de construção das pontes presentes
neste traçado:

“E´ verdadeiramente lamen-


tável que, sendo Portugal um paiz
tributario da importação do ferro, se
Panorâmica do traçado da linha
tenham construido quasi todas as

Pedro Mêda

Ponte sobre o Varosa na actualidade

24
Comboios com História

nossas pontes n´aquelle


metal...
... Melhor andou a
Companhia do Valle do
Vouga, que construiu as
suas quatro pontes sobre
o Vouga e os viaductos
do Espigão, de Pinheiro
de Lafões e de Vouzella,
em pedra, os quaes, qua-
si todos em curva são um
modelo de construcção...
... Foi uma compa-
nhia franceza que nos
veio dar d’estas lições de
economia, como lições
nos deu na construcção
de edifícios de estações
e n’outras obras de arte
em que foi observada a mais rigorosa eco-
nomia.
Outras linhas de via reduzida estão
sendo construídas, o prolongamento do Val-
le do Corgo, Valle do Tamega e Valle do Sa-
bor, e seria muito para louvar que as obras
de arte a fazer fossem em pedra...
...Bem sabemos que a construcção de
uma ponte de pedra custa, na maior parte
dos casos, mais cara do que sendo de ferro,
mas em compensação, evita as contínuas
reparações ás vezes dispendiosa...”

É provável que o conhecimento adqui-

Pedro Mêda

Ponte sobre o rio Douro em 2007

25
Comboios com História

rido no projecto de pontes em pedra, a Comissão Administrativa do Fun- me déficit em termos financeiros. O
sobretudo para caminho-de-ferro de do Especial de Caminhos-de-Ferro desencadear da II Guerra Mundial
via estreita, tenha contribuido para a aprova o concurso para fornecimen- em 1939 só veio piorar a situação da
opção tomada para a Linha de La- to de “tirefonds”. Todo este material conclusão das obras, que continua-
mego. ia sendo depositado na estação da vam à espera de ordens superiores
Certo é que a ponte da Régua é Régua, aguardando apenas pela que tardavam em chegar. A guerra
uma das mais audazes construções finalização dos trabalhos do leito, durou até 1945 e o projecto acabou
realizadas em pedra. Os seus 330 para que a via pudesse ser coloca- por morrer definitivamente.
metros de comprimento vencem o da. Tudo parecia encaminhado para
leito do rio através de três arcos cen- um final feliz, que infelizmente não A ponte sobre o rio Douro foi
trais com 65 metros de vão e sete ar- veio a suceder. aproveitada para o tráfego rodoviá-
cos laterais com 12 metros. Entre os rio em substituição da ponte metá-
arcos maiores, a estrutura é aligeira- Tinham passado mais de qua- lica existente ao lado. Foi entregue
da com recurso a cinco arcos de 6 renta anos desde os primeiros pla- à Junta Autónoma de Estradas em
metros de vão. Nas extremidades os nos, e a realidade do país tinha 1949, que realizou obras de alar-
arcos são apenas três. Importa real- mudado profundamente. A estrada gamento do tabuleiro, de forma a
çar que o recorde europeu de arcos pombalina tinha dado lugar à actu- permitir uma faixa de rodagem de 5
em pedra pertence à ponte Plauten, al Estrada Nacional 2, que fazia a metros e dois passeios com 0,80 me-
na Alemanha, com 90 metros. ligação entre a Régua e Lamego em tros. Este alargamento foi realizado
apenas 15 quilómetros contra os 19 com uma estrutura de betão armado,
Continuando o percurso, as quilómetros da via férrea. As carro- projectada pelo Engenheiro Edgar
trincheiras, os taludes, os muros de ças e as diligências tinham dado Cardoso. Em 1947 o terreno desti-
suporte e a plataforma da via iam lugar a veículos automóveis, bem nado ao apeadeiro de Cambres foi
avançando pelas encostas do Dou- mais rápidos a percorrer a distância aproveitado após negociações com
ro, enquanto que sobre o rio Varosa entre a estação da Régua e Lamego a CP para a construção do campo
mais uma imponente obra de arte do que o previsto para o comboio. de futebol. A zona do traçado entre a
era construída. Para este facto muito contribuiu ponte do Varosa e a intersecção com
A ponte do Varosa é uma estru- a aquisição por parte da Companhia a Estrada Nacional 2 foi aproveitada
tura, também em pedra. Apresenta do Valle do Vouga em 1930, de “au- na década de 70 para a construção
um comprimento de 148,60 metros, to-cars“ a gasogénio “Panhard“ que da central eléctrica pertencente à
desenvolvento-se em curva. É cons- asseguravam o complemento de li- barragem do Varosa localizada pou-
tituída por um arco de 55 metros de gações entre Viseu – São Pedro do cos quilómetros a montante.
vão e 40 metros de altura. O des- Sul – Castro Daire – Lamego – Ré- Em Lamego o local da estação
cimbramento do arco ocorreu no dia gua. Neste troço, os “Panhard“ de- é onde hoje se situa a zona do tri-
20 de Outubro de 1932, numa ceri- moravam 25 minutos. bunal.
mónia que reuniu várias individua- De notar que, na Linha do Cor- A maior parte do percurso por
lidades ao nível da companhia dos go, na década de 20, o comboio onde a linha iria passar é ainda nos
caminhos-de-ferro e do Governo. mais rápido demorava mais de uma dias de hoje reconhecível. Alguns
Os trabalhos demoraram pouco hora a percorrer a distância entre a troços são hoje estradas e caminhos
mais de um ano e envolveram equi- Régua e Vila Real numa distância de de acesso às diversas localidades
pas que chegaram perto dos 300 25 quilómetros. O trajecto projectado que aproveitaram todo o trabalho
operários. entre a Régua e Lamego não seria efectuado em trincheiras e taludes.
muito diferente do existente na li- No terreno é fácil identificar por onde
Com a confiança de que se- nha do Corgo, logo por essa razão a o comboio teria passado caso o pro-
ria desta que o comboio iria chegar competitividade que iria existir entre jecto tivesse sido finalizado.
a Lamego, os preparativos para a o transporte ferroviário e o rodoviário A ponte da Régua continua ain-
construção da estação têm início de seria enorme, senão mesmo desleal. da hoje a ter uma grande utilidade no
imediato. São por isso demolidos Começaram também a surgir atravessamento do rio Douro. A pon-
em 1926 parte dos muros do antigo pressões de quem controlava as te do Varosa continua a ligar as duas
Paço Episcopal, para que o terre- carreiras comerciais rodoviárias so- margens à espera de um futuro mais
no ficasse preparado. São inclusivé bre os governantes com o intuito de risonho que, no minímo, a preserve
apresentados vários projectos desti- “abortar” a ligação ferroviária, e o enquanto memória de todos quantos
nados ao edifício de passageiros da facto é que todos os “números” que trabalharam para levar o comboio
estação de Lamego. O Governo em eram apresentados relativamente ao até Lamego e que nunca tiveram o
1933 abre concurso para o forneci- custo / beneficio da construção e ex- privilégio de o ver passar.
mento de material de via e em 1934 ploração da linha sugeriam um enor-

