Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O filósofo americano Charles S. Peirce é o fundador da teoria dos signos (semiótica), que
interessa entender como se dá o processamento da cognição. Para Peirce, as categorias mais vastas e
universais da experiência humana, determinadas pela fenomenologia, são a primeiridade,
considerada em si mesma uma unidade, a secundidade, que é um efeito em relação à alguma coisa e
a terceiridade, que é uma mediação em relação à outras coisas.
Neste capítulo, a autora reúne a interpretação de diversos autores acerca das teorias
peirceanas. Apesar de suas teorias não possuírem um caráter definitivo, os autores analisados
tentaram dar um caráter de completude nas teorias, utilizando uma outra teoria diferencial. Assim, o
confronto destas ideias traz as sutis diferenças nas formas de interpretação e são colocadas no texto,
na ordem da mais simples à mais complexa.
A teoria da percepção no contexto de uma filosofia realista
Em 1970, R. F. Almender demonstra a solidez da teoria de Peirce, por esta estar sustentada
em uma postura metafísica realista, é epistemologicamente coerente. Parte do seguinte princípio: O
que percebemos é o percepto, logo, o que está fora de nós e o que nos chega é apreendido num ato
de percepção, chama-se percepto. Para Pierce, que se apoiava na filosofia realista, a crença no
mundo real independe daquilo que nós individualmente podemos pensar ou fantasiar acerca dele.
Portanto, o percepto que é apreendido pela consciência no ato perceptivo tem realidade própria no
mundo. Dessa forma, Almender fortalece o pensamento de Pierce de que não é necessário recorrer
aos “protocolos dos sentidos” para explicar a percepção, mesmo quando alucinamos ou
devaneamos. Por fim, a autora discorda da finalização de Almender, quando ele define o percepto
como um objeto físico, sendo muitas vezes não necessário encaixá-lo nesta concepção.
A ambiguidade do percepto.
É reconhecido a ambiguidade que Peirce traz na definição da natureza do percepto como
componente do processo de percepção. Ele poder ser tanto um iniciador pré-cognitivo e compulsivo
do pensamento quando uma construção mental.
Na tentativa de resolver esse impasse, R. Bernstein (1964), apresentou um artigo
considerado pioneiro e antológico.
Ele encontrou a solução no próprio Peirce, o termo percipuum, que seria o lado mental do
percepto, ou seja, até certo ponto, o percepto é independente dos nossos sentidos e o percipuum
seria o percepto tal como ele se apresenta no julgamento da percepção, ou seja, um processo mental.
Dentro e fora dos perceptos
C.H. Hausman (1990), partiu da proposta de levar em consideração todas as afirmações
contraditórias das diferentes ênfases nas experiências, que conduziam as ideias a direções
diferentes. A autora propõe que todos que tenham que trabalhar com a teoria peirciana deve
conviver com os conflitos de suas ideias.
Hausman difere do caminho interpretativo de Bernstein quanto aos dois tipos de
formulação do conceito de percepto apresentado por Peirce. Hausman decide manter os dois
conceitos de perceptos, ao invés de acrescentar o percepuum como fez Bernstein, mantendo os dois
sentidos ao invés de anular o conflito.
Ambiguidade do julgamento de percepção
Sandra B. Rosenthal escreveu 2 textos em um intervalo de mais de 20 anos. O primeiro, de
1969 e o segundo em 1992. Apesar do tempo que os separa, os dois apresentam uma continuidade.
A autora trabalha mais aspectos da ambiguidade no juízo perceptivo.
A autora não se opõe à inclusão do conceito de percipuum de Bernstein na noção de
percepto, e diferentemente de Hausman, se propõe à aprofundar o papel deste no papel do
julgamento perceptivo da teoria peirciana. Rosenthal conclui suas análises dos ingredientes que
formam o percipuum e os dois sentidos de julgamento da percepção que lhe serviram de base para
evidenciar a oposição peirciana tanto em relação ao fundacionalismo e antifundacionalismo.
Para a teoria de Peirce, a percepção é como uma gangorra, onde de um lado existe o objeto
da percepção e do outro lado, a experiência física. Neste caso, o percepto é o objeto direto da
percepção e o que percebemos e o realmente existe. O julgamento perceptivo desempenha o papel
cognitivo na percepção e por fim, o percipuum é o percepto atualizado e traduzido como produto
mental.
Comentários finais
Ao final do livro, foi possível observar as semelhanças entre as teorias dos 3 autores
citados, Peirce, Gibson e Merleau-Ponty, acerca da percepção, principalmente no que tange à recusa
aos dualismos entre sujeito e objeto e a crítica aos impasses ontológicos e epistemológicos do
passado, expressos no subjetivismo, mentalismo, mecanicismo e causalidade linear.
A proposta de Santaella de justapor em seu livro as três teorias tem como premissa tanto
preencher as lacunas da teoria peirciana, mas também demonstrar o quanto ainda se pode exaurir
sobre a temática da percepção e que nenhuma teoria está fechada e completa.