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TRANSTORNO BIPOLAR: REFLEXÕES SOBRE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

TRANSTORNO BIPOLAR: REFLEXÕES SOBRE


DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Bipolar Disorder: reflections on the diagnosis and on the treatment

PEREIRA, L. L.
DIAS, A. C. G.
CAERAN, J.
COLLARES, L. A.
PENTEADO, R. V.

Recebimento: 17/11/2009 - Aceite: 05/03/2010

RESUMO: O Transtorno Bipolar (TB) é uma patologia psiquiátrica grave,


recorrente, que se caracteriza por oscilações de humor e envolve aspectos
neuroquímicos, cognitivos, psicológicos, funcionais, familiares e socioeco-
nômicos. A literatura descreve dificuldades em vários domínios cognitivos
em pacientes bipolares, podendo persistir mesmo nos períodos de eutimia.
Dessa maneira, com o objetivo de aprofundar os conhecimentos e esclarecer
conceitos, realizou-se uma revisão da literatura acerca das características
do TB, considerando-se aspectos históricos, diagnósticos e relacionados ao
tratamento. Tendo em vista que este artigo visa a proporcionar uma visão
geral dos aspectos relacionados ao TB, são abordados, dentre as formas de
tratamento, a farmacoterapia, os grupos de apoio, a terapia focada na família, a
terapia cognitivo-comportamental, a psicoeducação e a eletroconvulsoterapia.
Considera-se que, ao serem enfocados temas sobre as características do TB,
julga-se ser possível contribuir para uma melhor preparação dos profissionais
da saúde envolvidos, de forma que possam, também, orientar o planejamento
de práticas terapêuticas, bem como orientar pacientes e familiares no conhe-
cimento da doença e no manejo dos sintomas, propiciando melhoria em suas
relações afetivas, sociais e ocupacionais.
Palavras-chave: Transtorno bipolar. Diagnóstico. Tratamento.

ABSTRACT: Bipolar disorder (BD) is a severe and recurrent psychiatric


pathology, which is characterized by mood swings and involves significant
neurochemical, cognitive, psychological, functional, family and socio-

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economic factors. The literature describes the difficulties in several cognitive


domains in bipolar patients, which may persist even during euthymic periods.
Thus, in order to deepen the understanding and clarify concepts, a review
of the literature about the characteristics of bipolar disorder was performed,
taking into account the historical aspects, diagnosis and treatment-related.
Considering that this paper aims to provide an overview of the aspects re-
lated to BD, the pharmacotherapy, support groups, family-focused therapy,
cognitive-behaviorist therapy, psycho-educational and Electroconvulsive
Therapy are approached as forms of treatment. The issues which are focused
on the characteristics of TB are thought to contribute to a better preparation
of the health professionals involved, so that they can also guide the planning
of the therapeutic practices and guide the patients and families to get to know
the disease and the management of the symptoms providing improvement in
their affective, social and occupational relations.
Keywords: Bipolar disorders. Diagnosis. Treatment.

ROSA, 2005; ROBINSON et al., 2006;


Introdução ROCCA; LAFFER, 2006).
Dentre as doenças psiquiátricas maiores
O transtorno bipolar (TB) é considera- que cursam com psicose, o TB é a única
do um dos mais graves tipos de transtorno que permite um grau de profilaxia suficiente
mental e envolve aspectos neuroquímicos, para manter os pacientes funcionando num
cognitivos, psicológicos, funcionais e socio- nível similar à linha de base. Considerando-
afetivos. Além disso, está associado a altos se a alta prevalência do TB na população e
índices de mortalidade e prejuízos socioeco- seu impacto na vida dos portadores, bem
nômicos. Desse modo, o acompanhamento como os gastos gerados ao Sistema de Saú-
por longo prazo assume papel fundamental de, estudos que venham a colaborar com a
(SUPPES; DENNEHY, 2009). De acordo compreensão dos mecanismos envolvidos
com os manuais de classificação diagnós- no TB são importantes, tanto do ponto de
tica, o TB caracteriza-se pela ocorrência vista clínico quanto do social. Além disso,
de episódios de humor alternados, os quais por exemplo, o Sistema de Saúde Brasileiro
variam em intensidade, frequência e duração. pode beneficiar-se em termos de qualidade
Os episódios de humor podem variar entre de vida para o cidadão e na prevenção de
episódio depressivo maior, maníaco, misto aposentadorias precoces nos portadores de
e hipomaníaco. Atualmente, define-se o TB TB (KAPCZINSKI; ANDREAZZA; SAL-
como uma doença crônica e complexa, com VADOR, 2008).
acometimento gradual do cérebro e da saúde, Tendo em vista a emergência e as impli-
que, em geral, atinge 1,5% da população, cações decorrentes do TB, faz-se necessário
podendo alcançar 3 a 5%, se aceita a proposta e importante a compreensão desse transtorno.
de espectro bipolar feita por Akiskal. Essa Assim, o presente trabalho busca, através de
proposta amplia a incidência da doença na uma revisão seletiva da literatura, compreen-
população e estende os critérios diagnósticos der a história da doença, sua epidemiologia,
(FREY et al., 2004; SANTIN; CERESÉR; seu diagnóstico e tratamento.