26
Comboios com História

Traçado aproximado do percurso da


linha entre a Régua e Lamego
© Google Earth

António Pombo

António Pombo

Fontes:
>> Gazeta dos Caminhos de Ferro (vários números)

>> Lamego Digital

>> Narrow Gauges Railways of Portugal (W.J.K.Davies)

>> Algumas reflexões sobre as acessibilidades no Alto


Douro de Maria Helena Mesquita Pina, do Instituto de
Geografia, EL.U.E

>> Caminhos de Ferro Portuguezes, Subsidios para a


sua história de Conde de Paçô Vieira

>> Pelas Linhas da Nostalgia, de Rui Cardoso e


Mafalda César Machado

27
Spotting

5628 e 5621 com um comboio de


carvão Pego - Sines, Alcácer do
Sal, Julho de 2008

Nuno Morão

28
Siderodromofilia

“Memórias” de Regionais
Covilhã – Guarda
“Inter Beiras”

Pedro André / José Sousa

C
ontinuamos
a viajar pelos
serviços Regionais
desaparecidos. Nesta edição
vamos até à Linha da Beira
Baixa, mais concretamente
ao troço entre a Covilhã e a
Guarda.

madeira em muito mau estado nalgumas


secções e com a existência de carris
António Pombo Perto de Caria com mais de 100 anos. Assim, a viagem
demorava em média 1h15m para percor-
rer os cerca de 41 quilómetros, média

A
s ligações ferroviárias entre a Covilhã e a comercial de aproximadamente 33 km/h.
Guarda estão encerradas desde o dia 9 de Com três ligações em cada sentido, o primeiro Regio-
Março de 2009, quando a CP anunciou a sus- nal do dia (nº 5671) era o mais dificil de ser fotografado,
pensão da circulação ferroviária entre as duas cidades já que tinha saída da Covilhã logo pelas 5h53 e chega-
devido às obras que a REFER iria efectuar nesse troço. da à cidade da Guarda às 7h08. Apenas nos dias mais
Com uma extensão de 41,5 quilómetros, este percurso compridos do Verão havia a possibilidade de fazer uma
Regional estava a cargo das automotoras Allan 0350. fotografia “menos má”, muitas das vezes já na aproxi-
A linha apresentava à data do encerramento enormes mação da automotora ao seu destino final. O facto de a
limitações de velocidade, quer pelo traçado bastante si- linha percorrer, numa grande extensão, as encostas da
nuoso com inúmeras pontes e pontões, quer pela pró- serra, proporcionava algumas fotos fantásticas, com a
pria superestrutura de via que contava com travessas de passagem das circulações sobre diversas pontes num

Bernardo Rafael
Maçainhas

29
Siderodromofilia

percurso inaugurado em 1893. Du-


José Sousa
rante os 116 anos em que os com-
boios circularam entre a Covilhã e a
Guarda, o percurso manteve-se inal-
terado e a perda da importância desta
linha levou a que ficasse operacional
apenas a estação de Belmente-Man-
teigas, embora ultimamente não se
efectuassem cruzamentos entre os
Regionais que por ali circulavam.
Com a automotora a “rasgar” a ser-
ra, o serviço de passageiros tinha as
seguintes paragens no sentido norte
– sul: Barracão/Sabugal, Benespera,
Maçainhas, Belmonte-Manteigas e
Caria.
O Regional 5672 com partida da Estação de Belmonte
Guarda pelas 7h25 era o segundo
comboio do dia, e na maior parte do
ano já circulava com luz suficiente,
o que permitia escolher uma maior António Gonçalves
variedade de locais onde fotografar
a composição. Os diversos afrouxa-
mentos nas pontes (alguns deles a
20 km/h) permitiam por vezes apa-
nhar a automotora em mais do que
um local da viagem. Embora a via-
gem a bordo da automotora fosse
lenta, as estradas que ligavam as di-
versas paragens ferroviárias ou que
permitiam um maior contacto com o
trajecto ferroviário também não facili-
tavam quem pretendia fazer mais do
que uma fotografia por cada uma das
circulações. Por exemplo, os apea-
deiros de Benespera e de Maçainhas Maçainhas

