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GESTÃO FINANCEIRA

Eduardo Olbera Ferrer


2 AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E A SUA ANÁLISE

2.1 A análise das demonstrações financeiras

Conforme Gitman (2017, p. 68), “as informações contidas no quadro das


demonstrações financeiras básicas são muito importantes para diversas partes
interessadas que necessitam regularmente de medidas de desempenho da empresa”.
No que se refere ao administrador financeiro, a análise serve como uma forma de
avaliar o desempenho da organização assim como fornecer tendências considerando o
ritmo do crescimento dos resultados. Para o analista externo, a análise serve para
avaliar a capacidade de pagamento da empresa, a evolução do seu endividamento e
sua capacidade de geração de caixa, o que é muito importante para uma eventual
avaliação de concessão de crédito.

2.2 A análise horizontal e a análise vertical

As análises horizontal e vertical são uma metodologia da análise de balanços que tem
como principal finalidade avaliar a evolução das contas da empresa sobre diversos
aspectos, como a estocagem, o endividamento de curto e longo prazos, o faturamento
e as despesas operacionais.

A análise começa com o planilhamento do balanço patrimonial, no qual são


consolidadas as contas de maior relevância. Normalmente, o exercício de análise é
feito para três períodos. Depois é feita a análise horizontal e a análise vertical.

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Exemplo:

Planilhamento do balanço patrimonial da empresa Natura S.A.


entre os exercícios de 2014 a 2016

Ativo 2014 2015 2016

Caixa, bancos e investimentos 1.695,9 2.783,6 2.298,8

Contas a receber de clientes 847,4 909,0 1.051,9

Estoques 890,0 963,6 835,9

Impostos a recuperar 240,3 320,3 329,4

Outros direitos 565,4 1.041,8 286,7

Total dos ativos circulantes 4.239,0 6.018,3 4.802,7

Impostos e depósitos judiciais 593,6 789,7 1.076,5

Outros ativos não circulantes 85,6 17,6 23,0

Permanente e intangível 2.281,3 2.568,7 2.518,8

Total dos ativos não circulantes 2.960,5 3.376,0 3.618,3

Total dos ativos 7.199,5 9.394,3 8.421,0

10
Passivo 2014 2015 2016

Empréstimos e financiamentos 1.466,5 2.161,3 1.764,4

Fornecedores 599,6 802,8 814,9

Salários a pagar 210,5 201,2 208,1

Impostos a pagar 715,4 1.047,9 1.075,4

Outras obrigações de curto prazo 126,7 359,4 314,8

Total dos passivos circulantes 3.118,7 4.572,6 4.177,6

Empréstimos e financiamentos 2.514,6 3.374,4 2.625,6

Impostos a pagar 98,9 87,7 237,5

Outras dívidas de longo prazo 318,6 281,9 384,0

Total dos passivos não circulantes 2.932,1 3.744,0 3.247,1

Capital social 427,0 427,0 427,0

Reservas de lucros 326,4 544,1 809,5

Outros 395,2 106,6 –240,2

Total do patrimônio líquido 1.148,6 1.077,7 996,3

Total dos passivos 7.199,4 9.394,3 8.421,0

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DRE 2014 2015 2016

Receita líquida de vendas 7.408,4 7.899,0 7.912,6

CPV –2.250,1 –2.415,9 –2.446,9

Lucro Bruto 5.158,3 5.483,1 5.465,7

Despesas com vendas –2.680,0 –3.020,5 –3.110,1

Despesas administrativas –1.133,3 –1.271,5 –1.327,0

Outras receitas/(despesas) operacionais 19,8 65,7 54,4

Lucro operacional 1.364,8 1.256,8 1.083,0

Receitas/(despesas) financeiras –268,2 –381,4 –656,0

LAIR 1.096,6 875,4 427,0

Impostos –355,1 –352,6 –118,6

Lucro líquido do exercício 741,5 522,8 308,4

A análise horizontal é uma metodologia de análise de balanços que objetiva analisar as


variações de uma mesma conta ou subgrupo de contas do balanço patrimonial em
termos absolutos. A ideia é a de se detectar grandes variações para depois comparar
com a análise vertical (em termos relativos) e a partir daí então se avaliar a evolução
patrimonial da empresa. Para se realizar a análise, primeiro se toma o período mais
antigo como base 100 (100%). Depois, se avalia se houve aumento ou redução em
termos percentuais em relação a esse período. O cálculo para se analisar a variação
entre os períodos analisados segue a seguinte fórmula:

AH = [(saldo ano posterior/saldo ano base ou anterior) –1] x 100

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Análise horizontal: ativos

Análise de Balanços da Natura S.A.

Ativo 2014 AH 2015 AH 2016 AH

Caixa, bancos e
1.695,90 100 2.783,60 64,1 2.298,80 –17,4
investimentos
Contas a receber de
847,4 100 909 7,3 1.051,90 15,7
clientes
Estoques 890 100 963,6 8,3 835,9 –13,3
Impostos a recuperar 240,3 100 320,3 33,3 329,4 2,8
Outros direitos 565,4 100 1.041,80 84,3 286,7 –72,5
Total dos ativos
4.239,00 100 6.018,30 42 4.802,70 –20,2
circulantes
Impostos e depósitos
593,6 100 789,7 33 1.076,50 36,3
judiciais
Outros ativos não
85,6 100 17,6 –79,4 23 30,7
circulantes

Permanente e intangível 2.281,30 100 2.568,70 12,6 2.518,80 –1,9

Total dos ativos não


2.960,50 100 3.376,00 14 3.618,30 7,2
circulantes

Total dos ativos 7.199,50 100 9.394,30 30,5 8.421,00 –10,4

Pela análise é possível perceber grandes variações na conta caixa da empresa que
aumentou 64,1% entre 2014 e 2015 e reduziu 17,4% no ano de 2016. Houve ligeiro
crescimento da conta de clientes e a empresa perceptivelmente está otimizando os
seus estoques.

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Análise horizontal: passivos

Passivos 2014 AH 2015 AH 2016 AH

Empréstimos e
financiamentos 1.466,50 100 2.161,30 47,4 1.764,40 –18,4

Fornecedores 599,6 100 802,8 33,9 814,9 1,5

Salários a pagar 210,5 100 201,2 -4,4 208,1 3,4

Impostos a pagar 715,4 100 1.047,90 46,5 1.075,40 2,6

Outras obrigações de
curto prazo 126,7 100 359,4 183,7 235,1 –34,6

Total dos passivos


circulantes 3.118,70 100 4.572,60 46,6 4.097,90 –10,4

Empréstimos e
financiamentos 2.514,60 100 3.374,40 34,2 2.625,60 –22,2

Impostos a pagar 98,9 100 87,7 –11,3 237,5 170,8

Outras dívidas de longo


prazo 318,6 100 281,9 –11,5 384 36,2

Total dos passivos não


circulantes 2.932,10 100 3.744,00 27,7 3.247,10 –13,3

Capital social 427 100 427 0 427 0

Reservas de lucros 326,4 100 544,1 66,7 809,5 48,8

Outros 395,2 100 106,6 –73 –240,2 –25,3

Total do patrimônio
líquido 1.148,60 100 1.077,70 –6,2 996,3 –7,6

Total dos passivos 7.199,40 100 9.394,30 30,5 8.341,30 –11,2

14
É possível perceber uma oscilação muito grande no endividamento de curto e longo
prazo nos anos de 2014 e 2015 com redução também grande no ano de 2016, fazendo
com que os números voltassem praticamente aos mesmos patamares de 2014. Chama
também a atenção a redução, embora pequena, mas constante do patrimônio líquido
nos períodos analisados. Houve aumento na conta impostos a pagar entre 2014 e 2015
e esse número ficou constante em 2016.