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circunscrito de delírios em oposição à mania


ou delírio generalizado, o qual considerava
Método que afetava todas as faculdades da mente.
O presente trabalho configura-se em uma Esquirol, por sua vez, reconheceu o trans-
revisão seletiva da literatura acerca das carac- torno afetivo como uma forma distinta de
terísticas do TB. Assim sendo, inicialmente perturbação mental, que ele denominou
foi realizada uma revisão ampla de literatura, lypemanie (perda, inibição e delírio men-
baseada em documentos científicos, im- tal), abandonando o termo melancolia por
pressos e virtuais, sobre o tema transtorno considerá-lo impróprio para uso técnico.
bipolar. A partir desta, foram selecionados No início do século XIX, percebe-se que,
aqueles estudos que poderiam contribuir apesar da divulgação das ideias de Esquirol,
especificamente com os objetivos deste a melancolia ainda era difundida como um
trabalho. Buscou-se conhecer: os aspectos subtipo de mania (distúrbio do intelecto, de
históricos do conceito; sua epidemiologia; intensidade excessiva de ideias e de natureza
fatores associados a diagnóstico, tratamento irreversível), sendo vista como uma variação
e funções executivas; por fim, discutem-se da mania ou como um estágio evolutivo da
alguns aspectos relacionados à adesão ao doença, tendo como estágio final a demência.
tratamento de portadores do TB. Foi somente após a adequação da descrição
psicopatológica da depressão, que esse con-
ceito pôde ser reconhecido como integrante
Aspectos Históricos e Conceituais da noção de doença maníaco-depressiva. O
No que diz respeito aos termos mania e termo depressão derivou-se da medicina car-
melancolia, nos séculos IV e V a.C., Hipó- diovascular da época. Por referir-se à redução
crates descrevia a melancolia (melan: negro; da função, a palavra foi aplicada aos quadros
cholis: bile) como uma condição associada à mentais de forma análoga, como depressão
aversão ao alimento, abatimento, insônia, ir- mental (ALCANTARA et al. 2003; DEL-
ritabilidade e inquietude. Compreendia saúde PORTO; DEL-PORTO, 2005).
e doença como o resultado do equilíbrio e do No que se refere ao conceito moderno de
desequilíbrio dos quatro humores presentes doença bipolar, seu início deu-se na França,
no organismo (sangue, bile amarela, bile na metade do século XIX, quando Falret e
negra e fleuma). Para ele, as doenças mentais Baillarger, de maneira independente, descre-
seriam fenômenos derivados de um distúrbio veram formas alternantes de mania e depres-
humoral. No século I d.C., a compreensão da são (ALCANTARA et al., 2003; AKISKAL,
doença amplia-se. Araeteus da Capadócia, ao 2005; DEL-PORTO, DEL-PORTO; 2005).
descrever a mania e a melancolia, afirmou No entanto, foi Emil Kraepelin que, ao fi-
que esses são aspectos da mesma doença. Na nal do século XIX, separou as psicoses em
Idade Média, observou-se uma regressão na dois grupos (demência precoce e insanidade
compreensão da doença mental, sendo, esta, maníaco-depressiva). Este autor introduziu o
naquele momento, atribuída ao pecado e à termo “estados mistos” (1896), enfatizando a
possessão demoníaca. Como consequência, importância do quadro clínico do curso da do-
não era tratada, sendo alvo de perseguição ença e dos fatores psíquicos e sociais. Além
da Santa Inquisição (ALCANTARA et al., disso, incluiu as formas leves da doença, as
2003; DEL-PORTO; DEL-PORTO, 2005). quais chegam ao limite do temperamento.
Em 1809, Pinel caracteriza a melancolia Assim, pode-se dizer que foi Kraepelin que
como uma doença composta de um número deu início a uma compreensão do TB, que

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mais tarde foi aprimorada, chegando às con- menos, um episódio hipomaníaco. Já no


cepções que temos atualmente de espectro Transtorno Ciclotímico, são necessários, pelo
bipolar (DEL-PORTO; DEL-PORTO, 2005; menos, dois anos com numerosos períodos
AKISKAL, 2005). Observa-se que, somente de sintomas depressivos que não preenchem
após adequar a descrição psicopatológica critérios para episódio depressivo maior.
da depressão, esse conceito foi reconhecido Além disso, têm-se os episódios mistos, nos
como integrante da “Psicose Maníaco-De- quais há presença de sintomas de mania/hi-
pressiva”, como era denominado o transtor- pomania e de depressão, que se apresentam
no no CID-9 até a transição para o CID-10 simultaneamente.
(ALCANTARA et al. 2003; DEL-PORTO; A Classificação Internacional de Transtor-
DEL-PORTO, 2005). nos Mentais Doenças e de Comportamento
O conceito de espectro bipolar passou CID-10 (OMS, 1992) traz, atualmente, como
a ser discutido a partir da década de 1970. características do TB, a ocorrência de dois ou
Hagop Akiskal trabalhou esse conceito, mais episódios nos quais o humor e o nível
propondo subdivisões do TB, descrevendo de atividade do sujeito estão profundamente
sete tipos diferentes do transtorno. Ao ser alterados, sendo, por vezes, uma elevação do
ampliado o conceito de TB, a extensão das humor e um aumento da energia e da ativi-
depressões unipolares reduz significativa- dade (hipomania ou mania) e em outras, um
mente (AKISKAL, 2005; DEL-PORTO; rebaixamento do humor e uma redução da
DEL-PORTO, 2005). Para Lima et al. (2005) energia e da atividade (depressão).
a introdução do conceito de espectro do O TB é reconhecido como um transtor-
TB, ainda que precise ser melhor definida, no crônico. Compreende-se por patologia
vem ampliar significantemente estimativas, crônica aquela que é recorrente e incurável,
fronteiras diagnósticas e a prevalência do que pode ser tratada e controlada via medi-
transtorno na população em geral, sendo camentos e mudanças nos hábitos de vida
a sua validação importante para que ações (SUPPES; DENNEHY, 2009). O período de
específicas em Saúde Pública possam ser não manifestação ou de remissão dos sinto-
conduzidas, visando à adequada prevenção mas bipolares de humor é identificado como
e tratamento aos pacientes, além de ampliar período eutímico. Nesse período, espera-se
o conhecimento sobre o transtorno. Contudo, que o indivíduo esteja funcionalmente ativo
apesar de importante, esse conceito ainda não em sua rotina (SOUZA, 2005).
foi introduzido nos sistemas de classificações A hipomania envolve um estado de eu-
diagnósticas de transtornos mentais. foria; contudo, não está fora do controle,
Conforme critérios do Manual Diagnós- ou seja, não é um estado severo ao ponto de
tico e Estatístico de Transtornos Mentais causar prejuízos funcionais acentuados, de
DSM-IV-TR (APA, 2002), os transtornos necessitar de internação ou sequer apresen-
bipolares fazem parte dos transtornos do Eixo tar sintomas psicóticos. Assim, o episódio
I e dividem-se em TB-I, TB-II e Transtorno hipomaníaco é caracterizado por alta energia,
Ciclotímico, além dos Transtornos do Humor excitabilidade e sensações de euforia; contu-
Bipolar sem outra especificação – TB-SOE. do, ele não satisfaz os critérios diagnósticos
No TB-I, ocorre um ou mais episódios ma- necessários a um episódio de mania comple-
níacos ou mistos geralmente, seguidos por to. Este último, por sua vez, caracteriza-se
episódios depressivos maiores. No TB-II, por um estado de humor elevado, expansivo
também ocorrem episódios depressivos ou irritável, desorganização comportamental,
maiores, porém, acompanhados por, pelo consumo elevado de álcool, café e cigarro,