ficam quase no topo da serra e ir até


José Sousa
lá implicava ter de voltar para trás pela
mesma estrada. Com chegada do
Regional 5672 à Covilhã pelas 8h38,
restava ao spotter fotografar alguma
circulação entre a Covilhã e Castelo
Branco, porque o próximo regional (nº
5677) com destino à Guarda só teria
partida autorizada pelas 11h40, ou en-
tão seguirmos viagem à descoberta de
mais um local de spot. As pontes dos
Corges, da Gualrita ou da Benespe-
ra são locais sempre apraziveis para
captar a passagem da Allan, que pelas
12h55 há-de chegar à Guarda após
mais uma viagem por entre vales e
Benespera
montes, que, em pleno Inverno, esta-
Pedro Mêda vam cobertos de um manto branco de

30
Siderodromofilia
neve.
O intervalo entre a passagem do António Pombo
Regional 5677 e do 5678 (Guarda –
Covilhã) era o escolhido para almo-
çar e para provar as iguarias próprias
daquela zona do país. O que a linha
oferecia em termos de paisagens
maravilhosas perdia em número de
circulações; havia, inclusivé, a pos-
sibilidade de supressões nos últimos
tempos, já que apenas uma unidade
estava afecta a este serviço, e em
caso de avaria os passageiros eram
encaminhados por táxi.

O silêncio, a melancolia e a pa- Ponte dos Corges


catez da região só era incomodada
com os apitos da Allan ao cruzar as
passagens de nível sem guarda que,
um pouco por todo o lado, se encon- António Gonçalves
tram nesta parte da Linha da Beira
Baixa. A A23 corre muitas vezes em
paralelo com a linha, e vai vencen-
do essa corrida em velocidade com
a automotora, que em alguns locais
mais parece ir parada, tal não é o es-
forço necessário para ultrapassar as
diversos rampas da linha.
Após o Regional 5678, que che-
gava à Covilhã às 14h50, ainda nos
restavam mais duas circulações para
fotografar no resto do dia. Ao contrá-
rio do que sucedia por exemplo, en- Benespera
tre Beja e Funcheira, ou no Ramal de
Cáceres, a CP continuou até ao fim
do serviço Regional de passageiros tírio para quem viajava no interior da tes no percurso continuam abando-
entre a Covilhã e a Guarda a optar Allan, sujeito aos ínumeros balanços nadas e nem os pseudo-concursos
por uma maior oferta. O facto é que e saltinhos que a automotora dava e planos da parte da REFER para a
nem assim os passageiros eram su- em cada viagem. requalificação das mesmas avança-
ficientes para manter o serviço ren- Finalmente havia o Regional ram. A linha degrada-se a cada dia
tável, quer pelos horários (que não 5682, que saía da Guarda às 18h30, que passa, os incêndios florestais
serviam os interesses de quem que- ou seja, demasiado cedo para quem vão queimando travessas – a nature-
ria usar o comboio), quer pelo serviço trabalhava e queria usar o comboio za vai também reclamando a posse
demasiado lento. como meio de transporte até casa. da via. O futuro mais próximo dificil-
Após um período de espera co- Este era o último comboio do dia que mente trará de volta o apito do com-
meçava-se a ouvir a Allan a subir a por ali circulava, já que tinha chega- boio a esta zona serrana do país.
serra com o Regional 5681 (Covilhã – da à Covilhã às 19h42. No final, a Os transportes rodoviários de subs-
Guarda). Só o aspecto mais moderno Allan encostava e descansava até à tituição já acabaram e quem usava
da Allan, a contrastar com o aspecto madrugada do dia seguinte. o comboio como meio de transporte
da linha, dos apeadeiros degradados viu-se privado de algo que durante
e das casas de passagem de nível Nos dias de hoje a circulação tantas dezenas de anos lhe facilitou
abandonadas, nos levava a pensar mantém-se encerrada e, das obras a mobilidade. O abandono do interior
que estavamos em pleno século XXI. previstas, apenas entre Caria e do país em termos de património fer-
O rústico que a linha apresentava era Belmonte é que a linha foi comple- roviário vê-se a cada passo que se
sem dúvida um motivo de atracção tamente renovada, tal como o túnel dá, quando se percorre este troço de
para os mais apaixonados pelo cami- do Sabugal. As dez pontes existen- linha.
nho-de-ferro, mas um autêntico mar-

31
Siderodromofilia

José Sousa

João Braga

António Gonçalves

José Sousa

António Gonçalves

Pedro Mêda

32
Figura do Passado

Principais Caracteristicas

Numeração UIC: 90 94 7 029101 a 90 94


7 029103
Construtor: Nohab
Data de construção: 1949
Comprimento: 15,500 m
Largura: 2,730 m
Altura: 3,497 m
Peso (ordem de marcha): 23,275 t
Disposição dos rodados: B’B’
Lotação: 8 [1ª classe] + 28 [2ª classe] +
20 [em pé]
Velocidade máxima: 70 km/h
Potência nas rodas: 202 Cv

Fontes: Documentação CP; LusoCarris.