Análise Horizontal: Demonstração de Resultado

DRE 2014 AH 2015 AH 2016 AH

Receita líquida de vendas 7.408,4 100 7.899,0 6,6 7.912,6 0,2

CPV –2.250,1 100 –2.415,9 7,4 –2.446,9 1,3

Lucro Bruto 5.158,3 100 5.483,1 6,3 5.465,7 –0,3

Despesas com vendas –2.680,0 100 –3.020,5 12,7 –3.110,1 3

Despesas administrativas –1.133,3 100 –1.271,5 12,2 –1.327,0 4,4


Outras
receitas/(despesas)
19,8 100 65,7 231,8 54,4 –17,2
operacionais

Lucro operacional 1.364,8 100 1.256,8 –7,9 1.083,0 –13,8

Receitas/(despesas)
financeiras –268,2 100 –381,4 42,2 –656,0 72

LAIR 1.096,6 100 875,4 –20,2 427,0 –51,2

Impostos –355,1 100 –352,6 –0,7 –118,6 –66,4

Lucro líquido do exercício 741,5 100 522,8 –29,5 308,4 –41

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Aqui se verifica que as vendas estão praticamente no mesmo patamar nos períodos
analisados. Houve, contudo, crescimento gradual e constante das despesas com
vendas e administrativas e, destacadamente, das despesas financeiras – 42% entre
2014 e 2015 e 72% entre 2015 e 2016 – o que reflete o elevado perfil de alavancagem
da empresa, comprometendo inclusive o resultado que vem demonstrando piora nos
períodos analisados.

Depois de feita a análise horizontal, é feita complementarmente a análise vertical. A


proposta é cruzar as informações das oscilações destacadas na análise horizontal para
checar se o crescimento não foi apenas proporcional ao crescimento dos demais
números da empresa.

Por definição, a análise vertical é uma metodologia de análise de balanços que busca
avaliar a evolução das contas do balanço patrimonial de maneira proporcional. A
proposta é a de se avaliar a participação de uma conta ou subgrupo de contas do
balanço sobre um todo e a partir daí analisar a sua evolução comparativamente entre
os períodos analisados.

Para os ativos e passivos, a metodologia de cálculo é a mesma, mudando apenas na


DRE:

AV = (saldo da conta/total dos ativos/passivos) x 100 (ativos e passivos)

AV = (saldo da conta/vendas líquidas) x 100 (demonstração de resultado)

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Análise vertical: ativos

Ativo 2014 AV 2015 AV 2016 AV

Caixa, bancos e investimentos 1.695,9 23,6 2.783,6 29,6 2.298,8 27,3

Contas a receber de clientes 847,4 11,8 909,0 9,7 1.051,9 12,5

Estoques 890,0 12,4 963,6 10,3 835,9 9,9

Impostos a recuperar 240,3 3,3 320,3 3,4 329,4 3,9

Outros direitos 565,4 7,9 1.041,8 11,1 286,7 3,4

Total dos ativos circulantes 4.239,0 58,9 6.018,3 64,1 4.802,7 57

Impostos e depósitos judiciais 593,6 8,2 789,7 8,4 1.076,5 12,8

Outros ativos não circulantes 85,6 1,2 17,6 0,2 23,0 0,3

Permanente e intangível 2.281,3 31,7 2.568,7 27,3 2.518,8 29,9

Total dos ativos não circulantes 2.960,5 41,1 3.376,0 35,9 3.618,3 43

Total dos ativos 7.199,5 100 9.394,3 100 8.421,0 100

Aqui, é possível verificar na conta caixa destacada na análise horizontal que houve
oscilação de fato em termos relativos, mas não tão expressiva (oscilação de menos de
5%). Há uma redução gradual e proporcional da conta estoques, mostrando que de
fato a empresa está buscando trabalhar em níveis menores, o que contribui
positivamente para a geração de caixa da empresa.