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aumento considerável do apetite, profusões anteriores podem não ter sido relatados
de ideias, logorréia, sentimentos de gran- com precisão devido à ausência de insight
diosidade, podendo chegar a manifestações do portador ou, mesmo, por dificuldades
delirantes de grandeza, redução significativa de memória durante o episódio depressivo
do sono, energia em alta, impulsividade no agudo (SUPPES; DENNEHY, 2009). Atual-
comportamento o que se apresenta bastante mente, são indicados quatro fatores utilizados
determinado. O portador não possui uma para validação do diagnóstico de depressão
percepção clara de seu estado de mania; logo, bipolar: fenomenologia, curso da doença,
é comum e esperado que ele o negue. O epi- genética e ausência de resposta ao tratamento
sódio de mania envolve perturbação severa, (GHAEMI, SAGGESE e GOODWIN, 2007).
acarretando prejuízos ocupacionais e sociais,
podendo haver sintomatologia psicótica e
necessidade de hospitalizações.
Epidemiologia do TB
Por outro lado, o humor depressivo en- A epidemiologia moderna vem revelar que
volve melancolia, pessimismo, desesperança, o TB é um desafio no que tange à detecção,
podendo, o portador do transtorno, apresentar ao tratamento e à prevenção da incapacidade
ansiedade, irritabilidade, comportamentos (MAGALHÃES; PINHEIRO, 2009) e atinge
e pensamentos lentificados ou agitação 1,5% da população (SANTIN; CERESÉR;
psicomotora, aumento ou redução do sono, ROSA, 2005). Pesquisas epidemiológicas de
sensação de fadiga e queixas somáticas, en- base populacional têm sido realizadas nas úl-
tre outras, como energia baixa, desinteresse timas décadas, proporcionando informações
por atividades que antes eram apreciadas, valiosas sobre frequência, fatores de risco,
ideações suicidas e suicídio (SUPPES; DEN- incapacidade social e utilização de Serviços
NEHY, 2009). O período em que o portador de Saúde, buscando descrever a fenomeno-
de TB apresenta remissão dos sintomas logia do TB. Alguns dos mais reconhecidos
depressivos, maníacos ou hipomaníacos estudos populacionais são os realizados
é comumente definido como eutimia. No pela Área de Captação Epidemiológica do
entanto, na eutimia, o indivíduo estaria sem Instituto Nacional de Saúde Mental dos Es-
sintomas e funcionalmente (re)integrado em tados Unidos (ECA–NIMH), pela Pesquisa
suas tarefas habituais (SOUZA, 2005). de Morbidade Psiquiátrica na Grã-Bretanha
O TB costuma se apresentar, inicialmente, (OPCS), pelo Estudo Brasileiro Multicêntrico
através da presença de sintomas depressivos de Morbidade Psiquiátrica, pela Pesquisa Na-
que, comumente, podem ser percebidos como cional de Comorbidade (NCS), e pelo estudo
Transtorno Depressivo Unipolar. Entretanto, longitudinal de Zurique (LIMA et al., 2005).
diferenciar esses dois transtornos, especial- Segundo essas pesquisas, a prevalência
mente no que se refere à depressão bipolar e de TB é relativamente baixa, independente
à depressão unipolar, não é uma tarefa fácil do local onde ocorreu a pesquisa, do mo-
para o profissional da área da Saúde. O prin- delo de instrumento diagnóstico utilizado e
cipal cuidado a ser adotado é a investigação das delimitações de tempo em que se busca
cuidadosa da história familiar e da presença investigar a prevalência na população. No
de episódios de mania ou hipomania na vida entanto, com a introdução do conceito de
do paciente. No entanto, é importante ressal- espectro bipolar, as fronteiras diagnósticas
tar que a exclusão de episódios maníacos não do TB foram expandidas, e as estimativas de
é fator suficiente para identificar a depressão prevalências elevaram-se para, aproximada-
bipolar, visto que os sintomas maníacos mente, de 3 a 5% da população. Porém, essas