Fotografia: Gabriel Lopes


Perto de Fregim, vemos uma Nohab já em final de carreira

CP 9100 escuro. A partir de 1972 seria


novamente substituído, para a cor
também em dupla (não permitiam a
múltipla tracção) ou com carruagens
vermelha com listas brancas em V a reboque.
Ricardo Ferreira e quatro/cinco anos mais tarde em O ano de 1990 vem reduzir o seu
diagonal. espaço de acção para 13 quilómetros

A
pesar de longa, a história A carreira das Nohab resumiu- e infelizmente o casamento perfeito
das Nohab de via estreita se na sua totalidade e durante com o Tâmega teve um final menos
resume-se em poucas 54 anos às populações do feliz numas festas de S. Gonçalo: no
palavras. Tâmega, isto não considerando dia 7 de Junho de 1998, pelas 20h30,
Corria o ano de 1947 quando as (possíveis) experiências a automotora 9101 chocou contra a
a CP assumiu a exploração da realizadas (sem sucesso) noutras 9102 próximo de Vila Caiz, depois
Linha do Tâmega, linha que à data linhas. Atendendo ao volume de de uma delas não ter esperado o
apresentava um grande défice mercadorias, até à década de cruzamento em Vila Caiz. As duas
face às restantes de via estreita. 80 era frequente aparecerem em Nohab foram levadas para Guifões
No sentido de melhorar as suas circulação transportando a reboque e apenas a 9102 regressou à linha,
condições de operação, a CP decidiu um ou até dois vagões ou furgões ao receber parte das peças da 9101.
adquirir três automotoras Nohab de com o objectivo do despacho de A história das automotoras
fabrico sueco (à imagem das de via mercadorias, evitando sempre que restantes (9102 e 9103) terminou a
larga), uma prática de modernização possível a realização de comboios Julho de 2002, com a introdução das
bem comum à data também noutras de mercadorias com recurso a automotoras LRV 2000 na região. A
linhas. locomotivas a vapor. Em alturas 9103 espera um futuro num museu
Chegaram a Portugal entre de reforço, como nas festas de (Arco de Baúlhe?), enquanto que na
1948/49 e foram rapidamente S. Gonçalo, as Nohab operavam 9102 paira a incerteza.
introduzidas no serviço regular.
Não foram, contudo, as primeiras Ricardo Ferreira
automotoras a circular na região
Tâmega, uma vez que desde o
início de 1948 circulavam já ali as
automotoras de fabrico nacional
ME1-8, tendo as Nohab’s actuado
essencialmente na sua substituição,
afastando-as para outras linhas.
Eram automotoras de 1ª e 3ª
classe, com dois bogies (B’ B’) e
dois motores que totalizavam 202cv
e levavam a automotora a uns
vertiginosos 70 km/h para as curvas
que serpenteavam os 52 quilómetros
do Tâmega. Inicialmente circularam
com o esquema verde e creme e
mais tarde, no início da década de
O destino que tiveram as Nohab 9103 e 9102, Livração em Março de 2009
60, receberem o esquema azul-

33
Destaque Ferroviário

Mercadorias João Joaquim

50366
64132
Ramal LeandoPampilhosa
Cimpor – -SRouselas
amalhal

A 4706 com uma composição mista Uacs Transfesa e Cimpor rumo a Souselas | Ovar, Abril de 2012

D Uma destas marchas é o comboio 64132, que to-


evido às características geológicas do territó-
rio nacional, a extracção e fabrico de cimento dos os dias úteis liga o entreposto da Cimpor da Maia,
é predominante na zona centro de Portugal. situado no Ramal Cimpor do Leandro, à estação de Sou-
Como tal, a utilização de cimento na região Norte e Sul selas – que serva a cimenteira existentes nesta localida-
de Portugal (assim como na zona interior centro) requer de. A composição é unicamente composta por vagões
o seu transporte desde as poucas cimenteiras existen- tremonhas vazios e afectos ao transporte de cimento da
tes no nosso país até ao destino final. série Uacs. Normalmente a composição é mista entre
De forma a facilitar o fornecimento em zonas mais vagões Uacs Cimpor e Uacs Transfesa.
afastadas das cimenteiras, as empresas produtoras de O 64132 consta dos horários da CP há já cerca de
cimento optaram pela instalação de entrepostos comer- uma década. No entanto, inicialmente circulava no perí-
ciais que procediam ao ensacamento do cimento e dos odo da manhã chegando a Souselas cerca das 11h30.
seus derivados, sendo que o transporte do cimento des-
de as unidades produtoras era feito a granel. No entan- A tracção deste comboio está actualmente entregue
to, com a melhoria quer do processo produtivo, quer do às locomotivas 4700 (embora também as 5600 o asse-
processo logístico do transporte e armazenamento, esta gurem com alguma frequência). Entre 2009 e 2011 a sua
opção nos últimos anos tem caído em desuso. tracção esteve a cargo das 2600 (sempre em unidade
múltipla) enquanto que até 2009 à frente deste comboio
Uma das excepções a esta tendência é o entreposto era habitual a presença das 2550 (também em unidade
da Cimpor da Maia, que continua a receber cimento a múltipla).
granel e a ensacá-lo para distribuição em toda a zona
Norte de Portugal. Este entreposto recebe diariamente
(apenas dias úteis) dois comboios provenientes de Sou- Partida: 13h20
selas, carregados com cimento em pó e transportado Chegada: 15h06
em vagões tremonhas. No entreposto da Maia o cimen- Tempo de percurso: 1h46
to é descarregado e ensilado até ao seu ensacamento. Distância percorrida: 121,58 km
Uma vez o cimento descarregado existe a necessidade Tipo de marcha: T-100
de devolver os vagões à cimenteira de Souselas para Tipo de locomotiva: CP 4700
que possam ser novamente carregados, existindo para Regime de frequência: dias úteis
tal duas marchas de material em vazio com destino a
Souselas.