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Passivos 2014 AV 2015 AV 2016 AV

Empréstimos e financiamentos 1.466,50 20,4 2.161,30 23 1.764,40 21,2

Fornecedores 599,6 8,3 802,8 8,5 814,9 9,8

Salários a pagar 210,5 2,9 201,2 2,1 208,1 2,5

Impostos a pagar 715,4 9,9 1.047,90 11,2 1.075,40 12,9

Outras obrigações de curto prazo 126,7 1,8 359,4 3,8 235,1 2,8

Total dos passivos circulantes 3.118,70 43,3 281,9 48,7 384,0 49,1

Empréstimos e financiamentos 2.514,60 34,9 3.374,40 35,9 3.247,1 31,5

Impostos a pagar 98,9 1,4 87,7 0,9 427,0 2,8

Outras dívidas de longo prazo 318,6 4,4 281,9 3 809,5 4,6


Total dos passivos não
circulantes 2.932,10 40,7 3.744,0 39,9 3.247,10 38,9

Capital social 427 5,9 427 4,5 427 5,1

Reservas de lucros 326,4 4,5 544,1 5,8 809,5 9,7

Outros 395,2 5,5 106,6 1,1 –240,2 –2,9

Total do patrimônio líquido 1.148,60 16 1.077,70 11,5 996,3 11,9

Total dos passivos 7.199,40 100 9.394,30 100 8.341,30 100

O endividamento de curto e longo prazo mostra um pequeno crescimento entre 2014


e 2015 em termos proporcionais, voltando quase aos mesmos níveis em 2016, no qual
se verifica que de fato a empresa vem operando da mesma maneira quanto à gestão
do passivo financeiro nos períodos analisados. O patrimônio líquido mostrou redução
entre 2014 e 2015 e ficou no mesmo patamar em 2016.

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Análise vertical da Demonstração de Resultado (DRE)

DRE 2014 AV 2015 AV 2016 AV


Receita líquida de 7.408,4 100 7.899,0 100 7.912,6 100
vendas
–2.250,1 –30,4 –2.415,9 –30,6 –2.446,9 –30,9
CPV
5.158,3 69,6 5.483,1 69,4 5.465,7 69,1
Lucro Bruto
–2.680,0 –36,2 –3.020,5 –38,2 –3.110,1 –39,3
Despesas com vendas
Despesas –1.133,3 –15,3 –1.271,5 –16,1 –1.327,0 –16,8
administrativas
Outras
receitas/(despesas) 19,8 0,3 65,7 0,8 54,4 0,7
operacionais
1.364,8 18,4 1.256,8 15,9 1.083,0 13,7
Lucro operacional

Receitas/(despesas) –268,2 –3,6 –381,4 –4,8 –656,0 –8,3


financeiras
1.096,6 14,8 875,4 11,1 427,0 5,4
LAIR
–355,1 –4,8 –352,6 –4,5 –118,6 –1,5
Impostos
Lucro líquido do 741,5 10 522,8 6,6 308,4 3,9
exercício

É possível observar que a empresa teve pequeno crescimento, mas gradual e


constante, tanto nas despesas de vendas como administrativas. As despesas
financeiras mais que dobraram nos períodos analisados, prejudicando, dessa maneira,
o resultado da empresa.

Após essas análises se faz necessário buscar uma explicação para as oscilações
apontadas. Muitas dessas explicações constam nas próprias notas explicativas dos
balanços, mas, complementarmente, é necessário buscar informações na mídia
especializada. E, na época, a empresa de fato acusou o impacto do crescimento de
grandes concorrentes do mesmo setor, além de terem reconhecido trabalhar com uma
estrutura administrativa inchada.

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2.3 Análise de índices financeiros

Conforme Gitman (2017, p. 70), “a análise de índices envolve métodos de cálculo e


interpretação de índices financeiros com a finalidade de analisar e monitorar o
desempenho da empresa”. Completam MEGLIORINI e SILVA (2009, p. 49) explicando
que “os índices econômico-financeiros são obtidos por meio da relação entre as contas
ou os grupos de contas das demonstrações contábeis e podem ser agrupados de
diferentes maneiras”. Ainda segundo os autores, os índices mais comuns são os de
liquidez, de atividade, de endividamento e de lucratividade.