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estimativas ainda necessitam sere validadas apontam estudos atuais que definem que a
através de estudos populacionais. Apesar frequência do transtorno é mais alta em pais
disso, considera-se importante a utilização e filhos dos portadores. Pode-se, portanto,
desse conceito, pois pode gerar um maior afirmar que a etiologia do TB apresenta
reconhecimento do transtorno, intervenções componentes genéticos e ambientais (TRA-
e profilaxia (LIMA et al., 2005). No que se MONTINA, et al., 2009).
refere ao campo dos estudos do TB, esse
conceito amplia os critérios diagnósticos, Diagnóstico do TB
incluindo manifestações de humor que,
atualmente, não se adaptam aos critérios do Além das dificuldades referentes à origem
DSM-IV-TR (SUPPES; DENNEHY, 2009). da doença, o diagnóstico do TB envolve
um processo de investigação e acompanha-
As pesquisas trazem, como resultado
mento, sendo que o diagnóstico incorreto
geral, que o TB tipo I apresenta igual pre-
de depressão, por exemplo, pode atrasar a
valência entre homens e mulheres (MAGA-
descoberta do TB (LIMA et al., 2005). Tais
LHÃES; PINHEIRO, 2009; KERR-COR-
erros podem ter origem na vasta prevalência
RÊA; TORRESAN, 2010); entretanto, esse
de comorbidades (psiquiátricas ou clínicas),
fato não se aplica como um todo aos dados
já que a maioria dos pacientes é acome-
de prevalência do espectro bipolar. Estudos
tida pela coexistência de outra doença no
apontam que o curso e fenomenologia da
transcurso da vida (GOMES; KUNZ, 2009;
doença variam entre os gêneros (KERR-
MAGALHÃES; PINHEIRO, 2009). Tem-
CORRÊA; TORRESAN, 2010). Há maior
se como comorbidades, mais frequentes, o
ocorrência entre solteiros ou separados, não
grupo dos transtornos esquizoafetivos, as
apresentando variações étnicas significati-
psicoses cicloides, as epilepsias, o transtorno
vas. O TB também encontra-se associado a
de personalidade borderline, os transtornos
desemprego, hospitalização e utilização de
de ansiedade como fobia social e o transtorno
Serviços de Saúde, com elevado custo indi- obsessivo-compulsivo. Estudos apontam,
vidual, social e medicamentoso (MORENO; ainda, o abuso de substâncias e transtornos
DIAS, 2008). alimentares (DEL-PORTO; DEL-PORTO,
Estudos têm apontado que o período com- 2005; CARDOSO; KAUER-SANT’ANNA,
preendido entre o final da adolescência e o 2009; MORENO; MORENO, 2009). Dentre
começo da idade adulta é o momento no qual os fatores que, mais frequentemente, podem
o transtorno costuma se manifestar, apesar de confundir o clínico no diagnóstico diferencial
haver falta de pesquisas epidemiológicas em encontram-se a desinibição, a labilidade do
populações infantis e adolescentes (MAGA- humor, a agitação psicomotora, os sintomas
LHÃES; PINHEIRO, 2009). No entanto, não psicóticos. Para que a diferenciação seja
há uma definição quanto à idade específica possível, é importante levar em conta a feno-
de início, principalmente se forem conside- menologia do quadro clínico, o aumento da
rados problemas metodológicos e conceituais energia e a apresentação cíclica dos sintomas
como, por exemplo: o início se dá quando (MORENO; MORENO, 2009; SUPPES;
ocorrem a primeira internação, os primeiros DENNEHY; 2009).
sintomas ou episódios (LIMA et al., 2005). A identificação do TB pode ocorrer tardia-
O TB é reconhecido como uma doença mente, como consequência de um diagnósti-
herdada, sendo importante avaliar a história co e tratamento inadequados, e também como
familiar da doença. Suppes e Dennehy (2009) decorrência do desconhecimento por parte do

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portador e de sua família. Estudos indicam manifestação dos sintomas que um paciente
que a frequência e a intensidade dos episódios manifestará ao longo do tempo. Da mesma
depressivo, maníaco e hipomaníaco, no de- maneira, o tratamento medicamentoso pode
correr do tempo, tendem a acarretar prejuízos apresentar variações e, até o momento, não
funcionais na vida do indivíduo, existindo há uniformidade acerca do tratamento, ma-
correlação positiva entre esses prejuízos e o nutenção e efeitos colaterais (LACERDA;
número de episódios ou internações. Sobre SOARES; TOHEN, 2002).
a funcionalidade, tem-se que pacientes bipo- O tratamento psicofarmacológico no TB
lares apresentam tanto absenteísmo (dias de tem a finalidade de restaurar o comportamen-
trabalho perdidos) quanto presenteísmo (dias to, controlar os sintomas agudos e prevenir
de baixo rendimento no trabalho), sendo, a a recorrência. Em relação ao medicamento
primeira, a função mais afetada. Isto indica a ser utilizado, dá-se preferência àqueles
a relevância de um correto diagnóstico desde que apresentam maiores evidências de ação
as apresentações clínicas iniciais (ROCCA; e menores riscos de efeitos desfavoráveis
LAFER, 2006; MAGALHÃES; PINHEIRO, à saúde geral do paciente. O lítio, primeiro
2009). estabilizador de humor indicado às crises
maníacas (MIRANDA-SCIPPA; QUARAN-
Tratamentos para o TB TINI, 2010) ainda é considerado a primeira
opção para o tratamento farmacológico das
O TB é uma manifestação clínica com- fases agudas do TB; porém, apresenta efeitos
plexa. Dessa forma, implica um tratamento desfavoráveis (ROSA et al., 2009), principal-
multifatorial, que envolve tanto aspectos mente problemas endócrinos e renais, além
biológicos como psicossociais. Conside- de poder estar relacionado ao comprometi-
rando-se que este artigo visa a proporcionar mento cognitivo.
um panorama do TB, serão abordadas al-
gumas das principais formas de tratamento Assim, o uso de diferentes fármacos as-
deste, a saber: Farmacoterapia, Grupos de sociados tem sido uma prática cada vez mais
Apoio, Terapia Focada na Família, Terapia frequente. O ácido valproico e a carbamaze-
Cognitivo-Comportamental, Psicoeducação pina também são medicamentos comumente
e Eletroconvulsoterapia (SANTIN; CERE- indicados, assim como outros anticonvulsi-
SÉR; ROSA, 2005; SUPPES; DENNENY, vantes (lamotrigina, topiramato, gabapentina,
2009; MIRANDA-SCIPPA; QUARANTINI, oxicarbazepina), antipsicóticos atípicos (ari-
2010). Cabe ressaltar que o manejo do TB piprazol, clozapina, olanzapina, quetiapina,
requer a utilização de diferentes técnicas, em risperidona, ziprazidona) e antidepressivos
complementaridade. Assim, o tratamento me- (inibidores da monoaminioxidase – IMAO;
dicamentoso pode associar-se à psicoterapia, tricíclicos; inibidores seletivos da recaptação
individual e em grupo, sendo que o uso de da serotonina – ISRS) (MORENO, et al.,
diferentes estratégias associadas pode favo- 2004; MORENO; MORENO; RATZKE,
recer a adesão ao tratamento como um todo. 2005; ROSA et al., 2009; SUPPES; DEN-
NEHY, 2009).
Existe, ainda, a possibilidade de uso de
Farmacoterapia antidepressivos para o tratamento da depres-
O TB configura-se como um transtorno são bipolar; porém, a utilização desse tipo de
mental heterogêneo, tanto em termos de medicamento constitui-se em uma questão
classificação quanto no curso e na forma de ainda polêmica. Isso se deve ao fato de que,