34
Destaque Ferroviário

Último 64132 traccionado pela série 2600/20, com as 2602+2626 à cabeça | Rio Tinto, Janeiro de 2011

As 2570+2553 encabeçam uma comprida Uma composição apenas de Uacs Cimpor é liderada pela
composição | Miramar, Março de 2009 5623 em mais um regresso a Souselas | Granja, Maio de 2013

As 2602+2607 aproximando-se de Ovar com uma composição em vazio para Souselas | Arada, Março de 2010

35
Modelismo - Exposições

Encontros de Modelismo
João Joaquim

Vários

O
mês de Maio de 2013
foi, por bons motivos,
um mês atípico para
o modelismo ferroviário em
Portugal, já que durante este
mês decorreram três exposições
relacionadas com o tema e
abrangendo o país de Norte a Sul. João Joaquim

N o dia 18 de Maio, sá-


bado, comemorou-se o
Dia Internacional dos Museus e,

Neste mesmo dia realizou-se
no Barreiro uma exposição
de modelismo ferroviário orga-
comboios que circulam ou circu-
laram na Península Ibérica.

a convite do Núcleo de Lousado nizada pela Associação Cultural Já em Cantanhede, teve iní-
do Museu Nacional Ferroviário, o Comboio da Esperança e que cio uma exposição de cariz ferro-
grupo Módulos da Malta do Porto contou com a ajuda e colabora- viário e dedicada ao tema da Li-
reuniu-se junto da maquete que ção de vários modelistas da zona nha da Beira Alta, seu passado e
tem montada nas instalações do de Lisboa e arredores. Esta ex- presente, e que estará aberta ao
núcleo para mais um encontro de posição, que pode ser visitada no público até 14 de Julho de 2013.
modelismo onde o comboio foi o quartel dos Bombeiros Voluntá- Nesta exposição o modelismo
tema principal, e desta feita com rios do Barreiro, esteve aberta ao também se faz sentir presente,
a restrição de que apenas circu- público durante todo o fim de se- embora em moldes diferentes de
lariam comboios rebocados por mana contando com a circulação uma exposição ou encontro dedi-
locomotivas diesel da CP com o de inúmeros comboios durante cado em exclusivo ao tema.
esquema de pintura laranja. os dois dias, que representavam

Tiago Duarte

36
Modelismo - Exposições

Exposição de Modelismo Ferroviário


no Barreiro

Sérgio Santos

N
o fim-de-semana de 18 rença de ter sido mais
e 19 de Maio decorreu curto em 60 minutos,
uma exposição de mo- terminando às 18h. A
delismo ferroviário no quartel dos montagem da maque-
Bombeiros Voluntários do Barreiro te realizou-se, como é
(BVB) – Corpo de Salvação Pública. habitual, na sexta-feira
Apesar de não ser a primeira vez ao final da tarde para
que se realiza uma exposição desta que, assim, tudo esti-
temática nesta localidade, a verdade vesse operacional no
é que já passaram cerca de quatro sábado de manhã na
anos desde a última exposição rea- abertura aos visitantes.
lizada – no ano em que se comemo- Esta mostra incluiu
raram os 150 anos dos Caminhos- uma maqueta constitu-
-de-ferro no Barreiro. ída por cerca de qua-
Talvez por o Barreiro ser uma renta módulos Maquetren em forma tivos óbvios foi alvo de muita aten-
terra habituada desde sempre ao de “G”, dois módulos que ficaram ção por parte dos visitantes) e ainda
comboio, o número de visitantes mo- separados (pois não se encontram um pequeno circuito oval onde os
vidos pela curiosidade de ver um pe- normalizados) representando a es- mais novos podiam fazer um “bap-
queno mundo em miniatura onde os tação do Ramalhal, alguns exposito- tismo” na condução de comboios em
comboios são as personagens prin- res com estações portuguesas reali- miniatura.
cipais foi bastante apreciável. zadas artesanalmente em escala H0
A exposição abriu as suas por- onde se incluíam Vila Real de Santo A maqueta
tas às 10h de sábado, encerrando às António, Guadiana, Barcelos e em
19h desse dia. No domingo o horário fase adiantada de construção a anti- O circuito apresentado no Bar-
praticamente repetiu-se, com a dife- ga estação do Barreiro (que por mo- reiro foi constituído por um total de
39 módulos, sendo 31 em via dupla,
seis em via única e dois módulos
de bifurcação. Os módulos apre-
sentados incluíram seis estações/
apeadeiros, um porto de dimensões
generosas e paisagem diversificada
embora com ênfase nacional. Um
especial destaque para a apresenta-
ção de um módulo novo de via única,
baptizado de “Armazém” pelos parti-
cipantes e que foi realizado por uma
jovem modelista de 15 anos.

O planeamento inicial da dis-


posição dos módulos não pôde ser
concretizado devido à dimensão do
porto ser superior ao esperado, mas
isso apenas representou um peque-
no contratempo que foi prontamente