2.3.1 Índices de liquidez

Os índices de liquidez indicam a capacidade de a empresa honrar os seus


compromissos. Os índices de liquidez mais comuns são:

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Cada um desses índices indica quantos reais a empresa possui para cada R$ 1,00 de
dívida. Dessa forma, quanto maior do que 1 for cada índice, melhor. Para o cálculo são
utilizadas as seguintes fórmulas:

A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de liquidez da Natura S.A. para o
ano de 2014:

Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados:

Cálculos dos índices 2014 2015 2016

Liquidez corrente 1,4 1,3 1,1

Liquidez seca 1,1 1,1 0,9

Liquidez geral 0,8 0,8 1,1

21
Em que se percebe que a empresa possui boa capacidade para honrar seus
compromissos tanto de curto como de longo prazo, observado o resultado próximo
de 1.

2.3.2 Índices de atividade

Segundo Gitman (2017, p. 76), “os índices de atividade medem a velocidade com que
várias contas são convertidas em vendas ou caixa, entradas ou saídas. Em certo
sentido, os índices de atividade medem a eficiência com que a empresa opera em uma
série de dimensões, tais como gestão de estoque, desembolsos e recebimentos.” O
resultado prático desses índices é o ciclo operacional que mede o tempo que uma
empresa leva para converter em dinheiro as suas operações. Para financiá-lo, num
primeiro momento, a empresa deve buscar prazos com seus fornecedores.

Ao subtrair o prazo médio de pagamentos do ciclo operacional, chega-se ao resultado


do CICLO FINANCEIRO que é o período que a empresa fica com o caixa a descoberto e
vai precisar financiá-lo com operações de desconto de duplicatas. Quanto maior o ciclo
financeiro, pior para a empresa, pois maior vai ser a demanda por crédito o que vai
prejudicar a sua rentabilidade.

Entre os pontos a serem analisados, destaca-se aqui o prazo médio dos estoques, pois
indica se a empresa está administrando o nível de sua produção de maneira adequada.
Em momentos de crise, pode sair mais barato para a empresa negociar férias coletivas,
por exemplo, para reduzir os custos de estocagem e de produção.

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Existem basicamente cinco índices de atividade:

Cujas fórmulas são, respectivamente:

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A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de atividade da Natura S.A. para o
ano de 2014:

Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados:

2014 2015 2016

Prazo Médio de Estoques 142,4 143,6 123,0

Prazo Médio de Recebimentos 41,2 41,4 47,9

Ciclo Operacional 183,6 185,0 170,8

Prazo Médio de Pagamentos 95,9 119,6 119,9

Ciclo Financeiro 87,6 65,4 50,9

De onde se percebe que a empresa vem reduzindo os seus estoques, desenvolvendo


uma política mais rígida junto aos seus fornecedores, uma vez que se verifica o
aumento nos prazos médios de pagamento, o que contribuiu para melhora de seu ciclo
financeiro.

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2.3.3 Índices de endividamento

Segundo Gitman (2017, p. 79),

O índice de endividamento de uma empresa indica o volume de dinheiro de


terceiros usado para gerar lucros. Em geral, o analista financeiro está mais
preocupado com as dívidas de longo prazo, porque elas comprometem a
empresa com uma série de pagamentos contratuais. Quanto mais dívida a
empresa tiver, maior é o risco de não poder honrar seus pagamentos de
dívidas contratuais.

Aqui serão destacadas duas medidas, sendo a participação de terceiros sobre o capital
próprio (P/PL) e o Exigível total sobre o ativo total (P/AT) dados por:

Em P/PL, quanto maior do que 1 pior, pois indica haver mais capital de terceiros
aplicados na empresa do que recursos dos sócios; já em P/AT indica a participação do
capital de terceiros na composição de ativos da empresa sendo que quanto mais
próximo de 1, pior.

A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de endividamento da Natura S.A.


para o ano de 2014:

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Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados:

2014 2015 2016

P/PL 5,3 7,7 7,5

P/AT 0,84 0,89 0,88

Aqui se percebe que a empresa está com elevada alavancagem considerando que para
cada R$ 1,00 de capital próprio há R$ 7,00 de capital de terceiros. Verifica-se também
que a participação de capital de terceiros no ativo total é de quase 90%.