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por um lado, podem ocasionar episódios hi- Terapia Focada na Família (TFF)
pomaníacos/maníacos e, por outro, existem
A TFF consiste em uma abordagem volta-
descrições de benefícios do seu uso nos casos
da aos familiares do portador de TB, utilizada
mais graves (LAFER; SOARES, 2005).
durante o tratamento, como uma maneira de
diminuir o grau de estresse na família atra-
Grupos de Apoio vés do desenvolvimento de estratégias que
Estudos revisados por Gomes e Lafer permitam aos familiares lidar com a doença
(2007) indicam que o uso exclusivo de psi- e com o manejo dos sintomas (MACHADO-
cofármacos para o tratamento do TB não é VIEIRA; SANTIN; SOARES, 2004).
suficiente para o manejo do transtorno e que a Sabe-se que o TB, enquanto doença, afeta
psicoterapia (individual ou em grupo) auxilia a família, a qual volta-se para os cuidados do
os pacientes, considerando que haveria uma membro familiar que apresenta sofrimento
continuidade entre sintomas subsindrômicos psíquico . Uma das funções da TFF está na
e um episódio pleno. Assim, a abordagem tentativa de reduzir os comportamentos de
em grupo constitui-se em uma maneira para aversão e coersão entre paciente e familiares,
trabalhar a habilidade em reconhecer sinais visando à elaboração de diversos sentimen-
que antecedem um episódio agudo e adquirir tos, advindos de inadequações oriundas dos
estratégias para lidar com eles. Tais aspectos sintomas do transtorno, e proporcionar uma
têm sido considerados, por muitos estudos, melhor adesão ao tratamento, uma vez que
um dos mais importantes aspectos para um a família pode auxiliar o portador da bipola-
bom prognóstico em TB. ridade a manter o tratamento (GRINBERG;
Nesse sentido, a psicoterapia em grupo, YIN; CAMPANINI, 2010).
assim como os grupos informativos sobre
questões relacionadas ao TB têm por objetivo Terapia Cognitivo-Comportamental
elevar a adesão ao tratamento, controlar e re- (TCC)
duzir fatores de risco associados à recorrência
de episódios e diminuir prejuízos psicosso- Dentre as diferentes abordagens em psico-
ciais e ocupacionais oriundos do transtorno. terapia para o TB, a TCC e a psicoeducação
Observa-se, também, que a intervenção em têm se mostrado uma das mais estudadas,
grupo auxilia, de forma significativa, na apresentando resultados consistentes. Além
redução dos índices de hospitalização e na dessas, intervenções como a terapia inter-
melhora do desempenho ocupacional dos pessoal e de ritmo social, terapia conjugal
portadores do transtorno (GRINBERG; YIN; e familiar e terapia psicodinâmica também
CAMPANINI, 2010). são apontadas em estudos sobre abordagens
Além disso, através da psicoterapia de psicoterápicas no TB (KNAPP; ISOLAN,
grupo, é possível o treino de habilidades 2005).
sociais e de comunicação ao vivo, atendendo A TCC tem sido considerada eficaz no que
a uma população maior que procura por aten- tange ao controle de recorrências, na redução
dimento em Serviços públicos ou privados de sintomas subsindrômicos, no número de
em Saúde. Desse modo, o atendimento em internações hospitalares, na adesão à farma-
grupo no tratamento do TB mostra-se como coterapia e no manejo frente a eventos gera-
uma importante alternativa para atender a dores de estresse. As progressivas melhoras
uma crescente demanda (GOMES; LAFER, no quadro do paciente podem ser atribuídas
2007). às características dessa abordagem, isto é, a