37
Modelismo - Exposições

resolvido pelos presentes. A van-


tagem das maquetas modulares
ficou bem demonstrada desta
forma, pois um novo circuito foi
rapidamente elaborado e todos
os módulos encaixaram dentro
do espaço que estava reserva-
do. Assim a disposição passou a
ser uma espécie de “G”, faltando
curiosamente apenas uma curva
para que fosse um circuito fecha-
do (embora esse não fosse o ob-
jectivo). Numa ponta situava-se
o Barreiro-A, seguido de Chelas
onde era feita a inversão das
composições e, na outra ponta,
a inversão era feita em Alhos Ve-
dros. A zona de via única situava-
-se entre Alhos Vedros e o Porto. Talgo III “Luis de Camões”, passan- traccionadas por 1200, 1400, 1300,
De fora ficaram os módulos do Ra- do pelo TRD 594 e uma composi- 1320, 1500 e 1800. Apenas faltaram
malhal por não respeitarem as nor- ção de bobineiros rebocados pela as 1900, mas em seu lugar veio uma
mas Maquetren, mas que, por terem modesta 311. Do lado português, a 1960 que também fez as delícias
alimentação própria, permitiam ma- Takargo esteve representada pelas dos apreciadores do diesel sobretu-
nobrar algumas composições. 6000 e 1400 com composições di- do pelo seu som bem característico.
versas que iam desde balastreiros a De entre as várias composições,
porta contentores e até, imagine-se, destacaram-se um suburbano reali-
Os Comboios um gigantesco vagão de 32 eixos zado por uma 1400 laranja com as
para transporte de transformadores recentes B600 Micromodel bastante
A temática proposta pelos orga- da DB (a excepção à regra). Tendo apreciadas na versão vermelha e
nizadores foi de apenas circularem em conta que estávamos no Barrei- branca, bem como uma composição
composições ibéricas. Desta forma ro, que foi em tempos foi “a catedral similar em versão azul a cargo da
circulou apenas material dos opera- do diesel”, houve um especial cui- 1424 também azul da Sudexpress.
dores CP, Takargo e RENFE. Apesar dado para que circulassem maio- Circulou ainda uma bonita composi-
desta aparente limitação a diversi- ritariamente composições diesel ção de um antigo Sud-Express com
dade de circulações foi apreciável e características desta região. Deste carruagens Wagon-Lits, traccionado
até incluiu algumas surpresas e cir- modo os visitantes foram brindados pela 1307 azul da Norbrass. Nas
culações inéditas. Começando pelo com as mais diversas composições mercadorias, circularam composi-
material espanhol, tivemos desde o

38
Modelismo - Exposições

A maquete presente nesta


exposição contou com os
seguintes módulos:

Alpes Suiços
Alhos Vedros
Torre Vã
Curva de Arêgos
Armazém
Campo-Serra
Rally
Ribeira do Estacal
Curva
Porto Marítimo
ções de cereais com Tdgs e Tadgs, modelo realizado por Pedro Pinto, Baixa da Banheira
porta contentores – especialmente que trouxe ainda um outro modelo
Estação do Mico
vindos do Porto Marítimo, amoníaco mas de uma locomotiva 4700, ten-
Curva
com cisternas Zaggks, His e Hikks do esta a particularidade de circular
Quimigal, balastreiros, etc. Outro com uma plataforma que transporta- Posto P.V.T.
destaque vai para os modelos da au- va outra 4700 em escala N. Armazém F.N.T.P.
toria de Luís Gaspar, as automotoras Depósito de Água
UDD 0450, Allan 0300, 0350, Nohab
Chelas
0100, M6 e M01 que circularam na Organização
maqueta, bem como o modelo de Posto de Transformação
um vagão para transporte de areia A organização desta exposição Barreiro-A
do tipo Falls, uma novidade nestas esteve a cargo da Associação Cul-
andanças. Para terminar, a circula- tural Comboio da Esperança (ACCE) Ramalhal
ção inédita de uma UTD 0600 (bem onde se destaca José Serrano (pres- (à parte da maquete)
conhecida pelos Barreirenses) que idente da ACCE), contando ainda
foi o regalo para todos os que a pu- com o apoio dos BVB e da Câmara
deram ver ao vivo. Trata-se de um Municipal do Barreiro.

39
Modelismo - Exposições

Gil Monteiro

40
Modelismo - Exposições

41
Modelismo - Exposições

Encontro de Modelismo Ferroviário


Módulos Malta do Porto – Lousado
João Joaquim

A
ssociado ao Dia Interna- com este esquema, e
cional dos Museus que com a circulação de
se comemorou a 18 de comboios de trans-
Maio, e a convite do Núcleo Muse- porte de inertes, mer-
ológico de Lousado do Museu Na- cadoria de detalhe,
cional Ferroviário, o grupo Módulos cimento, bobines de
da Malta do Porto organizou novo chapa de aço, madei-
encontro de modelismo nas instala- ra, contentores e zor-
ções do Museu, o 18º encontro. ras para transporte de
material. Houve, também, a presen- o grupo optou pela reformulação do
De forma a evitar que os en- ça de composições de passageiros, layout da maquete. Em resultado da
contros se tornem monótonos, quer simulando-se o comboio turístico do alteração a maquete apresentou-se
para quem visita, quer para quem Douro (com tracção diesel, tal como no formato de um L, mantendo-se as
neles participa, o encontro foi prepa- acontece na realidade quando a lo- duas estações em cada ponta. Des-
rado como temático. Desta forma, o comotiva a vapor não pode circular), ta forma é possível a inversão das
desafio era que apenas circulassem comboios regionais, Intercidades e composições no final da linha em
composições que fossem tracciona- urbanos. ambos os terminais da maquete.
das por locomotivas diesel da CP no
esquema laranja. As possibilidades No entanto a grande surpresa Com esta nova disposição foi
de formação de comboios eram con- para quem visitou este encontro foi a possível dar o merecido destaque
sideráveis, quer a nível de mercado- alteração da disposição da maquete. ao módulo da ponte, que acompa-
rias, quer a nível de passageiros. E Face ao crescente número de módu- nha o grupo sensivelmente desde o
tal facto reflectiu-se durante todo o los disponíveis, ao espaço disponí- início do ano, e que se encontrava
dia, com a apresentação de todas vel e à tentativa de tornar os encon- um pouco escondido na configura-
as locomotivas diesel que a CP teve tros dinâmicos e pouco repetitivos, ção anterior da maquete.