2.3.4 Índices de rentabilidade

Segundo Gitman (2017) os indicadores de rentabilidade buscam avaliar o retorno


auferido pela empresa, considerando determinados parâmetros. As bases de
comparação adotadas para o estudo dos resultados empresariais são:

• Retorno sobre o ativo (ROA);

• Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE).

Segundo Gitman (2017), o ROA “mede a eficácia geral da administração na geração de


lucro com o ativo disponível. Quanto mais alto for o retorno da empresa, melhor”
(2017, p. 85). Seu cálculo é dado por:

Sendo que o lucro operacional líquido é calculado deduzindo-se os impostos do


resultado operacional. Já o ROE mostra o retorno dos recursos aplicados na empresa
por seus proprietários, ou seja, para cada R$ 1,00 investido de recursos próprios,
mostra o quanto os sócios têm de retorno. Seu cálculo é dado por:

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A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de rentabilidade da Natura S.A. para
o ano de 2014:

Para os três exercícios, seriam os seguintes resultados:

2014 2015 2016

ROE % 64,6 48,5 31,0

ROA % 14,0 9,6 11,5

É possível perceber que todos os índices da empresa vêm tendo queda de


rentabilidade tanto sobre o ativo como sobre o patrimônio líquido. Em 2016 por
exemplo, para cada R$ 100,00 investidos na empresa, os sócios tiveram um retorno de
R$ 31,00.

2.4 A criação de valor: o EVA® e o MVA®

O capital é uma “commoditie” internacional e dessa maneira a sua aquisição é cada


vez mais disputada pelas empresas. Como recompensa para esses investidores as
empresas precisam gerar retornos cada vez maiores, ou seja, precisam criar valor
econômico ou valor econômico agregado.

Conforme Megliorini e Valim (2009), as empresas precisam criar valor que pelo menos
seja maior do que o seu custo de capital, pois, caso contrário, estarão destruindo valor.
As medidas de mensuração de valor que serão aqui expostas são o EVA® e o MVA®.

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Segundo os autores, o EVA® seria o resultado de uma empresa após a dedução do
custo do capital próprio. Caso o resultado seja positivo, existe criação de valor para o
acionista; caso contrário, destruição de valor.

Entretanto, em seu cômputo, é considerado também os custos de capital de terceiros,


pois é necessário analisar a criação de valor como sendo resultante da subtração dos
custos totais de capital. A combinação de capital próprio e de terceiros que existe para
financiar uma empresa evidencia a sua estrutura de capital.

Ao calcular o custo de capital de uma empresa, é preciso considerar que as fontes de


capital próprio e de terceiros possuem diferentes custos. Assim sendo, é necessário o
cálculo do custo médio ponderado de capital (CMPC ou WACC em sua sigla em inglês –
Weighted Average Cost Capital).

O EVA® seria dado por:

EVA = Resultado Operacional Líquido – (WACC x Investimento)

WACC = (Ke x PL) x (Ki x Wp)

Sendo que:

Ke = custo de capital próprio

Wpl = participação do capital próprio

Ki = custo do capital de terceiros

Wp = participação do capital de terceiros

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O MVA® é uma avaliação calculada tendo como base as expectativas do mercado com
relação ao investimento criar valor. Ainda segundo os autores, esse resultado seria o
valor intangível do negócio, chamado de goodwill que foi gerado em função de sua
gestão. Conforme Megliorini e Valim (2009) o MVA® seria o valor presente do EVA®:

REFERÊNCIAS

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Conheça o CPC. Disponível em:


<https://goo.gl/aGweyC>. Acesso em: 8 jun. 2018.

FERREIRA, José Antônio Stark. Finanças corporativas: conceitos e aplicações. São


Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

FOGO de chão é vendida para fundo americano por US$ 560 milhões. Correio
Braziliense, São Paulo, 21 fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/UC8w4G>. Acesso
em: 8 jun. 2018.

GITMAN, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 14. ed. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2017.

MEGLIORINI, Evandir; SILVA, Marco Aurélio Valim Reis da. Administração brasileira:
uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

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