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adoção de um modelo que integra dimensões tratamento e os recursos que lhes são ofere-
biológica, psicológica e social, além de pro- cidos. Assim, compreender tal negação, bem
mover a reestruturação cognitiva do paciente como as causas biológicas da doença, cons-
(GRINBERG; YIN; CAMPANINI, 2010). titui fator primordial nas primeiras sessões
Para tanto, a TCC possui diferentes fases psicoeducativas (COLOM; VIETA, 2004,
e utiliza o elemento educacional, visando à FIGUEIREDO, et al., 2009).
cooperação, através do modelo cognitivo e Desse modo, a psicoeducação propor-
do ensino, quanto à identificação e análise ciona ao paciente melhores habilidades no
de mudanças cognitivas que ocorrem tanto manejo da doença e aumenta o compro-
na mania quanto na depressão. Os sintomas, misso com seu tratamento como um todo,
relacionados a esses episódios, assim como prevenindo recorrências. Contudo, não há,
os subsindrômicos são monitorados na TCC, ainda, descrições na literatura a respeito de
a partir de técnicas como o mapeamento de técnicas e modalidades a serem adotadas,
vida, identificação de sintomas, gráfico do de maneira homogênea, na intervenção
humor e afetivograma. Assim, a TCC traba- psicoeducativa. Sabe-se que a abordagem
lha com o paciente os diversos significados se dá através de encontros estruturados, em
que o transtorno tem para ele (NETO, 2004). que o número de sessões varia conforme
metas pré-estabelecidas. Incluem-se, nesse
processo, desde uma exposição didática
Psicoeducação
sobre o transtorno, e suas características, até
A psicoeducação é uma abordagem uma associação entre tais informações e a
abrangente que possibilita ao paciente infor- aprendizagem de habilidades para lidar com
mações sobre o TB. Entre essas informações, prejuízos e dificuldades envolvidos no TB
abordam-se aspectos referentes à natureza (GRINBERG; YIN; CAMPANINI, 2010).
do transtorno, às alternativas de tratamento, De fato, a psicoeducação tem se mostrado
a compreensão sobre os fatores de risco, uma estratégia que oferece resultados pro-
aos efeitos colaterais das medicações, e missores, possibilitando o reconhecimento
ao custo, e à identificação de estressores e rápido de recaídas. Atualmente, é uma fer-
outros estímulos que podem originar crises ramenta profilática crucial no tratamento e
(MORENO; MORENO; RATZKE, 2005; manutenção do TB, de modo que os clínicos
SANTIN; CERESÉR, ROSA, 2005; SU- envolvidos devam estar abertos ao manejo de
PPES; DENNEHY, 2009). tal prática (COLOM; VIETA, 2004).
O principal objetivo da intervenção Colom & Vieta (2004) fazem referência
psicoeducativa é capacitar os portadores de ao Programa de Transtornos Bipolares de
TB a se apropriarem de sua doença, ou seja, Barcelona, realizado por Colom, et al. (2003),
compreenderem de forma teórica e prática o qual, mediante a prática da psicoeducação
o que lhes acontece, possibilitando, assim, em grupo, demonstrou dados satisfatórios
que lidem de forma promissora com as con- na prevenção de todos os tipos de episódio
sequências desta. Isso significa fornecer uma bipolares (maníacos ou hipomaníacos, mistos
margem de compreensão sobre a complexa ou depressivos), além de aumento de tempo
relação entre a doença, os sintomas, a perso- para nova recaída. Tal estudo estabeleceu
nalidade, o ambiente interpessoal e os efeitos vinte e um conteúdos a serem trabalhados
colaterais da medicação. Muitos pacientes nas sessões de um programa psicoeducativo
partilham de dúvidas, mitos e preconceitos com os bipolares e seus familiares, a saber:
que os fazem negar a própria doença, o introdução; o que é o TB; fatores causais

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e desencadeantes; mania e hipomania; de- de suicídio e, também, a estados depressivos


pressão e estados mistos; curso e desfecho; graves. Também é indicada para os casos de
estabilizadores de humor; agentes antimaní- mania durante o período gestacional, pois tem
acos; antidepressivos; níveis séricos (lítio, rápida ação e, entre uma a duas semanas, já
carbamazepina e valproato); gravidez e se podem notar melhorias (MORENO; MO-
aconselhamento genético; psicofarmacologia RENO; RATZKE, 2005; ROSA et al., 2009;
e terapias alternativas; riscos associados ao SUPPES; DENNEHY, 2009). Durante a gra-
abandono do tratamento; álcool e drogas ilíci- videz, a ECT é o tratamento mais indicado,
tas; identificação precoce de episódios maní- visto que as medicações devem ser evitadas
acos e hipomaníacos bipolares; identificação nessa fase, dado o risco de teratogenicidade
precoce de episódios depressivos e mistos; o (MIRANDA-SCIPPA; QUARANTINI,
que fazer frente ao surgimento de uma nova 2010).
fase; regularidade do estilo de vida; técnicas Devido às consideráveis dificuldades para
de gerenciamento do estresse; técnicas de o diagnóstico e manutenção do tratamento,
resolução de problemas; e sessão final. faz-se importante salientar as implicações
Faz-se importante, também, abordar, negativas causadas às funções cognitivas e
durante as sessões psicoeducativas, questões executivas em portadores de TB, as quais
referentes aos altos índices de recorrência podem agravar-se na falta do tratamento
associados à doença e à sua condição crônica; adequado. Assim, as duas próximas seções
treinamento pessoal, de modo a auxiliar os se centrarão nesses aspectos.
pacientes na identificação de seus próprios
sinais desencadeantes da doença e o manejo
Funções Cognitivas no TB
de sintomas; importância do estabelecimento
de determinadas rotinas, como hábitos de Um declínio cognitivo já se nota desde
sono; e espaço para desenvolver a capaci- o primeiro episódio do TB, (ROBINSON et
dade de lidar com problemas sociais, como al., 2006) que passa a agravar-se de acordo
o estigma relacionado à doença. Outro dado com a frequência de episódios da doença
importante, levantado pelo estudo, é que a (MARTINEZ-ARAN et al., 2004). Os me-
psicoeducação deve ser aplicada em perío- canismos, associados aos episódios agudos,
dos de eutimia, pois os pacientes em estado estão implicados na deterioração cognitiva e
depressivo podem apresentar uma tendência na saúde em geral desses pacientes. Assim,
a absorver apenas os aspectos negativos da o TB apresenta, possivelmente, um processo
psicoeducação, acarretando dificuldades cog- degenerativo no tecido nervoso e periférico,
nitivas que podem prejudicar o aprendizado que é episódio-dependente (KAPCZINSKI;
desta. Já os indivíduos em estado maníaco, ANDREAZZA; SALVADOR, 2008).
devido a sua distratibilidade e a outros dis- A presença de déficits neuropsicológicos
túrbios cognitivos, podem não reter nenhuma alcança maior expressão nos estados de ma-
informação (COLOM; VIETA, 2004). nia ou mistos do que nos estados de depressão
bipolar. Pesquisas relatam que indivíduos, em
Eletroconvulsoterapia (ECT) episódio maníaco, apresentam dificuldades
no controle inibitório, no processamento
A ECT é uma técnica eficaz, aconselhada de informação vísuo-espacial e na fluência
para casos de mania grave, episódios mistos, verbal. Além disso, portadores de TB apre-
casos refratários (que não respondem ao tra- sentam déficits em muitos processos cogni-
tamento clássico), casos que apresentam risco tivos, mesmo após a remissão dos sintomas