Tiago Duarte Tiago Duarte

42
Modelismo - Exposições

No que diz respeito à alteração


da configuração da maquete, houve Nuno Magalhães

o cuidado de dispôr os dois módulos


que representam dois apeadeiros
distantes um do outro e das esta-
ções. Só assim fará sentido simular
paragens comerciais nos apeadei-
ros, por parte dos comboios de pas-
sageiros.

Além dos comboios à escala H0


em circulação, o Museu foi animado
por algumas actividades de cariz fer-
roviário e cultural.
Junto à entrada do Museu es-
teve montado um pequeno circuito
dedicado ao vapor vivo que contava
com a presença de uma locomotiva
a vapor e algumas carruagens. Des-
ta forma era possível a quem o dese-
jasse um pequeno passeio a vapor e
à escala.
Houve também, durante toda a
tarde, visitas guiadas à secção mu-
seológica de Nine, numa oportuni-
dade de conhecer o material que se
encontra acondicionado neste espa-
ço. De notar que esta só é aberta ao
público em ocasiões especiais.
Já durante a noite o Museu foi
palco de um momento musical que
contou com a actuação de um dueto
Tiago Duarte
de cordas.

Tiago Duarte

43
Modelismo - Exposições

Exposição “Linha da Beira Alta”


Museu da Pedra de Cantanhede
Nuno Girão

No passado dia 18 de Maio de história e do potencial


2013, no decurso da comemoração de infra-estruturas fer-
do Dia Internacional dos Museus, roviárias com impor-
foi inaugurada a exposição “Linha tância económica tam-
da Beira Alta – PK 0 – PK 253,1”, bém para o Município
no Museu da Pedra, na cidade de de Cantanhede, que
Cantanhede, numa parceria entre o de resto se tem bati-
Município de Cantanhede e o grupo do pela reactivação do
‘Em Linha’, que tem como promoto- referido ramal”, afir-
res Carlos Micaelo, Licínio Santos, mando que foi feito um
Mário Mesquita e Vítor Simões. Ex- estudo para a requalifi-
posição esta, que estará aberta ao cação da mesma para
público até ao dia 14 de Julho de transporte de merca-
2013. De notar que esta exposição dorias, à velocidade
surge no seguimento da exposição de 80km/h, do porto da
realizadas na Figueira da Foz entre Figueira da Foz, torna-
Novembro e de Dezembro de 2012, do assim estratégica para a região, a na qual se encontram devidamente
organizada pelo mesmo grupo. reactivação da mesma. identificada os diversos componen-
tes da mesma e seus instrumentos/
A Câmara Municipal de Can- A exposição oferece ao público utensílios de manutenção e repara-
tanhede, representada pelo seu um espólio rico de artigos relaciona- ção.
Presidente João Moura, salientou dos com o caminho-de-ferro. Assim,
no evento que se trata de “uma ex- atravessando o hall de entrada do Seguindo pela “linha férrea”,
posição muito oportuna, sobretudo museu, somos presenteados com deparamo-nos com objectos ferro-
porque dá a conhecer um pouco da uma representação da via férrea, viários, devidamente identificados,

44
Modelismo - Exposições

dando assim ao público em geral o


conhecimento e informação devido
sobre o que são e como são utiliza-
dos no dia-a-dia ferroviário.

No primeiro andar do museu,


encontramos uma sala que é a “Es-
tação da Exposição”, acolhendo inú-
meros exemplares de documentos,
fotografias, modelos à escala H0 e
N (quer em circulação numa peque-
na maquete modular montada para
o efeito, quer em exposição estáti-
ca em diversas vitrines e represen-
tando comboios que circularam ou
ainda circulam na Linha da Beira
Alta) e objectos ferroviários relacio-
nados com a Linha da Beira Alta e
também com o, agora denominado,
Ramal de Cantanhede (Pampilhosa
– Cantanhede – Figueira da Foz) e
que durante longos anos compôs os
quilómetros iniciais da Linha da Bei-
ra Alta.

Em jeito de despedida desta


pequena viagem pela Exposição
“Linha da Beira Alta – PK 0 – PK
253,1”, convidamos todos os que
passarem pela Região da Bairrada
a visitarem esta exposição no Mu-
seu da Pedra, na cidade de Cantan-
hede.

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Modelismo - Exposições

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Modelismo - Exposições

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Figuras Ferroviárias

Graham Garnell
(1947 - 2013)