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TRANSTORNO BIPOLAR: REFLEXÕES SOBRE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

(HALDANE; FRANGOU, 2005; ROCCA; sobre aspectos clínicos e neurocognitivos do


LAFER, 2006). Tanto no TB-I quanto no TB, cabe aqui abordar a implicação que esses
TB-II ocorrem distúrbios na neuroquímica podem causar sobre a adesão ao tratamento.
cerebral, podendo ser aumentados pela ge-
nética e por fatores ambientais (SUPPES;
Adesão ao Tratamento
DENNEHY, 2009).
Pesquisas indicam a possibilidade de os A adesão ao tratamento faz referência
déficits de memória, em pacientes bipolares, ao alcance com que o indivíduo segue as
serem mediados por deficiência de estra- recomendações dos profissionais da Saúde
(SANTIN; CERESÉR; ROSA, 2005) valen-
tégias organizacionais na codificação e na
do-se da sua autonomia individual. Devido
recuperação das informações, sugerindo uma
ao fato deo TB exigir tratamento contínuo,
relação importante das funções executivas
a baixa adesão ao tratamento por parte dos
com outros processos cognitivos (TORRES;
pacientes configura-se como uma das maiores
BOUDREAU; YATHAM, 2007).
dificuldades terapêuticas desse transtorno.
As funções executivas são processos que As taxas de não adesão no TB são elevadas,
possibilitam ao indivíduo realizar atividades estimando que 47% dos portadores acabam
dirigidas a metas, de maneira autônoma. por não aderir em alguma fase do tratamen-
Essas funções resultam em comportamentos to. A adesão parcial é considerada quando o
complexos que estão relacionados a outros paciente segue, aproximadamente, 70% das
processos cognitivos, emocionais, motiva- recomendações médicas. Estudos referem
cionais e volitivos. Estudos apontam a capa- que a frequência e a intensidade dos sinto-
cidade para tomar decisões como a principal mas tendem, no decorrer do tempo, a causar
função executiva envolvida nas alterações prejuízos biopsicossociais para o indivíduo,
de comportamento ao longo da vida dos elevando os índices de hospitalizações e sui-
portadores do TB. Tanto na mania quanto na cídios (SANTIN; CERESÉR; ROSA, 2005;
depressão, observam-se o tempo de reação REINERS et al., 2008).
lentificado e a dificuldade na utilização de es- Existem vários fatores que contribuem
tratégias eficazes na resolução de problemas. negativamente para a adesão, a saber: subje-
Tais dificuldades estariam relacionadas a pre- tividade e personalidade do paciente; uso de
juízos na capacidade de inibição de respostas fármacos (efeitos adversos e interações me-
inadequadas, acarretando comportamentos dicamentosas); ausência de sintomas; crenças
impulsivos, representados por respostas e atitudes perante o tratamento; dificuldade
imprecisas, rápidas, incongruentes com os psicológica e negação ao deparar-se com o
objetivos que os pacientes desejam atingir diagnóstico do transtorno; uso abusivo de
(MALLOY-DINIZ et al., 2008; ROCCA; substâncias, principalmente o álcool; desco-
LAFER, 2008). nhecimento sobre a doença e sua gravidade;
Frey et al. (2004), em um estudo de revi- histórico familiar de transtornos psiquiá-
são, salientaram que as pesquisas com neuroi- tricos; estrutura familiar; custo elevado da
magem constatam alterações em estruturas e medicação. Consideram-se, também, fatores
no funcionamento de certas regiões cerebrais relacionados ao profissional da Saúde, como
de pacientes bipolares. Entre as regiões mais sua postura, em relação à doença, e a intera-
atingidas pelo transtorno, estão: córtex pré- ção com o paciente, a fim de problematizar
frontal e temporal, cerebelo, gânglios da base a questão da adesão e estimular o indivíduo
e sistema límbico. Diante desses achados a prosseguir com o tratamento (SANTIN,

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CERESÉR; ROSA, 2005; REINERS et al., na manutenção do tratamento, mesmo na au-


2008). Além disso, a capacidade decisória é sência dos sintomas evidentes. Cabe lembrar
comprometida quando há disfunções execu- que esse transtorno mental apresenta, como
tivas, comuns em transtornos neuropsiqui- algumas de suas características, a impulsivi-
átricos (HAASE; PINHEIRO-CHAGAS; dade e dificuldade em aderir ao tratamento.
ROTHE-NEVES, 2007). Além disso, a decisão de dar continuidade
a um tratamento, por parte do paciente, im-
plica ter conhecimento sobre o seu processo
Discussão de adoecimento e sobre as possibilidades de
melhora e de benefícios que o tratamento
Percebe-se, pelo exposto, que as questões pode trazer para sua vida. Desse modo,
sobre transtornos de humor são levantadas considera-se que a possibilidade de prejuí-
por Hipócrates desde os séculos IV e V a.C., zos cognitivos pode ter importante relação
chegando, no entanto, ao seu ápice, no fim com a dificuldade em aderir ao tratamento
do século XIX, com Kraepelin. Já a partir do no TB. Sendo assim, além do tratamento
fim do século XX, com o conceito de espectro medicamentoso, salienta-se a contribuição da
bipolar, proposto por Akiskal, ampliam-se as terapia cognitivo-comportamental (TCC), da
possibilidades diagnósticas do referido trans- psicoeducação e da terapia focada na família,
torno. Mesmo que ainda necessite de maiores de modo a fornecer um suporte psicológico
pesquisas, pode-se inferir que o conceito de para o portador, essencial em qualquer caso
espectro oferece melhores possibilidades de adoecimento.
diagnósticas. Tal consideração deve-se ao É necessário salientar que o sucesso das
fato de que, de modo geral, até o presente intervenções psicológicas é viabilizado pelo
momento, existem muitas dificuldades no entendimento claro da doença, pela capacida-
diagnóstico desse transtorno, sendo esse de de lidar com estigmatização, pela melhora
muitas vezes subdiagnosticado. da adesão ao tratamento, da capacitação tanto
Outra característica essencial que faz do paciente quanto da família em identificar
parte do prognóstico do TB é o declínio sinais de uma recaída, pela possibilidade de
cognitivo que alcança maior expressão pelo promoção de hábitos saudáveis e regulares de
acontecimento de episódios maníacos ou mis- vida, de modo a melhor enfrentar a doença
tos. Além disso, as funções executivas, res- (COLOM; VIETA, 2004). Desse modo, a
ponsáveis pela tomada de decisão e controle existência de uma equipe multidisciplinar
das demais funções cognitivas, são abaladas no tratamento do TB é de fundamental im-
nesse transtorno. Desse modo, quanto maior portância, pois possibilita, através de uma
a demora diagnóstica, maiores as implicações relação empática entre técnicos, pacientes
cognitivas. Com isso, entende-se que as difi- e familiares, a criação de um vínculo tera-
culdades relacionadas às funções executivas pêutico, de um diagnóstico multiaxial e de
possam estar relacionadas ao nível de adesão um plano de ação. (MACHADO-VIEIRA;
ao tratamento, pois a capacidade decisória é SANTIN; SOARES, 2004).
comprometida quando há disfunções execu- Tendo em vista a emergência e a gravi-
tivas, comuns em transtornos neuropsiqui- dade do TB, uma vez que envolve aspectos
átricos (HAASE; PINHEIRO-CHAGAS; neuroquímicos, cognitivos, psicológicos,
ROTHE-NEVES, 2007). Nesse sentido, funcionais e socioafetivos, dificuldades
faz-se necessário considerar as dificuldades diagnósticas, e dificuldade de adesão, faz-se
relacionadas ao envolvimento do paciente

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TRANSTORNO BIPOLAR: REFLEXÕES SOBRE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

necessário atentar para a importância de todas 2004). Assim, no que tange ao diagnóstico,
as características abordadas, bem como para ao tratamento e à adesão a esse, a aliança te-
a necessidade de pesquisas sobre o assunto. rapêutica assume papel fundamental, através
de um bom relacionamento entre profissio-
nais da Equipe de Saúde Mental, portador e
Considerações Finais familiares. Esse elo propiciará a construção
de uma rede de apoio ao paciente que, pela
De acordo com os aspectos abordados, psicoeducação, poderá melhor compreender
a existência de declínios nas funções cog- o processo terapêutico e então aderir ao tra-
nitivas e também nas funções executivas tamento indicado de maneira efetiva (NETO,
tende a agravar-se com o passar do tempo 2004; DEL-PORTO, VERSIANI, 2005;
e com a frequência em que se manifestam MORENO, MORENO, RATZKE, 2005).
os episódios do TB. Tal prejuízo cognitivo, Além disso, a adequada profilaxia dos
presente mesmo nas fases de remissão, afeta a possíveis danos causados aos portadores,
capacidade de autonomia do paciente, sendo advindos das alternâncias dos episódios de
uma das principais causas que influem nega- humor do TB, requer a elucidação dos me-
tivamente na adesão ao tratamento. canismos responsáveis por esses declínios,
Desse modo, entende-se que as aborda- sendo, eles, de ordem cognitiva, funcional,
gens psicossociais contribuem não somente afetiva e social. Assim, ao considerar-se as
com a adesão ao tratamento farmacológico, taxas de prevalência do TB na população e
mas também com a diminuição de recorrên- seus impactos na vida dos portadores e seus
cias; com a redução do estresse vital; com a familiares, bem como os gastos gerados ao
identificação de sintomas precoces; com a Sistema de Saúde, estudos que venham a
aceitação da doença; com a mudança no estilo colaborar para um entendimento mais lúcido
de vida, de modo a prevenir o surgimento de sobre os mecanismos envolvidos no TB são
novos episódios; com o aumento na capacida- de grande importância tanto do ponto de vista
de do paciente em lidar com conflitos; e com clínico, ocupacional e emocional do portador
a promoção de conhecimento sobre a doença quanto do ponto de vista social.
(MACHADO-VIEIRA; SANTIN; SOARES,

AUTORES
Lilian Lopes Pereira - Mestranda do programa de Mestrado em Psicologia da Universidade
Federal de Santa Maria. E-mail: llpereira@terra.com.br
Ana Cristina Garcia Dias - Pós-doutoranda, pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Doutora em Psicologia USP/SP. Professora do Programa de Mestrado em Psicologia da
Universidade Federal de Santa Maria.
Juliane Caeran - Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria.
Lucas de Abreu Collares - Acadêmico do curso de Psicologia da Universidade Federal de
Santa Maria.
Raquel de Vargas Penteado - Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário
Franciscano.

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