Andrew Donnelly

F oi com grande tristeza que recebi a notícia do fa-


lecimento do Graham Garnell no passado dia 14
de Maio, aos 65 anos, depois de uma súbita doença cujo
tratamento estava em curso no Hospital de Cascais.
Conhecido por muitos entusiastas em Portugal como
a cara do PTG Railtours, o Graham residiu em Portugal
durante cerca de 30 anos: primeiro no Algarve e mais
tarde em Oeiras. Era casado e tinha uma filha. Desde
sempre um entusiasta pelos caminhos-de-ferro e em es-
pecial dos caminhos-de-ferro do Sul de Inglaterra – e em
particular em torno de Swindon, onde nasceu, desenvol-
veu um especial interesse pelos caminhos-de-ferro em
via estreita da região do Douro. No final dos anos 90, o
Graham esteve por trás do projecto para repor o serviço
na Linha do Tâmega para lá de Amarante até Arco de
Baúlhe, por Mondim de Basto, no que seria o primeiro
caminho-de-ferro preservado de Portugal.
Após anos de pressão e após trabalhos preparató-
rios de restauro das estações, via férrea e respectiva
plataforma, o projecto falhou por interferência política e
por falta de apoio das autarquias locais. possível. As viagens inicialmente operadas no vale do
O Graham foi decisivo na organização dos primeiros Douro rapidamente se estenderam ao resto do país, e
comboios fretados para entusiastas britânicos em mea- o PTG Tours está actualmente no seu 15º ano, operan-
dos dos anos 90, primeiro com a ADL Tours e a partir de do já em cerca de vinte países graças ao trabalho que
1998 com o Portuguese Traction Group (PTG). O PTG o Graham desenvolveu para provar que o conceito de
era inicialmente um conjunto de entusiastas interessa- programas baseados em viagens ferroviárias eram um
dos especificamente nas locomotivas portuguesas deri- conceito de sucesso e que havia um mercado que tor-
vadas das britânicas Class 50 – as 1800 – que estavam nasse rentável este tipo de turismo.
na altura a ser retiradas de serviço diante de comboios Nos últimos anos, o Graham sofria com uma doença
de passageiros. Durante os primeiros anos de PTG, hereditária relacionada com artrite e foi operado diver-
o Graham foi fundamental para contactar e organizar sas vezes. Ainda assim, continuou a liderar o PTG Tours
cada viagem com a CP, utilizando as 1800 por toda a em Portugal mesmo apesar do sofrimento causado pela
rede da CP (e até por Espanha!) ou organizando via- doença. Só no final de 2012 o Graham se retirou deste
gens de comboios de passageiros por linhas fechadas papel.
ou dedicadas a comboios de mercadorias como Moura, Infelizmente, o seu estado de saúde deteriorou-se
Estremoz, Sines e Neves-Corvo. O PTG rapidamente se rapidamente em 2013, e não pôde por isso usufruir da
desenvolveu para se tornar numa agência de viagens, sua bem merecida reforma antes da doença que o fez
por oposição ao conceito de grupo de entusiastas, com sucumbir durante o mês de Maio. Na altura da sua mor-
o Graham a liderar os programas baseados em viagens te, ele estava a preparar uma viagem de despedida para
ferroviárias, utilizando uma mistura de comboios dedi- Outubro deste ano, com muitos dos participantes das
cados fretados à CP e de comboios regulares, quando viagens que organizou que viriam celebrar um último fim

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Figuras Ferroviárias

de semana nas Linhas do Douro e do Minho.


Com o acordo da família, o PTG pretende João Cunha
operar estas viagens especiais como tributo ao

C
Graham, homenageando a sua contribuição para onheci o Graham Garnell num dos muitos pas-
o PTG Tours e o amor que nutria pelos caminhos- seios ferroviários que organizou. Apaixonado
-de-ferro portugueses na companhia de muitos pelo nosso país e pelos nossos caminhos-de-ferro em
amigos que fez ao longo dos anos. particular, recordo-o pela amabilidade e simpatia, e pelo
Numa nota pessoal, o nosso grupo de amigos prazer de uma boa conversa a bordo ou no cais de uma
britânicos e portugueses perdeu um grande ami- estação.
go e devemos recordar os muitos bons momen- Há vários meses que sabia do seu débil estado de
tos que partilhámos com o Graham ao longo dos saúde, mas a notícia do seu desaparecimento deixou-
anos. -me francamente abalado. A última vez que contactá-
mos foi a propósito da possibilidade, depois frustrada,
de serem compradas algumas locomotivas 1800 para
recuperação, no que foi apenas e só mais um dos mui-
tos projectos que protagonizou para valorizar a viagem
de comboio e o património ferroviário português.
O maior tributo que lhe podemos fazer, nesta hora
difícil para familiares e amigos, é lembrarmos todo o seu
entusiasmo e empreendedorismo em prol da causa fer-
roviária.
Descansa em paz, Graham.

Pedro Mêda

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Spotting

Allan 0365 ja em afrouxamento,


enquanto se aproxima da sua
paragem na estação da Marinha
Grande, 26 de Março de 2013

Joao Joaquim

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Estação Terminal

Exposição e Homenagem a
Valdemar Alves

N a Vila Alda em Sintra está patente a exposição


“Elétrico de Sintra, uma viagem no tempo/Coleção
Valdemar Alves”. A exposição está aberta ao público desde
o passado dia 29 de Maio e vai decorrer até 30 de Junho. Galerias
De segunda a domingo e entre as 10h00 e as 13h00 e entre
as 14h00 e as 18h00, todos estão convidados a visitar a
exposição. No dia 19 de Junho pelas 17h00 será prestada
pela Câmara Municipal de Sintra uma homenagem a
Valdemar Alves, ex-funcionário da Câmara de Sintra, com a
entrega, a título póstumo, da medalha de mérito municipal –
grau ouro.

Galerias em Destaque

G eoff
Plumb
patilhou
recentemente
mais um
conjunto de
fotografias
obtidas em
Portugal entre a década de 1960 e 1970,
com especial foco na tracção vapor nas vias N o Flickr, página www.flickr.com/photos/afc45014/,
encontramos um conjunto de fotografias muito
interessantes da tracção diesel - época IV - da CP, entre
estreitas do Porto. A galeria pode ser visitada
em www.plumbloco.smugmug.com as décadas de 1990/2000.

Fotografias que contam Histórias


Torre da Gadanha

30 de Abril de 2013
José Sousa

02 de Outubro de 2007

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